História Escape - Capítulo 3

Mary's POV

— Vamos comer alguma coisa? Tudo o que eu preciso agora é me alimentar. — Louis sugeriu já que a hora do intervalo se aproximava.

— A primeira grande ideia do dia. — disse Susan, deixando o mau humor se sobressair sob sua animação casual.

— Podem ir, eu alcanço vocês. Preciso resolver uma coisa antes. — esbocei um sorriso a fim de convencer meus amigos que não havia nada com o que eles precisassem se preocupar.

Eles concordaram e seguiram para o refeitório. Eu não havia falado com Niall desde o dia anterior quando ele me defendeu de Brad e foi embora sem falar nada. E mesmo que eu me esforçasse ao máximo a cena não deixava minha mente. Eu pretendia saber o quanto antes o que o levou a fazer isso e sabia que o horário do intervalo era perfeito para isso.

Infelizmente eu não fazia ideia de onde podia achá-lo e praguejei internamente pelo o campus ser tão grande. Meu trabalho de procurar Niall seria dobrado. Se pelo menos eu soubesse com quem ele andava podia descobrir onde ele costumava ir a essa hora do dia.

Depois de tentativas frustradas de achá-lo acabei percebendo que só me restava procurar o rapaz loiro no exterior da universidade. Meus pés fizeram o caminho até o estacionamento cheio de alunos, mas nenhum deles era Niall. Procurei no jardim e outra vez me decepcionei por não vê-lo naquele local.

Sem outra opção me dirigi até o campo de futebol com a esperança de que Niall estivesse lá. Avistei uma silhueta alguns metros ao norte e deixei o ar sair das minhas narinas de forma prolongada por finalmente tê-lo encontrado. Eu não queria que ele percebesse, antecipadamente, minha presença e por isso me aproximei com cautela.

Niall estava sentado na parte mais alta da arquibancada e seus cotovelos estavam apoiados nos joelhos enquanto ele tinha o corpo curvado para frente. O vento fazia seus cabelos, assim como os meus, balançarem com ferocidade.

— É enorme não é? — eu disse me referindo ao campo e capturando a atenção do rapaz imediatamente.

— Mary! — ele esboçou um breve sorriso. — Há quanto tempo está aí?

— Não muito. — dei de ombros e me sentei ao seu lado. — Algo me diz que você não deveria estar aqui.

— Nem você. — eu podia ter interpretado a suas palavras de forma errada, mas pelo sorriso discreto que se formou no canto dos seus lábios eu sabia que Niall só estava entrando no meu jogo.

— É, você tem razão. Mas eu não preciso chegar no horário em todas as aulas.

Com certeza o intervalo tinha chegado ao fim e os alunos se preparavam para voltarem para suas salas. Eu passei tanto tempo procurando Niall que nem percebi o tempo passar. Porém, isso não parecia ser um problema para ele e nem deveria ser um para mim.

— Eu estava imaginando se o time é tão bom quanto o campo. — disse o loiro depois de alguns minutos em silêncio.

— Não são muitas as faculdades da região que tem um time de futebol tão bom quanto o nosso. — deixei que meu olhar percorresse a extensão do gramado enquanto Niall mantinha os olhos fixo no horizonte.— A faculdade fornece bolsa para os jogadores e, acredite, você pode entrar no time o momento que quiser. Só precisa ser bom.

— Eu não sou o melhor jogador, mas arranhava alguma coisa na minha cidade. — ele endireitou o corpo e voltou a cabeça na minha direção, podendo ter uma visão melhor do meu rosto. — Era uma terapia para mim, mas para ser sincero faz algum tempo que eu não sei o que é tocar em uma bola.

Sorri com a declaração, vendo-o imitar meu ato, mas de uma forma mais rápida. Eu não havia esquecido o motivo que me levara a procurá-lo e se queria conversar com o ele sobre o episódio do dia anterior não havia razão para perder tempo.

— Eu lhe procurei ontem, mas não lhe encontrei em lugar nenhum. O que aconteceu não foi a coisa mais agradável, mas se ao menos eu tivesse tido chance de agradecer e...

— Não, Mary. — ele me interrompeu, impedindo que eu continuasse o discurso que criei e guardei na minha mente enquanto lhe procurava. — Aquilo foi um impulso. Eu devia ter ficado na minha.

