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História Do Outro Lado - (Catradora e Lumity) - Quando faltam opções no cardápio


Escrita por: BriasRibeiro e naluoliveira

Notas do Autor


desculpa ter demorado gnt, ocorreu uns problema ae
mas em compensação olha o tamanho dessa caralha de capítulo

Capítulo 9 - Quando faltam opções no cardápio


18 (ou 19) de abril de 2021

É quase uma da madrugada quando Catra chega em casa.

Em sua mente otimista ela pensa que vai ter mais que 4 horas de sono essa noite, o que é mais que suficiente para enfrentar o próximo dia. Ainda bem que na firma do sr. Prime tem aquela máquina de café funcionando o dia todo na cantina.

Nos fins de semana, Catra faz um bico como garçonete no restaurante perto de casa. São só 450 reais por mês por 12 horas de trabalho semanal, para ser o reforço do estabelecimento em suas noites de pico, mas já é suficiente para cobrir o transporte, almoço e material escolar de Luz.

Quando abre a porta, encontra o seu apartamento completamente escuro. Scorpia e Luz já dormem um sono profundo. Catra ouve Melog soltar um miado longo ao vê-la entrar e, no meio da escuridão, ela reconhece aqueles olhões amarelos logo acima de Luz. Catra queria que o ambiente estivesse mais iluminado para tirar uma foto do seu companheirinho mais fiel dos últimos 7 anos dormindo nas costas da sua priminha.

– Hey, Melog! Tá com fome? – sussurra Catra. O gato se levanta miando e vem se esfregar na sua perna. Catra ri baixinho, boceja e vai encher a vasilha de comida do felino. Em seguida, se dirige à sua cama: não aguenta ficar de pé nem mais um segundo.

Ela dorme quase imediatamente ao tocar o colchão. Durante a noite, sente Melog vindo se aninhar entre o seu corpo e o de Scorpia.

Se não estivesse tão cansada, teria abraçado seu gatinho.

[...]

Tem sido difícil se concentrar.

As provas do primeiro bimestre já começam a chegar, e conforme Catra nota, Adora é sempre uma das últimas a terminar. Vez ou outra, ela tenta ficar um pouco mais de tempo após as provas. Quer conversar com ela, mas tem sido difícil. Não tem tempo. Adora a chamara no whatsapp algumas vezes neste último mês, mas nunca trocaram mais que algumas poucas palavras.

Dói, estar sendo usada.

Adora ama outra garota, e só está ficando com ela por enquanto por conveniência. Assim como com certeza tem ficado com muitas outras garotas além dela. É difícil esperar as uma ou duas vezes no mês em que Catra consegue encontrar disposição pra abrir mão de seu descanso e ir transar, afinal.

“Eu não namoraria comigo mesma”, ela reflete, observando a mesma fileira de caixas de… sabe-se lá o quê pelos últimos 5 minutos, sem tomar nota alguma. Quando percebe, é como um soco de realidade. Ela checa as caixas e anota em sua prancheta a quantidade e valor dos produtos.

Como dito anteriormente, tem sido difícil se concentrar.

Desde aquela sexta-feira à noite, quando ficou com Adora no camarim, e aquele sábado, quando assistiram Luz e seus amigos da escola jogando aquele jogo de nerd, elas não tiveram uma conversa de verdade.

Outro dia, ela viu Adora postando uma foto em efeito preto-e-branco no seu Instagram pessoal, com uma legenda to tipo “sentindo falta dela”. Seus fãs e amigos a zoando nos comentários por estar apaixonada.

Catra nem sabe mexer no Instagram. Havia criado só pra seguir a página da Panic Velcro e ver as fotos da Adora, e outras artistas e celebridades para quem queria dar... quero dizer, a quem admira.

“Caralho, eu sou uma boiolinha da porra”, ela conclui, com certo nojo de si mesma, e distraída dos seus afazeres, tromba com um cara alto, de terno e pele branca feito geladeira.

Se fosse qualquer outro ser humano no mundo, ela teria gritado “caralho mermão, sai da porra do meu caminho!”. Só duas pessoas são exceções: para Adora, teria dito “caralho princesa, fica no meu caminho”, e para o seu chefe, sr. Prime, teria pedido desculpas.

– Ah! Desculpe, senhor – ela murmura, desanimada, e dá a volta por ele, seguindo pelo corredor de mercadorias até a sua sala. Ela sente os olhos do sr. Prime em suas costas. Engole em seco. Segue o seu caminho.

Assim que fecha a porta do escritório atrás de si, Catra respira aliviada, como se tivesse acabado de fugir de um monstro. O alívio não dura muito: sequer tem tempo de chegar à sua mesa e a porta abre atrás de si.

– Uma palavrinha, Clementina? – aquela voz suave e arrogante soa às suas costas. Catra se senta em sua cadeira, abre o Excel, começa a repassar os dados das suas planilhas.

– Sou toda ouvidos, senhor.

– Sabe, Clementina. Eu tenho ouvido relatórios dos outros supervisores. Eles dizem que você parece avoada ultimamente. Cometeu erros bestas. Se tornou menos produtiva.

A mulher enrijece os músculos do braço. Tem vontade de socar a tela do seu computador. Bando de traidores.

Ela não retruca. Não se atreveria a retrucar.

– Eu te coloquei como supervisora por uma razão, Clementina. Você é jovem, inteligente. Sempre foi esforçada, ambiciosa. Sei que você vale mais que esses erros estúpidos. Então me diga, Clementina... o que está te distraindo?

– Você quer mesmo ficar ouvindo uma universitária chorando sobre sua vida amorosa? – replica Catra, sem tirar os olhos da tela do seu computador, permitindo um leve sorrisinho de canto de boca em seu rosto.

Ela percebe pelo canto dos olhos a expressão pouco satisfeita do seu chefe. Contanto que mantenha seu sarcasmo sutil, não deve ter que lidar com grandes consequências.

– Não era uma pergunta para a qual eu esperava uma resposta, Clementina.

– Desculpe, senhor. Não percebi – ela se faz de inocente. Tem uma expressão tão impassível e um tom de voz tão monótono que até ela quase acredita no que diz.

– De qualquer forma, não deixe sua vida pessoal interferir no seu trabalho, Clementina. Você deve manter uma conduta profissional – pelo canto dos olhos, ela nota seu chefe silenciosamente se aproximando de sua mesa, até estar perto o suficiente para sentar na sua borda, e é o que ele faz – ainda mais no nosso ramo. A não ser... que esteja pensando em sair.

Catra sente o estômago afundar por um momento. “Ele sabe?”, se pergunta, resistindo ao poderoso ímpeto de desviar os olhos da tela para encará-lo.

– Aham – ela responde, simplesmente.

– Ouvi dizer que seu pai está cumprindo pena no Paraguai. O que aconteceu?

– Essa é mais uma daquelas perguntas para a qual você não espera uma resposta, senhor?

O sorriso seco do sr. Prime se alarga levemente, Catra observa pelo canto dos olhos.

– Não, eu realmente estou interessado.

"Filho da puta, branquelo babaca do caralho, vai chupar um canavial de rola."

– Ele é burro. É isso.

– Isso não responde à minha pergunta – Catra resiste à enorme vontade de suspirar e revirar os olhos.

– Ele também trabalhava no nosso ramo, como você diz... senhor. E ele foi burro. Continua sendo. Não sei como que alguém como eu morou no saco dele um dia.

O sr. Prime solta uma risadinha leve e contida, o que para ele deve ser equivalente a uma gargalhada histérica.

– Vou te deixar trabalhar, Clementina. Afinal, você tem muito o que recuperar.

