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História Eu, lírico - Para o meu amor platônico da mesa sete


Escrita por: indelikaido

Notas do Autor


Para a barbs (iambyuntiful), dona do plot maravilhoso e para o meu amor, que não é platônico e também não é da mesa sete. Neoqueav, xuxu.
Obrigada por ter esperado esse tempinho e me desculpe a demora~
Peço desculpas para quem me acompanha porque ultimamente a maioria dos plots envolvem música e EU NÃO TÔ ENTENDENDO MAIS NADA

Boa leitura!

Capítulo 1 - Para o meu amor platônico da mesa sete


Deitado de barriga para cima, mastigava mentalmente todas as suas frustrações. Não eram poucas; em um escasso tempo de vida — era apenas um piscar de olhos em comparação com coisas maiores do universo. Baekhyun não era tolo e tampouco egocêntrico — acumulara mais burradas e bolas fora do que conseguia contar. Primeiro vinha sua negação com relação ao outro lado da moedinha da sexualidade; céus, gostava de meninos e meninas e não podia nem sonhar em contar isso para alguém. Depois vinha a preocupação com seu círculo de amizades deveras diminuto, cada vez menor. Se a sua vida fosse um jogo, seria um extremamente ruim que só podia ser encontrado nas profundezas do Steam com uma classificação 0 e sem contribuições. É, Byun Baekhyun sentia-se como a personificação da merda.

Fitou a tela do celular, hesitante. Tinha aberto o contato de Kyungsoo, um de seus últimos amigos restantes. Queria muito apertar o botãozinho verde que completaria a chamada e não conseguia. Sabia que assim que o fizesse começaria a chorar feito criança. Deveria ter sido mais verdadeiro para com as pessoas.

Demorou alguns minutos até que conseguisse tomar coragem e fazer a ligação. Abraçou o travesseiro, mordendo o lábio inferior com mais força a cada bipe não atendido. Era oficial, Kyungsoo estava farto de suas bobagens.

Caixa postal.

Tentou mais uma vez.

Quem fala é o Kyungsoo. Bom, se é tão importante assim talvez você devesse tentar deixar uma mensagem. Ou não.

Esperou a mensagem terminar. Que se foda.

— Kyungsoo… — murmurou, as lágrimas começando a escorrer pela ducentésima vez naquela semana amaldiçoada. — Droga, eu errei. Errei tanto! Eu não a amo, nunca amei-a e tenho medo de machucá-la.

Soluçou, demorando um tempo anormalmente grande para conseguir falar cada palavra com clareza. Estava há meses em um relacionamento com uma ex-colega de classe do ensino médio, uma garota de sorriso gracioso e um cabelo tão leve quanto a sua personalidade. Queria tanto poder amar ela… não conseguia. Algo dentro de si permanecia apagado mesmo quando segurava sua mão e beijava-lhe os lábios doces. Entretanto, ela gostava tanto de si! Tanto quanto não conseguia amá-la, não conseguia deixar ela. Não sabia como.

Respondeu a última mensagem da garota, que nada mais era além do início de uma DR, com um eu não aguento mais e desistiu. Sempre fora um especialista em desistir.

Jogou o celular ao seu lado e encarou o teto por algum tempo, tentando parar de chorar. Milhares de pensamentos lhe acometiam e nenhum deles era positivo. Por mais que quisesse viajar por qualquer ideia interessante, qualquer lembrança minimamente engraçada, lá estava preso a si mesmo e suas péssimas escolhas.

Um casaco grande, pastilhas para a garganta, um isqueiro caso alguém precisasse acender um cigarro. Baekhyun decidiu que não carregaria nada além daquilo, que até mesmo o celular ficaria em casa naquela noite  — gostaria de ser um homem otimista, focar na ideia de que apenas não queria discursos de Kyungsoo ou resistência da namorada, mas sabia bem que a única razão de ter deixado o aparelho para trás era a de que não queria nada para ser roubado de si além das roupas do corpo porque, afinal, sua dignidade já não tinha ido mesmo?

Os passos do homem foram rápidos nas ruas vazias, motivo pelo qual o ruído dos coturnos contra o asfalto molhado era ridiculamente alto. A chuva fina lavava sua alma e o vento bagunçava-lhe o cabelo como um roçar de dedos suaves. Ele chorava muito, e por chorar tanto conseguiu andar muito até que chegasse em um pub aberto. Suas pernas doíam e arrependeu-se de não ter levado o celular junto consigo; pelo menos poderia pedir um Uber para voltar para casa.

