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História Do Outro Lado - (Catradora e Lumity) - Chupando um canavial de rola


Escrita por: BriasRibeiro e naluoliveira

Notas do Autor


Rélou leitores lindes! Nalu aqui. Queria pedir desculpa pelo tempo enorme que eu to levando pra escrever. Meu cerebrinho tá sendo mau comigo, mas eu tô bem!
Agora, sobre o capítulo:
Aviso de conteúdo: abuso psicológico, homofobia, sexo explícito
Uma observação, pra q quem leia se situe nas idades dos personagens: A Adora nasceu em 2000, então a idade dela vai ser sempre igual ao ano, exemplo: 2010, ela tem 10 anos. Ela é 4 anos mais velha que os gêmeos e 6 anos mais velha que a Amity, então façam as contas aí :v
Outra observação, o sobrenome da Glimmer é Britto, só uma contextualização hihi

Capítulo 11 - Chupando um canavial de rola


Fanfic / Fanfiction Do Outro Lado - (Catradora e Lumity) - Chupando um canavial de rola

24 de dezembro de 2010

A ansiedade das crianças domina a casa dos Grassi nessa véspera de Natal. Principalmente para saber de quem é aquele presente enorme, repousando embaixo da árvore de natal, com um embrulho dourado em volta. É uma caixa, aparentemente, em um formato que não parece nem um triângulo e nem um retângulo, na verdade, uma mistura dos dois. Pode-se dizer que é um trapézio, com os lados bem maiores que a base e o topo. Adora desconfia que seja dela, mas não tem certeza, afinal, todas as crianças ali desejam o maior presente.

A ceia é servida às oito horas da noite, e uma hora depois, Odalia e Adora arrumam juntas a cozinha. Alador se encontra no sofá, Edric e Emira também na sala, porém, sentados no chão. A pequena Amity dormiu logo depois de terminar de jantar, sua mãe já a levou para o quarto. Depois de secar e guardar as louças, a mãe e a primogênita se juntam ao resto da família na sala. Os dois adultos assistem TV enquanto as crianças brincam no chão. Emira começa a sentir sono perto das dez e meia. Ela desiste de ficar acordada até meia noite, subindo as escadas até seu quarto. As crianças tinham passado o dia todo dizendo como seriam fortes, e não dormiriam antes da meia noite, para abrir os presentes. Principalmente Amity, se fazendo de durona, dizendo que dormiria bem depois dos outros. Mas a preguiça-pós-ceia a pegou de jeito, como se espera de uma criança de quatro anos. Edric também não demora para desistir. Ficam Adora, Alador e Odalia.

A garotinha loira luta com todas as forças para ficar acordada. São onze e quarenta agora. Falta pouco. Falhando em sua missão, ela cochila no sofá, mas é acordada por sua mãe, a chamando.

– Oi – Adora responde, sonolenta, quase um sussurro. Quando se dá conta do que aconteceu, ela se força para acordar, sentando-se rapidamente – oi mamãe, tô acordada!

A mãe tem um ameaço de sorriso no rosto, parada na frente da filha, com o embrulho dourado em mãos. Já Alador, está sério como sempre. Adora desperta completamente quando o presente grande e pesado é posto em seu colo. Ela não consegue conter a excitação, e rasga o papel como se sua vida dependesse disso. Uma caixa de papelão naquele formato estranho está embaixo do papel dourado. Ela está bem fechada, com fita adesiva. Odalia pega uma tesoura, ajudando a filha a abrir a caixa. Quando abre, os olhos azuis da menina parecem brilhar.

Um violão, com uma capa preta em sua volta repousa no colo de Adora. Ainda com ajuda da mãe, ela retira o instrumento da capa. O tampo dele é feito de madeira clara, e a parte de trás de uma madeira mais escura.

– Ah, mamãe, papai, obrigada! É lindo!

A filha mais velha vinha insistindo para que os pais dessem um violão a ela desde muitos meses antes do natal. Alguns de seus coleguinhas na escola já tocavam teclado, ou violão. Isso despertou em Adora uma necessidade de aprender também. Ela sempre tivera uma paixão por música, e ver outras pessoas à sua volta, da mesma idade aprendendo a tocar um instrumento, fez com que ela se sentisse motivada.

– Também já te inscrevemos numa escola de música – o pai diz. O olhar da menina brilha mais ainda – espero que você se dedique.

– Eu vou, papai, eu vou!

– E lembre-se que você tem outras responsabilidades – Odalia complementa – suas notas não podem cair por causa disso.

– Não vão – Adora responde, olhando alucinada para seu presente – eu prometo.

[...]

15 de setembro de 2011

Adora está em seu quarto, estudando para a prova de matemática que fará na manhã seguinte. Sua mãe ficou a tarde toda em casa hoje, não precisou ir trabalhar. A garota se assusta com sua porta abrindo de repente, e Amity vem correndo abraçá-la. A caçula tem as roupas levemente manchadas, provavelmente de tanto brincar na escolinha.

– Táta – começa Amity, depois de finalmente se soltar da irmã – você quer ouvir a música que eu aprendi na com as tias hoje? A Vi aprendeu rapidinho, depois ela me ajudou a cantar!

A irmã mais velha sente vontade de apertar a bochecha de Amity até ela estourar, mas não o faz. Ao invés disso, ela dá vários beijos em sua irmã, e se desculpa, está estudando agora, quem sabe depois do jantar.

Alguns minutos depois, os estudos de Adora são interrompidos por uma presença bem menos agradável do que de Amity. Alador e Odalia batem à porta, e entram no quarto logo depois.

– Adora – o pai diz, friamente  – sua mãe me disse que você não está se dedicando ao violão como deveria.

