“E se eu pudesse somente tirar o seu fôlego
Eu não ligo se não tem muito o que dizer
Às vezes o silêncio guia sua mente
E te move para um lugar tão distante
Os arrepios começam a chegar
O momento em que minhas mãos encontram sua cintura
E então eu vejo seu rosto
Coloco meu dedo em sua língua
Porque você ama o gosto”
Harley
Eles enfiaram uma bomba nanita na minha nuca, me fizeram vestir o meu uniforme de guerra, e principalmente, lutar contra seres bizonhos completamente deformados…
E eu adorei!
O avião caiu!? Que viagem!
O pobre Amarra morreu!? Que explosão!
Lutamos contra esses monstrinhos!? Que divertido!
E então subimos aquelas malditas escadas, procurando algo que não fazíamos ideia, algo de extrema importância, pelo que soube, mas francamente eu não dava a mínima.
Olhei para o quadrado que se afundava ao centro da escadaria conforme subíamos… Não pude deixar de me lembrar dos galões químicos e das palavras doutrinadas que saíam dos lábios do Sr. C...
Apontei a arma em direção ao Pistoleiro assim que notei que todos já haviam subido a escada por completo, entrando numa porta branca acima de nós. Ele ergueu as mãos no mesmo instante.
- Opa, palhacinha, abaixa isso - disse ele.
- Você alguma vez amou alguém que você sabia que era ruim pra você? - murmurei, analisando seu rosto suado e bronzeado, parcialmente coberto por um cavanhaque mau cortado - Alguém que te machuca de novo e de novo e machuca a todos a sua volta, mas você o perdoa porque perdê-lo seria ainda mais doloroso?
- Não - respondeu secamente.
Abaixei a arma, prendendo-a na base de couro. Era impossível não pensar no Mr. J... Quanto tempo já se passou? Dois meses?
- Mentiroso - retruquei.
- Esses tipos de perguntas… Não as faça para mim, está ultrapassando minha privacidade.
Ele deu um passo a frente, mas eu o impedi, tocando no couro sobreposto em todo o seu uniforme vinho, sentindo seus peito subir e descer conforme respirava. A testura do couro era a mesma da que o Coringa usa.
Respirei fundo.
- Alguma vez já se sentiu tão próxima se seu amigo, que quis tocá-lo? - sussurrei, me aproximando.
- Eu não gosto muito de palhaços.
Agarrei sua nuca e a puxei para perto, beijando-o. Sua língua se entrelaçava a minha, espessa, agridoce, deslizando pela minha com vontade.
Eu só precisava deslizar os hot pants para baixo.
Suas mãos cravaram em minhas nádegas, me erguendo em sua cintura, me pressionando com força contra a parede atrás de nós.
Desde que comecei a vê-lo andar, escoltado, em direção ao salão exclusivo para torturas, quando ele insistia em desrespeitar o Alpha 01, pude sentir minha tensão sexual aumentar. Ele era forte, e mal, e musculoso, e muito, muito mal.
- Vamos fazer uma excessão, então? - indaguei, sorrindo, rindo.
- Cala a boca! - ordenou.
Respirando por intervalos minúsculos, sentia suas palmas se erguendo, dedilhando meu abdômen, até chegar no meu sutiã. Ele não fez questão de tirá-los, eu também não faria. Tínhamos que ser rápidos!
Senti-o apertar meus seios com força, sabendo que ele me sentia puxar seu membro para fora de sua calça. Seus lábios percorriam o meu pescoço conforme o encaixava dentro de mim, deslizando a parte inferior do hot pants para o lado.
Os trancos, embora me fizessem gemer baixinho de prazer, também me empurravam com força contra o gesso duro atrás de nós.
Ele guinchava, me apertando, puxando-me para mais perto.
Tentava arranhar suas costas conforme os movimentos continuavam mais repetitivos, mas sem sucesso, comecei a puxar sua nuca em direção ao meu pescoço, onde ele lambia e mordiscava…
- Harley? - indagou alguém, obrigando o Pistoleito a se separar de mim.
Ainda se fôlego, olhei para cima, assim como ele, e não vimos ninguém. O problema vinha da escadaria abaixo.
- Johnny Johnny! - acenei - O que faz aqui? Veio fazer parte da festa? - me recompus, ajeitando o hot pants, abaixando minha camiseta e alisando minhas chiquinhas.
