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História Equilíbrio. - Feridas dolorosas


Escrita por: MaurraseC

Notas do Autor


Pessoal, foi mal por esse capítulo ser longo.
Tento não me alongar demais, mas tem momentos que fica tão emocionante para mim que perco a noção e vou escrevendo, diferente dos outros acabei deixando esse capítulo completo.
Enfim, nesse capítulo irei trabalhar mais o contexto social e sentimental dos personagens, pois a vida não é apenas lutas, também tem os laços e brigas contra nós mesmos.

Mesmo que esteja numa discussão e achar que ninguém estará do seu lado, lembre-se... Tudo do que precisa é manter o Equilíbrio ao seu lado.

Boa leitura.

Capítulo 18 - Feridas dolorosas


Fanfic / Fanfiction Equilíbrio. - Feridas dolorosas

Novo calendário humano, N.E – Ano um – 18º dia.

Cidade de St.Maria – uma semana após o confronto com os alados – 10h37min PM.

 

— Você está melhor? — perguntou Alicia oferecendo um copo de água para Cleare, que estava avermelhada de choro e irritação.

— Estou — falou fungando, não gostava que todos estivessem vendo-a naquele estado.

— Me desculpe — Brayan se sentia envergonhado e desapontado com o ocorrido. Cleare e seu grupo ajudaram bastante, elas não mereciam ter sido tratada desse jeito. — Ele é assim mesmo, não sei nem como...

— Não precisa se desculpar — Cleare apenas olhava para a água do seu copo, ainda não havia tocado seus lábios com o líquido. — Já disse que estou bem.

— Aquele idiota — resmungou Alicia, socando a palma da mão.

Damon e o restante das Carpas apenas observavam o desenrolar da história, mantendo-se neutros numa história que não lhes dizia respeito. Contudo eles compreendiam a importância do trabalho de equipe, coisa que os membros de Equilíbrio estavam tento dificuldades para conduzir. As outras Corujas se seguravam para não soltar as palavras presas na garganta, se pudessem iriam falar mil coisas para aquele idiota. Nina sabia que não havia motivos para se intrometer, mesmo que também quisesse dar um soco no garoto. Pietro, Victor e Nicolas estavam mais afastados, eles sentiam vergonha de ter alguém como Adam no grupo e não escondiam esse sentimento.

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Dois dias atrás.

 

Alicia estava contente por reencontrar suas amigas de Daath. O grupo mais temido da academia de treinamento, as garotas mais problemáticas que um mestre poderia ter. O grupo composto por Casey, Natalie, Anastácia e Nina. Todas juntas se lembravam das enrascadas que se meteram e nos castigos que receberam nos treinamentos militares. Risadas tão naturais que era como música aos ouvidos.

Laura finalizava os cuidados em Annie, que estava totalmente recuperada. Se possível já queria começar a treinar e ficar mais forte, mas a médica lhe proibia de exercer esforço físico até achar está capaz para fazê-lo. A teimosia de Annie trazia risadas naquela casa, principalmente quando ela fugia pela janela e Laura corria para busca-la. Sophia ria bastante, coisa que não fazia a muito tempo. Esther era quem tentava por as coisas em ordem, em vão. Damon e Brayan também se divertiam, junto de Pietro e Victor, tinham conversas de homem e cervejas gelada até ficarem inchados.

Nicolas ainda estava cabisbaixo, mas Moira e Cleare conseguiam animar o garoto. Se divertiam na cozinha, preparando sobremesas e pratos exóticos. Todos os ingredientes eram providenciados por Victor, que usava seu poder de criação. Ele ficava irritado quando vinham lhe interromper a conversa para criar um pacote de salsa desidratada ou leite condensado... Um supermercado humano, era assim que ele se sentia.

Todos se descontraiam, animados, excetos uma pessoa. Adam ficava trancado no seu quarto, fazendo anotações da vitória em St.Maria e observando os pontos de estratégia conquistados. Sua febre ainda persistia, de forma leve. Laura insistia em cuidá-lo, mas a porta permanecia fechada. Ela tentava ameaçar em arromba-la, mas não recebia respostas. Ele estava focado nos planos estratégicos. O que não era ruim para Nicolas, que estava ressentido por ele não ter ajudado na batalha e ter deixado Claire morrer. Alicia e Brayan eram os únicos que sabiam a verdade, mas revela-la não adiantaria muito.

