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História É muito tarde para descobrir o amor no fim do verão - Gatos escaldados têm medo de água fria


Escrita por: Nishka

Notas do Autor


Tudo começou quando a Neko disse que queria uma fic onde o Yoongi fosse gago. Essas crianças pedem cada coisa...
Mas eu, como boa mãe de mentirinha, abracei a causa, e no fim, fico feliz por ter tentado.
Essa fic foi uma personificação da nossa relação.
No primeiro momento, pensei, caramba, e agora?
Então escrevi e pensei que estava uma diferente demais do que eu escrevo, que não estava bom e estava em cima da hora, então tive um surto. E no dia seguinte, estava amando ela.
Como nós duas <3

Não surgiu por causa de End of the Summer, mas quando esbarrei com essa música, descobri que casava perfeitamente. Recomendo ler ouvindo ela, e depois, qualquer uma do Alec Benjamin que o youtube indicar.
Vou deixar o link nas notas finais, junto com mais recadinhos.

Capítulo 1 - Gatos escaldados têm medo de água fria


Fanfic / Fanfiction É muito tarde para descobrir o amor no fim do verão - Gatos escaldados têm medo de água fria

Sempre pensei que se apaixonar fosse um processo gradativo de olhares, toques, palavras e um crescimento esporádico de sentimentos bons. Eu gostava de pensar racionalmente sobre isso e garantir a mim mesmo que tinha controle sobre a minha vida. Com treze anos, isso me fazia sentir muito maduro e esperto.

Mas é claro, eu estava errado.    

A primeira vez que o vi foi durante o festival da escola, quando me preparava para competir nos duzentos metros rasos. Tinha amarrado uma bandana na testa e puxado as calças até os joelhos, me sentindo o máximo com aquele uniforme vermelho escuro, como se fosse algum traje especial. Nossa turma havia feito pompons que as meninas balançavam no alto, criando uma coreografia enquanto gritavam “Taehyung! Taehyung!” por cima das outras vozes.

Eu sorri e acenei para elas, ciente de que os garotos da outra turma me odiavam. Era sempre assim, mas tinha amigos que sabiam que eu não estava interessado naquela pequena fama ou nas garotas. Kim Taehyung só tinha olhos para o troféu.

Terminei de me alongar e me agachei, testando a aderência dos tênis. Tínhamos uns minutos antes de correr e os outros competidores se alongavam. O disparo que indicava uma corrida, do outro lado da pista, me fez erguer os olhos e, bem naquela hora, eu sabia que se apaixonar não tinha mais a ver com hormônios ou expectativas. Meu melhor amigo comentou alguma coisa, bem ao meu lado, mas eu não ouvi o que era, porque ainda estava agachado, sentindo minhas panturrilhas queimarem e meu coração bater feito louco.

Do outro lado da pista, naqueles breves segundos, como um fantasma, aquele garoto ultrapassou, um a um, os outros corredores e tomou a dianteira tão rápido que não parecia real. As pernas brancas se destacavam do uniforme azul escuro do oitavo ano, mas ele era todo tão pequeno que parecia mais novo do que eu. A onda de aplausos interrompeu minha admiração, porque ele já ganhara, e o capuz nem havia caído da cabeça.

— Ah, Suga hyung é tão legal – encarei Namjoon como se ele fosse um ser de outro mundo e ele me retribuiu com uma expressão confusa. – O garoto que ganhou – explicou sem entender – Que você estava olhando, Tae. Cacete, por que essa cara?

Meneei a cabeça, sem saber o que dizer. E que cara eu fazia?

— Vamos, lá, garotos! Nas marcações! – o professor de educação física tomou seu lugar e eu me arrumei ali, tentando voltar à concentração inicial.

Baixei a cabeça, mas ainda via Suga hyung correndo diante dos meus olhos. O disparo próximo me fez levantar com todo arranque que possuía, a adrenalina em dobro porque queria que o corredor dos cem metros olhasse para mim. Queria que ele me visse como eu o tinha visto, e talvez, não me sentisse tão sozinho.

