1. Spirit Fanfics >
  2. Desejo Impuro - Jeon Jungkook >
  3. Confiável.

História Desejo Impuro - Jeon Jungkook - Confiável.


Escrita por: Maaru

Notas do Autor


Oi amores, desculpinha pela demora, minha semana de aula foi bem agitada e acabei não tendo tempo de revisar o capítulo antes. Entretanto ele está bem grande, acho que compensa 😉.

Capítulo 26 - Confiável.


Fanfic / Fanfiction Desejo Impuro - Jeon Jungkook - Confiável.


Meu corpo se encontrava tenso, paralisada próximo ao pé da escada. Meus batimentos cardíacos começaram a desregular de tal modo que me causaria preocupação se eu não soubesse a causa de estar reagindo assim. Sentia as minhas mãos e joelhos tremerem levemente, sem conseguir acompanhar os pensamentos que agora cercavam minha mente, inúmeros pensamentos desconexos envoltos de poucas palavras que acabaram de serem ditas praticamente em voz alta em decorrência da distância de nossos corpos.


"Acho que me apaixonei pela irmã errada."


A voz dele se repetia em meu consciente como se fosse um disco falhado. Afinal, como eu deveria reagir a isso? Como eu deveria interpretar as suas palavras pronunciadas em um momento tão frágil e complicado como esse para mim? Ah… eu ficaria feliz, imensamente feliz se isso significasse que ele me enxerga como mulher, que me quer ao seu lado, se não fosse o noivo da minha irmã, prestes a se casar com ela daqui a algumas semanas, e que também dormiu comigo há uma semana atrás…


A realidade machuca, e é graças a ela que eu estou nessa situação.


Eu tentei evitá-lo, tentei ficar o mais longe possível como se ele fosse apenas alguém comum, que eu sequer tenho algum tipo de intimidade ou vontade de ter, mas a quem quero enganar? 


— Você tem noção do que está falando, Jeongguk? — Após alguns segundos, que mais se pareceram horas dentro da minha própria mente nervosa, reverberei.


Ele ficou em silêncio, me olhando nos olhos, sua aparência transparecia que estava abatido, até mesmo com olheiras, não muito diferente de mim, aparentemente.


— Não exatamente. — Disse, sério. — Mas nós precisamos conversar, Sunhee. Eu não podia mais esperar.


Ri sarcástica, não me orgulhando do ato em resposta ao nervosismo.


— Nós não temos nada para conversar. — Meu tom de voz soou hostil, de maneira que nunca imaginei que fosse me comunicar com ele um dia. — Por favor…


— Sunhee…


— Isso tem que parar! — O interrompi. — Eu e você… — Apontei para nós dois usando o dedo indicador. — Nunca deveria ter acontecido, foi um erro! 


— Até mesmo dizer que me amava? — Rebateu, me fazendo erguer o cenho pela falta de reação. — Foi um erro também?


Meus lábios tremeram, e senti como se tivesse sido apunhalada, por mim mesma e meus próprios sentimentos, eu nunca me importei o suficiente em entendê-los, nunca parei por um momento para refletir na tentativa de interpretar se as minhas emoções eram apenas momentâneas, ou se eu realmente estava disposta a assumir a responsabilidade de prosseguir. Com o passar do tempo, eu desisti, desisti de tentar distinguir o que realmente fazia meu coração acelerar, meus atos se tornaram desconexos e toda aquela bobagem de borboletas no estômago que dizem que você sente quando se está "apaixonado". Eu não sei, não sei como tomar uma decisão ou como encarar um relacionamento de verdade. 


Entretanto, estaria sendo hipócrita se dissesse que não senti nada naquele dia, porque eu senti e muito. Me senti única, desejada, como se de fato naquele momento fôssemos um do outro. Eu não menti, disso eu tenho certeza. O amo de alguma maneira que ainda não consigo concretizar, e acho que sei os motivos por trás disso, mas não quero aceitar.


Me desculpa…


— Quão ingênuo você é? — Exclamei. — Acreditou mesmo nas minhas palavras naquele momento? — Franzi o cenho em desdém.


O rapaz se mantinha imóvel, com a mesma postura enquanto me ouvia. 


