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História Destinos entrelaçados - EXTRA 2 - Halloween não traz boas lembranças.


Escrita por: iambyuntiful

Notas do Autor


Olá, estrelinhas! Como vão?

Por favor, não queiram me matar, eu sei que eu prometi esses extras faz muito tempo, mas aqui está, não é? Antes tarde do que nunca n. A ideia era que eu conseguisse postar no Halloween (porque é, também, um especial de halloween!), mas eu não consegui terminar de escrever a tempo e eu terminei de escrever agora pouco, eu revisei (ou tentei, ao menos) e vim trazer pra vocês porque a culpa de não atualizar D.E com os extras é maior que eu </3

Além de um especial de halloween atrasado, é também um muito obrigada aos mais de 500 favoritos que D.E recebeu! Gente, vocês não tem ideia do quão agradecida estou por cada um dos favoritos, por quem comentou a fanfic ou por quem apenas a leu e gostou do que escrevi, muito obrigada por isso. Eu espero que esse extra sacie um pouco da curiosidade de vocês e que vocês gostem. Nos vemos lá embaixo, como de costume! <3

[EDIT: Editando só pra explicar as pessoinhas de BTS envolvidas no capítulo: O Baekhyun nasceu séculos depois, né? Alguém precisava ser a primeira encarnação da alma gêmea do Chan!]

Capítulo 7 - EXTRA 2 - Halloween não traz boas lembranças.


Todos possuem uma história que não querem contar a ninguém.

 

Talvez você tenha algum segredo que não deseje que ninguém descubra, talvez por ser muito vergonhoso ou por ser algum trauma antigo que deseja deixar para trás. Talvez você tenha alguma história antiga de sua infância que não gosta de lembrar ou talvez você apenas tenha tido desentendimentos demais para continuar se recordando e prefere não contar a ninguém sobre eles como se assim seus fantasmas pudessem parar de persegui-lo.

 

Chanyeol também possui sua história.

 

Tudo começou quando Chanyeol era na verdade um jovem garoto, que nunca sonhou que o sobrenatural estava tão próximo de si; o garoto dividia seu tempo entre ajudar seus pais na venda que mantinham e a descobrir o vilarejo em que moravam. Eram tempos difíceis em que buscavam sobreviver com o pouco que conseguiam manter, além dos impostos exorbitantes pagos à Coroa, mas nada disso era capaz de tirar de Chanyeol o grande sorriso que enfeitava seus lábios constantemente.

 

Chanyeol era como uma grande máquina de sorrisos, era o que todos que conviviam consigo diziam. Não havia uma forma de se manter de mau humor enquanto o filho dos Park estivesse ao redor, Chanyeol conseguia fazer com que qualquer assunto não parecesse tão pesado assim; os problemas já não pareciam tão sem soluções quando o garoto se dispunha a ajudar e bolava inúmeros planos para buscar um fim; mesmo os compradores da venda de sua família adoravam vê-lo por lá e dedicavam uma boa parte de seu tempo conversando com o jovem garoto tão cheio de vida.

 

Era impossível desgostar de Park Chanyeol, embora o mesmo não concordasse que possuía tantos atributos. Chanyeol costumava dizer que apenas estava fazendo pelos outros o que acreditava que todos deveriam fazer uns pelos outros, levando sorrisos e trazendo satisfação; gostava de pensar que, se cada pessoa se dispusesse a ajudar seu próximo, conseguiriam construir uma vida mais feliz e satisfatória, mesmo sendo uma época ruim e mesmo com os abusos advindos da Coroa.

 

Apesar de Chanyeol não pensar em si mesmo como um garoto tão perfeito quanto pintavam, havia outra pessoa que achava. Havia alguém que o observava por detrás das portas, que o seguia em silêncio para não ser encontrado e que se sentia feliz apenas por vê-lo sorrindo para outras pessoas, sabendo que talvez aquele sorriso minasse se chegasse a vê-lo. Kim Taehyung não tinha culpa de ter nascido parte da nobreza e tampouco concordava com os preços exorbitantes dos impostos cobrados do restante da população, mas não havia nada que pudesse fazer. Era apenas um jovem garoto de dezesseis anos que gostava de escapar para tentar vislumbrar como viviam as pessoas fora de seu convívio.

 

Foi em uma de suas escapulidas que encontrou Chanyeol, à beira de uma nascente do rio que cortava o vilarejo; o garoto Park parecia tão bonito enquanto mantinha seus olhos fechados e balançava os pés na água que Taehyung se perguntou onde aquele garoto esteve durante todo o tempo. Antes que percebesse, o jovem nobre teve sua atenção capturada por Chanyeol e continuou assistindo-o por detrás das árvores que o mantinham escondido. Chanyeol parecia tão abstraído do mundo ao seu redor enquanto perdia-se em um próprio que sequer percebeu sua nova companhia, o que Taehyung agradecia. Não saberia o que dizer se fosse apanhado pelo garoto que observava, sentia-se envergonhado por estar tão encantado por uma cena que deveria ser tão comum quanto a de alguém sentado à beira de um rio descansando.

 

Desde o dia em que o encontrou pela primeira vez à beira do Rio, Taehyung passou a procurar por Chanyeol em todo reino e descobriu um pouco mais de sua vida. Descobriu que passava boa parte de seu dia ajudando seus pais na venda família e que todas as pessoas gostavam de si, o que apenas contribuiu para que pensasse que jamais deveria se deixar ser visto o observando. O que Chanyeol iria querer com um pobre garoto perdido que detestava a vida em que estava inserido, quando era tão querido por tantas pessoas que pareciam consigo?

 

Foi em um momento de descuido que Chanyeol o descobriu.

 

Taehyung sabia todos os horários que Chanyeol costumava ir à beira rio se distrair da vida que levava e sabia exatamente quanto tempo passava por lá. Seus horários se adequaram perfeitamente ao momento em que fugia para observar Chanyeol, como uma rotina diária a qual se recusava a quebrar; por muito tempo, seu plano funcionou perfeitamente, até que, por imaginar que após tanto tempo jamais seria descoberto, passou a deixar-se observar por um pouquinho mais do que de costume.

 

O jovem nobre sentia-se seguro em manter-se confortável enquanto assistia a Chanyeol como um ritual sagrado, e foi sua confiança que o traiu. Diferente dos demais dias que Chanyeol apenas continuava a brincar com a água e mantinha-se sentado, naquele dia em especial o garoto deixou-se deitar pela grama, com um sorriso tão bonito que resplandecia a luz solar que batia contra seu rosto. Taehyung imaginou que não poderia vê-lo tão bonito quanto naquele momento em especial.

 

Até que Chanyeol abriu seus olhos e encontrou os do garoto observando-o.

