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História Diário de uma Iniciante em Champions League - Fernanda - Serei eu capaz de superar David Luiz?


Escrita por: Fe_M

Notas do Autor


Olá, como vão vocês?
Meu povo, não sei nem o que dizer pro carinho que vocês dão pra gente, pra mim e pra Ade. FICO MORTA. Seja no Facebook, ou no Twitter. Eu fico muito feliz com cada mensagem de apoio, cada elogio <3 obrigada mesmo por todo o carinho. VOCÊS SÃO AS MELHORES *____*

JESUS, NINGUÉM SEGURA ESSAS GEEZERS <3

O post de hoje é dedicado a quem adora ficar sozinha em casa pra fazer LOUQUISSE PORQUE QUANDO A GENTE TA SOZINHA EM CASA FAZER LOUQUISSE É A MELHOR COISA! Além disso, post dedicado a CrazyTeenagerr que passou por uns problemas essa semana... E pra OhBernard, porque ela é fofa <3 À Stylesg1rl porque ela é diva <3 à Daraliz porque ela foi sofrer no salão hoje, À Esther porque... Porque o cabelo dela é lindo <3 À Biadl432 porque ela quase chora quando vai fazer a sobrancelha, a Thaluc porque ela é ela, à Ana Letícia porque ela vai ficar ausente no fds </3 e a Gabs porque ela nem sabe o que está acontecendo, e continua linda <3 À LillyRiggs4 por ter postado o comentário agora quando eu estou preparando o post também uhauaha <3 e a HELÔ E A JULESSLEGENDARY QUE CHEGARAM AOS 45 DO SEGUNDO TEMPO <3 amo tuda.

E COM VOCÊS, UM CAPÍTULO CHEIO DE FRIENDZONES:
Ps.: TatianaDourado faz niver amanhã, então sinta-se homenageada <3 E todas as meninas que lêem e comentam e as fantasmas, vocês todas <3

Capítulo 9 - Fernanda - Serei eu capaz de superar David Luiz?


Fanfic / Fanfiction Diário de uma Iniciante em Champions League - Fernanda - Serei eu capaz de superar David Luiz?

 

Um fato que não deveria passar: Ou ele mascarava muito bem o que sentia. Ou não sentia nada. Preferi me apegar à primeira opção. A segunda era torturante.

Fernanda Medeiros e Adelina Barbosa, Triângulo de Quatro Lados.

 

 

 

***

As vozes das fãs de David ainda podem ser ouvidas às minhas costas. Algumas delas perguntam quem eu sou, em francês, e outras respondem que não sabem, enquanto uma delas quase grita que eu sou a namorada do zagueiro. Eu sei que David também pode ouvir o diálogo nível Oscar de fofoca. As outras começam a analisar-me, sobre minhas qualidades físicas, e se sou digna do jogador. Eu ergo um pouco o queixo e franzo o espaço entre as sobrancelhas. Nosso olhar não se parte nem por um instante, e o sorriso frágil nos lábios dele começa a crescer, gradativamente porque ele acha tudo no mundo divertido e engraçado.

As fãs de David julgam minha beleza, e algumas dizem que eu não sou bonita o suficiente para ele. Engulo seco, e ouço mais algumas Geezers frisarem minha magreza, ou o tom de minha pele, e lembro-me do que Sara falou-me tempos atrás. Ela não aguentou as críticas, e desistiu de tentar namorá-lo. Foi a primeira vez que passei por isso e quero me virar para elas e dizer “Hey, bad timming, nós terminamos. Ele é todo de vocês”, mas não vou fazer isso ou ele vai ser comido vivo bem na frente dos meus olhos. Eeutenhociúmesimprontofalei. De qualquer forma, elas me deixaram sem graça e até eu começo a reparar no quanto estou magra.

Passo a língua pelos lábios, e vejo os de David se moverem, falando por leitura labial. É uma resposta às críticas feitas às minhas costas.

-Você é linda. - É o que consigo compreender, e me mantenho estática como uma estátua por mais que agora eu tenha que segurar para não sorrir para ele.

