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História Escape - Capítulo 24


Escrita por: pfthoranxx

Capítulo 25 - Capítulo 24


Fanfic / Fanfiction Escape - Capítulo 24

Mary’s POV

Um barulho constante e irritante estava me fazendo perder o sono e há minutos eu não conseguia simplesmente ignorar tal barulho e voltar a dormir. Quando abri os olhos reconheci como sendo várias batidas na porta, seguidas de uma vozinha fina que me chamava sem parar. Suspirei irritada e sem outra chance, me levantei da cama, caminhando em direção à porta com a mínima disposição. Quando destranquei a maçaneta e abri o material de madeira, me deparei com um James explodindo de felicidade por finalmente ter me acordado.

Maly! Você tem que ve isso.

— O que foi, James? — pisquei algumas vezes tentando entender o que acontecia ali.

— A neve, Maly. Tem neve lá fola. — falou tão animado quanto o dia de Natal, em que ganhava presentes de todos os tipos. — Ta fio fola e a mamãe disse que eu não posso sai sem casaco.

Caminhei até a janela e deixei que o pequeno me seguisse em saltos animados. Quando abri a cortina, pude ver os flocos de neve caindo e se grudarem no vidro, cobrindo o batente com uma grossa camada branca. As ruas estavam começando a ficar cobertas e deduzi que em poucos dias teríamos certa dificuldade de sair de casa.

— É, você tem razão. Está nevando mesmo. — eu disse, fechando a cortina e me virando para o meu irmão. — Mas já que você me acordou eu preciso me arrumar para ir para a aula. Não posso passar o dia apreciando a neve como você.

— Mas você vai volta pla gente binca um pouco lá fola, não vai? — questionou com um beicinho.

— É claro que vou. — soltei uma risada abafada, não conseguindo competir com o seu teatrinho. — Agora, espere lá fora que eu vou me trocar.

Abri a porta e o guiei, pela mão, até o corredor, em seguida voltando para o quarto e sem lhe dar a chance para protestar. Já que não conseguiria voltar a dormir, o jeito seria me arrumar para faculdade e torcer para que a manhã passasse depressa para eu poder voltar para casa logo.
                          (...)

Eu já estava na metade das aulas e por incrível que pareça não encontrei nenhum dos meus amigos até àquela hora. Mas a pior coisa era ter que assistir certas aulas um tanto quanto chatas, e assim que saí de uma dessas aulas, resolvi pegar meu material para a próxima aula. Eu estava trancando o cadeado quando senti alguém se aproximar e pigarrear bem perto de mim.

— Mary. — me virei quando reconheci sua voz.

— Liam! — forcei um sorriso, encarando o rapaz. — Indo para a próxima aula também?

— Na verdade, não. — ele parecia meio preocupado. — Eu preciso falar com você. Tem um minuto?

— Claro. — afirmei, notando sua expressão séria. — Aconteceu alguma coisa?

— Eu não tenho certeza — ele olhou para os dois lados, se certificando de que ninguém estava prestando atenção em nós dois. — É melhor sairmos daqui.

Assenti entendendo que não era um assunto para se tratar no meio do corredor quando corríamos o risco de outras pessoas presentes ali ouvirem. Teríamos que conversar a sós e eu conhecia um lugar perfeito pra isso.

— Tudo bem, vem comigo. — puxei a alça da mochila, ajeitando-a em minhas costas, e comecei a caminhar em direção a um lugar seguro para termos aquela conversa.

Liam caminhava logo atrás de mim e parecia um pouco tenso. Tomamos cuidado para não sermos vistos, afinal estávamos matando aula e se alguém dos pegasse ali com certeza não ganharíamos um troféu de bom comportamento por isso.

Logo chegamos ao lugar onde poderíamos conversar sossegados. Empurrei a porta do auditório, e segurei para que Liam pudesse adentrar o local. Eu sabia exatamente os horários que o clube de teatro usava-o graças a Susan, e aquela seria uma das horas que ele estaria inutilizável.

— Tem certeza que ninguém vai nos pegar aqui? — Liam indagou.