- Na verdade vim vasculhar o lugar para o Coringa.
- Então ele vem mesmo!? - gritei, meu coração afundando de emoção, ainda sentindo o celular, dado pelo Alpha 01 na saída desta missão, pesando no bolso da jaqueta, lembrando-me de sua última mensagem.
Ele assentiu, descendo as escadas novamente.
- Espere! Aonde você vai? - indaguei, quase pulando a barreira de uma escadaria, para outra.
- Preciso dizer que o lugar está preparado.
Quase podia imaginar dezenas de homens entrando em nosso cômodo e estourando os miolos do Rick Flagg, o que fez eu saltitar para cima, dando um beijo na bochecha do Pistoleiro.
- Foi um prazer te conhecer, amiguinho.
Coringa
Entrei dentro do helicóptero, trazendo comigo, duas escoltas armadas e o homem que me ajudaria. Estava mais que na hora de trazer minha Arlequina de volta.
Narrador
- Salvador Um-Zero - dizia o soldado de Rick Flagg, falando pelo rádio preso na alça de seu ombro - Salvador Um-Zero, na escuta?
Todos estavam na cobertura, em meio a noite sombria, vendo o helicóptero se aproximar sem que respondesse, virando lentamente sua calda, dando visão para as portas escancaradas com um metralhadora automatica e outra nas mãos do homem que tanto temiam encontrar.
- Pegaram nosso pássaro! Atirem! - gritou Rick Flagg, apontando sua shotguns e disparando, assim como o Pistoleiro e seu soldado.
A salva de balas criavam chuvas prateadas e vermelhas que tremeluziam ao afundar contra os metais onde muitos do Esquadrão Suicida se escondiam.
Harley se jogou contra um pequeno muro, enquanto o Coringa gargalhava, atirando para todos os lados sem se importar em quem poderia atingir.
A palhacinha tampou os ouvidos, recebendo um olhar repreendido do Pistoleiro que se escondeu ao seu lado.
- O que foi? Estou com um chupão? - tampou o pescoço, lembrando-se das mordidas que ele lhe dera mais cedo.
O professor, embora olhasse nervoso para a tela ligada a sua frente, sentia seu estômago embrulhar a cada disparo.
- Professor, será que dá pra acelerar isso aí? - gritou o Coringa, rindo histericamente.
O homem acionou diversos botões.
SINAL ATIVO - DESATIVADO.
Harley sentiu a vibração no bolso e pegou o celular, vendo a mensagem:
AGORA!
Seus olhos se iluminaram no mesmo instante, sendo fisgados pelos do Pistoleiro, que balançou a cabeça em negativa. Mas ela não se importou, quem se importaria? Estaria com seu Sr. C nos braços, independente de como isso aconteceria.
Imponente, andou em meio ao fogo cruzado, sem ser atingida em nenhum momento.
Harley
- Harley! - o Pistoleiro grita, me avisando, mas eu não me importo, o Sr. C veio, para mim!
Mr. J joga a metralhadora para o lado e chuta uma corda para fora do helicóptero.
- Vem meu amor! - grita ele.
- Mata ela! - berrou Amanda Waller, ainda escondida.
Isso! Me matem! Talvez agora eu morra feliz!
Podia ver de soslaio o dispositivo sendo apertado inúmeras vezes por Flagg.
- O dispositivo está desarmado! - avisou Flagg, dando-me uma coragem sobre humana.
- Vamos, querida! - Sr. C abriu os braços para mim.
Puxei minha jaqueta, jogando-a para trás e num impulso, eu pulei, agarrando a corda a minha frente, sentindo o ar me perseguir conforme o helicóptero tomava voo e os disparos cessavam.
Narrador
- Pistoleito. Atire naquela mulher agora! - gritou Amanda Waller, apontando para o pássaro que voava para longe.
- Ela não me fez nada - respondeu secamente.
- Você é um assassino, não é? - perguntou, cuspindo suas palavras com repúdio - Temos um acordo. Mate a Arlequina. Faça isso pela sua liberdade, faça pela sua filha.
Ele parou para pensar um pouco.
- Agora ela vai morrer - disse ele, virando-se para um pequeno muro, onde apoiou seu fuzil e olhou para o alvo pela mira.
Harley se sacudia na corda, de um lado para o outro, mandando beijos e ascenos enquanto sentia o ar frio tamando seu corpo num impulso de alegria. Ele olhou para seu rosto alegre de ponta cabeça, talvez ele tenha sentido alguma emoção enraizada, e disparou.