Dizendo isso, o sr. Prime sai da sala, deixando sua funcionária espumando de raiva na frente do seu computador. “Minhas 3 horas extras quase todo dia já não adiantaram o caralho do meu trabalho em uns seis meses não, ô seu filho de uma puta bêbada?”, ela tem vontade de responder, mas nada diz.

Mesmo frustrada, cansada, confusa e assombrada por aqueles pensamentos, Catra faz suas duas horas e meia de hora extra de sempre ao final do seu turno de trabalho e parte para a faculdade.

No metrô, ela sente seu celular vibrando.

 

loira gostosa

ei cat

SHOW DOMINGO A NOITE

vc vem????????? :3

 

Catra suspira.

 

Catra

n rola

eu trabalho

loira gostosa

wtf e.e

no DOMINGO????????

Catra

*shrug*

loira gostosa

pq uma empresa de importação funcionaria no domingo?????? A noite ainda

q dia q vc folga afinal????

Catra

é outra coisa

enfim foi mal n rola n

eu queria ir mas nem dá

loira gostosa

):

AH

e próxima sexta tem aquela prova DESGRAÇADA de técnicas de estatísticas

ouvi dizer q vc é boa em estatística

e eu sou boa em quase tds as outras matérias u.u

posso te ajudar u.u

n quer estudar cmg?

Catra

normalmente eu estudo na condução ou qdo sobra tempinho no trampo

ou antes do treino do muay thai enqto espero

n tenho tempo n loirinha

loira gostosa

porra

vc é difícil e.e

Catra

?

 

Adora não visualiza sua mensagem de imediato, então Catra guarda o celular no bolso e fica pensando nas suas coisas.

Até que Catra consegue lidar bem com a prova daquele dia. Pelo menos uns 60% ela acredita que conseguiu tirar, o suficiente para passar. Agora, só precisa manter o ritmo até o final do ano e finalmente pegar seu diploma.

Ela ainda fica um tempinho extra na sala de aula lendo as conversas do grupo da casa. Luz e Scorpia passaram boa parte do tempo em que Catra estava em prova mandando mensagens de boa sorte, e depois conversando entre elas sobre assuntos aleatórios – apesar de provavelmente estarem no mesmo quarto. Catra tenta teorizar o que pode ter levado a essa situação. Acha graça em como Luz parece admirar sua vizinha doida e a mãe ainda mais doida dela.

Ver Scorpia tentando falar espanhol é engraçado. É o maior exemplo de portunhol que ela já viu na vida.

Catra se toca que está passando tempo demais ali. A conversa das duas parece não ter fim. Ela se levanta e se dirige à saída.

Antes mesmo de deixar a FEA/USP, Catra avista Adora encostada numa parede, de camisa regata e minishorts, aquela sua expressão metida de quando está em modo pós-show, conversando com duas garotas que Catra desconhece. Uma delas parece um tanto perto demais. Adora parece bastante confortável com a proximidade excessiva.

Catra suspira e segue o seu caminho.

[...]

Enquanto isso, Adora empurrava Perfuma, rindo da sua piada idiota sobre aquela garota atirada que flertara com ela certa vez. Mara gargalha mais alto que as duas, de forma até meio exagerada, e enquanto ri, Adora desvia o olhar delas por um momento.

Avista uma certa cabeleira densa deixando a faculdade a passos rápidos. “Catra”, Adora identifica imediatamente, e faz menção de ir atrás da garota, se esquecendo completamente de Mara e Perfuma e quase atropelando elas no caminho.

– Ei!

– Foi mal! Já venho!

E dispara atrás da colega.

– Hey! Catra! – a garota dos olhos bicolores não lhe dá atenção a princípio. Até que Adora a toque o ombro a chamando mais uma vez, ela se encontra completamente absorta em seus pensamentos e em algumas fotos que Eda enviara, mostrando Luz fazendo seus deveres da escola na sua mesa de jantar com King e Melog sempre por perto, tentando a chamar atenção da menina.

– Oh. Oi, Adora – Catra cumprimenta, sobrancelhas arqueadas. O detalhe não passa despercebido por Adora.

– Oi, huh... como você tá?

– Tô bem – Catra fica encarando a loira fixamente. Se pergunta o que será que ela quer. Acabou de vê-la flertando com outras garotas e veio atrás dela, será que está buscando inspiração pra mais uma música sobre orgia lésbica?

– Eu e umas amigas vamos pra uma social agora – Adora comenta, dando aquele seu sorriso leve de olhar malicioso que sempre faz a vagina de Catra lacrimejar – não é nada especial, mas... quer ir também?

Catra matuta por uns momentos.

– Quem mais vai? Bow e Glimmer?

– Ah, a Gi e o Brunin não vão, tão num date juntos. Tô indo com duas amigas minhas, Perfuma e Mara.

“Num date?” estranha Catra. Sempre julgara o baixista da banda como gay. “Perfuma e Mara”, suspira Catra. Devem ser aquelas duas garotas com quem ela estava flertando.

– Saquei – murmura Catra – não sei não, loirinha. Eu tenho que trabalhar amanhã.

– Meu deus Catra, tem ALGUM dia da semana que você NÃO trabalha? – Adora pergunta. O tom sério e irritado dela é um pouco assustador. Catra pensa bem.

– Não.

– Onde você trabalha afinal, que precisa de você 7 vezes por semana? Você sabe que isso não deveria acontecer, não é? Por lei, você deveria ter um dia de descanso semanal! Se a empresa não consegue se virar sem você, o problema é deles, eles que contratem mais funcionários!

– Eu não tenho só um emprego, loirinha...

– Porra! Se sua situação tá tão ruim assim, fala comigo! Por favor! Eu não ganho muito no meu estágio, mas posso dar uma ajuda! Meus pais ganham bem! E do jeito que você se esforça, merecia uma promoção ou um aumento! Pelo amor de deus Catra, não é possível que sua situação financeira seja tão ruim que você não pode nem viver!

Catra se sente genuinamente surpresa. Até desvia o olhar do chão que estivera encarando desde o começo da conversa para fixá-los nos olhos da cor do céu de Adora. Apesar da cor fria, eles queimam como uma brasa passional, ela tem os ombros rígidos, e seus braços paralisados num meio-caminho de gesto enraivecido. Catra se inclina ligeiramente na direção da loira, pousa a mão em seu ombro e sussurra em seu ouvido:

– Não é falta de dinheiro que faz minha situação ser ruim, loirinha. É o que vem depois – Adora sente calafrios percorrendo a sua espinha. Ela cerra os punhos e morde os lábios para resistir ao instinto de agarrar essa mulher e dar a ela o beijo mais intenso de suas vidas.

É estranho ela achar a aura de mistério que cobre Catra tão sexy assim?

– S-só meia horinha – Adora gagueja.

Catra suspira, fecha os olhos e reflete. Meia horinha. Talvez seja a meia hora a menos que ela terá para revisar o TCC daquele aluno de contábeis, e é bem possível que essa meia hora se estenda por bem mais que meia hora... Catra quer ir. Se sente cansada e sabe que vai precisar estar descansada para amanhã, mas quer ir. Porra, é tão bom quando chega sábado e domingo e ela pode acordar às 7 e meia em vez das 5, ter uma noite completa de sono! Mas aqui está a garota que já a convenceu a faltar na própria stream pra assistir um bando de pirralho jogar RPG. “Porra, eu já faltei num dia de trabalho por causa dela”, a realização acerta Catra. “Não devia fazer isso de novo, nunca”. Ela deixa o seu mundinho dos pensamentos particulares para encarar a loira e dar sua resposta. Ela abre a boca para começar a falar, mas não consegue juntar coragem ao ver aqueles olhinhos pidões.