 

Taehyung jurou que seu coração tinha falhado algumas batidas, enquanto tentava se levantar e fugir dali, antes que seu alvo de observações se aproximasse. Entretanto, Chanyeol era um garoto ágil e rápido e conseguiu alcançá-lo antes que Taehyung pudesse ir embora por completo. Queria descobrir quem era o garoto que o observava com tanto afinco naquele dia, já que nunca o viu pelo vilarejo e não havia uma pessoa que Chanyeol não conhecesse naquele local.

 

“Espera”, disse segurando sua mão. Taehyung tentou puxar sua mão para que pudesse correr, mas Chanyeol era um garoto teimoso, afinal de contas. “Quem é você? Por que eu nunca o vi aqui antes?”

 

“Não sou ninguém”, Taehyung respondeu. “Preciso ir, pode soltar-me, por favor?°”

 

“Todo mundo é alguém”, Chanyeol sorriu. “Eu o deixarei ir assim que me disser quem é. Você parece me conhecer mais do que eu o conheço e isso é injusto, não acha?”

 

Taehyung parou para pensar e não havia uma resposta que pudesse dar que fosse satisfatória o suficiente para que o garoto o deixasse ir embora. Além de observar Chanyeol por acha-lo bonito, Taehyung conseguiu apreender um pouco de sua personalidade e sabia que Chanyeol era um garoto teimoso e que adorava questionar qualquer coisa que fosse. Amaldiçoou-se por ser tão ingênuo em confiar que jamais seria pego observando-o e, por isso, nunca ter preparado uma resposta para dar.

 

Chanyeol, por sua vez, manteve-se em silêncio esperando pela resposta do garoto que passava por uma clara luta mental à sua frente. Sua mão afrouxou um pouco o aperto que ainda exercia sobre a mão de Taehyung, mas ainda a manteve segura entre as suas. As mãos do garoto eram diferentes da sua, eram mais macias e pequenas, e Chanyeol gostava da sensação de tê-la entre as suas, mesmo que o tivesse conhecido naquele momento.

 

“Meu nome é Taehyung”, Taehyung disse finalmente, em um sussurro desistente. “Eu o descobri aqui faz algumas semanas e venho observando-o durante todo esse tempo porque eu estava curioso a seu respeito. Eu o segui também no vilarejo...”

 

“Eu deveria me sentir amedrontado? Você parece saber até onde eu moro”, Chanyeol brincou, e Taehyung refreou-se no momento em que ia dizer que sim, ele sabia. “Se bem que você parece tão inofensivo que até mesmo eu ofereço perigo maior.”

 

“Eu não desejo causar nenhum mal, por isso eu sempre fiquei à espreita, eu não...”, Taehyung disse, atrapalhando-se com suas palavras. Sentia-se nervoso por Chanyeol estar tão próximo depois de tanto tempo esperando pelo dia em que isso aconteceria e sequer sabia como reagir. Sentia-se envergonhado pelo sorriso que lhe era dedicado. Há quanto tempo não sorriam para si dessa forma? “Eu não queria que me visse.”

 

“Se você queria se aproximar, era só falar, eu adoro ter novos amigos”, Chanyeol deu de ombros. Soltou a mão de Taehyung que ainda estava entre as suas e estendeu sua destra em direção ao garoto. “Muito prazer, meu nome é Park Chanyeol, Taehyung.”

 

Taehyung sorriu pelo gesto e pelo sorriso infantil que adornava os lábios de Chanyeol, aceitando a mão estendida e sentindo finalmente, sem o nervosismo extremo para atrapalhá-lo, o calor que lhe era dedicado naquele aperto de mãos.

 

Os dois não sabiam por quanto tempo ficaram se encarando de mãos dadas com os olhares conectados, mas também não se importavam. Taehyung estava mais feliz do que poderia desejar por Chanyeol não o reconhecer e ainda estar sorrindo para si, enquanto Chanyeol sorria porque o garoto à sua frente era extremamente adorável enquanto tinha as bochechas ruborizadas pela vergonha. Não havia nenhum motivo para que se sentisse envergonhado em vir falar consigo, mas o garoto esperava que tivesse tempo para mostrar isso a Taehyung.

 

À beira do rio onde Taehyung viu Park Chanyeol pela primeira vez, os dois garotos mal sabiam o que o destino reservava para ambos, mas não importava naquele momento.

 

. . .

 

Tampouco Chanyeol quanto Taehyung não perceberam quando as coisas evoluíram de tal forma.

 

No início, foram bons amigos. Taehyung ainda tinha certo receio de contar tudo a Chanyeol com medo de que a gentileza que via nos olhos do recém-feito amigo desaparecesse por saber que fazia parte, ainda que de forma compulsória, da classe que explorava a de outrem, mas, aos poucos, seu medo foi desvanecendo-se conforme conhecia Chanyeol mais a fundo. Chanyeol, por sua vez, adorava conhecer um pouco mais do garoto retraído que aos poucos se soltava consigo, arriscando algumas risadas altas.

 

Seus encontros ainda eram na floresta à beira do rio onde se encontravam pela primeira vez, porque gostavam de dizer que aquele era um lugar especial para ambos. Sentiam que havia alguma conexão com aquele local, algo que que os faziam voltar até ali como se fossem atraídos. Não demorou muito para que percebessem que o local tinha sua influência, mas a maior parte disso advinha do fato de estarem juntos. Havia tanta química unindo-os que seus laços se tornaram estritos e resistentes mais rápido do que pensavam.

 

Chanyeol gostava da companhia de Taehyung, e adorava poder saber um pouco mais a cada vez que se viam. Taehyung era um rapaz adorável, mas que detestava falar de suas raízes ou o motivo de ter começado a observar Chanyeol. O rapaz pouco se importava também, para falar a verdade; Taehyung parecia saber muito mais de si do que o contrário acontecia, mas estava tudo bem porque confiava que ele cedo ou tarde viria a lhe falar de tudo de sua vida.

 

Estava tudo bem se Taehyung possuía um outro tempo.

 

Levaram algumas semanas para que percebessem que não era apenas amizade que os motivava a estarem ali. Chanyeol passou a gostar cada vez mais de causar os sorrisos de Taehyung porque eles eram seus sorrisos favoritos no mundo e Taehyung passou a gostar ainda mais da presença de Chanyeol, mais do que quando apenas o observava à distância. Embora estivessem com seus sentimentos a flor da pele, ambos não sabiam como contar ao outro como se sentiam. Parecia ser tão unilateral que a simples menção de estragar a amizade que construíram era impensável.