Suspirou, derrotado, e abriu a porta pesada. Enfiou ambas as mãos no casaco grosso, encolhendo-se diante dos olhares pouco amistosos em sua direção. O Byun teve a impressão de estar se assemelhando a um mendigo. Talvez fosse o cabelo bagunçado, talvez fossem os olhos vermelhos dignos de algum drogado.

Ignorou-os e abaixou a cabeça enquanto andava até o único lugar vago da casa, sentando-se timidamente no imaculado estofado preto. Uma moça alta e com aparência ocidental logo chegou perto da mesa, sorrindo de um jeito contido.

— Boa noite, senhor, gostaria de algo?

Baekhyun sacudiu um pouco a cabeça, tentando fazer com que a franja molhada ficasse menos bagunçada. A ruiva riu baixinho, provavelmente o achando um pouco idiota demais.

— Uma garrafa inteira da coisa mais forte que vocês tiverem, por favor.

— A-ah, tem certeza? Não queremos ninguém passando mal aqui dentro, pega mal pros donos… — ela disse, hesitante em anotar o pedido em seu celular.

Ele ergueu o olhar para a moça, lendo a plaquinha com seu nome e em seguida focando em seu rosto. Isso esfriou um pouco seu sangue, já estava prontinho para dizer uns desaforos para ela.

— Escuta… Clara, me perdoa. Eu não sou um bêbado estúpido, não tô nem um pouquinho acostumado a tomar todas e cair. Mas hoje é diferente, não quero sair daqui antes de esquecer o motivo pelo qual eu vim. — disse, apoiando uma das bochechas em sua mão. Clara até achou um fundinho de charme nos olhos molhados e inchados de Byun Baekhyun. — Me ajuda, vai? Só te peço isso e mais nada.

Assentiu, por fim, anotando o pedido e se afastando da mesa.

Baekhyun olhou para um ponto não muito distante, um palco onde um sujeito alto e todo empacotado em casacos ajeitava um aparelho de som para que pudesse tocar. Uma placa no chão anunciava-o como Chanyeol, a voz doce, e naquele momento apenas conseguia rir do quão idiota aquilo soava. O cara era absurdamente grande e parecia ser desajeitado para um caramba, como diabos ele poderia ter uma voz doce?

Uma garrafa de uísque foi colocada em sua frente, já aberta e acompanhada de um copo.

— Jack, hoje nós teremos uma conversa de homens crescidos. — anunciou à bebida, sorrindo de maneira triste.

 

So I kiss goodbye to every little ounce of pain, light a cigarette and wish the world away.

— É, Chanyeol, você até que me entende. — murmurou, a cabeça deitada na mesa enquanto encarava o cantor. Talvez fosse o único cliente prestando atenção nele e sua embriaguez permitia-lhe sorrir um pouco ao ouvir a cantoria. — Mas cigarros são muito ruins. Sua voz é boa.

Falava sozinho enquanto bebia direto do gargalo da garrafa, sentindo o uísque queimar por dentro toda vez que o fazia; toda vez que mandava para dentro mais um gole dava um sorriso e então voltava a chorar por causa da música e por causa de suas lembranças. A cada gole era golpeado com mais uma frustração, mais uma responsabilidade.

I fall asleep in my own tears, I cry for the world, for everyone.

— Eu sou muito sentimental, merda. — balbuciou, sentindo o estômago revirar e pedir um basta de toda a bebedeira. Tinha chegado até a metade da garrafa.

Não queria passar mal porque uma vez que colocasse para fora todo o álcool, não estaria mais naquela vibe na qual se encontrava, e ficar normal era chato, triste e fora de cogitação.

Entretanto, ficar bêbado era igualmente ou até mais triste.

 

Quando estava no palco, costumava viajar a muitos lugares enquanto cantava. Costumava evitar olhar os clientes nos olhos porque eles sempre entendiam como flertes. E, droga, não queria flertar com ninguém.

Naquela noite, foi difícil se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse o cliente da mesa sete.

Ele parecia estar passando por uma grande dor, encolhido sobre a mesa com uma carinha de cachorro abandonado e praticamente abraçado à garrafa. Isso fazia Chanyeol sentir vontade de lhe dar um abraço e deixar que chorasse suas mágoas em seu ombro.