— Eu não sei mais no que deveria acreditar… — Suspirou. — Mas foi muito convincente, admito.


— Ah foi? Foi convincente uma mulher frágil, abalada emocionalmente dizer que amava você depois de ser tratada de maneira tão gentil? — Meneei a cabeça. — O que você esperava, Jeongguk? — Questionei, mas sem lhe dar tempo de responder. — Esperava que eu acordasse ao seu lado naquela manhã, fizéssemos juras juntos, você deixaria a minha irmã e viveríamos uma história de amor juntos só porque agora você percebeu que "se apaixonou pela irmã errada"? Céus…


Nos encaramos em completo silêncio após eu terminar de cuspir todas aquelas palavras como se fossem nada a ele, era como se fosse capaz de sentir toda a tensão e mágoa que aquele clima causou, com meus olhos já começando a arder assim como o meu nariz, porém eu tinha de conter aquele embrulho incômodo na garganta e aguentar até que conseguisse que ele saísse porta a fora. 


— Essa seria a última coisa que eu cogitaria esperar. — Soou calmo após segundos incontáveis de silêncio, me causando irritação. 


— E então? Não há o que discutir… — Ergui as mãos no ar. — Foi só sexo… 


— É, foi. 


Silêncio, enquanto na minha mente havia gritos.


— Não vamos confundir mais as coisas. Você assumiu a minha irmã ao invés de mim, de qualquer forma, você jurou amor a ela e até mesmo um casamento, e nós dois a traímos pelas costas. Não é justo. — Desviei os olhos, séria. — Esse é realmente um assunto a ser conversado.


— Tem razão. — Estalou a língua, me surpreendendo mais uma vez pela reação consideravelmente calma e madura diante da situação. Não sabia ao certo se o afetei ou não com o que disse anteriormente, mas se isso ocorreu, me admira que ele se mantenha tão firme. — Mas cá entre nós dois, não é como se você estivesse apta ou com coragem o suficiente para encarar tudo isso, certo? — Ergueu o cenho. — Ou vai me dizer que é fácil olhar nos olhos de Sora e dizer que dormiu comigo? 


Falei o que quis e ouvi o que não queria, Touché Sunhee.


— É fácil pra você? 


— Eu sou a porra do noivo!


— E eu a porra da irmã! — Não pude mais segurar as lágrimas, toda a dor que eu vinha tentando mascarar veio à tona e minhas barreiras desabaram aos poucos. — É óbvio que não é fácil acordar todos os dias no mesmo ambiente que Sora e fingir que nada aconteceu. Fingir que sou a irmã perfeita dela, e você o homem perfeito que ela acredita ser o amor da vida dela. Eu a amo assim como você, não importa de que forma, mas se temos o mínimo de consideração, um dos dois tem que contar a verdade, ou vamos ser tão psicopatas a ponto de entrar em uma igreja com esse pecado nas costas? 


O vi respirar profundamente, pondo as mãos para dentro dos bolsos de sua jaqueta, ato característico meu sempre que estava receosa com algo.


— Eu sinto muito, por ter te causado todo esse transtorno. — Disse, inesperadamente. — Ainda que tenha sido mútuo, fui eu quem tomou a iniciativa e isso me torna o culpado inicialmente.


— Isso não vem ao caso.


— Só achei que deveria ser sincero. — Deu de ombros. — Eu insisti para que fosse comigo, fui atrás de você e me deixei levar. Tinha razão quando disse que sou intrometido, e veja só… — Umedeceu os lábios. — Estou pagando o meu preço.


— Ambos estamos, não me trate como vítima. — Rebati.


— Não estou. Essa é apenas a minha parte da culpa que estou assumindo, a sua cabe a você. — Rigidamente me encarou. — Fugir não vai adiantar e somos cientes disso, portanto… se achar que é muito difícil pra você, eu…


— Jeongguk? 


Nos viramos na direção oposta rapidamente, logo após uma voz já conhecida por nós dois ecoar de repente. 


Ela tinha de chegar logo agora?


— Sora… — Murmurei, arrumando rapidamente a postura e passando os dedos pelas regiões de meu rosto a qual as lágrimas tinham deslizado.


