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História Fetish - Chapter 15


Escrita por: MillyFerreira

Capítulo 15 - Chapter 15


Fanfic / Fanfiction Fetish - Chapter 15

— Ai! — Justin reclama, afastando minha mão quando pressiono o algodão no pequeno corte ao lado da sua boca.

— Não seja frouxo, Bieber — aproximo-me novamente. — Deixe-me fazer o meu trabalho e vamos acabar logo com isso.

Ele abre um sorrisinho.

— Do que você está rindo? — questiono.

— Estou imaginando como você deve ficar sexy usando um jaleco — responde.

Reviro os olhos.

— É, eu fico — sou um pouco presunçosa. — E não, não vou me vestir de enfermeira para realizar seus fetiches sexuais — dispenso antes que ele possa fazer alguma gracinha a respeito.

— Ei, eu não tava pensando nisso! — defende-se, mas suas palavras não me convencem nem um pouco.

— Sei… — digo, terminando de limpar a ferida. — Pronto, quase não dá pra ver.

— Valeu — ele agradece e cai contra as costas do sofá enquanto eu guardo os meus brinquedinhos no kit de primeiro socorros. — Parece que você está precisando se livrar do seu emprego urgentemente, não é? — Vira o rosto para poder me olhar.

Sorrio sem humor.

— Nunca pensei que ele fosse fazer algo assim…

— As piores coisas surgem das pessoas mais improváveis — diz ele.

— Tem razão.

Ele faz uma pausa antes de perguntar:

— O que estava rolando entre vocês, afinal?

Suspiro.

— Era só… sexo.

— Não parecia ser só sexo pra ele — retruca.

Suspiro mais uma vez.

Nem acredito que vou contar isso à ele.

— Pra mim, sempre foi só sexo — começo. — Eu não queria me envolver com ninguém, ele também não, então era conveniente… Ficamos nessa por algum tempo, estava tudo bem, estava tudo em sua perfeita ordem, mas ele estragou tudo — lamento.

— Ele se apaixonou. — Não é uma pergunta.

— Eu o avisei sobre isso — lamento mais uma vez.

— Não é fácil decidir o que o coração quer… Pelo menos é o que dizem. Passei 25 anos sem me apaixonar por ninguém — ele parece se orgulhar disso.

— Sério? Você nunca se apaixonou por ninguém? — olho para ele, desacreditada.

— Ahn-ahn — ele nega. — Você já?

— Várias vezes — admito. — Teve o cara da padaria, o meu colega do curso, teve o motorista do Uber, apesar de só ter o visto uma vez, teve o meu vizinho gostoso, ah, também teve o carteiro que…

— Já chega — ele dispensa com uma expressão enojada.

Sorrio.

— Agora sabe como eu me sinto em relação às suas garotas — provoco.

— Você trepou com todos esses caras? — pergunta, incrédulo.

— Não! Mas bem que eu queria…

É a sua vez de revirar os olhos.

— Poupe-me dos detalhes — diz ele.

— Você perguntou, eu só respondi…

Ele se levanta.

— Vou tomar um banho, se não se importa.

— Sabe no que eu estava pensando? — começo, mas ele não para de andar quando pergunta:

— O quê?

Levanto-me a apresso-me para alcançá-lo subindo as escadas.

— Não acha que as pessoas vão achar um pouco estranho a minha hospedagem aqui depois de assumir esse novo relacionamento publicamente em menos de 3 meses? — questiono.

— Ninguém sabe que você está aqui além do James e da sua amiga — responde totalmente despreocupado.

— Mas e se as pessoas começarem a perguntar? E se seus pais vierem aqui? Qual é a explicação que vamos dar?

— Inventamos qualquer desculpa. Isso não é importante — ele cruza o corredor e abre a porta do quarto, apenas o sigo e subo na sua cama enquanto ele fica no centro do cômodo, começando a desabotoar a camisa depois de deixar o paletó pela sala.

— Mas…

— Eu preciso de você aqui, tá legal? — Ele desliza a camisa pelos braços fortes, deixando seu corpo tatuado que mais parece uma tela de arte em exposição. — É mais prático.

Apenas ergo as sobrancelhas rapidamente como resposta. Decido não entrar numa discussão por isso.

Ele tira a calça — mas infelizmente, não tira a cueca — e caminha despreocupadamente até o banheiro. Sou engolida pelo tédio enquanto espero, até alcançar o controle remoto em cima da mesa de cabeceira. Olho ao redor, mas não encontro uma tv. Meio intrigada, começo a apertar aleatoriamente nos botões, até que a parede à minha frente se divide em duas partes no sentido vertical e revela uma tv enorme.

