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História Fated - II- Mantenha-a sobre seu campo de visão;;


Escrita por: Rose-chi

Notas do Autor


Após edições, reedições, sangue, suor e outros fluidos corporais, enfim mais um capítulo! Este com participação da @Jhouhi na betagem dele. Obrigada mesmo pela sua ajuda! ^^

E a vocês que aguardaram, agradeço de novo pela paciência que tiveram (ou não) e, novamente, pelo apoio! Qualquer erro ou dúvida, sintam-se livres para me contatar.

Capítulo 3 - II- Mantenha-a sobre seu campo de visão;;


Fanfic / Fanfiction Fated - II- Mantenha-a sobre seu campo de visão;;

17/Dezembro/52º Período- 14:38 (GMT +9, Tokyo)】

No lado de fora, o dito ônibus é um de turismo de dois andares. Seu design externo é de uma altura óbvia e evidente, cujo o teto poderia certamente ficar rente aos limites dos túneis. Ele possui a tintura em dourado-escuro, quase indo para um marrom, e uma faixa num cinza suave, em forma de onda, ao longo da lateral dele. Não é o ônibus de turismo mais chamativo, mas não deixa de ter uma aparência de recém fabricado. Não só pelas laterais, mas como os pneus, que também estavam limpos e em bons estados. As janelas, por outro lado, possuem o vidro escuro espelhado, que impossibilita a visão de quem está do lado de fora, mas não se diz o mesmo para quem está dentro. 

Onde tem um design um tanto semelhante aos ônibus tradicionais: os assentos de encostos brancos, com almofadados em preto, enfileirados para frente, com capacidade de até duas pessoas cada um; não existindo, no entanto, cadeiras preferenciais ou altas. Mais trás, o último assento é o único que se estende de um canto ao outro, se assemelhando ao de uma limousine. O piso é na cor azul-claro, com listras horizontais de tom mais escurecido, enquanto as laterais são forradas por um veludo verde-escuro. Em uma dessas laterais, inclusive, há uma escadaria embutida com os degraus em vermelho, também com veludo por cima, qual contrasta com o azul do piso. Uma mão única até o andar superior e ainda ressaltado pelas luzes de led entre as quinas.

Um par de coturno vermelho-vinho de cano baixo e três centímetros de plataforma preta pisa acanhamente no chão listrado. Cor do calçado que casa bem com sua jeans e a blusa de manga pretas, onde está escrito o logo da antiga banda de rock Melvins e a silhueta dos representantes em branco. Sobre esta blusa, ela puxa um pouco as mangas do casaco verde-musgo de tonalidade opaca, vez que a climatização do lugar é fria o suficiente para ter certeza que, ao menos neste ponto do seu vestuário, ela havia acertado quando supôs que apenas as mangas longas da sua camiseta não seriam o suficiente para impedi-la de sofrer uma hipotermia. Quem é o maluco que põe o ar-condicionado em temperatura baixa no inverno? E piora ainda mais a situação pela garota ser magra, embora atlética, de pele bege-média, que deixaria seu nariz vermelho em questão de segundos, cabelos curtos e olhos na cor verde-azulada; cabelos estes que possuem duas mechas mais longas nas laterais de seu rosto, que moldam mais a delicadeza deste.

Ela para seu andar com o fim de observar o ônibus como um todo, antes de retomar a caminhada direta ao primeiro assento mais conveniente para si, colocando a maleta, não pesada o suficiente para dissuadi-la de levá-la para todos os lados, sobre o outro banco. 

Havia um limite para o quanto alguém poderia se afastar de sua arminha de estimação. E, decididamente, a garota assemelhava-se a Kyra e Saori quando se tratava de seu fuzil de precisão dentre a espuma perfilada dentro da maleta.

— Olha só! — Vem a voz animada de Edna, que também parece interessada em caminhar pelo ambiente “exótico” — E tem até andar de cima! Eu fico na janela, falei primeiro! — Não há quaisquer tipos de hesitação ou dúvida em sua movimentação animada, enquanto observava a escadaria. Muito menos ao encarar duas de suas companheiras, Saori e Amelie.

A britânica apenas fecha o rosto ainda mais com o comportamento da loira baixinha, cética demais para se deixar levar pelo impulso cego da infantilidade. Mas não apenas pela nanica reivindicar um lugar como seu, como também fica em dúvida do motivo de estarem ali, para começo de tudo. Seu cérebro vagou para todas as situações que a levaram a continuar sua existência desde que pisou no saguão. Se fosse para ser a única alma sensata e que realmente questionava as atitudes dos outros ou ter que aturar pessoas tão imprudentes por uma viagem inteira, talvez não fosse má ideia apenas chutar o balde. Por que raios ela obedeceu tão cegamente o Ditador e entrou naquele ônibus? O melhor que poderia ter feito era correr como nunca, uma vez que saísse daquele prédio. Agora, com as outras jovens atrás de si e com Tougo supostamente na entrada, é tarde demais para executar seu plano de fuga.

— Que bom para você. Vai ficar em uma de tantas janelas do ônibus. — Há um pouco veneno em sua voz, sendo ela tão sincera que mal notara as palavras que saem dos seus lábios. Felizmente, ou não, é um comentário apenas. O tom ameno e baixo, sutil o suficiente para ser entendido apenas pela destinatária. A última coisa que desejaria seria algum drama a mais antes mesmo de começarem a andar.

— Inveja, lindinha? — Edna responde com o cinismo puro que decora as duas palavras; o código escondido sendo bem captado por ambas que conversam: “Fica fria querida. Eu também não gosto de você.”. Seus olhos assumem um brilho mais gentil ao olhar para Saori, ao mesmo tempo em que o sorriso verdadeiro retorna para sua face. — Não se preocupa! Na volta eu troco de lugar com você.