E aquela noite foi tranquila, assim como as outras. Estavam descansados e logo iriam partir em seus caminhos. Pelo menos agora... Tinham um pouco de paz.

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Um dia atrás – 17º dia – 18h.

 

Adam desceu as escadas até o térreo onde todos se encontravam. Os grupos ficaram espantados ao ver o rosto do garoto, que tinha olheiras e uma aparência não muito vaidosa. Alguns pelos no rosto, sua barba estava para ser feita. Os cabelos negros estavam bagunçados, várias pontas e um mau cheiro desagradável, precisando de um banho imediato. A roupa também suja, com manchas amarelas de suor. Nas mãos do garoto havia um envelope de papel, com algumas manchas de café.

— Isso é seu — falou, entregando para Moira.

— Hã? Que é isso?

— Sua recompensa daquela noite.

— Daquela noite... Ah! — Moira ficou vermelha ao se lembrar da noite picante que tiveram. Ela pegou o envelope sem encarar em seus olhos.

— O que vocês fizeram? — Nicolas perguntava curioso.

— Que? — ela ficou mais corada. — Na-Nada demais.

— Sim, nada demais — Cleare mostrava um sorriso, seguida das outras garotas do grupo que riram.

— Vocês são muito idiotas, sabia? — Moira ficara sem jeito e irritada.

— Não vai me dizer que... — Anastácia apoiava o braço na garota, aproximando seus rostos. Aproximando sua boca ao ouvido dela, num sussurro. — Vocês dois...

— Ahh! — Moira lhe empurrou abruptamente. — É passado, tá bom?

— Sei — a garota coçava o queixo, com um sorriso lascivo.

— A juventude — Damon dava um gole na sua cerveja —, que adorável.

— Tá falando de que, tio? — Anastácia cerrou o olhar para seu líder. — Você e a Esther não se desgrudam.

— É que a gente é um casal romântico — ele mostrou um sorriso.

— Perai! — Cleare se mostrou espantada. — Você e Esther?

— Sim — ele respondeu numa simplicidade.

— Foi logo depois de nos conhecermos — dizia Esther, se aproximando do seu companheiro. — Amor no primeiro contato, certo?

— Exatamente — ele deu um selinho nela.

— Isso não é pedofília, certo? — Nicolas os encarou, se divertindo.

— Que?! — ele cuspiu a cerveja assustado com a acusação.

— Ele só é alguns anos há mais, Nicolas — explicou Esther, rindo. — Quando se ama não tem essa de idade.

— O que não é nada ruim — falou Brayan, que apenas ouvia a conversa. — Num mundo de caos é importante encontrar alguém, não é, Victor?

— Sim — o garoto pegou sua carteira e tirou uma fotografia de dentro. — Mesmo eu sendo jovem, já tenho uma família formada.

— Sério? — Natalie corria para pegar a foto, pedindo licença, levou para as outras garotas poderem verem.

— E a pequeninha é minha filha de 4 anos, Katherine —  ele apresentava nostálgico. — E essa outra é minha esposa, Sáfira.

— Você tem quantos anos? — Casey perguntou curiosa.

— 23 anos — respondeu com um sorriso. — As duas são tudo que me importam nesse mundo.

— E onde elas estão? — Nina pegava a foto, observando aquela família feliz.

— Em Esperanza, nossa cidade-capital.

— Capital? Vocês tem uma cidade? — Cleare estava surpresa.

— Exatamente — respondeu Brayan, orgulhoso. — Foi difícil, mas conseguimos.

— É uma bela família — comentou Sophia olhando a foto.

— Obrigado — Victor lhe fazia um cafuné.

— O que você acha, Alicia? — Nina virou-se para a líder que havia sumido, não apenas ela como Adam também. — Para onde foram?

— Você fede — comentou Alicia tampando o nariz.

— Então não me siga — falou Adam, sem virar o olhar.

— Quero conversar.