De certa forma me senti aliviada. Se Niall tinha noção da besteira que fez então eu não precisava me preocupar em alertá-lo sobre Brad. Isso queria dizer que ele ficaria longe  de confusão e do meu ex-namorado e se pouparia de mais problemas.

— Que bom que você sabe disso. Brad não é uma pessoa que você vai quer ter como seu inimigo. — não pude evitar deixar um breve alerta.

— Então esse é o nome dele. Brad. Ele é seu namorado ou algo do tipo? — de repente Niall pareceu interessado demais no rumo que aquela conversa estava tomando e cravou seus olhos em mim, esperando pela minha resposta.

—  Não, ele não é mais. — suspirei. — Terminamos há quatro meses, mas ele continua me perseguindo.
Falar de Brad ainda era um assunto cansativo para mim. Toda vez que eu pensava no rapaz sentia a exaustão me dominar, como se qualquer coisa relacionada a ele fosse demais para eu aguentar.

— Isso parece ruim. — sua expressão se transformou em uma careta quando ele enrugou o nariz. — Você não se sente como naqueles filmes de suspense em que no final o cara acaba querendo matar a menina por pura paixão doentia?

— Oh meu, Deus. Não. — não consegui impedir que uma gargalhada escapasse. — De onde você tirou isso?

— Sei lá. É só que eu sou um amante de filmes. — e em segundos ambos estávamos rindo da ideia absurda e deixando que as risadas nos dominassem por um longo período.

— Você deveria conhecer meus amigos. — eu disse assim que nos recompusemos e o silêncio voltou a predominar no ambiente.

— Então você tem amigos? — seus lábios se elevaram em um sorriso divertido.

— Por quê? Eu não pareço não ser o tipo de pessoa que tem amigos?

— Não, é só que eu nunca lhe vi com ninguém. — ele manteve os olhos presos em mim como se minha resposta a seguir fosse interessante demais para não ter sua total atenção presa em mim.

— Isso é porque você só me vê nas aulas e eles são de cursos diferentes. — eu disse.

— Como sabe que eu só lhe vejo nas aulas? — ele perguntou com expectativa e ao mesmo tempo de uma maneira sugestiva.

— E não? Onde mais você me veria? — ergui uma sobrancelha.

— Mary, a faculdade é imensa. Há muitos lugares que você frequenta durante o dia.

— Como você sabe? — minha expressão se tornou séria ao imaginar como ele poderia saber disso.

— Eu apenas sei. — Niall deu de ombros.

Podia ser apenas paranoia da minha cabeça, mas aquilo não deixava de ser estranho. Como Niall podia afirmar uma coisa como essa com tanta convicção se isso fosse apenas uma suposição sua? De fato ele sabia ou, até mesmo, viu algo que eu não sabia. Mas achei melhor deixar isso de lado pelo menos por algum tempo. Não precisava encher minha mente com mais suposições ou dúvidas. Eu já havia percebido que Niall era um rapaz agradável e eu ficava feliz por saber que aquilo podia ser o início de uma amizade. A ideia me agravada.

— Você não disse que eu deveria conhecer seus amigos? — ele indagou depois de alguns segundos em que passei perdida em meus devaneios.

— Sim, eu disse.

(...)

— Então você veio de Dublin para terminar a faculdade aqui. Acho que há alguma coisa de errado aí. — Louis soltou uma risada ao perceber o quão estranho a ideia soava.

— Qual o problema nisso? — Niall perguntou confuso.

— Qual é, cara, ninguém deixa uma capital para fazer faculdade numa cidade pacata como Holmes Chapel.

— Então nesse caso eu não estou incluso nesta lista, não é? — ambos os rapazes riram do comentário e não pude deixar de fazer o mesmo ao notar como Niall estava se dando bem com os meus amigos.

Há pouco eu havia o apresentado para o grupo de jovens e nos encontrávamos no estacionamento da faculdade enquanto trocávamos algumas palavras e Niall era questionado pelos rapazes e Susan. A princípio, fiquei incomodada por eles fazerem tantas perguntas ao rapaz, visto que recém haviam o conhecido e já se achavam íntimos o suficiente para saber tudo da vida de Niall. Mas talvez homens sejam assim. Eles não têm papas na língua e para eles não há situações desconfortáveis.