De vez em quando o pequeno bêbado sorria em sua direção e então desabava novamente, sentindo fraqueza na mesma medida em que sentia raiva e tristeza.

Resolveu cantar mais uma canção que estava fora de seu repertório, uma melodia mais triste e mais profunda que as anteriores, cantadas em inglês.

O rapaz se ergueu um pouco, recompondo-se ao ouvir Chanyeol começar a cantar na língua nativa.

E eu não sei quando começou, mas tudo parece ser tão triste… não quero ser tão triste assim.

Observou as reações dele. Ele suspirou e bebeu mais um pouco, mas não chorou. Parecia haver compreensão em seus olhos, e quando encostou a cabeça no encosto do sofá preto estava sorrindo minimamente.

Chanyeol adicionou uma linha ao final da música.

Talvez tudo possa melhorar se eu puder ver teu sorriso por mais uma noite.

Encerrou a apresentação da noite com um floreio na voz, fazendo uma reverência antes de sair pelos fundos.

Estava numa pressa, queria sentar na mesa sete e arrancar do rapaz toda a sua tristeza. Ninguém nunca tinha atiçado sua curiosidade daquela forma, mesmo que no pub aparecessem algumas figuras muito caricatas.

Enxugou o quase inexistente suor de suas têmporas e colocou o óculos no rosto, respirando aliviado. Os finais de semana sempre lhe traziam um gostinho de liberdade.

Saiu da sala de preparo quase que correndo, abrindo a porta e olhando ansioso para a mesa onde o rapaz triste que se encontrava ali apenas alguns poucos minutos antes.

A mesa estava vazia. Nem sinal da garrafa ou do moreno.

Chanyeol encostou no batente da porta, frustrado.

 

Baekhyun ganhou as ruas novamente com a garrafa pendendo de sua mão, cambaleando como um bailarino pela noite fria. O que havia sentido depois que o cantor de voz rouquinha — e que realmente era doce — havia cantado sobre sorrisos e tristeza o olhando de forma tão íntima era inexplicável. Era como se estivesse enfeitiçado por alguma sereia, preso na voz melódica e no olhar carregado de histórias e tensão.

Balançou a cabeça, tentando se manter acordado enquanto praticamente se arrastava de volta ao apartamento. A voz de Chanyeol ainda parecia reverberar por seus ouvidos, acolhendo sua tristeza como se partilhasse dela. E tinha algo… algo de estranho em toda a tristeza que Baekhyun  sentia. Por um momento, sentiu que qualquer um que ouvisse seus motivos o acharia ridículo.

Abriu a porta do apartamento e deixou a garrafa em cima da mesinha da sala, indo direto ao quarto. A cama estava fria e era grande demais para ele ocupar sozinho, o que mais queria era poder se afundar no abraço de alguém. Em seu celular, haviam algumas mensagens de Kyungsoo lhe pedindo para que não fizesse nenhuma bobagem e coisas do tipo. Bufou, enfiando a cara no travesseiro. O álcool lhe deixava mole, anestesiado, e não mais chorou por conta de seus erros. Naquela noite, Baekhyun sonhou com Chanyeol e sua bela voz.

 

Timidamente e sem querer admitir que realmente estava fazendo aquilo, voltou ao lugar no dia seguinte. Dessa vez bebeu menos porque queria aproveitar melhor a apresentação do cantor de meia tigela.

Não, meia não. Inteira. A tigela toda.

Chanyeol exalava inteligência e beleza além de sua voz gostosa de se ouvir, e isso deixava Baekhyun ainda mais frustrado. Cada minuto passado na companhia de sua voz, sorrisos misteriosos e goles de cerveja era mais uma parte de Baekhyun que se rendia aos encantos dele.

Ainda estava triste, muito triste; seu dia fora um inferno não só por conta do trabalho acumulado mas também porque se encontrara com a namorada para discutir a relação. Odiava acima de tudo ter que ver outra pessoa chorar e sofrer e foi um sacrifício gigantesco não ceder ao que ela lhe falava. Gostava da estabilidade que mantiveram durante o relacionamento, mas não podia continuar com ela apenas para agradar a seu ego. Ficar com ela lhe destruía por dentro porque não era o que queria de fato.

E também teve o caso com Kyungsoo… ouvira tanto dele quando chegou no trabalho que seus ouvidos ainda apitavam em dor. Não estava em posição de reclamar, sabia disso.

