Busan, Distrito, Quarta-feira, 9:09h.
POV YOONGI
Silêncio. Confortável silêncio interrompido hora ou outra pela página sendo virada e um estalar de língua do mais novo, analisando alguma coisa. Eu não olhava para ele, mas a minha atenção estava voltada para ele; o modo diferente como ele se apoiava nos joelhos e encarava o arquivo à sua frente, como batia o pé sem produzir ruído, movimentando levemente o corpo com isso, como ele ficava brincando com os dedos na presilha de metal do arquivo logo depois que virava a página. Parecia completamente absorto nos pensamentos quando deu um pulo, me assustando também.
- Mas que merda! – ele se levantou, segurando o polegar direito na palma da outra mão.
- O que foi?
- Eu cortei o dedo na haste.
- Nisso que dá ficar distraído e passado a mão aonde não deve.
Ele deu um tipo de grunhido irritado. - Vou ignorar isso.
Sua mão já tinha uma pequena poça de sangue, ele era horrível pra estancar alguma coisa.
- Mas é uma criança que não sabe nem estancar o sangue do próprio machucado. Olha a sujeira que você está fazendo.
- Ajuda, se está achando tão ruim. Tem algum kit de primeiros socorros?
- Óbvio que não, mas devo ter alguma coisa pra estancar aqui.
- Como uma pecinha de metal fez tanto estrago?
- Ela não tem acabamento. – respondi simplesmente.
Namjoon já tinha se cortado com aquilo, é claro que o senhor desastre teria se cortado com o que quer que pudesse cortar alguém, e eu notei que aquelas hastes eram como facas escondidas, esperando o próximo idiota que passasse a mão por elas sem se dar conta disso.
Fui até os armários e encontrei uma bandana preto e branca que eu usava para esconder os cabelos verdes, devia servir para alguma coisa. Fui até o rapaz e limpei o sangue acumulado na mão dele, olhei o ferimento pequeno, mas fundo que ainda sangrava bastante.
- Melhor estancar isso, o pano não vai ajudar muito se tiver sangrando desse jeito.
- Como?
- Chupa, ué.
- Nem fodendo.
- Quer pingar a sala inteira de sangue e limpar tudo isso sozinho?
- Não.
- Então anda logo pra eu poder amarrar isso, depois você limpa direito.
- Nem. Fodendo. Yoongi.
- Aish, fresco do caralho.
Eu segurei a sua mão, limpei o sangue que escorreu nesse pequeno intervalo e coloquei o dedo machucado na boca, passando minha língua pelo ferimento com gosto metálico, pressionando o músculo contra o corte. Eu ignorei o rosto espantado do rapaz, ignorei também que tipo de sensação isso pudesse causar em Jimin, porque se eu prestasse muita atenção...
A porta abriu, mas ninguém entrou. Ela se fechou e um segundo depois ela abriu novamente.
- Pensei que fosse uma visão ou que eu tivesse entrado no mundo invertido, não sei... mas é isso mesmo? Eu deixo vocês sozinhos cinco minutos e o Yoongi começa a chupar o seu dedo?
Tirei o dedo do rapaz da minha boca e observei o ferimento, bem melhor que antes.
- A criança está machucada, Joonie. – eu respondi, amarrando a bandana no seu dedo, estancando o sangue. – Só estou sendo uma boa alma e ajudando.
- Certo, certo... vou acreditar em você.
- Acredita no sangue em cima da mesa. Ou acha que eu mordi ele também? Cala a boca.
Ele me olhou e levantou uma sobrancelha. Filho da puta.
- Vou ignorar tudo isso, pro bem de todo mundo. – Jin veio até Jimin e entregou o copo de café para ele. – Tudo bem?
- Está sim.
- Cuida disso.
- Depois. Primeiro, eu quero entender esse caso nos detalhes, vamos montar uma teia. - ele ajeitou o curativo improvisado e tomou um gole do café. – obrigado pela ajuda, Suga.
- Disponha.
Jin concordou e os dois foram até o quadro branco que ocupava uma parede quase inteira, no fundo da sala.