— Seu lugar pode ir se foder junto com você. — A resposta curta e grossa de Saori quase faz Amelie cobrir a boca para impedir a risada. Quase. — Sério?! — Prossegue, agora aumentando o tom de voz para entendimento de todas ali presentes. — Eu sou a única que acha estranho estar sendo enviada como gado para o abatedouro? Ele nos chama até aqui, com a única desculpa de fazer uma prova que, por sinal, não tem prêmio nenhum e eu vou ser a única pessoa a se perguntar “Hey, o que será que esse merda quer?”? Nenhuma de vocês têm a capacidade de perceber que geral pode tomar no cú e nem saber por quê?

— Sabia que isso viria à tona. — O tom indiano despreocupado de Nadira é a única coisa a preencher o ambiente após o discurso da Collins. A jovem nem se dá mais ao trabalho de continuar o comentário, preferindo muito mais limpar as lentes do seu óculos a ser o próximo alvo dos insultos da outra.

Todo o restante das moças, no entanto, desperta-se com as palavras de Saori, se dando conta de que, talvez, a presença de uma recompensa não fora algo dito pelo Ditador em nenhum momento da pequena palestra dele. 

Afastada das outras, mas prestando atenção na situação atual, a jovem Akemi apenas ouve o burburinho crescer entre alguns grupos de colegas pré-formados e, assim como Nadira decidira fazer, concentra-se apenas em observar a semente lançada gerar frutos. Não precisaria intervir se apenas aguardasse a resposta alheia para o seguinte passo. Simples!

Uma outra figura feminina, de pele negra e feições maduras que indicavam estar na casa dos 22 anos ou menos, apesar de sua real idade estar entre os 25, ergue a coluna, pronta para protestar contra a dona da cabeleira roxa. Seus olhos verdes analisam irritados a fonte de toda aquela repercussão negativa, claramente descontente com as palavras maliciosas, como uma fiel ao seu líder não poderia deixar que uma qualquer manchasse a imagem de seu Ditador. 

Ao mesmo tempo, Kyra acaba de entrar no ônibus, levando apenas alguns segundos para perceber o clima pouco amigável, a tensão tão espessa que acredita que poderia cortar com uma faca. Novamente lidar com a aglomeração dividida em opiniões, agora no corredor do veículo? Não, obrigada. Ela se vira para sair do veículo, mas assim que vê Tougo, gracioso e perigoso como se faz de costume em um nobre vampiresco, entrando logo atrás de si, repentinamente decide que é melhor voltar para as garotas.

Entrando no meio da confusão para sua proteção — e, potencialmente, a do Ditador também — ela já esperava que a adição fosse brusca o suficiente para arruinar as chances de passar despercebida, com um pequeno grupo dessas garotas sendo vítima de seus esbarros desajeitados. Todavia, ela recupera a discrição, ao notarem a figura do Sakamaki entre a divisa da cabine do motorista e o lado das passageiras. O silêncio volta a reinar no ambiente e desta vez, milhares de vezes mais desconfortável. E como não poderia ser? O vampiro definitivamente tinha escutado o tumulto que se seguia e com certeza tiraria satisfações tanto com Saori como com todas as envolvidas.

Algumas garotas encolhem-se envergonhadas, o peso na atmosfera fazendo parecer como se fossem filhas sendo pegas em flagrante pelo pai. Outras apenas se calam, erguendo os queixos, recusando-se a ceder. Mas todas receosas com qual viria a ser a reação dele diante um detalhe questionável, que seria a respeito da recompensa após uma prova que prometeria ser exaustiva. 

— Chegou ao meu conhecimento que alguns detalhes mínimos não foram devidamente explorados em nosso primeiro… Contato. — Seu tom é calmo, contido. Semelhante a um professor de jardim de infância, ensinando uma criança a pegar nas tintas pela primeira vez. Os olhos dourados viajam entre as figuras a cada letra falada, como se estivesse calculando mentalmente de antemão quantas provas cada uma delas sobreviveriam. — Mas serei breve a voltar a informar que tudo tem seu determinado tempo. Vocês saberão o que precisam saber e isso será revelado aos poucos. Mantenham suas cabecinhas lindas limpas dessas preocupações, então. — O homem sorri falsamente, de uma forma que fez o coração de todas perder uma batida. De alguma maneira elas sabiam que mesmo com todo o armamento que tinham ali, se tentassem algo contra aquele cara seriam mortas em um piscar de olhos. Saori aperta a mão em punho, sua teoria estava certa, afinal de contas, em qualquer outro momento ela riria e gritaria isso para o mundo, mas naquele em específico a arroxeada não conseguia parar de refletir se realmente havia sido uma boa ideia seguir até ali apenas para confirmar suas suspeitas. — Dito isso, existem algumas... peculiaridades finais que precisam ser tratadas antes de eu deixá-las caminharem com suas frágeis perninhas até seus objetivos finais. — Seu tom é cordial, mas não exatamente de uma maneira confortável; era como se um assaltante estivesse com uma arma na sua cabeça lhe desejando um “Bom dia”. — A primeira delas é que a cooperatividade e lealdade de todas vocês é um bem necessário, não gostaríamos que algo ruim ocorresse por motivos triviais e completamente evitáveis. — Ele gesticulou com a mão direita para as presentes um tanto entediado. — Contudo, caso ainda existam aquelas que tomem partido para impor a todas vocês uma situação indevida, infelizmente teremos de corrigi-las de formas não muito confortáveis. — Ele sorri falsamente, enquanto muitas delas engolem seco, não estando nem um pouco dispostas a saberem que formas seriam essas. — Acredito, no entanto, que tal artifício não será necessário, pois a recompensa deve ser mais que suficiente para mantê-las interessadas. E obedientes. — O vampiro podia sentir o odor claro de medo e excitação, internamente alegrando-se com o quão bem reagiam até o momento. — Ou haveria aqui alguém que não está disposta a ter seu Distrito livre da presença de tudo “sobrenatural”?