— Confia em mim. A metade dos alunos que fazem parte do clube de teatro está na aula há essa hora. Temos um bom tempo até eles chegarem.

Me sentei em uma das primeiras poltronas da fileira à direita, tirando a mochila dos ombros e colocando-a aos meus pés enquanto Liam imitava meu ato e sentava ao meu lado.

— Agora que estamos sozinhos, pode dizer o que aconteceu? — eu não queria demonstrar meu nervosismo, mas era um pouco difícil diante da situação.

— Bom, como você sabe os pais do Niall ainda estão desaparecidos, — eu assenti, me lembrando de quando Niall me falou sobre os seus pais. — e ontem eu ouvi meu pai murmurando no telefone sobre ter perdido o sinal com eles.

— Como assim? — perguntei confusa.

— Mesmo não tendo muitas notícias deles, ainda podíamos captar o sinal que temos implantado em algum equipamento que carregamos conosco como meu iPod, por exemplo. — ele tirou o objeto do bolso e o ergueu na frente do seu rosto para que eu pudesse observá-lo. — No caso dos pais de Niall, esse rastreador estava implanto em algum objeto pessoal deles.

— Isso eu já entendi, mas aonde você quer chegar? — questionei aflita. Liam mantinha tranquilidade acima de tudo, mas isso não fazia com que eu ficasse calma também.

— Meu pai comentou com alguém no telefone que ele não estava mais conseguindo encontrar esse sinal, de que no começo achou que fosse problema de conexão ou dependendo do local em que eles estavam o sinal podia ser muito ruim. Mas pelo o que eu ouvi, já faz dias de que ele não consegue mais captar nada e as chances deles estarem por perto são mínimas.

— Então seu pai acha que os pais de Niall podem estar mais longe do que vocês imaginavam? — tentei captar tudo o que ele falava, mas meu raciocínio não estava colaborando.

— Pior do que isso. — Liam respirou fundo. — Eles podem ter sido capturados ou estarem mortos.

Meu sangue gelou, o tempo pareceu parar por alguns instantes e tudo pela volta começou a se mexer em câmera lenta. As palavras de Liam tinham me atingido de uma forma que eu nunca pude imaginar. Eu não conseguia pensar no que Niall podia fazer se seus pais realmente não estivessem mais vivos. Ele ficaria sem chão e as forças que ainda tinha para lutar, provavelmente, iriam desaparecer por completo.

Pensei em como eu ficaria se fosse os meus pais que estivessem desaparecidos ou quem sabe mortos. Por mais que minha relação com eles não fosse uma das melhores, eles ainda eram meus pais, e eu os amava. Não é nada fácil ter de lidar com a perda de alguém próximo, principalmente se forem as pessoas que nos colocaram no mundo.

— Espere um pouco. — esfreguei as têmporas com as pontas dos dedos. — Seu pai tem certeza disso?

— Ele não tem certeza de nada, mas as possibilidades são grandes. — Liam se mexeu na poltrona. — Faz mais de seis meses que não conseguimos uma conexão ou contato com eles e se o sinal que mostrava um rastro de vida por ali sumiu. Quer dizer que eles talvez não estejam mais vivos.

— E se esse aparelho, cujo sinal é implantado, simplesmente quebrou?

— Ele não é um aparelho qualquer, Mary. É revestido de um material mais resistente do que aparelhos comuns. E, além disso, devemos guardá-los como se fosse a última coisa que pudesse nós salvar, afinal é o único jeito de conseguirmos ajuda.

Assenti tentando entender todo esse lance de rastreador e equipamentos diferentes. Mas por mais que eu me esforçasse, ainda não conseguia acreditar que os pais de Niall pudessem estar mortos.

— E você já contou isso ao Niall?

— Ainda não. — ele engoliu em seco. — Eu achei que você poderia me ajudar a explicar isso a ele. Sei que a nossa relação não é a melhor de todas, mas o Niall tem se mantido mais calmo perto de você e isso é muito bom.