Minha irmã adentrou a sala, andando cautelosa em nossa direção, observando tudo ao seu redor com toda a desconfiança que sempre teve entre mim e o rapaz, o que nunca foi uma novidade para mim, porém, ao ver seu cenho se erguer quando nossos olhares se cruzaram, deduzi que ela não esperava que eu estivesse aqui.


— Atrapalhei alguma coisa? — Perguntou calma. — Eu não sabia que…


— Está tudo bem, não atrapalhou nada. — Jeongguk tomou o controle, como um perfeito ator de filme amador, sorrindo pequeno em direção a Sora.


No entanto, eu não sou provida do mesmo talento, sem conseguir nem mesmo mover um dos membros do corpo, meu cérebro não respondia a nenhum dos meus comandos e a causa disso é o meu desespero, pois tenho noção de que Sora pode ser o que for nesse mundo, mas burra não é um substantivo que a define.


— Hum… — A vi retirar o sobretudo do corpo, expondo suas curvas bem marcadas em seu vestido amarelo, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo que ela logo soltou, suspirando em cansaço. — Quanto a você, irmã? — Manteve a atenção em mim, era óbvio.


— Está tudo bem. — Tratei de forçar um sorriso por fim. 


— Tem certeza? — Franziu o cenho.


Não.


— Absoluta. — Respirei fundo. — Vou voltar para a cozinha, com licença. — Comecei a caminhar, implorando aos céus para que minhas pernas não falhassem.


— Ela me parece desconfortável, disse ou fez algo de errado a ela, amor? — Enquanto passava pelo largo corredor em direção a cozinha, ainda podia ouvi-los. 


— Não acho que tenha sido eu o motivo. — Notei que havia um disfarce em suas palavras. 


— Minha Sunie anda tão estranha… — Parei no meio do cômodo, tensa. — Igual a você.


— Mas aos seus olhos eu sempre fui estranho, não? — Jeongguk respondeu. 


— Não se faça de lerdo. — Ouvi a risada de Sora. — Eu amo você do jeito que é, não leve minhas brincadeiras tão a sério. — Meu peito se apertou quando a ouvi dizer que o amava. — Aliás, não sabia que nos visitaria tão cedo sem avisar.


— Decidi de última hora.


— Oh, entendi… — Fechei os meus olhos, repuxando o ar pelos lábios. — Que bom.


Foi a última coisa que eu ouvi antes de me distanciar de vez.


[...]


11:59.


— Se não está se sentindo bem, por que veio hoje? — Questionou Namjoon, me acompanhando até a saída do campus.


— Minhas provas terão início na semana que vem, eu não queria perder as revisões. — Expliquei, tendo noção de que minha aparência nessa manhã não era das melhores, nem mesmo o meu cabelo tive disposição para arrumar devidamente, disfarçando a falta de lavagem em um coque não muito firme. Sentia meu corpo fadigado e minha cabeça latejar em decorrência da noite mal dormida, pois meus pensamentos não permitiram que eu fechasse os olhos por mais de quinze minutos sem lembrar de Jeongguk e suas palavras. Ele nunca tinha falado daquele jeito comigo, assim como eu. Me arrependi por não ter pedido desculpas, por não ter conseguido ser sincera, entretanto eu temia piorar as coisas se me confessasse, se admitisse que tenho sentimentos por ele já há algum tempo.


Tarde demais pra fazer algum sentido agora.


— Tão dedicada. — Me deu um leve empurrão com o ombro, sorrindo. — Ah, eu não vou poder te acompanhar no almoço hoje.


— Tudo bem, eu também não pretendia almoçar fora dessa vez. — Suspirei. — Só quero ir pra casa tentar dormir um pouco.


— Ótimo, sendo assim eu acho que posso te dar uma carona. — Disse o Kim, antes de cruzar os braços e rir, me deixando confusa. — Ou talvez você nem precise.


— Como assim? — Franzi o cenho, o encarando ao cessar os passos na sua frente, logo virei-me quando o queixo do mais velho fez um movimento como quem aponta algo para não parecer indiscreto. — Nossa…


Eu não imaginava que fosse voltar a ver essa cena novamente, era como ter um dejavu, ao ver Park Jimin parado, recostado em sua moto como de costume enquanto parece esperar por alguém na entrada do prédio universitário.