— Espera… ‘Tá falando sério?! — Saori foi a primeira a se manifestar, seus pensamentos indo em tantas direções ao mesmo tempo que se lhe contassem naquele momento que tudo não passava de um delírio seu, ela acreditaria. O medo da punição e o desejo da vitória inflando seu ego com o orgulho cego de que seria capaz de ganhar qualquer coisa que mandassem contra si, custe o que custar. — Você vai sumir com os zumbis do Distrito 2 se a gente ganhar?

— Vocês têm minha palavra e minha garantia. — o homem falou olhando para a arroxeada, mesmo que ela não confiasse nele havia algo em sua forma de falar que a fez acreditar que ele não falharia com essa promessa. — A outra peculiaridade é que não vou precisar ou exigir que um grupo inteiro consiga passar, basta apenas uma da equipe na fase final para que consigam a vitória, somente uma da equipe conseguindo passar com êxito, poderei considerar essa recompensa a todo seu Distrito. O que vale dizer também é que não é necessário que exista uma única vencedora, quando podem ter várias. Quanto mais “representantes” de algum Distrito vencerem, mais podem ter sobrenaturais dizimados. — Ele dá uma breve pausa, confirmando se todas estavam entendendo até o momento. — Outra coisa, depois de vocês terem entrado no Aruhai, eu modifiquei os sinais de seus UKeitais. Agora, vocês não poderão se comunicar com ninguém de fora, até o final da prova. Nem enviar mensagens, fotos, vídeos... Nada.

— Tava bom demais pra ser verdade... — Resmunga a jovem esverdeada para si mesma. Ainda assim, não haveria notícia que tirasse o fato de ter uma chance de poder eliminar os ghouls do seu continente. Imediatamente, ela planta na sua cabeça que deveria fazer o triplo do melhor que já faz, quiçá até o quádruplo, para vencer os testes iminentes.

— Apesar de serem permitidas de se comunicarem com suas colegas, barra, amigas de Distrito, para prevenção de “spoilers” sobre os testes que irão realizar durante a prova, é proibida qualquer comunicação com colegas de Distritos diferentes. Isso é mais para evitar que vocês deem vantagem a outros membros de outras equipes. Lembrem-se bem: além de ser uma prova de resistência em grupos, vocês estarão competindo umas com as outras. Vocês entenderam os termos até agora?

As garotas não têm mais coragem de falar um a. As orientações que Tougo dá mexem com a ansiedade da maioria delas de forma que, literalmente, as deixa sem fala. Nesse meio, no entanto, Nadira resolve ter um destaque entre as outras, assim que levanta a mão e Tougo diz seu nome, a permitindo falar:

— O que o senhor disse agora há pouco me lembrou que você faz essa prova a cada seis meses. Mas até agora, não ouvi nada sobre nenhum distrito ter tido a população sobrenatural extinta. Perdão o desrespeito contra sua pessoa, depois de tudo, mas não me convenço dessa dizimação que o senhor garantiu.

“‘Senhor’? E ele merece tanto respeito assim? Ele até falou que tava foda-se pra formalidades.” Saori morde os lábios, pensativa, enquanto fixa o olhar nas listras do chão do ônibus. “Mas é. Acho que me precipitei, pensando que ele ia fazer alguma coisa contra aqueles zumbis.”

Tougo diminui o sorriso em um lado dos lábios, aparentando estar deveras intrigado com a performance das humanas convocadas dessa vez. Porém, segundos depois, fica com os lábios retos, assim como as sobrancelhas abaixam, de forma que passa uma ponta de (falsa) compaixão.

— Por isso mesmo, essa prova acontece a cada semestre. Até agora, nos últimos cinco períodos, nenhuma ainda conseguiu passar nos dois testes finais. Eles são, sim, bem difíceis, mas não quer dizer que são impossíveis. E espero verdadeiramente que vocês consigam. No pior dos casos, só no semestre que vem, com mais outras candidatas.

— Deveria então convocar alguém mais preparado, não? Quero dizer, eu, particularmente, não sou muito boa em testes físicos. — Nadira volta a argumentar. Mentalmente, a mulher grita para si mesma calar a boca, receosa que tantas dúvidas assim possam irritar o Ditador desde já.

Apesar de conseguir algumas fãs com essa atitude. Harumi, por exemplo, é uma das que sorri pelos argumentos apontados pela sua colega de Distrito. Até que ela lhe aparentava ser bem útil, se dependesse de estratégia, contanto que não houvesse conflitos quando planejá-las. Caso contrário, essa colega poderia se tornar sua rival.

— Se eu convocasse pessoas especializadas, elas iriam fazer falta no grupo que contribui no combate de alguma criatura sobrenatural do seu respectivo Distrito. — Tougo diz tranquilamente. — Então permita-me responder corretamente sua pergunta, com outra pergunta: não seria uma perda maior chamar essas pessoas especializadas, para no fim receberem a recompensa? Isso, se forem capazes? Quem é especializado em um único Distrito, não é conhecedor de outro, certo? — Tensa, Nadira franze as sobrancelhas, pensando bem no que ele queria dizer com “perda”. — Claro, vocês são seres humanas e têm suas próprias histórias. Mas como sobreviveram às criaturas-símbolo dos Distritos, é porque vocês têm o que é preciso para passarem nos testes.

— Estamos prontos, senhor. — Ritsu aparece atrás do Ditador, com o anúncio que Ethan estaria pronto para dar a partida. Tougo, por sua vez, olha brevemente para a assistente e confirma ter ouvido sua mensagem, então vira-se novamente para as mulheres, enquanto a outra dá meia-volta.

