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História Door Between Two Worlds - Good Friends


Escrita por: HaNi-Raissa

Notas do Autor


Mais um cap repostado! <3

Capítulo 16 - Good Friends


Não foi de todo inesperado. Na verdade, a reação de todos foi o mais previsível possível. SoRa jogou-se em meus braços dizendo que sentira minha falta, que eu deveria ser punido por ter passado tanto tempo sem vê-la. Meu pai recebera-me feliz, embora seu rosto demonstrasse o cansaço do trabalho em cada linha de expressão exposta, como se tudo estivesse ficando muito pesado para que apenas ele carregasse. Nada comentei, pois não esperava que tal fato fosse trazido a tona no momento, e pior, que eu o fizesse lembrar de tal assunto que prefiro não tocar. Choco não saía da barra de minha calça um segundo sequer, talvez para garantir que eu não fosse para mais lugar algum. Por minutos, cogitei a possibilidade de levá-la quando retornasse para Gageodo, mas não era possível. Primeiro porque ela sentiria falta das mordomias que estava acostumada, e segundo, porque eu mal passava tempo em casa, imagina ter que cuidar de um cachorro. E também não poderia levá-la até DongHae, pois seria muito abuso de minha parte. Era melhor mesmo deixá-la ali.

Depois de muitos abraços e conversas postas em dia, percebi o quanto estava tarde, e mais ainda, o quanto eu estava faminto. Apenas o café-da-manhã de DongHae e os lanches da estação não foram o suficiente para afastar minha fome. Pedi para que minha mãe preparasse algo, e logo ela atendeu-me, trazendo um prato de sua deliciosa culinária característica. Havia sentido falta daquele tempero por todo o tempo que estive sem ele. Por mais perfeita que fosse a comida de ShinAh, e por mais saborosa que era a comida da mãe de Henry, nenhuma poderia ser comparada àquela. Afinal, era o tempero de minha mãe. Tinha o sabor de casa em cada porção que eu levava à boca. Após estar satisfeito, ela ainda trouxe-me sobremesa, que ironicamente, era sorvete de maçã verde. Até mesmo quando estava distante, tudo me fazia lembrar dele.

A tarde toda fora dispensada em nosso diálogo familiar, interrompidos por momentos pelo telefone de meu pai. Deveria ser algum de seus empregados precisando de assistência, ou algum de seus sócios precisando de um palpite. Nunca me involucrei naquilo, mas sabia em suma do que se tratava.

Meu avô, no começo, fundou uma pequena empresa. Uma confecção, na verdade, que procurava fazer roupas que se adequassem ao cliente que fosse. Não demorou muito para a ideia ser bem difundida, e logo uma filial foi aberta, seguida de outras quinze. O negócio só foi crescendo e trazendo lucro, e tornando cada vez maior seus empreendimentos. Quando ele não era mais apto a continuar o trabalho, devido a idade, após uma formação necessária de meu pai, e anos passados ao seu lado, aprendendo e conhecendo tudo a sua volta, ele assumiu o cargo. Nas mãos de meu pai, a empresa cresceu de sobremaneira, englobando outros tipos de serviços. Naquele tempo, não podia ser um dos maiores empreendimentos da Coreia, mas era, com toda certeza, muito bem avantajada. E segundo meu pai, um dia, eu iria cuidar daquilo.

No final, dei-me conta de que era tarde já, e que eu acordara demasiadamente cedo. Estava exausto, e pedindo desculpas a todos, segui para meu quarto, procurando a proteção da cama que, mesmo não morando mais ali, sempre seria minha. Não estranhei o quarto estar exatamente do jeito que deixei, com meu antigo computador na escrivaninha, minhas revistas e livros na grande estante ao lado do guarda-roupa, de frente pra lateral da cama e com os porta-retratos que minha mãe insistia em espalhar pelos quatro cantos. Parei para fitar algumas das imagens, exatamente as que tiráramos um ano atrás, quando fomos todos por alguns passeios pela Europa.* Fora uma viagem agradável, e mais ainda o era contemplar aquelas lembranças tão felizes. Mas algo estava fora do normal. Não me lembrava desde quando havia aquele quadro de ímã, com centenas de fotos em que meu rosto, por vezes sorridente, olhava para a câmera. Minha mãe deveria ter adicionado-o há pouco tempo. Meu dedos percorreram uma série de fotos minhas com SoRa** de diversas épocas, provando-me que a cada ano que passava, ela ficava mais bonita. Meus dedos baixaram, parando na foto em que um sorridente HyukJae criança sorria para a câmera ao lado de JunSu, um coleguinha do passado.