- Mas o Jin não leu o arquivo. – disse Namjoon, tirando as palavras da minha boca.
- É exatamente isso que queremos. – Jin piscou para Namjoon antes de se virar para o primo novamente.
Ótimo, milhares de pensamentos pervertidos por segundo na mente do rapper agora.
- Temos aqui a Operação Lady Oca, - ele escreveu em coreano no começo do quadro, caneta vermelha; ele escreveu com a esquerda, o que eu achei um tanto estranho, pensei que fosse destro. – e aqui temos as pessoas que morreram com o mesmo modus operandi. Bunish Lee, coreano, viúvo, 45 anos, detetive. Vanseng Hyun, coreano, solteiro, 38 anos, detetive. Sean ChongHee, coreano, solteiro, 25 anos, civil. Maeksoo Maia, coreana, solteira, 35 anos. Vamos começar, Jinie.
Jimin passou um traço dividindo uma boa parte do quadro e pegou uma caneta preta.
- Todos eram sozinhos, não tinham família? – perguntou Jin.
- Lee tinha uma filha, mas depois da morte da mãe, ela pouco ligava para ele. – ele anotou “filha” bem pequeno ao lado do nome de Lee. – Hyun tinha uma namorada, mas ela havia terminado com ele há três anos. Tempo demais para uma fossa. ChongHee tinha Yoongi e...
- Uma avó, ele mandava dinheiro para ela, morava em Daegu. Sua mãe morava na China, era chinesa e seu pai morreu quando ele tinha cinco anos, servindo o exército. – eu completei.
- Há quanto tempo ela mora lá?
- Oito anos, ou mais. – eu dei de ombros.
- Certo. Maia tinha pais separados, ele morava em Hong Kong e ela morava com a mãe em Busan. Viviam uma vida boa, sem muito luxo.
- Mesmo que todos tivessem alguém, estavam longe o suficiente para não se importarem, se eles sumissem. A não ser Maia. Ela tinha a mãe... – Jin andou de um lado para o outro da sala. – e ela estava doente?
- Pelo relatório que eu recebi, ela estava recuperando-se de uma cirurgia para retirar um tumor mamário. Estava muito bem, para uma mulher de pouco mais de cinquenta anos recém-operada. – disse meu amigo. – Como sabia que ela estava doente, Jinie?
- Supus que sim. Devo supor que a avó de Chong também não estava muito bem?
- Ela vivia controlando diabetes e pressão alta, mas era teimosa.
Jin me encarou e acenou positivamente com a cabeça. – Bom, vamos pensar. Temos esses dois mortos pela operação Lady Oca e esses dois mortos depois. – ele apontou o quadro. – Podemos supor duas coisas.
- Que os depois foram mortos por causa da Lady Oca...
- Ou que eles foram mortos por outro motivo qualquer. Cobrir rastros, apagar arquivo.
Jimin fez anotações no quadro, os parentescos e as doenças. Mesmo que eu estivesse prestando atenção no que eles falavam e tentando seguir a linha de raciocínio, Jimin esticado para escrever e hora ou outra na ponta dos pés era algo que abalava a minha concentração; a calça apertada marcava exatamente os músculos das suas coxas e a sua bunda que, vamos dizer, qualquer um com olhos notava o volume. E eu nem estava me referindo ao volume na parte da frente da sua calça. Foco, Yoongi, pelo amor de Deus.
- Ou os policiais foram mortos para cobrir rastros. - Jin se sentou na ponta da mesa de madeira, os pés sobre a cadeira. - Por terem descoberto demais.
- Eles não vinham relatando nenhum progresso. - disse Namjoon.
- Ou eles acharam alguma coisa e tentaram tirar proveito disso. Não é uma acusação, me desculpa se eu vim de Londres e estou acostumado a trabalhar num ninho de cobras.
- Não tratando nós dois como suspeitos... tudo bem. - eu encarei o ruivo.
- Por que? Vocês são?
- Depende... do que. - Namjoon deu um sorrisinho. Porra, Namjoon.
- Presta menos, Joonie. - eu ri baixinho.