Alguém pode me trazer um Nescau de Garrafinha e um Rivotril? Eu necessito, aqui.

Não percebo quando preciso esforçar-me além do necessário para respirar. No momento as pontas de meus dedos das mãos formigam ligeiramente, e o calor escapa por minha pele, enregelando e enrijecendo minhas mãos, caídas aos lados do corpo. Como um veneno que penetra minhas veias, o gelo e a sensação de letargia enviesam por debaixo de minha superfície, e invade meu corpo em sua totalidade, irrigado agora por minha frequência cardíaca fora de controle. A pulsação agride minha garganta, como se eu tivesse corrido vários quilômetros, e a adrenalina faz-me tremer. É quando os arrepios recomeçam em espirais que recortam frações de pele em minhas costas, em raios que crescem por minha região lombar, até se espalharem por minha cintura, por entre os seios, até meu pescoço, minha nuca. Toda a minha cabeça é rendida pelo sorriso dele.

Eu espero não transparecer que estou indefectivelmente perdida por este homem, porque seria vergonhoso para o meu plano "Sofra David". Porque meu cérebro começa a ser infectado por meu coração. As portas do elevador continuam abertas, e o sorriso dele também continua aberto. Os dois esperam minha escolha, e eu divago. Nuvens imaginárias começam a embaçar minha visão e me transportar para uma realidade na qual Sílvio Santos, em pessoa, ri e me olha, aguardando uma resposta. Ele junta as mãos e inclina a cabeça, como se a sua peruca pintada e modelada por laquê pesasse demais para que ele pudesse segurar a cabeça no eixo. Seu terno alinhado é cinza, e aquele microfone que só ele usa na gravata está aqui.

-MA OE! E então, Fernanda? Vamos lá, vamos lá... Você não tem mais tempo pra escolher tanto assim... - Ele ri, e seus ombros chacoalham para cima e para baixo. Eu coloco as mãos na cabeça e massageio meus cabelos. A risada de Sílvio Santos continua, e ele volta a falar: - Roda o pião da Casa Própria! (Música no link nas notas finais.) Você tem duas opções, garota! O que vai ser?

Opção 1: Entrar no elevador e ir até o quarto. Tomar um banho quente com sais na banheira enorme do hotel enquanto escuto Celine Dion. Deitar na cama queen size enquanto acabo com toda a comida do frigobar, inclusive todos os chocolates, e assisto algum filme depressivo francês; ou Opção 2: Almoçar com David Luiz idiota e lindo.

-Hm... Eu... - Murmuro, e a imagem de Sílvio Santos ergue as sobrancelhas, com aquele sorriso grande demais para sua boca, mas quando ele fala, é a voz desafinada e rouca de David que sai por seus lábios.

-Você... - Então as nuvens se desfazem, e eu volto à realidade a tempo de ver as portas do elevador começarem a se fechar, lentamente.

-Eu... - Entreabro os lábios, e a risada de Sílvio Santos é a sentença final. Mas que droga. Tudo bem. Não foi a decisão mais difícil da minha vida. Minha cabeça só gira fora de controle porque eu não consigo encontrar palavras para dizer que vou. Gente, buguei de novo. QUE DROGA. Eu deveria só assentir e seguir pra fora do hotel de novo? Eu devo falar alguma coisa para ele? Me ajude. Santa Oprah, peço desculpas por ter perdido os seus últimos programas, mas eu preciso da sua luz agora.

-Fernanda? - A voz de David é suave, e ele me acorda do devaneio.

-Oi?

-Você decidiu? - Mordo o meu lábio inferior enquanto tento arrumar as palavras na minha cabeça e eu me lembro de um dos conselhos dela: Se um homem quer você, nada pode mantê-lo longe.  Se ele não te quer, nada pode fazê-lo ficar. Bem, David está aqui. Parado bem ao meu lado, esperando a minha resposta. Ele correu atrás de mim, certo? Ele quis ficar. Ele está tentando ficar mais próximo de mim por mais idiota que tenha sido no nosso último encontro. E eu não estou, exatamente, dando uma chance para ele. Não, Oprah. Cedo demais para isso. Nem me venha com mais conselhos.