 

Foi Chanyeol quem tomou a iniciativa primeiro; em um de seus encontros na floresta, ainda que ninguém soubesse de tais, Chanyeol preparava-se para falar a Taehyung como se sentia. Conversava com as árvores ao seu redor como se pudessem ajudá-lo, pedia ajuda aos peixes que passavam pelo rio que tanto amavam, na vã esperança de que sua ansiedade se dissipasse. Taehyung estava especialmente atrasado nesse dia, e Chanyeol não sabia se isso era bom ou ruim.

 

“Tae, o que eu quero dizer é que eu...”, Chanyeol disse encarando a árvore mais próxima. “Todo esse tempo que nós estivemos conversando, eu... Ah, eu não consigo! Por que é tão difícil?”

 

“O que é difícil?”, Taehyung perguntou aparecendo por detrás das árvores.

 

“Ah, você me assustou!”, Chanyeol disse, virando-se para encará-lo. “Desde quando está aí?”

 

“Desde que perguntou por que é tão difícil e agora quero saber o que é”, Taehyung disse, sentando-se ao lado de Chanyeol que já havia desistido de sua declaração a árvore.

 

“Bom... Digamos que eu gosto de alguém”, Chanyeol murmurou envergonhado e Taehyung sentiu seu coração apertar quando ouviu. “E eu queria saber como dizer isso a essa pessoa. Quero que ela saiba o quanto os sorrisos dela me fazem bem e como eu amo causá-los apenas porque acho que são exclusivos para mim; quero que ela saiba que fico ansiosa para revê-la assim que a deixo partir, e que isso nunca aconteceu antes. Quero dizer a essa pessoa o quanto acredito que nossas almas já estavam ligadas antes mesmo que nos conhecêssemos, mas tenho medo de que ela não pense da mesma forma.”

 

Taehyung sorriu de forma triste, mas escondido para que Chanyeol não notasse. Queria tanto que Chanyeol dissesse aquilo para si... “Bom, se fosse eu, adoraria ouvi-lo.” Taehyung disse. “Também gosto de alguém, sabe? É a melhor pessoa que eu já conheci. Sua risada é minha favorita e eu poderia passar o dia apenas ouvindo-a; nunca terei coragem de dizer a essa pessoa o quanto ela me faz bem, e o quanto espero que se sinta tão bem comigo quanto me sinto com ela.”

 

“Você também deveria dizer a essa pessoa, Tae”, Chanyeol disse, sentindo-se ainda mais dividido sobre contar ou não a Taehyung já que agora sabia que sua paixão também gostava de alguém. “Eu acho que eu deveria também.”

 

“E quem é a pessoa de quem você gosta, Chanyeol?”, Taehyung perguntou, mesmo que soubesse que poderia se machucar com isso.

 

Chanyeol pareceu pensar por alguns instantes antes de respirar fundo e dizer. “É você”, sussurrou. “É você a pessoa de quem eu gosto.”

 

Taehyung sobressaltou-se no lugar onde estava porque não poderia acreditar no que estava ouvindo. Chanyeol não poderia ter dito o que achava que tinha ouvido, poderia?

 

“De... Mim?”, Taehyung repetiu, para ter certeza. Seu sorriso apenas aumentou quando viu Chanyeol assentir com as bochechas levemente rubras. “Ah, meu Deus... Eu...”

 

“Você não precisava retribuir nem nada, você já gosta de alguém e eu só espero que essa pessoa também goste de ti da mesma forma”, Chanyeol disse apressado. “Eu ficaria feliz só de vê-lo feliz.”

 

“A pessoa de quem eu gosto é você, Chan.” Taehyung sorriu. “Desde sempre. Talvez desde o primeiro minuto que eu pus os olhos em você.”

 

Seus sorrisos pareciam falar mais do que qualquer palavra que pudessem dizer, e Chanyeol deixou que sua felicidade transbordasse através do repuxar de lábios que formavam seu sorriso. Taehyung também sorria, e naquele momento toda felicidade do mundo se resumia aos dois sentados frente a frente em uma floresta um pouco distante do vilarejo onde Chanyeol morava, tendo apenas as árvores e seu rio favorito como espectadores.

 

Timidamente, Chanyeol aproximou-se de Taehyung, abraçando-o pelos ombros. As mãos do jovem nobre subiram até seus ombros também, retribuindo o abraço de forma tímida. Era naquele contato que reconheciam o afeto e carinho que tinham um pelo outro, que reconheciam o sentimento que brotava em seus corações ao mesmo tempo e se reconheciam. Não precisavam de nenhum toque mais íntimo quando aquele abraço tinha o significado de um milhão de palavras.

 

“Eu fico feliz que também goste de mim”, Taehyung disse. “E por isso acho que devo contar a você sobre mim, inteiramente.”

 

“Sempre quis saber de onde veio, mas você nunca disse.”

 

“Meus pais fazem parte da nobreza que constitui a Coroa”, Taehyung disse, encolhendo seus ombros. De repente, as árvores que outrora lhes eram tão bem-vindas pareciam enterrá-lo. “Eu não queria que soubesse porque achei que iria me tratar mal por todo o mal que a minha classe traz ao resto da população, e eu não o culparia por isso de qualquer forma. Por isso, eu omiti porque queria que gostasse de mim. Agora já não sinto que mereço tanto assim.”

 

“Você não é o que seus pais são ou o que as pessoas como eles também são.” Chanyeol disse. “É claro que todos são infelizes com as ações da Coroa e claro que os impostos são exorbitantes, mas você é uma pessoa incrível, Tae. Eu gostaria de você mesmo que fosse você o enviado a cobrar todos os impostos. Você tem um coração de ouro que prata nenhuma poderia comprar.”

 

Taehyung voltou a sorrir e abraçou novamente seu garoto amado, feliz porque Chanyeol o aceitava da forma como era. Sentia tanto medo de que fosse rejeitado pelo lugar de onde vinha que sequer passou pela sua cabeça que Chanyeol não o julgaria por nada disso, já que o conhecia durante todo o tempo que passaram conversando e sabia que o rapaz também não era de julgar ninguém pelas aparências.

 

Chanyeol era realmente a melhor pessoa que conhecia e o amava um pouquinho mais a cada dia por isso.

 

. . .

 

Ainda não era inverno quando o clima mudou de forma tão repentina.

 

As pessoas que outrora viviam às ruas, animadas enquanto conversavam umas com as outras ou passeavam pelas vendas, analisando o preço dos produtos que precisavam já não mais o faziam; o clima frio e tenebroso que se instalou sobre o vilarejo era diferente de qualquer inverno que até mesmo o mais velho entre todos já vivenciou.

 

Não era um clima normal, isso todos sabiam. Sequer estavam próximos do inverno para que os ventos gelados fossem soprados com tanta intensidade e a floresta nunca pareceu tão assustadora quanto naquele momento o fazia. De repente, todos sentiam medo de sair de suas casas sem que houvesse uma real necessidade, o que, para Chanyeol, não fazia o menor sentido.