Eu podia ver o passar dos anos naquelas folhas, dispostas uma sobre as outras. Percorrendo sua superfície, acabei por identificar uma foto que reconheci. Uma outra estava por cima desta, tampando a outra pessoa que deveria estar ao meu lado. Com cuidado, tirei o ímã e a ajeitei, contemplando a imagem ao todo. E lá estava eu, com plenos dezenove anos, ao lado da pessoa que me era mais importante na época. Com aquele seu típico sorriso infantil, SungMin exibia suas bochechas coradas, feliz pelo seu desempenho na apresentação de violão. Lembrava-me perfeitamente do dia. Era durante o nosso segundo ano de namoro, e para felicitá-lo, eu levei um coelhinho rosa com uma flor na mão, que fiz questão de esconder até entregá-lo nos bastidores, quando estivéssemos sozinhos. Foi a época em que mais estivemos apaixonados, e também a que mais me dava saudade.

Perguntei-me o motivo pela qual minha mãe havia posto justo aquela foto ali, sabendo que esta seria a minha preferida, e ao mesmo tempo a que mais abominava. Por anos eu sequer podia vê-la, que lágrimas caíam de meus olhos e uma dor aguda instalava-se ao meu peito. Mas estranhamente, naquele instante, eu não sentia nada. Era o mesmo que olhar a foto de Junsu, que embora tenha sido meu colega de turma por anos, nunca fora verdadeiramente meu amigo***. Não por falta de tentativa dele, mas sim, por minhas esquivas. Será que aquilo era a maior evidência de que... Eu havia esquecido SungMin? Só havia um modo de testar. Haviam fotos que me perturbavam muito mais do que qualquer foto minha com ele. As que ele tirava com KyuHyun.

Cambaleante de sono, liguei o computador que, mais lento que uma mula, deu início a suas atividades. Deduzi que fazia tempo que alguém não o utilizava, pois a primeira coisa que ele pediu foi atualização do anti-vírus. Mandei aquilo às favas, já que para saber o que eu queria, não corria o risco. Demorou um pouco para que eu encontrasse as fotos no labirinto que eu mesmo criara com as pastas, para impedir que qualquer um tivesse acesso aos meus arquivos mais importantes. Depois de muito procurar, finalmente achei a pasta que era intitulada como “Bleeding Heart”****. Pensando bem, aquela volta toda era burrice minha. Era só ter jogado as palavras no search para encontrar. Que fosse, eu já havia as encontrado. Com os dois cliques mais rápidos que pude dar, a pasta de fotos que eu masoquistamente surrupiara dos sites de relacionamentos de SungMin apareceram na tela de meu computador. Em todas elas, seu rosto evidenciava a felicidade que presenciava ao lado de Cho KyuHyun, que sorria igualmente a ele, para a lente da câmera.

Amargor, o gosto ocre de bile, ciúmes, inveja, tormento... Nada. Nenhum daqueles sentimentos e reações que certamente aconteceriam, caso estivesse vendo tais fotos meses antes, apareceram. Nada apareceu, apenas a minha indiferença. Finalmente eu estava indiferente à Lee SungMin. Um sorriso surgiu em meus lábios, e abaixei para desligar o computador na tomada. Meu sono não permitiria que eu o desligasse de modo convencional. Ainda com uma expressão satisfeita, sentei na cama e procurei um travesseiro para abraçar. Nada. Abri o armário e logo tirei uma grande almofada, envolvendo-a com os braços e deitando a cabeça no travesseiro, pronto para entregar-me ao sono.

Finalmente eu estava fora da influência dele. E daquela vez, não eram apenas suposições, como feitas anteriormente. Era comprovado. SungMin era águas passadas em minha vida. Tive a impressão de saber o motivo de ter esquecido aquilo que não consegui esquecer em anos, em apenas dias. Lee DongHae. Um sorriso escapou-me, sem eu poder contê-lo. Já sentia saudades dele. Seu sorriso veio a minha mente e seu rosto contemplou-me por trás de meus olhos fechados. Um arrepio passou por minha coluna, e abracei com mais força o travesseiro. Como desejava que aquilo que estava entre meus braços fosse seu corpo...