— De nada. — O tom de deboche do Kim me chamou atenção, e o acertei com um leve soco no peito ao passo que arregalei os olhos.


— Bobo, ele não deve estar aqui por mim, vamos… 


— E se ele estiver? — Brincou, mas a esse ponto eu já estava começando a desconfiar. 


— Kim Namjoon… — Cerrei os olhos.


— Ok, não exatamente. — Riu. — O Park tem alguns amigos de infância que estudam aqui e vêm os ver às vezes, porém… — Fez suspense. — Ele inesperadamente me mandou mensagem perguntando se você ainda estava aqui…


— Eu não acredito. — Ri sem jeito, olhando mais uma vez para o sujeito ainda parado há uma considerável distância. — E o que você respondeu?


— Que estou me formando em sociologia, não em coach de relacionamentos, mas também não sou tão ciumento assim pela minha melhor amiga. — Piscou. — Vai lá, ou posso acabar morrendo envenenado por ele achar que menti. Ah e, não diga a ele que te contei.


Revirei os olhos, e após alguns minutos tentando asfixiar Namjoon com as minhas próprias mãos por vergonha, acabei cedendo, me despedindo do Kim antes de seguir caminho acanhada na direção do ruivo, que ao me reconhecer esboçou um sorriso ladino, abaixando um pouco os óculos escuros com os dedos, me percorrendo os olhos de cima a baixo, o que fez minhas bochechas esquentarem.


— Você já esteve melhor. — Falou.


— E você continua um pé no saco. — Revidei, cruzando os braços. — Por acaso veio me buscar? — Inclinei a cabeça para o lado.


— No ensino fundamental, eu aprendi que os planetas e boa parte do universo gira ao redor do sol, e não de você. — O senti desferir um leve peteleco no meio da minha testa.


— Eu te odeio! 


— Você é doida por mim. — Gargalhou ao provocar. — Anda, sobe aí. — Arrumou a postura sobre sua moto, me oferecendo o capacete.


— E se eu não quiser? — Ergui o cenho.


— Poxa… Namjoon acabou de sair, vai mesmo perder a carona? E um almoço de graça? — Debochou.


Ainda que eu não me sentisse apta, jamais recusaria comida de graça, já me sentia faminta.


— Só porque estou com fome. — Peguei o capacete, me posicionando por trás do corpo masculino. — Você poderia me levar pra casa depois? 


— É claro, mas eu quero te levar a um lugar antes, tudo bem? 


— Para onde?


— É surpresa. — Deu partida na moto, e instantaneamente enlacei sua cintura com os braços. — Mas se você tiver planos eu te levo pra casa.


— Eu não tenho. 


Estranho, era a única definição que eu tinha para essa ocasião, nem chegava a parecer que estávamos indiferentes há dias atrás quando ele apareceu no meu prédio de repente após retornar de viagem. 


Nós paramos para comer em um lugar não muito longe da minha universidade, quase no centro da cidade, a comida era muito boa, e mesmo que o Park tenha dito que pagaria, eu insisti em dar a minha parte, nunca me senti confortável deixando tudo para uma pessoa só, me soava aproveitador mesmo que com boas intenções.


Surpreendentemente me dei conta de que sentia falta da companhia do rapaz, tantas coisas aconteceram comigo durante esse tempo, que não tive como parar para perceber a falta que ele fazia no meu dia a dia quando ia me buscar na faculdade. Para ser honesta, eu não tinha parado para reparar que precisava sair um pouco daquele ambiente sufocante que se tornou minha casa, me distrair daquele clima pesado que eu mesma havia instaurado pela insegurança e culpa. Acho que não faz mal, só por algumas horas esquecer de tudo isso, não quero que Jimin fique preocupado ou pense que estou desconfortável em estar saindo com ele pela primeira vez depois do que ocorreu entre nós dois.


— Esse é o seu "lugar surpresa"? A praia? — Olhei para ele, já sentindo o cheiro da brisa do mar e ouvindo o som das ondas quebrando.


— Pensei que gostasse de praia. — Exclamou, começando a descer o pequeno morro de areia, sendo acompanhado por mim após retirar os tênis dos pés.


— Eu gosto, mas… não esperava que fosse me trazer aqui. — Segurei o seu braço em apoio para descer o morro consigo.