Se encolheu sobre a mesa, suspirando. Mal tinha se recuperado da ressaca do dia anterior e já estava mandando sua consciência para o saco uma outra vez.

Chanyeol lançou mais um olhar demorado em sua direção enquanto cantava os últimos trechos de uma música romântica. Falava sobre abraços, sobre amores platônicos e era a música mais bonita que Baekhyun já teve o prazer de ouvir.

Soube assim que ficaram se encarando por algum tempo que teria que fugir antes que ele encerrasse sua apresentação.

E assim o fez por uma semana inteira. Evitou-o, correu pela rua tarde da noite.

Não fazia por mal; por dentro, estava morrendo de vontade de chamar ele para conversar e bater um papo sobre música e sobre a voz dele, mas não podia. Corroía-lhe pensar nisso porque tinha a sensação de que estragaria tudo como sempre fazia. Como fez com a ex e com tantas amizades e amores antigos. Dormia com esse peso na cabeça, revirando-se na cama milhares de vezes até conseguir pegar no sono porque o maldito não saía de seus pensamentos independente da quantidade de álcool que consumisse.

Não que estivesse romanticamente interessado no cantor do pub. Estava… interessado.

 

Chanyeol, em seu quarto, segurava uma lanterna por baixo das cobertas enquanto descontava as frustrações em seu caderno de composições. Não queria acordar Sehun, seu colega de quarto, mas também não queria perder seus minutos de inspiração. Pensava no cliente da mesa sete sorrindo para si enquanto cantava as músicas e escrevia sobre aquilo. Experimentava há dias a sensação de ser ignorado, já que ele sempre se levantava e ia embora antes que pudessem se falar.

Pela letra da música, perguntou ao garoto quando foi sua última noite de sobriedade e quais eram as lástimas por trás de suas lágrimas tão abundantes e sofridas. A ponta de seu lápis transbordava poesia melancólica, cheia de sentimentos confusos e impossíveis de ser correspondidos.

Ah, se ele soubesse o poder de seu sorriso!

 

Demorou horas até resolver voltar ao pub. Quando se viu noite adentro sem sua dose diária de melodia e tranquilidade, já não se reconhecia mais. Saiu de moletom da cabeça aos pés, o par velho de all-stars fazendo um barulho engraçado toda vez que pisava nas folhas secas que o outono havia derrubado impiedosamente nas calçadas que antecediam o pub já conhecido.

Sorria feito criança. Lentamente viu seus dias começando a ficar um pouquinho mais suportáveis, por mais que atravessasse a maioria deles como dores de cabeça infernais.

Abriu a porta pesada, esperando que seus ouvidos se enchessem com a boa música. Não foi o que aconteceu.

Clara ajeitava as cadeiras em cima das mesas, provavelmente na etapa final de limpeza, e Chanyeol fechava o caixa.

Baekhyun corou quando percebeu que chamara a atenção de ambos.

— Senhor, nós já estamos fechando, nos desculpe. — Clara se adiantou ante a expressão perdida do cantor ao encarar o pequeno à porta.

— Sim, claro. Poxa, me desculpem. — murmurou, franzindo o cenho. — Eu vim, hm, escutar música.

Virando-se de costas, Chanyeol sorriu para o chão. Havia passado a noite todinha em cólicas porque o cliente não tinha aparecido, mas lá estava ele. Falando que desejava ouvir música.

— Entendo. Amanh-

— Clara, se quiser ir para casa, pode ir. Eu canto mais uma para ele e encerro o expediente. — Chanyeol interrompeu, sorrindo docemente para a moça. Baekhyun terminou de entrar no pub, encostando-se na parede ao lado da porta.

— Toma cuidado, Yeol. — pediu-he antes de sair pelos fundos, deixando o pano que usava para limpar as mesas e o produto de limpeza em cima do balcão.

Observou o cantor pegar o pano e guardá -lo atrás do balcão cuidadosamente, como se os seus movimentos fossem premeditados. O Byun enfiou ambas as mãos nos bolsos da calça de moletom, a timidez surgindo e comendo aos poucos todas as palavras que queria juntar e usar em qualquer frase que pudesse quebrar o silêncio.

— Eu não mordo, sabe? — disse o maior, se debruçando sobre o balcão para olhar melhor o outro. — Pode chegar mais perto, afinal você já admitiu que vem aqui para me ver.

Baekhyun acabou se aproximando de verdade, sério.