Diferente dele, não havia ninguém na minha frente, desde o começo, mas precisava me esforçar para não diminuir o ritmo. Mas eu sabia, pensava nisso enquanto corria, que jamais seria mais rápido do que ele naqueles segundos de prova. Passei a fita colorida e as pessoas aplaudiram e gritaram, ainda havia o coro chamando meu nome, mas eu procurei por ele. Ofegante, vendo os outros corredores passarem depressa ao meu lado sem conseguir desacelerar, procurei por ele.

Seus olhos passaram depressa por mim, e não sei por que, fiquei vermelho. Além do calor da oxigenação exagerada do esforço, senti o rubor da vergonha, ainda mais quando ele se inclinou e falou alguma coisa no ouvido do veterano ao lado. O garoto se virou, interessado, e sorriu quando me viu. Aquele veterano eu conhecia porque treinava conosco algumas vezes.

Hoseok hyung acenou, gritando meu nome, e eu engoli em seco, correndo de cabeça baixa até lá. Parei há uma distância segura e ergui os olhos devagar, começando pelos pés pequenos, as canelas finas, os joelhos ralados iguais aos de uma criança, o short largo e o casaco que parecia pertencer a alguém maior. O capuz caía sobre o rosto pálido e a sombra criada por ele evidenciava as olheiras fundas. Sinceramente, não sabia como ele tinha ganho a corrida. Seria sorte? Minha lembrança teimava em dizer que aquilo não podia ser sorte, ninguém corre daquele jeito por sorte, mas era difícil encontrar atributos físicos suficientes nele.

— Tae Tae, nós vimos a corrida – Hosoek se adiantou, passando um dos braços pelos meus ombros, e fiquei ainda mais envergonhado – Nem teve graça – olhou para o garoto que usava o uniforme da cor do seu e estalou a língua, pensativo – Suga também é muito rápido. Queria ver vocês competindo.

Com aquela deixa, olhei para o corredor fantasma e disparei tudo de uma vez, como o garoto apaixonado que estava me sentindo. Estava apaixonado pela sua velocidade.

— Hyung, nunca vi alguém tão rápido! Achei que fosse um fantasma, porque não conseguia acreditar em como ultrapassou todos de uma vez! Suga hyung é incrível!

Acho que percebi meu entusiasmo exagerado quando Hoseok começou a rir, apertando-me contra si enquanto dizia que eu era uma criança fofa. Fiquei com vergonha, porque queria parecer legal na frente dos hyungs, mas eu era isto mesmo, uma criança atrapalhada. No entanto, Suga era gentil demais para caçoar de mim. Por mais que houvesse ali um sorriso discreto, tremendo nos cantos da boca pequena, o riso parecia diferente, feliz. E isso eu podia suportar.

— Nós vamos competir na corrida de revezamento das turmas – continuou Hoseok hyung, tentando me animar – E é claro que a estrela da sétima série também vai, certo? Vamos deixar vocês dois na última bateria e ver como se saem no mano a mano.

Fiquei tão empolgado que apenas sorri, acenando com a cabeça. Suga deu de ombros, mas não pareceu contrariado. Eles se despediram rapidamente quando a professora separou as turmas para a contagem das tampas de garrafa que deveríamos recolher como parte das competições do festival. Namjoon era o responsável pelas tampas da nossa turma, então fui até ele, gritando incentivos idiotas com os outros garotos.

No fim, não ganhamos a batalha de tampas recolhidas, mas foi divertido. Ou tão divertido quanto eu poderia achar enquanto ficava procurando Suga hyung no meio das turmas. Queria vê-lo. Queria vê-lo de novo e dizer que podíamos – não! Que devíamos – ser amigos. Queria correr com ele. Queria ver aquele rosto sério que se controlava para não sorrir.