— Achei você… — digo com um ar de vitória enquanto ligo o eletrodoméstico.

Acesso a Netflix e coloco um filme antes de me acomodar confortavelmente sobre os travesseiros na cama. Bieber volta um tempo depois com o cabelo molhado e uma toalha enrolada no quadril. Ele olha brevemente pra mim, mas não esboça nenhuma reação antes de sumir no closet. Depois, volta de lá vestindo apenas uma cueca e se joga ao meu lado na cama… de cueca… Assim não dá, amigo.

— Que filme é esse? — pergunta.

— Sei lá — respondo, tentando não olhar muito para a visão do paraíso ao meu lado.

— Como você coloca o filme e nem sabe do que se trata? — questiona.

— Eu apenas cliquei e pronto, deixa de ser chato — reclamo.

Ele bufa e se acomoda melhor ao meu lado… Não consigo lidar com tanta pele me tocando tão próximo… tão quente… tão… Engulo em seco pelos pensamentos impuros que me consome. Eu não posso ficar imaginando essas coisas com o Justin, queria eu não ter o dedo tão podre para homem, mas ele é tão gostoso…

— Olha, Justin, eu… — viro o rosto, mas dou de cara com seus olhos fechados e sua respiração tranquila… Ele dormiu. Acabo esboçando um leve sorriso, ele parece um anjo quando dorme, tão calmo e sereno… E de repente todos pensamentos que eu tinha antes desaparecem.

Eu deveria ir para o meu quarto agora, mas apenos desligo a tv — não estava interessada no filme de qualquer forma — e acomodo-me melhor ao seu lado, deixando que o calor do seu corpo me esquente nessa noite fria.

Quando abro os olhos novamente, já é de manhã. Demora um segundo para eu me situar no tempo e espaço, mas fico aliviada por estar vestida. Pois é, parece que o bom senso só vem depois… Olho para o lado e não encontro Justin na cama, mas o amontoado de lençóis continuam quente, tão quente… É quase impossível querer levantar da cama agora.

Viro o rosto para o outro lado para tentar enxergar o horário destacado em vermelho no alarme, mas a primeira coisa que vejo é um bilhete com uma caligrafia cursiva no qual diz “Ligue-me”.

Solto uma longa respiração antes de pegar o celular e ligar para Justin.

— Oi… — digo assim que ele atende a ligação.

— Não quero que vá trabalhar hoje. — Ele solta de uma vez.

— O quê? — testo, incerta do que ouvi.

— Não quero que se encontre com o Jake, não vou estar por perto desta vez — seu tom é sério.

— Justin, ele estava bêbado…

— Bêbado ou não, ele tentou te machucar. Isso não deveria ser pretexto para agredir uma mulher — argumenta, e não posso deixar de concordar.

— Tá, mas e o meu emprego?

— Eu vou cuidar para que você tenha um novo e que comece a trabalhar na próxima semana.

— Promete? — insisto, meio cautelosa.

— Prometo. — Ele não hesita.

— Eu preciso ir lá de qualquer jeito, Justin. Preciso pedir demissão e pegar as minhas coisas — digo.

Ele leva alguns segundos antes de ceder.

— Certo, mas leve Taylor com você.

— Eu não preciso de escolta — retruco.

— Por favor. — Ele está mesmo pedindo por favor?

— Certo… Certo. — Concordo, por fim.

— Preciso desligar, nos vemos mais tarde — ele desliga.

— Tchau pra você também — eu resmungo antes de devolver o celular para o mesmo lugar.

Caio deitada novamente na cama, pensando se tenho vontade ou não de encarar Jake agora depois de toda aquela merda, mas não é por ele que decidi levantar, tomar um banho, me vestir e ir até lá. Sinceramente, que ele se foda com todos seus sentimentos idiotas. Eu sou dona do meu próprio nariz e das minhas escolhas, não são lágrimas de crocodilo que vai me convencer do contrário.

— Taylor, não é necessário que venha comigo — digo mais uma vez, dentro do elevador.

— Desculpe, senhorita, mas só estou seguindo ordens.

Reviro os olhos.

— Certo, mas eu só quero que faça qualquer coisa se eu achar que for necessário, estamos entendidos? — Olho para ele.

— Entendido, senhorita. — Concorda gentilmente.