— Bom, sentem-se onde quiserem, seja aqui ou no andar de cima. Se seguirem bem minhas instruções, poderão se sair bem. Por hora, só peço que aguardem até chegarmos no avião.

As garotas começam a se espalhar pelo ônibus, a fim de procurar um bom lugar para se sentarem após todo aquele momento de tensão, enquanto Kyra pôde respirar aliviada de sair daquela multidão. Porém Saori permanece parada e toma coragem para perguntar algo um tanto mais arriscado quanto às dúvidas de Nadira.

— Só mais uma coisa, antes disso. O que aconteceu com as outras garotas dos outros semestres? E o que vai acontecer com a gente, se falhar nesses testes?

Como se fosse um animal raro em exposição, as meninas miram os olhos no Ditador, atentas em cada movimento labial dele. A dúvida levantada é de sumo grande interesse às garotas.

— Costumo dizer que há seis coisas podem ocorrer nessa prova. — Nesse momento, o ônibus dá a partida, levando quase todas que permaneciam de pé para trás, devida a inércia. Por algum motivo, o veículo em movimento dá uma sensação de insegurança às garotas, tomado pelo clima de tensão instaurado. Até mesmo com o dia claro e confortável das quase três da tarde, criado para deixar o ambiente mais suave, não é o bastante para as concorrentes dentro daquele ônibus. Tougo, por outro lado, permanece com o rosto tranquilo ao responder. — Da mais branda à pior: Você pode se machucar levemente; pode ter jet-lags; se machucar gravemente; sair infectada de algum lugar; morrer; ou ser possuída.

— C-como?! — A última palavra atinge em cheio Kyra, tanto que murmura, a fim de que ele repetisse. Embora sua coragem para ouvir de novo a tal palavra que lhe causa certo desconforto seja igual ou menor que zero.

—  No caso dessas três últimas circunstâncias, obviamente, elas não podem ser consideradas vencedoras. — Ele complementa. —  E pode ter sido isso o que houve com as anteriores.

— Basicamente... — Saori diz com calma, prendendo sua ira no limite e esperando por um “brincadeira! Hahaha!” da parte dele. — Você tá dizendo... — Ela bufa uma risada forçada. — Que a gente... Tá nessa prova... Pra morrer...!

— Heh. Pode-se colocar dessa forma, também. — Ele dá uma leve risada. De uma forma resumida, seu jogo nada mais é que uma gincana mortal, onde a estatística de vida das garotas diminui consideravelmente. 

Mordendo os lábios inferiores com força, a ponto de interromper a circulação daquela área com os dentes, Saori chega ao limite de sua paciência. Ela engole a confirmação do Ditador com cada bufada pesada, que influencia nas mãos se fecharem mais ainda, qual suas unhas fincam nas palmas. Com o rosto também fechado, ela pega o ar para soltar toda a ira imbutida desde o email que recebera. Tomada por tal sentimento, ela perde a razão e o xinga na sua língua nativa:

— Você... Tá de brincadeira comigo seu filho da puta?! — E a voz se eleva: — E por que caralhos você tá rindo?! Trouxe a gente até aqui pra matar todo mundo! Já não bastou com o quanto você fudeu com a nossa vida, não?!

Ao mesmo tempo que grita com o ditador, suas mãos cerradas tremem, num misto de ódio e ansiedade-- Ansiedade de usá-las para empurrar a cara lavada do vampiro contra o parabrisa do ônibus, desejando que as rodas deste ainda passasse por cima dele. Várias vezes, se possível.

Já na cabine do motorista, Ritsu, que está numa cadeira atrás de Ethan, que é quem dirige, ouve toda a gritaria no sotaque inglês britânico, mas ela parece mais focada em desembaraçar suas ondas castanhas a se interessar por mais uma reação negativa das participantes, simplesmente por saber que elas iriam morrer. Não é o destino natural de todo ser humano, afinal? Já Ethan, dá uma rápida olhada para a demônio e decide comentar com ela:

— Eu falei que sorrir pra aliviar a tensão não ia ajudar.

— Humpf! E eu disse que não era boa com reações humanas. — Replica ela sem parar de pentear seu cabelo. Simplesmente olha para o lado oposto ao homem. — Se alguém... Não estivesse doente no dia, talvez a gente fizesse uma abordagem melhor.

— Ótimo, agora a culpa é minha... — Resmunga antes de encerrar o assunto com Ritsu. Dificilmente esses dois teriam uma conversa tranquila que não acabasse levando para o lado pessoal.

De volta onde estariam as concorrentes, a garota de cabelos e olhos esverdeados de antes, que tanto aparentava certa timidez, levanta do seu lugar e corre numa velocidade equivalente a um jogador de futebol profissional. Rápida o bastante para que só a vejam quando chega próxima a Tougo. Sua mãe sempre lhe dizia para ser grata ao homem, por ser o responsável à prosperidade no Distrito 4, mesmo que a jovem tivesse sempre um pé atrás em relação a ele. Esse anúncio foi o auge que ela teve de aguentar; mil perdões à sua mãe.

A garota levanta da sua cintura uma faca artesanal desembainhada, de cabo braco e lâmina torta, qual usa geralmente para atacar ghouls. Em um movimento ágil, ela levanta o gume na direção do pescoço dele.

Punda! — Xinga-o de “cretino”, em suaíli, enquanto executa o movimento.

—Você deve ser Mkali Obin Soyinka. — De forma despreocupada, ele desvia do ataque da garota, assim como os seguintes. — Estou vendo que tem nervos de aço. 

— Cala a boca! — Mkali continua o atacando e tudo indica que só pararia se o matasse ali e naquele momento.

Tougo, percebendo a insistência da garota, suspira e usa de sua habilidade para se teleportar atrás dela.