— Você tem amigas para isso.

— Já conversei com elas, falamos de muita coisa — ela abriu um sorriso jovial.

— Bom pra vocês — ele parou frente um cômodo e abriu a porta.

— Que lugar é esse? — ela perguntou, tentando avistar a aérea sobre o ombro dele.

— Vou tomar um banho, vai querer vim também? — ele retirava a camisa, mostrando seu peitoral atlético. — Não me importo.

— Que? Não! — Alicia corou, recuando dois passos sem tirar os olhos no peitoral dele. — Vou... Vou esperar aqui.

— Sério isso? — perguntou, enquanto tirava o cinto da calça.

— Fecha a porta! — ela fez isso no lugar dele, ficando do lado de fora. Minutos se passaram e nada de Adam falar algo. — Você tá aí?

Ele respondeu com o som da descarga, que precisou ser apertada duas vezes.

— Oh, entendi — ela ficou sem jeito ao perceber que ele estava defecando, e pelas tentativas deve ter sido pesado. Alicia riu por alguns segundos. — Ei, Adam, por que não se junta com a gente? Podemos conversar e comer juntos.

— Para o que?

— Para conversar e comer com os outros! — ela precisou aumentar o tom de voz para competir com o som do chuveiro. — É divertido!

— Me recuso! — ele respondeu num grito, também competindo com o som do chuveiro.

— Por quê?! — Ela insistiu na pergunta, sem respostas. Alicia decidiu ficar em silêncio, talvez ser tão direta não fosse uma boa iniciativa. Mas a curiosidade era maior, e simplesmente ficar quieta não era o estilo dela. — Por que os outros te tratam daquela forma? Tipo, ninguém gosta de ti e vocês são companheiros, certo?

— Não somos — ele respondeu de forma repentina, deixando-a surpresa. O chuveiro já estava desligado, permitindo que conversassem no tom normal. Adam observava seu reflexo no espelho, embaçado pelo vapor da água morna. — Mesmo que lutemos pela mesma causa, não significa que sejamos amigos.

— Isso é horrível — o tom de Alicia era melancólico e baixo. Desde os treinos em Daath e os dias que chegou a Gran Tierra, ela soube que trabalho em equipe sempre era bem-vindo... Era algo essencial para a vitória. Ouvir Adam dizer aquelas palavras lhe era sofrido. — Não gosto quando brigam entre si. Tá! Tudo bem que sou novata e cheguei agora, não posso opinar. Mas... Vocês são uma equipe, desgraça! Deveriam ser mais unidos e...

— Trabalhar juntos? — Adam abriu a porta, mostrando seu corpo molhado apenas com a toalha em volta de sua cintura. Alicia foi pega de surpresa, ficando alguns segundos sem reação. Ele apenas mostrou um sorriso de lado e virou as costas. — Alicia, certo? Vou lembrar o seu nome.

— Não, espere! — ela despertava do seu transe e tentou segui-lo, mas seu corpo vacilou. Ainda queria conversar com ele, tinha algo nele que lhe atraia. Talvez fosse a aura de segredos envolta dele e sua curiosidade, tão infantil, lhe obrigava a querer desvendá-lo.

— Alicia — Nina surgia no corredor, chamando-a. — O que está fazendo?

— Hã? Ah, nada. Só... andando um pouco.

— Certo — disse Nina desconfiada, principalmente ao avistar pegadas molhadas no chão. — Vamos voltar?

— Claro, vamos — independente do que tinha ao redor dele, Alicia não podia deixar esse pensamento lhe tirar a atenção.

— Eu sei que não parece — Alicia podia ouvir a voz do Brayan no corredor, além das risadas dos outros. “Deve ser algo engraçado”, pensou. — Mas é verdade.

— O que é verdade? — ela perguntou, chamando a atenção para si. Alicia havia voltado para a sala e se juntou a conversa.

— Brayan e Nicolas são irmãos, sabia? — respondeu Cleare, animada.

— Vocês são totalmente diferentes — Alicia riu, junto do pessoal.

— A família Veronic era bastante prestigiada no passado — explicou Brayan, sendo o mais velho. — Depois que tudo aconteceu, meio que, nos separamos.

