- Beatriz, vocês vão ficar no apartamento enquanto estiverem por aqui ou vão pra casa da sua mãe?- meu pai me perguntou antes de se despedir.
- Acho que aqui, pai. É mais tranquilo e eu prefiro aqui por que vai ser melhor. Não sei como minha mãe vai receber a notícia.
- Ok, juízo vocês dois.- ele deu um beijo em minha testa.- Cuida bem da minha filha e do meu neto, em zagueiro.- ele falou com David, que fez aquele sinal de comprimento que os soldados fazem.
(...)
- David, não repara muito na casa. Não é simples mas é arrumadinha.- minha mãe disse entrando na casa. Ela sempre falava isso, mas nossa casa não era tão simples assim já que tinha 3 andares.
- Que isso D. Júlia. Olha que cazona.- David disse.
- Sinta-se a vontade. Beatriz, leve ele para conhecer o resto da casa, estou terminando de preparar o almoço lá no salão.
- Esse daqui eu acredito que era seu antigo quarto, certo?- David me perguntou entrando em um quarto decorado em preto e branco.
- Exatamente.- suspirei e viajei no tempo lembrando da época que eu passava horas e horas trancada ali.
- Você ta longe né? Saudades?
- Aham.
- Você acha que sua mãe vai aceitar fácil?
- Não.- respirei fundo.- Minha mãe vai ficar muito decepcionada. Muito, muito mesmo.- levantei e abri meu guarda roupa revendo algumas roupas antigas que estavam guardadas.- Sabe, eu e minha mãe somos muito diferentes, mas ao mesmo tempo somos bem iguais. Lembro que ela vivia brigando comigo- dei uma risada.- Toda vez era a mesma história: Beatriz, você tem que arrumar seu quarto, isso aqui ta uma bagunça!; Beatriz, você tem que ser mais organizada, caso contrário sua vida vai ser uma bagunça...- ai, droga, eu tava chorando mais uma vez, mas agora, David tava me abraçando e acariciando minha cabeça.
- Ficou meio que um vazio aí em você, né?
- Eu nunca fui de falar muito sobre meus sentimentos, e depois da separação dos meus pais, eu falava menos ainda. Então sim, tem um espaço aqui dentro que falta ser preenchido um pouquinho. Mas quando eu te conheci- eu sorri olhando nos olhos dele- Eu comecei a ser diferente, e diminui um pouco isso tudo.- Selei nossos lábios.
Minha mãe tinha preparado um dos pratos que eu adoro e por coincidência, é dos dos de David também.
- Mãe, precisamos conversar.- só estávamos nós na casa, o resto dos moradores tinham saído e meu padrasto trabalhando.
- D. Júlia, primeiro eu queria te pedir desculpas, mas aconteceu sem que planejacemos, mas....
- Eu to grávida, mãe.- minha mãe abriu a boca pra falar alguma coisa, mas nada saiu de sua boca. Ela ficou por um bom tempo sem falar nada, até que por muito custo algo saiu:
- Espero que vocês dois tenham a maturidade o suficiente para esse filho. Vocês sabiam muito bem o que estavam fazendo e quais seriam as consequências, mas mesmo assim fizeram. Estou surpresa com o descuido de vocês dois, principalmente com você, Beatriz. Você morou por 3 anos e meio sozinha emFlorianópolis e já teve seus namoradinhos por lá, não achei que fosse só você ir pra mais longe que isso iria acontecer.- ela se levantou e foi para a sala.
- Não achei que sua mãe fosse tão seria assim.
- Ela esta decepcionada comigo, David!- eu comecei a chorar baixinho.- Eu nunca a deixei tão assim.
- Amor, desculpa por estar fazendo você passar por tudo isso.
- Filha, vem aqui.- me descolei de David e enxuguei as lágrimas e me juntei a ela no meu antigo quarto.- Olha, sei que fui grossa com você lá embaixo, mas espero que entenda que não é fácil de digerir que sua filha vai ter um filho. Foi um descuido de vocês dois, um descuido que não tem conserto nem volta, mas te conheço a tempo o suficiente para saber que você vai criar esse filho com a maior responsabilidade do mundo.- ela chorava baixinho assim como eu também estava.- E saiba que essa criança já é amada antes mesmo de nascer. Pode contar comigo pra tudo. Você é minha filha e eu nunca vou querer o seu mal.