Ele olha para a filha como se aquilo fosse a pior coisa que uma criança de onze anos poderia fazer, ou, nesse caso, não fazer. A mãe também olha para ela com um olhar de reprovação.

– Eu tenho prova – Adora se justifica – vocês tinham dito que eu precisava lembrar das outras coisas que eu preciso fazer. Então, eu preciso estudar, essa semana tem prova todo dia!

Odalia chega um pouco mais perto da filha.

– Você tem deixado de praticar o violão em casa. Não adianta praticar só nas aulas!

– Mas foi só esses dias! – Adora tenta, meio desesperada. Ela se encolhe quando seu pai chega bem perto e se abaixa, para ficar com os olhos na altura dela. A garota desvia o olhar, mas o pai põe a mão em seu queixo, fazendo com que ela o olhe nos olhos.

– Se minha filha não for a melhor, não tem razão para pagar aulas de violão à ela – ele fala baixo, mas o tom que usa seria capaz de intimidar qualquer um – você entende isso, não é, Adora?

A menina assente, olhando para baixo. Dessa vez, seu pai não quis que ela o olhasse.

Odalia e Alador saem do quarto, deixando uma Adora sozinha e assustada para trás.

[...]

27 de junho de 2014

A final do interescolar de basquete chega, e este ano o basquete da Saint Peter foi forte, quase tanto quanto o futsal. São quase duas horas da tarde quando Adora, Bruno, Gi, Layla(uma garota de cabelos roxos bem curtos, que Adora já estava de olho há um tempo) e Perfuma encontram um lugar na arquibancada da quadra de basquete, um lugar particularmente ruim de visão.

– Olha o lugar que a gente pegou, porra! – Gi reclama, depois que se senta – se você – ela encosta um dedo em Adora – não tivesse enrolado pra arrumar suas coisas, a gente ia tá quase cheirando o suvaco das jogadoras ali na primeira fila!

– Que nojo, Gi! – Perfuma responde, rindo.

– Eu não me importaria – Layla diz, dando de ombros – ficar perto de mulher gostosa e suada não me soa ruim.

– Fale por você, La, odeio gente suada! – Adora dá uma “ombrada” em Layla, que se senta ao seu lado.

O jogo inicia, e os únicos realmente prestando atenção são Bruno e Gisele. As outras três conversam entre si, precisando falar um pouco mais alto do que de costume, por causa do barulho do jogo e da torcida. Perfuma está contando de suas aulas de yoga que começou a frequentar, e que está sendo muito bom. Adora e Layla não escutam tanto. Elas estão mais preocupadas uma com a outra. Seus corpos estão bem perto, e Adora não consegue respirar direito com o contato.

– Eu, hã… vou comprar água – diz Layla, levantando-se – vem comigo, Dorinha?

A loira olha para a garota de cabelos roxos, que está encarando-a intensamente. Ela sabe que esse convite não é para comprar água. Adora aceita, e se levanta, seguindo a crush.

Depois de saírem da quadra, Layla oferece a mão para Adora, e as duas vão em direção ao ponto atrás da quadra de basquete. Algo que encanta a loira sobre essa menina, é que ela não liga para nada. Se assumiu lésbica para os pais antes mesmo de entrar na Saint Peter, um ano antes. Enfrentava quem quer que fosse, não se importando com o que os outros pensavam. Muito diferente de Adora.

As duas param, perto de uma parede, logo atrás da quadra. Não tem ninguém ali. Os barulhos do jogo são ouvidos, mas estão abafados. Layla está de frente para Adora, sorrindo, ainda segurando sua mão. Ela chega mais perto da loira, e com a mão livre, puxa os cabelos soltos de Adora para trás da orelha. A loira não sabe muito como reagir. Está morrendo de vergonha, mas ao mesmo tempo, empolgada. Seu coração não se aquieta.

– Posso? – pergunta a de cabelos roxos, segurando a nuca da loira. Adora a encara e assente.

É estranho a princípio. A loira nunca tinha beijado ninguém na vida. Sentira vontade de beijar garotas, mas nunca garotos. E também nunca tinha chegado a realizar a vontade, até agora. A sensação da língua de Layla na sua é algo que ela nunca irá esquecer. É molhado, meio áspero. Ela não sabe quanto tempo o beijo dura, mas sabe que não quer parar. Quando elas se separam, Adora está muito vermelha.

– Que fofinha – Layla diz, apertando a bochecha da loira, e sorrindo. Um sorriso de orelha a orelha.

– Para! – Adora responde, desviando o olhar.

Elas se sobressaltam com vários gritos vindo da quadra, mais intensos. Algum time havia pontuado, mas elas não se importam em saber qual.

Um tempo depois, as duas voltam para a quadra, junto de seus amigos.

– Ué, cadê a água? – Gi diz, em tom de brincadeira, levando uma cotovelada de Bruno logo em seguida.

Adora e Layla não respondem. Não precisam.

Ao final de setembro daquele ano, Layla teria que de repente, por conta do trabalho da mãe, se mudar. Adora ficou triste demais, assim como os outros amigos. Mas ela prometera manter contato sempre.

Ao final do ano letivo, a garota de cabelos roxos não fala mais com eles. Foi deixando de responder as mensagens aos poucos. Agora, Adora nem se incomoda mais em tentar conversar com ela. Layla demora uma eternidade para responder, e quando responde, parece que está incomodada. Não tem mais assunto.

É difícil, mas a loira sabe que vai superar.

[...]

7 de abril de 2015

– Eu ainda não sei por que a gente não começou uma banda – Gisele diz, à caminho do portão da escola.

– Hã, porque a gente nunca vai entrar num acordo de que tipo de música a gente vai tocar – Bruno responde, como se constatasse o óbvio.

Adora ri com a observação do amigo, e concorda.