— Se separaram? — Natalie ficava curiosa sobre a conversa. — Mas vocês se reencontraram, é o que importa.

— Mais ou menos — Nicolas dizia com um olhar baixo.

— Existe mais um de nós, o irmão do meio — explicava Brayan, percebendo que seu irmão caçula ficava deprimido sobre o assunto. — Oliver era quem protegia Nicolas quando eu não estava por perto.

— O que aconteceu? — Anastácia perguntou direto, mas Cleare tentou lhe parar vendo que o assunto era pessoal demais.

— Tudo bem — consentiu Brayan, não se importando tanto quanto seu irmão.

— É culpa dele — Nicolas cerrava os punhos.

— Já falamos sobre isso, Nicolas.

— Se não fosse o Adam, ele ainda estaria conosco... Oliver e Claire.

— Você quer dizer que... — Natalia colocava a mão na boca, se segurando para não completar a frase.

— Ah, não — Brayan rapidamente lhe corrigiu. — Oliver está vivo, mas não é de Equilíbrio como nós.

— O que quer dizer?

— Ele é um juiz? — Alicia sussurrou, mas todos acabaram por ouvir.

— Exatamente — Brayan se mostrou melancólico e o clima antes animado começava a ficar sombrio e tenso. — Espero que um dia possamos nos entender novamente.

— O que é esse juiz? — perguntou Damon, percebendo que havia coisas que precisava saber.

— É difícil explicar — Pietro que antes se mantinha calado, quebrou seu silêncio. — Isso foi logo depois do nascimento de Equilíbrio.

— Eu queria aproveitar então — Alicia tomava a palavra, mudando de assunto, percebendo que era algo tão pessoal. — O que são vocês, Equilíbrio? Objetivo e como surgiram?

— Não acha que são perguntas demais? — Pietro lhe encarava, analisando-a.

— Tenho dúvidas e quero esclarecê-las — ela devolveu a encarada com um olhar inabalável.

­— Que tipos de dúvidas? — Damon desencostou-se da cadeira, ficando curioso em saber sobre o que estava acontecendo.

— Quando eu estava em Tariel, conheci duas pessoas: uma de Equilíbrio e outra que se dizia ser uma juíza. E eles me falaram algumas coisas que me deixaram... Insegura — todos ficaram em silêncio, apenas esperando para que Alicia continuasse. Ela apenas respirou fundo e tentou se lembrar das palavras que lhe foram ditas. — Nós que viemos de Daath, pelo que estamos lutando?

— Não é óbvio? Lutamos pela humanidade e para exterminar esses alados — Cleare respondia, de forma objetiva e confiante.

— Não acho que seja pela humanidade em si — Alicia se mostrava pensativa, olhar baixo e roendo as unhas. — Tipo, e se encontrarmos um grupo de civis ainda vivos, como os protegeríamos?

— Bem, sobre isso...

— Não teria como — Damon, como o mais velho e líder do seu grupo, conseguia compreender o raciocínio da garota. — Não sabemos a localização de Daath nem das ilhas Mosqueteiros. Espere, é isso que vocês Equilíbrios fazem, certo?

— Continue — Brayan, moveu seu tronco para frente, mostrando interesse no que o homem iria dizer e quem sabe sairia algo interessante.

— Vocês membros de Equilíbrio não estão recuperando as cidades apenas por vingança ou orgulho, seria para ter um lugar onde deixar os sobreviventes — ele concluiu, pensativo. Mas ainda sentindo que tinha mais coisas escondida. — Isso é óbvio, eu sei. Porém, se for verdade... Tem algo me incomodado.

— Então fala! — Alicia se coçava de curiosidade, empolgada e imaginando tudo que Damon falava. Ela tentava entender o raciocínio do homem, teorizando coisas absurdas.

— Se os alados realmente queriam exterminar os humanos, por que atacar as cidades abandonadas em vez de atacar as povoadas? Não seria mais lógico?

— Incrível — elogiou Brayan, ouvindo atentamente. — O modo como você pensa... Não, sua conclusão é a mesma feita por Adam, se não idêntica.