— O meu pai costumava me trazer nessa praia quando eu era criança. A vista do pôr do sol é incrível.


— É muito romântico para alguém como você. — Zombei.


— Aish… — Revirou os olhos. 


— Ao menos não há muitas pessoas circulando por aqui, deve ser porque hoje é segunda-feira. — Ri.


— Uma boa oportunidade para nadar pelado.


— Park!


Sua gargalhada soou como resposta, e acabei não resistindo.


Caminhamos até mais próximo da margem, sentindo a areia fofa e úmida entrar em contato com os nossos pés, o céu estava parcialmente nublado, impedindo que os raios fortes do sol naquele horário nos atingisse com tanta intensidade.  


Afastei-me do ruivo, me aproximando o suficiente para ser capaz de sentir o contato da água nos pés, as pequenas ondas se chocavam contra a minha pele, gélida, mas suportável. Ergui a cabeça para cima, suspirando junto a brisa que passava pelo meu corpo e agitava meu cabelo. Por Deus, há quanto tempo essa sensação não me invadia? 


Meus olhos até então estavam fechados, desfrutando do conforto momentâneo do lugar, não tardando muito para abri-los novamente e direcioná-los a Jimin, que estava agachado ao meu lado, mexendo na areia molhada.


— O que está fazendo? — Questionei curiosa.


— Procurando isto. — Estendeu a mão aberta, me permitindo ver uma concha de tamanho mediano com coloração amarelada na palma de sua mão. 


— Que linda. — Sorri.


— É pra você. 


Ergui o cenho.


— Quanta gentileza. — Falei de maneira engraçada, formando um bico nos lábios ao pegar a concha de sua mão. 


— Boba. — Revirou os olhos, ficando de pé.


— Eu costumava colecionar conchas quando criança, fazia apostas com Sora de quem conseguia ter mais, era tão divertido. — Acabei sorrindo com a lembrança. — Ela sempre conseguia encontrar as conchas maiores, como essa. 


— Que comovente, já posso começar a chorar?


— Por que você é assim? — Bufei, ainda mais irritada por ele estar rindo de mim.


— Sunhee, você… — Cessou as palavras, interrompido pelo toque do próprio celular dentro do bolso de seu jeans. Pegou o aparelho como se fosse desligá-lo, mas assim que olhou mais atentamente para a tela seu cenho se franziu. — Se importa se eu…


— De modo algum, pode atender. 


— Um minuto. — Pediu, deslizando o dedo para a direita na tela e aproximando o aparelho do ouvido. — Alô?


Me distanciei um pouco de si, lhe dando privacidade enquanto tomava um rumo qualquer pela areia, chutando de leve a água das ondinhas que se aproximavam dos meu pés, quando percebi um pequeno acumulado de pedras não muito longe. Dei uma última olhada no Park para conferir se não estava longe demais dele, e ao constatar que não, continuei caminhando na direção das pedras.


Puxei as bordas da saia do meu macacão para cima, corajosamente adentrando o mar até que a água alcançasse os meus joelhos, cada vez mais perto das pedras, estabelecendo um limite quando a água já atingia o meio de minhas coxas. Não sabia exatamente qual era o meu objetivo ao fazer isso, apenas senti vontade, já fazia anos e eu só queria recordar como era entrar no mar. Logo me apoiei em uma das pedras. Meu pai me contou certa vez que comumente nesses tipos de pedras pode se encontrar estrelas do mar, todavia eu nunca tive coragem o suficiente para conferir com os próprios olhos, não até agora.


Inclinei-me um pouco na tentativa de olhar através da água, frustrada por não encontrar nenhuma estrela, no entanto, meu olhar se atriu ao reconhecer uma anêmona-do-mar verde-limão, a qual estendi a mão para tocar a superfície de leve. Os tentáculos grudentos de repente fecharam-se nos meus dedos, e dei um pulo para trás assustada, sendo atingida por uma segunda onda que se chocou contra minhas coxas, meus joelhos dobraram e acabei perdendo o equilíbrio ao cair de costas na arrebentação. E outra onda levou-me para longe das pedras, revirando o meu corpo algumas vezes e empurrando-me para a areia. O mar gelado batia em meu peito, deixando-me sem fôlego, a água salgada e areia enchiam a minha boca, enquanto eu me debatia para tentar manter a cabeça acima da superfície. Um pedaço de alga-marinha enrolou em meu pescoço e mais uma onda, agora ainda maior, me atingiu pelas costas, me arrastando até a beirada da água como um torpedo. Tossi, usando uma mão para ficar de pé e caminhar com dificuldade até a praia e assim que cheguei a segurança da areia seca, cai sobre minhas mãos e joelhos, respirando fundo repetidas vezes. 