E assim, com sua imagem em mente e seu nome nos lábios, entreguei-me ao labirinto da inconsciência, chamado sonho.

~*~*~*~

Já era a segunda semana que eu ficava dentro daquela casa, e os dias faziam questão de se arrastarem. Os dois primeiros foram tranquilos, gastos com uma atualização sobre o que acontecia na vida de minha irmã e mãe, que fizeram questão de contar todos os mínimos detalhes. O resto resumia-se em minha cama e o computador, que aos poucos começou a ficar cheio de minhas novas ideias para o livro, além de... Pequenas divagações sobre meu emocional. Claro, ele estava normal, como sempre fora depois de conhecer DongHae, embora picos de saudade mórbida tenham se abatido sobre mim todas as noites.

Já no segundo dia, fiz minha mãe me arranjar um daqueles travesseiros em formato de tubo. Passava a noite toda procurando, inconscientemente, uma presença que sabia não estar lá. Algo deveria ser feito, e, por isso mesmo, comecei a dormir abraçado com um daqueles travesseiros. Os dias eram ainda mais angustiantes que as noites. Por meio de sonhos, era comum eu encontrar-me com ele, e assim que acordava, uma paz de espírito inundava-me, como se eu realmente tivesse dispensado algumas horas ao seu lado. Difícil era suportar o restante do dia apenas com aquilo. Não era raro que eu me trancasse no banheiro depois de muito tempo com a mente focada na imagem mental que tinha dele, que aos poucos evoluía para uma visão mais favorecida e nada casta. Eu tinha apenas minha mão para resolver aquilo, e estava fazendo um ótimo uso dela.

Aquilo tudo era culpa do ócio que inundava aquela casa. Meu pai enrolava para me dar o numero da imobiliária que eu deveria procurar para por minha casa a venda, assim como minha mãe não deixava eu fazer nada, por estar “descansando” da “dura” vida que eu estava levando. Como se ela não desconfiasse dos motivos pela qual eu queria estabelecer-me em Gageodo. Pena que, diferente do que seria o normal, ela já tivesse um alvo para isso. Henry. Ela jurava - mentalmente, claro, para mim ela nada dizia – que o motivo de minha estadia estava perdido em algum lugar perto daquelas bochechas. Tão ingênua...

O pouco do tempo em que eu exercia algum tipo de ocupação era em frente ao computador. O tempo livre fora-me ótimo para pensar em tudo. Embora minha escrita tivesse evoluído muito naquele tempo, para que as palavras fluíssem, era necessário alguns minutos pensando nele, e em como sua presença trazia para mim inspiração. Claro que às vezes aquilo saia de uma forma colateral, causando o efeito anteriormente citado, mas nada passava disso. Embora tivesse sido muito tranquila a estadia na casa de meus pais e, só assim, consegui descansar realmente, chega uma hora em que o tédio cansa. Aproveitei a monotonia para responder todas as mentions de meu twitter, que não eram muitas, diga-se de passagem. Aquele ritmo de vida enfadonho já estava me tirando do sério. Entediado, jogado no sofá e olhando para o teto, pensando que quer que fosse, senti um puxão em meu pé. Tomando um susto, sentei de uma vez só, em um único salto. Meu estômago embrulhou pela adrenalina que correu por meu corpo, e SoRa, feliz com o resultado que obteve, sentou divertida ao meu lado.

– Pensando no que, irmãozinho? – perguntou, exibindo-me aquele belo sorriso, que fazia com que eu fosse incapaz de me aborrecer com ela.

– Pensando que minha irmã quase iria me matar do coração é que não era – rolei os olhos, ouvindo outra de suas risadas divertidas.

– Pare de ser tão mal humorado logo de manhã. Alegria, hoje é mais um dia – jogou as mãos para o alto, esperando realmente que aquilo fosse me animar.

– Uhul, alegria, mais um dia trancado aqui dentro, de molho, esperando a boa vontade do Sr. Lee Kang Hun de trazer o endereço da imobiliária... – agitei os braços no ar, enquanto falava ironicamente com voz de tédio.

