História Estrela sem Memória - As Primeiras Dúvidas.

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Jungkook

-Monitor 5, depois monitor 3. -Disse a moça, segundos antes de sair com a mesma prancheta em direção ao Tae e explicar como seria a primeira música. -V você olha o monitor 2, depois monitor 4.

Tae me encarou e começou a fazer caretas quando ela se afastou para avisar aos outros. Eu não consegui parar de rir, a música de fundo era justamente aquela que tinha a coreografia mais engraçada e era para divertir o público antes do show oficial.

-Atenção meninos, olhem bem para mim! -Gritou uma das produtoras de cena.

Meu irmão imediatamente parou o que fazia e entrou no meio da pequena rodinha que se formou ali. Haviam garotas de um grupo novo chamado Red Velvet, além dos trainees mais novos vestidos com seus uniformes pretos, que até seis meses atrás eu também utilizava. Outros artistas de empresas diferentes prestavam atenção ao que era dito e eu também pude entender sobre alguma interação que deveríamos fazer no palco, abraçar os colegas e andar sempre de mãos dadas, mostrando que não havia rivalidade entre as empresas e que todo aquele festival era bem maior do que uma competição, entre outras coisas.

Deixei de prestar atenção no momento em que separaram os trios, Tae deu pulos de alegria ao saber que nós faríamos parceria com Victoria. Ele apertou minha mão e chamou por ela, os dois conversaram bem animados, pois debutaram solo na mesma época e foram considerados os melhores vídeos da temática de primavera. Eu tentei acompanhá-los sorrindo uma vez ou outra, porém nunca me senti tão desprezado e deixado de lado como naquele momento, parecia ter uma parede me separando da sociedade, foi um pouco angustiante e o tempo demorou a passar.

-Jeon, preciso arrumar seu lenço, pode vir aqui? -Perguntou Dan Hoo, acenando para mim rapidamente. -Está torto.

-Claro! -Soltei minha mão e senti um peso enorme sair de mim quando finalmente cheguei perto dela, Dan Hoo era uma das poucas pessoas que me davam atenção na medida certa, nem demais, nem de menos. -Não faremos a primeira música, ainda bem! -Comentei.

-Está nervoso, meu anjinho? -Ela perguntou, desdobrando a gola da minha camiseta e tirando a jaqueta que eu usava. -Deixa eu ver se não amassou a roupa, vire pra mim...

Eu virei rapidamente e ela puxou minha cinta mais para cima, prendendo o microfone. Tae e Victoria continuavam rindo e cochichando baixinho, agora ambos prestavam atenção em alguma coisa que viam juntos no celular.

-Nossa, não sabia que você usava 38, Jeon! -Dan Hoo desvirou a etiqueta da minha calça e eu rapidamente a encarei, ouvindo ela rir baixinho.

-Ei!, O que está fazendo?

-Desculpe, é que eu precisava entender por que te deram quatro horas a mais de exercícios na academia desde a semana passada. Acho que agora descobri... -Ela sorriu de canto e desviou o olhar.

-Isso foi por causa da dieta nova que precisei fazer no tempo em que fiquei no hospital. -Sussurrei, certificando-me de que ninguém ao nosso redor ouvia.

-Mas você vai ter que se esforçar um pouco mais, suas roupas do novo conceito estão todas com tamanho menor. -Dan Hoo levou a mão atrás da nuca, visivelmente nervosa. -Não dá tempo de refazer as principais, vai ter que usar as do seu irmão...

-Será que vão ficar tão apertadas assim? ... Eu vou provar todas amanhã antes do ensaio, algumas com certeza ainda posso vestir. -Afirmei, tentando não alarmar algo ruim.

-Dan Hoo, tira a mão daí! -Tae cruzou os braços e ela imediatamente soltou o meu cinto, forçando uma tosse e pedindo desculpas silenciosamente. -... Senão vou pensar que você está tentando usar as roupas do meu irmão.

-Desculpe, estava apenas comentando que ele não está vestindo um uniforme 36. -Dan Hoo mudou o tom de voz, o que na minha visão foi um pouco estranho. -Ele está crescendo rápido, não acha? Logo vai passar você em todos os quesitos, Tae Tae...

Victoria que apenas assistia a cena me encarou e ficou um pouco constrangida com a situação, então apenas baixou a cabeça e fingiu estar vendo algo no celular. Tae suspirou e colocou a mão direita sobre o meu ombro, com o seu típico sorriso quadrado de conquistador.

-Tudo bem, vamos controlar isso, não é maninho? Vai ser divertido compartilhar roupas com você! -Ele pensou por alguns instantes e riu maliciosamente. -Talvez não as cuecas.