– Num tem acordo nem quando a gente vai tocar pra desestressar, imagina se fosse algo – ela faz aspas no ar com as mãos – “oficial”.

Bruno lança um olhar impaciente para as amigas.

– É, e isso é culpa de quem mesmo?

– Minha que não é! – Gi quase o interrompe, se defendendo e erguendo as mãos.

Os três chegam no portão e saem, sentando na calçada. É um pouco difícil achar um espaço livre, já que vários estudantes fazem o mesmo que eles, enquanto esperam sua carona para casa.

– Gi, a culpa é sua, sim! – Adora inicia, dando um soquinho no braço de Gisele – você nunca concorda com o que eu e o Bru decidimos.

Gisele abre a boca para argumentar, mas antes que possa dizer qualquer coisa, Adora olha para a rua e se levanta. O carro de sua mãe se aproxima da escola. Ela sabe quando Odalia ou Alador estão chegando. Como uma presa, que sente seu predador por perto. A atitude dela muda completamente. De brincalhona e sorridente, se torna quieta e séria. Seus amigos já se acostumaram com a mudança de postura dela, e como seus instintos não falham. É quase assustador. E triste.

– Tchau, gente – A loira murmura, quando sua mãe encosta o carro. Gi e Bruno acenam para ela. Eles olham a amiga entrar abrir a porta do passageiro, e logo depois, os irmãos dela também aparecem e entram no carro, que logo parte. 

– Eu morro de dó deles – Bruno diz – ambiente familiar tóxico deve ser tudo de ruim.

– É… – responde Gi, suspirando – queria poder fazer algo.

Adora passa quase a tarde toda estudando, e não poderia ser diferente. A dona Lúcia de vez em quando entra em seu quarto, para se certificar de que Adora está estudando. Ela faz isso com todos os irmãos, na verdade, a pedido (ou ordem) de Alador. A loira não fica chateada com dona Lúcia por isso, afinal, a senhora pensa que isso é para o bem deles. Mas Adora sabe que não é assim que seus pais pensam. Eles apenas querem controlar seus filhos, manter as rédeas curtas. Outra coisa que seus pais exigem, é que, enquanto estudam, os irmãos precisam deixar seu celular na mesa da copa, para não se distraírem. E a empregada também é incumbida de cuidar dos aparelhos. Como se tudo isso não bastasse, os filhos não podem ter senha protegendo os celulares.

A exigência dos pais em relação a estudos e a tudo que os filhos se propõem é algo que não faz sentido algum na cabeça de Adora. Nunca fez. Os dois mal param em casa. Aos finais de semana, cada um fica num cômodo. Se a filha mais velha decide sair com Bruno e Gisele, ela precisa pegar um Uber, Alador e Odalia se recusam a levá-la. Bom, pelo menos seus pais não a impedem de sair. Mas eles não estão presentes nunca. Só para exigir e mandar. Ultimamente, sua mãe tem estado mais… carinhosa? Não, não é esta a palavra. Atenciosa, talvez. Adora não entende porquê.

São quase seis da tarde quando dona Lúcia bate na porta.

– Fia, tô indo embora. A janta tá na geladeira, tá?

– Tá bom, dona Lúcia! – Adora se levanta para dar um beijo de despedida na mulher – até amanhã!

– Fica com Deus.

Nenhum dos irmãos sabe o que responder a isso, e sempre murmuram um “a senhora também”, mesmo não sabendo se é a resposta correta.

A Grassi mais velha fica uns vinte minutos terminando suas atividades escolares, e depois, vai tomar um banho. Quando sai do banho, fica jogando no computador. Ela não se dá conta de quanto tempo passa. Com os fones de ouvido no último volume, ela também não ouve seu pai chamando, um tanto alto, na porta do quarto. Leva um susto quando seu headset é puxado. Seu pai está atrás dela, com uma expressão amedrontadora. Sua mãe encontra-se na porta, inexpressiva.

Adora se levanta de sua cadeira, assustada.

– O que…

Alador não deixa ela terminar.

– Eu que pergunto, Adora! – ele está com o celular da garota na mão, o whatsapp aberto. Várias conversas com várias garotas estão listadas no aplicativo. Camila, Amanda, Daniele… e outras. E as coisas ditas naquelas conversas não são exatamente algo que seu pai aprovaria.

“PUTA QUE PARIU, EU SOU UMA BESTA, NÃO ACREDITO QUE EU FIZ ISSO”

Adora havia esquecido de apagar aquelas conversas. Ela se divertia mandando cantadas bem indecentes para algumas garotas, fazendo-as ficar sem graça. A maioria era levada na brincadeira, na verdade. Mas seu pai não sabia disso. Nem acreditaria se ela contasse. Ela sente tontura, e senta-se rapidamente.

Alador chega perto. Ele está tão bravo que Adora chega a temer por sua vida.

– O que significa isso, Adora? Que porra de conversas são essas?

A filha olha para baixo, não tem coragem de levantar o olhar. Ela nunca tinha ouvido seu pai dizer um palavrão sequer. Nesse momento, ela nota o quão bravo ele está. É aterrorizante.

– OLHA PRA MIM! – Adora obedece, com lágrimas aos olhos – responde!

Odalia finalmente se faz presente no recinto, colocando a mão no ombro do marido, que rapidamente se esquiva.

– Alador… – tenta, mas seu marido ergue a mão, como se mandasse fazer silêncio.

Adora olha meio desesperada para a mãe, mas ela não faz mais nada. Os olhos de Alador seriam capazes de furar a pele da filha.

– Filha minha – diz ele, sua voz soando quase como um rosnado – não diz essas baixarias, essas... indecências pra homem nenhum, muito menos pra outra mulher! – Adora não ousa tirar os olhos do chão – seu celular está confiscado por tempo indeterminado – a garota pensa que seu pai se acalmou um pouco, pois voltou a falar mais formalmente.