– Deixe de ser tão velho de alma, HyukJae! E pare de reclamar, se quisesse tanto que isso se resolvesse a tempo, teria procurado por isso você mesmo – girou a cabeça, fingindo que não se importava com meu desânimo.

– Claro, isso se ele deixasse. Sabe como papai é, tudo da família deve ser mantido no mesmo lugar, nada de vários contatos. Ele só não me ajuda muito se esquecendo disso diariamente. Sem falar que eu não vou estar aqui, terei que deixar essas coisas na mão dele. Nem em sonho irei vir para Seoul toda semana para resolver probleminha pequeno. Tenho mais o que fazer.

– Nossa, que discurso de gente ocupada e importante... - ironizou - Enfim, vim aqui te chamar para sair. Vamos?

– Pra onde? – levantei uma de minhas sobrancelhas.

– Shopping – sorriu.

– Não tem algo mais divertido?

– Não – outro sorriso.

– Vai fazer o que lá? – perguntei. Não era de hoje que estava pensando em sair e comprar algumas coisas, mas a falta de dinheiro, que eu deveria economizar, e a falta de motivação, estavam superando a minha vontade de viver.

– Compras – falou, como se fosse óbvio.

– Comprar o que?

– Quer meu RG e CPF também? Anota aí – riu sozinha de sua galhofa.

– Muito engraçado, noona. - girei os olhos - É sério.

– Aish! Um presente para uma amiga. Por quê? Quer comprar algo?

– Não sei... Estava pensando... Não tenho dinheiro de qualquer forma.

– Papai liberou o cartão hoje. É só você comprar que eu digo que fui eu, então ele paga. Aceita?

– Nossa, eu não imaginava isso, muita bondade de sua parte. Mas irei precisar de sua ajuda... – eu não tinha a mínima ideia do que comprar, e isso era um problema muito sério – o que dar para um amigo?

– Amigo? É aniversário dele?

– Sim – menti duplamente – o aniversário de um amigo – você poderia ler isso apenas como “agradar DongHae”.

– Eu posso te ajudar, o que acha?

– Seria ótimo – sorri – mas espera eu comer algo, que estou em jejum ainda...

– Não ligue pra isso – sorriu, pulando do sofá e me puxando junto – comemos por lá. Vamos – e um pouco cambaleante, acabei por seguir minha noona para onde quer que ela estivesse carregando-me.

~*~*~*~

– Noona, já é a vigésima loja em que procuramos o que você quer... – falei, demonstrando o enfado que sentia através da voz.

– Não reclame – repreendeu-me – Nós iremos achar algo logo... – seus olhos percorriam o exterior das vitrines, esperando que alguma hora o que tanto procurava aparecesse em sua frente, como mágica - Só não sei aonde.

– Ótimo – girei os olhos – nada como andar a esmo, não é?

– Você só reclama, HyukJae, parece um velho – entrou em mais uma loja, avaliando mentalmente que aquele seria um lugar ideal para encontrar o que quer que fosse.

– Noona – chamei-a do lado de fora, recebendo um aceno de cabeça como resposta – estarei olhando uma dessas lojas em frente, tudo bem? – outro aceno, que levei como sendo uma afirmação.

Minha irmã se assemelhava enormemente a mim e a minha mãe. Seu jeito de ter respostas na ponta da língua nos fazia com a personalidade tão parecida, que era incrível. Talvez por isso sempre tenha olhado-a mais como uma amiga do que como uma irmã propriamente dita. Aquele papo de “mais que amigos, somos irmãos” não funciona comigo. Quando você cresce, é perceptível que, ao sair de casa, a maioria dos irmãos perdem contato um com o outro, enquanto amigos não. Irmãos, na maioria das vezes eram presos pelo laço do sangue, apenas, com afinidade alguma de espírito. Em contrapartida, apenas somos amigos daqueles que compartilhamos sentimentos.