-Tae! -Dei um leve empurrão em seu corpo e ele voltou a rir.

-Brincadeirinha. -Tae virou-se para Dan Hoo e demorou para falar. -Ele está bem desse jeito, não se incomode com isso... E mesmo que o Kookie seja maior eu não vou me importar pois ainda vai continuar sendo meu irmãozinho. -Completou, apertando minha bochecha. -Vamos entrar pelo elevador que vem debaixo do palco, então precisamos descer agora ou ficaremos encrencados.

Ele me abraçou de lado e começou a caminhar, deixando para trás um olhar ameaçador contra Dan Hoo. Victoria nos acompanhou em silêncio até entrarmos no corredor, onde estavam as pessoas que cuidavam do pequeno elevador com as instruções de segurança e outras coisas totalmente irrelevantes para mim naquele instante. Eu estava um pouco perdido, fazia tudo automaticamente, acenava sem nem mesmo ter entendido o que era dito.

Não pensei que alguém iria reparar no tamanho da minha roupa, isso nunca foi uma exigência tão pertinente antes, em minha época de trainee. Tae também jamais tinha dito algo sobre precisar fazer mais exercícios, manter o peso, ou algo parecido. Por que Dan Hoo estava fazendo aquilo então? Será que estou ficando fora do padrão?

-... Kookie?

Escutei a voz de Tae e retornei para a realidade, ele estava com o rosto praticamente grudado no meu, isso não apenas pelo fato de ter ocorrido uma parada brusca do elevador. As pessoas ao redor gritavam de maneira enlouquecida e as luzes baixas indicavam que o show já havia começado.

-Olá! Sejam bem vindos ao show de hoje, teremos uma longa noite pessoal! Vamos trabalhar juntos para trazer o melhor espetáculo, não é mesmo meninos? -Victoria virou-se para nós e seus olhos arregalaram, era como se algo tivesse lhe assustado.

-Sim! Boa noite! Eu sou o V! -Tae gritou e me abraçou de lado, disfarçando nossa proximidade ao pegar na mão de Victoria e se curvar para beijá-la com delicadeza. -Estão preparados? Vamos atingir seus corações com nosso som e enchê-los de amor, como cupidos musicais!

Ele olhou para mim e meneou a cabeça, só então recordei que o letreiro no telão esperava para ser lido por mim.

-Eu acredito que existem cupidos graciosos logo atrás dessas cortinas, vamos contar até três para recebê-las: "Oh My Girl"! -Pronunciei rapidamente, quase perdendo totalmente o fôlego.

Os holofotes se apagaram e uma das mulheres na saída lateral do palco fez sinal para nós descermos. Victoria foi por primeiro e Tae segurou minha mão até terminarmos todos os degraus.

-Kookie, você precisa prestar atenção... -Ele riu. -Não pode se distrair. Você quase esqueceu de ler o monitor!

-Mas foi um trabalho maravilhoso para os espectadores! -Comentou Sunny, com total aprovação de outros ao nosso redor. -Para um debutante é normal se esquecer das falas, eu mesma já me esqueci diversas vezes dos monitores certos para olhar e ficava um pouco tímida demais.

-Vocês dois têm juntos a química do palco, precisam aproveitar isso no momento da performance. -Completou Minah, que havia parado seu aquecimento vocal para se aproximar de nós. -Boa sorte, garotos!

-Obrigado! Vem Kookie, precisamos nos alongar e aquecer, em vinte minutos retornamos no palco.

-Tchau! -Acenei rapidamente enquanto era puxado pelo meu irmão até nosso cubículo chamado camarim, Dan Hoo estava em frente à porta segurando dois cabides no alto e soprando uma língua de sogra que tinha luzes na ponta.

Tae pegou a da esquerda como sempre e entrou rápido, eu faria o mesmo se ela não tivesse me segurado com certa força:

-Não esqueça do que eu falei, tente não estragar o figurino. Espero que sirva...

-Por que está agindo assim comigo Dan Hoo? -Resmunguei, soltando meu braço e pegando as roupas especiais da próxima apresentação. Ela se aproximou do meu ouvido e fingiu estar arrumando algo invisível no meu cabelo.

-Nós dois sabemos quem deveria ter debutado em seu lugar naquele palco, Jeon. Se ficar gordinho ou não se sair bem lá em cima vai destruir a carreira do seu irmão, é bom pensar bem nisso. As pessoas não gostam de irmãozinhos sem talento!

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[Enquanto isso...]