O pai sai, e Odalia olha para Adora. Sua mãe parece triste, ela pensa. Mas se isso é verdade, ela não faz nada a respeito. Só olha para a filha por alguns momentos, depois sai, atrás do marido.

Emira, Edric e Amity vêm correndo até o quarto da irmã mais velha. Os três já sabiam sobre a sexualidade da irmã, e já imaginavam o que aconteceria quando seus pais descobrissem.

– Eles descobriram – Adora diz, sem controlar as lágrimas – do pior jeito – os irmãos a abraçam. Edric também tem lágrimas nos olhos – eu falo aquelas coisas de brincadeira, na maioria das vezes não é pra ninguém levar a sério.

Edric sai do abraço, os olhos vermelhos, fungando. Mas ele tem uma expressão determinada no rosto. Uma expressão raivosa. Emira olha para seu gêmeo, quase com a mesma expressão.

– A gente vai fazer isso? – ela pergunta. O gêmeo apenas assente.

– O que vocês vão fazer? – pergunta Adora.

Nenhum deles responde, apenas saem correndo do quarto. Uns dois minutos de silêncio se seguem.

– VOCÊS SÓ PODEM ESTAR DE BRINCADEIRA COMIGO! – Adora e Amity ouvem a voz de Alador em algum lugar da casa – vocês não têm idade pra saber disso!

Mais alguns gritos são ouvidos. Passos apressados na escada. Uma porta batendo. O portão sendo aberto, um dos carros sendo ligado.

Os gêmeos voltam ao quarto de Adora, um medo estampado no rosto, mas ao mesmo tempo, satisfação.

– O que vocês fizeram? – a mais velha pergunta.

Edric e Emira se olham, e logo em seguida, Edric começa a falar.

– A gente combinou que sairia do armário junto com você, mana!

Adora não consegue acreditar. Ela chora mais ainda, abraçando os dois, Amity se juntando ao abraço.

– O pai não acreditou em vocês – a mais velha diz, a voz abafada – falou que vocês são muito novos pra saber.

– Mas a gente sabe – Emira diz – a gente não precisa ser adulto pra saber quem a gente é!

Os quatro irmãos dormiriam todos no quarto de Adora naquela noite. Ficariam conversando sobre seus crushes. Amity dormiria antes que todos. Odalia apareceria na porta para dar boa noite, mas nada mais. Alador só voltaria no meio da madrugada, com todos na casa já adormecidos.

[...]

10 de janeiro de 2017

Numa salinha na casa de Gisele, ela, Adora e Bruno estão tocando seus respectivos instrumentos. O clássico de Nando Reis que tocam está quase no fim.

Mas você pode ter certeza

De que seu telefone irá tocar

Em sua nova casa

Que abriga agora a trilha

Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar

Que eu fui lá fora

E vi dois sóis num dia

E a vida que ardia sem explicação

Quando a música acaba, os três esperam a reverberação acabar antes de começarem a conversar.

– Não – é só o que Adora diz.

– Não ficou bom mesmo – Bruno emenda.

– Ai, a gente devia desistir – diz Gi, num tom dramático, levantando do banquinho da bateria.

– Esse é o espírito! – exclama Adora, depois de desplugar a guitarra.

Eles começam a arrumar suas coisas, vagarosamente. Bruno precisa guardar o baixo e Adora, sua guitarra.

– Meu sonho é tocar com a maquiagem do David Bowe, ou sei lá, qualquer maquiagem bem foda e exagerada – Bruno diz, enquanto enrola alguns cabos – mas não combina com MPB.

– MPB que não combina com a gente – Gisele retruca, ajudando Adora, já que sua bateria é fixa – a gente tentou de tudo, já! Rock, pop, metal, só falta sertanejo!

– Nope – Adora e Bruno dizem praticamente juntos.

– Então a única opção que a gente tem é largar a mão!

Adora pensa por um minuto, terminando de fechar a capa da guitarra.

– E se a gente compor?

– Eu não me atrevo – Gi responde, nem esperando Adora terminar a sentença.

– Tenho talento pra isso, não – o outro adiciona.

Realmente, os amigos haviam passado várias tardes tentando tocar algum som que gostassem, que ficassem satisfeitos, em vão. Sentem que o melhor a fazer é deixar a ideia de lado e se prepararem para o primeiro ano de faculdade.

[...]

20 de abril de 2018

Adora guarda seus cadernos e estojo na mochila, despreocupada, enquanto quase todos da sala já saíram. Não se pode dizer que ela está feliz com a faculdade, não é o que quer. Administração, que coisa mais… neutra. A pressão do pai não lhe deu escolha. Ela tinha que fazer algum curso, e o que lhe pareceu mais fácil foi administração. Era só esse o motivo de estar estudando.

São praticamente quinze para meia noite quando Adora se encontra com Gi e Bruno nos portões de saída da FEA/USP. Eles tinham combinado de ir até um barzinho depois que a aula acabasse. No caminho, a loira não para de falar em uma garota da sala dela, de pele bem branca e com sardas, que está sempre conversando animadamente com todo mundo.

– Ah, já falei que ela é…  

– Ruiva? – Gi pergunta, e logo depois, bufa – já, pelo menos… Hum, Bow, quantas vezes?

– Pelo menos umas quinhentas.

– Não foram tantas assim – Adora fala baixo, num tom infantil, fazendo biquinho.

– É que não é você que ouve – retruca a de cabelos rosas.