— Desculpe, eu não ouvi, o que disse? — debocho.

Tenho a impressão de ter visto a sombra de um sorriso no canto da sua boca.

— Entendido, Luara. — Ele repete.

Sorrio.

— Muito bem, Taylor.

As portas do elevador se abrem no andar onde eu trabalho — não por muito tempo, eu espero — e meus colegas começam a olhar, curiosos, principalmente por ter um homem vestido de terno e gravata, com escuta no ouvido e que mais parece um armário no meu encalço. Apenas coloco um sorriso gentil e cumprimento as pessoas que passam perto de mim.

— Ei, o que tá rolando? — Ashley, uma colega próxima, pergunta.

— Uma longa história… — é tudo o que eu digo. — O Thompson está aí?

— Sim, e está furioso — ela cochicha como se estivesse me contando um segredo.

Olho para Taylor.

— Pode me esperar aqui? — pergunto.

— Posso acompanhá-la até a porta — ele insiste.

Persisto no meu olhar compreensivo e depois de breves segundos, ele assente com a cabeça. Viro-me para Ashley novamente e peço:

— Ash, eu sei que não é o seu trabalho nem nada, mas será que pode servir um pouco de café ao meu amigo Taylor?

Mas ela parece muito interessada na ideia… Ou só está jogando charme para o meu segurança mesmo.

— Claro, será um prazer! — Ela sorri maior que o normal, e eu apenas reviro os olhos discretamente.

— Eu já volto — toco o braço de Taylor como uma forma de consolo antes de caminhar até a sala do Sr. Thompson.

À medida que me aproximo, consigo ouvir os gritos do velho nojento para o pobre coitado do analista de sistemas. Steve é um garoto novo em seu primeiro emprego, mas claramente não precisa estar chegando agora para sofrer nas mãos do grande filho da puta que é o meu chefe, que me perdoe a mãe dele.

Entro em sua sala completamente desorganizada — que sobraria para eu limpar, obviamente — sem aviso prévio, arrancando um olhar furioso do Thompson.

— Cooper, que ousadia é essa? Quer perder o seu emprego? — Ele ameaça.

Abro um sorriso sarcástico. Chegamos ao ponto que eu queria.

— Não é necessário se estressar por isso, Sr. Thompson, eu mesma me demito — digo, puxando minha carta de demissão de dentro da bolsa e colocando sobre sua mesa, deixando tanto ele quanto o analista de sistemas boquiabertos.

— Que história é essa, Cooper? É algum tipo de brincadeira? — Ele esbraveja.

— Não tem brincadeira nenhuma aqui, Emmett. Estou pedindo demissão desse lugar sujo e explorador, e exijo todos os meus direitos. Espero que possa pagar todas as minhas férias dentro do prazo, caso contrário, meu advogado entrará em contato com o senhor — sorrio de canto de boca ao perceber que ele está alternando entre a carta e a mim, completamente sem palavras. — Vou pegar minhas coisas, tenha um bom dia, senhor.

— Eu não preciso de você! — Ele eleva o tom de voz enquanto ando em direção à porta.

Antes de sair, viro-me para ele e digo:

— Claro que não. Boa sorte para arrumar outra pessoa para limpar toda essa bagunça pela mixaria que você paga — sorrio falsamente. — Adeus, Sr. Thompson.

Saio da sua sala e deixo todas as reclamações sem olhar para trás. É como se eu tivesse tirado um peso das costas, sinceramente, me sinto muito melhor assim.

— Tudo bem? — Taylor pergunta, com uma xícara de café na mão quando me aproximo, tentando ignorar a figura de Ashley inclinada sobre o balcão, acentuando ainda mais seu decote.

— Eu só preciso arrumar as minhas coisas e podemos ir — informo.

— Precisa de ajuda? — Ele oferece.

Abro a boca para responder, mas as palavras ficam entaladas na minha garganta e giro sobre o próprio eixo quando uma voz que reconheço bem diz:

— Oi, Lu… Podemos conversar?

Meu semblante se fecha instintivamente. Eu sabia que seria inevitável dar de cara com ele quando provavelmente estava esperando para falar comigo.

— Não temos nada o que falar, Jake — dispenso, vendo que Taylor já toma uma postura mais rígida bem atrás de mim.

Ele me olha com aquela cara de cachorro abandonado que acaba de cair de mudança.

— Por favor — ele implora.

Engulo em seco.