— Eu não posso contar esse tipo de coisa a ele, Liam. — protestei, ignorando seu pequeno elogio. — Não sei nem como começar a dizer algo tão perturbador.

— Eu sei, mas precisamos fazer isso. Ele merece saber.

Fiquei em silêncio. Eu não tinha ideia de como fazer isso, talvez eu não tivesse estrutura para dar uma notícia dessas ao Niall e muito menos teria força para ajudá-lo em um momento como aquele.

— Não tem outro jeito de fazermos isso? — perguntei com um pingo de esperança.

— Bom, antes de contarmos qualquer coisa acho melhor procurarmos algo a respeito disso.

— E como faremos isso?

— Meu pai não me deixa mexer em todos os equipamentos dele e muito menos sonha que ouvi essa conversa entre ele e alguém no telefone. Então, acho que deveríamos tirar nossas próprias conclusões sobre tais fatos. — disse Liam.

— Por acaso você não está pensando em mexer nas coisas do seu pai, não é? — indaguei receosa.

— Eu não vejo como podemos fazer isso de outra maneira. O único jeito de descobrimos algo é entrar no sistema de rastreamento e captar o sinal de todos que ainda mantêm conexão. Só assim poderemos ter certeza de que eles não estão mais conectados.

— Isso não é perigoso?

— Talvez. — ele deu de ombros. — Mas é um risco que temos que correr se quisermos que Niall saiba de toda a verdade.

Encarei o rapaz por breves segundos, pensando na situação e considerando sua proposta. Teríamos de fazer isso escondido e o risco que correríamos seria imenso.

— E quando vamos fazer isso? — perguntei.

— Bem, meu pai não fica em casa durante a tarde. É a oportunidade que temos para encontramos alguma informação. — disse. — Você pode ir lá para casa depois da aula. Quanto mais cedo começarmos as buscas, mais tempo teremos para encontrar alguma coisa antes que meu pai chegue.

— Tudo bem. — confirmei com um aceno de cabeça.

Antes que pudéssemos falar qualquer outra coisa, o sinal de fim da aula tocou. O tempo pareceu voar durante a nossa conversa e nem percebemos que passamos tantos minutos ali. Teríamos de ser rápidos ao sairmos do local e irmos para nossas respectivas salas, não podíamos correr o risco de perdemos as próximas aulas.

No caminho para sala acertamos alguns detalhes e combinamos de nos encontrar na casa de Niall logo depois que eu pegasse James em casa, afinal eu teria que passar a tarde cuidando dele, e como não ficaria em casa, teria que levá-lo comigo. Eu só torcia para que tudo ficasse bem e a teoria do pai de Liam não estivesse certa. Os pais de Niall não poderiam estar mortos.

   (...)

Eu estava com James no colo enquanto esperava alguém abrir a porta depois de ter tocado a campainha duas vezes. Se ninguém aparecesse logo iríamos congelar ali fora. Mas como se meus pensamentos tivessem sido ouvidos, o barulho da chave destrancando a maçaneta chamou minha atenção, e a mesma foi girada, fazendo com que a porta fosse aberta, revelando Niall em roupas quentes, mas não tão pesadas quanto as minhas.

— Entre. — disse, empurrando a porta mais um pouco e nos dando passagem.

Passamos por Niall e ele fechou o material pesado enquanto eu colocava James no chão para ajudá-lo a tirar o casaco.

— Pensei que iria nos deixar congelando lá fora. — comentei enquanto tirava meu casaco e pendurava no cabide próximo à porta.

— Achei que ia gostar de curtir um pouco a neve. — brincou, bagunçando os cabelos de James antes de o pequeno começar a correr em direção à sala.

Já que  a casa não era mais desconhecida, ele poderia andar tranquilamente sem se perder. Ralph nem se quer teve tempo de fazer festa quando lhe avistei, pois assim que viu James saiu correndo atrás do pequeno e arranca-ligou gargalhada descontraídas.

— Como você está? — fitei Niall, subindo minhas mãos de seu peito até os ombros onde deixei leves carícias, sentindo o tecido macio de seu moletom.