Eu suspiro derrotada. Quando comecei a ser tão óbvia? Até parece que algum dia houve uma opção.

-É, eu vou com você. - David ergue as sobrancelhas, parecendo surpreso por ter eu ter aceitado. - Mas não pense que eu estou feliz porque estou te vendo. Ou que eu aceitei seu convite porque quero sair com você e comer. Ah, e eu pago minha parte da conta. - Eu falo, e aponto pra ele.

-Se você insiste. - Ele dá de ombros, com um sorriso enorme nos lábios.

Eles estão incrivelmente rosados e beijáveis hoje. Coisas do universo para ferrar com os planos malignos de vingança, mas tudo bem. Não tem problema nenhum. Ele nem está muito sexy com essa roupa. Eu não vou me render à ele em momento algum. É bem fácil resistir a David Luiz.

***

-Que diabo é isso? - Eu falo, quando olho o Menu do La Societé. Pedir um copo de água aqui vai levar metade do meu salário. Olho por cima da carta de opções do restaurante, e vejo David me fitar com ar de divertimento. - Não tinha um lugarzinho mais em conta pra você comer, David? Sei lá... Eu até curto um feijão com arroz e ovo. - Ergo as sobrancelhas, e David ri. - É sério, eu não me importo se você quiser comer, certo? Mas eu não tenho condições. - Eu encolho os ombros e coloco o menu na mesa, em posição de desistência.

-Eu te convido pra vir almoçar comigo, você está morrendo de fome, e não vai comer?

-Eu não posso pagar por essa comida, David. - Arregalo os olhos, e vejo um garçom passar ao meu lado. O cheiro de comida quente e deliciosa é captado por meu olfato. Sinto a boca aguar e coloco a mão sobre minha barriga seca. Por que mesmo eu aceitei vir almoçar com essa Palmeira? Ah, é. Eu me distraí e fui pressionada por Sílvio Santos e por aquela musiquinha chata. - Ai que tortura.

-Para de besteira, então. Me deixa pagar a conta. - Ele teima comigo, e eu rolo os olhos.

-Não. Não somos nada um do outro pra você pagar as coisas pra mim. - Minha postura irredutível quer se partir, porque meu estômago ronca baixinho. Espero que ele não tenha escutado.

-Sua teimosa. Eu não sou nem seu amigo? - Ele pergunta, com uma expressão de cachorro que caiu da mudança. Eu suspiro.

-Eu sei a sua conversinha inteira, e ainda caio. É incrível. - Passo a mão pela testa, e ele ri.

-Escolhe logo o que quer comer, que eu pago. Vai, anda. Sua barriga está roncando. - Ele aponta para o menu, e eu arqueio a sobrancelha. Ele ouviu a minha barriga roncar. É tudo o que eu preciso agora, mundo. Fátima Bernardes, diva das divas, o que você faria na minha situação? Penso em como aceitar o pedido e não parecer que estou cedendo a ele. Estudo as opções por alguns segundos, fitando o menu do restaurante mais para esconder o meu rosto vermelho do que lendo o que está escrito ali, e David me observa, aparentando expectativa. - Fê?

-Não me chame de Fê, que eu não te dei essas intimidades. - Ergo o dedo indicador, e falo, com a voz desafiadora. David ri de mim e eu rolo os olhos nas órbitas pela... Incontável vez. - E você vai pagar meu almoço. E considere isso como uma indenização pela gritaria que você faz comigo toda vez que me vê. Você está me entendendo? - Eu pergunto, e vejo David rir mais. Fazia tempo que eu não o via rir das coisas que eu falo, e sinto-me como quando nos conhecemos. A sensação é uma das melhores do mundo. - E tem mais.

-O que mais?

-Se você levantar a voz pra mim, nem que seja um pouco, ainda hoje, eu te juro que não volto a falar com você. Nunca mais. - Meu tom é de austeridade, para que ele saiba que eu não estou brincando.

-Eu só quero conversar, prometo. Não vou me exaltar.