Os três amigos chegam no bar, reconhecendo vários rostos da faculdade. O bar é relativamente pequeno e se encontra lotado. As mesas estão todas ocupadas, o que faz com que várias pessoas aproveitem suas bebidas de pé, encostados em alguma parede ou no balcão. Alguns ainda, formam rodinhas nos espaços livres, entre as mesas e o lugar reservado para música ao vivo. Hoje não é noite de música ao vivo, mas as muitas caixas de som espalhadas pelo lugar tocam música sertaneja bem alto. Adora, Gi e Bruno se dirigem até o bar, e ficam vários minutos vasculhando entre as opções de bebidas.

 – Dorinha, olha aqui – grita Gi, tentando vencer a música alta – esse drink custa quase cem conto! Paga pra mim?

– Ô purpurinada, tá achando que eu cago dinheiro? Deve ter o que, uns 200mL? Nem fodendo!

– Não caga dinheiro, mas é quase…

– Cala a boca! – responde Adora, não conseguindo segurar o riso.

Os três pedem a mesma cerveja, e, na falta de um espaço para ficar, eles acabam meio que encostando ali no bar mesmo. Bruno parece distraído, olhando na direção da área reservada para música ao vivo.

– Aquela banda punk que a gente viu outro dia tava bem foda, né?

– Tava mesmo! – concorda Adora, olhando na mesma direção do amigo. Algo chama sua atenção. Ou melhor, alguém. Uma moça baixinha, de cabelos negros e bem cheios na altura do ombro, está conversando numa rodinha de várias pessoas, rindo. Ela olha rapidamente na direção de Adora, mas não o suficiente para reparar que está sendo observada. A loira, no entanto, consegue reparar em seus olhos verdes, num tom de oliva. É a coisa que mais chama a atenção na ilustre desconhecida.

– Fecha a boca, senão entra mosca – Adora se assusta levemente com a provocação de Gi.

– Num tenho culpa se só tem mina linda nesse lugar!

– Quem é? – Bruno pergunta.

– Naquela roda de amigos ali, do lado daquele cara com jaqueta de couro. Cabelo preto, olho verde.

– Num é boba nem nada, hein, Dorinha? – Gi continua provocando, dando cotoveladas um tanto fortes demais na amiga – quer que eu vou lá convencer ela de que você beija muito bem?

Adora ri, e fica tão vermelha, que mesmo à meia-luz do ambiente, é fácil de se notar.

– Ai, boba, tem que aproveitar! Tô indo! – cantarola Gisele, indo em direção à menina.

– GISELE BRILHO, VOLTA AQUI!

Mas ela já está quase chegando no assunto da conversa. Gisele precisa abrir caminho por conta da lotação do bar, mas faz isso bem rápido. Ela dá duas cutucadas no ombro da garota, e fala algo ao ouvido dela, depois aponta para Adora, que acena, sem graça. A moça dá um sorriso de canto de boca, fazendo as pernas de Adora bambearem levemente. Logo, Gi volta com a desconhecida, que se apresenta como Jamile.

– Combina com você – Adora arrisca, galanteadora. Gi e Bruno já se afastaram – uma moça tão única não poderia ter um nome comum.

Surpreendentemente, o flerte desajeitado de Adora funciona, e Jamile sorri.

– E eu posso saber o seu nome? – ela pergunta, chegando mais perto.

– Adora – responde a loira.

– Também é um nome único.

O papo furado não dura muito, e logo os lábios das duas se encontram. Adora se sente levemente insegura, não é tão experiente quanto demonstra. Mas logo parece que tudo flui. As mãos de ambas não sossegam, e passam pelo pescoço, cintura e cabelo uma da outra. Tudo que Jamile não tem de altura, tem de atitude. Ela puxa os cabelos de Adora, fazendo sua cabeça tombar para trás, para beijar-lhe o queixo, pescoço. A loira sente seu baixo ventre esquentar, conforme as carícias se tornam mais ávidas. Jamile, de repente, se separa de Adora, e sem dizer uma palavra, a puxa pela mão, em direção ao banheiro do bar.

Duas cabines estão vazias. Elas entram na cabine mais ao fundo. Não há motivos para se segurarem agora, afinal, não tem ninguém olhando. Adora pressiona o corpo de Jamile contra a parede do banheiro, mas ainda está contida. A outra, no entanto, invade a blusa de Adora, acariciando a pele por baixo da roupa. A loira arrisca umas mordidas no pescoço de Jamile, e ela responde com gemidos contidos.

Quando Adora começa a dar chupões um tanto barulhentos no pescoço da morena, ela passa a mão por baixo do sutiã da loira, que involuntariamente para o que estava fazendo.

 – Hum… – sussurra a loira, respirando bem perto do pescoço de Jamile.

– O que foi, Adora? – provoca, apertando a coxa da loira, o polegar perto da virilha. Adora, em resposta, pega a mão de Jamile e aproxima mais do lugar em que ela realmente quer ser tocada – já? – Adora assente – tá bom…

Jamile acaricia a loira, primeiro por cima da calça jeans, e Adora suspira, tentando não fazer nenhum barulho, afinal, ainda estão em um lugar público. A morena faz movimentos suaves de vai e vem com uma mão, enquanto com a outra ainda acaricia o mamilo de Adora. Ela não tira os olhos do rosto da mais alta, querendo observar todas as reações dela. Adora segura os cabelos da morena com força, respirando pesadamente.

Jamile então desabotoa a calça de Adora, com apenas uma mão. O zíper é aberto com facilidade, e a calça cai um pouco acima dos joelhos. Logo a morena começa a acariciar a outra por cima da calcinha, com movimentos circulares, mas não dura muito. Adora, a esse ponto, não consegue conter os sons que saem de sua boca. Sua peça íntima é retirada, e – finalmente – Jamile acaricia o clitóris da loira, que tampa a própria boca para que ninguém a escute. A morena ri com a reação.