 

Chanyeol estava acostumado a ver seu vilarejo repleto de alegria e pessoas conversando por onde passava, então era realmente inusitado que não houvesse ninguém pelas ruas enquanto caminhava até a floresta. Seus pais até mesmo o tinham proibido de continuar com seu hábito diário, mas eles não sabiam o que levava Chanyeol todos os dias àquela floresta. Não sabiam da importância que tinha em ver Taehyung todos os dias, por mais que agora seu namorado – era tão diferente poder pensar nele dessa forma, ainda que de forma envergonhada, como é natural de um primeiro amor – também não tivesse uma frequência ativa em suas visitas.

 

Os pais de Taehyung pareciam também desconfiar de suas escapulidas diárias, o que fazia o jovem nobre evitar alguns dias; como não tinha como avisar a Chanyeol sem que fossem descobertos, apenas torcia pelo melhor por seu garoto, para que percebesse que naquele dia em especial não poderia descer e, por isso, que não ficasse por muito tempo aguardando-o, principalmente após os primeiros boatos começarem a correr.

 

De início, parecia crendice boba que os antigos mais gostavam de expor. Algumas pessoas começaram a desaparecer misteriosamente, e ninguém sabia do paradeiro de seus corpos, o que apenas aumentava o desespero no pequeno vilarejo que não estava acostumado com tais mistérios. As coisas apenas pioraram quando os corpos começaram a ser encontrados, porque o que era para ser o motivo de alívio de algumas famílias tornou-se o algoz de todas: havia pequenas feridas em seus pescoços, semelhantes a dentes pontiagudos que poderiam tê-lo perfurado.

 

A primeira ideia da maioria das pessoas é que algum animal feroz estivesse rondando a floresta que serpenteava o vilarejo, mas algumas pessoas foram ainda além e o sobrenatural poderia explicar cada um dos acontecimentos, desde o clima estranho que se acometera sobre o local até as mordidas em cada vítima que desaparecia.

 

Vampiros.

 

Chanyeol não acreditava em uma palavra do que o diziam sobre vampiros, mas Taehyung sim, e era por isso que o jovem nobre proibiu Chanyeol de procura-lo todos os dias pela floresta, especialmente nos dias em que sabia que teria uma maior probabilidade de não conseguir descer. Chanyeol, por sua vez, teimava em dizer que não havia problema nenhum e que conhecia aquela floresta desde que era pequeno e que até mesmo os animais que ali viviam deveriam conhecê-lo. Demorou até que Taehyung conseguisse convencer seu namorado de que apenas estava prezando por sua segurança ao pedir para que não mais o esperasse além dos dias que combinaram.

 

Chanyeol acabou por aceitar, ainda que relutante; queria poder ver Taehyung todos os dias, queria poder andar livremente pelo local que era seu favorito desde sempre e que apenas se tornou mais especial depois da chegada de Taehyung em sua vida, mas até mesmo seus pais se tornaram cada vez mais resolutos em proibi-lo de alcançar a floresta. Chanyeol entendia o medo de seus pais em perde-lo, mas a ideia de ter vampiros rondando a floresta era tão absurda; qual o sentido que há em acreditar que mortos vivos andam por aí sugando sangue dos mais desavisados?

 

Chanyeol definitivamente não acreditava em vampiros, mas não faria nada para desagradar tanto seus pais quanto seu adorável garoto que tanto pedia por sua segurança.

 

Por um bom tempo, seus encontros funcionaram com os novos horários que estabeleceram; Chanyeol e Taehyung criaram um calendário para que pudessem seguir, onde Chanyeol sempre chegaria algum tempo depois de Taehyung pois, se chegasse e o garoto já não estivesse lá, saberia que poderia voltar para casa pois o jovem nobre não poderia ir naquele dia. Nos dias que conseguiam se encontrar, Taehyung sempre estava à sua espera com um sorriso alegre e uma cesta com comidas roubadas da cozinha de sua casa, já que possuía o auxílio de uma das serviçais de seus pais para que pudesse fugir sem que fosse notado.

 

Passavam bons tempos juntos, comendo enquanto conversavam sobre seus dias e sobre como gostariam de poder se ver mais vezes, sem precisar se esconder para que não soubessem a verdade sobre ambos; nenhum dos dois entendia porque parecia tão errado a todos que gostassem um do outro, mas a simples ideia de contar a seus pais e serem rejeitados era horrível o suficiente para que pensassem que continuar em anonimato era melhor. Caso fossem descobertos, ainda poderiam apenas alegar que eram bons amigos que se escondiam pelo medo da represália devido a família de Taehyung.

 

Seus abraços evoluíram gradativamente para beijos cálidos, toques singelos entre seus lábios que aqueciam seus corpos como se o inverno precipitado que se abatera sobre o local nada fosse. Chanyeol e Taehyung nunca estiveram tão felizes quanto nos momentos em que compartilhavam e, por muito tempo, cada um de seus passos, lentos e hesitantes, em direção um ao outro era tudo que precisavam para continuarem felizes onde apenas os animais escondidos por detrás das árvores poderiam presenciar.

 

Até aquele dia em que tudo mudou.

 

Como era previsto, Taehyung desceu primeiro e sozinho para o local da floresta onde sempre encontrava Chanyeol. O frio estava se intensificando cada vez mais enquanto se aproximava do local, mas Taehyung não se importou; já estava tão acostumado a descer para encontrar Chanyeol que a cada vez mais que o frio aumentava apenas o fazia pensar que estava cada vez mais próximo do local que buscava, onde o calor dos braços de Chanyeol afugentariam qualquer sensação ruim.

 

As árvores pareciam todas iguais naquele local e Taehyung perdeu as contas de quantas vezes confundiu-se ao passar por elas; riu sozinho ao se recordar de quando teve que gritar por Chanyeol para que conseguisse se localizar quando seu namorado veio ao seu encontro. Taehyung claramente tinha um péssimo senso de direção para que andasse sozinho de forma segura.

 

“O que uma criança faz perdida na floresta?”, Taehyung ouviu por detrás das árvores, o que o fez parar de andar, alarmado. Não era como que houvesse qualquer pessoa naquele local. “Não ouviu sobre os boatos?”

 

“Quem é você?”, Taehyung perguntou. “Onde está?”

 

“Quem sou realmente importa?”, a criatura perguntou novamente, dessa vez ressurgindo das árvores que estavam às costas do jovem nobre. “Ninguém jamais perguntou pelo meu nome.”

 

O que é você?”, Taehyung perguntou ao encará-lo.

