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História É muito tarde para descobrir o amor no fim do verão - Mais vale um pássaro na mão do que dois voando


Escrita por: Nishka

Capítulo 2 - Mais vale um pássaro na mão do que dois voando


Fanfic / Fanfiction É muito tarde para descobrir o amor no fim do verão - Mais vale um pássaro na mão do que dois voando

Aprender sobre o amor requer aprender sobre como ele é uma faca de dois gumes. E essa faca faz cortes profundos. Aprendi sobre corações partidos e sobre como consertar as feridas naqueles meses depois do festival, na sétima série. Dia a após dia, conforme compreendia que Suga hyung não voltaria, avancei por um estado de luto que me permitiu perceber que sim, aquilo era uma desilusão amorosa.

Com treze anos, me senti muito digno de louvores, como um herói de guerra, repleto de cicatrizes e histórias amargas. Queria contar sobre meu sofrimento, mas por algum motivo, quando voltei para a escola, apenas escondi meu coração pequenininho e o curativo mal feito, e segui vivendo. Tinha medo que rissem do meu amor perdido.

Nos primeiros dias, as pessoas comentavam sobre o corredor fantasma, o garoto da oitava série que seria um atleta de verdade. Ninguém sabia para onde fora, alguns diziam Estados Unidos, mas não acreditava. Para mim, ele vivia em uma casa assombrada, onde não conseguia alcançá-lo. Essa imagem boba me consolava quando pensava que, se fosse uma pessoa real, ele poderia ter tentado me mandar um e-mail.

No final do ano seguinte, foi nossa vez de nos formarmos. Já não ficava calado se alguém mencionava o hyung desaparecido, mas as menções eram cada vez mais raras. Namjoom me olhava estranho quando eu lembrava daquele ano, mas nunca perguntou nada. No primeiro ano, ganhamos um uniforme preto e combinava com os meus sentimentos.

Minha mãe morreu naquele ano, mas foi rápido o bastante para não me levar com ela pelo cansaço. Então fiquei sozinho e a escola não podia saber. Namjoon sabia. E Jin. Mas eles me davam espaço e apoio. Como o dinheiro extra para alugar o quartinho em cima de uma lavanderia e os deveres de casa que não conseguia fazer.

No segundo ano, ganhamos uma gravata nova e nos sentíamos adultos para desfilar por aí, mas eu já me sentia velho. Então, no terceiro ano, junto com a faixa dourada no uniforme, Suga hyung chegou de repente. Havia trazido de volta uma coisa a mais, mas só Namjoon tinha percebido, porque me olhava estranho de novo, mas agora era quando nós dois ríamos junto.

No terceiro ano... meu coração estava batendo de novo.

 

 

 

— Hyung, o que trouxe de almoço? – espiei os legumes cozidos e franzi o cenho, interessado.

Yoongi agora morava com a mãe e a irmã mais velha, então sempre tinha um almoço generoso que dividia comigo, mesmo quando eu não pedia. Eu tinha arroz, e às vezes, alguma coisa a mais e ele dizia que estava bom. Passamos a nos sentar perto da pista, sob a sombra da escola, e olhar para as marcações na terra com saudade. Namjoon e os outros almoçavam no refeitório, mas ninguém perguntou o que acontecia conosco do lado de fora. Se contasse, eles também não entenderiam. Então o hyung e eu olhávamos a poeira levantar e baixar quando alguém passava, e dávamos as mãos quando não tinha ninguém por perto.

— Qua-Quando v-v-va-vai ser ve-ve-verão de novo?

Suga hyung sorria fechado olhando para o céu azul claro, mas mesmo que o sol estivesse escondido atrás da escola por causa da época do ano, sabia que a claridade machucava sua retina.

— Falta bastante tempo – roubei um pedaço de carne e sorri como pagamento quando ele me olhou. – O que quer fazer no verão?

— Ve-ver você co-co-co... – Yoongi hyung às vezes ficava irritado como as palavras trancavam e seus pensamentos já iam longe, mas nunca o apressava. – co-co-correr.

Meneei a cabeça, mastigando com vontade o pedaço pequeno e suculento. Quanto tempo fazia desde que havia comido uma carne bem-feita pela última vez? Acho que minha mãe ainda estava viva...