— Nam – chamei de repente, quando caminhávamos na direção das pistas de terra mais uma vez.

— Hm?

— Eu vou dizer a ele – disse sem explicar do que se tratava. Namjoon me olhava com confusão de novo mas não tinha tempo de explicar. Segurei seus ombros, quase pulando de empolgação – Se ganharmos, vou dizer ao Suga hyung que vamos ser amigos!

— E o que te impede dizer isso se perdemos? – Namjoon se soltou com um dar de ombros violento, ainda me analisando com o cenho franzido.

— É que eu queria ter alguma coisa legal para dizer – meu raciocínio estava sendo atrapalhado pela proximidade com a oitava série.

A primeira bateria estava nos lugares e, mal paramos ali, como quarto e quinto no revezamento, o disparo do início soou pela quadra e uma nuvem de poeira se ergueu quando os pés rasparam no chão. Olhei para o lado e vi meus dois hyungs na fila ao lado, concentrados.

Queria ter alguma coisa legal para oferecer ao corredor fantasma em troca da sua amizade silenciosa e magnética.

Jeongguk, o segundo, foi para a pista e se preparou para a troca. Quando começou a correr, nenhum de nós respirava. Aquele momento era sempre cheio de tensão. Jin era mais lento do que ele, então, Jeon só acelerou de verdade quando tinha o bastão bem firme. Soltei o ar com alívio e Jimin se preparou para entrar na corrida.

— Sabe, quero parecer legal, não só um perdedor da sétima série – recomecei minha novela, dando as costas para o alvo das minhas lamentações.

Namjoon ainda o encarou por um momento, talvez tentando ver o que eu tinha percebido em Suga hyung, mas não encontrou, porque ainda não me entendia.

— Tae, só... Só diga a ele para serem amigos – revirou os olhos e se virou para ver Jimin começar a correr na hora da troca – Aliás – de novo, pude respirar aliviado quando o bastão passou adiante – geralmente você não precisa pedir para ser amigo de alguém. É só... ser amigo, ué.

Namjoon me deixou para trás e foi para ponto da troca, assim como Hoseok hyung. Essa seria uma corrida boa. Olhei para o lado e Suga me encarou na mesma hora, distraído. Sorri e ele retribuiu com seu jeito silencioso, o rosto quase coberto pelo capuz gigante.

Namjoon começou a correr um segundo antes de Hoseok hyung e eu me preparei para entrar quando todos fizeram a troca.

— Boa corrida, hyung – disse meio de cabeça baixa, sem coragem de olhar para Suga ou esperar uma resposta.

Parei no meu lugar, duas marcações de distância dele, e esperei por Namjoon. Conhecê-lo desde sempre tinha suas vantagens. Disparei antes dos outros, antes de Suga hyung ter se preparado direito, e corri como louco. Namjoon acelerou tudo que podia naqueles segundos, décimos de segundo, e fizemos a troca mais louca da história daquela escola.

Ouvi a parada brusca que ele fez, esgotado por ter tirado energia de não sei onde para me alcançar na minha arrancada explosiva. Passamos o verão todo treinando, mas dera certo afinal. Não havia ninguém na minha frente, como deveria ser.

Mas então, quando a curva da pista se acentuou, vi pelo canto do olho aquele uniforme azul escuro. Meu coração apertou com a agonia da derrota e acelerei ainda mais, arrancando um último suspiro de energia do meu corpo exausto, mas lentamente, centímetro a centímetro, Suga hyung me ultrapassou.

Silencioso como um fantasma.

Havia esforço no seu rosto, eu era capaz de ver as gotas de suor na pele clara, e então o capuz foi levado pelo vento e os cabelos brancos se agitaram no ar. Como um fantasma.

