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História Desejo Impuro - Jeon Jungkook - Tentativas falhas.


Escrita por: Maaru

Notas do Autor


Boa Leitura. ♥️

Capítulo 49 - Tentativas falhas.


Fanfic / Fanfiction Desejo Impuro - Jeon Jungkook - Tentativas falhas.


— Então, quer dizer que começou a morar sozinha? — Questionou o rapaz, sem fazer contato visual.


— Sim, mas é apenas temporariamente. — Respondi, afastando uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. — Na verdade, estou fazendo um favor para uma amiga.


— Ah… — Ingeriu um gole do seu suco de uva, retomando o olhar para mim. — E como você se sente? Nunca deve ter passado tanto tempo em um lugar sem a companhia de alguém antes.


— Sinceramente, eu sinto um pouco de medo. — Suspirei. — Aquela casa é enorme e me sinto um tanto vulnerável, mas apesar disso, é muito bom desfrutar da minha própria "independência". 


— Eu entendo, sei bem como se sente, também passei por situações complicadas quando me mudei para Seul, Jeongguk ainda não havia concluído o fundamental e eu mal conseguia abastecer o carro sozinho, por ser o filho primogênito, bom… eu fui muito mimado e desenvolver a minha própria independência não foi nada fácil, sem contar a solidão por uns dois anos dentro de um apartamento. — Riu fraco. 


— É bom ver que atualmente você se tornou alguém responsável. — Retribuí o sorriso. — Acredito que seja um CEO muito respeitado onde trabalha. E… o Jeongguk deve ser uma ótima companhia.


— É, ele tenta. — Deu de ombros. — Acredite, morar com pessoas distraídas não é lá muito agradável. — Revirou os olhos, rindo logo após o comentário. 


— Para você me parece que sim… — Cerrei as pálpebras, constatando nas entrelinhas da fala do mais velho que ele adorava estar junto do irmão, apesar das desavenças que são comuns. 


Junghyun ficou vermelho, disfarçando enquanto ainda comia, havia sugerido que viéssemos almoçar em um restaurante próximo a praia, e de fato era um lugar muito bonito, inclusive à vista para o extenso oceano azul. O Jeon mais velho demonstrava ser alguém bastante eclético, sabia conversar sobre assuntos diversos e era muito divertido, o tipo de pessoa que faz você se sentir confortável ao estar próximo.


— Sabe, Sunhee… eu sempre fui um homem de poucos amigos, é um pouco difícil para mim interagir tão abertamente, meu foco era unicamente estudar e conseguir ser bem sucedido para ajudar a minha família, então, não tinha o costume de fazer o que comumente pessoas mais novas fazem, não ia muito a festas, não passava a tarde jogando futebol com os amigos ou coisas do tipo, vivia na minha própria bolha "ambiciosa". — Suspirou, relaxando o corpo após finalizar a sua refeição, desviando o olhar para a janela ao nosso lado, admirando a paisagem marítima diante de si. — E, bom… a única coisa que foi capaz de mudar isso, foi quando o meu irmão nasceu. Jeongguk era o oposto de quem eu era naquela época, possuía tanta energia e vontade de estar fazendo tantas coisas, que eu confesso que até tinha um pouco de medo dele, era curioso demais e nos metia em muitos problemas, mas que no final nos rendia boas risadas e experiência. Digamos, que ele foi o meu primeiro melhor amigo. — Sorriu, parecia imerso em lembranças. — É por esse motivo que às vezes posso acabar soando como um irmão grudento, mas não é exatamente isso, eu… apenas…


— Se apegou demais a uma personalidade que ainda não conseguiu aperfeiçoar em si. — Murmurei, presumindo que ele pudesse ter ouvido.


— Acha que pareço alguém invejoso?


— Não, não diria que sente inveja, mas você gosta da boa sensação de estar com o seu irmão e o jeito que ele lida com algo que você ainda não consegue, ao menos não como gostaria. — Sorri pequeno. — Talvez, você apenas sinta receio que ele vá se afastar tanto um dia que não vai mais te proporcionar isso, amizade, carinho, diversão…


— Ah…


— É isso que chamamos de dependência emocional, e alguém tão incrível como você não precisa disso, tenho certeza de que consegue fazer amigos e se divertir desfrutando apenas da própria autenticidade. 


— Mas…


— Afinal, por que acha que estou aqui, almoçando com você? — Ergui o cenho. — Acha que é por causa da sua aparência ou por ser uma morta de fome? É claro que não! Eu gosto de você! 


— G-Gosta? — Arregalou os olhos, estava tão vermelho que tive de conter o riso.


— Certamente. — Umedeci os lábios, esboçando um sorriso tímido, mas amigável. — E não é por causa do seu irmão, você consegue conquistar as pessoas sozinho, do seu jeitinho, meigo e prestativo. 


— Aigoo… me fará chorar se continuar falando assim. — Respirou fundo, sorrindo. — Mas obrigado, de verdade. Também penso o mesmo de você, apesar de não ter conhecido a sua irmã, ao menos tive o privilégio de te conhecer. 


— Quem sabe, em uma outra oportunidade. — Desviei o olhar, agora, murchando um pouco o humor, só de pensar em Sora, um aperto se manifestava em meu interior. 


— Está tudo bem? Falei algo que não deveria? 


— De modo algum, está tudo bem! 


— Ah, certo. Hum… Sunhee.


— Pois não?


— Se não for problema para você, podemos tirar uma foto juntos? 


— Uma… foto? — Franzi o cenho, não esperava que ele me pedisse algo assim. 


— Esqueça, devo ter soado estranho. 


— Não é isso… — Gesticulei. — É que… Aish, deixa pra lá. Podemos tirar uma foto juntos, é claro que podemos! 


— Uh, sendo assim, pode chegar mais perto? — Pegou o celular, e o vi desbloquear a tela do mesmo, pondo na câmera frontal.


Não me sentia nas melhores condições para uma foto, contudo, Junghyun estava tão empolgado com o pedido que temi que ele se sentisse mal ou envergonhado com a minha recusa. Seria apenas uma simples foto, afinal.


— Você é encantadora sorrindo, com todo respeito. 


— Obrigada, eu… achei fofo o jeito que suas bochechas ficaram gordinhas. — Rimos. 


— Agradeço por aceitar vir almoçar comigo, já faz um tempo que eu não saio com pessoas diferentes, a não ser o pessoal da empresa e o meu irmão. 


— Eu quem agradeço, convivo praticamente no mesmo ciclo de pessoas o tempo todo. É bom conversar com alguém diferente às vezes.


— De fato. — Levantou-se, após pagarmos pelo que consumimos, e como na maioria das ocasiões em que saio com alguém, tive de insistir para pagar a minha parte sozinha, não conseguia deixar tudo nas costas de apenas uma pessoa, ainda que ela se oferecesse de bom grado. — Vamos? 


Assenti, o acompanhando até a saída.


                                      [...]


Jeon Jeongguk.


— Parece que o nosso amigo já está em solo britânico! — Exclamou Taehyung, virando a tela de seu celular.


— Está falando do Park? — Yoongi curvou um pouco o tronco, na tentativa de enxergar o aparelho do Kim virado à sua frente.


— Ele quem lhe mandou essa foto? — Hoseok indagou, com a boca cheia de batatinhas.


— Não, postou um story's no instagram. — Disse. — Caramba, Londres é um lugar e tanto…


— Por que não fomos nos despedir dele no aeroporto mesmo? 


— Hãm… porque ele odeia despedidas? Com certeza ia nos mandar à merda quando começássemos a chorar. — Hoseok riu.


— Fale por você, eu não choro por essas coisas. 


— Você chorou por uma semana inteira quando o Holly ficou doente e na verdade ele só estava com preguiça e calor. 


— Cala a boca! — O Min desferiu um soco leve no ombro do amigo. 


— Temos que admitir, o Jimin era um pé no saco, ignorante e ria da nossa desgraça, mas… era um bom amigo e sempre esteve conosco quando precisamos, vou sentir saudade… — Taehyung fungou.


— Ah sim, é claro que eu vou sentir saudade dele, porém, a felicidade dos meus amigos está em primeiro lugar, portanto, espero que dê tudo certo para ele lá. — Enunciou Hoseok, sorrindo orgulhoso.


— Juro que se um dia ele voltar e não me trouxer nem que seja um chaveirinho… — Yoongi bebericou um pouco da sua cerveja, fazendo uma pausa na fala. — Cabeças vão rolar!


— Idiota. — Eles riram.


— Mas e quanto a você, acredito que vá sentir tanto a falta dele quanto nós, afinal, Jimin era o seu melhor amigo… 


Ouço a voz de Taehyung, no entanto, somente após alguns segundos compreendi que a sua fala se referia a mim. Ergui o olhar e reparei que os três me encaravam, esperando por uma resposta.


Era óbvio que eu sentiria a falta dele, já sinto, para ser sincero, e não vou omitir que me senti frustrado quando o ruivo pediu para que não fôssemos até o aeroporto nos despedirmos de si. Ainda que fosse por um motivo pessoal e vantajoso, não mudava o fato de que sabe-se lá quando o verei novamente, além da preocupação com a sua saúde e bem estar. Ao menos, eu pude me desculpar e dizer a ele tudo o que sentia no ano novo, não aguentaria guardar tudo aquilo e vê-lo ir embora com a nossa relação abalada.


— Eu… — Estava prestes a dizer algo, no instante em que a minha fala foi interrompida por mim mesmo ao constatar que o meu celular vibrava, e tive de desviar a atenção do assunto, principalmente quando vi na barra de notificação que se tratava de Junghyun. Era uma mensagem.


Jeon Junghyun: Adivinha quem eu encontrei no mercado e convidei para um almoço?


Enviou uma imagem.


Crispei os lábios, erguendo o meu cenho após baixar a imagem recebida. Não demorei a reconhecer o meu irmão, sorria abertamente, evidenciando as bochechas fartas, e logo atrás de si, não muito distante, estava Sunhee, ela também sorria. Os dois aparentavam estar confortáveis um com o outro, e confesso que jamais poderia imaginar que um dia veria a minha ex cunhada com o meu irmão, saindo para um almoço juntos. Junghyun era tão tímido, por que a convidou para sair tão repentinamente? Eles se conhecem tão pouco.


Soltei o ar por entre os lábios, sem saber o que pensar.