— É nosso último festival, não é? – Yoongi concordou e peguei uma batata cozida, desviando do seu tapa sem força. – Hyung, perdeu um ano por causa do acidente?

Yoongi me olhou antes de acenar com a cabeça e não entendi tudo que ele queria me dizer com aquele olhar, mas estava disposto a ouvir se ele quisesse me explicar.

— Po-por que n-não va-vai co-co-continu-continuar co-correndo?

— Você sabe porquê.

— Ta-Tae, te-tem progra-programas que aju-ajudam co-com bo-bo-bolsas! – conforme ele se agitava, as palavras saíam com mais dificuldade, mas não gostava da ideia de interrompê-lo, mesmo que soubesse onde aquilo ia dar. – Vo-vo-você n-não va-va-vai pre-pre-precisar tra-trabalhar me-meio pe... – Yoongi deu um suspiro irritado e largou o restante do almoço à sua frente, se levantando. Ele estava frustrado consigo mesmo ou comigo? – Vai!

A ordem solitária tinha o peso de tudo que ele queria dizer, mas eu não achava que seria tão fácil. Larguei meu arroz branco, sem nada de especial, e me ergui. Segurei suas duas mãos e sorri, conformado com aquelas pequenas possibilidades que podia aproveitar enquanto as outras passavam por mim, como se estivessem na rodovia e eu no acostamento.

— Não quero ir para uma cidade diferente, treinar todos os dias para nunca ser bom de verdade, voltar para um apartamento pequeno e dormir sozinho – encolhi os ombros e continuei sorrindo, apesar da fala melancólica. – Isso eu posso fazer bem aqui, perto de você.

Yoongi abriu a boca, mas não disse nada por um momento. As íris avermelhadas me estudavam com cautela até que o sorriso que eu gostava tanto fez os olhos diminuírem.

— N-n-não pre-pre-preci-precisa do-do-dormir sozinho se-se-sempre.

Aguentei seu olhar por alguns segundos, então fiquei vermelho como um tomate e me agachei, escondendo o rosto nas mãos. Yoongi riu alto e claro, e aquele som ainda era o meu favorito no mundo. Um dia foi o segundo, mas tinha coisas que precisava guardar no passado para suportar o presente.

Espiei por entre as brechas dos meus dedos e ele sorria me olhando.

— É sério? – por que eu tinha interesse naquela proposta.

Yoongi riu baixo dessa vez, uma risada de vergonha, e não me olhou quando respondeu – Claro que é.

Essa frase ele não gaguejou.

A partir daquele dia, passei a arrumar meu quarto antes de ir para a aula, mesmo que precisasse acordar quinze minutos mais cedo e já dormisse muito pouco. Então levou uma semana até encontrar ele me esperando quando saí do meu trabalho perto da estação. Eu ainda estava usando o avental da mercearia e ele tinha uma sacola com duas garrafas e um pacote desses de confeitaria. Tortas e álcool era uma combinação estranha, mas fazia sentido na cabeça dele e eu gostava de todas as suas estranhezas.

Caminhamos lado a lado, cuidando os carros que passavam rápido demais naquelas ruas que não tinham calçada. Ele usava touca e eu ficava feliz de ver suas bochechas coradas pelo frio. Meu pescoço estava gelado e o hyung usou sua manta para me aquecer. Não protestei, porque a lã tinha seu cheiro e fazia meu estômago embrulhar de um jeito bom. Não sabia se borboletas podiam sobreviver naquela temperatura, mas esperava que as minhas estivessem vivas.

— Sua mãe não achou estranho? – questionei mais por educação do que coragem, porque tinha medo de qualquer coisa que pudesse nos separar.

— E-Ela quer co-co-conhecer vo-você – deu de ombros, tranquilo com a ideia. – Tu-tu-tudo bem?

— Falou de mim para ela? – fiquei curioso, mas não era uma coisa absurda. Ela precisava saber com quem Yoongi hyung de repente tinha tantos assuntos a tratar. – Tudo bem. Vou me esforçar para parecer legal.

— Vo-você já é – empurrou meu braço com o ombro e quase perdi o equilíbrio, o que o fez rir bastante.