-E eu vou jogar a água do meu copo na sua cara pra todo mundo ver. - Ele ri e concorda com a cabeça. - Então se sinta à vontade pra falar.

-Escolhe antes o que você vai pedir. Eu já escolhi o meu.

Eu repasso os olhos pelo menu, e escolho um prato com peixe, leve, porque o cansaço me faz pensar que uma comida mais leve será melhor para o sono que pretendo repor durante a tarde. Quando o maitre vem nos atender, traz a carta de vinhos, e David escolhe um muito leve, com baixo teor alcoólico. Eu peço o mesmo, e o homem empertigado traz a garrafa, servindo-nos enquanto nossos pedidos não chegam. David agradece e o maitre que sorri para o zagueiro. Eu sei que o gesto do empregado do restaurante foi real, e não mecânico, porque, por aqui, nenhum dos ocupantes das mesas parece ao menos notar a presença de pessoas servindo as mesas. Eu franzo os lábios, e sinto o olhar dele sobre mim. David beberica seu cálice, e me analisa.

Não dizemos nada um ao outro até que as taças estejam quase pela metade. Estudamos um o rosto do outro e, por vezes, tenho a impressão de enxergar um brilho indistinto nos olhos dele. Algo como devoção. É apenas um lampejo, porque eu não acredito que cause esse efeito em David Luiz. O que acontece sempre é o contrário. Logo, para fugir dos olhares fulgurantes dele, eu observo a atmosfera sofisticada do La Societé. As mesas de madeira escura, e as cadeiras confortáveis que se assemelham às poltronas correspondem ao resto da decoração, recoberta por estímulos de discrição e elegância. O piso é de madeira quase preta, e o teto é revestido por placas de gesso branco com detalhes retos e angulosos, com luzes pequenas e direcionadas, incrustadas e posicionadas para os centros das mesas que iluminam.

A música ambiente atual é uma bossa nova brasileira, mas já passeou por Soul Music e Jazz americanos, além de música regional francesa. Eu movo os dedos pela taça e bebo mais um gole do vinho, antes de recolocá-la na mesa, porque o garçom chega a nós com os pratos da entrada. Uma salada minimalista, cheia de comestíveis dos quais eu nunca ouvi falar. Quando o garçom se vai, David se comporta como um verdadeiro gentleman inglês, algo que deve ter herdado de seu período em Londres. Mas não toca nos talheres, porque olha-me mais uma vez, e eu baixo os olhos para o prato.

-Você disse que queria conversar comigo. - Eu murmuro, e espeto uma coisa branca, que não sei do que se trata, com o garfo, comendo. Tem um gosto bom. Tento lembrar a mim mesma de trazer Ítalo até esse restaurante, um dia, para rir com as piadas dele sobre comida. São as melhores.

-É... Eu disse, mas não sei por onde começar. - Ele fala, ainda sem tocar na comida, enquanto eu estou prestes a arrastar o garfo pelo fundo do prato para não desperdiçar nem um grão de bico dessa comida de Deus. Encho a boca com a salada, e fito David, que me observa sem se mover.

-Que foi?

-Nada... Só... Só estou te olhando.

-Ô visão bonita, também. Eu enchendo o bucho. - Falo, e pego o guardanapo, limpando o canto da boca. - David, isso aqui branco é o que? - Eu aponto com o garfo para a coisa branca, e ele ri.

-Ué... É palmito, Fernanda. - David mantém a expressão risonha. - Você nunca tinha comido?

-Já tinha comido sim, mas esse aqui está muito gostoso. - Eu murmuro, envergonhada por não reconhecer PALMITO. Tusso um pouco e lembro de uma história. - Sabe, palmito me lembra um dia... Que minha mãe... - Eu rio baixo, e cubro a boca com um punho fechado.

-O que? - David é somente sorrisos.

-Eu tinha acabado de me mudar pra Natal, e minha mãe estava meio que em depressão porque ia se distanciar de mais um filho, porque o Ítalo já morava em Natal há algum tempo. Elisa da depressão, sabe? - Eu falo, e David ri, assentindo. - Então ela disse que ia cozinhar as coisas que nós mais gostávamos de comer em casa, antes de voltar pra BH, porque meu pai já havia reclamado pela semana a mais que ela passou comigo, mas ela fez algumas exigências para cozinhar...