— Uau, que foto bonita, é o seu irmão e a… 


— Não. — Bloqueei a tela, pondo meu celular novamente para dentro do bolso. — Do que estávamos falando mesmo? — Questionei, cortando completamente a curiosidade de Taehyung que encontrava-se sentado ao meu lado, este que logo percebeu a inconveniência e não tocou mais no assunto.


                                      [...]


19:30.


Caminhei preguiçosamente pelo corredor, havia acabado de sair do banho e não sabia se deveria esperar por Junghyun para o jantar, sequer respondeu às minhas mensagens e a essa hora - que eu saiba - ele não deve mais estar na empresa.


Bufei, rumando até a cozinha. Aproximei-me do armário, prestes a pegar um pacote de macarrão instantâneo.


— Jeongguk? 


Fechei os olhos, reprimindo o susto interno.


— Na cozinha! — Respondi.


Comecei a ouvir o som dos seus passos cada vez mais próximo, até que o pudesse ver com os próprios olhos, retirava o paletó, entoando um suspiro.


— Desculpe não ter respondido as suas mensagens mais cedo, estava ocupado naquele momento. — Falou.


— É, eu percebi. — Fechei o armário, pondo o pequeno pacote do macarrão acima do balcão.


— Vai comer macarrão instantâneo? É sério? 


— Não estou afim de cozinhar.


— Sei bem que não, por isso trouxe o nosso jantar dessa vez. — Pôs duas sacolas sobre a superfície de mármore. — Tem espetinho de cordeiro aí, o seu favorito.


— Hum… obrigado. — Falei, simplista, guardando o que iria comer anteriormente no devido lugar.


— Aliás, viu a foto que enviei a você? 


— Vi.


— Ya, foi uma coincidência e tanto. — Riu fraco enquanto dizia. — Sabia que ela começou a morar sozinha?


— Não, Hyung, eu não sabia. — Estalei a língua, ainda que surpreso. Desde quando a Sunhee mora sozinha? 


— Ah… achei que soubesse. Vocês não são próximos? 


Sinceramente, não sei mais o que somos. 


— Nós…


— Sabe, não que eu esteja querendo obrigá-lo a fazer algo, mas, por que não a visita um dia desses? Ela é tão… gentil e carismática. — Suspirou, abobalhado. — Eu gostei dela. 


— Que bom para você. — Dei de ombros. — Vai querer beber alguma coisa? 


— Água, estou com muita sede. — Arfou. — Jungoo.


— Hum?


— Você está bem?


— Por que não estaria? — O encarei.


— Eu não sei… me parece chateado. Algo o incomoda? Podemos conversar sobre o que for, vou te ouvir. 


Revirei os olhos, não me sinto chateado, só cansado psicologicamente, e tal estado é uma verdadeira merda.


— Não estou chateado. E acho melhor você tomar um banho e se trocar logo, não quero comer comida fria, anda! 


— Oh sim, já estou indo… mandão! — Riu, deixando o cômodo às pressas.


"Gentil e carismática…" É sério, Junghyun? Até você?


                                     [...]


Oh Sunhee.


— Sim, mãe… já disse que eu estou bem. — Escorei o corpo no batente da entrada da varanda, enquanto conversava com a mais velha na ligação.


Não está esquecendo de trancar tudo antes de dormir, não é? Por acaso já comeu alguma coisa? Precisa de algo? Posso pedir para o seu pai levar, inclusive roupas, toalha e…


— Mãe, não estou em um confinamento. — Ri fraco. — Não precisa se preocupar tanto, lhe disse diversas vezes que estou bem, acabei de comer e… não preciso de nada no momento. 


Ah, querida… eu sinto a sua falta, fico preocupada com você tendo de passar tanto tempo sozinha nesta casa. Entendo que já tenha idade suficiente para tal, mas… ainda não é fácil para mim. 


— Ya! Eu não passo tanto tempo sozinha, Namjoon e Ah-ri aparecem para me visitar de vez em quando e me fazem companhia.


Isso é um alívio. Fico feliz que você tenha amigos tão prestativos. 


— Eu também. — Sorri pequeno. 


Tentarei arranjar tempo no final de semana para passarmos o dia juntas. Infelizmente preciso voltar ao trabalho agora, meu amor, cuide-se e não hesite em me ligar se precisar de algo, e não esqueça de me mandar mensagens. — Disse. — Alimente-se corretamente e nada de comidas instantâneas.


— Sim senhora. — Segurei o riso, soava engraçado o modo em como ela ainda me tratava como se ainda fosse uma criança, contudo, eu a compreendo, deve ser normal de toda mãe agir deste modo com os filhos, não importa a idade, onde ou com quem estejam. — Até logo, mãe. 


Até logo, amo você.


— Eu também te amo.


Encerrei a ligação, suspirando após afastar o celular da orelha, retornando para a sala de estar. O relógio recém marcava duas e meia tarde, fazendo-me sentir entediada, pois, já havia organizado e realizado todas as tarefas diárias, inclusive as que Sa-Rang deixou para mim anotadas em uma pequena lista. 


Estalei a língua, bufando ao relembrar que possuía algumas atividades da faculdade para fazer, entretanto, o meu dom de procrastinar quase sempre se sobressai nestes momentos. Decidi que passaria o restante da tarde estudando na área de lazer da casa, em decorrência de ser o cômodo mais fresco…


Peguei o meu notebook e mais alguns materiais que utilizaria. Então, antes que pudesse finalmente acomodar-me para começar, o interfone tocou, assustando-me um pouco, afinal, não estava esperando por nenhuma visita e sequer recebi algum aviso a respeito. Franzi o cenho, cogitando se deveria ir ver de quem se tratava ou apenas fingir que não há ninguém em casa.


Quando me dei conta, o pequeno telefone já estava posicionado ao meu ouvido.


— Quem é? 


— Sunhee? 


Arregalei os olhos, contendo um engasgo na garganta.


— J-Jeongguk? 


Esperava não estar alucinando, mas não haveria a possibilidade, eu reconheço bem a sua voz. Como ele sabe que sou eu quem estou aqui? 


— É… — Respondeu após alguns segundos. — Desculpe por aparecer sem avisar, Namjoon não pôde vir e estou lhe fazendo o favor de trazer alguns livros que você pediu emprestado a ele. 


Céus, eu realmente havia me esquecido. Merda, como consigo ser tão avoada?


— Só um instante. — Pedi, rumando rapidamente para pegar o meu celular, desbloqueando a tela e abrindo na aba de notificações, onde haviam algumas mensagens não lidas, inclusive as de Namjoon, estas enviadas há algumas horas atrás.


Kim Namjoon: Houve um imprevisto. 


Kim Namjoon: Não poderei mais levar livros para você à tarde.


Kim Namjoon: O Jeongguk está aqui, pedirei a ele que os deixe aí quando estiver saindo, tudo bem? 


Esbocei uma careta, se tivesse ao menos pêgo o celular naquele momento, teria dito que não precisava, ele poderia trazê-los em uma outra oportunidade.


Respirei profundamente, um tanto frustrada com a minha própria aparência, como se recém houvesse acordado. Revirei os olhos, rumando em direção a porta, abrindo-a após prender o cabelo em um rabo de cavalo. Engoli a seco quando meu olhar foi de encontro ao rapaz, Jeongguk usava o mesmo boné preto que o vi usando há alguns meses atrás, trajava uma camisa cinza larga e um jeans claro rasgado nos joelhos, e confesso que se não o conhecesse, diria que tem um uns dezessete anos com essa aparência. 


— Oi.


— Oi… — Encarou-me, logo estendendo as mãos com os livros, os tinha pedido emprestados ao Kim, pois precisava de algo para me distrair que não fosse apenas a televisão, ou a tela de um celular, sempre admirei uma boa leitura física e a estante de Namjoon costuma ser cheia. — Os livros.


— Obrigada. — Sorri simpática, pegando a mediana pilha de suas mãos. 


Jeongguk me reverenciou rapidamente, parecia tímido, indiferente, o que acabou causando um clima estranho entre nós. 


— Você… quer entrar? — Perguntei em um impulso, começando a ficar nervosa e talvez até arrependida. Por que ele iria querer entrar? Deve ter muito mais o que fazer. 


— Você quer que eu entre? — Rebateu, com o típico olhar grande e particularmente intimidante.


— B-Bom… não me parece uma má ideia. — Dei de ombros. — Mas só se você quiser, na verdade, esqueça! Você deve ter outras ocupações. Tenha uma boa tarde e mais uma vez agradeço por trazer os livros. — Segurei firme na maçaneta, envergonhada por ter falhado nas palavras, e mais ainda por ter sugerido que ele entrasse. Devo estar ficando maluca, não temos mais motivos para ficarmos próximos e nem nada do tipo. Meu senso de educação precisa compreender tal fato o mais rápido possível.


Ergui o cenho, ouvindo o seu baixo riso nasalado.


— Eu estou livre pelo restante do dia. — Disse. — Então… pode ser. — Deu de ombros. 


Entreabri os lábios, minhas bochechas tão quentes quanto as brasas. Sem conseguir proferir nenhuma palavra além de expressar um sorriso no mínimo tímido, dei passagem para o mais velho adentrar. Provavelmente, foi a minha total falta de socialização nos últimos meses, ou a carência por outra presença que não fosse unicamente o meu ser nessa residência.


O aroma do perfume alheio instaurou-se quando Jeongguk passou por mim, adentrando as minhas narinas, tonteando-me por milésimos de segundos. Ele retirou o boné, arrumando os fios desalinhados com a própria mão, e mesmo inconscientemente, percebi que havia os cortado um pouco mais. Retirou os tênis, ainda de costas para mim, que a todo custo pensava se havia tomado uma boa decisão, travando uma batalha interna para que o meu cérebro formule algum diálogo.


— Está mesmo morando sozinha? 


Pisquei, como se despertasse de um transe, retomando o olhar para o moreno que encarava-me por cima do ombro.


— Ah, sim! — Afastei-me da porta. — Estou fazendo um favor a Sa-Rang e o namorado dela. Eles precisavam de alguém para cuidar da casa por alguns meses.


— Hum… — Jeongguk observou ao redor, limitando-se apenas a assentir. — Há quanto tempo já está aqui?


— Vai completar um mês na próxima semana. — Suspirei. 