 

O homem que falava consigo vestia roupas negras e pesadas, com uma capa um tanto antiquada às suas costas; sua pele era extremamente pálida e seus olhos pareciam ferozes, vermelhos como nada que Taehyung jamais tivesse visto. Talvez seus olhos fossem a única coisa viva naquele corpo, já que seus lábios também eram pálidos e arroxeados, como se não houvesse sangue algum por ali há muito tempo. Taehyung não sabia com quem estava falando, mas sentia os arrepios subirem por sua coluna.

 

“Acho que essa é a pergunta mais correta”, a criatura sorriu e Taehyung notou os caninos proeminentes. As peças começavam a se encaixar. “Sou o motivo de todos os rumores, o motivo das pessoas estarem tão desesperadas – e eu sinceramente adoro ver as facetas de medo e horror – e o motivo de estarmos em um clima tão aconchegante para mim, já que o frio é a única sensação que tenho há muitos anos.”

 

“O que... O que quer de mim?”, Taehyung perguntou, dando alguns passos para trás.

 

“Não se preocupe, criança, não quero machucá-lo”, a criatura disse. “Meu nome é Park Jimin. O que quero é unicamente você.”

 

Taehyung não acreditava no que estava ouvindo, porque já parecia absurdo suficiente que tivesse um vampiro conversando consigo, quiçá imaginar que ele desejá-lo tê-lo para si. O clima gélido que se instalava pelo local parecia apenas piorar conforme o vampiro se aproximava e Taehyung não sabia o que deveria fazer para escapar dali. Como poderia escapar de uma criatura que tinha os poderes necessários para sucumbi-lo caso desejasse? Não havia sequer a possibilidade de fuga já que, ao mínimo movimento que fizesse, seu pescoço estaria condenado.

 

 O vampiro não disse mais nada enquanto se aproximava, mesmo que notasse cada passo que o humano dava para trás. Secretamente aquilo o divertia ainda mais do que caçar suas vítimas, enquanto as ouve implorar para que não as mate, logo após descobrirem sobre sua verdade realidade. Não era recente sua admiração por Taehyung, vinha observando o garoto durante todos os dias que passava pela floresta e sua beleza o encantou imediatamente; sabia que aquele era o garoto que buscava para alcançar a eternidade ao seu lado, e não havia uma forma de ser negado por aquele rapaz.

 

“Sabe que não deve relutar...”, Jimin disse quando estava próximo o suficiente, já que Taehyung sentia a árvore às suas costas. “Tenho toda a eternidade a te oferecer.”

 

“Fique longe de mim”, Taehyung sussurrou, tentando se afastar da criatura. “Me deixe em paz, eu não...”

 

Jimin sorriu, mas preferiu afastar-se dando espaço para o rapaz poder sair de perto de si. Não havia pressa em seus movimentos; sabia que, se quisesse, poderia tomar Taehyung para si sem nenhum problema em ter que lidar com sua relutância. Sua força era superior a do humano em níveis inimagináveis, mas gostava de brincar com a sutileza, de ver Taehyung ainda tentando afastar-se antes de aproximá-lo de vez.

 

“Você não deveria tentar fugir. Sabe que não dará certo.”

 

“Você poderá me matar antes de pensar que eu ficaria a eternidade toda com você”, Taehyung cuspiu, olhando para o vampiro com uma faceta de nojo. “A morte é preferível a um ser tão... grotesco.”

 

Jimin sorriu, porque Taehyung era ainda melhor do que esperava. Não estava à espera de alguém que o aceitasse de forma submissa, gostava de como Taehyung lutava e era forte contra suas investidas. Jimin percebeu o momento em que o garoto passou a se afastar e correu para longe de si, mas deixou que fosse; não tinha interesse em forçá-lo a nada, não por enquanto, já que podia continuar estudando suas reações e saber a melhor forma de atingi-lo.

 

Seguiu Taehyung nas sombras que as árvores proporcionavam, observando até onde o rapaz seguia. Quando o viu parar em uma clareira próxima à beira do rio, Jimin sorriu ao perceber porque foi recusado com tanto afinco. Taehyung estava nos braços de um outro rapaz mais alto e de olhos expressivos, e ambos pareciam muito felizes em estarem juntos. O sorriso nos lábios de Taehyung jamais seriam causados de tal forma por Jimin e o vampiro sabia disso, mas não é como se, de fato, se importasse.

 

Taehyung parecia amar o garoto como nunca amaria mais ninguém e Jimin conseguia ver isso através de seus sorrisos. O vampiro se perguntou se seu garoto escolhido continuaria a amar o mais alto mesmo se ele também fosse uma criatura grotesca.

 

. . .

 

Foi num dia que Taehyung não pôde vir que Jimin encontrou sua oportunidade perfeita.

 

Chanyeol, ao contrário do que todos o pediram, voltou a floresta mesmo sabendo que Taehyung não estaria por lá; gostava de ter um lugar para caminhar longe dos olhares de todo mundo, desde pequeno gostava de passear pela floresta, seja para pensar nas coisas que aconteciam ao seu redor ou apenas para aliviar o estresse de seu dia a dia. No momento, Chanyeol caminhava pelo local que se encontrava com Taehyung, pensando em quão rápido sua relação com o jovem nobre evoluiu e em como tudo o assustava.

 

Amava Taehyung, sabia disso. Não importava quanto tempo fazia que se conheciam, suas almas se conheciam de muito tempo antes de se encontrarem e eles apenas promoveram um reencontro; seus dias eram muito mais felizes quando podia encontrá-lo, quando podia fazê-lo rir e chamá-lo de idiota por todas as piadas que fazia. Sentia-se feliz apenas por vê-lo sorrindo para si, Taehyung era a pessoa que mais o deixava feliz e Chanyeol começou a temer a magnitude de seus sentimentos. Nunca havia se sentido da mesma forma, como se apenas um olhar carinhoso pudesse derrubar todo o inverno que se desenrolava ao redor de ambos.

 

Sentou-se à beira do rio, um dos locais que mais gostavam de estar e recordou-se dos momentos que passaram ali; riu ao se lembrar do dia insuportavelmente quente que enfrentaram e quando empurrou Taehyung no rio com a desculpa de que precisavam se refrescar, mesmo sabendo que seu namorado iria puxá-lo. Chanyeol enfrentou um grande resfriado depois por continuar com as roupas molhadas, mas aquela era uma das suas lembranças mais doces.

 

“Ora, ora, ora”, Chanyeol ouviu às suas costas, virando-se para encarar quem era a pessoa. “Finalmente estamos nos vendo a sós.”

 

“Quem é você?”, Chanyeol perguntou, levantando-se. Por algum motivo não se sentia seguro próximo daquele rapaz.

 

“Vocês não são nada criativos com as perguntas”, o rapaz disse com um sorriso duro em seus lábios arroxeados. Não era uma coloração muito comum, Chanyeol pensou.