E lá estava eu, novamente, perdido em pensamentos que, se eu não tomasse cuidado, iriam emendar-se em outros assuntos para debate mental, e outros, e outros... E quando eu finalmente perceber, fiz todo um monólogo sobre algo minimamente importante. Mal de escritor, eu suponho. Meus olhos pousaram na prateleira onde diversos celulares eram exibidos, cada um condizente a uma tecnologia diferente, uma mais avançada que a outra. Eu não precisava de um celular novo, não era para isso. Eu precisava comprar um presente para DongHae, para compensar a falta que eu o fazia. Sim, eu era muito prepotente, e não tenho receio de falar isso. Precisava também comprar um presente para Henry,que tanto me ajudou quando precisei. Eu só não fazia ideia do que comprar.

DongHae não possuía um celular, e por maior que fosse minha vontade de comprar um para ele, do que adiantaria? Na vila não havia sinal de operadora alguma, tornando o pequeno aparelho algo supérfluo à existência naquele lugar. Mas seria bom que ele tivesse algo que o fizesse lembrar de mim, principalmente se esse algo pudesse comportar fotos. Comprar um celular apenas pela sua câmera? Mais fácil comprar uma câmera digital. Abaixei um pouco o olhar e deparei-me com alguns modelos, no mínimo, interessantes. Contemplei-os e nada me pareceu o certo para dar-lhe de presente. Aquele era um dos momentos em que precisava de uma opinião vinda do céu. Não sei bem quando comecei a virar vidente, mas um vulto loiro surgiu ao meu lado, espelhado no vidro da vitrine. Girei a cabeça, procurando de onde viera aquela aparição, e deparei-me com uma moça de cabelos curtos, com um corte masculino, igual a sua roupa.

– Olá, precisa de ajuda? – ela sorriu.

– Você trabalha aqui? – levantei, ajeitando-me da posição em que me encontrava.

– Sim. Posso ajudá-lo?

– Talvez... – passei a mão nos cabelos, embaraçados – eu estava querendo um presente... para um amigo. Mas não tenho a mínima ideia do que dar. Não sou bom com essas coisas, se é que você me entende...

– Um presente? – ela sorriu novamente – você tem algo em mente? Não o que seja, mas algo que tenha significado?

– Bom, sim... Algo que o faça se lembrar de mim, sabe? É um amigo bem importante... – isso soava o cúmulo da viadagem, mas eu realmente precisava de ajuda. Restava-me pouco mais de cinco dias em Seoul e nada vinha em minha mente.

– Por isso você está pensando em algo que possa tirar fotos?

– Sim.

– Algo um tanto clichê, mas aceitável. A propósito, meu nome é Amber. Se não conseguir se decidir hoje, pode voltar outro dia, quando tiver certeza do que dar, e me procurar pelo nome...

– Não posso demorar muito tempo para decidir, por isso preciso de ajuda. Eu tenho apenas cinco dias para isso. Estou “morando” – fiz aspas com os dedos – em outro lugar, e tenho que voltar. Estou apenas visitando meus pais e resolvendo alguns problemas – ela parecia tão interessadamente inocente, que acabei engatilhando uma conversa.

– Entendo. Você está “morando” muito longe daqui? – fez os mesmos aspas no ar.

– Não exatamente – sorri – estou em Gageodo, conhece? É uma ilha e...

– Gageodo? – ela deu um pequeno pulinho no lugar, como se ficasse feliz em ouvir o nome – eu adoro aquele lugar! Como conheceu? Embora seja um ponto turístico, não é muito visitada. Todos preferem Jeju... Ainda mais nessa época do ano.

– Mas eu não estou visitando – sorri – tudo bem, no início eu estava, mas gostei tanto daquele lugar que estou decidido a me mudar para lá. E conheci quando uma fã minha me indicou pelo twitter. Sou escritor, sabe... – sorri sem graça. Seu rosto perdeu a cor assim que terminei a frase, e temi que ela fosse desmaiar. Segurei-a no braço e ajudei-a a se sentar em um daqueles bancos de shopping, que por sorte, existia na frente da loja em que conversávamos – está tudo bem?

– Não posso acreditar! – respirou fundo antes de dizer tal frase, fazendo com que a cor de suas bochechas voltasse um pouco.

– No que? – perguntei, com a mão ainda em seus ombros, com medo de que outra fraqueza a abatesse.

– Seu nome... Por acaso é EunHyuk?

– Não – ela respirou fundo – meu nome é HyukJae, mas meu nome artístico é EunHyuk – ela engoliu seco e arregalou os olhos novamente – por que?

– Você que escreveu Trying to Forget?