— Nossa… — Murmurou. — E como você…


— Como eu me sinto diante da situação? — O interrompi, como se já soubesse o que questionaria, afinal, tal pergunta me fora feita tantas vezes. — Estou me acostumando aos poucos. 


— Como soube? — Referiu-se a sua fala interrompida.


— Intuição. — Ri fraco. — Ou talvez, a quantidade de vezes em que tive de falar sobre isso, portanto… foi previsível. — Jeongguk estreitou o olhar, logo esboçando um sorriso. — Vem, a sala fica daquele lado.


Aproximei-me da pequena estante ao lado da televisão, decidindo que deixaria os livros ali por enquanto. Observei de soslaio o rapaz sentar timidamente no sofá, juntando as penas e tratei de disfarçar quando virou-se para mim. Ah, céus, o que eu tinha na cabeça a minutos atrás? 


— Como você está? — Tomei a iniciativa desta vez, virando-me de frente para si. 


— Bem, e você? 


— Bem. — Umedeci os lábios. — Hãm… você quer beber alguma coisa? Comer?


Jeongguk me encarou em silêncio por contáveis cinco segundos, parecia pensar.


— Só… um pouco de água.


— Água… — Crispei os lábios. — Tudo bem, eu já volto.


Retornei a sala após passar mais tempo que o desejado na cozinha, apreensiva, tendo até mesmo lavado o rosto duas vezes seguidas na tentativa de aliviar a tensão e o suor que me escorria pelas têmporas, aproximando-me o mais naturalmente possível do sofá o qual o moreno encontrava-se acomodado, em silêncio, mexendo em seu celular até que por fim, notou-me estender a mão com um copo cheio até a metade de água gelada para si.


— Obrigado. — Tomou-me o copo, mas antes que pudesse aproximá-lo dos lábios, franziu o cenho. 


— O que foi? — Rumei a curtos passos até o outro sofá, esticando a mão para pegar o controle remoto.


— Nada. — Desviou o olhar, iniciando as goladas no líquido transparente e gélido recém oferecido. Entretanto, não consegui deixar de estranhar a sua atitude, perdurando até o instante em que fixei o olhar em minha mão esquerda.


— Ah… — Ri fraco, atraindo novamente a atenção do moreno. — Sobre isso, sobraram algumas da última vez que Ah-ri e Namjoon estiveram aqui, eu só… não quero estragar. 


Sinceramente, eu apenas estava ingerindo aquela pequena garrafa por pensar que seria mais fácil lidar com a situação atual, não que seja a melhor alternativa, mas ouvi dizer uma vez que beber alivia a tensão. 


— Não precisa se preocupar em me dar uma satisfação em relação a isso. — Disse. 


— Eu sei… — Suspirei. — Mas não é como se você tivesse boas lembranças das vezes em que me viu ingerir álcool. 


— Não as considero mais, é passado. 


— Claro. — Sorri pequeno. — Aliás, você quer? 


Encarou-me, sério, alternando entre os meus olhos e minha mão esquerda que segurava firme a garrafa.


— Talvez depois. 


— Tudo bem. — Desviei os olhos, ligando a televisão. — Quer assistir? — O vi assentir, recostando-se melhor no estofado.


Com toda certeza, depois de hoje Jeongguk nunca mais vai pôr os pés aqui. Como eu consigo ser tão sem graça? E o que vamos assistir? Possivelmente ele vai deixar a escolha de algum filme ou programa nas minhas mãos, e o que eu vou colocar? "Procurando Nemo"? Céus, tão infantil, Sunhee. 


Maravilha, não há como ficar pior.


                                     [...]


20:45.


— Ah, porra… é agora! 


— Cala a boca, ele vai dizer, ele vai dizer… — Tombei o corpo para o chão, engatinhando para mais próximo da televisão, empurrando o mais velho de leve, este que sequer esforçou-se para manter o equilíbrio, sentando-se, completamente mole, mas ainda assim, atento a uma das melhores cenas cinematográficas de todos os tempos. 


"Eu sou inevitável…" O semblante do quase implacável vilão Thanos formou-se em grande confusão, ao enfim perceber que havia algo de errado com o seu estalar de dedos. 


"E eu…"


— Sou o homem de ferro! — Dissemos em uníssono. Em um ato instantâneo nos viramos um para o outro, esbocei um sorriso largo, retomando a atenção a cena no momento em que Tony estalava os dedos, transformando Thanos em fragmentos, dissipando-se no ar rapidamente, até que não sobrasse nada. — Woah!


— Caramba…


— Eles finalmente conseguiram, não consigo enjoar de ver essa cena. 


— Eu também não!


— Fala sério, você gosta? 


— Está brincando? É a minha saga favorita, já assisti incontáveis vezes. 


— O que? Mas… é a minha favorita também! 


Jeongguk arregalou os olhos, os lumes cintilando, acompanhado de um sorriso bobo. 


— Você… gosta do homem de ferro? Ele é o meu favorito entre todos os outros heróis.


Pressionei o lábio inferior com os dentes, ansiosa, sentia-me como uma bomba prestes a explodir. 


— Ele… também é o meu! — O Jeon gargalhou alto, caindo para trás sobre o tapete, batendo palmas, animado, enquanto eu repetia o seu ato, surpresa por termos a admiração por um herói em comum. — Aigoo! Por que nunca me contou que gostava deles? Achei que fosse a única entre os nossos amigos. — Formei um bico nos lábios, acertando-lhe com o travesseiro.


— Ya! Eu também nunca pensei que você gostasse, sempre foi tão reservada, não parecia fazer o seu tipo. 


— Bobo! É óbvio que eu adoro! Aish… — Arfei. — Poderíamos ter assistido os filmes juntos, vi todos praticamente sozinha. 


— Eu também…


— Sora não os assistia com você? 


— Ela tentava, mas acabava dormindo na metade, sempre reclamava que os filmes eram muito longos, e não conseguia achar graça em nada… — Deu de ombros, levando a sua garrafa de soju aos lábios, aquela já era a sua quarta. 


— Ah… 


— Ela dizia que eu soava infantil, por gostar disso, e… acabei deixando de lado por um tempo.


Ergui o cenho, sem conseguir acreditar que Sora o julgava ser infantil por isso, não há nada de errado em gostar de super heróis ou qualquer coisa do tipo, até quando as pessoas irão julgar outras por gostos pessoais? 


— Tsc… ela tinha essa péssima mania… — Meneei a cabeça. — Eu sinto muito. 


— Tudo bem, ao menos agora eu me sinto melhor por saber que você também gosta. — Sorriu pequeno, evidenciando suas bochechas vermelhas.


— Igualmente… 


— E quanto a Jimin?


— O que tem ele?


— Pensei que assistissem juntos. 


— Nós, assistimos alguns, mas, ele ainda preferia filmes de terror, dizia que era previsível demais e os heróis venceriam de qualquer modo. — Bufei. 


— Como se houvesse alguma diferença nos de terror. — Riu fraco. 


— Tão previsível quanto… — Apoiei as costas no sofá, inclinando a cabeça para trás, fitando o teto. — O que você acha que eles estão fazendo agora?


— Eles… quem?


— Jimin, e Sora.


O silêncio instaurou-se entre nós dois por algum tempo, sendo apenas a trilha sonora dos créditos como único som presente naquela sala. 


— Eu não sei. Mas espero que estejam bem. 


— É… — Ergui a mão, aproximando a garrafa dos meus lábios, sentindo o líquido alcoólico descer pela minha garganta. Por um instante, cogitei se deveria contar a ele sobre o que aconteceu entre mim e Sora, inclusive a sua partida sem aviso prévio, contudo, não fará sentido algum, nenhum de nós dois precisa ficar relembrando de pessoas e ocorridos que, de algum modo, nos fazem sentir desconfortáveis. E confesso que a cada dia que se sucede, ainda é difícil engolir completamente tudo o que passei, fingindo ter superado quando na verdade continuo me rendendo ao choro durante as minhas noites solitárias.


— Você… soube da pista de patinação que inaugurou semana passada? — Indagou após um tempo em que ficamos apenas quietos. 


— Vi a propaganda passar algumas vezes na televisão. — Respondi. 


— Você já foi lá?


— Sinceramente, nunca. Mas gostaria, parece ser divertido.


— Ah…


— E você?


— Eu também não. 


Como nós dois acabamos assim? Não sou capaz de compreender, e apesar de não saber a resposta, no fundo, sinto-me feliz que ele está aqui, que possivelmente ainda me resta esperança de que possamos ser amigos como antes. Não quero que acabemos semelhante a minha relação com Sora, ou Park Jimin. Desejo estar em paz e recomeçar de maneira saudável.


— Ei. 


— Hum? — Olhou-me. 


— Você… quer passar trote no Namjoon comigo?


— É sério?


— Podemos assistir Homem de Ferro três depois, tenho todos os filmes salvos no meu computador. — Sorri ladino, sugestiva. — Por favor, juro que é engraçado, ele sempre cai nas pegadinhas.


Jeongguk ergueu-se, engatinhando em minha direção. Meu corpo inteiro enrijeceu quando a mão masculina tomou-me a garrafa de soju, e virou-a nos lábios, finalizando a bebida, passando a língua lentamente pelos lábios finos.


— Me dê o celular. — Pediu, e logo entreguei o meu aparelho a ele. — Tem certeza? 


— Prefere o Hoseok?


— O que?


— Ele é medroso, podemos dizer que estamos observando ele. — Gargalhei somente em imaginar.


— Você é má.


— Eu estou bêbada! 


Meneou a cabeça, sentando-se de frente para mim. 


— Não me responsabilizo se ele mijar na cama.


— Liga!


                                    [...]


1:40.


Sentia meu corpo balançar levemente, como se algo ou alguém estivesse causando tais ações físicas em mim, no entanto, estava tudo escuro, e eu mal conseguia manter os olhos abertos.


— Hee! 


— Huumm? — Gemi, sonolenta, abrindo os olhos aos poucos. — O que houve? — Minha voz soou fraca e arrastada. — O filme já acabou?


— Há meia hora atrás, você dormiu antes da metade. Vem cá, vou te acompanhar até o quarto. — Estendeu as mãos.


— N-Não precisa. — Resmunguei baixinho, lutando contra o sono para manter as pálpebras abertas. 


— Não pode passar a noite no sofá, seu corpo vai ficar dolorido. 