“Táquepariu Adora, tu é uma cantora punk que canta sobre torturar o Bolsonaro e participar de orgia sapatão”, Catra amaldiçoa em pensamento.

– Minhas amigas são legais – promete Adora – ah, por que não chama uma amiga sua? S-se for te deixar mais confortável...

Catra levanta as sobrancelhas. Sente vontade de rir.

– Beleza, peraí.

Catra dá as costas para Adora e envia mensagem para Scorpia.

 

Catra

ei

acordada?

mina escorpião

fala gata selvagem

 

E vários emojis de gatinho na frente da mensagem.

 

Catra

a luz ta dormindo?

mina escorpião

ela dormiu no sofá da eda com o king no colo shdsbhadhsbadshj

tirei fotos, tá tão fofo

 

E aqueles emojis de carinha pidona que faz Catra pensar em Adora.

 

Catra

eu to indo numa social com as mina da facul

ja q a luz ta com a eda, qr colar la?

mina escorpião

vc ta me chamando pra sair?????

 

Ok, aquele monte de emojis com uma carinha pidona também são a cara da Scorpia.

 

Catra

vc vem ou n?

mina escorpião

VOU

MANDA O ENDEREÇO JA CHEGO AE

 

No fim, Catra realmente não fica lá por muito tempo. Não consegue ir com a cara daquelas duas “amigas” de Adora de jeito nenhum, não consegue se integrar na conversa, e se sente cada vez mais deixada de lado. Ao final da sua primeira caipirinha, ela pega sua mochila e vai embora, dizendo que está com sono e precisa trabalhar na manhã seguinte.

Scorpia, pelo menos, parece estar se divertindo muito. E foi uma bênção trazê-la, ela fica para trás dando desculpas às outras em seu lugar e impedindo que Adora insista em fazê-la ficar, mesmo sem querer.

“Divirta-se, Scor”, Catra deseja em pensamento. Sempre achou que sua amiga merecia companhias melhores do que ela.

[...]

Durante aquele resto de semana, Catra sente que seu chefe tem pegado ainda mais no seu pé. Mesmo ela se esforçando para se concentrar, e tendo certeza de que está cometendo bem menos erros que nas semanas anteriores. Ela quase não tem coragem de ir pedir pela folga que já estava combinada desde a semana anterior que teria hoje, a partir das 3, somente uma hora antes do seu horário de saída pelo contrato, apesar de quase nunca sair realmente às 4. Mas precisa fazer isso, por Luz. Ela prometeu... não para Luz. Para Scorpia e para si mesma, e espiritualmente, para Luz também. Será uma surpresa para ela. E outra, andou ouvindo de Scorpia e Adora o quanto sua priminha joga bem. Nunca imaginou que aquela otaku que ficava postando fancams de desenho animado e AMV de anime no twitter todo santo dia seria atlética.

Catra bate com os nós dos dedos na porta do sr. Prime duas vezes.

– Senhor? – ela chama, abrindo a porta dele sem que ele desse autorização. Já são “íntimos” demais para isso – oi, sr. Prime. Só estou vindo avisar que estou saindo agora. O senhor lembra que eu falei disso, né?

Seu chefe se encontra sentado numa cadeira de escritório com encosto alto, toda preta, e as pernas esticadas por cima da mesa. Tem óculos pequenos e quadrados apoiados na ponte do nariz enquanto encara a tela do seu computador e fuma um cigarro. Quem o vê, pensa que o homem está muito tranquilo.

Catra já o conhece bem demais para isso. Tem os músculos tensos e a postura retesada, como quem se prepara para fugir a qualquer momento. Claro, isso nunca foi realmente necessário, mas o sr. Prime... ele consegue ser bastante impiedoso, quando não está posando de diretor de empresa de importações para a sociedade.

A jovem supervisora sempre toma o cuidado de ter uma arma com ela quando está perto dele.

– Claro, Catra – ele replica, um sorriso mais falso que nota de 3 reais se formando no rosto, a voz mais seca que o deserto do Atacama – afinal, foi o nosso combinado, não foi?

Há um quê de sarcasmo em sua voz.

– S-sim... eu vou repor minhas horas no sábado – ela relembra. Terá que matar seu treino de muay thai para isso. Já consegue imaginar a carinha triste de Luz por não poder acompanhá-la nesse fim de semana… sente que está tirando de um lugar pra por em outro. Será que faz sentido? Vale a pena, no final das contas?

– Claro – seu chefe acena duas vezes, desanimado, e põe os pés para baixo da mesa. Quando Catra começa a fechar a porta, ele continua, num tom mais baixo, frio e cortante feito uma lâmina, fingindo falar despretensiosamente consigo mesmo – me preocupa que esteja se distraindo das suas responsabilidades com o entretenimento pessoal, mas claro. Afinal, você será a única a enfrentar as consequências destes atos.

– Até mais tarde, senhor – Catra replica, fingindo não ter ouvido.

Filho da puta. Queria descarregar seu 38 na cara dele.

Catra acaricia de leve o cabo da arma escondida no coldre, debaixo da jaqueta, acalmando a sua mente. Não pode sair dando tiros na cara dele assim, isso destruiria sua vida. Ele merece e ela merece ter o gostinho, e talvez ela mereça passar o resto da vida na prisão por permitir que tantas drogas pesadas chegassem às mãos de jovens, por permitir a destruição dos seus seios familiares, por estimular o seu vício, por manter a violência urbana e a guerra às drogas viva. Mas, como qualquer outro ser humano, Catra é uma egoísta e não pretende nunca pagar pelos seus crimes.

São só mais três anos, se tudo correr como planejado.

Precisa relaxar. Parar de pensar em coisas sérias. Hoje é dia de ver sua priminha jogar e se orgulhar daquela nerd baixinha. Tá doida pra ver como ela vai se sair no meio de um bando de branquelo.

– Moça, chegamos – avisa o Uber, puxando a garota de volta ao mundo real.

– Ah, valeu – ela agradece e desce do carro, sabendo que a corrida já fora paga no cartão. Observa o portal de entrada da escola. “Instituto Saint Peter”, lê naquele letreiro de fonte toda cheia de frescuralhada.

Catra enfia as mãos no bolso da bermuda e, de cabeça baixa, como se tímida pelo lugar que está entrando, ela atravessa o portal.

Só havia entrado naquela escola de burguês safado duas vezes. Uma para conhecer e outra para inscrever Luz. Não fosse por Luz, jamais teria chegado nem perto de um lugar assim, mas precisa que alguém tenha uma base decente pra construir a vida e apoiar a família quando ela sumir no mundo.

Ela tenta se lembrar onde ficam as quadras. Passa pelo caminho pavimentado entre dois edifícios diferentes, caminhando a passos lentos e olhando ao redor pra ver se acha alguma placa, algum tipo de mapa ou indicação. Essa caralha deve ser quase tão grande quanto o campus da faculdade.

Quando finalmente encontra a quadra, o jogo já começou. Ela reconhece Luz sentada no banco, ao lado da irmã de Adora e outras garotas que não conhece, assim como uma mulher gigantesca, de pele negra e cabelos platinados. Um placar na parede atrás de um dos gols indica o placar de 2 a 0 para o time adversário, um tal “Maple Leaf High School”, representado por garotas de camisa branca e shorts e meião vermelhos.

Catra estaca perto das arquibancadas sem saber para onde ir. Tudo parece tão cheio...