- Trabalhando nisso. Se quiserem um histórico deles, eu posso conseguir, mas não vai sair hoje. Até aonde eu me lembro, eles eram pessoas de bem.
- Como eu disse, sem acusações. - Jimin voltou a sua atenção para o quadro. - Encontraram mais alguma coisa que eles tinham em comum?
- Entre o mais novo e o mais velho, temos vinte anos. O mais novo não tem motivo, o mais velho não precisava...
- Do que está falando, Jinie? - Namjoon perguntou.
- Estou imaginando um envolvimento direto com a Lady Oca. O mais novo deles, Chong, não tinha motivo para se envolver com eles, e o mais velho não precisava, tinha um bom emprego e dinheiro para seus luxos. O que me leva a imaginar que devemos começar pela Maia.
- Pensei nisso. Por que ela seria morta depois de tanto tempo? O caso se encerrou há um ano ou perto disso, o que ela tinha que podia interessar pessoas que contrabandeavam drogas? - Jimin coçou o queixo com a tampa da caneta.
- E se ela não tiver envolvimento com a Lady Oca? - eu perguntei.
- Cheguei a supor que ela podia ter um envolvimento com o Chong, mas como ele namorava o Yoongi...
- Bom, não precisa ser um envolvimento amoroso, certo? - Jimin pegou a caneta vermelha e escreveu "envolvimento Maia/Chong". - Eles podiam ser amigos, conhecidos, estudar na mesma escola, fazer academia juntos, qualquer coisa. Por enquanto a única coisa ligando é o modus operandi e, pra mim, é muito pouco ainda.
- Na... ele não a conhecia. - eu neguei.
- Se ele quisesse esconder isso de você, Yoon, ele esconderia.
- Não me chama de Yoon.
Um sorriso de lado surgiu nos seus lábios cheinhos e ali ficou. Ele gostava de me provocar, gostava de me irritar.
- Vamos então supor que o motivo da morte dos dois primeiros não tem a ver com o motivo da morte dos dois segundos. - Jin foi até o quadro e pegou uma caneta. - Teorias do que aconteceu com o Chong? Me desculpa, Suga.
- Tudo bem. Ele me ligou na madrugada, eu já estava preocupado com o sumiço dele. Me deu um endereço e disse que "eles" o tinham encontrado e estavam vindo atrás dele.
- "Eles" pode ser uma máfia, uma sociedade, alguém a quem ele devia e estava vindo para pegar de volta. Alguma coisa pertencia a "eles" e vieram reclamar o... objeto? Sumiu algo dele, Yoongi?
- Não.
- Nada? - Jimin me olhou.
- Ele dividiu apartamento comigo por quase um ano, eu conheço as coisas dele.
- Todas elas ou o que ele te mostrava? Desculpa, Yoon, só estou assumindo que...
- Que eu não o conhecia.
É óbvio que estava me machucando as acusações do rapaz, mas se eu não abrisse meus olhos, Hoseok ia me tirar do caso, e eu não podia conviver com isso. Jimin olhou dentro dos meus olhos, havia tristeza neles, dor por solidariedade pelo que tinha acontecido comigo e tudo que eu já tinha passado com isso; não era pena, era compreensão, como se ele mesmo já tivesse perdido alguma coisa ou alguém pra algo que ele não tinha o controle. Sua expressão ficou muito séria logo depois, desafiante, irritada, como quem diz "que se foda, eu não vou parar". Senti um pouco de raiva pelo modo como o mais novo me olhou, enfrentando o monstro que ele não conhecia, e ao mesmo tempo, me senti calmo; era como se ele estivesse brigando pela direção de algo que eu não queria mais direcionar. Era só entregar a ele. Mas doía fazer isso.
- Exatamente, Yoon. - apesar da expressão fria, sua voz foi suave. - Vamos assumir que você não o conhecia por completo. Aonde ele morava antes?
- Na praça Chanie Wee, fica ao norte, meia hora de carro do Distrito. Um apartamento pequeno que acho que não chegou a ser alugado.
Ele anotou o endereço na lousa.
- Aonde ele estudava?
- Na Dong-A, campus de Bumin. Ciências Sociais.
- Que lugares ele mais visitava?