— Acredite, — Diz atrás da garota, que sequer tinha começado a suar. — não é de meu feitio entrar em conflitos. E você quer continuar inteira, não é? Afinal, pense: se sobreviver, estará ajudando seu Distrito.

Tanto Mkali como Saori fecham as caras ainda mais, com o mesmo pensamento de matá-lo imediatamente. Mas de certa maneira, ele tinha um bom ponto que as interessava, e este era a recompensa no fim da prova. E se o vampiro não cumprisse com sua palavra, pode apostar que aquelas duas voltariam do inferno (ou de onde acreditam que vão quando morrerem) apenas para puxá-lo junto.

Dando seu discurso por encerrado e com as dúvidas das mulheres tiradas, Tougo se vira e vai até a cabine do motorista, fechando a porta que segrega o interior do ônibus com esta logo em seguida.

Frustrada por nem um fio de cabelo sua faca ter encostado, Mkali a guarda de novo na bainha da cintura e volta ao seu lugar, enquanto puxa o cachecol branco e de uma única listra preta até seu queixo, como mania para indicar seu nervosismo, assim como para se mostrar pensativa. É uma pressão tão grande quanto o tamanho da responsabilidade que tinha. A garota que era o peixe fora d’água de sua cidade, tem a chance única na vida de ser reconhecida positivamente, pelo esforço de ter extinguido todos os ghouls do seu Distrito. Mesmo que isso não fosse trazer a independência dele, já era o primeiro passo de um sonho, antes utópico.

Saori, por sua vez, ouviu que a garota que atacara Tougo – como ela queria ter feito – falava em uma língua completamente desconhecida por ela. Mesmo que no seu falho japonês, gostaria de tentar conversar com tal. Se ambas forem do mesmo distrito, talvez tenha encontrado uma parceira mais eficiente às outras duas que conhecera. Não muito a fim de papo, pois está com a cabeça cheia de informações, ela caminha em direção às escadas. Aproveitando-se que a maioria está sentada, o caminho fica mais transitável para si. 

Lá em cima, ela se encontra com suas parceiras e resolve sentar ao lado de Amelie, qual até a própria se sente atordoada pela notícia que ouvira. Assim como Edna, cuja está no assento do outro lado e se ocupa em olhar para a calçada e os prédios japoneses. As ruas pareciam quase tão verdes quanto as da Alemanha, com flores e folhas de espécies exclusivas. A loira admitira para si mesma que tinha certa raiva do governante do mundo, mas ele ainda impediu um futuro poluente que a humanidade estava caminhando. 

A única coisa positiva da Era Sakamaki que ela poderia se orgulhar é a prática do projeto green city, ou como ficou conhecido durante a dominação da língua japonesa, midori no machi purojekuto. Todas as cidades de todo o mundo, em torno de 16 anos, se tornaram ecossustentáveis, assim como a produção de prédios e vilas verticais também cresceram. Foi a melhor forma de prevenir o aquecimento global e de equilibrar a superpopulação mundial. Especialmente com a criação de ilhas artificiais, que estão sendo construídas e entregues a cada período. 

Embora criar cidades para as populações não ter impedido nos avanços tecnológicos também, como os UKeitais tão falados hoje em dia. No início, as pessoas tinham alta hesitação com um produto microtecnológico injetado em si, mas logo foi ganhando uma legião de usuários que dispensaram os celulares físicos para um holograma no corpo. E a maioria dos automóveis também sofreram com as mudanças, sendo agora movidos à bateria invés de gasolina e a popularização global do sistema ferroviários, principalmente dos trens-balas, até nos países menos desenvolvidos.

— Acho que agora minha hora chegou mesmo. Heh... — Comenta Amelie para Saori, em uma risada fraca e sem graça.

— Não é como se eu fosse sentir sua falta, mesmo... — A Collins comenta de volta.

— Que rude! — Aumenta a voz, olhando espantada para a colega de equipe. — Quero ver dizer isso, quando assistir A Decadência da Princesa ou Anjos da Meia-noite!

— O que é que tem esses filmes?

— Hã?! Como assim “o que é que tem”?! — A garota levanta, em pose orgulhosa e aponta para o próprio peito com a palma da mão aberta. — Você tá olhando pra ninguém menos que Selene Velia e Estelle Castiello! Sinta-se honrada!

— Pfff... Isso acaba de mudar totalmente minha vida... — Saori ironiza, deixando uma pequena risada escapar.

— Pelo menos finge um entusiasmo! — Amelie fala com uma voz frustrada antes de se sentar cabisbaixa, derrotada por pensar não ter conseguido uma fã.

Um breve silêncio fica marcado, então Saori, não querendo que a conversa morra assim, pressiona o dedo direito sobre as costas da mão oposta, assim ligando o holograma do seu UKetai no seu braço. Em seguida, usa um site de busca para procurar por:

— Anjos... Da Noite... — Saori murmura, antes de dar enter. Só a palavra “anjos” é o bastante para Amelie olhar a arroxeada com um brilho nos olhos. — Hã? Mas é uma saga de 2003, sua mentirosa. Hm... Mas parece ter feito sucesso... Vou anotar pra ver... — O brilho empolgado se esvai, dando lugar à cara fechada da russa.

— É “da Meia-noite”! Esse é o filme errado!

— Você também não explica... — E assim, Saori consegue se manter distraída após o estresse que teve com Tougo.

 

[...] 

 

“Machucada”, “infectada”, “possuída” e até “morte”. Essas palavras rondam a cabeça das garotas, deixando até as fiéis ao Ditador, como Miho, abatidas. O pouco silêncio de tensão no andar de baixo é de grande ajuda para a japonesa conseguir absorver melhor as sentenças faladas. Ela se encontra sentada ao lado de sua companheira de Distrito e de sobrenome, com o olhar apontado para o assento na sua frente; um olhar que indica estar distante daquele ônibus. Mais especificamente até sua casa, onde imagina o rosto de uma mulher, que mais parece uma versão madura de si mesma:

— Okaa-san... — Murmura ela, quase em um som inaudível. — Onegaishimasu taisukette...