– Catra!!!! Catra, é você?! – ela ouve uma voz conhecida e, no meio da multidão, localiza uma certa loira tatuada que acena animadamente na sua direção. Como se puxada por uma força maior, Catra instintivamente caminha na sua direção, subindo as arquibancadas até o último andar.

– Hey, Adora.

– Catra!!! – Adora a abraça de surpresa. Catra congela por um momento, e quando pensa em retribuir, a loira a larga e desembesta a falar – não acredito que você tá aqui! Nossa, a Luz vai ficar tão feliz!

– Ah, é... – a loira acena animadamente na direção das reservas, dando pulinhos no lugar com um sorriso rasgado na cara, enquanto grita o nome da sua irmã. Por fim, ela atrai a atenção de Amity e Luz. O rostinho tristonho e desanimado de Luz se levanta lentamente e, ao avistar sua prima bem ao lado de Adora, ainda que meio retraída, se torna gradualmente um sorriso. Luz e Amity se levantam ao mesmo tempo e acenam de volta. Adora dá uma cotovelada em Catra.

– Ai! Qual é?!

– Acena pra ela, Catra! É sua prima!

– Hã...

Catra timidamente levanta o braço e dá tchauzinho. Se sente meio ridícula.

[...]

Luz quase não consegue acreditar! Ela realmente está aqui! Clem está aqui, assistindo seu jogo, quando normalmente estaria trabalhando! Mesmo depois de dizer ontem à noite que ficaria ocupada!

– Treinadora Huntara!!! Eu posso entrar em o jogo?! – ela quase se atira na sua treinadora, que desvia os olhos da quadra por um segundo e logo torna a prestar atenção no jogo, gritando à sua fixa que preste atenção na marcação – por favor, eu estou me sentindo ótima! Sinto que vou fazer algo incrível! Vou dar tudo de mim!

– Heh, você tá animadinha, hein? Assim que eu gosto de ver! Luz, pro aquecimento!

Luz dá um gritinho de animação e começa a corridinha no lugar mais frenética que Amity já vira em toda sua vida. Quando entra no jogo, não precisa nem de trinta segundos de partida para o seu primeiro desarme espetacular, na lateral do campo defensivo, cortando o ataque adversário. Na cobrança do lateral, ela mais uma vez antecipa a bola, e dessa vez, lança um contra-ataque perigoso, que termina com Frosta chutando rente à trave.

Após a entrada de Luz, a marcação das Saint Peter se torna bem mais pesada, e pouco a pouco, elas recuperam terreno, entrincheirando cada vez mais as suas adversárias na defesa. Nos cinco minutos finais do primeiro tempo, elas não conseguem mais nenhum ataque.

Faltando um minuto pro final do primeiro tempo, Boscha dá um belo drible na ala adversária e chuta colocado da lateral da quadra. A bola faz uma curva sutil, mas suficiente pra tirar da goleira, e vai morrer no fundo das redes. Um belo gol que diminui o placar pra 2 a 1.

Quando as titulares voltam para o banco, Huntara as aplaude. Dá tapinhas nas costas de Luz que quase a derrubam no chão e ela sorri, feliz da vida.

– Assim que se faz, menina! Vocês todas aí tinham que aprender com essa paraguaia, raçuda pra ca... ramba! Ah, segundo tempo, Isabela e Frosta vão descansar, Amity e Mariana entram, Boscha vai fazer o pivô.

– Ah que sacanage véi, nem marquei meu gol ainda! – Frosta sai reclamando, andando na direção dos bebedouros.

Quando as garotas voltam dos bebedouros, Amity entra na quadra ao lado de uma Luz suada e sorridente, muito satisfeita com o reconhecimento e o desempenho até ali. Ela olha na direção da arquibancada, lá naquela parte onde Adora e Clem se encontravam, como se checando se sua prima ainda está lá. Ao confirmar que sim, não consegue nem conter seu sorriso rasgando-se ainda mais e as bochechas queimando.

Vamos vencer, Amity! – sussurra a paraguaia no ouvido da brasileira, que sente os pelos da nuca se arrepiarem. Ela esconde a boca instintivamente numa das mãos e tem certeza que seu rosto ruborizou-se ao menos um pouquinho.

– V-vamos sim!

Apesar disso, a animação e felicidade de Luz contagiam Amity, e ela entra no jogo sentindo confiança total.

A partida recomeça. Boscha dá o pontapé inicial tocando para Mariana, que recua para Luz, que toca rápido para Amity na ala direita. Ela sente um tranco da adversária às suas costas e devolve rápido para Luz, que domina a bola, dá dois passos pra frente e, quando percebe Amity escapando pelas costas da sua marcadora, acerta um passe forte e rasteiro, que a garota dos cabelos verdes domina com maestria na corrida, finta a fixa adversária e rola para Boscha, na entrada da área, chutar com força. A goleira faz uma defesa espetacular.

– Puta que pariu, caralho, porra! – xinga a pivô, pisando forte.

– Calma aí, ô – ralha Amity, incomodada, e se dirige à bandeirinha do escanteio. Boscha e a outra atleta vão se posicionar dentro da área, enquanto Luz fica na cobertura do time, perto da linha da meia-quadra.

– AQUI! TOCA PRA MIM, BLIGHT! TÔ AQUI! TÔ LIVRE! – Boscha grita mais alto que qualquer um na arquibancada. Amity fixa as duas garotas na área, meio em dúvida se é mesmo a melhor opção, com quatro das cinco jogadoras adversárias em cima dela.

Ela toma uma decisão por instinto, motivada por uma confiança que normalmente não sente, e toca pra trás, na direção de Luz. A paraguaia reage rápido, arranca na frente da pivô adversária, domina a bola, protege, finta pra dentro, fica no pé esquerdo pra bater, finge o chute, segura a bola, volta pro pé direito, e dessa vez sim, ela chuta, com toda a força que consegue colocar na perna.

Mais uma vez, a goleira defende, espalmando a bola na direção da lateral, mas a ala dos cabelos verdes domina a bola antes que ela possa sair. Amity nota pela sua visão periférica a ala adversária vindo agressivamente pra cima dela, dá uma ginga de corpo e escapa com uma arrancada na direção da linha de fundo. Dessa vez, é a fixa quem vem dar combate. Amity gira pra cima dela e escapa mais uma vez, e na arquibancada, seus amigos Gus e Willow começam a puxar gritos de “olé!” entre os estudantes da Saint Peter.

– Passa pra cá, Blight! Tô livre, porra! – ela ouve a estrelinha do time mandar. Em vez disso, dá mais uma girada pra cima de outra defensora, escapando pelo espaço mínimo entre ela e a que acabara de driblar, que voltara para pressioná-la, e sai praticamente em cima da goleira. Meio desconcertada, a guarda-redes adversária tenta avançar contra Amity, mas ela nota o espaço livre entre a adversária e a trave e chuta forte e alto.

A goleira não tem chance alguma: 2 a 2, e os alunos da Saint Peter explodem em comemoração nas arquibancada, e Amity instintivamente ignora Boscha quando ela tenta vir abraçá-la na comemoração e corre até Luz, que a levanta no ar feito uma heroína, as duas gritando “gol” euforicamente.

Quando Luz a coloca no chão, Amity nota o que acabou de acontecer e começa a rir nervosamente, e Luz acompanha ela nas risadas, de forma bem mais descontraída.

O jogo recomeça com as adversárias pressionando com tudo o que podem. Luz consegue antecipar e roubar a maioria das bolas, o que faz com que a equipe rival comece a arriscar vários chutes de longe, a maioria deles sendo defendidos por Skara. Boscha e Mariana saem durante o jogo para a entrada de Frosta e Júlia, e Luz passa a fazer a função de ala com as substituições.