Não houve sangue. Apenas um silêncio contido. A corda se desenrolou do corpo da criminosa até certo ponto, onde ela parou, com a cabeça caída, aparentemente morta. Até então dobrar os pés, rindo de modo hilariante por não ter sido morta, ainda ascenando, enquanto se divertia com sua liberdade.
- Foi mal - disse o Pistoleiro, irônico, andando para trás do grupo.
- Mandou bem - disse o Capitão Bumerangue, dando tapinhas no ombro do assassino de aluguel.
Amanda o olhou com desprezo. Pegou o rádio do soldado de Rick Flagg no mesmo instante, apertando um botão e o levando para perto da boca.
- Aqui é Amanda Waller. O Salvador Um-Zero foi tomado. Derrubem-no.
Harley
Escalei a corda como se ela pudesse me levar ao paraíso. E ri ao notar que realmente estava indo para ele.
Sr. C estendeu sua mão para mim como Jesus estendendo a mão para um pecador, e me puxou para cima, me colocando dentro do helicóptero.
- Pudinzinho! - gritei, agarrando pelo pescoço, beijando-o com tanto intensidade, que não me importei de ter machuca meus lábios - Se arrumou todo para mim?
A euforia tomava conta de mim. Eu estava apaixonada! Feliz! Completamente enlouquecida por vê-lo depois de tanto tempo!
- Eu faria qualquer coisa por você - sorriu, trazendo-me para dentro do pássaro - Aliás, trouxe, vinho e uma pele de urso… e isso! - ergueu a tela do seu celular, mostrando na imagem, a cena do Pistoleiro me beijando contra a parede.
- Pudinzinho eu…
Um tapa. Era o que veio. Um tapa. Eu senti a sua falta. Um tapa. Eu queria que ele estivesse feliz pelo nosso reencontro. Um tapa.
Caída no chão, toquei a minha bochecha, ainda a sentindo quente. Ele estava em cima de mim, como o Diabo olhando para o inferno. Meu coração se afundou, minha espinha gelou. Ele tinha um olhar que nunca pensei encontrar nele.
- Você me traiu, Harley!
Ergui-me, vendo-o apontar o dedo para mim, enquanto eu me encolhia, amedrontada.
- Eu senti tanto a sua falta…
- E por isso acabou transando com o Pistoleiro? Que lindo amor, romance, talvez? Um triângulo amoroso! Se eu soubesse que poderíamos trazer mais pessoas para nosso relacionamento…
- Me perdoa, eu…
- Cale a boca! - gritou, erguendo a mão mais uma vez, para mais um tapa.
- Você… você nunca foi tão atencioso comigo, duvido até que me ame de verdade! Mas por favor, me perdoa - pedi, segurando seu pulso com a mão ainda erguida - Por favor…
- Preciso te ensinar uma lição.
Seus olhos se suavizaram, abaixando a mão agarrando-se a beirada do helicóptero.
- Espere chegarmos no Túnel - avisou.
- Sr. temos um problema - disse o piloto, apontando para o céu que rapidamente era cortado por uma luz brilhante.
- Este pássaro foi comprometido - disse Sr. C para mim.
- Não! - gritei.
Não podia! Não agora! Precisávamos de mais tempo!
- Mas tudo bem, meu amor, agora somos só você e eu - murmurou ele, trazendo-me para a ponta junto com ele.
Por um instante, senti a esperança de que tudo seria resolvido.
- Então vamos! - sorri, esperando que todo o seu ódio por mim realmente houvesse acabado.
O helicóptero treme e ele me joga, meus braços se esticam, esperando poder pegá-lo e trazê-lo comigo, mas só o ouço gritar, enquanto eu caio na base de um prédio qualquer, rodando por poucos instantes até correr, esperando ainda alcançar a corda, mas ela não está mais lá, o pássaro não está mais lá.
Algo em mim se parte quando vejo o helicóptero explodir, se chocando com os carros e parte de um mercado.
O ar se esvai do meu corpo, meus olhos marejam. Eu não consigo respirar. Minhas pernas bambeiam. Por Deus, não, não!
Agacho-me, me apoiando na beirada do prédio, aos soluços. Afundo minha cabeça entre os meus braços e desabo.
"Você o ama e mesmo assim o deixa partir...".
Ele se foi.
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