Mas que merda, Sunhee. 


Estava completamente molhada, retirando a alga do meu pescoço e a jogando para o lado. Meus dentes começaram a bater, e assim que comecei a pensar em todo plâncton que engoli, meu estômago se revirou tanto quanto o próprio oceano atrás de mim. Emiti um gemido, conturbada de emoções, principalmente decepção.


— Puta merda! — Ouvi uma voz ecoar não muito ao longe, seguida de uma gargalhada alta, que logo constatei ser a de Park Jimin. Me virei apenas para ver o rapaz vir andando em minha direção, passando a mão por suas madeixas ruivas agitadas pelo vento, suas bochechas estavam tão vermelhas quanto seu cabelo. — Essa foi a coisa mais engraçada que já vi desde que o Yoongi se fantasiou de empregada! 


Tossi mais algumas vezes, teria revidado se minha garganta não estivesse tão dolorida em decorrência da água salgada que acabei engolindo, minhas articulações ainda fraquejavam e resolvi não arriscar levantar ainda e servir de mais chacota para esse idiota.


— Tinha que ter se visto. — Continuou, rindo como se eu fosse uma espécie de palhaça e toda a minha agonia havia servido de espetáculo para ele. — O que você estava fazendo no meio daquelas pedras? — Ofegou após conter o riso.


— Estava procurando por estrelas do mar. — Respondi. — Mas acabei me distraindo com uma anêmona. Ela agarrou os meus dedos e…


— Uma anêmona? — Tornou a rir. — Por que você tocou em uma anêmona? Não sabe que elas são perigosas? 


— Eu só queria… — Tossi, incapaz de concluir a frase.


— O que? Ver se o Nemo estava em casa e pedir um autógrafo? Pelo amor de Deus Sunhee… 


Minha paciência atingiu o limite. Reuni um punhado de areia nas mãos e arremessei certeira no peito do rapaz, que se surpreendeu com o ato e cambaleou para trás.


— Sunhee! — Grunhiu. — Mas que caralho! 


— Por que não ri agora, seu ruivinho estúpido! — Jimin retirou os óculos escuros e os apontou para mim. 


— Você não ousaria.


Fiquei de pé, em um forte movimento de cabeça afastando meus cabelos encharcados do rosto.


— Está com medinho de um pouco de sujeira? — Provoquei. — Vamos Park, onde está sua postura de macho alfa agora? 


Peguei mais um pouco de areia com as mãos, mas sequer tive tempo de jogar nele outra vez, ao me deparar com o corpo grande me bloqueando em um avanço e meu corpo ser agarrado em seguida em direção ao chão.


— Park Jimin! — Resmunguei como uma criança birrenta. — Sai de cima de mim!


— Quem está com medinho agora, huh? 


— Aish! Eu odeio você! — Gritei, desferindo leves tapas em seu peito.


— No momento, eu também partilho do mesmo sentimento. — Bufou. — Não faz ideia do trabalho que terei para lavar essas roupas e tirar toda essa areia delas.


— Eu não dou a mínima! — Pressionei as coxas contra seu quadril, tentando empurrá-lo.


— Quanta selvageria. — Riu. — Eu apenas me defendi.


— Pulando em cima de mim? 


— Não é como se fosse a primeira vez que ficamos nessa posição. — Piscou. 


Arfei, falhando em tentar me desvencilhar de seu corpo que estava acima do meu, pousando minhas mãos em seus antebraços ao passo que regulava a respiração.