A lavanderia 24 horas estava vazia quando chegamos. Às vezes era difícil dormir com o barulho da secadora que parecia uma turbina de avião, mas as luzes frias iluminavam a escada e isso era bom. Subi na frente, levando as garrafas e olhava para trás a toda hora, para ter certeza que o hyung me seguia, por isso demoramos mais do que o normal. Yoongi mantinha os olhos nos meus, nesses momentos, e eu não sabia dizer o que ele pensava, mas parecia bom para mim.

As chaves estavam unidas pelo mesmo chaveiro que a minha mãe usava. A mini Estátua da Liberdade um dia fora azul, mas agora era cinza escuro de um jeito feio, mas não conseguia me desfazer. Havia menos chaves do que antes, mas também pareceria errado que todas estivessem ali.

Abri a porta com o rangido de sempre e a luz da sala era fraca demais para iluminar direito. O sofá estava arrumado e limpo, sem moedas entre as almofadas largas que formavam o assento. Coloquei minha mochila no chão, ao lado do sofá, perto dos meus livros empilhados e o porta retrato grande no chão com a foto da minha mãe. Yoongi olhou diretamente para ela quando entrou e eu dei a volta ao redor dele, pegando a sacola das suas mãos.

Tranquei a porta e empurrei com os pés o único par de pantufas que havia. Yoongi as calçou porque sabia que eu ficaria chateado se não o fizesse e foi se sentar no meu sofá, como se fosse ali todos os dias depois da escola. Gostei dessa sensação e decidi que queria que ele fizesse parte da minha rotina sem graça e das tardes silenciosas em que me dava medo ficar sozinho.

 Ele abriu a embalagem de papel pardo que antes parecia simples, mas agora voltara à moda, e me mostrou a aquisição corajosa. Ele não lembrava se eu comia morangos, mas mesmo que não gostasse, por aquele sorriso eu comeria. Fui tomar banho depois de pegar os copos que ele pediu e a água estava gelada, porque o chuveiro demorava para aquecer. Ele riu da minha reclamação que era quase um grito e eu gostava até mesmo disso.

Meu pijama era a mesma roupa que usava no domingo para entregar jornal, mas combinava com a situação, porque eu não queria dormir. Falamos sobre a estampa de desenho animado da minha camiseta e a falta que ele sentia de ser criança, mas não nos demoramos nisso, porque era triste demais quando queríamos ser adultos por uma noite.

O álcool era forte depois do glacê, mas bebemos com esforço e rimos um do outro no processo. Yoongi parecia mais forte para isso do que eu, então só assisti ele esvaziar a segunda garrafa e dizer, com muito mais fluidez, que eu era um adolescente fracote. E tudo bem, porque eu realmente era.

 Continuei sorrindo e toquei seu rosto, encorajado pelo seu riso solto e o jeito como fechou os olhos. A pele clara parecia líquida nas minhas mãos e tinha medo de ferir, mas ao mesmo tempo, ele se fazia sólido e seus olhos ardiam. As íris avermelhadas nunca me contavam tudo, mas naquela hora diziam que era seguro beijar. Então eu fiz.

Yoongi não se afastou e meu carinho encaixou sob seu rosto, segurando sem força quando o beijei. O sabor de glacê e soju se misturavam, dando gosto ao beijo que não tinha gosto de nada, porque essas coisas são assim. Eu sabia, mesmo que Yoongi fosse a única pessoa que já tivesse beijado e nem queria que isso fosse diferente. Porque todas as pessoas no mundo beijariam do mesmo jeito, mas apenas Yoongi seria Yoongi. E naquela hora isso fazia mais sentido do que agora, mas não deixava de ser verdade.

Ele me beijava com adoração e eu suspirava todas as vezes. Nós rimos tanto quanto nos beijamos e o torpor não ia embora, porque me embriagava nele. De um jeito inexperiente, ele tinha controle sobre a situação e subiu no meu colo, com medo de fazer peso, sendo que devia ter só uns sessenta quilos, e não perceberia nada disso naquela situação. Eu podia apenas ficar olhando para ele a noite toda, mas Yoongi puxou a blusa para fora do corpo e sorriu, sem graça. Então o imitei e nossas camisetas combinavam, ali emboladas perto do skate que não usava há anos, mas continuava perto da porta, como se fosse usar.