A torcida vibrou e nem mesmo consegui me sentir mal pelo segundo lugar. Namjoon me segurou quando passamos pela fita da chegada, porque meus joelhos estavam cedendo, ele sabia, mas meus olhos não saíam do garoto albino que corria como um fantasma. Suga puxou o capuz sobre a cabeça, voltando a se esconder, mas por um mísero segundo, vi os reflexos avermelhados nas íris que a sombra protegia.

E ele sorria.

 

 

 

— Hyung! – meus gritos ecoavam no corredor frio, escuro naquele fim de tarde, sem nenhuma luz acesa que pudesse ajudar.

Suga hyung parou e se virou, mas não podia ver seu rosto no breu. Corri ainda mais quando percebi que ele me esperava, então estava um pouco ofegante quando parei. Era um pouco mais alto do que ele, já naquela época, mas ele era firme e eu me encolhia diante do seu olhar. Engoli em seco, respirei fundo, e então lhe estendi a mão.

— Hyung, por favor, seja meu amigo.

Acho que o peguei de surpresa, porque demorou a reagir. Tanto que cheguei a ficar com vergonha e ponderar a ideia de trocar de escola depois de ser ignorado. Mas bem nesse ponto, ele se moveu. Tirou a mão do bolso do casaco, um pouco escondida pela manga comprida demais, e estendeu na minha direção. Apertei-a de imediato, com medo que mudasse de ideia, mas ele não mudou.

O som inesperadamente claro fez meu coração acelerar e vi, com espanto, que ele estava rindo. Cobriu o rosto com a mão, assim que soltou a minha, e desviou os olhos. Ele devia ficar corado com muita facilidade, mas não tentei ver sob o capuz, apesar do desejo.

— Nas férias, nós sempre treinamos no campo ao lado do rio – disse depressa, feliz que ao menos minha voz não tremesse. Suga apertou os lábios, controlando o riso, e me olhou por baixo do capuz – Se você quiser, hyung. Estarei esperando.

Engoli aquela sensação desconfortável na garganta e acompanhei o movimento suave da cabeça. Uma confirmação. Me curvei, desajeitado, e voltei correndo em direção ao campo, já que ainda precisava ajudar a limpar. Olhei uma última vez e meu coração perdeu o compasso. Suga hyung estava parado no mesmo lugar, me olhando correr.

Naquele momento, eu não me sentia mais sozinho.

 

 

 

Quando as férias começaram, depois do final de semana, passei a esperar ansioso pelo fim da tarde, quando íamos treinar. Namjoon e eu treinamos os duzentos metros de sempre e o revezamento. Hoseok hyung veio algumas vezes, na primeira semana, e treinamos com eles. Na segunda semana, Jimin e Jeongguk se juntaram a nós. Na terceira, Jin também estava lá.

Mas Suga hyung nunca veio.

Hoseok hyung se formou e trocou de escola no final do verão, nós fomos vê-lo com o uniforme novo. Mas Suga hyung não foi.

Na verdade, eu nunca mais o vi.

E foi assim que, logo depois de aprender sobre me apaixonar, eu aprendi sobre corações partidos.

 

 

 

Olhei o papel estendido na minha direção e então encarei os olhos preocupados da professora responsável pela nossa classe. Os terceiros anos sempre eram bombardeados com exames de carreira, testes vocacionais e coisas do tipo, mas não sabia como isso podia ajudar. Peguei a folha e escrevi meu nome no alto, no espaço em branco designado.

— Kim Taehyung, por que não... – devolvi a folha, cortando sua fala. Meu nome era a única mudança na folha. – Taehyung... Não pode me devolver assim.

Encolhi os ombros, sorrindo fechado com minha melhor expressão de culpa. Na verdade, eu podia, e era o que vinha fazendo desde o começo do semestre. Ela ainda me olhou por mais alguns segundos, tentando entender o que se passava pela minha cabeça – sendo que nem eu mesmo entendia – então desistiu e me deixou voltar para a sala de aula.

Já estava atrasado...