 ***

 

 

-Lana Del Rey, mãe? - Eu disse, e dona Elisa assentiu, sentando-se no sofá, abrindo uma garrafa de cachaça envelhecida em Alambique que Ítalo ganhou de um amigo de Recife, dos engenhos do Pernambuco. Ela pegou uma faca de mesa e rasgou os lacres, e tirou a tampa, despejando o conteúdo do destilado em um copo. Ela ergueu-se do sofá e bebeu o copo inteiro, e eu ri alto. - Mãe!

-Meus filhos! Já não bastava o Maumau e o meu BEBÊ?! Agora a Fêzinha também? - O modo como ela se referia a Ítalo era engraçado. Sempre meu bebê, por mais que Ítalo fosse um marmanjo enorme.

-Mãe, deixa de ser exagerada...

-Bote Dark Paradise pra tocar aí, por favor. - Minha mãe apontou para meu notebook aberto. E eu ri. Ela encheu o copo novamente, e bebeu mais um pouco. - Não, não, já sei. Somos garotas, não é? E garotas querem o que?

-SÓ QUEREM SE DIVERTIR! - Eu gritei, e abri os braços. Nós rimos e eu coloquei a música que nós sempre ouvíamos juntas. Girls just wanna fave fun, da Cyndi Lauper.

Com mais um minuto estávamos dançando na sala, cantando a plenos pulmões, antes de dona Elisa ir preparar uma torta de limão para mim, e uma torta de palmito para Ítalo. Eu coloquei Lana Del Rey para tocar, e ela cantava, bêbada, usando a garrafa da cachaça envelhecida como microfone e rolo de massa, ao mesmo tempo. O pior foi que a comida ficou deliciosa. Até hoje ela diz que não sabe como terminou de fazer as tortas.

Queria vê-la agora e dizer que estou com saudades. Eu amo minha mãe.

 

 

*** 

-Sua mãe cozinha bêbada? - David ri, enquanto move os talheres nas mãos, comendo. Eu assinto, e rio, bebendo um pouco do vinho. - Ela é ótima. Gosto quando ela me liga pra saber como eu estou. Acho atencioso da parte dela.

-Ela é ótima sim, e... - Ergo os olhos para David, e realizo sua última frase. Fico em silêncio, e sinto minhas bochechas esquentarem e meus olhos arregalarem. - Ela o que?

-Hm? - Ele franze o cenho. - Ela me liga às vezes e...

-ELA TE LIGA PRA QUE PELO AMOR DE WILLIAM BONNER?! - Eu grito, e olho a minha volta, arregalando mais os olhos e disfarçando, com uma tosse. As pessoas ao nosso redor me olham com desdém, e David ri mais, ainda que contido. - Ela te liga pra que? - Eu sussurro, e ele dá de ombros.

-Só pra saber como eu estou. Pergunta pelas coisas, e nós conversamos.

-Sobre... O... Que? - Meu estômago começa a revirar.

-Sobre você, é claro. Ela fala de você o tempo todo. - David ainda sorri, agora mais enviesado. - Ela me conta histórias sobre você, e me manteve informado sobre o que vinha fazendo, algumas vezes. Mesmo quando... Quando não estávamos nos falando. Não falava nada demais. Só servia para me deixar com mais saudades de você.

Eu odeio minha mãe. (Ps.: Odeio ser bipolar... É muito bom.)

-Sei. - Resmungo, e termino de comer o palmito.

-Mas nós não viemos aqui pra falar sobre Dona Elisa. Eu só não sei por onde começar a falar sobre o que vim falar.

-Ah, sobre isso deixa eu te ajudar. Vai pelo começo. Temos... - Eu franzo o nariz e coloco o garfo no prato. Tampo a boca e o nariz com a mão e espirro. Cansaço, espirros, tosse. Posso até ouvir a voz da minha mãe dizer aquela frase que mães em geral adoram: "Eu te avisei."