– Sim... – será possível que todas as pessoas no mundo que eu iria conhecendo me reconheciam pelo MEU LIVRO MENOS CONHECIDO?

~*~*~*~

Demorou um pouco para ela se recuperar do choque, que não entendi o motivo de ter acontecido. E mais tempo ainda para que ela parasse de gaguejar. Tive que entrar na loja e pedir um copo com água e açúcar, para ver se ela melhorava um pouco, e pareceu que a solução dera certo, já que a ausência de cores de seu rosto se fez menos evidente a cada gole que ela dava.

– Está melhor agora? – peguei o copo vazio de suas mãos e repousei-o no banco.

– Sim, estou. Obrigada - respirou fundo.

– Posso perguntar por que você ficou tão desnorteada quando soube quem eu era?

– Claro – ela sorriu, fracamente – no mínimo, você merece uma explicação.

– Sou todo ouvidos.

– Eu sou sua fã – ela sorriu, dessa vez, um pouco constrangida.

– Isso não se vê todo dia – fiz piada de minha própria desgraça.

– Não... – ela sorriu e concordou. Nem meus fãs reconheciam meu talento, que ótimo exemplo eu era – mas sou grande fã dos seus livros.

– Sério? Qual seu preferido? – sentei-me ao seu lado.

– Trying to Forget, embora seja o menos conhecido...

– Pois é, não entendo... Tenho ouvido muito isso ultimamente... – murmurei.

– Como é?

– Nada... – mudei de assunto – e como soube que era eu?

– Ah... Fui eu que te mandou a mention no twitter. Para você ir para Gageodo... Eu estive lá um tempo atrás, visitando um amigo e fiquei na estalagem dele durante um tempo. Mas quando minha mãe decidiu passar as férias por lá, alugamos o chalé que eu indiquei.

– Espera. Você por acaso conhece um rapaz chamado Henry?

– Sim. Você o conheceu? – pude jurar que vi um brilho nos seus olhos.

Henry, Henry...

– Sim... Acabamos virando amigos...

– Esse amigo que você quer dar um presente... É o Henry?

– Na verdade, não exatamente. Por que acha isso?

– Bem, o aniversário dele está perto, então achei que você iria aproveitar para comprar algo para ele.

– É aniversário dele? – assustei-me.

– Sim. Onze de outubro. Não sabia? – sorriu.

– Não... – então era por isso que ele mandara eu voltar antes do dia onze... Tsc. Se ele tivesse falado, teria comprado algo para ele, melhor do que a simples lembrancinha que pensava em levar. Ainda bem que eu conhecera Amber e ficara sabendo da data, caso contrário, o máximo que ele ganharia seria um pedaço de madeira – mas é bom saber, só assim compro algo para ele por aqui. Embora não faça ideia do que dar.

– Qualquer coisa relacionada com música. Ele adora.

– Você parece conhecê-lo bem...

– Fomos bem amigos – sorriu sem graça – mas vejo-o muito pouco, agora. Só quando, por um milagre, ele vem para Seoul, ou quando eu vou para Gageodo nas férias.

– Sua nova amiga, HyukJae? – minha noona apareceu, interrompendo nossa conversa - ou já se conhecem há mais tempo?

– Nos conhecemos agora, noona – ambos levantamos, ficando de frente para SoRa, que fitava Amber da cabeça aos pés.

– Qual o seu nome? – ela perguntou, simpática, oferecendo à Amber um sorriso.

– Amber. Muito prazer – ela inclinou-se ligeiramente, cumprimentado.

– Sou Lee SoRa. Muito prazer – inclinou-se da mesma forma – conheceu agora meu querido irmãozinho?

– Não fale assim, SoRa, parece que eu sou uma criança.

– Interiormente, você ainda é – sorriu, e dirigiu-se à Amber – espero que ele não tenha lhe incomodado e nem atrapalhado seu trabalho. Ele tem essa mania, acha que todos são desocupados iguais a ele.

– Não, não – ela agitou as mãos em frente ao rosto, como se negasse a afirmativa – eu já estava quase no horário de almoço quando ele veio falar comigo. E bem, eu sou uma fã do trabalho dele, então não foi incômodo algum – ela sorriu, constrangida.

– Uma fã? HyukJae não tem muitos fãs... Achei que morreria sem conhecer um.