Voltamos a nos beijar e eu sentia que aquilo era diferente, mas um diferente que não dava medo. Essa novidade eu queria experimentar, porque tudo em mim dizia que seria bom. As mãos dele eram curiosas e o frio do apartamento fazia arrepiar a cada toque, mas não queria que parasse.

— Vamos para o quarto? – sussurrei porque parecia certo.

Yoongi acenou com a cabeça e fomos tropeçando até a cama que não nos acomodava direito, mas era perfeita, porque não queríamos nos separar.

Naquela noite eu aprendi sobre coisas sólidas e imateriais. Porque o corpo de Yoongi estava nos meus braços e eu nos dele, mas o que eu sentia não cabia nas suas mãos. Soltei o sentimento e deixei que se espalhasse e talvez fugisse, aproveitando uma janela aberta quando me distraísse, mas deixei aquele pequeno amor crescer sem me importar.

E Yoongi tinha razão, eu não precisava dormir sozinho sempre.

 

 

 

A mãe dele fez carne no dia que fui até lá com meu cabelo penteado para o lado e uma cesta de frutas como presente. A irmã dele disse que eu era bonito e não parecia um criminoso, então eu ri, porque isso era um elogio importante para mim. Yoongi havia falado de mim para elas, e havia falado de tudo, mas isso ele não me disse e descobri quando a mãe dele me abraçou e disse que estava feliz que fosse eu.

Eu também estava, mas não podia dizer isso a ela ou chamá-la de sogra, porque ainda tinha medo que fosse um sonho. Yoongi sempre ria e dizia que meus sonhos deviam ser mais empolgantes do que a nossa realidade tão simples, mas era porque ele nunca conseguiu se ver como eu o via.

Naquele ano nós nos formamos e Yoongi foi para a faculdade local, então ainda ia me esperar com a sacola com duas garrafas e uma sobremesa nova. A mercearia era pequena para minha vontade de ter uma cama maior, por isso passei para um restaurante e acho que me senti melhor. A cama nova era boa e espaçosa, mas Yoongi ainda dormia abraçado a mim.

Quando a vontade de ter uma varanda ficou maior do que podia esconder, Yoongi disse que gostava daquele bairro onde as velhinhas acordavam cedo para correr, então fomos para lá. Nós dois. E não corríamos, porque a fratura antiga dele não deixava e eu não tinha mais a arrancada explosiva da escola, mas caminhávamos todo fim de tarde e Yoongi dizia que queria ter um cachorro.

Namjoon continuou me olhando estranho ainda na época da escola, e depois dela, mas nunca disse nada. Apenas se afastou, como acontece com a maioria dos nossos amigos da escola, e eu podia viver com isso. Algumas pessoas apenas sumiam, como Jimin e Jeongguk, ou mesmo Hoseok hyung, que nem Yoongi nunca mais viu. Mas algumas pessoas voltam e acabam ficando, por isso Jin vem caminhar conosco quando as aulas acabam cedo na faculdade e disse que quer ter um restaurante também.

Eu gostaria de cozinhar para ele, então digo isso quando posso e ele garante que a vaga é minha, mas nós sabemos, talvez os planos mudem, ou demorem mais do que o esperado.

Yoongi ainda quer um cachorro e isso pelo menos não parece mudar.

O garoto fantasma que tem sonhos terrenos não muda essa e outras coisas, como quando diz me amar. E tudo bem se no fim nos tornamos comuns, como os personagens daqueles mangás que Namjoon lia.

Está realmente tudo bem.

Nem todas as pessoas desejam ser heróis e Yoongi não cabia numa história de ação. Por isso caminhamos de mãos dadas, no mesmo parque, todos os dias, quando ninguém vê, e nossa corrida passou dos cem aos quinhentos metros, sem um cronômetro marcando o final.

           

            


Notas Finais


Essa realmente se tornou uma história diferente do meu normal... Acho que ficou "real". E eu gosto disso.
Talvez por ser real, me deixou apavorada, porque não sabia como terminaria. Ainda não sei, mas eu acredito que eles tenham vivido bem com esse amor.
Neko, espero que teu aniversário e todos os outros dias sejam cheios dessa normalidade boa, e também, um pouco de loucura porque é bem a tua cara.
Feliz aniversário, meu xuxu <33

~comentários são amor


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