História Emerald Eyes - Friends? Friends.

- James, você viu as minhas... - Assim que coloquei os pés no porão, que era basicamente um estúdio onde os meninos tocavam e eu também, de vez em quando; Cam tapou minha boca com a mão e falou pra mim ficar quieta.

- James está meio enferrujado. - Ele sussurrou tirando a mão da minha boca - Ele tem pouco tempo pra treinar as músicas que vamos tocar de noite.

- A Single Moment Of Sincerity?! - Afirmei e Cam assentiu sorrindo - Ele não parece enferrujado.

- Você fala isso porque não ouviu ele tocando A Prophecy. - Danny riu e eu também

- Era ele tocando?! Pensei que meu rádio tinha quebrado. - Falei e eles riram; James parou de tocar e tirou os fones e dentro da cabine disse:

- Olha, eu não posso ver vocês mas eu posso ouvir. - James disse e começamos a rir, ele se levantou e saiu da cabine.

O estúdio era quase que profissional, nossa casa era grande e o porão era enorme. Como eu e James amamos tocar, nossos pais construíram o estúdio para nós e lá tem tudo que sempre precisamos: Guitarra, violão, bateria, teclado, baixo e até mesmo um piano de cauda que eu não tocava fazia uns seis meses.

- Tem certeza de que quer ir? - James perguntou parando a minha frente

- Absoluta.

- A escolha é sua. - Ele disse olhando o relógio - Oque queria comigo?

- Bem lembrado... Sabe onde ta minha Doc Martens preta?

- Não ta na sua sapateira?

- Se tivesse na minha sapateira eu nem tinha vindo perguntar.

- Senti no coração. - Sam falou e eu ri.

- Não tenho a mínima idéia. - Ele disse e pareceu pensar - No quarto dos pais?

- Nem olhei lá. - Falei cruzando os braços - Vou procurar.

Subi as escadas e abri a porta que dava na cozinha, fui pra sala e subi as escadas indo pro quarto dos meus pais, o quarto que eu não entrava tinha três meses. O quarto deles era o único cômodo que James manteu trancado desde a morte deles e eu sinceramente me senti mal por isso; quando destranquei a porta e adentrei o quarto, espirrei umas quatro vezes por causa do meu problema de falta de ar, passei os olhos pelo cômodo e abobnei olhar para tudo com panos brancos impedindo os poucos móveis de juntar poeira. Doamos as roupas e sapatos deles para instituições de caridade e sobrou apenas os móveis, que era a cama, cômoda e alguns itens pessoais da minha mãe e do meu pai.

O acidente ainda rodava minha cabeça perfeitamente e eu queria me matar apenas pra esquecer como tudo aconteceu.

- Juliana, não vamos te dar a guitarra enquanto a outra não quebrar e...

As últimas palavras da minha mãe foram aquelas, o carro derrapou e bateu com outro da pista contraria, capotou três vezes e eu estava sem o cinto, oque me ajudou a bater a cabeça e desmaiar. Acordei três dias depois e a partir daquele minuto que abri os olhos, me senti culpada por ter causado o acidente e depois me senti mais culpada ainda quando James disse que meus pais tinham morrido duas horas antes de eu acordar.

Senti um refluxo e tontura, corri pro banheiro do quarto e me ajoelhei na frente da privada, onde coloquei o almoço (que foi um hambúrguer de drive thru com batatas fritas) pra fora e depois ainda forcei. Tossi quando terminei e dei descarga, respirei fundo e me levantei parando em frente a pia e lavando minha boca. Depois voltei pro quarto e peguei uma caixa de sapatos que estava em baixo da cama, verifiquei e eram as minhas Doc Martens pretas. Sai do quarto e tranquei ele novamente, entrei no meu quarto e joguei a caixa de sapato em cima da minha cama e fui revirar meu guarda roupa, minhas roupas consistiam em poucas peças coloridas e várias peças pretas, brancas ou cinza. Peguei um crooped de renda preta, uma saia rodada acima dos meus joelhos e para completar, minhas Doc Martens que já estavam na cama.

Fui breve no banho e lavei meu cabelo, fiz minha maquiagem leve e arrumei meu cabelo em cachos. Coloquei a roupa que havia separado e alguns acessórios simples. Olhei o resultado no espelho e eu não me lembrava de quando me arrumei assim, respirei fundo e peguei meu celular. Sai do quarto fechando a porta e depois fui até as escadas, desci as mesmas e encontrei James no sofá mechendo no celular, ele me olhou por cima dos ombros e sorriu, se levantou e parou a minha frente.