- Ahn... a faculdade, o Starbucks duas esquinas do meu antigo apartamento, a biblioteca e a loja de livros no centro. Ah, e a praça TaeYang, ele ficava observando as pessoas ali.
- Observando?
- Ele fazia Ciências Sociais, Jiminie, acha que ele era normal? - disse Namjoon e eu concordei com ele.
- Enfim... algum amigo de antes de vocês namorarem?
- Ele andava com um rapaz na faculdade, conversamos algumas vezes e eles pareciam bem próximos. Como que... - eu olhei para o Namjoon. - ele é chinês, qual era mesmo o nome daquele loiro? Tao era o apelido.
- Zitao. Não pergunta o sobrenome, fiz muito de lembrar o nome. O que querem com ele?
- Saber mais sobre o Chong na era pré-Yoongi. Ele foi assassinado e sabemos que ele conhecia quem fez isso, então precisamos saber mais da vida dele antes de morar com você.
- Reviramos a vida dele do avesso e não encontramos nada.
- Então é a minha vez, Joonie. - Jin sorriu para ele.
- Ah, não faça isso, o Namjoon vai ficar babando o resto do dia agora.
- Yoongi, pega o caminho da puta que pariu e vai, Ok? - ele ralhou comigo.
Jin voltou sua atenção para o quadro, ao lado do rapaz de cabelos vermelhos que fez um comentário que eu não consegui ouvir; como resposta, ele deu um sonoro tapa na bunda do ruivo, que fez o rapaz rir alto.
- Porra, primo.
- O próximo vai ser na cara. - ameaçou Jinie.
E eu achando que aquele sumiço ontem nas mensagens foi exagero.
- Podemos ver o que encontramos sobre a Maia também. Falar com algumas pessoas, traçar um perfil psicológico, ver se ela tinha algum motivo.
- Vão precisar de permissão do Hoseok, independente do que quiserem fazer. - eu comentei, olhando o quadro com cara de tédio.
- Vamos vasculhar a vida de Maia e Chong. Tem que ter alguma coisa aqui que explique isso.
- Vocês ficam com a vida do Chong, eu e Namjoon vamos investigar Maia.
- Uh, muito sensato, Yoon. – Jimin me lançou um sorriso de lado, um maldito sorrido de lado. – A que devo?
- Eu já fiz isso. – dei de ombros. – Sua vez. Assim não corremos o risco de deixar passar alguma coisa tendenciosa, você deve estar pensando algo assim.
- Temos mais um leitor de mentes, Jin. – ele sorriu para o primo.
- Que perigo...
Ouvimos batidinhas na porta e logo depois ela abriu, revelando a cabeleira avermelhada de Taehyung.
- Atrapalho mesmo, nem ligo. – ele riu. – Ahn... como eu vou dizer isso sem parecer desesperado? Já sei: alguém PELO AMOR DE DEUS ajuda o Kai naquela porra de perícia, ele não entra em acordo com a Karen e se o Kyungsoo surtar mais uma vez, eu vou mandar ele e os outros dois pra puta que pariu, cada um numa cadeira de rodas!
- Tão grave assim?
- Grave? – ele estreitou os olhos para Jimin. – Eles vão me deixar LOUCO! E se isso chegar nos ouvidos do Hope, é o delegado que vai me deixar louco. Jiiiiiiiiinnnnnn. – ele pediu. – Por favorzinho? Salva a pele do seu novo amiguinho? Eu compro chocolate pra você!
- Você sabe que eu sou de balística certo? Mas você disse chocolate? – o rapaz se levantou e sorriu para Tae.
- Eu sei, mas eles têm as fotos do local do crime, me disseram que você é bom em montar isso, talvez dê uma luz no trabalho deles.
- Tudo bem? – ele perguntou para o primo.
- Tudo, vai lá.
- Namjoon, acompanha ele. Eu preciso que o Suga me faça outra coisinha. Você fica, Jimin.
Jin olhou o primo e passou a mão pelas costas dele, como quem pede para que ele fique bem; Namjoon deu dois tapinhas nas minhas costas e eles seguiram para a sala de perícia, me deixando sozinho com Jimin e Tae.