Olhei a pista de terra que podia ver pelas janelas do corredor e fiquei animado ao menos com isso. Tinha até o final do ano para competir pela escola e aproveitar o tempo com meus amigos. Depois... O depois era uma incógnita, mas tinha jurado a mim mesmo que só me preocuparia com isso quando fosse inevitável. Mas de nada adiantavam os testes vocacionais para mim. Não mais.

Minha turma estava parcialmente fora da sala quando cheguei. Namjoon e Jimin estavam discutindo no corredor sobre um filme, as risadas altas dos dois ecoando nas paredes baixas. Ergui a mão para acertar um cumprimento que não vi a quem pertencia e entrei, sem ânimo para brincar. Estava cansado, minhas costas doíam, e o dia tinha apenas começado. O que não daria por um bom cochilo?

Tomei meu lugar, na última classe contra a janela, e deitei a cabeça sobre os cadernos. Jin havia feito meu dever de casa – de novo – e eu seria salvo até a próxima prova, mas com um pouco de sorte, conseguiria estudar depois. Era o que sempre prometia a mim mesmo. Fechei os olhos, querendo me entregar ao cansaço, mas a movimentação extra indicava que a professora estava chegando. Abri os olhos de novo enquanto as classes eram empurradas e as risadas sumiam devagar. Namjoon sentou na classe ao lado, mas não tirava os olhos da porta.

Então fiz como o restante da turma e olhei. A professora de física tinha um dos braços estendidos, chamando a pessoa na porta, e então ele estava lá. Não mais com o rosto envolto em sombras, mas ele estava lá. A manga do uniforme estava certa, não mais comprida como se fosse de outra pessoa antes, mas ele estava lá.

Meu corpo reagiu por reflexo, acho. Espero que seja isso, porque era difícil admitir o quão rápido meu coração estava batendo. Me levantei tão depressa que a cadeira caiu com um barulho exagerado e todos os rostos se viraram na minha direção. Inclusive o rosto pálido e com olhos de íris avermelhadas.

—Suga hyung?!

Não sabia se era um sonho ou um pesadelo, mas ali estava ele, em carne e osso, e estava sorrindo.

           

 

 

Namjoon não conseguia me olhar sem rir, por isso, minha expressão não era das melhores. Evitei falar qualquer coisa depois daquilo, porque meu rosto ficou muito vermelho e apenas saí correndo da sala, como o covarde que era. Fiquei escondido na biblioteca até trocarmos de período, então desci para a quadra, já que não podia faltar às aulas – pelo menos, o treinador não podia saber – ou seria expulso.

— Cara... – Nam começou com aquela nota de riso e o encarei com raiva, silenciando-o. Ele meneou a cabeça, mas não completou a frase.

Terminei de amarrar meus tênis e fui me juntar ao grupo do aquecimento. Confesso que fiquei surpreso por não ver Suga hyung ali, mas em compensação, meus colegas estava todos presentes e me olhando. Ignorei cada um deles e fiquei calado, olhando para o professor enquanto ele dava indicações que não ouvi. Quando nos liberou para correr, disparei na frente, mesmo sendo só para aquecer, e mantive uma distância segura de qualquer um.

Todas as vezes que passávamos pelos bancos, olhava de canto, mas o hyung não estava lá.

— Ele não está.

Quase tropecei nos meus próprios pés ao ouvir Jeongguk, próximo demais. Encarei aquele rosto sorridente com minha melhor expressão de ódio, mas ele não se assustava fácil. Também era a única pessoa que conseguia acompanhar meu ritmo.

— Eu sei – disse quando não pareceu que ele iria desistir sem uma resposta. – Não pode pegar sol.

— É – o sorriso irritante ainda estava no seu rosto, mas não me incomodava tanto. – Hei, Tae – arqueei as sobrancelhas e ele enrugou o nariz com o sorriso, apesar de estar correndo com esforço suficiente para ofegar. – Quer sair comigo?