Ele vestia Calças Jeans rasgadas, uma blusa preta e suas velhas e companheiras botas de combate; seu cabelo estava levemente molhado. Eu não me lembrava da última vez em que ele havia se arrumado daquele jeito. Depois de tudo que aconteceu eu e James ficamos imersos de festas, confraternizações ou qualquer tipo de evento, saíamos às vezes com o pessoal para os pequenos shows que eles faziam, mas nada de total extravagância.

- Pronta senhorita Cassells?

- Totalmente senhor Cassells. - Sorri para ele que riu e me abraçou.

- Se quiser vir embora a qualquer hora, me avisa. - Ele disse e eu assento ainda com a cabeça grudada em seu peito. - E nada de bebida, seus remédios são fortes.

- Nenhuma Vodka?! - Arqueei a sobrancelha pra ele quando me separei de seu abraço, ele me olhou risonho e deu um riso.

- OK, mas não exagera.

- Não sou o Benjamin.

- Ouvi meu sagrado nome. - O capeta entrou pela porta da cozinha de braços abertos e Cam estava atrás dele, que revirou os olhos.

- Por falar no capeta... - Deixei pairar no ar e revirei os olhos. Olhei para Cam que sorriu para mim, ele tinha um estranho custume de usar blusas enormes e eu o zuava vez ou outra falando que eram vestidos, sua calça rasgada preta e seus velhos all stars brancos sujos. Benjamin não mudará muito, além dos cabelos bagunçados constantemente, ele quase nunca trocava as velhas calças com rasgos nos joelhos, seus all stars cano médio preto e sua velha companheira, a camiseta do Led Zeppelin com as mangas rasgadas.

- Tem outra roupa no armário além dessas Benjamin?!

- Se quiser ir até o apartamento comigo, eu posso te mostrar coisas além das minhas roupas.

- Quer levar um soco antes de irmos pra festa?! - James disse fitando Benjamin que revirou os olhos.
 

- JULIANA, MINHA PIRRALHA PROTEGIDA. - Elliot berrou quando me viu se aproximando junto de Lia e os outros; Ele me envolveu em um abraço acolhedor e me tirou do chão - Que saudades.

- Faz duas semanas que você foi lá em casa. - Falei quando ele me colocou no chão

- Exatamente. - Ele sorriu e eu retribui. Elliot tinha cabelos ruivos até os ombros e olhos castanhos. Ele vestia uma regata preta, calça jeans velhas, coturnos e uma camisa xadrez vermelha que eu roubaria antes da noite acabar.

- Quem bater a mão por último paga a primeira rodada. - Lia disse rápido e eu e ela batemos a mão na mesa, Elliot foi o último pois foi pego desprevinido. - Perdeu amor. Quero Jack com energético.

- Quero o mesmo que ela. - Falei rindo pra ele que revirou os olhos e saiu para buscar as bebidas.

James e os meninos já haviam sumido e eu já havia sido parada por praticamente todos da festa pra perguntarem se eu estava bem e se eu não precisava de nada. Era uma coisa estranha e irritante, completamente irritante. O pessoal do colégio inteiro soube oque aconteceu comigo e queriam tentar me fazer não se sentir tão pra baixo assim e eu tentava despistar todos sorrindo e dizendo que eu estava bem, bela mentirosa eu me tornei.

- Ju, sinto informar que eu não sou porta copos. - A voz de Elli invadiu meus ouvidos e eu "acordei" do meu transe, me virei e peguei a bebida agradecendo - Pensando no Caio?

- Elliot. - Lia deu um tapa no peito dele e fez um olhar de alerta para o mesmo, ela então voltou seu olhar para mim - Ele não quis dizer...

- Eu sei oque ele quis dizer, Lia. - Falei olhando para o copo - Como está dividido a festa?

- Ah, claro. - Lia sorriu amarelo - Bem, o 3°A e o 3°B ficaram por conta das decorações, mesas e cadeiras. 3°C ficou por conta da comida e bebidas. 3°D pelas luzes, convites e pulseiras de identificação. Já nós, o 3°E, ficamos por conta dos DJ's, banda principal e claro, alguns quadros que estão espalhados por aí pra uma brincadeira besta

- Pegamos a parte mais fácil?! - RI para ela enquanto dava mais um gole na minha bebida - Qual brincadeira?

- Todas as sala tiraram fotos variadas, tanto com os professores, alunos, jogadores e outras pessoas. - Caio brotou do nada e explicou, e eu fiquei desconfortável por causa da presença dele - Depois que seu irmão e a banda dele se apresentar, os representantes de cada sala vai subir lá e fazer um sorteio, uma única pessoa de cada sala vai ser escolhida. O escolhido vai ter que procurar cinco quadros de fotos que pedimos pra pessoas aleatórias espalharem por aí, mas, nessas fotos só podem estar pessoas de sua própria sala. Sacou?

- Sim. - Assenti sem olhar para ele - Qual o prêmio pra pessoa que achar todas as fotos primeiro?