— Eu estou bem. — Gesticulei, fechando os olhos novamente.


— Tsc… 


— Não… Jeongguk… — Gemi, sentindo meu corpo a contragosto ser retirado do sofá, literalmente sendo carregada pelo rapaz em seus braços, semelhante a uma noiva.


— Onde fica o seu quarto? — Perguntou, adentrando o corredor.


— A primeira porta à direita. — Disse, enlaçando os meus braços em volta de seu pescoço, enquanto empurrava a porta já aberta com o seu ombro para entrar junto a mim.


Não demorei muito a sentir a maciez do colchão sob minhas costas. Jeongguk me pôs com cuidado ali, afastando as suas mãos devagar do meu corpo.


— Sente-se mal? Precisa de alguma coisa? — Murmurou.


— Não, obrigada. — Forcei um pequeno sorriso.


— Certo, sendo assim, durma bem… — Senti um toque em minha testa, como o de lábios.


Meus batimentos cardíacos aceleraram, em um aviso interior de que o mais velho possivelmente iria me deixar. Rapidamente movi a minha mão antes que pudesse se afastar completamente, agarrando o seu pulso.


— Não! — Jeongguk olhou para mim confuso. — Fica…


— Sunhee… — Suspirou. — Eu tenho que ir, já são quase duas da manhã, você precisa descansar.


— Você bebeu, não pode dirigir.


— Eu estou bem, aqui não é muito longe da minha casa, e não há muito trânsito a essa hora, não se preocupe.


— Não! Por favor, Jeon… Fica aqui, comigo. — Exclamei, quase chorosa. — Se alguma coisa acontecer com você, não poderemos ir à pista de patinação juntos…


— O que? — Ergueu o cenho. — Mas nós não…


— Eu quero ir, quero muito… Com você, vamos juntos…


— Não está falando sério…


— Estou! Você não quer ir comigo?


— Eu… Acho que sim. 


— Então fica! Fica… Por favor… 


Ele ficou em silêncio, parecia pensar, sem desviar o olhar do meu, até que tocou a minha mão afastando-a do seu pulso.


— Precisa dormir.


— Mas você…


— Não irei a lugar algum.


— Promete?


— Prometo…


                                 [...]


— Você está horrível! — Enunciou Haeri, inclinando a cabeça para o lado assim que me notou adentrar a biblioteca, sentando-me na banqueta da pequena mesa onde finalizaríamos as nossas atividades juntas.


— Agradeço o elogio. — Resmunguei em resposta. 


— Quer que eu busque um copo de café?


— Não, eu já tomei. — Retirei o caderno e algumas apostilas da mochila. — Será que podemos terminar logo? A aula começa em uma hora. 


— Ora, a culpa não é minha se você decidiu dar uma de morcega na noite passada.


— Haeri!


— Não está mais aqui quem falou. — Ergueu as mãos em um gesto de redenção, levantando a tela de seu notebook para começarmos. Teria de me poupar das explicações se quisesse ao menos manter um pouco de foco, afinal, o que ela pensaria de mim se confessasse que na verdade estou de ressaca? Após passar a tarde e boa parte da noite assistindo a filmes de super heróis, bebendo e passando trote nos meus amigos? Quando deveria estar concentrada em fazer o restante dos relatórios. 


E ah, tudo isso sem desconsiderar o fato de que estive acompanhada, Jeongguk fez parte de tudo e mal sei o que pensar sobre o ocorrido. Ao menos, sentia-me aliviada por saber que ele realmente passou a noite juntamente a mim na casa, na sala, inclusive, e apenas retomei a lembrança disso quando acordei e deparei-me com uma embalagem de cafeteria e um pequeno saquinho ao lado com a logo de uma farmácia, com alguns comprimido para dor de cabeça e enjôo. É claro, ele não estava mais lá, havia saído antes mesmo que eu acordasse, contudo, o meu constrangimento ao passo em que cada lembrança referente a noite passada surgia em meu consciente, estava mais que presente.


Não me sentia mal, ou arrependida, mas, era estranho, tão estranho a ponto de eu não saber o que significa. 


Suspirei com pesar, após terminar de resumir mais alguns parágrafos e entregá-los a Haeri para que ela pudesse repassá-los para a formatação e poderíamos finalmente pôr um fim nestes afazeres cansativos. 


Peguei o meu celular que estava guardado no bolso lateral da mochila, verificando a hora no ecrã. Faltavam apenas quinze minutos para a primeira aula, resolvi guardar o restante dos meus materiais para poupar tempo, pegando novamente o aparelho, pois havia recordado que precisava mandar uma mensagem, e responder outras. 


Eu: Bom dia.


Eu: Quanto lhe devo pelo café da manhã e os remédios.


Eu: Aliás, muito obrigada, e desculpe por qualquer coisa "estranha" que eu tenha feito enquanto estava embriagada.


Engoli a seco, cogitando em apagar a última mensagem, mas já era tarde demais, apenas queria pagar pela comida e os remédios.


— Prontinho, tudo formatado, alinhado e editado. Podemos ir? — Haeri alongou os braços, respirando profundamente em alívio.


— Faltam quatro minutos, vamos. — Peguei as minhas coisas, ajudando-a a pegar as suas.


— Tem certeza de que não precisa, sei lá, de um pó compacto? Eu tenho um aqui.


— Aish…


— Tudo bem, tudo bem! — Riu fraco, acompanhando-me até a sala de aula que localizava-se no segundo andar do prédio universitário.


Foi como se o restante do dia houvesse passado em total lentidão, tive de esforçar-me como podia para não acabar caindo no sono durante as explicações dos professores, até mesmo retirei-me da sala algumas vezes para lavar o rosto e tomar um pouco de ar. Certamente, lembrarei de nunca mais repetir algo do tipo em plena semana de aulas, e por sorte consegui ser capaz de ouvir o despertador soando, ou poderia ter acabado atrasada e pior ainda, sem nota na disciplina.


Suspirei, após tomar alguns goles da água que havia comprado da última vez em que saí da sala. Pousei a cabeça sobre o ombro de Haeri, estávamos sentadas nas últimas bancadas do auditório, entediadas, observando os slides que a professora repassava na tela de datashow. 


— Se perceber que eu estou dormindo, me belisque. — Sussurrei.


— Eu iria pedir a mesma coisa, até a voz da Professora Shin é tediosa. — Haeri bufou. 


Ri nasalado, retomando a atenção para a explicação da mulher a frente, até que senti algo vibrar em meu bolso. Cogitando se deveria pegar o celular durante a aula, a curiosidade acabou vencendo, retirei o aparelho do bolso da jaqueta, desbloqueando a tela e verificando discretamente as mensagens que havia recém recebido, ergui o cenho, quando percebi que eram todas de Jeongguk.


Jeon Jeongguk: Você não me deve nada, Sunhee.


Jeon Jeongguk: E não precisa se desculpar. 


Jeon Jeongguk: Sente-se melhor?


Um sorriso pequeno formou-se em meus lábios.


Eu: Sim, estou melhor, só com um pouco de sono.


Jeon Jeongguk: Não me diga que foi a faculdade? 


Eu: Estou em aula agora mesmo, haha.  


Jeon Jeongguk: E posso saber por que está me mandando mensagens durante a aula? 


Eu: Você mandou primeiro.


Jeon Jeongguk: Poderia responder depois, concentre-se. 


Eu: Ya… está tão chato.


Jeon Jeongguk: Entendo, mas é necessário, acredite. 


Revirei os olhos, formando um bico em meus lábios. Quando, mais uma lembrança da noite passada veio à tona em minha mente, e o constrangimento retomou ao meu interior, consequentemente afetando as minhas bochechas, estas que senti esquentar.


Céus, não, de jeito nenhum, foi apenas um blefe de momento, provavelmente ele nem se recorda disso. 


Engoli a seco.


Eu: Jeongguk, eu posso fazer uma pergunta?


Comecei a digitar, mas apaguei tudo antes que pudesse enviar, não faria sentido. E agora até mesmo me arrependia de ter enviado a mensagem anterior, até que o vi começar a digitar uma resposta.


Jeon Jeongguk: Pode.


Eu: Esqueça, não é nada. 


Jeon Jeongguk: Tem certeza? 


Cogitei, pressionando o lábio inferior com os dentes, um pouco nervosa. Não deveria estar fazendo isso.


Eu: Você, lembra-se de ontem? 


Esperei por sua resposta, como se nem estivesse mais dentro do auditório, as vozes dos alunos, inclusive da professora, pareceram tornar-se distantes.


Jeon Jeongguk: Lembro, mas, há algo específico?


Inspirei o ar silenciosamente para os pulmões, reunindo coragem.


Eu: Lembra que conversamos sobre a pista de patinação que inaugurou? 


Jeon Jeongguk: Sim.


Meus batimentos cardíacos aceleraram.


Jeon Jeongguk: Você sugeriu que fôssemos juntos. 


Arregalei os olhos.


Eu: É, mas eu estava um pouco fora de mim.


Jeon Jeongguk: Então não era sério? 


Eu: Não exatamente.


Jeon Jeongguk: Eu imaginei.


Suspirei com pesar, honestamente queria muito ir, mas não sozinha.


Eu: Mas, se fosse realmente sério, você iria comigo? 


Jeon Jeongguk: Gostaria que eu fosse com você?


Eu: Sim.


Jeon Jeongguk: :)


Notei que os meus dedos tremiam levemente.


Eu: Jeongguk.


Jeon Jeongguk: Vamos, então. 


Eu: É sério?


Jeon Jeongguk: Claro, quando você está livre? Final de semana? 


Eu: No sábado a noite, você pode?


Jeon Jeongguk: Posso. 


Eu: :)


— Sunhee!


Entreabri os lábios, contendo o susto interno pelo chamado de Haeri, sequer recordava que ainda estava apoiada em seu ombro.


— Hum?


— A aula acabou faz cinco minutos, você está sorrindo estranho. 


— Ah, desculpe. — Ergui a cabeça. — Vamos? — Bloqueei a tela do celular, o guardando novamente no bolso da jaqueta de couro que havia ganhado de presente do Park, embora fosse um pouco maior que o meu tamanho comum, era muito bonita e confortável. 


— Vamos… — Olhou-me de olhos cerrados, parecia desconfiada. — Você ficou vermelha de repente, não estava flertando por mensagens durante a aula, estava? — Riu.