Os movimentos se intensificam, assim como o prazer que Adora sente. Ela encosta sua testa na testa da outra, olhos fechados, respiração descontrolada. Sente um dedo invadi-la, e precisa usar todas as suas forças para não emitir nenhum som. Adora não tem mais controle nenhum sobre seus movimentos, ela rebola desajeitadamente contra a mão de Jamile, aperta os braços dela, os ombros. Uma onda de prazer muito mais intensa a invade, assim como espasmos, que duram alguns segundos. Adora finalmente abre os olhos, e Jamile tem um sorriso triunfante estampado no rosto.

As duas saem do banheiro meia hora depois, suadas e ofegantes. Adora ainda tenta ajeitar o cabelo antes de encontrar seus amigos, mas não acredita que tenha dado muito certo. Ela encontra Bruno e Gi conversando com pessoas que ela não conhece, provavelmente colegas da faculdade.

– OLHA LÁÁÁÁ QUEM VEM, SE NÃO É A COMEDORA DE…

– CALA A BOCA, GISELE! – Adora praticamente pula em cima da amiga – porra!

Adora percebe que Gi está levemente alterada, por conta do álcool. Porém, sabe que ela completaria a frase, mesmo sóbria, se Adora não a tivesse interrompido. A noite segue, e até que é bem divertida. Quando a loira chega em casa, já de madrugada, sorri abobalhada, pensando no que fez. Imagina, a Adora, filha do renomado advogado Alador Grassi, fazendo sexo em lugar público. “Foda-se”, pensa. Não seria a última vez que o faria, nem de longe.

[...]

14 de maio de 2018

Adora chega em casa, apressada, preocupada. Não sabe como dirigiu até lá. Não sabe como não tomou nenhuma multa por excesso de velocidade no caminho. Alguma coisa tinha acontecido em casa, e ela não sabia o quê. As únicas palavras na mensagem de Emira foram “vem pra cá, o pai tá puto”. Teve que deixar seus amigos e o almoço para trás.

Ao descer do carro, ela vê Odalia na porta de casa, meio transtornada, e ouve a voz abafada do pai, alterado, dentro de casa.

– O que foi? – Adora pergunta.

– A coordenadora da escola… – a mãe inicia – ouviu Amity dizer pra Virgínia que ela… – a mãe sente um pouco de dificuldade de dizer as palavras seguintes – gosta de mulher.

– Quê? – Adora pergunta, exasperada.

– A coordenadora ligou no escritório do seu pai, e a gente foi até a escola. Adora, seu pai falou um tanto de coisa pra Amity, na frente da direção e coordenação e sei lá mais de quem. Os coleguinhas ficaram todos na porta da sala, foi um caos.

A irmã mais velha entra na sala, abrindo a porta violentamente. Amity está sentada no sofá da sala, encolhida, parecendo menor do que já é. Alador está em frente a ela, vermelho de raiva. Edric e Emira sequer conseguem abrir a boca para defender a irmã caçula.

– ...me matam de vergonha! Eu vou perder clientes, se ficarem sabendo!

– Perder cliente por quê, Alador? – Adora interrompe o surto do pai.

– Você – ele vem em sua direção, apontando o dedo – você que começou essa merda! Você que inventou de ser homossexual – ele diz a palavra de maneira pejorativa.

– Eu não inventei nada – Adora está espumando de raiva. Ninguém mexe com seus irmãozinhos. Nem mesmo se for da família – ninguém escolhe ser gay, pai! E aquela arrombada da Margarette…

– Que linguajar é esse, Adora? – Alador interrompe – mais respeito com a sua coordenadora! Eu não te eduquei pra falar essas coisas!

– É uma arrombada mesmo, não tinha nada que se meter na nossa vida, na vida da Amity! – A mais velha sente seu rosto esquentando – olha pra ela, tadinha! Olha o estado que você deixou a sua filha mais nova!

– Pois eu achei ótimo que ela ligou! A Amity não tem idade pra saber disso, é muito nova!

Edric consegue uma brecha para falar.

– O senhor disse a mesma coisa de mim e da Emira.

– Sim, e vocês continuam sendo novos demais pra isso!

– Não tem idade certa nem errada – Emira rebate.

Alador ergue a mão, exigindo que o deixem falar.

– Eu não tenho tempo pra isso, preciso voltar pro escritório – Amity tem os olhos vermelhos enquanto olha para o pai. Ele a olha de volta – a gente conversa sobre isso mais tarde.

A “conversa” veio, mas não se chegou a nenhuma conclusão. Aconteceu a mesma coisa no dia seguinte, e no outro, e no outro.

[...]

2 de junho de 2018

Adora só tem paz quando se afasta do ambiente extremamente tóxico que está sua casa. Nunca fora um ambiente acolhedor, mas agora, as coisas pioraram muito. Quando está na faculdade, sente que consegue respirar. Ela também frequenta a casa de Gi ou a de Bow bem mais. Em uma das intermináveis discussões, durante o jantar de sábado, Adora sai da mesa, pega sua bolsa e liga o carro. Não aguenta mais. Ela dirige sem rumo, sem saber muito bem onde vai. De repente, palavras começam a surgir em sua mente.

Ela toma o caminho da casa de Gi. Sabia que Bruno estaria lá. Estaciona em frente à casa, e rapidamente pega seu celular, para anotar tudo o que viera em sua mente e não esquecer. Adora dormiria lá essa noite, ela e seus dois amigos se dedicando à música que acabara de surgir, de uma situação péssima. Até o meio da madrugada, a música já estaria pronta.

Os três ensaiam a música depois que almoçam.

– Mano – Gisele começa, depois que acabam de tocar – a gente achou nosso som!

