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História Entretempo III - Thank you for the happiest year of my life


Escrita por: ziell

Notas do Autor


Uma coisa triste que escrevi pq tava ouvindo happiest year do Jaymes Young e fiquei toda emotiva.
É isso.

Capítulo 1 - Thank you for the happiest year of my life



Às vezes Levi tinha sonhos com aquela época, a Era dos Gigantes que esmagaram a terra. Lembrava da grama verde, do calor das tardes e dos estalidos dos equipamentos que permitiam que voassem através dos ares — suas asas mecânicas — que lhe possibilitaram a primeira experiência real de liberdade ao lado dos seus queridos, Isabel e Farlan. 

Às vezes as crianças do Condado vinham até a entrada da Fazenda olhá-lo de longe, sentado na varanda esperando o tempo passar e o dia acabar para que fosse colocado para dentro de casa, ter seus cabelos lavados e suas unhas limpas. Eles tinham medo dele, tanto pelas histórias contatadas às novas gerações quanto pela imagem do homem velho e mal humorado, prostrado, que mal conseguia andar sozinho ou enxergar um palmo à frente do nariz.

Às vezes lembrava de Kenny, tinha vagas memórias sobre ele dizer que não iria durar muito tempo por sua estatura fina e frágil quando o encontrou enrolado nos trapos imundos de sua mãe. Pensava em Erwin, o sabrancelhudo que lhe ensinou a noção subversiva de liberdade e justiça que nutriu suas veias através dos anos de guerra e sobrevivência. Também havia Hange, a Comandante Quatro Olhos que abraçou sua morte ao Sol com um sorriso triunfante, deixando para trás todas aquelas crianças adultas desesperadas. Hange deveria saber que era uma espécie de mãe para eles, embora Levi nunca pudesse ver a si mesmo como pai, talvez um irmão mais velho, talvez o tio que espanca. 

Às vezes pensava nas raras tardes de calma e tranquilidade no quartel, havia as risadas e os gritos constantes de Eren, as palavras educadas e inteligentes de Armin, o último Comandante das Tropas de Exploração. Todos eles passaram, todos desapareceram deixando apenas rastros de suas vidas para trás, sendo eternizados através dos relatos da História, das memórias daqueles que sobreviveram. 

Às vezes se pegava sentindo falta dela, mesmo que quase não lembrasse de seu rosto ou tivesse a sensação horripilante que dia após dia, manhã após manhã, estivesse esquecendo os traços de seu rosto, o timbre de sua voz, o cheiro de sua pele. Sua igual. Sua alma. Momentos em que se perdia no tempo sem conseguir definir o que era o quê, se estava vivo, se estava morto, se estava em uma transição de quem acorda de um sonho, desde que ela partira, sentia que sua realidade havia se tornado um coma eterno. 

Mikasa lhe deu coisas que pensava que nunca teria ou nunca desejaria: uma família, filhos, conforto, um lar, um coração jovem e cheio de esperança para chamar de seu. Perdê-la foi como ver a última estrela se apagar e às vezes sentia que já não pertencia àquela realidade, já que nenhum deles estavam ali. 

O mundo havia mudado, coisas aconteceram, pessoas se foram, mas Levi continuava ali, por quê? Por que não poderia simplesmente morrer? Já não havia nada ali além de seus filhos e netos que confundia de vez em quando. 

Mas Maria, a sua neta mais nova, ela tinha o olhar cinzento e jovial que Mikasa tinha quando a viu pela primeira vez, naquela época sendo apenas uma garota agressiva e preocupada com causas impossíveis. Ela era uma dos únicos netos que ainda tentavam conversar com ele, mesmo que já não esperasse resposta alguma. 

Levi não falava há alguns anos, às vezes reclamava, mas conversar era algo que suas faculdades não conseguiam fazer mais, assim como esperar. Embora continuasse esperando. 

Suas asas estavam longas demais para voar, as garras longas demais para agarrar, a liberdade como até então conhecia havia se tornado apenas um símbolo de esperança, já que continuava desejando vê-la mesmo que em seus sonhos. Mikasa. Ele sentia falta dela, mesmo que tenha sido um péssimo marido com todos os problemas físicos e psicológicos que sua velhice lhe trouxe; mas ela sempre foi dedicada em cuidar daqueles ao seu redor. 

Não sabia se o amou verdadeiramente em algum momento ou se tudo que tiveram foi uma convivência passiva e troca de afetos para não se sentirem ainda mais solitários. Não sabia se isso poderia ser chamado de amor, mas já não importava mais. De qualquer forma, ela lhe deu os poucos anos mais felizes de sua vida, e seria eternamente grato por isso. 

Sentado à sombra de um Salgueiro observando o sol se pôr sobre o que antes foi Shingashina, seus olhos absorviam toda a luz que poderiam conter, seus dedos tremiam e o semblante duro, inexpressivo, permanecia parado e quieto, sobrevivendo. 

Tudo que Levi fez a vida inteira foi sobreviver, o soldado mais forte da humanidade, esposo amado e pai adorado, embora essas coisas não tivessem relevância agora. 

Sua existência aos poucos se desfazia no ar, assim como as brasas voam para cima...



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