Susy

-Qual é o motivo dessa reunião de merda, Susy? -Praguejava Mark, parado em frente ao monitor do computador na grande sala de reuniões dele.

-Videoconferência, seu tosco. -Suspirei, indignada. -Eu só te convoquei para tirar satisfações sobre o seu novo brinquedinho.

-Você encontrou ele?

-Mark, eu sou um híbrido... Sou o seu rastreador de novos domésticos e posso encontrá-los apenas por ser meio Doméstico e meio Dono. -Expliquei, notando o tédio nos olhos dele que bocejava diante da tela. -Está certo punir meu Doméstico por ter invadido seu território e sem querer perdido uma caça, só que não me contou que o merdinha também era um maldito!

-Do que está falando, garota?

-Argh... -Suspirei outra vez, agora bagunçando um pouco do meu cabelo. -Ele descreveu sem medo a cor do Yoongi.

Eu não queria abordar o assunto diretamente, no entanto Mark é a pessoa da irmandade em quem eu mais posso confiar, por que crescemos juntos e estudamos na mesma escola, com Yoongi. E só de pensar que um idiota com cabelo de abóbora chamado Hoseok poderia ter descoberto por um sonho a cor Laranja já poderia me deixar em xeque, se Yoongi souber dela as coisas ficam complicadas.

-Hum... E qual é? -Mark esboçou um sorriso pretensioso e eu dei um leve tapa na própria testa, num gesto um tanto grotesco de indicar que aquilo não seria dito. -Ah, qual é Susy, já fazem dois anos que estou tentando alugar o seu doméstico por uma temporada e você não deixa! Ele é bom para a irmandade, com certeza pagariam muito pelos serviços diferenciados, Yoongi tem potencial para ser um-

-Não repita isso! -Gritei rapidamente, batendo com as duas palmas sobre o tampo da mesa e o som saiu forte o suficiente para que Mark do outro lado ficasse quieto. -Não quero te ouvir falando dele como se fosse uma máquina! ... Esse seu futuro brinquedinho não é fraco não, Mark! Se quiser pegá-lo precisa mandar os melhores.

-E por que eu gastaria tanto com ele?

-... Eu consegui captar um sinal despertando nele, como você disse que sentiu. O problema foi ele ter dito a cor, sabe que isso ninguém consegue descobrir sem ser um híbrido ou outro doméstico bem evoluído.

-Está dizendo que ele é azul? -Mark não escondeu o sarcasmo na voz. -Um Doméstico de cor fria? Eles são lendas! Não dá pra caçar tão facilmente um ovo dourado desses, eles não brotam em jardim! Você deve estar se confundindo, Susy, ele poderia ser no máximo um vermelho ou cinza...

-Não entendo sua convicção.

-Domésticos são cheios de cores, cada uma delas é diferenciada pelo talento. -Mark acenava com o indicador em um quadro que estava logo atrás de si, como se fosse um professor dando aula a distância. -Eu já encontrei vários tipos... Verdes, que estão ligados com a natureza, brancos, que são ligados ao ar, rosa que tem aquela mania das flores brotando por aí, os talentosos lilás que adoram água, azuis... Está vendo alguma foto aqui? Não! Sabe por que? Não se pode caçar um Doméstico azul! Eles são livres por natureza, tem a mente limpa e são muito inteligentes. Como você mesma diz, eles tem a chave da porta, entram e saem quando querem de sua submissão. Hum... Não posso esquecer do seu garotinho prodígio, Min Yoongi! Fica meio complicado saber que droga é a cor dele, principalmente com a variedade de talentos que o pequenino desenvolveu. Soube que agora ele não é apenas incendiário e telepata de sonhos, como também pode atrair novos domésticos.

Droga. Ele tem olhos e ouvidos espalhados em todos os lugares... Parece que ele treinou os melhores domésticos dele para monitorarem meus movimentos.

-Nossa... As notícias correm. -Ironizei.

-A irmandade me mantém muito bem informado, já que sou o caçador. -Ele riu e cruzou os braços. -Nossos serviços de "limpeza" aumentaram em 30% na região. Admito que é uma porcentagem bem grande perto do que tínhamos antes... Mas estou exigindo da irmandade que Yoongi seja mais ativo, são dois anos sem nada espetacular em desenvolvimento, isso é um tempo de teste meio extenso, Susy! Se não doar o seu doméstico inteiramente para nós, possivelmente teremos que apagá-lo. O que seria uma pena, já que ele tem potencial.