 

“O que faz aqui, então?”, Chanyeol tornou a perguntar. “Ninguém vem até aqui...”

 

“Com exceção de você e seu namoradinho, estou certo?”, tornou a responder, adorando ver o sobressalto do humano. Chanyeol com certeza não esperava ser descoberto.

 

“Eu... Eu não sei do que você está falando”, disse esquivando-se do assunto. “Não sei porque levar a sério algo de quem sequer sei o nome, e jamais vi por aqui.”

 

“Sou novo nas redondezas, mas muitos de vocês já me conheceram”, sorriu. “Meu nome é Park Jimin. Encantado em conhecê-lo, Park Chanyeol.”

 

“Como sabe meu nome?”, Chanyeol inquiriu, tinha certeza de que nunca tinha visto aquele rapaz em toda sua vida.

 

Jimin esboçou apenas mais um de seus sorrisos zombeteiros. “Há muito sobre você que eu conheço, Chanyeol.” Respondeu. “Talvez você que precise saber um pouco mais sobre mim.” Chanyeol continuou em silêncio, o que deu a oportunidade perfeita para que Jimin continuasse. “É de mim que todos vocês falam, sabe? Todas as pessoas desaparecidas, os ferimentos estranhos... Você, especialmente, devia acreditar mais no que os mais velhos dizem. Eles já nos viram por aqui.”

 

“O que você quer dizer...?”, Chanyeol balbuciou, sentindo os pelos de seu braço se arrepiarem; não tinha um bom pressentimento sobre o sorriso ladino nos lábios sem vida do rapaz que cada vez mais se aproximava, encurralando-o à beira do rio.

 

“Você não acredita em vampiros, não é?”, Jimin perguntou. “Se eu fosse você, não duvidaria. Nós nos magoamos com muita facilidade.”

 

Chanyeol engoliu em seco ao ouvir as palavras do rapaz, ainda mais depois de ver os caninhos proeminentes no sorriso aberto que recebeu, com um riso de escárnio escapando de seus lábios. Jimin adorava ver as reações de suas futuras vítimas, especialmente quando eram como Chanyeol, que tinham todas suas crenças jogadas ao chão quando eram confrontados por sua existência. Conseguia ler nos olhos expressivos o quanto Chanyeol estava assustado naquele momento e Jimin sabia que, mesmo se ainda quisesse brincar de gato e rato com o garoto, apenas de vê-lo tão amedrontado já valeria a pena.

 

Entretanto, não podia se esquecer de seu objetivo em estar ali.

 

“Eu já o vi por aqui outras vezes, embora seja muita audácia a sua de vir até aqui em pleno dia trinta e um de outubro. Sabe que esse dia é especial, não sabe?”, Jimin continuou a falar. “Você e aquele garoto bonitinho, se encontram nesse mesmo local algumas vezes. São muito descuidados, sabiam? Poderia ser qualquer um no meu lugar e talvez vocês queimassem antes mesmo que pudessem explicar-se. A sorte de vocês dois é que sou muito misericordioso e não resisto a um romance proibido.”

 

“Eu... Só me deixe ir embora...”, Chanyeol sussurrou. Todos seus poros expeliam medo. “Eu juro não voltar mais aqui, eu...”

 

“Não estou insinuando que não deva voltar, Chanyeol, longe de mim”, Jimin respondeu, “afinal, aparentemente este é seu lugar antes que eu tivesse chego, não é? Talvez o intruso seja eu.”

 

Chanyeol não sabia o que falar para responder ao vampiro à sua frente que exalava uma calma mortal. Enquanto conseguia sentir cada célula de seu corpo alarmando-o do perigo iminente que corria, Chanyeol não entendia como o rapaz à sua frente parecia tão calmo. Sabia que não ofereceria perigo algum, e sim ao contrário, mas a calma aparente de Park Jimin apenas o deixava mais alerta do que se estivesse sendo agressivo. Não tinha ideia dos próximos movimentos do vampiro e isso o deixava ainda mais nervoso, se fosse possível.

 

Deu alguns passos para a lateral, tentando escapar por alguma rota de fuga que por ventura conseguisse criar, aproveitando-se do fato de que o vampiro não parecia inclinado a matá-lo, não agora por enquanto. Sabia que era uma manobra arriscada, mas não podia evitar de tentar; a cada segundo que passava encarando a criatura sobrenatural, mais vontade de sair correndo possuía. Maldita a hora em que escolhera sair de casa em um dos dias que não havia combinado nada com Taehyung.

 

Ao pensar no namorado, Chanyeol temeu ainda mais pela criatura à sua frente. Ele sabia a respeito de Taehyung, se fizesse alguma coisa seria o seu garoto a pagar por suas consequências, afinal, Chanyeol não o conhecia mas podia afirmar que não havia nada a perder para Jimin. Encontrava-se em um beco sem saída, por não encontrar nenhuma solução para a situação em que se colocou. Ao menos, se fosse o primeiro a morrer, não teria que encarar os últimos suspiros de Taehyung; jamais se perdoaria por isso.

 

“Onde pensa que vai...?”, Jimin perguntou observando-o caminhar, sem dar um passo para segui-lo. “Seus pais não o ensinaram que não é educado deixar as pessoas falando sozinhas?”

 

“Deixe-me ir”, Chanyeol pediu mais uma vez. “Por favor.”

 

“Você possui algo que eu desejo, Chanyeol”, Jimin disse, e não havia mais nenhum traço de diversão em sua voz. “Eu não gosto de rejeições, sabe? Não gosto de forçar as pessoas também, mas faz parte da minha natureza. Vocês são naturalmente a minha presa, mas alguns de vocês são ainda mais especiais.”

 

“O que está falando?”

 

“Seu namoradinho não aceitou o meu convite porque você existe no meio do meu caminho”, Jimin explicou. “Como foi mesmo...? Ah, ele disse que jamais ficaria com uma criatura tão grotesca quanto eu, mesmo que eu tenha toda a eternidade a oferecê-lo.”

 

“Fique longe do Tae!”, Chanyeol alertou. “Não toque em um fio de cabelo dele.”

 

“Não será eu a tocar”, Jimin disse. Seu sorriso era o mais mortal que Chanyeol já havia visto. “Será você.”

 

Antes que Chanyeol pudesse esboçar alguma reação, o vampiro já estava sobre si, prendendo-o contra à relva que estava tão acostumado. Gritou de dor ao sentir os dentes perfurando seu pescoço, rasgando sua pele e sentindo seu sangue sendo drenado de si. Seria assim sua morte? Doía como o inferno, então por que não acabava de uma vez? Tentava a todo custo escapar e soltar seus pulsos para tentar se soltar, mas a força exercida sobre seus punhos era extremamente superior a sua.