— O que? Não! É claro que não! — Gesticulei rapidamente. 


— Hum. — Continuou encarando-me com o mesmo olhar. — Vou fingir que acredito em você. Vem, vamos almoçar. 


A acompanhei até a saída do campus. Meus pensamentos aos poucos começaram a intensificar, e só então dei-me conta do que havia feito. Eu literalmente convidei a pessoa que prometi manter distância para sair, convidei para entrar em casa e passamos a noite bebendo, estava novamente aproximando-me do ex noivo da minha irmã.


Meu Deus, o que eu vou fazer agora? Sábado é depois de amanhã. Nunca sai sozinha antes somente com Jeongguk. 


                                  [...]


Sábado.


18:30.


Aquela já deveria ser a centésima quinta vez em que me olhava no espelho, havia trocado de roupa exatamente seis vezes, indecisa e nervosa. Não deveria estar assim, mas algo dentro de mim não compreende que será apenas um passeio, somente isso.


Meu corpo se moveu em um sobressalto ao ouvir o soar do toque do meu celular, me assustando. Caminhei rapidamente em direção a cama para pegar o aparelho, reconhecendo o contato de minha mãe.


— Oi, mãe…


Querida, cadê você? Não iríamos jantar juntas?


Desferi um leve tapa em minha testa, tinha esquecido completamente que havia combinado que passaria o final de semana com a mais velha.


— A-Ah… sim, desculpe mãe, eu… esqueci. — Crispei os lábios, sem saber o que dizer.


Tudo bem, mas ainda dá tempo de você vir, não é? Fiz a sopa de cogumelos que tanto gosta. 


Merda, o que eu digo, que não poderei ir mais pois estou prestes a sair com outra pessoa? E se ela ficar magoada? É a última coisa que eu desejo…


Ou talvez… eu pudesse dizer a Jeongguk que não poderei ir mais, mas, então ele poderia ficar decepcionado… caramba.


Certo, uma vez não fará mal, não é? Espero que sim…


— Mãe, eu… agradeço pela sopa, mas não poderei tomá-la com a senhora hoje. Desculpe.


O que? Por que? 


— É que… — Hesitei, decidindo contar a verdade. — Na verdade, eu esqueci que passaríamos o final de semana juntas e acabei marcando outro compromisso para esta noite. 


Oh… — Seu tom de voz soou triste, e meu peito apertou. — E que tipo de compromisso é? Se não for problema perguntar.


— Não há problema algum, eu só vou conhecer a nova pista de patinação que inaugurou no centro.


Uh, é mesmo? Eu assisti a propaganda hoje de manhã, parece divertido, e se nós formos juntas? Eu estou livre agora.


Respirei profundamente.


— Eu adoraria, mãe, mas é que…


O que? Já irá acompanhada? Espere um pouco aí… — Pausou a fala por alguns instantes. — Você tem um encontro?! Ah querida, desculpe a inconveniência, eu não sabia. 


Ergui o cenho.


— N-Não é isso… — Fechei a porta do quarto, passando pelo corredor até chegar a sala. — Não é um encontro. Não exatamente. 


Então haverá outras pessoas? Seus amigos?


— Hãm… não, mas…


É um encontro! — Afastei um pouco o celular da orelha, o tom animado da minha genitora soou alto. — Minha nossa, filha. Me conte, com quem, o conheceu na faculdade? 


— Podemos conversar sobre isso em um outro momento… — Temi pela reação dela se contasse com quem realmente iria sair. 


Não irei esquecer, você vai me contar tudo e quero conhecê-lo também.


— Mãe! Não fale como se fosse um relacionamento, não há muito tempo que estive com alguém. 


Sunhee, não seja besta. Já faz quase dois meses que você e Park Jimin terminaram, você é jovem e tem todo direito de conhecer outras pessoas, seu coraçãozinho já descansou o bastante. Ande, divirta-se. Quem perde tempo é relógio, filha! 


— Mas… — Virei-me ao ouvir um som de buzina ecoar ao lado de fora, céus, só poderia ser ele. — Eu preciso desligar agora, nos falamos depois?


É claro, querida, tome cuidado. Eu te amo.


— Eu também te amo, mãe. — Encerrei a ligação.


Merda.


Recebi uma notificação, deslizei o dedo na tela e abri a aba de mensagens.


Jeon Jeongguk: Estou na porta.


Corri para verificar se havia fechado todas as portas e janelas da casa, inclusive a garagem, então corri novamente até a porta de entrada para sair, deparando-me com o carro grande de design moderno do Jeon, este que estava observando-me através da janela, com o queixo apoiado nos braços, sorrindo. 


— Boa noite. — Disse, assim que adentrei o carro, sentando ao seu lado no banco do passageiro.


— Boa noite. — Sorri pequeno, desviando o olhar rapidamente. 


— Podemos ir? 


Assenti, e então o vi dar partida no veículo, observando através do retrovisor a residência ficando cada vez mais distante. 


Seguimos o trajeto em silêncio, eu observava a paisagem através da janela, tímida, apenas ouvindo uma música consideravelmente animada, entretanto em volume moderado. A cidade estava iluminada e movimentada, como costuma ser, principalmente aos finais de semana. Engoli a seco, minhas mãos suavam mesmo diante do frescor do ar-condicionado, umedeci os lábios, tentando olhar de soslaio para o rapaz ao meu lado. Jeongguk dirigia tranquilamente, sua cabeça se movia ritmicamente à música, era fofo, e praguejava-me por não conseguir puxar algum assunto, ou talvez seja melhor assim, não quero distraí-lo enquanto está ao volante. 


Esperava me sentir mais confortável quando chegássemos lá, somos apenas nós dois, então, eu preciso interagir, afinal, a ideia foi minha.


                                    [...]


— Venha, Sunhee! — Chamou por mim.


— Mas, e se eu cair? Nunca pisei em uma pista de gelo antes, estou com medo. — Admiti, segurando firme nas barras da que davam acesso a entrada da pista. Havíamos chegado há vinte minutos atrás, o local era lindo, com decorações que faziam assemelhar a um castelo de gelo, com crianças, adultos e adolescentes patinando e observando a enorme pista em formato retangular. De fato, era a minha primeira vez em um lugar como este, já tinha ouvido falar algumas vezes que costumavam liberar em determinados períodos, contudo, eu nunca tive total interesse em vir e os meus pais também não tinham tanto tempo para nos trazer. E apesar de tudo a cerca do ambiente ser encantador, a fila para participar da pista de patinação não era tanto assim, tornando-se o motivo de eu e Jeongguk estarmos pondo os pés nela só agora, ao menos eu estou tentando.


— Não irá cair, vem. — Sorriu, estendendo os palmos grandes. — Me dê as mãos.


Pressionei o lábio inferior, respirando fundo enquanto colocava os meus pés um tanto pesados em decorrência dos patins para dentro da pista, estendi as mãos rapidamente, agarrando com força as do rapaz.


— Não foi tão difícil. — Riu fraco.


— Ah! Não imaginei que fosse tão escorregadio. — Minhas pernas pareciam gelatina, era como se eu não fosse capaz de manter os meus pés retos, muito menos executar um passo coordenado, temendo por uma queda. — Não me solte.


— Não vou soltar. — Após cessar a fala, o mais velho soltou a minha mão esquerda, posicionando-se ao meu lado. — Vamos?


— Para onde? 


— Céus, patinar! — Ele gargalhou, ao passo que minhas bochechas esquentaram. 


— E… não podemos apenas ficar quietinhos aqui? De qualquer modo, já estamos na pista. 


— Não, não foi para isso que viemos. — Fez menção de puxar-me consigo, no entanto, meu corpo ainda se mantinha paralisado. — Sunhee…


— Jeongguk… eu não sei patinar.


— Não é difícil, veja, é só fazer como todos, um pé após o outro, deslizando. É quase a mesma coisa que andar de patins. 


Perdurei, olhando ao redor e percebendo que estava soando inferior até para as crianças. Caramba, Sunhee, vamos lá! Um pé após o outro se eles conseguem, então eu também consigo.


— T-Tá…


Jeongguk sorriu pequeno, puxando-me devagar. Encarei os meus próprios pés e tentei executar os mesmos movimentos, mas não era tão fácil quanto parecia, e com certeza eu devo estar semelhante a um bebê com fraldas tentando andar pela primeira vez, desajeitada e com total falta de coordenação. 


— Acha que consegue sozinha? 


— Acho que sim… 


Senti a mão alheia começar a me soltar, mas não afastou-se. Mantive o mesmo ritmo, devagar, deslizando um pé após o outro, abrindo um pouco os braços para manter o equilíbrio.


— Está indo bem. — Falou. 


— Você não me parece nem um pouco instável. — Franzi o cenho, observando em como Jeongguk se movia ao lado oposto da barra, como se já estivesse habituado. — Por acaso sabe patinar?


— Hum, mais ou menos… — Um sorriso travesso desenhou os lábios finos do moreno, quando, em um movimento inesperado, o vi passar a minha frente, virando-se para mim em um giro não muito lento. 


— C-Como fez isso? — Arregalei os olhos, preocupada. — Aish, pensei que fosse a sua primeira vez.


— E é! — Riu. — Bom, ao menos a primeira vez após cinco anos, a última vez em que estive em uma pista de patinação, ainda estava no ensino médio. 


— Não brinque…


— Não estou brincando. — Suspirou. — Sabe, naquela época, eu não conhecia nada de Seul, e quando soube desse lugar, quis muito conhecer, então, eu e os meus amigos, nós…


— Não me diga que gazeavam as aulas para patinar?


— Gazear é uma palavra forte. — Riu fraco. — Turismo em horário nobre, eu diria.


— Ora, você não é tão santinho quanto achei que fosse, Jeon Jeongguk.


— É de tal modo que pensa de mim, que sou algum tipo de… santo? — Ergueu o cenho. 


Hesitei, esboçando um mínimo sorriso ladino em meus lábios, apoiando uma de minhas mãos na barra, passando um tanto desajeitada a frente do moreno. 


— Você nunca foi um. — Dei de ombros. — Veja, acho que peguei o jeito. — Afastei-me das proteções, pegando impulso para chegar a metade do trajeto da pista. 


— Percebi. — Umedeceu os lábios, encarando-me a uma considerável distância.