Frosta arremata da entrada da área e a goleira espalma pra linha de fundo. Uma ala adversária com o nome Paula na camisa chuta de longe, uma bola forte, e Skara salta e agarra a bola no ar, com segurança. Amity entorta a fixa adversária e rola para Luz chegar fuzilando, mas a bola passa rente à trave. As Maple Leafs respondem com um contra-ataque rápido e furioso na cobrança do tiro-de-meta, que termina numa defesa inacreditável de Skara.

– VAMO, CAMBADA! VOU PAGAR UM LANCHE PRA QUEM MARCAR O GOL DA VITÓRIA! – Huntara urra da beira da quadra. A proposta faz o ritmo das suas meninas acelerar, mas as Maple Leafs conseguem resistir bem à pressão, e aos poucos começam a atacar pelo lado da quadra de Amity, evitando o lado de Luz. A paraguaia não deixa barato e acompanha o movimento das garotas alvirrubras, ocupando a região central da quadra.

Mas nem a marcação pesada de Luz impede que as Maple Leafs finalmente cheguem ao gol, a cinco minutos do fim: duas jogadoras tabelam pra cima de Amity, e quando Luz vem dar combate, a ala com a posse da bola toca forte para o meio da quadra, para a fixa livre tocar nas costas da fixa das Saint Peter e a pivô receber, dar uma girada e chutar com força, no cantinho inferior de Skara, que não alcança a bola por um milímetro. 3 a 2 para as Maple Leafs.

É como um balde de água fria em Amity.

– Luz, volta pra posição de fixa! Júlia, pra cá, Boscha entra! – a treinadora Huntara sempre tem aquela voz e jeitão de sargenta, mas naquele momento especificamente, sua insatisfação é óbvia. Não há aquela autoridade, aquela raiva fingida que esconde um ar de camaradagem, a atitude brincalhona de “PRA CIMA, FILHAS DA... MÃE”. Ela fica mais quieta, com uma voz mais gutural e semblante concentrado – ô Nandinha, se você marcar um gol eu te pago DOIS LANCHES!

Frosta odeia ser chamada de Nandinha. A cara da pivô se fecha em raiva misturada a concentração: ela quer ganhar os dois lanches, custe o que custar!

Quando a partida recomeça, são as meninas do Saint Peter que avançam com toda a sua fúria. Boscha chuta da lateral da quadra e acerta a trave, Amity dribla uma ala adversária e cruza rasteiro para Frosta chegar chutando pra fora, Luz arrisca da meia-quadra e a goleira espalma por cima do gol. Cada vez mais, as Maple Leafs se concentram na frente da área e suas tentativas de ataque se tornam mais raras e menos audaciosas, contando com a sorte e a habilidade da sua goleira para não levar o gol do empate.

– NANDINHA E GERTRUDES, PAREM DE SER FOMINHA! – Huntara bronqueia da lateral da quadra – QUEM NÃO PASSAR A CARAL... A DROGA DA BOLA VAI ESQUENTAR BANCO NA PRÓXIMA PARTIDA!

Após o comando, ainda que a contragosto, as duas estrelas do ataque passam a tocar a bola uma pra outra.

A dois minutos do final, Amity sofre uma falta perto da área. Ela mesma vai pra cobrança. Frosta e Boscha se posicionam dentro da área e Luz, pouco atrás da área, todas elas marcadas de perto pelas garotas da Maple Leaf.

Amity observa a movimentação das companheiras sem saber pra quem tocar. Todas estão fortemente marcadas. Elas correm, gingam, tentam se livrar das adversárias, mas nada funciona.

CHUTA, AMITY! CHUTA DIRETO! – Luz grita em espanhol, e logo em seguida o árbitro apita, permitindo a cobrança.

Amity segue o conselho da paraguaia. Fixa o olhar no cantinho do gol, no lado oposto ao que a goleira se encontra, protegido pela barreira. Amity corre pra bola e dá um chute forte, rasteiro. As duas garotas da barreira pulam, prevendo um chute alto, e a bola passa por baixo delas. A goleira não alcança: 3 a 3.

Amity mal consegue acreditar. Ela fica paralisada por um segundo onde cobrou a falta, e subitamente sente o peso de Luz pulando em suas costas e gritando gol, Frosta a abraçando pela frente e tentando levantá-la com o peso de Luz ainda em suas costas, e Gus e Willow na arquibancada puxando gritos de “AMITY, RAINHA, MAPLE LEAF, NADINHA”.

– ISSO AÍ, PORR... CARAMBA! – Huntara comemora da lateral, dando socos no ar – Ô AMITY, FAZ MAIS UM GOL E EU TE PAGO QUATRO LANCHES!

Amity jamais conseguiria comer quatro lanches. Ela provavelmente dividiria com seus amigos. De qualquer forma, não há tempo pra mais nada, e o jogo acaba terminando em 3 a 3.

[...]

Assim que a partida termina, Catra se levanta.

– Ei, tá indo onde? – Adora a segura pelo pulso antes que a garota tenha a chance de começar a andar.

– Ué. Voltar pro trampo, que cê acha?

– Poxa, Catra! Não vai nem falar com a Luz?! Olha como ela tá feliz! – a loira indica Luz e Amity, sentadas lado-a-lado no banco de reservas, Luz com um sorriso rasgado na cara e Amity um tanto mais tímida, enquanto um garoto com uniforme estereotipado de jornalista pouco mais novo que elas bate uma foto. Logo após a foto, a treinadora se posta atrás das duas e aperta seus ombros, gritando pra quem quiser ouvir que encontrou as duas novas craques do time e que vai pagar o lanche delas na cantina no dia seguinte.

– Eu já fiz o que ela queria Adora, agora eu preciso voltar pro trampo, meu chefe já tá puto comigo porque eu saí. Anda, me larga – ela tenta se desvencilhar do pulso da loira, mas não consegue. Adora a segura firmemente.

– Nananinanão, senhorita supervisora de produção Clementina Noceda! É só cinco minutinhos, pra parabenizar sua prima que jogou pra caramba! Você não viu como ela ficou feliz quando viu que você veio?!

Catra encara os olhos azuis profundos de Adora por uns momentos, distraída pela intensidade com que eles a encaram, antes de tornar a desviar-se para Luz, cercada por outras garotas com o mesmo uniforme negro que ela.

– Beleza, mas tem que ser rápido. Já vou ter que fazer umas pá de hora extra pra repor – Adora bate palminhas frenéticas e corre pra escadaria da arquibancada, puxando Catra pelo pulso.

– A impressão que eu tenho é que você tá sempre trabalhando, você já não tem crédito de hora extra suficiente não? – ela ri, quando as duas estão na metade da escadaria.

– Repor meus crédito e hora extra né, ô cabeça – replica Catra, bastante séria.

– Eu hein, cê devia viver um pouco mais a vida! Falar nisso, eu sei que você disse que domingo cê trabalha, mas e sábado à noite? A galera do curso combinou uma confraternizaçãozinha e pá, cê deve ter visto no grupo!

– Ah, nem dou atenção se não tiverem falando de trabalho ou prof cancelando aula.

– Poxa, Catra... mas tudo bem, eu te envio o endereço pelo whats depois!

– Eu trabalho no sáb...

– Ô AMITY! LUZ! – Adora se enfia no meio de um monte de estudantes e professores, puxando Catra com ela, e vai imediatamente até a irmãzinha surpreendê-la com um abraço de urso – caralho, hein Verdinha! Mandou ver! Dois gols!