- O que você precisa, Taehyung?
- Kookie conseguiu separar as filmagens da noite do assassinato de Maia, eu quero que vocês deem uma olhada. Eu mandei Jin e Joonie para a perícia porque eu pedi ao Kai que mostrasse os documentos de Chong e de Maia para o Jin, e eu acho de verdade que você não precisa ver tudo aquilo de novo, Suga.
Eu dei de ombros, era verdade.
- Deem uma olhada, vejam se encontram alguma coisa e relatem para o Hoseok.
- Ok. – Jimin concordou.
Ótimo, horas e horas trancado em uma sala pequena e escura com o rapaz. Melhor não podia ser. Sarcasmo.
POV JIMIN
Taehyung nos deixou na sala e seguiu para os seus afazeres; eu peguei as pastas e deixei sobre a minha mesa, acompanhando logo depois, Suga pelo corredor. Encontrei um banheiro no meio do caminho e dei um toque no braço do mais velho; entrei no banheiro e fui direto para a pia, desfiz o curativo improvisado do rapaz e deixei que a água corrente lavasse o machucado; a sensação da língua de Yoongi passando pelo meu dedo ainda me causava arrepios, eu não sabia como eu tinha conseguido manter a expressão vaga com aquilo, mas o importante é que eu tinha. Infelizmente, agora tudo que eu conseguia era imaginar a língua dele me chupando e eu tinha certeza que ele sabia disso.
Lavei o pano e o torci, deixando o mais seco que eu conseguia e devolvi para o rapaz, porém, ele puxou meu braço e passou uma volta do pano pelo meu dedo, desceu e prendeu o restante no meu pulso, dando um nozinho pequeno com as pontinhas; tinha ficado tão bem feito que eu não tive coragem de dizer que não precisava mais.
- Valeu.
- Nada. – ele respondeu, sem sorrir.
Yoongi sorria pouco, na verdade. Eu entendia, mesmo assim seu sorriso era muito bonito, ele devia mostra-lo mais. Ele saiu do banheiro e eu o acompanhei; ele andava sem pressa, passos muito firmes pelo corredor, sem fazer barulho com o coturno, porém. Algumas pessoas passavam por nós, olhavam em nossa direção, mas nenhuma delas cumprimentaram ou alguma coisa do tipo.
- Ninguém te cumprimenta?
- Ninguém se dá ao trabalho de ser ignorado por mim. – ele respondeu.
Ótimo, então ele era o tipo de pessoa que ignorava quando o cumprimentavam. Olhei para a frente, observando o corredor que fazia uma curva lá na frente, pensando em como Yoongi tinha se tornado frio e inalcançável quando senti alguém puxar a minha jaqueta com força, me fazendo virar.
- Isso é vingança? – ele perguntou e eu não entendi.
- O que?
- Eu ignoro as pessoas e agora estou sendo ignorado.
- Me desculpa. O que dizia?
- Que a sala é essa. – ele indicou uma porta que já tínhamos passado em cinco passos. Eu passei, ele só veio atrás de mim me impedir de continuar vagando sem rumo.
- Me desculpa, Yoon.
- Para de me chamar de Yoon, inferno.
- Não. – respondi simplesmente.
Entramos na sala escura cheia de monitores, o rapaz alto de óculos finos sorriu para nós e ofereceu as cadeiras.
- O detetive Min sabe como operar, eu vou deixar vocês à vontade.
- Obrigado, Shim. – foi tudo que ele respondeu enquanto se sentava em uma das cadeiras confortáveis.
Me sentei também, ignorando o rapaz que parecia um fantasma naquela luz projetada da tela.
- Vamos começar.
Ele deixou que a gravação corresse um pouquinho mais rápido do que o normal e apoiou o queixo na mão; eu me inclinei para trás, olhando a tela com atenção. Eu não podia me distrair, não agora. O tempo correu, uma hora ou duas já havia se passado quando vimos Maia, então Yoongi pausou e desacelerou o vídeo. Não tinha nada suspeito, ela entrou em uma loja e saiu de lá meia hora depois, sem sacolas; agora ela parecia um pouco nervosa, caminhava apressada até uma rua que ela dobrou a esquina.
