Sanzu estava tão feliz que poderia saltitar todo o caminho de seu apartamento até o cassino no subsolo, mesmo dentro do elevador. Os outros membros da Bonten não entendiam por que o Haruchiyo estava tão contente nos últimos dias, e nem por que Mikey parecia enrubescer toda vez que seu vice-presidente o olhava por tempo demais. Então eles haviam feito um bolão de apostas no segundo dia de toda essa nova atmosfera colorida que cercava Sanzu.
Mochizuki apostou que o vice tinha se divertido muito torturando alguém, Rindou e Ran apostaram que ele deveria ter feito sexo selvagem e Kokonui colocou pra jogo todo o dinheiro em sua carteira apostando que Sanzu e Mikey finalmente tinham transado. Os demais não concordaram muito com Koko, pois não conseguiam imaginar Manjiro se submetendo ao Haruchiyo. Mas eles se divertiram muito com suas especulações.
O único que detestava toda essa situação era Kakucho, porque diferente de Kokonui - que apenas deduziu o que aconteceu sem base - ele tinha evidências de que Sanzu realmente havia feito algo com seu chefe. Visto que Mikey resmungava de dor nos quadris vez ou outra nos últimos três dias desde a reunião com a Rokuhara Tandai. Por esse motivo Kakucho andava furioso, encarando Sanzu e seu sorriso idiota como se pudesse matá-lo a qualquer momento.
Mas o vice-presidente da Bonten estava pouco se fodendo para tudo isso. Teorias da conspiração e olhares assassinos eram incapazes de acabar com sua felicidade, mesmo Mikey tendo o ameaçado de morte caso contasse o que eles estavam fazendo para alguém. Sanzu nem sonhava em reclamar, passou tantos anos desejando o mínimo e agora que tinha muito mais do que esperava não era idiota de fazer caso por ser um "amante secreto". Na verdade, ele estava adorando torturar Kakucho silenciosamente já que, toda vez que tocava Manjiro de alguma forma, podia jurar que o secretário da Bonten quase virava do avesso.
Para fazer seu chefe feliz Sanzu já havia adquirido coisas interessantíssimas que o fariam subir pelas paredes de prazer - e claro, sentir muita dor. Faltava apenas uma última coisinha que estava bem ao seu alcance quando entrou no cassino e foi direto para o bar.
- Olá. - Sanzu cumprimentou o barman com um sorriso angelical.
Hirose, que estava tirando o pó da prateleira de bebidas com um espanador, quase derrubou tudo abaixo com o susto que levou.
- Sanzu-sama!
- Sou eu mesmo. - Sentou-se em uma cadeira do bar e pôs os cotovelos no balcão, com as mãos entrelaçadas na frente do rosto. - Como vai Hirose?
O garoto ruivo estava confuso com todas as borboletas e todos os arco-íris envolta do vice-presidente da gangue mais perigosa do país. Sanzu parecia irradiar luz, com um sorriso tão aberto que já estava causando medo no pobre rapaz.
- Sinto muito, senhor, mas Sano-sama nos ordenou que mandássemos você embora caso aparecesse aqui de novo.
- Não vou demorar, prometo - se explicou. - Quero apenas uma garrafa de vodka, ainda lacrada de preferência.
Hirose titubeou, não sabia se poderia dar o que o outro pedia. E Sanzu parecia tão radiante que ele se viu bastante curioso sobre o porquê daquilo. Com medo de estar sendo atrevido demais o jovem divagou:
- Parece muito feliz, senhor. Posso perguntar o por quê?
Sanzu olhou para o teto decorado do cassino como se estivesse aproveitando o sol em uma campina cheia de flores, Hirose não sabia como chamá-lo de volta à realidade.
- Eu - disse o Haruchiyo - finalmente estou tendo o que sempre quis.
Hirose olhou para os lados, ciente de que seu chefe estava ocupado nos fundos e os demais frequentadores do lugar eram poucos naquela hora do dia. Ele então se inclinou na direção de Sanzu e perguntou:
- E o que é?
Sanzu saiu do mundinho cor de rosa dentro da sua cabeça e olhou para Hirose com uma careta.
- Você é muito intrometido.
- Lamento, senhor.
- Lamenta porra nenhuma - abriu outro sorriso. - Mas até que gosto de você. Sinta-se lisonjeado, normalmente não gosto de ninguém.
- Obrigado, senhor.
- Não conseguimos terminar nossa conversa no outro dia. - Hirose gelou. - Mas mesmo que você queira experimentar tudo isso aqui - Sanzu apontou para o próprio corpo - agora vou ter que recusar, sou um homem fiel.
Hirose suspirou de alívio e respondeu:
- Na verdade eu sou hétero, senhor.
- Que chatisse - resmungou.