Constantemente seus lábios repetem o “Mãe... Por favor me ajuda...” em busca dela ter algum consolo, mesmo que inutilmente, pois não poderia ouvir a voz da mulher, tampouco seu rosto consolador, até o fim dessa prova. Sem contar que a pobre Miho é uma garota que teme a morte. Logo, essa prova a colocaria contra um de seus maiores medos e ela sequer começou.

Sua colega, Harumi, por outro lado, também se mostra surpresa pelas condições que envolviam tal prova. No entanto, aquela parece uma proposta interessante e fora da caixa. Isso vale à pena a interrupção de seus estudos em engenharia mecânica, qual cursa para herdar a multinacional de seu pai em breve. Sim, estaria arriscando demais a perder a vida no meio desse tempo que faria a prova, mas ela se considera forte o bastante para passar pelos diversos obstáculos e uma coisa que a Sakurai de cabelos róseos não faria é se abalar, afinal “quanto mais você tem a perder mais sensação de êxtase é recebida”.

Mencionado sobre pai, é a primeira pessoa em quem Akemi pensa. Sua memória do dia anterior está muito vívida da mente da marshallina, que está sentada no último assento do veículo, com Nadira no seu lado direito e Lin e Ramona no esquerdo. Não que fosse de alta relevância quem estaria ou não consigo. A única coisa que está em sua mente é uma única:

Por volta do meio-dia, quando recebeu no celular a notificação da convocação. Ela estava ciente que quem era chamado por Tougo para ir até Aruhai era como uma viagem ao Triângulo das Bermudas: ninguém retornava. Então, assustada, ela saiu de seu apartamento e percorreu ruas e ruas em direção à casa do seu pai. Quando este abriu a porta, sem mais nem menos, Akemi o abraçou, dizendo que o amava e o perdoava. Ela estava desesperada por apoio.

Uma vez mais calma, entrou no seu antigo lar e conversou sobre a tal convocação. O homem, em busca de acalmar o bem mais precioso que restava de sua esposa, beijou sua testa ternamente, desejando sorte e acreditando que ela seria capaz de voltar segura para casa.

— “Voltar segura pra casa” parece impossível, depois disso... — Murmura para si mesma. 

Assim como Miho e até Saori, Akemi também tinha medo de morrer, principalmente quando há tantas coisas inacabadas em sua vida. E ver seu pai novamente está nesta lista.

— Refletindo de novo? Geralmente, parece que quando você reflete, você fala sozinha. — Brinca Nadira, enquanto ajeita seus óculos acima do nariz. A morena apenas encara rapidamente a outra com indiferença, apoia os braços sobre as coxas e olha diretamente para o chão. — Olha, agora que o Ditador disse que não podemos nos falar, vai ficar difícil a gente se ajudar... Bom, mas não é como se eu fosse te deixar na mão. — Com uma mão servindo de apoio, a indiana se aproxima da outra e sussurra: — A depender de como e onde vai ser a prova, exatamente, a gente pode usar códigos ou pistas pra gente se comunicar, sabe?

— Tô nem aí. — Akemi enfim fala, empurrando a colega com o ombro.

— Ah, é? — Se aproxima do ouvido dela de novo. — Até se a gente conseguir achar o ponto fraco daquele Sakamaki?

As íris negras de Akemi rolam em direção à Nadira. Agora, alguma coisa que consideraria uma compensação nessa prova, além da dizimação do seu distrito.

— Tá zoando.

— Acha que só ganhar uma extinção das criaturas sobrenaturais é meu interesse? Eu sou ambiciosa. — Nadira, então sorri de canto. — Quero a recompensa e outra coisa a mais...

Quanto mais Akemi ouve o que a indiana diz, mais desconfiança planta nela. Chega até a desconfiar se ela não iria lhe deixar de lado, uma vez que conseguisse derrubar Tougo... Se bem que nenhuma das duas aparentam aprofundar tanto esses laços de coleguismo.

Do outro lado de ambas, Ramona tenta acalmar o nervosismo de Lin, mesmo que da forma mais insensível possível.

— Se controla e você vai ficar bem. 

— Eu sei que exagerei quando falei que não queria morrer, mas não pensei que fosse sério. — A chinesa coloca as mãos sobre as mechas lisas e escuras do seu cabelo.

— Digam que uma de vocês é do distrito um, pra acalmar essa cidadã. — A outra vira as orbes douradas para se referir às duas primeiras pessoas mais próximas de si. Nadira e Akemi tiveram o azar de serem as infelizes obrigadas a se meterem no assunto alheio.

Esta primeira dá de ombros e sorri levemente antes de responder com um sotaque francês.

— Hehe... Eu sou do Distrito um, mas não sei se vou ser uma boa guarda-costas pra sua amiga. 

— Ah, je vois que tu sais parler français. — Diz “eu vejo que sabe falar francês”, já cansada de usar um japonês tão forçado para se comunicar. — Que ótimo! Aliás, eu sou Ramona Dellarien Bonneville.

— Pode me chamar de Nadira. Espera, Bonneville? Você é filha de Jeanne Bonneville, por acaso?

— A própria arquiduquesa. E do arquiduque Erik Dellarien. — Conta com certa naturalidade sobre sua família. Esse detalhe faz Nadira pensar na hipótese de Akemi, que dizia o fato do Ditador pouco se importar que a jovem seja filha de alguém importante.

“Pensou rápido, Akemi.” Elogia mentalmente a marshallina e a encara, orgulhosa pela velocidade de raciocínio que ela tem. 