Apagá-lo? Mark havia acabado de dizer aquelas palavras justamente quando o assunto era Yoongi? Ele não poderia estar falando sério. Já tive problemas demais com os métodos de treino que ele oferecia para disciplinar meu doméstico, eu mesma decidi que faria tudo devagar e prometi nunca mais forçá-lo a despertar os talentos, não consigo imaginar a possibilidade de fazer uma lavagem cerebral em Yoongi para obrigá-lo a me obedecer.

Desde o dia em que eu o conheci os dons eram óbvios, eu sempre gostei do jeito durão e marrento que ele tentava impor para me proteger e servir, os extremos de sentimentos estão contidos na mente dele, sei o quanto sua devoção por mim é verdadeira por que posso sentir as mesmas coisas. Nossas sensações são conectadas.

Não posso simplesmente tirar os sentimentos para evitar que a dor dele não seja transmitida para mim, seria cruel. São os pensamentos e emoções de Min Yoongi que dão vida e colorem o meu dia chato, não preciso me esforçar muito para que ele entenda o que eu desejo, ele é o doméstico quase perfeito. Seria totalmente perfeito se ele gostasse de mim, algo que infelizmente eu consigo sentir que nunca acontecerá, ele não me vê dessa forma desde que conheceu Jimin no colegial.

-Vamos falar sobre isso pessoalmente na Arena de Lutas semana que vem. -Afirmei, tentando não transparecer emoção no tom de voz. -Eu vou inscrever Yoongi para um duelo.

-Ótimo! Assim vamos saber em que nível ele está.

-Eu não esqueci que você atirou nele, Mark! -Resmunguei, ameaçando-o. -Aquilo foi doloroso, espero que não tenha esquecido que eu posso sentir o que ele sente, seu idiota! E não vou me importar de fazê-lo sentir a mesma dor um dia desses, então cuide bem dos seus servos!

Depois de pronunciar com extrema fúria as últimas palavras eu desliguei o vídeo, sem esperar a resposta de Mark. Respirei profundamente e encostei as costas na cadeira, uma das mãos agora repousava sobre o peito. Percebi a agonia me dominar momentaneamente ao imaginar Yoongi na noite em que ele foi atingido. O choque havia sido forte o suficiente para me fazer cair desacordada no apartamento e acordar somente dois dias depois, sem entender o que havia acontecido e com a mesma dor incomodando.

Eu sabia que ele estava em algum tipo de perigo, não imaginava que o perigo seria a arma especial de caça do Mark.

-Filho da mãe, você não entende o que é essa ligação por que a destrói antes mesmo de conhecer. -Sussurrei, como se Mark ainda pudesse ouvir. -Não posso deixar Yoongi nas mãos da irmandade. Não agora que ele pode esquecer Jimin de uma vez por todas e gostar de apenas uma pessoa: Eu.

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Hoseok

-Eles são incríveis! -Gritava Jin, no meio do enorme coro da multidão. -Não acha?

Eu acenei positivamente, contudo minha mente estava presa em um lugar muito mais distante. As coisas estranhas que aquela Susy sem sal havia dito, o que eu já sabia sobre Yoongi... Meu corpo estava no show, minha mente estava em qualquer ponto do universo.

Um lightstick do Teen Top atingiu minha cabeça e a garota ao meu lado rapidamente pediu desculpas. Eu não conseguia ver completamente seu rosto, por ela estar usando uma máscara do grupo, seus olhos desviaram rapidamente e retornaram ao palco, onde os garotos cantavam mais um sucesso da noite, a penúltima música do show.

-Não estou ouvindo direito, só um minuto. -Pronunciava Jin, colocando os fones de ouvido e me encarando com certa preocupação ao tomar atenção ao que lhe era dito no celular.

-O que foi? -Questionei, mas recebi apenas um "espere" como resposta.

Inspirei, um tanto aborrecido, encarando o palco mais uma vez, onde agora as luzes estavam baixas e uma dupla estava posicionada para o início do que seria a última música antes do encerramento das festividades da noite. O garoto fez alguns passos e o outro lhe acompanhava, assim como os dançarinos, até que a introdução da música terminasse e o primeiro deles dava um passo a frente para cantar.

"Tomorrow" era a palavra que piscava vez ou outra no telão, além de uns números e imagens um tanto psicodélicas e ligadas à letra da música que alternavam e davam um ar ainda mais obscuro.

-Hoseok, precisamos ir. Hoseok! Ei! Hoseok! -Jin chacoalhou meu corpo e eu o observei, um tanto confuso. -Yoongi desapareceu, a enfermeira não o encontrou no quarto.

-Como assim? Ele fugiu?

-Não tenho certeza, precisamos ir até lá.

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