– Tão engraçada, noona... – revirei os olhos – já decidiu o que queria?

– Ainda não. Acho que não encontrarei aqui – suspirou desanimada – mas quem sabe se eu não continuar a procurar pelas lojas eu não ache o que quero? Estou esperançosa, e ainda me resta bastante tempo. Vem, Hyuk – ela pegou minha mão e praticamente arrastou-me para longe – até algum dia, Amber.

– Até – ela acenou e sorriu, desconcertada.

– Até mais algum dia. – acenei de volta – A gente se ver por aí.

– Até – ela repetiu o gesto e virou de costas, se preparando para voltar para dentro da loja. De rompante, SoRa parou e olhou para trás, procurando Amber.

– Amber – chamou, e logo foi correspondida pela menina que virava de costas.

– Sim?

– Você parece ser uma ótima pessoa. Se quiser chamar o HyukJae pra sair algum dia desses, eu autorizo.

Não deu tempo de eu brigar com minha noona ou mesmo de Amber corar como um tomate. SoRa algum dia ainda iria me fazer passar uma vergonha enorme, e ao contrário do que acontecia com outras pessoas, era por querer. Pelo simples prazer de me ver perdendo a linha.

~*~*~*~

– SoRa, nós já andamos o shopping inteiro, e nada de achar essa coisa super importante para sua amiga. Não acha que está na hora de pelo menos, comermos algo? – reclamei, saindo da milésima loja em que nossa tentativa de busca era frustrada. Até o momento, eu não tinha ideia do que era o que ela tanto procurava.

– Você só pensa em comer – ela virou os olhos.

– Mas é claro! Saí de jejum de casa, caso você não lembre.

– Verdade... – reconsiderou – que horas são?

– Deixe-me ver... – puxei o relógio de bolso e assustei-me com o horário – duas horas da tarde. E até agora, eu não comi.

– Tão chato... – murmurou – tudo bem, vamos logo comer.

Eu conhecia o caminho da praça de alimentação de olhos fechados. Por muitas vezes, fora até ali comer algo e aproveitar para digitar algumas folhas da faculdade, já que ela era próxima. Aliás, por aquele horário, deveria estar cheio dos novos alunos, que certamente eu não conhecia. Não que eu conhecesse muitas pessoas ali dentro, para falar a verdade, a palavra certa seria “reconhecer”, já que de vista eu sabia todos os que estudavam por lá na mesma época que eu. Nunca fizera questão de conhecê-los, e não era naquele momento que iria me arrepender daquilo. Logo estávamos na fila de um daqueles restaurantes de comida rápida. Um hambúrguer, batatas fritas e o máximo natural que você encontraria por ali seria um suco, que eu dispensava no momento. Não tinha de maçã.

Assim que nossos pedidos ficaram prontos, seguimos para a mesa mais próxima desocupada, e assim que sentamos, comecei a comer. SoRa olhava-me, desacostumada com a fome que me inundava. Chegou mesmo a exteriorizar tal pensamento com um simples “havia me esquecido de como você era morto de fome”, mas não se estendeu muito, e nem mesmo tentou puxar assunto. Quando eu começava a comer, nada me parava. Talvez, em outra vida, tenha nascido na África, e tenha morrido de inanição. Quem sabe? Logo, minha bandeja, que insisto em falar, era péssima - aquela cor cinza me transmitia um ar de prisão que só – estava vazia, e tudo o que restava era metade de bandeja de SoRa. Não me fiz de rogado quando peguei o restante de seu lanche e tratei de comer. Noona sempre tinha aquela ideia de permanecer magra, mesmo que seu metabolismo fosse idêntico ao meu. Não importava, era coisa da mente feminina, quem iria entender?

Quando terminamos, puxei-a para um daqueles frozens no meio do shopping, e sentamos em uma das mesas para saborear os nossos. Por sorte, havia frozen de maçã verde, tudo o que eu queria naquele momento, soterrado por ursinhos de bala de goma. Ao contrário de minha irmã, que pegou o clássico sabor morango com pedaços de frutas. Tão comum que nem dava vontade de pedir um pouco. Todo meu desejo de maçã verde acumulado naquela uma semana e meia que eu estava em Seoul, estava concentrado naquele simples pote de frozen. Tudo que eu queria era sentar em um canto, com uma dúzia de maçãs verdes, com cinco litros de suco de maçã verde, sete daqueles potes de frozen, e para finalizar, mais dez milk-shakes de maçã verde. Viciado, eu? Não.