Pela segunda vez, quase tropecei nos meus pés. Jeongguk continuava com o sorriso confiante, ignorando a forma como me sentia perdido. Mas, apesar de estarmos os dois correndo, ainda me sentia sozinho.

           

 

 

Não gostava de ter educação física tão cedo, os chuveiros do vestiário eram ruins, mas ficar suado era ainda pior. Estava completamente mal-humorado quando voltei para a sala de aula, quase atrasado, mas ao menos o sono se fora. Havia quase me esquecido de Suga hyung, mas ali estava ele, sentado sobre uma das mesas, no fundo, cercado de garotas.

Revirei os olhos e fui para meu lugar, decidido a fingir que ele continuava no lugar de onde não deveria ter saído: meus sonhos. Porque aquele não era o Suga hyung que eu lembrava. O hyung que corria como um fantasma e usava roupas grandes, tinha os joelhos ralados e falava tímido era alguém que eu conhecia. Não esse cara que sentava na classe, sorria abertamente e respondia com palavras monossilábicas.

Ele me olhou diretamente, mostrando que sabia que o observava, e fiquei com ainda mais raiva. As íris avermelhadas buscavam alguma coisa para me reconhecer, mas sua busca seria infrutífera, se dependesse de mim. Virei o rosto e fingi que estava lendo o resumo que Jin fizera para me salvar. Inclusive, mantive essa mesma força de vontade quando ele abandonou sua pequena plateia e se aproximou. Puxou a cadeira e se sentou na minha frente, mas ainda estava fingindo que lia para erguer o rosto.

Aquela mão anormalmente pálida surgiu no meu campo de visão e a encarei, suspendendo a respiração.

— Vo – ele travou, mas continuei olhando sua mão, sem conseguir soltar o ar – Vo-você q-q-quer ser... me-me – ergui os olhos, devagar, desconfiado, mas ele sorria com olhos vermelhos quase marejados – Me-meu amigo?

Queria saber por que havia sumido, por que não foi aos treinos, e por que estava ali de novo, mas naquele momento, só queria apertar sua mão. E percebi, tinha medo de descobrir que era apenas outro sonho. Se apertasse sua mão e não sentisse nada... Doeria muito acordar com essa desilusão mais uma vez.

Entretanto, antes que tomasse uma decisão, Suga hyung segurou minha mão e a apertou. O calor irradiou dos seus dedos finos e era mais real do que jamais imaginaria. Abri a boca, procurando uma maneira de dizer aquilo em voz alta, mas não conseguia. Por isso ele sorria, satisfeito com a maneira como me ganhara. Fiquei com vergonha, mas não me importava. Eu ainda era a mesma criança atrapalhada.

— Po-pode... podemos ir ju-ju-juntos p-p-para ca... sa? – acenei com a cabeça e o hyung soltou minha mão, causando estranheza. Sentia falta do calor. Olhei para os dedos estendidos, onde ele acabara de tocar, e parecia faltar alguma coisa – À propo-propó... propósito... me-me-meu no-no-nome é Min... Min-Min Yoon-Yoon... Yoongi. Na-na-não Suga.

Senti meu rosto ficar corado e acenei com a cabeça. Já havia me esquecido dos nossos colegas, de Namjoon, que nos observava com uma expressão estranha, e teria ignorado o professor se ele não chegasse falando.

Suga hyung... Não, Yoongi hyung, voltou ao seu lugar, mas não posso dizer que conseguia prestar atenção na aula. Não que fosse uma coisa nova, mas agora o motivo era outro. Pelo menos, ele parecia tão distraído quanto.

No final da aula, guardei meu material devagar, porque queria lhe dar a chance de ir embora e fingir que não havia dito para irmos juntos, mas ele ficou me esperando. Então, precisava admitir que estava feliz por isso. Passamos por Jeongguk no corredor e não consegui olhar para ele, mas também não havia conseguido lhe dar uma resposta.