O barman riu das caras e bocas de Sanzu e pôs uma garrafa de vodka no balcão. Porém, antes do Haruchiyo pegá-la, Hirose avisou:
- Sano-sama não quer ver o senhor bêbado por aí.
- Ele não vai - agarrou a garrafa. - Agora me dê isso antes que eu atire na sua cara.
Hirose ergueu as mãos em rendição e sorriu, porque sabia que Sanzu estava parcialmente brincando. O Haruchiyo agradeceu pela vodka com uma mesura exagerada e foi embora do cassino para guardar a garrafa junto de todas as outras coisas que seriam necessárias para realizar suas fantasias mais pervertidas. Mikey mal sabia o que o esperava.
~X~
- O que?! - Kokonui quase infartou ali mesmo. - Você quer começar uma guerra, Mikey?! Enlouqueceu?!
Manjiro deu de ombros, como se o fato de ter se livrado de outro representante da Rokuhara Tandai no dia anterior fosse bobagem.
- South está me testando. - Ele explicou. - Não vou deixá-lo me intimidar, se ele quiser tratar de negócios pessoalmente estarei disponível. Caso contrário a pilha de corpos só vai aumentar.
Kokonui acomodou as costas na cadeira em frente a mesa de Mikey e massageou as têmporas, puto e insatisfeito. Manjiro Sano, por outro lado, estava mergulhado em um mar de tranquilidade, resoluto e vestindo um robe vermelho de seda extremamente confortável.
- O que fez com o cara? - Se referiu ao coitado que já deveria estar apodrecendo em algum lugar remoto da cidade.
- Deixei que Sanzu resolvesse. - Koko o encarou com espanto. - Ele estava animado e queria se divertir com alguma coisa, então me dei ao luxo de mimar um pouco meu empregado.
Pobre diabo, pensou Kokonoi, incapaz de racionalizar o que Haruchiyo poderia ter feito para se divertir com aquele homem tão azarado.
- Ele vai começar a matar os nossos, Mikey. - Kokonoi alertou. - De acordo com as pesquisas do Mochizuki, o desgraçado do South é tão cruel quanto você.
- Uma briga de egos? - Manjiro sorriu. - Parece convidativo.
- Não se preocupe Kokonui - disse Kakucho, em pé ao lado da cadeira de Mikey. - South não seria louco de atacar a Bonten deliberadamente, não com a polícia na nossa mão.
Koko sorriu em um misto de lucidez e insegurança, ele não estava preocupado com a Bonten. Mas sim com quem estava de fora da organização, uma pessoa específica para ser exato. Se uma guerra se instalasse na cidade precisaria convencer Inupi a ir embora. Entretanto, dado ao seu atual relacionamento conturbado, era mais fácil Inupi se jogar na frente de um carro do que dar ouvidos a Kokonui.
- Estou me retirando. - Informou, levantando-se da cadeira. E então brincou: - Avisarei se ver uma bomba vindo em nossa direção.
- Por favor. - Mikey se deixou levar pela brincadeira. - Não nos deixe morrer tão facilmente.
- Como se você e os malucos que moram aqui fossem humanos o suficiente para morrer.
Manjiro degustou da alfinetada quando Kokonui deixou seu quarto e bateu a porta, igual a um adolescente que havia acabado de discutir com o pai. Ele sabia que Koko não concordava com a maioria dos métodos da gangue, mas ele não estava preocupado em mudá-los. A verdade é que Kokonui, diferente de todos ali, tinha algo a perder fora daquela vida. E esse "algo" abominava seu trabalho sujo. Mikey não tinha mais essa preocupação, não quando Takemichi abandonou sua carcaça ao sol para ser devorada por abutres.
Pensar nele o fez suspirar de frustração, a dor da perda ainda era recente. Se o Hanagaki tivesse o eviscerado não teria doído tanto quanto aquilo, pois ele havia ido embora sem olhar para trás e sem perceber que acabara de matar a única coisa boa que havia restado em Mikey.
Manjiro Sano era agora completamente radioativo por dentro. Não lhe restava nada, exceto seu desejo por atenção e carinho. O que acabava resultando em dependência emocional, mas ele já estava tão fodido que não se importava mais. Por isso, ao sentir o toque frio dos lábios de Kakucho em seu pescoço ele não se desviou.
Mikey expôs mais o colo, deixando que seu subordinado o mordiscasse como bem quisesse. Quando as mãos de Kakucho apertaram seus ombros, Manjiro gemeu baixinho e Kakucho desceu os dedos por seu peito, por dentro do robe.
- Você pensa nele quando me toca? - Mikey perguntou, a respiração saindo quente e entrecortada pelas carícias.
- Às vezes. - Admitiu, com os lábios movendo-se sobre a pele do Sano.