Na primeira colherada, senti a frustração invadir-me. Não era aquele gosto que eu queria. Embora fosse, inconfundivelmente, o gosto de maçã verde, simplesmente não era a maçã que eu queria. Era maçã verde, mas ao mesmo tempo não era. Sempre que tentei reproduzir essa história, nunca consegui definir exatamente o meu sentimento no momento. Parecia que não era certo. Quando comecei a escrever Door Between Two Worlds, deparei-me com o desafio de descrever perfeitamente o perfume que tinha DongHae. Por incrível que pareça, eu consegui. E ficara tão similar ao que eu realmente senti, que pensei ter entendido em suma o que aquela presença representava. Mas ao contrário de minha ótima desenvoltura com o seu perfume, com o simples gosto da maçã, senti-me incapaz.

Sabe aquele momento em que você idealiza o sabor de um prato que está morrendo de vontade de degustar, mas a partir do momento em que você coloca o primeiro pedaço na boca, se decepciona por não ser aquilo que você queria exatamente? Sentia-me assim. É a forma mais correta que tenho para explicar tal fenômeno. Era maçã verde, com toda certeza, mas não era o gosto de maçã verde que queria. Totalmente frustrante.

– Noona, experimenta – peguei uma colher e estendi para ela. Tomando o pouco do frozen que eu havia oferecido, fez-me uma cara interrogativa.

– O que tem? Você não gostou? – suas sobrancelhas juntaram-se.

– Não é isso. Eu gostei, é que... – titubeei. Estava com medo dela me achar maluco ao extremo.

– É o que o que, HyukJae? – sua mão que estava livre pousou na cintura, naquela atitude tão típica dela e de minha mãe.

– Não sentiu um gosto estranho?

– Não. Tem gosto de maçã verde – expressou a incoerência que estava em sua mente em seu rosto.

– Isso eu sei, noona. O que eu quero dizer é... Não tem um gosto um pouco diferente?

– Diferente? Do que você está falando, HyukJae? É apenas gosto de maçã. Nada mais. O que está acontecendo contigo?

– Nada... – olhei para baixo – deve ser algo da minha cabeça.

– Ela anda muito cheia ultimamente, pelo visto. Não há nada de errado com o frozen. Come logo e vamos. Preciso vasculhar algumas lojas ainda.

Suspirando, coloquei outra colher na boca. Teria que me contentar com aquilo mesmo.

Naquela época, não entendi muito bem o que significava, mas agora que olho para trás, vejo o quão ingênuo eu era. Tudo me apontava para a verdade. O universo conspirava a favor de que eu soubesse tudo relacionado ao momento em que vivia, mas parecia que eu era cego. Talvez, eu só não quisesse enxergar. Eu dizia-me cansado de andar às cegas, e agora penso que deveria continuar do mesmo jeito, fingindo de nada saber. Mas uma vez que a venda sai de seus olhos, ela não volta. O véu que cobria meu saber não demoraria muito para cair, e algo dentro de mim dizia isso. Ou melhor, gritava. Meu interior gritava a verdade, mas eu insistia em manter aquela linha tênue em frente aos meus olhos. Nada que as pessoas escondem, mas que o mundo quer mostrar, fica obscuro por muito tempo.

Mal sabia eu que, os dias que eu permaneceria na ignorância, estavam contados.


Notas Finais


Observações:
* Algumas fotos disso: http://i42.tinypic.com/10hjf3n.jpg / http://i39.tinypic.com/35a7tqu.jpg / http://i41.tinypic.com/155jjls.jpg
** Foto do Hyuk com a SoRa: http://media.tumblr.com/tumblr_m0oeoqbqrl1qdb442.jpg
*** Gente, isso é na fic, tá? -Q
**** Alusão à minha outra fic, só por marotagem -Q
P.S.1.: Não, a Amber não deu em cima do Hyuk e nem irá dar. XD Antes que a odeiem, ela é um amor, e é bem importante na estória. Ela é apenas fã dele mesmo, apenas isso.
Até mais o/


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