— Seu ego é incrivelmente grande.

— Só quando estimulam ele. — riu, puxando um copo e abrindo uma latinha de suco de maçã. — Desculpa, não deve ter sido uma boa primeira impressão.

— Não foi a minha primeira. — respondeu rapidamente, focado em olhar o suco sendo despejado no copo com curiosidade. — Minha primeira impressão sua foi a voz. Não me lembro de muita coisa daquela noite.

Chanyeol empurrou o copo em sua direção; permitiu-se dar uma espiadinha nele, se demorando nos olhos rasgados e escuros, no cabelo bem-assentado e na boca atraente. Ele era sensual, mas não de um jeito que instigava os desejos sexuais de Baekhyun. Ele só era lindo, sensual e estranhamente fofo ao mesmo tempo. O estômago do mais baixo estava uma bagunça.

— Eu realmente vou cantar pra você, mas… não vou deixar você beber, ok? Não te conheço, sei disso e sei que não sou ninguém para te pedir isso, porém eu quero que fique sóbrio hoje. — segurou o copo de vidro entre os dedos finos enquanto prestava atenção no que o outro falava.

— Não tenha a ideia errada de mim. Estou passando por um momento meio frágil, juro que não sou alcoólatra. A questão é que as decepções são mais fortes que as dores depois da bebedeira.

Chanyeol riu baixinho, saindo de trás do balcão e escolhendo a mesa sete. Sentou no sofá e deixou o violão ao seu lado, esperando que Baekhyun sentasse à sua frente.

— Você quer conversar sobre isso?

— Qual foi a sua primeira impressão sobre mim? — indagou, tentando evitar a pergunta.

— Seu sorriso. Você tem o sorriso mais bonito de Seul. — retrucou tão rápido quanto a pergunta veio, como se estivessem jogando.

O sorriso que nasceu nos lábios do Byun foi involuntário.

— Eu só faço merda. — concluiu, tomando um gole do suco.

— Suponho que seja alguém cheio de frustrações e que não sabe mais onde enfiar a cara.

Ele se encostou na parede, deixando a cabeça deitada na mesa como fazia nas noites em que ouvia Chanyeol cantar.

— Não queria chorar hoje. Meus erros me tornam desinteressante?

— Não sei quais foram eles, mas você jamais se tornaria desinteressante. — murmurou, com vontade de estender a mão e acariciar o cabelo do outro.

Baekhyun gemeu de frustração, perdido em pensamentos. Chanyeol era tão doce quanto sua voz.

— Bom, quer ouvir uma música? — assentiu, ajeitando-se no sofá.

— Qual é o nome da música? — indagou enquanto Chanyeol pegava seu violão.

O maior parou por um momento, parecendo estar em dúvida.

— Como você se chama?

— Byun Baekhyun.

— Então o nome da música é Byun Baekhyun.

Arregalou os olhos, surpreso. Ele tinha escrito uma música para si? Logo ele, Byun Baekhyun, santo das causas perdidas?

Antes que pudesse contestar o título, Chanyeol começou a cantar.

 

May he turn twenty one on the base at Fort Bliss

Just today he sat down to the flask in his fist,

Ain't been sober, since maybe October of last year.

Here in town you can tell he's been down for a while,

But my God it's so beautiful when the boy smiles,

Wanna hold him, maybe I'll just sing about it.

 

Aplaudiu assim que eu voz e o som do violão morreu, os olhos ardendo.

— Essa música é pra mim, mesmo?

Chanyeol deixou o violão de lado, levemente envergonhado. Tinha sido uma declaração e esperava que o menor tivesse entendido.

— Para o meu amor platônico da mesa sete. — confirmou, sorrindo.

— É assim que você leva pessoas pra sua cama? — brincou um pouco nervoso demais para aceitar.

— Não levo ninguém pra cama, Baekhyun. Só se for pra abraçar e apertar a noite inteirinha e ainda encher de carinho.

Ao finalizar a fala, cruzou os braços em um tom de desafio.

— Já passei dos vinte e um.

— Foca na mensagem da música, meu Deus.

— Então você gosta do meu sorriso e quer me abraçar?

— E não quero te ver chorando nunca mais. — acrescentou com uma risadinha.

Baekhyun se levantou de supetão e deu a volta na mesa, sentando-se ao lado do maior. Chanyeol passou o braço ao redor do ombro dele, sentindo-se incrível só por aquele feito. Quantas horas havia passado imaginando um momento como aqueles? O menor se aconchegou no peito dele, fungando.