Suspirei, retribuindo o olhar, ao passo em que reprimia as sensações adversas que tentavam se manifestar em meu interior, embora não conseguisse compreender o ato alheio, Jeongguk parecia paralisado, sério repentinamente, e honestamente, tal reação do rapaz me causa desconforto.


— Venha! — Exclamei, forçando um sorriso largo. — Tente me pegar! — Deslizei alguns passos para trás, abrindo os braços rapidamente para manter o equilíbrio, logo vendo-o menear a cabeça, enfim, sorrindo. — Jeongguk!


— Estou indo. — Disse, pegando impulso em seus pés, e não fui capaz de conter uma gargalhada, desesperada para “fugir” do mais velho, que aparentemente possuía um pouco mais de experiência na superfície gélida do que eu. Desviei desajeitada de algumas pessoas que também estavam presentes no local, olhando de soslaio por cima do ombro, o moreno se aproximando cada vez mais.


Entoei um grito baixinho, até o momento em que meus olhos começaram a se arregalar, a minha total falta de prática e confiança precipitada, aos poucos davam início às consequências não muito agradáveis. 


Engoli a seco, virando-me, agora desesperada para que o Jeon realmente me alcançasse.


— Me ajude… — Choraminguei, ao constatar, literalmente, que comecei a abrir um espacate, pois havia chegado a uma área da pista consideravelmente mais movimentada, fazendo com que o gelo abaixo de meus pés se tornasse mais tênue, e a minha até então instabilidade começa a vacilar, ainda mais quando noto a ausência de algum apoio, afinal, encontrava-me distante das barras de proteção. 


— Ah, caramba… — Ouço a risada alta do rapaz, não demorando a sentir suas mãos tocando os meus antebraços em um leve aperto. — Feche as pernas.


— Ya… não é engraçado! — Resmunguei, formando um bico nos lábios, retomando a compostura com a sua ajuda. 


— Peguei você. 


— Deixei que me pegasse. — Rebati. 


— Ah, é mesmo? — Inclinou a cabeça para o lado. Então, ergui o meu cenho, prendendo a respiração no instante em que o aperto alheio tornou-se mais consistente, puxando-me para mais perto, tão perto que tive de erguer a cabeça para não perder o contato visual. — Eu deixei que se afastasse.


Sorri pequeno, disfarçando a minha timidez.


— Você…


— O que faremos, após sairmos daqui? — Cortou-me, questionando.


— Como assim? — Franzi o cenho. — Nós… apenas viemos patinar, não planejei mais nada além disso.


— É sério? — Riu nasalado. — Então, pretendia ir para casa…


— Certamente, mas, não significa que eu não esteja me divertindo. — Umedeci os lábios. — Eu só… não consigo pensar em nada para fazer depois daqui. — Dei de ombros, contudo, para ser franca, estava apenas omitindo que não sabia como convidá-lo para me acompanhar em outro lugar, nós não temos o costume de sair juntos, portanto, não conheço exatamente o tipo de “diversão” que o Jeon possa vir a gostar. 


— Ah…


— Mas, caso tenha algo em mente, adoraria acompanhá-lo. — Disse, receosa. — Não é como se quisesse voltar tão cedo para casa. Somente se você quiser, é claro.


Nos olhávamos em silêncio, até que os lábios alheios se entreabriu.


— Tem um lugar… que eu gostaria de ir com você. — Murmurou.


Cogitei, curiosa, assentindo silenciosamente. Logo senti os palmos masculinos deslizarem por meus antebraços encaixando-os em minhas mãos, guiando-me consigo até a saída da pista.


                                    [...]


— Nos trouxe a praia? — Desci do carro, fechando a porta em seguida, virando-me para mirar o mais velho. 


— Não exatamente, mas podemos ir até lá depois, se quiser. 


— Então… para onde vamos? — Franzi o cenho, vendo Jeongguk apontar em um gesto de cabeça o local que pretendia levar-me. Uma leve sensação de embrulho no estômago formou-se em meu interior, ao que minha visão focava em um enorme letreiro iluminado por uma coloração azul vibrante, evidenciando o nome "Blue Paradise".


Só podia ser brincadeira.


— Isso é… — Ri, sem graça. — Desde quando você frequenta esses lugares?


As bochechas do Jeon tomaram um tom rubro, ao passo que riu nasalado, soando constrangido.


— Eu nunca vim a esse lugar, mas o Taehyung sim. Vi as fotos que ele postou no final de semana passado, mas não queria vir sozinho, achei que… você poderia gostar.


— É, eu costumava gostar bastante… — Suspirei. — Mas você sabe como acabei na última vez em que frequentei um lugar como este…


— Há uma grande diferença entre a última vez, e o agora.


— E qual seria? — Rebati, afastando meu cabelo para o outro ombro.


— Sou eu quem está aqui com você. — Piscou, sorrindo largo, como uma criança travessa. — Vamos, é só para descontrair um pouco, confie em mim.


Perdurei, já havia algum tempo que eu não frequentava uma casa noturna, muito menos poderia imaginar que Jeon Jeongguk um dia me traria a uma, embora dessa vez, eu quero pensar que realmente nada daquilo irá se repetir. Posso voltar a me divertir como antes, e gostaria de vê-lo fazer o mesmo, não importa como.


— Tudo bem…


Ao ouvir as minhas palavras, o moreno demonstrou ainda mais ansiedade, o que me fez pensar que não era algum tipo de costume ou experiência que ele deva ter diante do cotidiano, e de fato, desde que o conheci e acompanhei do seu relacionamento com a minha irmã, não consigo pensar em alguma situação em que Jeongguk agiu de modo a fugir da zona "politicamente correta". Sora detestava esses tipos de lugares, eram sempre jantares, cinema com filmes românticos, passeio em família e algumas vezes, com um pouco de insistência ou interesse, cedia ir ao parque de diversões, sempre tentando manter uma imagem de casal perfeito com o Jeon, este que provavelmente deve estar somente agora tentando aproveitar ao menos um pouco da "loucura" que o lado promíscuo da cidade pode oferecer, ele merece, não é? E quem sou eu para impedi-lo.


O cenário praiano do ambiente não era nada convencional, era como estar em um luau dentro de um local fechado, mas não era abafado, pelo contrário, estava mais fresco do que poderia esperar de um lugar como este. Jeongguk caminhava à minha frente, passando pelos corredores com pouca iluminação e cercado de pessoas desconhecidas, desviando delas, enquanto eu o seguia, observando ao meu redor. Até que chegamos a área aberta da boate, onde encontra-se a pista de dança e diversos mini bares espalhados. As paredes eram revestidas de vidro, revelando a visão ampla do oceano, assim como o céu noturno estrelado. 


Uma considerável quantidade de pessoas estava dançando ali, enquanto outras apenas bebiam sentadas em mesas, de pé, em espaços reservados do lugar, e até mesmo se pegavam fervorosamente, o que eu estranharia se não estivesse acontecendo. Olhei para Jeongguk, contendo a vontade de perguntar se ele realmente queria estar aqui, e como se fosse capaz de ler os meus pensamentos, encarou-me de volta, sorrindo.


— O que quer fazer? — Disse próximo ao meu ouvido, pois a música soava alta demais.


— O que você quer fazer? — Devolvi a pergunta.


— Hum… — Pensou por um momento. — Você quer dançar?


— Sim, claro que sim, eu… apenas preciso ir ao banheiro antes, tudo bem? — Ele assentiu. — Me espere aqui, por favor. — Pedi, havia muitas pessoas e não seria nada agradável me perder dele, seria praticamente impossível realizar uma ligação com este som tão alto.


Não demorei muito a encontrar os banheiros, adentrando o cômodo de pouca iluminação, a coloração roxa das luminárias transpassavam um clima diferente, e confesso que tive um pouco de dificuldade para me localizar coordenadamente próximo a pia, ligando o registro para lavar as mãos e encarar o meu próprio reflexo no espelho, minha silhueta estava um tanto escura, mas era capaz de reconhecer a minha face impassível e nervosa. O que há de errado, por que não consigo me divertir como gostaria? Isso não pode ter a ver com ele, ou será que…


— Não… — Murmurei comigo mesma, movendo a cabeça em negação, respirando fundo, determinada em voltar e aproveitar um pouco. 


Deixei o banheiro, mais uma vez enfrentado o corredor lotado e os corpos eufóricos que estavam presentes ali, casais escorados aos amassos, o cheiro forte dos perfumes alheios e álcool, minha sanidade poderia esvair apenas em inalar aqueles aromas tão atrativos, entretanto, estava mais focada em encontrar o rapaz que acompanhava, começando a sentir os batimentos cardíacos intensificarem ao retornar ao lugar onde pedi que esperasse por mim, contudo, não havia nada além de uma garota, e nenhum sinal do Jeon. 


Droga, para onde ele foi? Eu pedi que esperasse por mim, como irei encontrá-lo entre tal multidão? 


Passei as mãos por meus cabelos, girando os calcanhares a procura do homem, mas, infelizmente, sem sucesso de encontrá-lo, tentei ligar, mas nada, mal conseguia ouvir a chamada sendo realizada. Merda, mil vezes merda Jeongguk, para onde você foi?


Aproximei-me da pista de dança, abraçada ao meu próprio corpo, vez ou outra recebendo esbarrões, ainda procurando pelo moreno, quando, a iluminação que até então consistia em tons frios, modificou-se para quentes, em um mesclar de vermelho e laranja vibrantes. Até mesmo a música não era mais a mesma, Call out my name, soava alta e tudo que eu conseguia sentir agora era a tensão sexual que o ambiente começou a emanar, principalmente entre os presentes naquele espaço de dança.


Passeio os meus olhos pelas faces desconhecidas, na tentativa de reconhecer o que eu realmente queria, na esperança de que estivesse por ali e pudesse expulsar essa sensação de nervosismo do meu peito, porém, este foi um dos meus maiores equívocos, pois assim que finalmente o encontro, nervosismo era de longe o que eu menos sentia.


Jeon Jeongguk dançava ao som da música lenta, os olhos fechados, a boca entreaberta, as mãos grandes passeando pelo corpo atraente, enquanto umedecia os lábios lentamente com a língua. Já não conseguia mais enxergar ninguém ao seu redor, todo o resto do mundo parecia ter sumido, porque naquele momento, para mim, aquele homem é o único que existe. Jeongguk dançava tão sexy, que sentia como se uma força sobre-humana me prendesse ali, impossibilitada de desviar os olhos dele, hipnotizada. Queria parar, ir até lá e trazê-lo comigo para o lado de fora, já completamente adversa a vontade de continuar aqui, aquele não era ele, definitivamente não era a mesma pessoa, e pior ainda, foi eu ter me atraído por isso.