— Realmente — concordou Victor, de braços cruzados. — O que você falou, Damon, não está errado. Por isso que decidimos criar uma cidade-estado, onde todos os Salvatore´s estão reunidos e ao redor estão as cidades ocupadas pelos sobreviventes; numa distância perto o suficiente para podermos intervir, caso haja algum problema maior.

— Não estou entendendo nada do que estão falando — disse Anastácia, roubando os amendoins que Sophia e Laura estavam comendo. — Não é só acabar com eles?

— Bem, podemos resumir nisso também — Victor, abriu um sorriso, cético com a tranquilidade e simplicidade do pensamento dela.

— E quanto a Daath? — Alicia sussurrou, sem querer, pois estava pensando e acabou saindo às palavras.

— O que quer dizer? — perguntou Nina, que ouvirá ela.

— Entendo a situação de Equilíbrio, mas enquanto Daath? Como faríamos para salvar os sobreviventes? Como Damon disse, não sabemos a localização das ilhas, logo não temos como voltar.

— Provavelmente querem que façamos o mesmo que vocês, Equilíbrio. — concluiu Esther, que apenas ouvia atenta.

— Isso pode ser verdade — concordou Cleare, pensativa.

— Quer dizer que só estamos fazendo a limpeza para que eles possam retornar — Natalie estava um pouco desconformada com a conclusão. As situações perigosas que passavam ultrapassavam os limites da imaginação, e simplesmente os cidadãos refugiados voltariam e pronto? Nem ao menos poderiam fazer algo.

— Não entendo o que está perturbando vocês — Adam estava encostado na parede, quase que escondido. Se não tivesse falado, provavelmente ninguém teria lhe percebido. — Não foi para isso que vocês vieram para cá? Lutar e limpar a área.

— Adam?! — Alicia ficou surpresa, assim como os demais. Damon deu uma encarada forte, enquanto Anastácia e Laura davam uma inspecionada de baixo para cima no garoto, que não era de se jogar fora. Sophia teve um leve medo ao ver os olhos frios do moreno, de cabelos negros. — Estávamos discutindo sobre Equilíbrio e Daath, e como podemos nos unir para atacar os alados.

— A parte de união ainda seria discutida — comentou Brayan, ajeitando-se no sofá.

 — Mas ainda não sabemos como agir — falou Cleare para o garoto. Em seguida deu de ombros, em dúvida. — O problema é que não sabemos qual a decisão certa para tomar.

— E o que é certo ou errado nesse mundo? — disse Adam rudemente, de forma repentina, assustando todos. ­—Vocês ficam brincando de guerra apocalíptica, sem saberem o motivo de estarem aqui... patéticos.

— Não enche — Cleare disparou um olhar irritado, querendo socá-lo.

— Vocês devem está tão confiantes por terem poderes que esqueceram sobre o mais importante — seu tom de voz era diferente de antes, mais grossa e provocante como se quisesse os irritar. — Aposto que falam os nomes dos poderes como nos desenhos.

— Qual teu problema? — Nicolas mostrou um olhar enfurecido, tom de voz irritado. Ele não suportava a presença de Adam por perto. — Pelo menos ela não foge ou finge está doente para ajudar os amigos.

— Crianças deveriam ficar caladas — ele lhe provou, em seguida mostrando um sorriso de satisfação ao ver o garoto mais irritado. Nicolas estava para se levantar quando Adam lhe desferiu um olhar ameaçador, paralisando o garoto.

— Chega Adam — Brayan se levantou, protegendo seu irmão, ficando entre os dois.

— Chega mesmo — Cleare se levantou, encarando o garoto. — Pelo menos Nicolas ajudou na batalha e você? Deve ter fugido como um covarde.

— Não foi...

— Chega de defender ele, Alicia — Cleare estava furiosa, pois se lembrou de que quase perdeu Annie. — Ainda inventou está doente só para não ajudar, por favor. Quer saber? Você não é ninguém...

— Exatamente — ele concordou, interrompendo-a subitamente. ­— Não se esqueça dessa declaração.

— Por que estão brigando? — perguntou Sophia, inocentemente; logo depois de comer todos os amendoins do pacote, junto de Laura e Anastácia.