-Saúde.

-Obrigada. Temos todo o tempo do mundo. - Eu completo a frase, e David sorri.

-Antes de mais nada, eu queria te pedir desculpas pela explosão de ontem. Eu, normalmente, sou esquentado, mas... Sou muito chato com essa coisa de surpresas. Eu realmente detesto. Então você apareceu na minha frente, de verdade. Linda, real, perto de mim, pra falar comigo sobre questões profissionais e somente. Minha cabeça virou. Não consegui pensar em mais nada. Fui reacionário, eu sei, mas eu queria me redimir. Por esse dia, e pelo dia que eu te liguei, sem mais nem menos, pra perguntar sobre o Podolski.

Lembro-me da tal ligação que ele fala. No dia em que a recebi, eu tive dor de barriga. Passei o resto do dia no banheiro, com um rolo de papel higiênico na mão. Chorando. Fecho a expressão, e inspiro o ar com força para dentro dos pulmões, desviando os olhos de David e colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Pego a taça de vinho e bebo uns goles. Obrigada por me fazer lembrar o propósito de "Sofra David", David. Engulo a bebida, que desce mais ácida, agora. Meu estômago fervilha abaixo da superfície, e meus olhos se estreitam levemente. Meu tom agora é mais seguro, porque precisa ser.

-Ítalo me falou que a culpa foi dele. - Murmuro, e ergo a ponta do nariz, recolocando a taça no lugar.

-Mais ou menos. O fato de eu ter enlouquecido e ligado tanto para o Lukas, quanto pra você, não foi culpa dele. - David dá de ombros, e come mais um pouco. Eu assinto e o observo. David não aparenta tanta tranquilidade ao falar sobre Podolski. Como se algum dia em minha vida eu tivesse dado motivo para tal ciúme. Outro detalhe que me fere até hoje, a desconfiança dele. Cabeça dura.

-É. Lukas me disse que você também ligou pra ele. Ele disse que na hora não reconheceu a voz, mas depois ficou pensando e deduziu que fosse você. - Dou de ombros.

-Você falou com ele? - A expressão dele é enigmática, e eu arqueio a sobrancelha, em silêncio. David sorri de lado. - Não estou com ciúmes, oras. É só pra saber.

-É, ele me ligou pra saber se estava tudo bem entre a gente, porque você ligou feito um louco pra ele.

-E o que você disse?

-Que... - Espirro mais uma vez. Franzo a testa e David deseja saúde novamente. - Que você era um louco obcecado.

-Muito obrigado pela reputação que pôs em mim. - Ele agradece amargurado, e bebe um pouco do vinho. Continuo em silêncio, e ele volta a me olhar. - Minhas últimas atitudes foram fruto da instabilidade emocional. Tiveram várias coisas que me fizeram entrar em pilha. A derrota na Copa, brigar com você, achar que você estava grávida, voltar pra você, passar um tempo com minha família, perder você novamente, me mudar pra Paris... Tudo isso me bombardeou. Acabou criando essa... Instabilidade. Mas eu já estou melhor. Já assimilei que você agora aqui não é uma alucinação, e que está mesmo em Paris, e que estou conseguindo me adaptar ao PSG e a Paris... E todo o resto de bom que vem acontecendo em minha vida, desde então. Só quero esclarecer tudo, pra começar do zero.

-Começar o que do zero?

-Com você. Quero recuperar seu respeito, porque eu sei que perdi, assim como perdi sua confiança. - Ele suspira profundamente. - Quero ser digno de saber porque fui deixado, naquele 4 de agosto, por você. - David baixa os olhos para o prato, e eu vejo que esse assunto também é doloroso para ele, e que seria muito mais, se eu relatasse o real motivo. Nós dois estamos feridos, eu posso perceber.

-David... - Ele volta a me olhar. - Não pense que eu te deixei para trás, ou que eu fiz isso de caso pensado, ou com crueldade, porque não foi. Eu realmente não pude ir.

-Por que? Você não queria?