Susan não falou muito com Niall e eu não sabia se devia lhe agradecer por isso ou estranhar sua atitude. A sua expressão demonstrava atenção no rapaz e ela o analisava tempo demais para quem apenas gostaria de fazer uma rápida checagem. Eu conhecia Susan muito bem para saber que ela estava desconfiada de alguma coisa ou tramava algo que eu teria receio de saber.

Quando voltei a prestar atenção na conversa dos rapazes percebi um garoto se aproximar. Seu rosto não era familiar e suas feições demonstravam o quanto ele parecia aborrecido. Seus pés fizeram o caminho até nós e ele parou ao lado Niall interrompendo a conversa do loiro com Harry.

— Se você não está fazendo mais nada de interessante, temos que ir. — disse curto e grosso e sem se preocupar em ser educado.

— Hm... Esse é meu primo Liam. — Niall forçou um sorriso revezando o olhar entre o primo e o resto de nós para tentar amenizar o clima tenso que se formou em poucos segundos.

Liam era moreno e seu cabelo tinha um tom parecido com o de Louis e estava erguido em um topete alto perfeitamente arrumado. O queixo e maxilar estavam cobertos pela barba rala e sua expressão mesmo que carregada trazia traços bonitos. Ele não aparentava ser muito mais velho que Niall, mas mesmo assim ambos não tinham nada em comum. Eu não conseguia achar nada de semelhante entre eles.

— E aí, cara? — Louis o cumprimentou de uma forma descontraída com se fosse o único que não ligasse para a falta de educação do rapaz.

— É um prazer, Liam. — Susan deu seu máximo para exibir um sorriso que acabou saindo de uma forma forçada demais para quem tentou soar natural.

— Vejo que você não perdeu tempo em fazer novos amigos, Niall. — Liam encarou Niall por alguns segundos com um sorriso debochado preso aos lábios carnudos. — Como se já não batesse tantas distrações você ainda conseguiu arranjar mais uma.

— Liam p... — Niall foi interrompido antes de conseguir repreender o primo.

— Eu estou lhe esperando no carro. — disse por fim, nos ignorando e andando na direção oposta.

Assim que ele se distanciou o silêncio reinou por um longo período. Vi Susan e Harry trocarem olhares e Niall olhou de relance para mim antes de abaixar a cabeça e encarar o chão por alguns segundos. Eu sabia que ele havia ficado sem graça pela situação desagradável que seu primo criou.

— Tudo bem... Isso foi estranho. — Harry proferiu as palavras com cuidado, escolhendo a melhor maneira de usá-las.

— E rude. — ao contrário dele, Susan não se importou em dizer o que todos nós estávamos pensando a respeito de Liam.

— Ele não costuma ser assim, só deve estar tendo um dia ruim. Me desculpem. — Niall forçou um sorriso ao voltar a erguer a cabeça e parar os olhos em Susan. — Eu preciso ir.

— Foi bom lhe conhecer. — Harry sorriu amigável.

— Nos vemos por aí, cara. — Louis não tardou em dar alguns tapinhas nas costas de Niall e erguer os lábios sem mostrar os dentes.

— Tudo bem, até mais. — o loiro olhou para mim pela última vez e assentiu levemente antes de tomar o mesmo caminho que o primo usou para se deslocar até o automóvel.

(...)

Deixei minha mochila sobre a cama e me sentei na beirada do colchão vendo Susan largar o objeto na cadeira enquanto tirava o celular do bolso.

— Você não acha que o tempo está passando rápido demais? Nem parece que já faz uma semana desde que eu voltei para casa. — comentou a loira.

— Quem sabe. — ri nasalado.

O episódio da manhã ainda passava pela minha mente, me lembrando de tudo o que aconteceu. Fiquei feliz por Niall ter se dado bem com meus amigos, mesmo que Liam tenha interrompido nossa conversa com o rapaz e tenha sido grosseiro. Eu poderia ter pensando qualquer coisa dele e deixado a dúvida dominar minha mente, mas preferia acreditar em Niall e admitir que ele só devia ter tido um dia difícil.