As duas irmãs mergulham no próprio mundo, conversando sobre o jogo e como Adora mais uma vez está faltando ao estágio – “eu reponho no sábado, se preocupa não!”, ela tranquiliza Amity – deixando Catra e Luz a sós na superfície da realidade.

... hey, Luz. Jogou bem – sua prima paraguaia sorri abertamente e dá um abraço rápido na mais velha.

Você viu, Clem?! A gente tava perdendo por 2 a 0, depois que eu entrei a gente se recuperou! Viu quantas bolas eu roubei?! Ah, você viu que eu que falei pra Amity chutar direto, né?! Nossa, ela joga pra caramba, tinha que confiar mais no potencial dela mesma! Foram dois golaços! Ah, a treinadora Huntara falou que vai pagar nosso lanche amanhã também! Você devia conhecer ela, ela é muito legal!

Eu vi, menina elétrica. Ah, bom, eu... tenho que voltar pro trabalho agora, ok? – Luz assente. Ela ainda sorri, mas não com a mesma animação que antes, conforme Catra se afasta andando de costas, dando tchauzinho. Luz acena de volta.

Ah, a Eda e a sra. Razz vão me ensinar a fazer torta hoje! Quer que eu deixe um pedaço pra você?!

À vontade, baixinha. Falou, viu? Fica bem e vê se escuta a sra.  Eda, e não esquece de fazer seus deveres de casa só porque venceu hoje, ok?

Não se preocupa!

Quando Catra deixa o complexo esportivo do Instituto Saint Peter, se sente até mais feliz. Mais leve. Acha que valeu a pena ter perdido mais uns minutinhos pra falar com sua prima. “É, o sr. Prime que lute”, decide Catra, sacando o celular do bolso para ouvir música enquanto caminha até o metrô.

Naquela noite, Catra chegaria quase morrendo de exaustão da faculdade, mas encontraria um belo pedaço de torta de morango lotada de chantilly a esperando na geladeira. Apesar de doce em excesso nunca ter sido o estilo de Catra, ela aprecia o presente, comendo lentamente na bancada da cozinha à luz do celular, observando sua prima e melhor amiga já adormecidas.

[...]

24 de abril de 2021

O trabalho nos fins de semana na lanchonete dos pais de Mermista sempre é muito mais pesado que o normal, devido aos intensos horários de pico da noite. Por essa razão, Mermista “recrutara” – ou melhor, fora praticamente forçada a recrutar – Catra como reforço pro time de garçons de sábado e domingo.

O pagamento não é tão alto assim, mas qualquer centavo conta, na visão de Catra. Mermista é outra que dá uma mão nos fins de semana, mas só as vezes. Hoje, por um milagre divino, ela está presente.

– Ô vira-lata, mesa 7! – manda sua amiga, como sempre, se achando a chefona do lugar. Catra suspira e obedece. É um casal de meia-idade com uma filha de uns 13 anos, cara lotada de maquiagem e enfiada no celular.

– Boa noite, sejam bem-vindos à Lanchonete Salineas! O que desejam? – acostumada aos sorrisos e gentileza falsa, ela entrega aos clientes o que esperam. Até mesmo conquista um sorriso da mulher.

– Pode trazer o cardápio, por favor?

– Aqui está, moça. Quando decidirem, é só chamar, viu? – ela diz, oferecendo um sorriso leve e gentil como se estivesse feliz da vida por estar falando com aquela família.

Catra está sim, feliz da vida, mas não por isso: está feliz pelo dinheiro extra que ganha. Ela já começara a transferir boa parte do dinheiro da sua conta pra conta recém-criada de Luz, criara até uma poupança em seu nome.

Já são quase 11 horas. Só mais uma hora separam ela de se livrar das piadas horríveis de Mermista.

– Ô emo, tá fazendo o quê aí? O pedido da mesa 14 já saiu, tá vendo não? – provoca Catra, cutucando o ombro da colega ao alcançá-la perto do balcão.

– Eu que pergunto, ô vira-lata – retruca a outra – vai servir a mesa 14. E para de me olhar assim, eu tô fechando a conta da mesa 23! Ah, chegou mais gente numa das mesas do lado de fora, aquela do cantinho, vai lá atender depois – Catra nota um ar risonho em Mermista quando ela afirma isso. Desconfiada, acata suas ordens.

“Mas puta que pariu”, pensa Catra, ao avistar uma certa loira tatuada. E ela não está sozinha, nem de longe: não são só aqueles seus dois amigos da banda, também tem uma garota de pele negra e cabelo platinado, uma alta, gordinha e de cabelos rosas, aquela garota do dia da social com vestidão hippie e flores na cabeça e por fim, Scorpia. “Que que a Scorpia tá fazendo aqui?”, pensa Catra, exasperada.

O grupo juntara duas mesas numa só e conversam alto, chamando a atenção das mesas ao redor. A garota das flores na cabeça se põe excessivamente perto de Scorpia, o que faz faiscar uma estranha vontade de gritar “ei!” na direção dela. Mas Catra suspira fundo, se acalma, põe o seu melhor sorriso falso no rosto e, munida de seu fiel bloquinho de notas, dois cardápios que simulam uma prancheta e caneta, caminha na direção do grupo.

– Boa noite, bem-vindos à Lanchonete Salineas! O que desejam?

A julgar pelo olhar surpreso de Adora, Scorpia não contara ao grupo sobre Catra trabalhar ali. Na verdade, desde quando Scorpia é tão amiguinha deles? Aquela social foi tão longe assim ao ponto de estarem saindo pra rolê juntas, agora? Ignorando seus pensamentos ansiosos, a garçonete foca-se em sorrir. Por outro lado, ela gosta do efeito que exerce em Adora: a loira, totalmente sem reação, tem a boca ligeiramente aberta e os olhos perdidos no decote de Catra. Finalmente, aquele uniforme excessivamente revelador que os pais de Mermista a obrigam a usar serviu pra alguma coisa. Quer dizer, já havia servido antes, mas agora...

– Dorinha, cê tá babando – ri Glimmer, empurrando o queixo da amiga pra cima. Adora assume a melhor postura de quem com certeza não entrou em choque de ver a crush inesperadamente, sorri daquele jeito malicioso que faz Catra querer dar um soco e a buceta pra ela ao mesmo tempo, e solta, na maior cara-de-pau do mundo, bem na frente de todos os seus amigos:

– Tem você no cardápio, gatinha?

“Puta que pariu, que vontade de me enterrar viva”, pensa Catra, resistindo ao impulso de bater com os cardápios na cara. Quando se recupera do choque – o qual disfarça com perfeição graças à sua expressão completamente inalterada – ela nota Scorpia, que encara Adora como quem acabou de levar um soco na cara. Duas das três garotas desconhecidas e mais a baterista da banda riem descaradamente.

– Adora, eu tô trabalhando, não me faz passar vergonha – ela murmura, esperando que só a loira a escute. Adora responde com um olharzinho malicioso, mas não fala nada.

– Traz o cardápio aí pra gente, moça – pede a garota negra dos cabelos platinados. Catra assente, deixa seus dois cardápios na mesa e vai buscar mais no balcão. Sempre sorrindo, fingindo que já não chupou as partes íntimas de duas garotas sentadas naquela mesa, uma das quais é sua melhor amiga e quase-ex-namorada e a outra, seu atual rolo que gosta de outra garota e fica iludindo ela a cada oportunidade.