 

Chanyeol estava fadado ao fracasso.

 

Sentia-se cada vez mais fraco, cada vez menos lutava contra a força exercida sobre si; não havia nenhuma perspectiva para que se agarrasse. Sentia suas veias queimando, como se, no lugar do sangue retirado, Jimin estivesse injetand ácido em suas veias; seu corpo estava cada vez mais mole, sua consciência cada vez mais distante e a única coisa que havia em sua mente é que Taehyung não passaria por nada disso.

 

De repente, não havia mais o peso sobre si e Jimin largou-o, saboreando o restante de seu sangue que restou em seus lábios. Chanyeol ainda se sentia vivo, não entendia por que o vampiro havia parado; seria tão sádico assim para deixá-lo morrer à própria sorte pela falta de sangue e o frio congelante? A dor se tornava cada vez mais excruciante, suas veias queimavam ainda mais e Chanyeol só queria que a morte chegasse de uma vez. Não havia feito nada em toda sua vida para que não merecesse sequer uma morte misericordiosa.

 

“Veremos por quanto tempo Taehyung continuará amando-o após também se tornar uma criatura grotesca”, Jimin sussurrou, desaparecendo pelo mesmo local que veio. “Eu estarei ansioso.”

 

Chanyeol não ouviu uma palavra do que o vampiro disse, porque sua consciência estava bastante afetada pelo ocorrido. Não havia nada passando em sua mente além do desejo pela morte que cada vez mais se distanciava, na mesma proporção que as dores apenas se tornavam mais insuportáveis. Sentia as lágrimas escorrendo por seu rosto, mas não havia força em si para que sequer tentasse se mover de onde estava.

 

Agradeceu no momento em que perdeu a consciência, crente de que dessa forma talvez morrer fosse mais suportável.

 

 

 

O rapaz perdeu a noção de quanto tempo permaneceu desacordado na floresta, ou se haveria alguém o procurando, até sentir braços quentes envolvendo-o e a voz desesperada de Kim Taehyung tentando acordá-lo. As lágrimas salgadas caíam sobre seu rosto, despertando-o, mas Chanyeol ainda sentia cada parte de seu corpo dolorido. Era como se tivessem massacrado cada um de seus ossos e reposto em seu devido lugar.

 

Taehyung ainda chorava sobre seu corpo, cutucando-o para que acordasse, ao que Chanyeol cedeu e abriu seus olhos. Sua garganta estava extremamente seca e doía cada vez mais; talvez fosse a parte de seu corpo que mais ardia no momento, já que as dores estavam mais brandas e não havia mais a queimação em suas veias. Chanyeol não entendia o que havia acontecido consigo; se não estava morto, o que estava acontecendo então?

 

“Chanyeol, por favor, por favor, acorda”, Taehyung chorou. “Ele esteve aqui, não foi? Por favor, acorda...”

 

“Taehyung...”, Chanyeol sussurrou. Era difícil falar com o ardor em sua garganta.

 

“Oh meu Deus, você está vivo!”, Taehyung exclamou, levantando-se apenas o suficiente para que Chanyeol pudesse se sentar. “Por um momento, eu pensei que o teria perdido! Aquele maldito esteve aqui, eu posso ver as feridas em seu pescoço, eu pensei que ele tinha o matado...”

 

“Você... Você conheceu o vampiro?”, Chanyeol perguntou ainda sem entender.

 

Era difícil se acostumar às palavras de Taehyung quando todas as sensações pareciam novas, como se tivesse acabado de nascer e nada daquele mundo conhecesse. Sentia novos cheiros, enxergava ainda mais longe, estava cada vez mais sensível as coisas à sua volta e, principalmente, sentia-se cada vez mais faminto, embora não conseguisse entender o que estava atiçando sua fome. Sequer entendia o que era, após sobreviver ao ataque do vampiro.

 

“O importante é que você está vivo, certo?”, Taehyung disse com um sorriso enquanto tocava por todo seu corpo para certificar-se de que estava inteiro. “Está inteiro gelado, mas faz tanto tempo que está sumido, todos no vilarejo estão comentando sobre o seu sumiço. Vamos, nós precisamos ir para que não fiquem tão preocupados e...”

 

Taehyung parou abruptamente de falar ao levantar o olhar para o rosto de Chanyeol, sentindo o assombro tomar conta de si ao focar seus olhos nos que tanto amava. Os olhos de Chanyeol estavam escarlates, mais vermelhos do que qualquer coisa que Taehyung se recordava e seu rosto também parecia mais pálido. Levou as mãos à boca, sem acreditar no que estava vendo.

 

“Ele... Ah meu Deus, ele...”, Taehyung balbuciava. “Eu ainda te amo, Chan. Eu vou sempre te amar, não me importa o que você seja agora, você sempre vai ser o Chanyeol que eu conheci e amei a cada minuto.”

 

Jogou os braços pelo pescoço de seu namorado, abraçando-o enquanto deixava que as lágrimas rolassem por seu rosto ao ver o que seu namorado havia se tornado. Chanyeol não entendeu o motivo do desespero de Taehyung, mas devolveu o abraço, afundando seu rosto no pescoço desprotegido do jovem nobre. Taehyung sempre teve um cheiro bom, mas estava ainda melhor agora... Talvez fossem as novas sensações...

 

O arfar de Taehyung foi a única coisa que Chanyeol ouviu após cravar seus dentes no pescoço alvo que lhe fora oferecido, de forma involuntária já que estava agindo pelos instintos recém adquiridos e pela fome que o cegava. O sangue de Taehyung era absorvido por seus lábios e Chanyeol podia garantir que era o melhor sabor que já experimentara em toda sua vida. Taehyung estava tentando escapar de seu abraço com gemidos doloridos, mas Chanyeol o mantinha preso em seus braços para que não escapasse. Não estava satisfeito.

 

Estava tão faminto...

 

Houve um momento que Taehyung parou de lutar. Os apertos em seu braço cessaram, assim como os gemidos em seu ouvido e Chanyeol sentiu quando o rapaz desfaleceu em seu braço. Afastou-se de seu pescoço, lambendo cada gota do sangue que escorria por seus lábios e focou o olhar no rapaz que estava pálido em seus braços. Com a fome mais abrandada, Chanyeol tinha seus sentidos voltando, suas lembranças e consciência recobradas.

 

Foi quando tudo desmoronou.

 

Taehyung não atendeu aos seus chamados quando o chacoalhou para que acordasse. Ao contrário do que esperava, Taehyung não esboçava nenhuma reação e não parecia estar apenas dormindo. O pânico tomou conta de Chanyeol, que deitou o corpo sobre a grama próxima à beira do rio que tanto presenciara seus momentos, e tentou escutar os batimentos de seu coração. Fora a única confirmação que precisou para que o desespero se apoderasse de si, afastando-se horrorizado do corpo inerte à sua frente.