— Acho que os garotos vão se dar bem com o Niall. — disse Susan, tirando a mochila da cadeira para poder se sentar. — Louis foi quem mais conversou com ele.

— Finalmente vocês o conheceram. Eu tenho certeza que se passasse de mais um dia você iria me enlouquecer.

Susan estava insistindo desde o início da semana para eu apresentar Niall a ela e aos rapazes e depois que eu lhe contei sobre a atitude de Niall perante Brad ela não podia me ver um dia sem perguntar quando o encontro aconteceria.

— Concordo. — ela sorriu brevemente. — Eu só não contava com a aparição daquele tal de Liam. Afinal, qual é o problema dele?

— Talvez Niall estivesse certo e ele só não estava de bom humor. Quem sabe da vida deles?! — dei de ombros. Liam podia ter sido um pouco mal educado, mas isso não nos dava o direito de julgá-lo.

— Mary, você é brilhante. — ela abriu um sorriso tão largo que por um minuto achei que seus dentes brancos iriam me deixar cega.

— Por que eu acho que não devo lhe agradecer? — indaguei.

— Mas deveria, pois você acabou de me dar uma ideia. — a loira se levantou animada da cadeira e pegou o notbook de dentro da sua mochila. Logo colocando-o sobre a escrivaninha e voltando a se sentar na cadeira giratória. — Vamos procurar no Facebook ou em qualquer outra rede social por eles. Com certeza deve ter alguma informação sobre eles.

— Isso é sério? Oh meu Deus, Susan.

— Vai me dizer que não está curiosa pra saber a idade deles, de onde vieram, o que fazem no tempo livre ou qualquer coisa? — perguntou atenta na tela do computador.

— Na verd...

— Não importa. Vou descobrir algo principalmente sobre o Liam. Ele me pareceu muito estranho.

— Não comece, Susan. Você sempre acha um motivo para desconfiar dos outros. — rolei os olhos.

— Minha intuição nunca falha e ela me diz que algo amais aconteceu para ele tirar Niall de lá.

— Aceite que ele só precisava ir embora e pronto. — esfreguei minhas pálpebras com as pontas dos dedos cansada daquela conversa.

Susan conseguia me desgastar com suas paranoias mais rápido do que eu ficaria se desse três voltas no campo de futebol da faculdade correndo sem parar.

Ela se manteve em silêncio por um longo tempo, usando o mouse e os botões do teclado várias vezes para abrir algumas abas de diversas redes sociais que ela conhecia. Porém, seu silêncio durou mais que o esperado e eu comecei a desconfiar.

— O que foi? Encontrou alguma coisa? — me levantei da cama e parei ao seu lado, curvando o tronco para que eu pudesse ter uma visão melhor da tela do computador.

— Acredite ou não, mas não há nenhuma conta que pareça ser a deles. Há mais Liams e Nialls do que eu pudesse imaginar, mas nenhum desses são realmente eles.

— Que estranho. — eu disse. — Quem, hoje em dia, não tem uma rede social se quer?

A loira bufou e jogou o corpo para trás, fazendo a cadeira de reclinar com seu peso. O silêncio voltou a predominar no ambiente enquanto ela passou uns bons minutos parecendo pensar a respeito do que acabara de ver. Porém, de repente, Susan sorriu abertamente me levando a questioná-la o motivo da sua alegria.

— E se descobríssemos um pouco mais sobre eles? — opinou animada.

— Ficou louca? Por que faríamos isso? — eu disse exasperada. A ideia chegava a ser ridícula.

— Precisamos saber com quem nos relacionamos. — seu tom de voz óbvio.

— Você está paranoica. Estou começando a achar que todo esse interesse pelo Niall é por outra razão.

— É claro que não. Você sabe que eu tenho olhos para o Harry. E só para ele. — ela disse irritada. — Niall é legal, mas Liam continua sendo estranho para mim.

— Eu tinha esperanças que você esquecesse isso. — murmurei.

— Podemos checar a ficha escolar deles.

— Só a coordenação tem acesso a esse documento. Não temos como consegui-las.

— Ou talvez tenhamos. — Susan sorriu perversa.

— Do que você está falando? — questionei um pouco receosa. — Não vamos fazer nada sozinhas.

— E quem disse que faremos sozinhas?