- Ainda não escolhemos. - Lia sorriu pra mim - Vamos conversar com o diretor quando as aulas voltarem e tentar negociar algo com ele.

- Tente negociar o nota final da sala inteira. - Elliot disse e riu - Assim não vou precisar entrar no sistema pra pegar as respostas das provas finais.

- As respostas são sempre as mesmas. - Caio riu - as vinte primeiras alternativas são entre B e D, já as outras vinte entre A e C.

- Tirando que a redação eles nunca lêem. - Lia completou e revirou os olhos - Eu e a Ju ficamos três dias lendo sobre o tema pra no final nem apreciarem nossas belas palavras.

- Foi até bom. - Falei rindo pra ela - Ainda acha que não iriam desconfiar das nossas redações iguais?!

- Vai saber?! - Ela deu de ombros. Acabamos rindo.

- Então Ju, porque veio? - Caio perguntou e pra ele nem parecia que havíamos terminado o namoro a algumas horas atrás. Ele estava normal, como se fôssemos apenas amigos.

- Ju. - Cam brotou do inferno e olhou para todos ali, antes de se virar para mim novamente - James quer falar com você.

- Vai lá. - Lia falou - Depois te encontramos.

- Ta bom. - Falei estranhando os olhares que todos estavam trocando. Segui Cameron em meio a multidão e ele parou no bar improvisado, pedindo alguma bebida. - James não quer falar comigo?

- Inventei. - Ele respondeu pegando a bebida - Qual é?! Quem age daquela forma?!

- Não to entendendo.

- Lerda. - Ele riu e eu dei um tapa nele - Quem termina um namoro e depois age como se nada tivesse acontecido?!

- Caio. - Apontei por cima dos ombros e ele gargalhou. - Onde vocês foram que sumiram segundos depois de eu abraçar Elli?

- Camarim. - Ele respondeu

- Um galpão alugado pra uma festa dos terceiro ano tem camarim? - Arqueei a sobrancelha e ele deu de ombros.

- Quer pegar alguma coisa antes de irmos pra lá?

- Absinto com Jack Daniels. - Respondi pra ele

- James vai querer minha garganta por isso. - Ele olhou para cima e se virou para o bar, fez o pedido, esperamos um tempo e ele logo me entregou o copo; Cam pegou minha mão e me arrastou por todas aquelas pessoas, quando chegamos ao tal camarim os meninos estavam rindo e bebendo. (Tipico deles)

- Vejam oque temos aqui. - Danny disse e eu sorri na direção dele

- Oque ta bebendo? - James perguntou

- Nossa mistura abençoada. - Falei mexendo os copo e depois tomando um gole.

- Cameron. - James olhou reprovado pro mesmo

- Qualé Jay?! - Falei - Não vai me matar, eu espero.

- Se matar, enterra. - Benjamin falou e ignoramos.

- Que horas vão tocar? - Perguntei me sentando ao lado de Sam

- Umas dez e quarenta. - Danny olhou para cada um tendo certeza do que falou.

 

Era meia noite e pouco, os meninos já haviam tocado e agora estávamos todos bebendo ou dançando, ou fumando ou me olhando pra ver se eu não fujo ou tenho um ataque. A tal brincadeira louca que só a Lia pra ter inventado aquilo, já havia sido feita e o 3°C que ganhou.

Mas agora, eu estou sentada aqui enquanto todos estão se divertindo, mas por algum motivo eu só quero ficar sentada. Depressão as vezes é uma merda. As vezes até mesmo em um lugar cheio de pessoas, você se sente só, como se fosse parte da mobília.

- Sério, ta me irritando ver você aqui sentada solitária. - Ben se sentou ao meu lado

- E em quê eu não te irrito?! - Perguntei sarcástica

- Na verdade, seu sorriso e sua voz quando você canta. - Ele disse, sincero - Essas são as coisas que não me irritam em você.

- Está bêbado, Bruce?!

- Por incrível que pareça, não estou. Cassells.

- Então está sobre efeito de algo ilícito?

- Não sou eu que tomo remédios controlados.

- Não passamos um momento sem nos alfinetar. - Sorri e ele riu - Isso não te incomoda?

- Admito que um pouco. - Que tal, passarmos a ser bons amigos?

- Você está bêbado. - Falei e ele gargalhou - Sem insultos ou xingamentos?

- Sem insultos e xingamentos. - Ele sorriu e eu também - Vamos dançar?

- Não exagera. - Falei rindo - Sinto muito.

- Um pouco, por favor. - Ele piscou os olhos

- Ta bom, só um pouco. - Revirei os olhos e nos levantamos. Passamos pelas pessoas amontoadas e paramos no meio da pista, onde dançamos um olhando para o outro, como se fôssemos grandes amigos.