Percebendo o olhar para si, Akemi vira a cabeça para a mulher sorridente com uma sobrancelha levantada. Seu rosto claramente evidencia um ponto de interrogação ao que ambas estariam conversando.

 

[...]

 

No assento da frente, está uma mulher de pele negra, com cabelos castanhos-escuros soltos, que vão até o fim de suas costas, e olhos levemente puxados, de cor castanho-acinzentado. Para seus dezoito anos, ela possui um corpo bem maduro e sensual, assim como o rosto. Esta mulher ficou quieta durante toda a discussão que rolava há poucos minutos. Assim como a grande maioria, ela sentia ódio por Tougo, mas não é como se ela fosse ousada o suficiente para encará-lo como aquela estranha ásio-africana, que conseguiu impedir que alguém sentasse do seu lado apenas pondo a mala de sua arma no lugar.

Como está próxima da janela e está estressada pelo fato de estar num transporte público, ela une a mais b e deita a cabeça no vidro, fechando os olhos para tentar relaxar. O pior de tudo é não poder tragar um cigarro ali dentro, por motivos óbvios. Só podia se contentar em tirar um cochilo durante toda a viagem, mesmo.

— Acho que você é a única aqui que está tranquila com toda essa situação. — Brinca a garota de dezesseis anos do seu lado, que fala em um inglês com sotaque diferente do americano. — Mesmo que eu tenha te visto desejando ter laser nos olhos pra derreter o Sakamaki lá no saguão.

A tal garota que ri do próprio comentário é uma de pele alva, com um olhar delicado, de cílios cheios e íris azuis-claras. Seu corpo tem proporções medianas, mas também atraentes. Já o cabelo, o qual ela puxa uma mecha para trás da orelha, é um loiro platinado natural, combinando com os cílios e sobrancelhas, deixando claro que possui albinismo. Para comportar uma aparência mais suave, veste um vestido azul de manga curta e saia até o joelho, qual usa um cinto marrom fino e um casaco longo branco simples, com estampas de flores cinzas nas pontas das mangas boca-de-sino, como também sandálias simples em um rosa pastel.

Look em contraste com o que a afro-americana incomodada usa: uma blusa justa preta, sem estampa, calça jeans branca, botas de cano longo marrons e de salto baixo, uma jaqueta vermelha com detalhes em dourado; cor que também compõe suas pulseiras maxi e os brincos de argola. Ela ainda usa luvas de veludo vermelhas abaixo dessas pulseiras. Por não suportar muito o frio e o clima de fim de outono do Japão, é esperável que a moça as calçasse.

— Não é como se eu tivesse muita coisa pra fazer. — Responde sem muito ânimo à adolescente, olhando-a de canto de olho.

— Pois é. Parece que ou a gente sobrevive, ou morremos tentando. Eu sou Penélope à propósito. — A garota tem uma voz suave, quase parecendo que conversa para si mesma. Como se fosse uma boneca de porcelana, fabricada do modo mais delicado possível, seja no rosto ou na fala. Ela estica a mão na frente da outra, para garantir que ela visse e respondesse ao gesto. — Penélope Evans.

— Jo Jobim. — Embora um leve estranhamento por aquela aproximação, ela corresponde e aperta a mão de Penélope. — Sou do Distrito 5. E você?

— Vejo que agora você acordou, senhorita Jobim. Hehehe... Eu sou do 3. Vim da Nova Zelândia, pra ser mais exata. Moro lá com meus tios, que são músicos. Até aprendi a tocar flauta transversal por causa de tanta influência deles... Bom, sei tocar outros instrumentos também, mas a flauta é o meu favorito.

— Aham...

— Ah! Desculpa... Eu geralmente falo demais, se deixarem... Acho que já percebeu, não foi?

“Acaba logo essa viagem, por favor...” Pensa Josephine enquanto morde os lábios brevemente, mas logo volta a relaxar, acreditando que até poderia ser uma companhia para sua viagem. No entanto, se a neozelandesa se mostrasse animada e otimista demais para o seu gosto, a outra já procura com os olhos algum outro lugar vazio, longe desta. Ela está numa competição, de qualquer forma, não pode se apegar muito às outras pessoas. Sem contar que pessoas tão alegres assim lhe parecem um tanto medonhas.

— Bem, eu não me importo muito.

— Ufa, já achei que estaria sendo inconveniente. Se fosse assim, eu ia parar de falar. — A albina fecha os olhos e sorri alegremente. — Mas pra não ficar só eu falando, me fala de você também, senhorita Jobim!

A outra bufa de forma inaudível, aproveitando que Penélope está de olhos fechados para revirar os olhos e se arrepender imensamente de ter fingido ser educada e sensível.

 

[...]

 

De volta ao andar de cima, está a mesma negra de vinte e cinco anos, anteriormente incomodada por Saori está ao lado de uma outra mulher de 24, quase tão bonita quanto a outra.

— Então está me dizendo que iríamos concorrer ao Miss Universo desse ano? Que conveniente! — Diz a outra mulher, cuja tem a pele bege-clara, com os cabelos ruivos-alaranjados ondulados até a cintura, olhos cor de avelã e corpo bem esbelto. Nele, usa calça amarela-clara, combinando com o casaco de mesma cor e babados brancos na ponta, que é a mesma cor usada na blusa de manga lisa e da sandália de plataforma. Como adereço em seus cabelos soltos, um lenço verde bem suave. — O que foi, Zuri?

Pergunta após ver a colega encarar tanto o assento mais atrás de si. A dita Zuri olha com certo descontentamento para Saori, que chega a notá-la, mas decide por deixar quieto.