- Ela ficou meia hora e não comprou nada? - perguntei para ninguém específico; é estranho como temos a tendência de falar baixo no silêncio.
- Não encontrou o que queria ou foi até lá só pra conversar.
A voz baixa de Yoongi soou rouca e calma, o que me causou um arrepio involuntário; minha sorte foi estar de jaqueta, do contrário ele veria o maldito reflexo do meu corpo reagindo a ele.
- E saiu assustada.
- Ela não olhou nenhuma vez para os lados quando entrou, mas olhou até para trás quando saiu. Foi ameaçada lá dentro?
- Ou sabia o que estava esperando ela?
Yoon pegou outra gravação, de outra rua e vimos o momento que ela passou pelo beco, parou e parou. Ela voltou e parecia incerta se entrava ou não, por fim ela resolveu entrar. A rua que ela andava não estava deserta, mas não encontraram o corpo até o outro dia, de manhã, por um lixeiro.
- Não ouviram gritos, então foi muito rápido.
- Provavelmente ela conhecia quem fez.
- Ninguém saiu do beco até o lixeiro encontrar a mulher. Por onde ele passou, se não tem saída?
- Vamos ter que ir lá pra ver. - eu observei o rapaz, ele tinha os olhos estreitos para o monitor.
- Mais tarde. Vamos continuar isso aqui.
Sem objeções. Sua presença me acalmava de algum jeito bom, era como se eu pudesse continuar ali pelo tempo que fosse necessário, de tão confortável e relaxado que eu ficava na presença do mais velho; eu só esperava que ele se sentisse confortável comigo também. Continuamos a ver as filmagens, sem encontrar mais nada relevante nelas e eu só notei que era tão tarde quando meu estômago doeu e eu recebi uma mensagem de Jin.
Jinie [12:05]: Não esquece de se alimentar, por favor! A cantina é ótima, vai lá com o Yoongi.
Jinie [13:01]: VAI COMER ALGUMA COISA AGORA, FILHO DA PUTA. Eu sei que você ainda não almoçou. Arrasta o Yoongi.
- Aish, parece meu pai. - eu reclamei enquanto respondia a mensagem para ele. - Já passa da uma, Yoon, é melhor almoçarmos antes de continuar.
- Tudo bem, não acho que vá render mais alguma coisa mesmo. - ele se esticou e levantou da cadeira, pegou o interfone e apertou o 1. - Shim, encontramos o que precisávamos. Valeu.
- Não encontramos muito.
- Foi mais do que encontramos com o Chong, acredite. Depois vamos voltar aqui e passar as imagens com Namjoon e Jin.
Abri a porta e senti os olhos arderem pela claridade.
- Porra eu fiquei cego. - reclamou o rapaz, colocando as mãos nos olhos.
- Só você?
- A cantina é no andar de baixo.
Meus olhos só se acostumaram com a claridade depois de entrar no elevador.
- Vocês sempre fazem isso? Deixam um no escuro pra pegar mais informações?
- Meu cérebro e o de Jin trabalham de maneiras meio opostas; ele presta muita atenção em mínimos detalhes enquanto eu presto atenção no plano geral, localização, hora, pessoas, quantidade, movimentação. Ele vai prestar atenção em coisas diferentes, separados nós não nos preocupamos em ver o que o outro está vendo.
- E prestam mais atenção no de vocês. Faz sentido.
- E vocês dois, como trabalham?
- Namjoon traça o plano geral e eu procuro detalhes.
- Detalhista? – nós ganhamos o corredor novamente.
- Extremo.
- Então tudo pra você é um detalhe a ser analisado.
- Exato.
Silêncio. – Eu sou um detalhe a ser analisado?
- Você é uma cena de crime. E eu, um detetive especializado em campo.
- Quer que eu segure a indireta?
- Com carinho, por favor. – ele piscou para mim.
Ótimo, posso morrer agora? Porque o meu coração já tinha falhado uma batida. Pelo jeito, eu não seria o único a brincar.
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