Naquele instante, foi inevitável que nossos olhos não se encontrassem, seu rosto estava bem próximo do meu, e o calor do seu corpo era tudo que eu tinha para conter o tremor que me dominava aos poucos. Eu não sabia o que pensar ou o que interpretar sobre como estamos agora. Me senti envergonhada e intimidada pelo olhar carregado sobre mim, e o pior era não saber o que significava, e que tipo de atitude eu devo tomar. As batidas do meu coração aceleraram, assustada internamente pela vontade de chorar que ameaçou me atingir por algum motivo que eu não consigo processar agora. 


— É melhor a gente voltar. — Falou após duradouros segundos apenas me encarando. 


— Não quer ver o pôr do sol?


— Você pode acabar pegando um resfriado. — Alertou. — Podemos voltar aqui e ver o pôr do sol em outra oportunidade. — Se levantou, me puxando consigo.


— Desculpa. 


— Se lavar as minhas roupas eu aceito as suas desculpas.


— Retiro.


Rimos, retornando para subir o morro de areia e alcançar a sua moto que estava estacionada em uma calçada. Meu estado era deplorável, havia areia em toda a minha roupa, cabelo e até mesmo nas unhas, rezei em minha mente para que ninguém da minha família me visse assim quando chegasse em casa, ou me encheriam de perguntas.


— Acho que tem um celular tocando, e dessa vez não é o meu. — Avisou Jimin.


Arregalei os olhos, procurando rapidamente pelo meu celular dentro da pequena mochila. Mordisquei o lábio inferior em receio quando vi o nome de Sora brilhar na tela, demorando um pouco a atendê-la ao pensar no que dizer e a desculpa que daria pela minha demora.


— Alô? — Finalmente atendi.


Eu não sei onde você está, ou com quem está, mas preciso que volte para casa agora! Seu tom de voz soou como súplica.


— Sora, aconteceu alguma coisa? 


Venha para casa! Eu preciso de você!Encerrou a ligação, deixando-me aflita.


— Tudo bem? — Jimin me olhou, aparentemente preocupado.


— Me leva pra casa…


[...]


Desci desajeitada da moto quando chegamos ao meu prédio. Jimin me ajudou a retirar o capacete, pois eu não estava conseguindo o fazer sozinha por estar preocupada com Sora e com pressa.


— Aconteceu algo sério?


— Eu não sei, mas pelo tom de voz dela posso deduzir que sim.


— De onde eu venho chamam isso de drama. — Suspirou. — Boa sorte, seja lá o que for.


— Ah! — Exclamei antes de me despedir, atraindo sua atenção. — Quase ia me esquecendo. — Sorri envergonhada. — Obrigada pelo almoço, e por me levar à praia, já fazia um tempo que eu não via o mar…


— Eu percebi. — Crispou os lábios, e eu logo compreendi a referência por causa do meu quase "afogamento".


— Idiota. — Meneei a cabeça. — Até logo!


Ele acenou, mas não me dei tempo de vê-lo sumir de minha vista, pois me virei para correr e chegar o mais rápido ao meu apartamento.


Adentrei o hall ofegante, jogando meus sapatos e todos os meus pertences de qualquer jeito pelos móveis enquanto procurava pela minha irmã. 


— Sora, cadê você? — Chamei ao passar pelo corredor onde ficavam nossos quartos, foi o último lugar que sobrou para procurar por ela. — Sora!


— Eu estou aqui! — Finalmente respondeu, sua voz ecoou do banheiro e me direcionei rapidamente ao compartimento, a encontrando encostada no mármore branco da pia enquanto encarava uma embalagem até então desconhecida por mim.


— O que você faz aqui? — Perguntei. — A procurei pela casa toda, me deixou muito preocupada, sabia?


— Por que está toda molhada? — Rebateu com outra pergunta, enfim olhando para mim.


Abri e fechei a boca várias vezes sem saber o que responder, nem mesmo tinha chovido para que eu usasse isso como desculpa. 


— E-Eu…


— Pode me explicar depois. — Suspirou, mudando de assunto. — Eu preciso da sua ajuda agora.


— Com o que?


— Com isso… — Apontou a embalagem que tinha em mãos para mim e inclinei a cabeça para o lado, franzindo o meu cenho ao reconhecer do que se tratava.


— Um teste de gravidez? Como eu posso te ajudar com isso? — Minha boca se abriu em um perfeito "O" quando meu cérebro começou a raciocinar desde a expressão dela até a tampa do vaso levantada. — Está brincando comigo?