— Você vai achar muito ruim se eu disser que estou com vontade de chorar? — indagou, sentindo na palma da mão o quão bom era firmar-se à cintura do outro. Se soubesse, não teria fugido nas outras noites. Céus, Park Chanyeol valia cada erro.

— Pode chorar, Baekhyun.

 

Seria mentira dizer que tudo havia ficado bem depois da noite em que acabou conversando com o músico. Na realidade, custava a acreditar que tudo aquilo realmente estava acontecendo: as declarações, mensagens no meio da noite e muitos, muitos sorrisos bonitos no meio das apresentações.

Continuava achando que estava preso no dia em que tudo desabou sobre seus ombros e constantemente sentia o peso daquilo. Fosse através dos olhares enviesados que Kyungsoo lhe lançava quando tocava no assunto Chanyeol, fosse quando via o maior. Passaram-se semanas, um mês ou dois onde tudo o que conseguia fazer era abraçá-lo. Não que fosse um abraço ruim. Os abraços do Park eram os melhores de todos.

Infelizmente, estava convencido de que estava fadado a quebrar e estragar tudo no que tocava, e isso incluía seu relacionamento com ele. Desviava do assunto com maestria, mas estava louco para desistir daquelas ideias bobas.

Aprendeu um pouquinho sobre a rotina e os sinais dele. Se estava lhe mandando uma mensagem muito tarde da noite provavelmente não estava conseguindo dormir por conta de provas ou algo do tipo, se era uma mensagem antes do trabalho era porque estava pensando nele. Ledo engano, porque Park Chanyeol pensava no cliente da mesa sete vinte e quatro horas por dia, sem pausas. Morreria por um beijinho daqueles lábios bonitinhos.

Esporadicamente convidava-o para visitar o dormitório. Sehun quase sempre estava junto, com as piadas atravessadas e risadas escandalosas. Bom, o pobre coitado não tinha culpa; em público, Baekhyun jamais parecia estar na mesma sintonia que o outro.

— Já vai? — o menor perguntou, jogado na cama de Chanyeol.

— Claro, a festa não começa até eu chegar.— brincou, acenando para o colega de quarto.  — Não cheguem perto do meu notebook. Meu filho.

Riram um pouco da fala dele assim que saiu do quarto, e logo o riso do Byun morreu.

— Yeol, o que está fazendo?

— Tentando compor. — respondeu de maneira breve, sem tirar os olhos do notebook.

Baekhyun suspirou e deitou a cabeça em seu ombro, fazendo ele se retesar por um instante.

— Não está conseguindo inspiração?

— Infelizmente, já escrevi muitas, muitas vezes sobre o seu sorriso. — lamentou, olhando para o outro. Conseguia sentir a respiração dele em seu pescoço, calma como sempre.

— Idiota. — sorriu, evitando olhar nos olhos de Chanyeol. — Acho que você poderia escrever um pouquinho sobre você. Tipo um auto-retrato. Você também tem um sorriso muito bonito, uma voz linda e…

— Baek. Olha pra mim, por favor?

Arriscou um olhar. Só um. O maior estava perigosamente perto.

— Hm.

— O que estava falando?

— A-ah, sim. Seus olhos parecem estrelinhas bem bonitas, suas bochechas são fofinhas e suas pernas são engraçadas. — continuou sem parar de sorrir. — Desculpa sobre as pernas. Você é todo lindo. Eu tenho até um pouquinho de inveja porque não sei lidar com tanta beleza assim, quando a gente sai na rua eu acho que ficam querendo te roubar de mim e...

— Por que nunca me beijou? — cortou ele novamente, rindo de sua confusão. Era adorável.

Se precipitou e inclinou-se em sua direção. Beijou-lhe os lábios brevemente, deixando para trás um formigamento gostoso em ambos os lábios e um sorriso muito bonito no rosto de Chanyeol. O sorriso mais bonito de todos que havia recebido até então, que fez o Byun desejar ser o motivo por trás de toda a futura felicidade do Park.

— Porque eu tenho medo de me viciar em você, seu idiota. — murmurou de um jeitinho gentil. Tinha medo de fazer merda e acabar com tudo em um piscar de olhos como só ele sabia fazer.

— Eu quero que você se vicie em mim.


Notas Finais




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