– Sim! – Adora exclama, tocando as cordas da guitarra de qualquer jeito, fazendo um barulho tremendo – a gente só precisou de um pai homofóbico e surtado! – Bruno e Gi se entreolham, meio em dúvida de como reagir – podem rir gente, fui eu que fiz a piada!

– Não – Bruno diz, a expressão meio triste – a situação é pesada demais pra fazer piada…

Conforme os dias se passam, os três amigos ensaiam sempre que podem. Algumas outras composições, igualmente apelativas, surgem. No final do mês, eles se candidatam para tocar naquele mesmo barzinho, onde viram uma outra banda punk tocar. Eles são aceitos, já que a outra banda cancelou. Foi tudo rápido demais, mas eles estão empolgados. Só falta uma coisa: o nome da banda.

– Eu não tô nem aí pro nome da banda – Bruno fala exageradamente alto, depois de um ensaio, levantando o dedo indicador – eu só sei que vou tocar montadíssima, linda e drag queen, o resto é com vocês.

– Valeu pela ajuda – Adora diz, sentada num banquinho, com um caderno no colo. Ela bate um lápis na superfície do caderno, na falsa impressão que isso vai ajudá-la a pensar.

Gi, que está mexendo no celular, põe uma mensagem de voz para tocar. A voz de Netossa invade a pequena sala.

– AÍ, COLADORAS DE VELCRO!

Ouve-se também a voz de Spinerella.

– OW CEIS VEM EM CASA AMANHÃ OU NÃO, CASSETA?

A gravação acaba, e Gi começa a responder por texto, mas a cabeça de Adora está a mil por hora.

– Gente! O nome da banda tem que ter velcro nele!

Gi e Bruno olham para Adora, com um ar de riso. Eles não aguentam, e caem na gargalhada.

– É sério! – diz a loira, se sentindo meio ofendida.

– Mas “velcro” o quê? – pergunta Gi – a gente não pode botar o nome de coladoras de velcro na porra do nome, ninguém ia deixar a gente tocar!

– Claro que não, né! – Adora se levanta, e começa a andar de um lado para o outro – mas a gente pode começar daí.

– Black Velcro? – Bruno começa a imitar Adora, e os dois ficam andando pela salinha – não, bizarro.

– Pera, o nome vai ser em inglês? – Gi se junta aos outros dois, e eles ficam andando em círculos.

– Sei lá, pode ser – responde Adora.

– Rustic? Rude? – Bruno continua dizendo palavras aleatórias, como se falasse sozinho – não, nada a ver.

– Pode ser um nome nada a ver – Adora observa – Velcro At The Disco – diz, rindo com o nariz, parecendo um porco.

– Panic At The Velcro – Gi continua a “piada”, rindo junto.

– Panic… – Bruno diz, hesitante – Velcro?

– Hum – pondera a loira, colocando a mão no queixo – acho… que sim?

– Gostei! – a última integrante da banda aprova.

Com o nome da banda decidido, não faltava mais nada.

O dia da “estréia” da banda chega. Gi e Adora estão trocando de roupa no banheiro feminino, já no bar. Bruno está no banheiro masculino, fazendo sua maquiagem. As meninas estão super ansiosas para ver o look do amigo. Ambas usam um batom preto. Adora veste uma calça preta, toda rasgada, e uma regata da mesma cor, bem cavada. Gisele está com uma meia arrastão, saia bordô bem escura e uma camiseta xadrez em tons de vermelho. Nos pés, ambas usam All Star.

As duas saem do banheiro, e apressam-se a afinar seus instrumentos. Minutos depois, Bruno sai do banheiro.

 – Como estou? – ele pergunta, ao chegar perto das amigas. Usa um cropped roxo e uma calça preta. Mas o que realmente se destaca nele, é a maquiagem. Um dos olhos está pintado totalmente de preto, como nas maquiagens da banda Kiss. O outro olho tem uma maquiagem azul bem escura, puxada. Praticamente um delineado azul que ocupa o olho todo. Na boca, tem um glitter vinho.

– Gostosíssimo – responde Gi.

– Tá gata demais!

– Pô, me ensina a me maquiar desse jeito! – Gisele chega perto dele, tentando encostar no rosto do amigo, mas ele pega sua mão, a impedindo.

– Num vai estragar essa obra de arte que eu fiz na minha cara!

Bruno se ocupa em afinar seu baixo após isso. Adora começa a andar de um lado para o outro.

– Nervosa? – Gi pergunta.

– Até tô… – responde, sem parar de andar – mas acho que tô mais nervosa pro que vai vir depois.

– Você não precisa fazer isso – diz Bruno, enquanto termina de afinar seu instrumento.

– Preciso e vou – diz Adora, já se posicionando perto do microfone – vou fazer isso por mim e pelos meus irmãos.

Não tem muita gente no lugar. Algumas mesas aqui e ali estão cheias, apenas. Adora vê Spinerella e Netossa, na mesa mais próxima. Spinny está com seu iPhone, à pedido de Adora mesmo, para filmar tudo. Na verdade, a parte mais importante é a primeira música. As duas têm um sorriso no rosto, como se orgulhosas dos amigos. Netossa dá um “joinha” para eles.

 – Prontas? – pergunta Bow.

Gi e Adora assentem. O coração da loira está disparado. Ela não entende se é nervosismo, raiva, timidez. Talvez um misto de tudo.

– Boa noite pra todo mundo! – a presença dela parece ser ignorada – nós, ahem, somos a Panic Velcro. No baixo, quem toca é Bow, e na bateria, Glimmer! – Adora se sente meio esquisita, parece que está falando sozinha. Ela dá uma nota na guitarra e continua – eu… sou a Adora, e essa letra foi composta por mim – Adora faz uma curta pausa. Sente a respiração nervosa que machuca a sua garganta, concentra-se em se acalmar, suspirar e expirar de forma ritmada… – e eu gostaria de dedicá-la ao… meu pai.