– Quando decidirem, é só chamar, viu? – ela informa com seu melhor sorriso, o qual se desfaz assim que lhe dá as costas, e vai direto pro balcão procurar por Mermista. Ela não está lá, mas aparece pouco depois carregando uma bandeja de pratos e copos sujos.

– Qual foi, vira-lata?

– Porra, Mer! Cê sabia dessa, né? Safada do caralho, cê tá de sacanagem! – a emo ri e leva a bandeja até a cozinha, Catra fazendo questão de segui-la e xingá-la por metade do caminho, até que o pai dela grita “CLEMENTINA, MESA 31”.

– Vai lá, vai Clementina – provoca Mermista.

– Senta no meu pau e rebola, puta – retruca Catra, indo atender a tal mesa.

Enquanto atende a mesa 31 –  um casal pouco mais novo que ela – Catra nota que até se sente ansiosa pra voltar àquela mesa cheia de gente de Adora e ver que outras provocações ela vai tirar da cartola. Talvez deva inventar algo pra respondê-la. 

– Dois hambúrgueres duplos, um com cheddar e outro sem, uma fanta laranja e uma brahma. Ok, anotado, algo mais? 

Ás vezes Catra se pergunta como será que a desgraçada da sua mãe julgaria esse seu sorriso falso.

– Não, é só isso – o casal a dispensa. Enquanto Catra caminha de volta ao balcão para entregar o pedido, escuta a garota comentar animada com o namorado sobre o quanto os seus "olhos diferentes" são "maneiros". Catra até solta um sorrisinho satisfeito com o comentário. 

Catra vai se posicionar na porta que separa a varanda da parte de dentro da lanchonete, e assim que a vê, Adora começa a acenar animadamente na sua direção. A garçonete põe aquele mesmo sorriso falso que sempre dá pros outros clientes no rosto, por mais que seu instinto tente forçá-la a algo mais genuíno e natural. Ela se recusa a demonstrar essas emoções, ainda mais no trabalho e bem na frente de todos os amigos dela – e de sua colega de apartamento.

Claro que ela sabe que Scorpia tem sentimentos por ela, ou ao menos já teve, e talvez em algum momento isso tenha sido vagamente mútuo.

Não teria dado certo. Assim como não tem chances de dar certo com Adora, na verdade. Catra ás vezes se pergunta porque continua tentando ter essas coisas, sendo que sempre se ilude e tendo consciência de que vai quebrar a cara..

– Já decidiram? – ela pergunta, sorridente, a caneta já posicionada sobre o bloquinho de notas, pronta para começar a anotar. Quem a vê nem se daria conta que sua mente está noutro lugar, a quilômetros de distância dali. De volta a Foz do Iguaçu, para ser mais precisa.

– Sim! Ah, para beber vai ser: duas brahmas, duas skol, um guaraná, uma fanta uva e um suco de laranja – Adora toma a palavra, feito um líder – para comer: uma porção grande de batatas fritas com bacon e queijo, uma porção individual de batatas fritas normal...

Adora faz uma descrição detalhada de cada um dos sete lanches da mesa, se lembrando de cada detalhe sem precisar perguntar novamente aos seus amigos, algo raro nesses grupos grandes. Parece até que está tentando monopolizar toda a atenção de Catra. A garçonete ri internamente com o absurdo do pensamento. Ela ainda tem que pedir para Adora repetir partes do pedido. Ela espera, e espera, mas a previsível provocação de "pra comer, eu quero você" não vem.

Sente vontade de provocar Scorpia pelo pedido digno de uma garota de 14 anos. Fanta uva com hambúrguer, sem pickles e o mínimo de salada possível? Ela nem precisa perguntar pra saber que esse é o dela. 

– Okay, anotado! Já vou trazer as bebidas pra vocês, okay? Logo os lanches ficam prontos. Ah, desculpem qualquer atraso, estamos tendo muitos pedidos hoje!

– Que isso, gatinha. Eu não te culparia por isso – Adora apoia o queixo nas costas da mão e pende a cabeça ligeiramente no olhar da garçonete, encarando-a como quem flerta com os olhos, o sorrisinho de canto de boca provocando o coraçãozinho emocionado de Catra. "Ai, que vontade de bater com esse cardápio na cabeça dela", pensa a garçonete, resistindo bravamente ao impulso. Em vez disso, ela abre um pouco mais o sorriso e assente, como quem agradece, antes de dar as costas à mesa.

[...]

Adora fixa os olhos nas costas de Catra até ela desaparecer na parte de dentro do estabelecimento. Ok, talvez não nas costas, um pouco mais embaixo.

Todes na mesa conversam animadamente, mas Adora não lhes dá muita atenção. Até se sente feliz por Scorpia, a nova membra do grupinho de amigos, que se enturmara rapidamente da outra vez que o grupo saíra junto. Amiga de Catra, inclusive. Ela que sugerira o lugar. 

– Ô Scorpia, cê sabia que a Catra trabalhava aqui? – questiona Adora, subitamente. A grandona paralisa em surpresa por um momento, e em seguida ri gostosamente.

– Sabia! Ah, ela vive reclamando de cliente chato, quis dar algo positivo pra ela! Além disso a comida aqui é ótima, os pais da Mer sabem o que fazem!

– Quem é Mer? – indaga Gi.

– Ah, uma amiga nossa. Eu, ela e a Catra dividíamos um apartamento quando a Catra veio pra Sampa, depois a Mer foi viver com um cara que ela jura que não é o namorado dela. Opa, tô falando demais! Ah, peraí gente, vou lá ver se a Mer tá aqui hoje.

A grandona se levanta e se espreme atrás das cadeiras de Netossa e Spinnerella pra passar.

– Huh, eu vou no banheiro! – anuncia Adora, se levantando logo depois que Scorpia cruza a porta de entrada. 

É fácil identificar os cabelos brancos e ombros largos sobre uma mulher de pelo menos 1,80 de altura indo direto para o balcão. E não muito longe dela, Adora identifica Catra, atrás do balcão, buscando bebidas numa geladeira e enchendo uma bandeja. Adora vai esperá-la perto da saída daquela parte "restrita", apoiada de costas como quem não quer nada. 

– Hey, gatinha – Adora chama, ao notar a garçonete passando ao seu lado com a bandeja equilibrada numa das mãos. Catra trava e lança um olhar rápido pra ela. Adora nota um sorrisinho que desaparece numa fração de segundo.

– Adora, vai esperar na mesa, sua apressadinha. 

– Ah, queria te ver melhor...

O uniforme dos garçons é um colete preto por cima de camisa social branca e calças pretas. Das garçonetes, é uma versão consideravelmente mais reveladora, com calças coladas e decotes ousados no que deveria ser uma camisa social e colete. 

Há muitas outras garçonetes no estabelecimento, incluindo a garota de pele escura e cabelão com quem Scorpia conversa animadamente, mas em nenhuma delas o uniforme cai tão bem quanto em Catra.

– Até me surpreendeu você não pedir eu de lanche –  provoca a garçonete, e antes que Adora possa responder, ela segue seu caminho de volta à mesa.

– Eu teria, mas você pediu pra não te envergonhar! – justifica-se Adora. Catra segura uma risadinha e finalmente alcança a mesa dos amigos de Adora, a loira a seguindo de perto e deixando claro pra todo mundo ali que não fora no banheiro coisa nenhuma. Catra serve as bebidas rapidamente, depositando-as sobre a mesa, exceto pela cerveja de Adora. Ela torna pra trás e quase enfia a latinha no seu peito. Aproveitando estar de costas para os seus amigos, Catra dá uma sutil piscadinha na sua direção e, ao cruzar com ela, sussurra em seu ouvido:

– Meu turno acaba meia-noite. 