Talvez, meu rosto vermelho ao lado de Yoongi hyung fosse uma resposta, mas não paramos para descobrir. Estava escurecendo rápido, o tempo começava a ficar frio, levando embora o verão, mas dentro do meu peito era muito quente. Yoongi era mais baixo do que eu agora, de forma considerável, e não conseguia parar de olhar seus cabelos brancos, as sobrancelhas brancas, os cílios... os cílios brancos que brilhavam como flocos de neve.

Cobri o rosto com uma das mãos, olhando para o outro lado. Seria péssimo se ele me visse assim. Nem percebi que esquecera de me despedir de Namjoon os outros, eu só sai depressa, ciente de que Yoongi me seguia. E meu coração batia muito rápido.

— Vo-vo-você que-quer tomar um ca-ca-café? – indagou com uma nota de esperança e acenei com a cabeça vendo-o pegar a carteira no bolso da calça do uniforme.

A máquina encostada perto da loja de conveniências não era a melhor cafeteria da cidade, mas ficar observando seu rosto, enquanto mantinha o dedo suspenso diante dos botões, fazia meu coração entrar em parafuso.

Yoongi hyung fez a escolha e colocou a nota com cuidado, mas a máquina cuspiu mesmo assim. Franziu o cenho e eu apertei os lábios para não sorrir. Alisou a nota de novo e recolocou na abertura. O papel passou direto e caiu no chão. Soprei uma risada pelo nariz, mas fingi que tossia quando ele me olhou. O hyung pegou, esticou a nota o máximo possível e recolocou ali, mas a máquina devolveu pela terceira vez e então recebeu um chute.

Desandei a rir sem controle e me aproximei, aproveitando que ele estava ocupado com a máquina. Parei às suas costas e peguei a nota das suas mãos, meus braços ao seu redor, no abraço que nunca dei e agora não tinha coragem de cobrar. Ele não se moveu, mas ficou com as mãos vazias no ar enquanto eu colocava a nota ali e a máquina aceitava. Como tudo mais na vida, às vezes precisávamos de ajuda com coisas simples demais, como dizer que sentira sua falta.

As latas de café caíram com um barulho alto e dei a volta nele, me agachando para pegar. Fiquei ali, olhando seus pés, muito grandes para o corpo tão pequeno, e tentei me lembrar se ele sempre calçou algo como 39, ou pés continuavam crescendo. Mas não lembrei de nenhum dos dois e ele abriu o café que também estava nas minhas mãos. Devolveu com cuidado e bebi um gole, ainda distraído. Então lembrei que odiava café, assim como odiava o tempo que ele ficou distante, sem me dizer adeus, mas não falei sobre nenhum dos dois.

Nós apenas tomamos o café, e senti, logo as coisas sairiam do controle. Eu o beijaria, ou ele me beijaria, eu sabia como as coisas aconteciam com adolescentes como nós, mesmo que nunca houvesse beijado alguém. E então eu acabaria na sua cama, ou ele na minha, mas isso era mais difícil, porque ela era realmente pequena, e nunca, jamais, tocaríamos naquele assunto de novo. Eu podia ver meu futuro ao seu lado, e haveriam aquelas palavras nunca ditas crescendo, como ervas daninhas, matando o que eu sentia.

Por isso me levantei, depressa, e a lata de café rolou até seu sapato 39 e parou, derramando o líquido de gosto amargo que eu não suportava. Como não suportava tentar esquecer que ele se fora.

— Onde você estava? – estava quase gritando, mas Yoongi apenas me olhou, sem responder, e minha respiração não normalizava – Onde você foi? Eu te esperei o verão todo! Ninguém sabia de você! Eu... eu esperei todos os dias naquele parque! Hoseok hyung não tinha seu telefone, a escola não me disse nada, e eu só podia esperar! Eu esperei três anos, hyung! Três malditos anos!