— Estou bem. — ele sorriu brevemente, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans. — Encarando os fatos.

Eu lhe contei, mais cedo na faculdade, sobre a ideia de Liam, sem deixar escapar a parte da minha conversa com o mais velho sobre a suposição de Geoff em relação aos pais de Niall. Esse por sua vez,  reagiu melhor do que eu esperava. Não que ele tivesse ficado animado com a notícia ou agido naturalmente, só ficou um pouco abalado. Eu não lhe tirava a razão, seria devastador para qualquer um.

— Vamos! Liam está nos esperando. — Niall segurou minha mão e me conduziu em direção ao escritório.

Quando adentramos o cômodo, Liam estava atrás da mesa de vidro, que acomodava todo tipo de aparelho eletrônico. Aquilo era um paraíso da informática, mas fazia-me parar para pensar como Geoff não ficava confuso em meio a tanta informação que tudo aquilo podia transmitir. O rapaz analisava algo na tela do computador e parecia intrigado com o que via.

— Eu ainda não entendo como seu pai não deixa essa sala fechada. Se não quisesse que ninguém entrasse em algum lugar particular a primeira coisa que faria seria fechá-lo a sete chaves. — disse mais para Niall do que o próprio Liam

— Não pense que ele não a fecha. — Niall soltou minha mão enquanto eu me aproximava da mesa. — Não foi nada fácil achar a chave no meio das coisas dele. Sorte que eu me lembro de quando ele pediu para que eu fechasse o escritório e imaginei onde poderia escondê-la. — Liam falou sem tirar os olhos do computador.

Niall puxou duas cadeiras para que pudéssemos sentar perto de Liam. Pelo jeito aquela seria uma tarde longa e ao mesmo tempo corrida já que teríamos pouco tempo para conseguir todas as informações necessárias até o pai de Liam chegar.

Começamos com o rastreamento do mapa da cidade onde os pais de Niall foram vistos pela última vez, mais especificamente em um país na América Central. E como o esperado, nós não encontramos nenhum vestígio deles por lá.

Nossa busca rendeu horas e por mais que nos esforçássemos para conseguir alguma informação, acabávamos sem resposta. Nem os equipamentos mais modernos que ali existia foram necessários para conseguirmos achar alguma coisa. Algum tempo observando-os me fez pensar que nem se eu passasse um dia todo não conseguiria aprender a mexer em um se quer.

Já Liam mexia neles com a maior facilidade já vista por mim e imaginei a quanto tempo ele era treinado para lidar com equipamentos como aqueles e saber agir em situações de emergência onde fosse necessário usar cada um deles, assim como o seu pai fazia diariamente, tendo de estar ciente de tudo o que acontecia pela sua volta e se certificar de que ninguém corria perigo por algum tempo.

Quando percebemos nosso tempo sozinhos já estava prestes a se esgotar e tudo o que conseguimos descobrir foi que não havia mais nenhum tipo de rastreamento no lugar em que os pais de Niall foram vistos pela última vez, como Liam suspeitava. Como já havia escurecido, não iria demorar a Geoff chegar, então os rapazes e eu decidimos acabar com a nossa pesquisa ainda quando tínhamos tempo.
Liam e agradeceu pela ajuda, o que surpreendeu mais tarde quando usei a madrugada para perder-me em meus pensamentos profundos.

Eu me sentia tão mal no momento que nem me passou pela cabeça o quanto aquilo era surpreendente.  James estava cansando e quando menos percebi, ele já dormia do sofá, em um sono profundo.

Niall resolveu levá-lo para seu quarto e meu irmão resmungou alguma coisa, mas se aconchegou nos braços de Niall, assim voltando ao seu sono. O rapaz subiu a escada e tomou cuidado para não acordar o pequeno. Eu deveria ter ido para casa assim que terminamos nossas pesquisas, mas eu não ficaria com a consciência tranquila se deixasse Niall lidar com tudo aquilo e digerir a ideia sozinho.