O olhar sexy de Catra ao se afastar, com aquele seu delineado filha-da-putamente bem desenhado, já teriam sido o suficiente pro coração de Adora perder o compasso por um momento, mas ela ainda tinha que soltar uma frase dessas... "Mãe, preciso de uma calcinha nova", ela pensa.

– Alôôô! Terra para Adora, câmbio! – ela desperta do seu momento tela-azul com Glimmer balançando as mãos bem na frente dos seus olhos – sua cerveja vai esquentar assim, se você não for querer, eu quero!

– Quê?! Tira os zóio! – Adora empurra a amiga de volta pra cadeira, Gi rindo debochada da cara dela. Adora tenta procurar discretamente pelos arredores, mas Catra já sumiu.

– Hmmm, tá apaixonada! Tá apaixonada! – zoa Glimmer, como se elas tivessem 13 anos de idade. Toda a mesa solta risadinhas, exceto Perfuma. Scorpia continua lá dentro, conversando com a tal da Mer, provavelmente. 

– Ela já foi anteder outras mesas, ô Don Juan – provoca Netossa.

– Ou Romeu – Spinnerella entra na da namorada – não vê que é mais uma história de romance do que de sedução?

– Ah, calem a boca – replica Adora, revirando os olhos enquanto senta na mesa – não vou beber veneno por ninguém não. Trouxice do caralho. 

– A gente devia escrever um livro baseado nisso: "A Punk e a Garçonete" – Gi segue o deboche – seria aqueles romances bem melosos e no fim a punk vira um membro todo certinho da sociedade por influência da garçonete.

– Certinho igual minha buceta que nunca viu gilete na vida – retruca Adora.

– Hey gente, voltei! O que eu perdi? – Scorpia aparece toda sorridente e dá a volta se apertando atrás de Netossa e Spinnerella mais uma vez, indo se sentar perto de Perfuma.

– Perdeu a Adora quase se arrastando aos pés da sua amiga de olho de cor diferente – Netossa afirma, rindo cruelmente. 

– A Catra? – surpreende-se Scorpia – nossa, uau... é, ela é linda mesmo... e o que ela fez?

– A gente literalmente pegou elas fodendo no camarim outro dia! O que você acha?! – Gi praticamente anuncia pra lanchonete inteira, atraindo a atenção de várias pessoas nas mesas ao redor, além dos olhares chocados de Scorpia, Bow e Adora e as risadas desvairadas de Netossa e Spinnerella. 

– Gi, fala baixo – pede Bow. 

– Oh... nossa – Scorpia força um sorriso. "E ela nem me falou nada", ela completa em pensamento, com um quê de decepção. 

O resto da mesa continua a conversar e rir animadamente, sem se dar conta da súbita tristeza que atinge a sua mais nova membra. Bom, exceto por Perfuma. Ela segura o pulso de Scorpia carinhosamente e a encara com preocupação. Por uma fração de segundo, ela acredita ter visto um olhar desconfiado de Adora sobre ela também, mas foi muito rápido. Provavelmente, só impressão.

[...]

É meia-noite e vinte. A maioria dos amigos de Adora já foram embora há algum tempo, exceto por Scorpia. As duas se sentam na mureta que cerca a varanda da lanchonete, do lado de fora, em silêncio na maior parte do tempo.

Ambas esperam por Catra, mas só Scorpia externalizou isso. Adora sente que ela sabe, de qualquer forma. Gi fez questão de deixar a lanchonete inteira saber, afinal.

– Ela tá demorando – murmura Adora, tentando puxar conversa.

– Normal. Ela sempre faz um pouco de hora extra – Scorpia dá de ombros. Não tem aquele ar gentil e alegre que tinha da última vez que saíram, ou que demonstrara durante a maior parte do rolê. 

– É bem a cara dela mesmo...

– É. 

– Então... vocês moram juntas?

– É...

– Entendi.

As duas mergulham num silêncio estranho de novo. Meia noite e vinte e três. Pelo canto dos olhos, Adora nota Catra indo servir outra mesa, equilibrando uma bandeja de bebidas numa das mãos e sorrindo aos clientes, como se estivesse feliz da vida por estar quase se matando de exaustão. 

– Cê tem alguma coisa com ela? – questiona Adora. Soltara a pergunta por instinto. Gostaria de ter mantido ela em sua mente, mas ao mesmo tempo...

– Huh... em que sentido?

– Você sabe...

Scorpia respira fundo.

– A gente não tem nada romântico, se é o que quer dizer. Só... me surpreendeu.

– Você pareceu triste. A Perfuma até tentou te consolar.

– A gente quase teve algo, há um tempo. Só isso.

– Sei – Adora continua com um olharzinho desconfiado sobre a maior, ainda que não a culpe por não querer se abrir com a maluca que transa em camarins que acabou de conhecer. 

– Ah, ei Catra! Aqui! – Scorpia acena animadamente e Adora se vira na direção para onde ela olha. Catra veste calça de moletom, jaqueta fechada e uma mochila de aparência pesada nas costas. Tem uma sacola plástica enroscada num dos pulsos. Sua expressão é perdida. Distraidamente, Catra acena de volta. Scorpia caminha na direção dela, Adora espera onde está – vem, eu te levo pra casa! Ah, trazendo as sobras? Também tenho umas, ó! Tem o que aí?

– Um hambúrguer que voltou – murmura Catra – e uns chocolatinhos que a chefe me deu. Tô levando pra Luz.

– Ah, ela vai adorar! Eu tô levando as sobras das batatinhas! Enfim, vamos?

– Eu, huh... espera um pouquinho aí, grandona – Catra dá a volta por Scorpia e vai até Adora – hey, Adora.

Adora consegue até sentir uma fragrância de flores exalando da voz sedutora de colega de faculdade.

– Hey, Catra.

E mais uma vez, aquele sorrisinho de canto de boca da loira. Parece até que ela faz de propósito pra provocar, pensa Catra. Adora, por outro lado, observa com curiosidade a expressão impassível de outra. Quer desbravar os seus mistérios da mesma forma que desbrava a sua... ops. 

Dá pra sentir a tensão sexual de longe, observa Scorpia, baixando ligeiramente a cabeça. 

– Ficou me esperando aqui por um tempão, tá querendo o quê comigo afinal? – provoca a garçonete.

– Eu é que pergunto, senhorita "meu turno acaba meia-noite" – devolve Adora. Catra levanta ligeiramente uma sobrancelha e lentamente, lambe os lábios debaixo e os morde. "Cacete Catra, só vem me chupar logo", Adora pede em pensamento.

– Ô Scorpia – ela volta à amiga e entrega a sacola com os restos – pode ir pra casa sem mim. Leva pra Luz, ok?

Scorpia assente e, entendendo que está segurando vela, deixa as duas em paz. Caminha a passos lentos até a sua combi e dá a partida. 

Sabia que não deveria ter enrolado tanto. Precisa trabalhar no dia seguinte. Ah, caramba, será que Catra vai aguentar...?

– Então, pretende me levar num jantar romântico ou o quê? – provoca Catra. Adora a agarra pela cintura e sela seus lábios num beijo rápido.

– Se o prato principal for eu... – provoca de volta, e mais uma vez cala a garçonete com um beijo, dessa vez bem mais intenso e profundo.


Notas Finais


vcs já leram A Lenda das Espadas Gêmeas, da @BeaCorchiero ? Não? ENTÃO VAI LER

link: https://www.spiritfanfiction.com/historia/a-lenda-das-espadas-gemeas-20667203


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