- Obrigada, mãe.- eu a abracei. Fazia muito tempo que eu não dava um abraço tão bom assim nela, isso me fazia falta.
Nós 3 passamos a tarde inteira conversando sobre a vida em Paris e sobre o bebê também, claro. Expliquei pra ela que irá para Minas para ficar um pouco com a família de David e depois voltaríamos com todos para as festas de fim de ano.
(...)
Viajamos para Minas na semana que seria a festa de natal, não iríamos ficar muito tempo mesmo, era praticamente para contarmos para os pais de David.
Quando contamos para eles, D. Regina começou a chorar descontroladamente e se perguntava repetidamente "Por que? Por que?". Depois de chorar bastante, ela veio até onde estávamos e lamentou um pouco isso ter acontecido agora tão cedo, mas que iria estar ali do nosso lado pra o que precisaremos, tanto ela quanto o pai de David. Bem, os principais já estavam sabendo, só faltava o resto da família, ou seja, a maioria.
Meu médico havia me ligado avisando que não poderia estar me atendendo aquela semana, então remarcaria para depois das festas. E ele ainda me adivertiu: sem champanhe e sem vinhos, viu D. Beatriz. Ele era meu médico desde sempre, então nossa relação era mais do que apenas médico e paciente, ele acabou se tornando um confidente para mim. Sem contar que é um dos meus amigos gays que sempre estão me ajudando.
(...)
Na noite de Natal, a minha e a família de David jantamos com a família do meu pai, que se deram muito bem. A noite foi super animada e divertida, um mais animado que o outro. Nós anunciamos a gravidez antes da 00:00 enquanto todos estávamos em um círculo para brindarmos a noite de Natal. Todos ficaram super animados. Alguns até tiravam sarro da situação com piadinhas do tipo: Nossa mais já? Vocês são rápidos em mocinhos. Tanto a minha família tanto a de David.
Na noite de ano novo, seria na casa da minha mãe. Não foi muito diferente, a não ser pelo fato de que a família de David já sabia e de que o lado da minha mãe não era tão piadista assim, mas se comemoraram com a mesma intensidade.
Deu 00:00 e sem dúvida, aquela foi a melhor virada de noite da minha vida. David e eu tiramos uma foto onde os fogos de artifício apareciam no fundo, a foto ficou a coisa mais linda. Ele segurava minha cintura e me dava um beijo em minha boca.
- Posso postar, amor?- ele disse todo animado
- Claro que sim, né?! Olha que linda que eu to!- ele me mostrou uma de suas caretas com a língua de fora.
Demorou um pouquinho até que eu fui notificada no instagram pela foto em que David havia postado. A legenda bem grandinha até.
" Primeiro eu queria desejar um feliz ano novo pra todos vocês #geezers. Mas vou mandar um especial pra essa menina linda que me conquistou de uma forma inesplicavel. Ela chegou na minha vida e me transformou em um moleque que se apaixonou pela primeira vez. Me proporcionou vários momentos deliciosos e preciosos que vou levar por toda minha vida, mas tenho certeza que muitos ainda virão. Me ensinou e me ensina a ser melhor a cada dia. Você faz meus dias melhores a cada manhã. Você me inspira. Me facina. Mas há alguns dias atrás você me deu o melhor presente, a melhor notícia. Você me deu o presente de Deus de ser PAI. E nada nesse mundo vai superar esse presente. Eu te amo muito, minha pequena. Não poderia ter pessoa melhor para ser a mãe dos meus filhos!" Eu já estava em prantos quando terminei de ler a legenda. Eu fui no mesmo instante até David, que estava conversando com algum parente dele. Eu o abracei e comecei a chorar mais ainda.
- Você é um chato!- dei um tapinha em suas costas.- Ta borrando toda minha maquiagem e ta me fazendo chorar igual um bebê. Mas eu te amo muito! - eu afastei um pouco a cabeça para poder encara-lo.- Só tinha uma coisinha erra naquele texto. Você disse" mãe dos meus filhos, no plural. E só deve ter um aqui dentro.
- Eu sei!- ele disse sorrindo e em seguida começando um beijo calmo e apaixonante. Aaaai, como ele me faz bem!
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