Ela gostaria de tê-lo chamado de filho da puta, mas se refreia.

 

Era uma vez

Uma linda família feliz

Um seio da nata, limpo e burguês

Impoluto como verniz

 

Nessa família, o magnata,

O magnânimo rei de toda uma casta

O rei da sala de jantar, o patriarca

Com mãos de ferro, controlava

Seu grandioso palácio real.

 

Mal sabe ele que pra mim,

Ele é o palhaço real,

Me diz aí, papai,

Por que não vai chupar um pau?

 

Uma exclamação é ouvida das mesinhas. Alguns não sabem como reagir, outros riem. De relance, Adora vê uma senhora de mais idade colocar a mão na boca, atônita e inconformada. Um riso se forma na face da loira, mas a raiva que está externando logo a toma de volta.

 

Você diz que não é natural,

Que não me criou pra ser assim,

Que influenciei meus irmãos,

Mas você já se viu no espelho?

 

Um velho caquético, débil e boçal,

Que aterroriza menininhas de 12 anos,

Um completo insano,

Com medo do fantasma vermelho

 

Seu castelo de cartas ruiu,

Igual sua masculinidade frágil,

Quando ao primeiro viado que viu,

Deu pra ele num sigilo indelicado

 

Então pai,

Já que quer tanto assim que eu arrume um macho,

Te lanço a sugestão, vou te dizer o que acho,

vai chupar um canavial de rola e nos deixa em paz!

 

Para a repetição do refrão,  o trio acelera junto nos instrumentos e Bow entra junto com Adora na estrofe seguinte, agindo como um poderoso backing vocal:

 

Então pai,

Já que quer tanto assim que eu arrume um macho,

Te lanço a sugestão, vou te dizer o que acho,

vai chupar um canavial de rola e nos deixa em paz!

 

Sabe uma parada que eu nunca entendi?

Pra um senhor tão heterossexualmente macho e porreta

Você passa tempo demais reclamando d’eu chupar buceta

E não chupa buceta nenhuma, por isso a mamãe é infeliz!

 

Passa tanto tempo tentando me convencer

Que piroca é tão interessante assim

Que eu já tô começando a pensar

Que é você que tá afim!

 

Quem você pensa que é?

O valentão do fundamental?

Até hoje continua fazendo bullying

Com meninas em idade colegial!

 

Pode enfiar no cu a sua reputação,

E tudo o que pensam de mim e dos meus irmãos,

E a donzela indefesa no castelo, papai,

Cresceu pra matar o dragão!

 

Então pai,

Já que quer tanto assim que eu arrume um macho,

Te lanço a sugestão, vou te dizer o que acho,

vai chupar um canavial de rola e nos deixa em paz!

 

Após o último verso, a banda torna a acelerar a música, e acelera, e acelera, até um ritmo tão frenético que os dedos de Adora nas cordas da guitarra parecem prestes a rasgar, e  subitamente tudo acaba com uma nota final da bateria de Gi.

A maioria dos clientes no bar fica sem reação. Um grupo ou outro aplaude e dá risada. Ouve-se até um “ow, top, hein!”. Adora sai de um tipo de transe. Olha para Spinny, que faz um joinha. O vídeo é enviado para Adora logo em seguida.

A Panic Velcro toca mais algumas músicas, nenhuma tão emocionalmente carregada como a primeira. Adora dormiria na casa de Gisele depois do show.

[...]

Na casa dos Grassi, no dia seguinte, a “família feliz” toma o café da manhã em silêncio. Este é quebrado por Edric, colocando um vídeo para tocar. Ouve-se Adora dizendo que dedica a música ao seu pai pelo auto falante do celular. Alador e Odalia olham para o aparelho com curiosidade.

Logo após a música começar, o portão da garagem abre. O vídeo continua tocando enquanto Adora entra em sua casa. Aquilo tinha sido meticulosamente planejado pelos irmãos. Quando a mais velha entra na cozinha, a letra já chegou na parte mais pesada. Alador olha horrorizado para a filha, parada à porta. Adora, por sua vez, encara o pai com uma sobrancelha erguida.

O vídeo acaba, nenhuma palavra é dita. Os gêmeos suprimem uma vontade de rir, e Amity parece tão desconfortável quanto os pais. Alador ainda olha com raiva para a filha mais velha, sentado à mesa, atônito.

– Entendeu o recado, pai? – Adora diz, ainda olhando para o pai de um jeito cínico. Ela não está totalmente segura, ainda tem medo do que pode vir a seguir, mas finge o contrário. Alador se levanta, chega perto de Adora e a encara por alguns segundos. Depois, sai pela mesma porta que a loira entrou. Ela entende isso como um “sim”.

E não estava errada. A partir daí, o pai ficaria cada vez mais distante. Por vezes, exigiria muito de Amity em relação a estudos, e isso ficaria um pouco pior depois da caçula entrar para o time de futsal. Mas Adora defenderia seus irmãos sempre, cada vez mais corajosa. Odalia teria a reação contrária ao marido. Se tornaria cada vez mais próxima das crianças, entendendo que as atitudes do pai eram completamente sem sentido. As coisas melhorariam um pouco na casa dos Grassi.


Notas Finais


GENTE GENTE!!! A capa foi feita pela @artslahh e é referente ao jogo que a Catra assistiu, a foto que saiu no jornalzinho da escola ^^
Revisei o cap várias vezes mas faz um tempinho, então se tiver algum errinho, podem avisar e me perdoem.
Ajuda a Brias no Padrim galera, ela tá precisando: https://www.padrim.com.br/briasribeiro
E ela tá com oneshot nova, putaria sapatão que eu amo: https://www.spiritfanfiction.com/historia/polen-21859706


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