A humanidade continuava seu cotidiano; pessoas andando de um lado para o outro com sua pressa do trabalho. Amigos se encontravam em um bar para pôr a conversa em dia. O primeiro beijo de um casal, frente a um lago cristalino que lhes trariam boas recordações; o momento foi mais prazeroso quando olharam para o céu e viram luzes brilhantes caírem como estrelas cadentes. Abraçaram-se fortemente e aproveitaram o cenário romântico. Numa pequena cidade, em mais um dia de noticiário, repórteres comentavam:
— Chuva de meteoros repentina embeleza o céu da noite. Satélites demoraram para identificar os objetos celestes, mas tudo indica que irão passar bem rápido pela nossa atmosfera. O astrônomo Ricardo Boaventura afirmou que: “o evento repentino não é motivo para preocupação, pois não trariam perigos para nossa órbita. As pessoas podem aproveitar as passagens dos meteoros”.
Em outra parte do mundo, dentro de um bar para caçadores e lenhadores, um homem espalhava o boato de que meteoros estavam caindo na terra, e jurava ter visto um dos corpos celestes desaparecerem diante dos seus olhos enquanto entrava na atmosfera terrestre, há poucas horas. Seus companheiros riram e pediram uma nova rodada de cerveja, era um dia calmo como qualquer outro. Outro homem pegou seu notebook e abriu o site de notícias, lendo as informações atualizadas do evento celeste:
— “Uma chuva de meteoros irá passar por nossa atmosfera, sem probabilidades de causar fenômenos adversos em nosso sistema. O evento celeste durará pouco mais de algumas horas, visível para todo o mundo – que tiver sorte do céu não está nublado. De acordo com os especialistas: ‘os meteoros estão de passagem pelo nosso sistema solar, ainda que não tenha sido previstos, não trazem riscos’, concluíram. Portanto, aproveitem o momento e tirem muitas fotos” — o homem terminava a leitura, em voz alta. Os demais que estavam no bar o ouviram atentos, e após terminar de falar, todos voltaram para suas conversas banais.
A noite fria trazia uma lua cheia enorme, tão bela que muitas pessoas paravam suas caminhadas para apreciá-la. Infelizmente, a luz elétrica da cidade encobria o brilho natural do corpo celeste. A luz prata que devia iluminar a pequena praça, fora encoberta pelo brilho incandescente das lâmpadas nos postes. O vendedor de pipoca servia as crianças, que em seguida lhe pagava com algumas moedas. Amigos se juntavam nos bancos e cantavam, tocavam e bebiam, comemorando o fim do semestre árduo. Algumas pessoas aproveitavam a noite para fazerem exercícios físicos, dando caminhadas ou leves corridas; a umidade em suas camisas já avisava que estavam tempo demais se exercitando. Enquanto seu grupo andava, a garota parou de se mover, analisando a praça. Árvores enormes, com galhos que subiam e se expandiam em alamedas pelo local. Era uma beleza natural que a garota não conseguia explicar; mais do que isso, ela sentia que já esteve naquele lugar, só não se lembrava quando. Ela se sentou no banco de madeira, analisando as pessoas andando tranquilamente. Era como um Deja vu, ela se sentia estranha. Olhando para a lateral, a garota tinha o pressentimento que devia ter alguém sentada ao seu lado: “mas quem?”, se questionou.
A garota foi surpreendida quando lágrimas escorreram pelas suas bochechas. Uma melancólica repentina lhe abateu, fazendo-a sentir uma leve dor no peito. Ela fungou, tentando conter a tristeza. Seu corpo tremeu, e ela olhou para os pulsos, como se estivesse esquecendo algo. Novamente, as lágrimas caíram, com mais intensidade; a garota limpou a umidade nas mangas da camisa, discretamente.
— Por que está chorando? — perguntou a mulher, que se aproximava ao seu lado ao vê-la sozinha.
— Eu não sei — respondeu, com a voz falha.
— Aconteceu algo?
— Não sei, só... não é nada. Obrigada por perguntar — ela se virou para a mulher, mas a luz dos postes ofuscaram sua visão, impedindo de visualiza-la. Tudo o que conseguiu ver foi um brilho anormal nos olhos da mulher, numa cor nunca vista antes em alguém; junta de outra pessoa ao seu lado, um pouco mais atrás.
— Ela era uma pessoa legal — falou a mulher, num tom nostálgico.
— Sim, ela era — respondeu Nina, se recompondo. — Espera. Ela? Ela quem?
— Nina! Vamos logo, iremos te deixar para trás! — gritou Anastácia, acenando impacientemente com as mãos. Nina limpou novamente o rosto, e se levantou, indo de encontro com seus amigos; mas antes, virou-se para a mulher novamente, conseguindo vê-la melhor: cabelos ruivos e longos, com seu parceiro que era um galã charmoso. — Meu nome é Nina, e o seu?
A mulher não respondeu, apenas se despediu com uma aceno de mão, misteriosamente. Anastácia deu outro grito, obrigando Nina a voltar o mais rápido possível. A garota estranhou a ação da desconhecida, mas de alguma forma, ela sentia uma sensação familiar vinda dela. Nina deu de ombros, e voltou ao seu grupo. Eles começaram a conversar e viraram a esquina, desaparecendo da visão do casal, que permaneceu inerte ao lado do banco de madeira.
— Adeus, “Nima” — falou a mulher, gentilmente para o vento.
— Tenho certeza que ela disse “Nina” — corrigiu o homem do seu lado.
— Não enche, “Kaliel” — disse em tom irritada, inflando as bochechas e dando as costas. No movimento brusco, ela sentiu as dores do ferimento que tinha no tórax, fazendo-a gemer levemente.
— Não se esforce tanto, ainda está machucada — disse o homem, preocupado.
— Você também está — ela se referia aos ferimentos nas costas dele, do qual o mesmo havia provocado. Ele sorriu gentilmente, apreciando o jeito infantil dela. Os dois ficaram em silêncio, por alguns poucos segundos, até a mulher se virar, com os olhos brilhantes e animados. — Já provou café? Ou comeu chocolate?
— São comidas humanas, certo?
— Sim, muito boas, por sinal.
— Sou um alcandoriano, não sinto...
— Vamos lá! Vou te apresentar para eles.
— Me apresentar? São comidas ou pessoas? — perguntou confuso, enquanto era puxado pelo braço. A mulher o apertava forte, até que se lembrou de algo que havia guardado consigo. Imediatamente, ela o soltou e correu para a árvore mais alta que tinha na praça, bem ao centro. Se abaixando, fez um pequeno buraco onde enterrou um cristal único de cor roxa; em seguida, fincou uma rosa azul, que teve muita dificuldades para encontrar.
— Obrigada por tudo, “Alichia” — disse Rubia, mostrando um sorriso gentil. Rapidamente, ela se levantou e correu para Klaeu, guiando-o pelas ruas desconhecidas em busca de comida. As pessoas continuaram suas vidas rotineiras, na espera no novo alvorecer e assim poderem reiniciar seus dias. O último meteoro desaparecia no céu, e a noite voltou para sua tranquilidade. Estava tudo em perfeito... Equilíbrio.
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