— Sin-sin-sinto mu-muito, Tae – o apelido me fez vacilar mais do que sua voz fraca, sem força ou tentativa de explicação – Não... Não pu-pude ir. Na verda-verda... – respirou fundo e se agachou também, ficando na minha altura de novo – Na verdade, fu-fui morar co-com a mi-minha avó. E-Eu sofri um aci-aci-acidente.

Arregalei os olhos, procurando no rosto dele alguma marca, mas é claro que não havia nada ali.

— Você se machucou, hyung?

Yoongi sorriu, meneando a cabeça, e tocou o pé direito, aquele que parecia grande para o corpo frágil.

— Na-não po-po-posso mais ga-ganhar de vo-você, Tae.

Apertei os lábios, olhando aquele rosto pálido e as íris vermelhas que brilhavam mesmo que não houvesse luz. Então baixei a cabeça e escondi nos meus joelhos, porque não queria que ele me visse chorar. Queria ver o corredor fantasma de novo, aquele que me ganhara sem esforço, mas ele agora era apenas um fantasma.

— Eu sinto muito, hyung...

Não usava as mangas compridas demais, nem se escondia com um capuz. Não era o garoto por quem me apaixonara naquele festival bobo, e isso me assustava.

Senti aquela mão quente sobre meus cabelos bagunçados e o carinho era tão suave que não entendia mais como funcionava. Fazia um bom tempo desde que sentira algo assim.

 — Ta-também si-sinto mu-um-muito, Tae – trinquei os maxilares, porque não me permitia chorar há tempos. – Pe-pela su-sua mãe.

Não sabia como, mas Yoongi sabia. Aparentemente, ele também sabia sobre o emprego de meio período, o quarto que alugava sozinho, os trabalhos que eu não conseguia fazer e as corridas que não podia mais participar.

Yoongi de repente sabia tudo sobre mim, e eu precisava descobrir sobre ele. Mas, por mais estranho que pareça, mesmo que nunca mais corrêssemos, ainda estávamos revezando naquela pista.

Eu também não era mais o Taehyung que almejava um troféu e achava que podia correr para sempre. Haviam coisas que eu não podia controlar, e uma delas era o futuro. Quando aprendi sobre me apaixonar, achava que sabia o que me aguardava. Quando aprendi sobre corações partidos, descobri que não havia um único caminho traçado.

Eu ainda não conhecia aquele Yoongi que não era mais um fantasma, mas queria conhecer seu lado real.

— Po-posso be-beijar vo-vo-você?

Tive vontade de rir, mas ao invés disso, fechei os olhos e me lembrei da primeira vez que o vi. Como um fantasma, ele ultrapassou, um a um os outros corredores. Então ele realmente me beijou, e aquela corrida estava ganha.

 


Notas Finais


End of the Summer: https://www.youtube.com/watch?v=uLeey20XQrE

Neko, feliz aniversário!
Obrigada por ter me escolhido como amiga, como mãe de mentirinha, e como companheira pra surtos. É a louca do caps, que sem os comentários nenhuma fic parece completa. É a pessoa que responde minhas stories com foto e nos comunicamos por caretas. É a pessoa que sempre me faz rir quando manda áudio gargalhando da mesma piada daquela fic lá... ah... Eu sempre fico feliz quando te ouço rir.
Eu desejo, de coração, que não seja só mais um ano pela frente, mas uma nova oportunidade de ser incrível e ter tudo de bom que puder desejar.
A Gaby me fez perceber que esse é o dia que agradecemos por alguém ter nascido, então, obrigada por estar aqui com a gente <33
Mamãe te ama!

Gro, obrigado pela capa maravilhosa que me faz pensar que pode ser uma ótima história. Gaby, obrigada por betar e me fazer rir. E às duas, obrigada por aguentarem meus surtos. Amo vocês também!


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