— Não. — Disse séria. — Desde aquela noite em que você me encontrou aqui dentro eu continuei sentindo enjôo e estava me sentindo tão tonta mais cedo que optei por faltar a faculdade. — Exclamou em tom de desespero. — Além disso, eu comi todo o frango da mamãe e ela vai ficar chateada quando souber.


— Você comeu toda aquela vasilha de frango sozinha? — Arregalei os olhos.


Ela assentiu.


As pontas dos meus dedos já estavam trêmulos, ela não poderia engravidar, não agora.


Engoli a saliva com dificuldade, evitando os pensamentos grotescos que queriam me perturbar ao cogitar a ideia de ela estar grávida de Jeongguk. 


— Sunhee…


— E o que eu tenho a ver com isso? — A interrompi, quase implorando com o olhar para que ela fosse direta, afinal, já estava começando a me sentir sufocada.


— Preciso que me ajude a fazer esse teste, antes que nossos pais cheguem. 


— E depois? 


— Depois… — Ela começou a abrir a pequena caixa do teste. — Independentemente do resultado eu tenho que aceitar o meu destino.


— Me ligou desesperada só por causa disso? Poderia ter feito sozinha.


— Você é a minha irmã! — Exclamou. — É a única pessoa que confio, e preciso que esteja ao meu lado nesse momento.


Confiável? E se eu pudesse confessar agora mesmo que sou na verdade uma grande hipócrita? Eu não sou mais tão confiável quanto ela acha, e gostaria de ser a última pessoa a estar ao lado dela nesse momento.


— Mas…


— Você prometeu!


Fiquei em silêncio, restou-me assentir e ajudá-la.


[...]


— Você não quer ver? — Perguntei após ela terminar e se vestir.


— Agora não, por favor guarde pra mim. E me conte depois.


— Por quê?


— Pare de me questionar e faça o que estou pedindo! 


Ergui as mãos em rendição, no entanto a compreendia, nem eu estava pronta para ver o resultado.


— Quando quiser saber, é só me pedir. — Dei de ombros, também evitando ver o resultado do pequeno utensílio de teste quando o guardei embrulhado em papel de volta na caixa.


— Você não vai ver?


— Vamos ver juntas, é mais justo. 


Deixei a embalagem sobre a pia e retirei as minhas roupas molhadas, precisava muito de um banho quente. 


— Esteve na praia? — Sora encarava as minhas vestimentas, possivelmente percebendo a areia grudada nelas.


— Podemos falar sobre isso depois? Eu quero ficar sozinha, e já adianto que não fiz nada de errado.


— Não precisa falar se não quiser. — Ela sorriu pequeno para mim. — Mas tenha cuidado.


Assenti, a vendo sair pela porta, finalmente me deixando sozinha naquele cômodo pequeno.


Encarei aquela embalagem de teste de gravidez por alguns minutos, ao passo que a água quente do chuveiro molhava o meu corpo, o medo parecia circular pelas minhas veias.


Peguei o meu celular que ainda estava dentro da minha mochila até então, tranquei a porta do meu quarto e corri para a minha cama, abraçando o travesseiro com força como único meio de descontar o meu nervosismo.


No fundo eu sabia que não iria conseguir lidar com tudo isso sozinha, Jeongguk estava certo quando disse que não tenho coragem alguma. Se já estava sendo difícil antes, nem quero imaginar depois de ver o resultado daquele teste.


Desbloqueei a tela do meu celular, abrindo a aba de contatos e selecionei o primeiro da lista. O número começou a ser chamado.


Alô? — Fui atendida na penúltima chamada.


— Me desculpa por estar ligando a essa hora, mas é que eu não sei o que fazer… — A essa altura eu já chorava baixinho contra a fronha do travesseiro. — Me ajuda, Ah-ri… por favor…








Notas Finais


A Sunhee definitivamente não sabe como enfrentar os obstáculos da vida kkkkkkk. 🤡

Quem amou o Jimin voltando a protagonizar? Irra 🥳

Então anjinhos, eu pretendo atualizar ainda nessa semana, provavelmente amanhã ou na sexta, beijinhos😘


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...