Resolvi preparar chá enquanto Niall não voltava. Enchi uma chaleira com um pouco de água e levei ao fogo, esperando até ela esquentar. Peguei duas xícaras no armário e coloquei dois saquinhos de chá de camomila dentro.

— Eu pensei em colocar o pijama, que estava dentro da mochila, nele, mas fiquei com medo em acordá-lo. — Niall surgiu na cozinha enquanto eu lavava um pouco da louça suja.

— Não se preocupe. Eu faço isso depois. — enxuguei minhas mãos no pano de prato e desliguei o fogo quando a chaleira apitou, indicando que água já havia fervido. — Eu fiz chá. Achei que iria ser bom pra nos aquecer.

Ele assentiu com um leve sorriso. Aquilo estava me matando. Niall continuava cabisbaixo e brincava com o zíper do moletom, como se sua mente vagasse em pensamentos profundos, mas na verdade ele só estava tentando encarar os fatos da maneira dele. Eu não podia fazer muita coisa para ajudá-lo, por mais que eu estivesse disposta em ver um sorriso em seu rosto novamente.

— Vem, vamos para a sala. — sugeri assim que terminei de preparar o chá.

Ele seguiu até o cômodo comigo logo atrás enquanto eu levava as duas xícaras. Sentamos-nos no sofá e lhe entreguei uma das xícaras. Fiquei de frente para ele, cruzando as pernas na famosa pose de índio a fim de ouvi-lo caso ele quisesse falar sobre o que estava sentindo.

— Tem certeza que não quer falar sobre nada? — questionei após alguns minutos em silêncio.

Em resposta recebi mais silêncio, nem um aceno de cabeça Niall procurou dar. Ele mantinha o olhar para baixo, agora analisando o fio do saquinho que continha o conteúdo do chá, que ficava pendurado para fora da xícara. Achei melhor não insistir, já que ele demonstrava não querer tocar no assunto. Mas então fui surpreendida quando ele começou a falar.

— Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer algum dia. — ele fez uma pausa antes de continuar. — Eu vi pessoas partirem da minha vida e não foi fácil superar. Nem mesmo quando estávamos nos piores momentos pensei que iria perder meus pais dessa forma.

— Nós não temos certeza ainda, Niall. — me referi a probabilidade de eles estarem vivos. — Não podemos perder a esperança.

— Eu sei, é só que... — Niall fez uma pausa como procurasse as palavras certas para descrever o que sentia. — Quando você pensa que a vida não pode ser mais difícil, ela vem e te surpreende.

Eu queria poder fazer alguma coisa para não ter que vê-lo daquele jeito. Dizer que, de alguma forma, tudo ficaria bem e logo iríamos encontrar os pais dele. Mas a verdade era que nada iria amenizar essa dor, a dor de perder alguém que amamos mais que tudo.

— Eu queria, pelo menos, saber que eles estão bem. E não ter que aceitar que eles possam estar mortos. — Niall levantou olhar, me encarando e revelando assim seus olhos marejados.

As lágrimas se formavam abaixo deles e eu sabia que o rapaz estava se segurando para não chorar. Ele não gostava de parecer fraco, por mais que eu soubesse que no fim ele era apenas um garoto com medo de ter perdido as pessoas que amava.

Coloquei a xícara em cima da mesa de centro e me aproximei de Niall, passando meus braços ao seu redor e o trazendo para perto do meu corpo. Ele hesitou um pouco, pois eu sabia que ele não queria chorar na minha frente, mas quando demonstrei que ele podia se sentir a vontade, ele finalmente se rendeu. Como se precisasse daquilo, ele rodou meu corpo com os braços e afundou a cabeça na curva do meu pescoço.

Eu sabia que se ele estava chorando na minha frente era porque havia chegado no seu limite. Niall nunca se permitiu ser fraco, e nem mesmo eu, que passei a dividir tantos segredos e confissões com ele, era merecedora de vê-lo em momentos como esse. Minhas mãos deixavam carícias nos seus ombros e costas enquanto eu podia ouvir alguns soluços baixos. Niall apertou os braços em volta de mim e deixei que ele ficasse daquela maneira, porque sabia que ele precisava daquilo naquele momento.