— Porque são idiotas — respondeu Laura, acariciando-a com um cafuné.

— Vocês não percebem... Já devem ter perdido — Adam virou-se e saiu da sala.

— Eu vou... ­— Moira pensou em procura-lo para que eles pudessem ter uma conversa mais amigável, porém ela foi parada por Cleare.

— Vai atrás dele, por quê? Só porque deu para ele não significa que são algo, sabia? — disse rudemente, sem perceber o que estava falando. Deixando a amiga deprimida.

— Parem com isso vocês — Pietro não conseguia aguentar toda aquela confusão. — Adam é um manipulador, melhor que eu e meus poderes juntos. Ele nos coloca uns contra os outros só para depois rir.

— Então é por isso que não gostam dele — Casey murmurou, mas ainda ficando neutra sobre a discussão. Não queria se envolver.

— Maldito — resmungou Nicolas, cerrando os dentes.

— Acho que é melhor todos irmos dormir — recomendou Victor, percebendo que o clima não poderia mais melhorar.

— Exatamente — Laura erguia Sophia nos braços, com muita dificuldade, e subiram para seus respectivos andares.

Cleare ainda ficou na sala por mais alguns minutos. Estava irritada demais para se descasar, e suas amigas ficaram junto dela, exceto por Moira que decidiu subir sozinha. Nicolas foi obrigado a subir por Brayan, seguidos de Victor e Pietro. Damon e seu esquadrão foram logo em seguida, Esther aproveitou para pegar uma garrafa de vinho escondida. Alicia pediu para Nina subir primeiro, ela estava com dor de cabeça, iria demorar um pouco para subir. Hesitante, sua amiga entendeu e dirigiu-se ao seu quarto. Alicia não imaginava que aquele clima extrovertido fosse se transformar numa discussão tão pesada, talvez se não tivesse feito àquela pergunta, ela ficou pensando enquanto ia para fora do edifício. Procurando um pouco de ar fresco e silêncio para sua mente, que estava agitada agora. O céu estava bem estrelado junto de uma lua cheia belíssima, o vento frio passou pelo seu corpo forçando-a se encolher.

— Tinha alguma coisa de errado com Adam — ela sussurrou, olhando para o céu. O modo como ele agiu foi totalmente diferente da vez que conversaram no banheiro, era como se fosse outra pessoa. Isso lhe entristeceu. Alicia esperava muito que quando fosse pela manhã, as coisas ficassem melhores. Foi o pedido que fez a primeira estrela cadente que passou.

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Novo calendário humano, N.E – Ano um – 18º dia.

Cidade de St.Maria – 10h.

 

Cleare sentia fortes dores de cabeça. Havia acordado mais cedo, mas só agora que decidiu se levantar. Ela ficou pensativa sobre o dia de ontem. “Talvez tivesse exagerado”, pensou. Annie estava, praticamente, recuperada, não tinha porque fazer um alvoroço por causa disso. Precisava se desculpar, eles já devem ter passado por muitas dificuldades também. A morte de Claire era uma delas, Cleare sentia sua cabeça pesar mais ainda quando pensava nisso. Além de Moira:

— O que foi que eu fiz? — murmurou. Precisava urgentemente falar com sua amiga. Aquelas palavras, não foram por querer. Tinha que fazer isso logo, antes que fosse tarde demais.

Enquanto andava com seus pensamentos, Cleare esbarrou em alguém, forçando-a se apoiar na parede para não cair. Erguendo o olhar, ela viu o garoto moreno de olhos assustadores lhe encarando. Ele segurava um prato com sanduíches e suco de laranja, provavelmente seu café da manhã. Adam não disse uma palavra, apenas a ignoro e subiu para seu quarto. Por alguns segundos ela ficou sem reação, aqueles olhos negros eram hipnotizantes.

— O que estou fazendo? — murmurou novamente. — Preciso me desculpar com Moira.

O problema é que não sabia onde ela estava, não tendo outra escolha se não usar seus poderes para encontra-la. Enquanto usava sua habilidade de detecção, foi surpreendida por descobrir que Moira estava no único quarto do quinto andar. Um local que nunca iria imaginar que ela estaria. Aquele local era perigoso, mas pela amiga não tinha porque hesitar.