— Aquela tal Sasori... Tem algo dela que não me desce... — Ela responde, logo em seguida, cruzando os braços e se virando para frente no seu lugar. Assim, dando mais atenção à colega. Suas mãos chegam a amassar o seu novo casaco de grife azul-marinho, o qual contrasta com seu vestido vermelho-claro de duas peças, onde a parte de cima é mais justa, agarrada ao busto e com detalhes de círculos em bege, enquanto a saia é mais solta, indo até seus tornozelos. Neles, estão amarradas sandálias de plataforma, mas estas no tom marrom escuro. Seus dreads estão amarrados em um alto rabo de cavalo, com alguns círculos dourados ao longo da cabeça, que servem como enfeites. Assim como os brincos de argolas – menores que os da Jo – e a gargantilha tripla, que também eram compostas pelo dourado.

— Ora... É assim mesmo. Deixa ela pra lá. — Do bolso do casaco, a ruiva tira uma base em pó de prata falsa na parte exterior e detalhes como se fossem ramos de folhas em toda a borda, Ao abrir, o lado onde deveria ter a maquiagem, não há mais nada ali. Do mesmo bolso, tira um tubo de gloss usado até a metade. Ela aproveita-se do espelho para se guiar em traçar a ponta do tubo pelos seus lábios. — Ela tava falando direto do “Distrito dois” e sei lá o quê. Ela deve ser de lá, então a gente não precisa se preocupar muito com ela.

— Mesmo assim, Bonita, não sei como o Tougo não calou aquela Sara quando teve a chance. — Zuri cruza as pernas, balançando a que está em cima, para demonstrar sua inquietação.

— Acho que não queria se livrar das concorrentes tão cedo. — Teoriza Bonita, antes de prensar o lábio de cima no de baixo e finalizar com o retoque do seu rosto. — Mas não sei como seu gosto por ele não diminuiu, depois de ouvir o que ele disse.

— Eu lembro da minha avó sempre comentar o quanto ele salvou o Distrito quatro inteiro da pobreza total dele, principalmente nas regiões mais ao sul. — Sentida, Zuri abaixa a cabeça e sorri levemente. — Devo isso a ele, depois de tudo...

— Isso não responde bem minha pergunta... — A outra sorri de nervosismo, mas logo recupera a compostura. — Mas, mudando de assunto, Miss Universo...?

— Ah, sim. Você vai estar concorrendo ao México, não é isso? 

Bonita sorri e assente, então puxa outra conversa com a sulafricana. Não é como se ela concordasse com a fidelidade que Zuri colocava em Tougo, mas não iria armar uma briga por isso. “Quanto mais as coisas se resolvessem pacificamente, menos estresse levaria”, é o que ela diz. Logo se mantém neutra, até amedrontada em relação ao Ditador e a pouca legião de fãs dele.

Zuri, por outro lado, o idolatra, a ponto de considerá-lo um deus, de fato. A mulher acredita veementemente que foi pela dominação dele que pôde nascer em um lar adorável e poder levar a vida com tudo de mão beijada. Coisa que seus bisavós ou avós não aproveitavam, pelo fato de morarem em um dos, até então, países menos desenvolvidos de todo Distrito 4. Logo, se pôde se tornar modelo, Tougo merece os créditos.

 

[...]

 

— Acho que saiu melhor que a última vez. — Tougo comenta, sentado ao lado de Ritsu, quem agora lia algum post numa rede social do UKeitai. 

— O senhor acha?! — Ethan encara o Ditador pelo canto dos olhos, antes de focar na pista com certo movimento de carros, mas nenhum transtorno. Ritsu, por outro lado, levanta a cabeça, com o rosto de “você, nem ouse falar mais nada”. — Elas não pareceram reagir bem, pelo que pude ouvir...

— Ah! Então deu para ouvir daqui? — Tougo ri brevemente. — Bom, em comparação às do semestre passado, essas garotas me atacaram bem menos.

— Devem estar poupando esforço pra prova em si. — Ritsu afirma um tanto orgulhosa por sua sugestão ser bem aceita, embora não demonstre estar. A mulher apenas volta seus olhos à tela em seu braço, enquanto continua a falar: — O senhor deve ficar atento pra que elas não tentem descontar a raiva em si, quando souberem como vai ser a prova. Deveria aproveitar e dizer logo.

— Vamos uma coisa de cada vez, Ritsu. Acho que já estou sendo gentil o bastante, dando as instruções em partes, para que elas não me culpem por se perderem no meio do caminho.

— De fato, meu senhor.

Com Ritsu de acordo com o que seu superior diz, uma quietude tranquila do lado da cabine do motorista se instaura. Em contraste, conversas paralelas e silêncios de tensão tomam conta do lado das passageiras, tanto no andar debaixo como no de cima. Isto tudo, enquanto o veículo caminha a uma velocidade considerável pela rodovia, rumo ao aeroporto: o último cenário que elas veriam antes da prova dar seu início.


Notas Finais


Quanto à OC, Sofia KarlBerg, chamo atenção para preenchimento da ficha. Principalmente nas relações. E para @SweetBloom, peço que me entregue sua ficha assim que possível. De outra forma, substituirei por uma bot. Mais conhecida como "personagem para encher cenário" :T

Qualquer coisa me informem!

Ao pessoal em geral, por guia de curiosidade, como foi dito na fic UKeitai é o novo smartphone da galera, que é injetado e a tela é um holograma que aparece na pele. Pergunta particular em lugar das suas personagens: elas colocariam tais tecnologia no corpo? Se sim, em que parte acha que elas colocariam?
Ressaltando que são bem baratos e fáceis de serem localizados, embora fáceis de se perderem se você se cortar exatamente no local onde foi injetado. Por sorte, vêm uma caixa cheia dessas unidades e você poderá recuperar o acesso de forma mais simples que trocar o chip do celular.

Então, acho que por hoje é isso. Ainda sem previsão do capítulo 3, mas farei o possível para entregar o mais cedo que der.


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