-Eu passei mal e fui hospitalizada. - Omito a parte do bebê, mas, no total, não fui mentirosa.

-Você... - Ele arregala os olhos. - Era mais uma daquelas crises que você vinha tendo? Sobre os vômitos e desmaios? Descobriu qual era a doença? Você está bem, agora?

-Era, sobre aquilo mesmo. Eu passei mal novamente, mas foi algo bem mais sério. Então Ítalo mudou a direção, e foi ao hospital comigo. Quando saímos de lá, eu fiz de tudo para chegar a tempo, mas quando entrei na sala VIP, vocês já haviam partido. - Meu estômago revira só de pensar naquela noite. 

E nem eu, nem David, falamos mais nada. O silêncio pesa sobre nossos ouvidos, e não ameniza a instabilidade em minhas reações internas. Se eu tivesse que parar a mão no ar, saberia que ela tremeria, por isso mantenho os dedos sobre a mesa, bem presos. Sinto um olhar pesado de David sobre mim, contudo não o devolvo, porque não quero saber o que se passa por dentro dele. E sei que veria-o em sua totalidade, porque David é transparente como água limpa. Cristalino. Se eu o olhar nesse momento, eu não iria conseguir segurar toda a verdade e acabaria contando. Isso destruiria David por dentro. E logo agora, que ele acabou de me falar o quanto bem e estável ele está. Eu simplesmente, não consigo falar ou encará-lo nesse momento. O silêncio se arrasta até o garçom chegar com os pratos principais e retirar os pratos da entrada.

Eu fito o prato de peixe, que parece delicioso, mas minha fome não é tão grande quanto a que eu sentia no saguão do hotel. Talvez pelo silêncio de meu interlocutor, ou pelas lembranças da fatídica noite. Por um descuido, ou por pura curiosidade, ergo os olhos para ele, e o que vejo é um reverberar de estrelas em suas íris límpidas. Cambaleantes luzes que compõem uma visão enternecida. Ou apenas mais uma realidade alternativa. O que vejo nele é um sentimento forte, que corrompe meu sofrimento, e me retira do torpor no qual estive escondida desde 4 de Agosto. As luzes de seus olhos não são mecânicas. Elas tremeluzem vida, e pressionam minha garganta. Algo que mexe-me por dentro, e me faz querer sorrir. Desvio os olhos para a comida, porque não posso ceder.

-Você não quis me abandonar, naquele dia, então. - O timbre de David não passa de um sussurro.

-Eu tentei falar isso por dias, mas você se negava a falar comigo. - Dou de ombros, e me calo. Eu pego os talheres, e corto um pedaço do peixe, comendo-o. Ergo os olhos novamente para David, mudando totalmente de assunto. - Que negócio delicioso. - Eu falo de boca cheia, e David ri.

-Eu te falei que a comida daqui era boa. - Ele continua. - Eu fui muito idiota.

-Foi mesmo. Me fez sofrer muito. - Comento sem pretensões, e ele me olha com as sobrancelhas erguidas. - O que? Achou que eu fosse te aliviar? - Arqueio uma sobrancelha. - Você é bem pretensioso pra quem se diz humilde. - Ele entreabre os lábios, para falar algo, mas fica calado. - Eu nem sei porque estou aqui. - Eu comento sinceramente, e dou de ombros. Ele ri.

-Pelo peixe? - David arrisca, numa clara tentativa de deixar a conversa confortável novamente. Eu rio, porque a expressão dele é engraçada. É difícil se manter com raiva de alguém como ele.

-É, pelo peixe. - Paro de comer novamente e espirro. Pego o guardanapo em meu colo e limpo o canto da boca. - Que ótimo, vou gripar.

-Fica longe de mim. - David faz um sinal com a mão, e eu assinto.

-Provavelmente farei isso. - Assim que paro de falar, vejo a expressão de David entrar em mutação, para algo acabrunhado, triste. - Foi você que pediu. - Encolho um ombro, e volto a comer. Na verdade, eu devoro o peixe como se não houvesse amanhã.