Seus olhos se abriram, encontrando-se aos meus. E agora, Jeongguk não é mais o único ali, porque acabo de começar a existir junto com ele. Não sabia julgar exatamente se de fato estava olhando para mim, passando as mãos pelos cabelos úmidos de suor, evidenciando a testa lisa, assim como a tez pálida da clavícula marcada em decorrência da camisa preta que não estava completamente abotoada. 


Meu corpo inteiro pareceu converter em um choque, franzindo o meu cenho automaticamente, quando vi um par de mãos que não eram as suas, acariciar as suas laterais, tão lascivamente que ele se virou ao enfim perceber o toque. Era uma mulher, sem o mínimo de hesitação em se aproveitar da inconveniência e atenção do moreno, enlaçando os braços em seu pescoço.


Meu maxilar imediatamente travou, fechei as mãos em punho involuntariamente, finalmente conseguindo mover as pernas até então inertes, enfiando-me naquele aglomerado. 


Toquei o ombro do rapaz, um pouco mais rude do que gostaria, atraindo a sua atenção para mim, e talvez de mais alguém.


— Sunhee! — Olhou-me com semblante surpreso.


— Vamos embora, agora! Eu não me sinto bem para continuar aqui.


— Você…


— Com licença, fofa, mas você está atrapalhando. — A ruiva que ainda mantinha-se próxima retrucou, encarando-me com os olhos estreitos.


— O que disse? — Exclamei, irada.


— Desculpe. — Jeongguk estendeu o braço, empurrando-me devagar para trás de si. — Mas não está acontecendo nada aqui para que ela atrapalhe. — Disse a ela.


— Mas… 


— Com licença. — Retirou as mãos alheias de si. — Vamos embora. 


Revirei os olhos, indo na frente até passar pelas portas de saída dos fundos, pressionando meu lábio inferior com os dentes, mais concentrada em tentar entender o que especificamente eu estava sentindo. 


Adentrei o carro, respirando fundo ao passo que colocava o cinto de segurança, logo percebendo que o rapaz fazia o mesmo assim que sentou-se ao meu lado no banco do motorista.


— Você bebeu? — Perguntei, sem sequer olhá-lo, não era como se fosse tempo suficiente para ele estar bêbado ou algo do tipo, mas nunca se sabe.


— Não. — Respondeu, dando partida no veículo. Percorremos o trajeto inteiro de volta em silêncio, um silêncio desconfortável, tão tenso que poderia chegar a ser palpável, não conseguia compreender mais nada, nada mesmo. — Você… está chateada? — A voz suave e razoavelmente baixa soa, segundos após estacionar o carro a frente da minha atual residência, enquanto eu retirava o cinto do corpo e estava prestes a deixar aquele carro.


— Eu pedi para você me esperar! — Virei-me, encarando-o pela primeira vez após meia hora. — Tem noção do quanto fiquei preocupada? Aquele não é o tipo de lugar em que você pode simplesmente sumir, Jeongguk.


— Me desculpe, eu só queria…


— O que? Agir como alguém que você não é? — Ergui o cenho. — Acredite, aquele lugar não é pra pessoas como você.


— Eu só queria que você se divertisse, Sunhee.


— Esse não é mais o meu tipo de diversão. — Bufei, nutrindo uma indiferença questionável. — Sinceramente, estava me divertindo bem mais na pista de patinação. Pelo visto nem mesmo um passeio decente conseguimos realizar juntos, com licença. — Bati a porta, contornando o carro, rumando a passos rápidos até a entrada da casa. 


Afastei os meus cabelos para trás, simplesmente jogando a minha bolsa sobre o sofá, deslizando o meu sobretudo pelos braços, livrando-me da peça que começou a tornar-se sufocante. Tudo me parecia sufocante, inclusive os meus pensamentos, eu só queria que tivéssemos uma boa relação, somente isso, não desejava me afastar completamente, parecia estar dando certo. Ou não, pelo visto.


Suspirei com pesar, prestes a iniciar os passos até o quarto, quando ouvi batidas na porta. 


Franzi o cenho, era quase uma da manhã. Ainda assim, não revoguei em ao menos tentar ver quem era. 


— Céus, o que ainda está fazendo aqui? — Murmurei, indo em direção a porta, abrindo-a. — O que houve… — Meu tom de voz murchou, um embrulho formou-se em meu estômago ao perceber que sentia-me intimidada pelo semblante sério do mais velho. — Jeon… — Mal tive como concluir as palavras, pois quando dei-me conta, em um ato rápido, a silhueta masculina já havia avançado.


Meus olhos se arregalaram de tal modo que poderiam saltar das órbitas, tudo que pude fazer foi cambalear para trás e logo tensionar o corpo no mesmo lugar, estática, com a sensação forte de dejavu me consumindo. As mãos alheias tocavam ambos os lados da minha face, como em um gesto de posse, a ponta dos nossos narizes resvalaram quando seu rosto virou para o lado oposto, e eu não sabia distinguir qual dessas ações eram a pior. Se era a sua aproximação, seu toque repentino, nossos rostos milimetricamente próximos, ou… a sua boca, que agora instigava a minha retribuir o seu beijo.


Sua testa encostou-se na minha, cessando o ósculo, que eu praticamente não correspondi, pois, definitivamente não estava esperando por isso, não mesmo, não depois de tudo que aconteceu. Era como se eu fosse uma boneca, sem vida, expressão, nada, apenas a minha respiração evidenciava que ainda estou consciente. 


Por que ele fez isso? O que aconteceu com Jeongguk? 


— Me desculpa, me desculpa por tudo isso… — Murmurou, estava tão perto que eu não fiz esforço em ouvi-lo. — Eu não queria que as coisas acabassem dessa forma. Queria que você voltasse a se divertir como fazia antes, achei que… se eu estivesse contigo, se sentisse mais segura, eu não deixaria que exagerasse ou algo do tipo, deveria ter esperado por você, me desculpa…


No fundo, eu sabia que a intenção dele não era ruim, confesso que em certos momentos também pensava em voltar a frequentar algumas festas e fazer o que mais gostava, dançar, cantar, beber um pouco e estar com as minhas amigas, contudo, já não é mais a mesma coisa. E foi só então que eu consegui raciocinar que o verdadeiro motivo de eu ter ficado chateada, não era exatamente esse. 


Porra…


— Por que me beijou? — Meus pensamentos acabaram soando em voz alta, ignorando a fala anterior do moreno.


Jeongguk manteve a quietude por segundos, os olhos grandes fitavam os meus fixamente.


— E-Eu… não sei… eu só… — Desconcertado, suas bochechas ficaram tão vermelhas que se assemelhavam a duas maçãs. — Eu quis… — Ele não estava fazendo o mínimo sentido, assustava-me, não por ter me beijado, mas, por me fazer perceber o quanto eu ainda queria isso tanto quanto qualquer outra coisa na minha vida.


Não permiti que ele retomasse a postura e se afastasse como já pretendia fazer. E agora foi a minha vez de deixá-lo sem reação alguma, erguendo-me na ponta dos pés, segurando o seu rosto e tomando os seus lábios novamente, sendo correspondida instantes após em que ele entendeu o que estava de fato acontecendo ali. Acariciei a tez macia de sua bochecha, logo descendo as minhas mãos de encontro a sua cintura, o queria mais perto, pressionando com força seu corpo por baixo da camisa. Ouvi Jeongguk gemer baixinho entre o beijo, e aproveitei para chupar devagar o seu lábio inferior, abrindo os meus olhos. 


Pensei que poderia estar passando por algum tipo de estado alucinógeno, instantaneamente apertando ainda mais a pele alheia, em um instinto e buscando pela certeza de que não estava louca. 


Em resposta ao meu gesto que possa, sem querer, acabado tendo sido doloroso, seus olhos se abriram, franzindo o cenho. Meus batimentos cardíacos aceleraram gradativamente, evidenciando a mim mesma que absolutamente tudo que pensava não sentir mais com tanta intensidade, ainda estava presente, e somente ele era capaz de me despertar isso, novamente. 


Não sou tão forte quanto pensei que fosse… 


O beijei, ignorando o leve estado de confusão, não queria pensar nisso, não queria pensar em nada, eu apenas, queria ele.


Impus meus pés a se moverem, sentindo as mãos do rapaz agarrarem os meus braços, um tanto atônito, mas não se afastou. O empurrava devagar, guiando-o às cegas até o quarto. Abri a porta, virando nossos corpos devagar e o pondo para dentro primeiro, cessei o ósculo desajeitado em um arfar, apenas para empurrá-lo novamente, sem agressividade, até a cama, onde o mesmo sentou-se, não demorando muito a me aproximar novamente e subir em seu colo.


Não fui capaz de conter um sorriso, não sabia exatamente o motivo. Jeongguk me abraçou, e levei uma de minhas mãos até o seu queixo, erguendo um pouco mais a sua cabeça, queria que olhasse para mim. Contornei seus lábios delicadamente com o polegar, agora vermelhinhos e inchados, tudo nele é belo, como se não fosse possível existir alguém assim, é tão único que não sei se poderia julgar como sorte, ou um castigo.


Retribuía a troca de olhares, parecia extasiado. E agora era eu quem sentia os apertos com força moderada em meu corpo, presumindo que não era a única a desacreditar do que está acontecendo. Inclinei a cabeça, desferindo beijos desde a lateral de seu pescoço, até alcançar a orelha.


— Deita… — Sussurrei, logo sendo acatada, Jeongguk deitou-se comigo por cima, suspirando pesado quando o beijei a bochecha, o canto de sua boca, e por fim, a própria. O beijava como se minha sobrevivência dependesse disso, todos os meus sentimentos dependiam disso, lentamente, ele entreabriu os lábios, permitindo que nossas línguas se tocassem, assim como tocava o meu corpo, em aparente necessidade, e talvez, só talvez… saudade. E particularmente, era exatamente o que eu sentia. 


