História Entre Piratas e Sereias. - Único.

 No tempo que estive navegando em busca por vingança, àquele maldito que destruiu minha família e tudo de bom que um dia rodou a minha vida, eu nunca mais pude sorrir de verdade. Até o dia que ela surgiu entre a maré com aquele seu sorriso encantador.  Apesar de tudo, eu pude também odiar o atrevimento daquela garota, maldita sereia e seus encantos.

 Quando se está há meses no mar, não serve muito tempo para escovar os dentes e esse foi o principal motivo pelo qual ela me atacou. “Uh, bafo de baleia!” Estive a dois passos de estourar seus miolos com uma rajada de tiros, mas algo dentro de mim falou mais alto. Eu não queria ficar sozinha mais uma vez...

 Nami era seu nome. Por um bom tempo ela me acompanhou naquela viagem, alguns meses, eu diria. Quando dei por mim, já estava perdidamente apaixonada por aquilo que ela demonstrava ser. Foram muitas as vezes que acordei deitada na beirada do navio com o braço pendurado para fora em uma tentativa inútil de tocá-la. Eu ouvi suas histórias, seu riso e seu perfume estranhamente doce para alguém que vivia entre os peixes. E minhas lágrimas foram consoladas com a água salgada do mar, sumindo como se não fosse nada. E não era.

Quando dei por mim eu não queria mais saber de vingança, não queria mais ir para casa. Ali, agora, era a minha casa; como uma boa pirata diria. Até que um dia eu abri os olhos sobre o vento frio da noite ela não estava mais lá, gritei, chorei, atirei contra as águas e iniciei uma nova busca. E então eu enlouqueci.

 Não importava quantas criaturas habitavam o mar, ele estava absurdamente vazio sem aquela maldita sereia... Assim como meu coração. Até que eu ouvi o seu canto, forcei os olhos verdes contra o sol e vi àquela mais perfeita mulher chamando por mim. E então eu larguei tudo. Não conseguia pensar em nada alem de saudades, eu só queria senti-la perto de mim, seu gosto e o seu cheiro. Do jeito que estava pulei naquele mar, fui levada por uma enorme onda de azares e quando finalmente abri os olhos que queimavam com o sal, e vi sua cauda se enroscar no meu corpo. O sorriso sedutoramente diabólico, aquela não era a Nami encantadora que conheci. Mesmo assim, seus lábios tocaram aos meus, afundando cada vez mais, eu senti como se não precisasse mais de nada. A água invadiu meus pulmões, mas não me debati. Pela a primeira vez naquela vida de azares, eu fiquei em paz...