Subindo as escadas, ela parou frente à porta do quarto do quinto andar. Cleare respirou duas vezes, antes de abrir a porta e se deparar com Adam e Moira juntos. Eles conversavam formalmente enquanto comiam sanduíches. O garoto explicava sobre os mapas e as zonas de território de Equilíbrio e dos alados. Os dois pararam de conversar quando avistou Moira entrando no quarto e ficando parada, observando-os.

— Posso ajudar? — perguntou Adam, se aproximando tão naturalmente que a garota ficou surpresa. Era como se o ocorrido ontem não tivesse acontecido.

— Não... É que eu... — Cleare olhou para sua amiga que tentava não trocar olhares. Esse gesto de Moira lhe doeu o coração, ela não podia perder uma amizade por algo tão besta quanto uma discussão infantil. — Eu quero me desculpar com vocês. O que eu fiz não foi legal, eu sei. Não precisava daquilo tudo, foi mal.

— Eu sei — Moira se aproximou, de começo hesitante, mas logo abriu os braços para um abraço. Mesmo chateada, ainda eram amigas, ainda que ela tenha dito coisas idiotas— Você só estava de cabeça quente, compreendo.

— Sim — ela apertou sua amiga, forte. — Eu não queria dizer aquilo.

— Já passou, certo? — ela deu um sorriso, confortando sua amiga. — Está tudo bem agora, certo, Adam?

— Uma líder que não sabe controlar seus sentimentos ainda é muito frágil — foram as palavras que ele disse, dando as costas e voltando-se para a mesa.

— Eu sei — Cleare baixou o olhar, sentindo-se uma péssima líder. — É que quando machucam meus amigos, eu fico...

— Independente da causa — as palavras de Adam saíram rudes, de forma bruta. — Aprenda a se controlar antes.

— Independente da causa? — ela repetiu as palavras, de forma azeda. — Você não se importa conosco, não é? Deve ser tipo um tabuleiro de xadrez, somos apenas peças no seu joguinho...

— Errado — ele a interrompeu, repentinamente. — Se isso fosse um xadrez, minhas peças não iriam se rebelar. E as que fizessem, seriam descartadas.

— Descartadas? — A imagem de Annie em seus braços, sangrando, enquanto ela chorava por ajuda lhe veio a mente como um pesadelo noturno. Talvez, se fechasse os olhos pudesse sentir o sangue em suas mãos. Não conseguia... Cleare não aguentava ficar calada. — Você é um sem coração! Pensa que é muita coisa, mas não é nada! Quer saber? Dane-se! Não me importo mais.

Cleare desceu as escadas com passos pesados. Mesmo no corredor, ainda era possível ouvir seus soluços e choros enquanto se afastava. Seu esquadrão... Suas amigas eram tudo que ela tinha. Deixar que alguém falasse assim e não fazer nada, não era seu estilo.

— Agora passou dos limites, Adam — Moira demonstrou reprovação para o garoto e desceu as escadas, juntando-se a sua amiga. Estava visivelmente irritada com o garoto, talvez nem quisesse mais vê-lo.

Adam apenas fechou a porta e voltou para seus mapas e anotações. Sozinho, apenas com a luz do abajur sobre a mesa, ele sentou-se na cama e ficou olhando para a escuridão no chão. Suas palavras haviam impactado as garotas, talvez assim não o procurassem mais. Era esse seu desejo, por mais que lhe doesse era a mais correta. Enquanto isso em sua mente, a segunda voz estava rindo insanamente, se divertindo com toda a situação:

— Droga — ele esmurrou a cama. — Que droga!


Notas Finais


A solidão o cerca como uma melhor amiga...
Sendo tão íntima quanto uma namorada...
E tão mortal que se assemelha uma lâmina afiada.

No próximo capítulo: Décimo nono ato – Reunião e despedidas.

Uma única discussão pode salvar ou condenar a humanidade.
E uma união fortalecerá aqueles que resistem na guerra.


Não perca o Equilíbrio do próximo capítulo.


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