-Era só charme. - Ele retruca, e eu dou de ombros, mas de um jeito meio exagerado para mostrar que eu realmente não me importo nem um pouco, que parece mais com uma convulsão do que um desdém. - Fernanda, como eu te falei, eu queria que isso aqui fosse um recomeço.

-É, eu ouvi.

-Eu quero deixar a dor de Agosto pra trás, pra lembrar de coisas que significavam muito mais... Quero que aqueles ecos de dor fiquem pra trás. Quero me livrar dessas lembranças, pra recomeçar. Fazer do jeito certo... - Ele sorri. - Porque... - Eu o interrompo, antes que ele possa terminar uma declaração de amor.

-Nós devemos recomeçar, David. - Ele exulta, mas eu meneio a cabeça, fazendo-o concentrar-se em meu rosto. - Eu sempre serei sua amiga. - Falo sem hesitação.

-Você... - Ele pestaneja, e franze o cenho. - Você quer dizer... - Ele meneia a cabeça. - Quer dizer ser minha amiga? Seremos... Somente amigos?

-É que eu quero. - Eu franzo o queixo, e já não toco mais na comida. Nem David. Por um momento tenso, acho que começaremos a brigar novamente, mas minha preocupação se revela descabida quando a reação dele começa a se mostrar compreensiva.

-Eu te entendo. Fiz bobagem demais... Então você não quer mais nada comigo, mesmo? - Ele franze a testa, e eu curvo os lábios para baixo.

-Eu só disse que quero ser sua amiga.

-Sara me disse a mesma coisa, um tempo atrás, e olha como terminou. - David fala, com a voz grave. Eu engulo seco.

-Ótimo, você está livre para fazer o que quiser. Não precisa me ameaçar, eu estou com a consciência limpa. Não fiz nada de errado pra você. - Dou de ombros, mais uma vez, e meu interior é pressionado pela falta que a respiração me faz. Eu engulo seco.

-Não ameacei, só estou... Ratificando. Tudo bem, seremos amigos, então. Somente amigos. Estamos livres. - David tem um tom de alerta, e minha cabeça dói ao pensar que ele seria capaz de ficar com outras mulheres, porque ele já fez isso antes, com a própria Sara.

O benfiquista arrasador de corações, considerado um dos homens mais cobiçados de Portugal na época em que morava lá. Do tipo que conquistava, pegava e usava, e depois desaparecia. O cara que dizia-se casado com a bola e com o futebol, enquanto fuzilava todo o hall de famosas mulheres de Lisboa. Chamado pelos tabloides europeus de Sex Simbol dos campos, apelido do qual ele tinha vergonha. Então conheceu Sara e teve seu momento de calmaria. Até ir para Londres, e se tornar o arrasador de corações com alma tórrida e latina, o tipo de aventura quente que as londrinas, acostumadas aos ingleses frios e rígidos, queriam. Um conquistador de terras cheias de regras que nunca deveriam ser ultrapassadas. Todas as graças de David Luiz deleitavam os companheiros com alegria, e as mulheres com outro tipo de sentimento.

Bem mais cheio de volúpia.

E eu estou entregando de volta a ele essa liberdade, que transforma o pacato e bom moço David, no Zagueiro arrasador de corações. Ele já demonstrou que supera rapidamente o término de um relacionamento importante para ele. Mas e eu...?

Eu...

Serei eu capaz de superar David Luiz?

-Ainda que sejamos apenas amigos... Você vai ter que me desculpar, Fernanda, mas hoje... Eu vou te sequestrar. - Ele fala, ameno, e eu franzo o cenho.

-O que disse?

***


Notas Finais


Música do pião da casa própria: http://www.youtube.com/watch?v=m0zivwUUuJs
Música da Dona Elisa e da Fê: http://www.youtube.com/watch?v=PIb6AZdTr-A
Outro ângulo do restaurante La Societé, localizado em Saint-Germain, coisa de playboy: http://www.dopaoaocaviar.com.br/wp-content/uploads/2011/02/la_societe_do_pao_ao_caviar.jpg

ETA GIOVANA!! E AGORA?
Isso é tudo, pessoal!
Ass.: Fê.


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