História Estas são apenas palavras de dor - Capítulo Único

"Um dia, talvez, você se transforme em um arco-íris, e aí eu poderei vê-lo no fim de tardes chuvosas."

Um, dois, três.

Viro a garrafa. 

Quatro, cinco, seis.

Mais uma garrafa? 

Eu não sei. Sou incapaz de recordar o que aconteceu há um minuto. Estou totalmente inerte. Preso em um sonho lúcido. Acho que vou vomitar. Vomitei. 

Algo aconteceu hoje. Eu não lembro. Há, sim. Você deixou-me sentado no banco da praça novamente. Como todos os dias às seis e vinte cinco.

Estou em casa. Sei disso pois vejo sua carta sobre a mesa. Sim, ela ainda está lá. E eu sei que a primeira vez que aquela folha sentiu a mesa fora há quase quatro anos. Cinco? 

Minha memória está péssima, mil perdões.

Seu chá favorito era o de gengibre com limão. Eu tomei alguns goles hoje. Foram bem poucos, não consegui beber tudo e acabei jogando a xícara na parede. Os cacos ainda estão no chão. Eu também acabei forçando-me a vomitar o que tinha bebido. 

Minha psicóloga pediu para eu acabar com tudo que me lembre você. E porra, TaeHyung, isso é difícil como o inferno. 

Ou talvez esse já seja o meu inferno. Não sei no que acreditar.

Eu não sei nem mais se posso acreditar em mim mesmo. Às vezes minha cabeça diz coisas ilusórias.

No momento, estou bebendo. E você sabe, eu não consigo pensar em absolutamente nada quando estou bêbado. 

Estas são apenas palavras de dor. 

Coisas que vagam tão frequentemente em minha mente, que acabam sendo automáticas.

Eu preciso beber mais um pouco. Caminhar pelo parque em frente à minha casa. Talvez deitar na grama. Acho que posso esperar o sol iluminar minha face, e aí eu volto ao meu esconderijo. Ao meu ninho de lágrimas.

Eu estou nervoso. Meu corpo está tremendo e tudo ao meu redor encontra-se turvo. 

Vou ler alguns significados de flores e achar você nelas. São bonitas como você. Porra, você é lindo.

(Desculpa-me pelos xingamentos, sei que não gosta. Mas não posso evitá-los quando não tenho alguém para impedi-los) 

Estou na letra B. Nela há uma flor estranha chamada Begónia. A mesma significa timidez, inocência e lealdade no amor. 

Você era tímido, completamente inocente e suas últimas palavras foram "Hyung, eu te amo." 

Para alheios você era uma Coreopsis: sempre alegre. Com esse sorriso quadrado no rosto e roupas coloridas.

Contudo, não foi com alegria que você deixou este planeta. Infelizmente.

E tudo me lembra você. 

O sons dos pássaros ao nascer do sol me lembram sua voz. Você cantava pelos corredores como se as notas estivessem presas em sua garganta. Elas saiam livres. 

Algo que constantemente faz sua imagem invadir minha cabeça são aqueles arco-íris que sempre aparecem no lençol branco da minha cama quando abro os olhos. 

Eu nunca entendi como eles surgiram ali. Não sei como se formaram ou quando apareceram. Apenas entendo que são bonitos e misteriosos. Mas sem significado. E eu os amo.

Às vezes eu acordo e eles não estão lá. Meus olhos marejam, ou então chegam a despejar pequenas gotículas de água.

Eu sinto saudade dos arco-íris em manhãs nubladas como sinto saudade de você em minha vida. Porque você coloria o meu dia como aquele pequeno rastro de cores colore meu lençol. 

Às vezes até o vento lembra-me você. Voando por aí. Presente em todos os lugares mesmo sem que ninguém o veja. Leve, porém transparente. 

Tudo me lembra você. Exceto as pessoas, elas são estranhas. E você é único.

Você era único. Era. Era. 

Era. 

Eu tinha algumas coisas para escrever, entretanto esqueci todas elas. Eu estou com sono. Não irei dormir, mas minhas pálpebras pesam. 

Eu quero seu calor de volta.

O sol nasceu. Bom dia, arco-íris.