Lhe dei um selinho antes de afastar-me pela ausência de ar que começou a se fazer presente, um pouco ofegante, inclinei-me novamente, dando atenção a tez macia do seu pescoço, sentindo seu cheiro e beijando-o ali, não demorando a receber respostas a sensação que esperava estar causando em si. Jeongguk era quieto, mas expressivo demais, selei o seu pomo de adão, ao passo que comecei a desabotoar o restante dos fechos de sua camisa escura, erguendo meu cenho ao notar de soslaio suas pernas se flexionando, retirando os próprios calçados e em seguida pressionou fracamente meu quadril com as coxas, praticamente prendendo-me ali com os seus membros. Afastei o tecido, expondo o peitoral alvo, brilhando mesmo com a pouca quantidade de suor, subindo e descendo em decorrência da respiração não muito forte. Ele poderia ter diversos defeitos, e ainda assim, não consigo enxergar nenhum deles, não agora. 


— Não me olhe assim… — Sua voz soou fraca, quase em súplica.


— Eu gostaria de estar apenas olhando… — Murmurei em resposta. 


— Como assim? 


— Você… é muito bonito. — Confessei. — Não há como somente olhar, é admirável…


Esboçou um sorriso tímido, ainda mais vermelho que antes. Ergueu-se, me beijando, e dessa vez parecia haver significado, muitos, aliás. Tateei sua pele, tão quente, tão macia, o acariciei devagar, deslizando minhas mãos por suas laterais, até alcançar as bordas do seu jeans, hesitante em continuar. 


Mas, felizmente, ele não demonstrou desconforto, cessando o beijo, os olhos ainda fechados e nossos narizes se tocavam em um carinho. Apenas me impus a prosseguir, quando o mais velho acenou positivamente, dando-me outro selinho, e mais um, enquanto eu desfivelava o seu cinto, abrindo o fecho de seu jeans escuro em seguida. 


Um gemido contido ameaçou escapar dos lábios alheios quando a minha mão vagarosamente adentrou em sua peça íntima, tocando-o. Jeongguk relaxou as pernas, facilitando o contato. Movia meu palmo devagar, de cima para baixo em seu membro rígido, temendo perder o meu autocontrole quando ele se permitiu gemer próximo ao meu ouvido, baixo, como se não quisesse que ninguém mais o escutasse além de mim, e sem perceber eu suspirei audivelmente, demonstrando satisfação. 


Entretanto, eu já deveria estar mais do que ciente de que nem sempre tudo está ao meu favor, principalmente o prazer. Meu coração batia tão forte, minhas emoções bagunçaram e ao observar a face do moreno mais uma vez… Foi semelhante a receber um soco, um soco da minha própria consciência. 


Franzi o meu cenho. Não, por que isso está acontecendo, afinal? Eu não deveria, não deveria, não deveríamos, eu prometi a mim mesma, não posso fazer isso…


Meu corpo tensionou, parando o que estava fazendo. 


— Sunhee… — Claro, é claro que ele perceberia. — Tudo bem?


Não sabia o que dizer, todos os pensamentos que eu vinha tentando evitar, atingiram-me sem dó, angustiando-me, e todos aqueles sentimentos ruins também voltaram, juntamente com as lembranças. 


— Não posso… — Minha voz soou quase como um sussurro, respirando profundamente. — Não podemos.


Podia sentir o peso do seu olhar confuso, assim como o toque quente de sua mão, encaixando na lateral de meu rosto.


— Olhe pra mim. — Hesitante, o fiz. — Por que não podemos? 


Engoli a seco, tentando lidar com o embrulho em meu peito. 


— Não é óbvio? Eu... não quero passar pela mesma situação novamente… — Minha voz falhou. — Jeongguk, você era o…


— Não. — Interrompeu-me. — Não, Sunhee. Se for dizer o que eu estou pensando… por favor, esqueça, nada daquilo importa mais. Eu não tenho mais nada a ver com Sora, com ninguém, está tudo bem.


— Não, não está… — Desviei os olhos, era como se tivesse voltado para aquela noite, o olhar desprezível de Sora permanecia vivo na minha memória, assim como de Park Jimin no dia em que descobriu da mais velha. — A gente…


— Sunhee, você precisa superar isso, eu compreendo que não seja fácil, para mim também não é, mas… não quero que me enxergue como se ainda fizesse parte de algo do passado, eu não sou propriedade de ninguém, possuo autonomia o suficiente para escolher com quem eu quero estar, e estou aqui com você. Meu relacionamento com a sua irmã não daria certo de qualquer forma, e não seria sua culpa, nunca foi.


— Mas eu…


— Pare de pensar nisso, por favor, não fará bem a nenhum de nós dois. — Disse, afastando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Já passou…


Umedeci os meus lábios, não queria me machucar de novo, meus braços, os quais me mantinham apoiada sobre o corpo de Jeongguk tremeram, e todo o meu peso cedeu. 


— Desculpa… — Ele me abraçou, acariciando os meus cabelos, ao passo que escondia o meu semblante frustrado na curvatura de seu pescoço. 


Arfei, quando sem aviso prévio ele nos mudou de posição, ficando acima de mim. Virei o rosto, sentia-me envergonhada demais, nós praticamente estávamos nos evitando, apenas interagíamos casualmente, e ah, de um instante para o outro, estamos na cama mais uma vez.


Beijou-me a bochecha, fazendo-me retomar a atenção para si ao tocar em meu queixo com o indicador. Sorriu, um sorriso pequeno, fazendo com que meu coração se apertasse.


— Não precisamos fazer isso, se você não quiser. 


— E se fizéssemos, o que aconteceria depois? 


— Depois? 


— Será que ainda não me entendeu, Jeongguk? — Inspirei ar para os pulmões. — Você estava certo, nós dois… não é pra ser… tem noção de quantos julgamentos receberíamos? Eu… seria julgada como a mulher que seduziu o noivo da irmã, e você também sairia como errado, nenhum de nós dois conseguiria ser feliz. 


— Porque eu realmente errei, Sunhee. Apesar de que não me arrependo do que fiz, e isso já não importa mais. 


— É claro que importa, tudo ainda importa. A minha vida inteira virou de cabeça para baixo desde que aquilo entre nós dois aconteceu, a minha relação com Sora nunca mais poderá ser recuperada, ela partiu para o Japão sem se despedir da família, me confessou coisas dolorosas e… Park Jimin… — Funguei. — Eu o magoei, o fiz pensar que estava sendo usado, tudo por causa dos meus sentimentos que ainda nutro por você… mas eu tinha que ser compreensiva, certo? Tinha de aceitar e respeitar a sua escolha, o seu tempo, a sua distância, e quem sabe, poderíamos ser amigos, como éramos antes, admita, nenhum de vocês me enxerga da mesma maneira desde o casamento de Seokjin, ainda que ele tenha assumido toda a culpa, eu sempre vou ser a vadia que estragou o casamento da melhor amiga. Então, que motivos você tem pra me convencer, de que nós dois vamos conseguir ser um casal normal? O que o seu irmão vai pensar de você, e de mim? O que todos os nossos amigos vão pensar? Nossas famílias? Eu juro que quis seguir em frente, mas, de nada adiantou, pelo contrário, causei ainda mais problemas. E agora… por que você está fazendo isso comigo, huh? Por que está aqui? — Agarrei os seus antebraços, os apertando com força.


— Porque você precisa de mim, mas não quer admitir, assim como eu também não quis. — Exclamou. — Uma amizade entre nós dois não é cabível, porque não é assim que você me enxerga, e nem eu.


— O que quer dizer com isso? — Rebati, nervosa.


— Quero dizer que eu não me importo com a merda dos julgamento de ninguém… estou cansado de tudo isso, Sunhee… eu não vou simplesmente dizer que engoli toda aquela situação tranquilamente, porque estaria mentindo. Vê-la tão magoada e não poder estar presente para te consolar me fez sentir inútil, tão inútil que até cheguei a odiar o meu melhor amigo por isso, porque ele podia estar com você e eu não! — Enunciou, e começou a torna-se perceptível o brilho em suas orbes. — Todo mundo pôde estar próximo de você durante todo esse tempo e eu não! Inclusive… o meu irmão. — Franzi o cenho.


— O que o Junghyun tem a ver com isso?


— Tudo, Sunhee! Eu… eu vi a foto de vocês dois juntos em um restaurante, almoçando juntos, sozinhos… — Fechou os olhos. — Então… por que até mesmo ele pode estar com você, sair com você, e eu não? 


— Jeongguk… 


— Eu e Jimin não brigamos por sua causa, ou por eu ter traído Sora com você. — Desviou os olhos, como se desabafar também não fosse fácil para si, respirando fundo. — Nós brigamos porque… eu confessei a ele que te amava.


Arregalei os olhos.


— Você… o que?


— Sunhee, Park Jimin tinha sentimentos por você, por mais que fingisse que não era nada sério, ele gostava, e… uma parte minha queria que vocês ficassem juntos, queria que fossem felizes… mas, se eu tivesse dito a você antes o que sentia, ou a ele, teria interferido no que tinham, exatamente como quando ele soube que dormimos juntos, depois de eu ter mentido a ele que nunca tivemos nada e nem teríamos. 


— Eu me confessei para você, Jeongguk, deixei isso claro duas vezes, eu fui até a sua casa na chuva, se também sentia o mesmo por mim, por que…


— Só iria piorar as coisas! Não ficaríamos juntos do mesmo jeito, o ocorrido ainda era recente e o que teríamos feito a respeito estando tão abalados? Muita coisa aconteceu com nós dois, não daria certo…


— Então por que daria agora?


— Porque eu estou disposto a tentar.






Notas Finais


Oi vidas, espero que estejam bem!

Desculpem a demora. 😔🤝🏻

Enfim, espero que a quantidade de conteúdo do capítulo tenha compensado. E caramba, quanto conteúdo... 🤪 Eu sinceramente admito que a minha demora foi a cruel dúvida em deixar desse jeito que está ou mudar, foi realmente muito difícil escrever tudo isso, porém, depois de tanta "enrolação", alguma coisa tinha que acontecer "finalmente", certo? Certo!

Aliás, nada me convence que o JK não bebeu ao menos uma água meio mal filtrada kkkkkkkkkkk o surto do homem 🤯. Enfim, eles estão sujeitos a vacilarem mesmo, espero que entendam e o capítulo não tenha ficado tão cansativo.

Até o próximo. ♥️


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