— Vai ficar tudo bem. — eu queria ter mais certeza das minhas palavras, afinal não podia prever o que iria acontecer dali pra frente.

Era sempre Niall quem dizia que tudo acabaria bem e ouvir tais palavras saírem da minha boca era um pouco estranho, uma vez que era eu quem estava dizendo aquilo a ele.

Esse é o problema de fingir ser forte o tempo todo. As pessoas passam a esquecer de que você também tem sentimentos. Niall era um símbolo de bravura pra mim e me fez esquecer que podia ser capaz de se magoar ou ficar triste. Fui tola em pensar dessa maneira, mas a verdade é que não achei que ele fosse capaz de compartilhar deste sentimento.

Alguns poucos minutos foram necessários para ele se acalmar, por mais que eu não tenha realmente  visto suas lágrimas, apenas o som de seus soluços foi manifestado. Após algum tempo ele soltou meu corpo e sem quebrar o contato entre nós, passei a mão por entre seus fios de cabelo. Ele enxugou rapidamente as próprias lágrimas com as costas das mãos. Seus olhos, que agora estavam um pouco vermelhos, encontraram os meus e eu dei um sorriso acolhedor.

— O problema em crescer é que você descobre que os monstros estão por toda parte e não somente debaixo da cama. — disse de repente. — E tenho quase certeza que ainda vou encontrar muitos.

— Nesse caso, devemos estar preparados para enfrentar cada um deles, não acha?

— Não acho que possamos derrotar todos eles. Eu estou começando a ficar cansado. Cansado de lutar ou ter que passar por tudo isso. — admitiu.

— Eu não quero parecer iludida ou fantasiosa, mas eu acredito que você pode fazer muito mais, Niall. Você já aguentou tanta coisa! Por que não aguentar um pouco mais?

— Diz isso porque nunca aconteceu com você. Não tem ideia de como é difícil. — disse rude, mas não me ofendi, porque sabia que essa era a forma que Niall encontrava de reprimir os sentimentos que mais odiava.

— Tem razão. Mas isso não significa dizer que nunca saberei como é. Lembre-se que estou só um passo atrás de você. — ergui as sobrancelhas. — A única diferença entre nós dois é que você já caiu nesse mar de sofrimento há muito tempo e eu estou na beira do barranco.

Como resposta, Niall apenas abaixou a cabeça e passou um tempo perdido em seus pensamentos perturbadores. Eu não queria parecer convencida, mas parecia que eu o havia deixado sem argumentos. E por isso achei que pudesse tê-lo magoado mais ainda. É claro que Niall não se abalaria apenas com isso, mas ele parecia tão fragilizado que até minhas palavras derrubavam-no facilmente, como o sopro do vento.

— Não é errado dividir o que sentimos com alguém. — eu disse, usando minha mão para erguer o seu queixo. — Sou eu, Niall. Eu que estou aqui agora. Mas não posso continuar se não souber de pelo menos um terço do que você já passou. Então, por que não começa me dizendo como tudo começou?

— Acho que posso lhe poupar disso. — ele permaneceu na defensiva.

 — Pretendo continuar com você pelo tempo que for necessário, até quando cada um de nós não precisar mais um do outro. E mesmo que você tente negar, eu sei que precisa de mim exatamente como preciso de você. — conduzi minha não à lateral do seu rosto, deixando uma carícia preguiçosa ali. — Eu só gostaria que você confiasse mais em mim para me contar coisas assim.

— É claro que confio, Mary. Confio muito. Mas o problema é que... — ele se esforçou para falar. — Eu não sei se consigo.

— Bom, então tente. — insisti. — Não pretendo ir embora tão cedo.

Niall soltou uma risadinha e com o embalo de sua cabeça nossas testas se encostaram. Ele liberou alguns tufos de ar quente no meu rosto e inspirou fundo. Senti uma reviravolta no estômago quando ele umedeceu os lábios com a língua, pois eu sabia que aquele era o ritual que Niall fazia instantes antes de começar a contar qualquer história longa.



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