Era isso que ele detestava. Kakucho jamais poderia dar o que ele queria, não quando ainda era obcecado por seu falecido irmão. Izana teria rido de sua cara por se deixar levar pelos anseios de Kakucho, que não o amava por quem era e sim por lhe lembrar alguém. Ele já havia deixado Kakucho tocá-lo outras vezes, nada tão íntimo como o que fez com Sanzu naquela sala cheia de cadáveres, mas o suficiente para o fazer gozar.
O suficiente para fazer Kakucho cobiçá-lo. Pois já que não o amava, ao menos poderia monopolizar a sua atenção, afinal Sanzu não era o único com quem brincava. E Manjiro tinha quase cem por cento de certeza que o Haruchiyo mataria Kakucho se descobrisse, o que só tornava tudo mais emocionante.
- Izana me odiaria - Kakucho sussurrou entre os beijos molhados. - Mas eu quero te tocar.
- Mesmo agora você se preocupa com o que ele pensaria a respeito disso - o desgosto era presente em sua voz.
Cheio de rancor e culpa ao pensar no irmão morto, Mikey o afastou e se ergueu da cadeira. Queria provocá-lo, ver como reagiria. Por isso caminhou até a enorme banheira ao canto do quarto e deixou o robe vermelho escorregar por seu corpo até o chão, a seda da peça lambeu sua pele pálida conforme revelava os hematomas ainda evidentes em suas nádegas.
Kakucho arregalou os olhos em uma mistura de surpresa e raiva, ele mal conseguia respirar.
Mikey abriu um sorriso venenoso.
- Quem foi…? - Kakucho balbuciou, confuso. Embora o nome de uma certa pessoa apitasse em sua cabeça, ele se negava a acreditar nisso completamente. - Quem fez isso?
- Sanzu. - Respondeu simplesmente. - Ele tirou minha roupa e me fodeu durante a última reunião com os membros da Rokuhara Tandai. - Decidiu que mentiria um pouco, apenas para ver a reação de Kakucho. - Ele tirou o cinto e me bateu como se não houvesse amanhã - se encostou ao lado da banheira e jogou a cabeça para trás - foi tão gostoso. - Seu riso mais parecia o rosnado de um gato selvagem. - Ele enfiou o pau tão fundo em mim que vi até estrelas.
A expressão pasma de Kakucho estava divertindo, e muito, o Manjiro.
- Acho que da próxima vez vou deixar ele me comer de quatro, - divagou - até porque, nessa posição, eu pareço ainda mais com o Izana.
Kakucho avançou em sua direção com um ódio gélido que Mikey só havia visto nos espelhos, quando encarava o próprio reflexo. Kakucho desconfiava de que algo havia acontecido entre ele e Sanzu, mas não imaginou que eles tivessem ido tão longe. O maior apertava o pescoço de Mikey como se quisesse quebrá-lo, mas o Sano só conseguia rir da situação.
- Eu sei que você quer me foder também - Mikey debochou, a voz rouca por causa do enlace de dedos em sua garganta.
- Eu deveria matar você - sibilou - e ele.
- Você não é capaz de fazer isso, não quando eu pareço tanto com o seu amado Izana. - O olhar do Sano era como um poço sem fundo, sem vida e vazio, exceto por sua própria perversidade.
Kakucho mostrou os dentes, furioso, mas optou por soltar o pescoço fino do outro. Mikey tinha o semblante vitorioso de quem havia acabado de ganhar uma briga de vontades, embora Kakucho nunca pudesse vencê-lo em qualquer coisa que fosse.
- Você é um filho da puta. - Praticamente cuspiu as palavras na cara de Manjiro.
A sombra do sorriso viperino de Mikey acompanhou Kakucho até ele sair do quarto, na esperança de respirar melhor do lado de fora. O Sano por sua vez sentia-se oco novamente, solitário e odiado como uma puta ingrata. Mas ele já não se importava com mais nada e nem ninguém, sua vida era violenta e imoral.
Ele não era uma vítima descartada pelo amor de sua vida, era um vilão egoísta e sedento por prazer que incendiaria o mundo sem remorso algum.
Mikey não precisava de Takemichi e nem das projeções ilusórias de Kakucho. O que ele queria era ser reverenciado, mimado e amado de forma incondicional. E o único disposto a fazer isso - o único que sempre fez isso - era justamente a pessoa que ele mais tinha deixado de lado, porque sabia que sempre estaria ali.
Ele queria Sanzu.
Seria algo maldoso, tóxico e deveras impetuoso. E isso era o que o Sano mais ansiava. Esse era o sentimento que o impedia de cair em completa desgraça e pular do andar mais alto, como doses de dopamina, adrenalina e porções de cocaína. Ele queria sentir a obsessão de Sanzu castigando sua pele e marcando-o para sempre, de forma que o outro nunca mais possa o abandonar.
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