 

Taehyung não tinha batimentos cardíacos. Taehyung estava morto.

 

Chanyeol o havia matado. Tinha o sangue de seu namorado ainda em sua boca, sentia-o dar-lhe a vida que havia tirado de si sem que tivesse o mínimo direito. Sentia-se a pior das criaturas só por estar vivo.

 

O recém-criado vampiro olhou para suas mãos onde ainda havia um pouco do sangue de seu amado, e não conseguia acreditar no que havia feito. Taehyung era o seu mundo nos últimos meses, sua risada era o norte que buscava e seus olhos brilhantes eram seu maior presente; não havia sentido em uma vida que não houvesse Taehyung ao seu lado, mas isso não seria mais possível porque o próprio Chanyeol o tinha matado, mesmo que de forma inconsciente.

 

Agora entendia o que Jimin havia dito. Tudo fazia sentido agora.

 

Gritou de desespero ao perceber que não havia volta e que Taehyung não voltaria de forma alguma para si. Encarava o sangue em suas mãos com repulsa, sentia ódio de si mesmo por ter retirado a vida da pessoa mais importante de sua vida, mas teria que aprender a conviver com essa culpa. Taehyung estava morto por sua causa e Chanyeol viveria com isso em sua mente para o resto da existência maldita a que estava condenado.

 

. . .

 

“Chanyeol!”, ouviu chamar, despertando de suas lembranças. “Estou chamando-o há muito tempo, em que realidade você está?”

 

“Desculpe-me”, Chanyeol pediu. “Eu estava pensando no passado.”

 

Baekhyun sorriu, aceitando as desculpas do namorado e voltou a se arrumar em frente ao espelho. Estavam indo para a primeira festa de halloween da faculdade, e Baekhyun estava especialmente mais animado. Encontrariam Sehun e Yani no local combinado, então só precisavam terminar de se arrumar, o que era uma grande tarefa já que Byun Baekhyun jamais se dava por satisfeito.

 

“O que acha?”, Baekhyun perguntou pela enésima vez. “Você é o vampiro aqui, precisa me dizer se estou adequado.”

 

Baekhyun vestia um conjunto negro que o vestia muito bem, e havia uma capa às suas costas esvoaçante, com veludo vermelho em seu interior. Os cabelos negros estavam revoltos, como se tivessem sido despenteados de forma proposital, mesmo que Chanyeol tenha visto cada esforço do namorado para que seu cabelo alcançasse aquele aspecto, e as lentes de contato que simulavam heterocromia impedia que visse a real cor de seus orbes. Por fim, havia um par de presas em sua boca, finalizando sua fantasia de vampiro.

 

“Você está perfeito”, Chanyeol sorriu.

 

Era incrível a semelhança de Baekhyun com sua primeira encarnação, Chanyeol pensava. Todos os trinta e um de outubro eram horríveis, mas há muitos séculos Chanyeol aprendeu a lidar com a culpa pelo sangue que ainda tinha em suas mãos. Se fechasse os olhos e pensasse sobre o ocorrido, ainda conseguia visualizá-lo perfeitamente, revivendo cada parte de sua culpa, ressurgindo o ódio que sentia pelos membros de sua raça.

 

Alguns anos eram mais fáceis de suportar, mas não naquele momento em que Baekhyun sorria para si tão feliz, o que apenas ressaltava a semelhança que possuía com Taehyung. Chanyeol gostava de pensar que Baekhyun era diferente, porque, se com Taehyung descobriu todos os sentimentos que residiam em seu peito, com Baekhyun sentia-se em plena explosão. Não se recordava de quando se sentiu tão feliz em fazer alguém sorrir ou quando fora a última vez que sentiu-se tão bem consigo mesmo ao encarar alguém e saber que o pertencia.

 

Baekhyun poderia ser mais uma reencarnação de Taehyung, como suas almas estavam ligadas através dos séculos que se passavam, mas ele era diferente. Era especial. Baekhyun era o final.

 

“Por que está com essa cara, Chan?”, Baekhyun perguntou, aproximando-se do namorado e depositando suas mãos em suas bochechas. Acostumara-se tão rápido a baixa temperatura de Chanyeol que sequer se importava mais.

 

“Nada”, sorriu. “Vamos? Sehun e Yani já devem estar lá.”

 

“Você não parece muito feliz”, Baekhyun notou enquanto desciam as escadas de sua casa, para se despedir de seus pais. “Há alguma coisa acontecendo? Sabe que pode confiar em mim, Chan. Se não quiser ir a essa festa também não tem problema, eu posso avisar ao pessoal e, sei lá, ficamos aqui em casa assistindo Nightmare Before Christmas como eu sei que você gosta.”

 

“Não precisa cancelar nenhum dos nossos planos, Baek, mas agradeço pela preocupação. Eu... O halloween não me traz boas recordações...”, Chanyeol murmurou. “Só isso. Não há nada para se preocupar.”

 

Baekhyun ainda o encarou preocupado, mas resolveu aceitar as palavras de seu namorado. Chanyeol olhou para o rapaz e sorriu; esperava, do fundo de sua alma, que Baekhyun conseguisse fazer com que todos os seus fantasmas fossem embora. Que seus sorrisos pudessem ser as únicas coisas que teria em sua mente e que a culpa que o assolava se tornasse mais branda; sabia que jamais iria embora, sabia que jamais se perdoaria por não se controlar e por ser o causador da morte de Taehyung, o rapaz que jamais esqueceria, mas cuja companhia com Baekhyun o tornava apenas mais uma boa memória. Baekhyun o fazia tão bem a ponto de que seu maior fantasma se tornasse apenas uma memória de bons tempos que não voltavam mais.

 

O que havia começado no halloween, que tivesse o fim de seu ciclo no mesmo dia.  


Notas Finais


E então, o que acharam? Está aí a origem do Chanyeol sendo um vampiro e, de quebra, também temos o motivo dele não transformar o Baekhyun em vampiro, além de condenar a raça de vampiros e a si mesmo por fazer parte dela, a última vez que Chanyeol esteve tão perto do pescoço de quem ele amava, as coisas não deram muito certo... Vamos entender o nosso pequeno vampirinho, hm?

Espero que tenham gostado! Eu vou tentar trazer o último extra antes do natal, mas eu estou participando do NaNoWriMo (um projeto super bacana de escrever 50k em um mês!) e estou focada na minha primeira longfic no fandom de exo, então tenham paciência comigo também, uma hora eu finalizo tudo, prometo.

Como de costume, nos vemos aí embaixo ou podemos conversar no twitter, que é o @iambyuntiful. Até uma próxima!!


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