Tudo bem, não é como se eu não pudesse suportar uma última conversa. Olho para Taylor e digo:

— Tudo bem, eu falo com ele.

— Senhorita… — diz ele em tom de aviso.

— Vamos até a minha sala e você pode ficar do lado de fora da porta, ok? — tranquilizo-o.

Ele acena com a cabeça em concordância, abandona a xícara de café e agradece à Ashley por ela antes de nos acompanhar até a minha sala. Acho que não posso mais chamá-la de minha. Jake permanece encolhido o tempo todo ao meu lado, não ousa dizer uma só palavra até estarmos dentro da sala, sozinhos.

— Se precisar, é só chamar — Taylor avisa antes de fechar a porta, lançando um olhar ameaçador para Jake.

Dou alguns passos até a mesa e depois viro-me para ele com os braços cruzados como uma fortaleza.

— O que você quer? — pergunto, rígida.

— Pedir desculpas — responde, manso.

Dou risada uma vez, irônica.

— Acha que um pedido de desculpas vai mudar o que você tentou fazer? — questiono. Não deixo ele responder e emendo: — Porque não vai.

— Eu sei que fui um idiota…

— Você foi um imbecil — corto suas palavras. — Se o Justin não estivesse lá, você ia mesmo me agredir? — pergunto com a voz cheia de mágoa.

— O quê? Não!

— Não foi o que pareceu — insisto.

Ele solta um longo suspiro.

— Eu estava bêbado, estava fora de mim, por favor, tente entender — justifica.  

Balanço a cabeça, inconformada.

— Isso não deveria ser motivo para você sequer pensar em levantar a mão para uma mulher, Jake — digo, lembrando-me das palavras de Justin ao telefone. — Olha, eu tolero muita coisa, mas isso…

— Você precisa me perdoar, Lu — ele dá um passo desesperado em minha direção, mas me afasto.

— Preciso? Preciso mesmo? — balanço a cabeça. — Você não está em posição de me dizer o que preciso ou não fazer.

— Eu amo você, por favor — apela.

— Não. — Aperto os lábios numa linha fina, suas palavras não me afeta nem um pouco. — Você acha que isso é amor, Jake, mas não é… Isso é carência. É dependência. E não estou afim de ser o alicerce de alguém tão instável emocionalmente, que é capaz de fazer besteiras só por que não consegue aceitar um não.

— Não é isso — sua expressão é cheia de dor.

— Esquece, Jake, eu não quero suas explicações. — Dispenso. — Eu confiava em você, sabia? Ganhar a confiança de alguém é muito difícil, agora perdê-la… você não imagina o quanto é fácil. E você acaba de perder a minha.

Ignoro as linhas de dor que cruzam o seu rosto e continuo:

— Eu estou com o Justin agora, não era isso que você queria ouvir? Tá aí. — Dou de ombros, desinteressada. — Quer você goste ou não, é assim que as coisas são agora, então é melhor manter distância de mim ou teremos problemas.

Ele abre um sorriso perdido na mágoa, mas cheio de raiva e veneno.

— Tudo bem, eu já entendi — balança a cabeça, mas parece inconformado. — Você está me dispensando e essa desculpa caiu de paraquedas, não foi? — Ele não me deixa responder. — Mas quer saber? Está tudo bem. Você acaba de mandar embora um homem que gosta de você de verdade para ir atrás de um playboyzinho que vive na sombra do pai e que se acha superior porque tem dinheiro. Mas o mundo dá voltas, Luara, e eu vou estar assistindo de camarote quando ele enjoar da sua cara e você vai tentar voltar para mim, implorar para respirar o ar que eu respiro, e vou virar as costas pra você do mesmo jeito que está fazendo agora.

Aperto os lábios em um sorriso.

— Não se preocupe, eu não vou — garanto.

Ele me encara por breves segundos antes de balançar a cabeça e se retirar. Depois que a porta se fecha com uma batida agressiva, cubro o rosto com as mãos e amaldiçoo a mim mesma por ter deixado as coisas chegarem a este ponto.

Escuto leves batidas na porta, e desta vez, apenas a cabeça de Taylor surge entre a brecha.

— Está tudo bem? — Ele pergunta.

Respiro fundo e dou um leve sorriso.

— Vai ficar… Eu espero — resmungo a última parte para mim mesma. — Poderia me ajudar a arrumar minhas coisas?

— Claro, senhorita… Digo, Luara. — Corrige-se, arrancando-me um riso.

Eu não tenho muita coisa para pegar, e Taylor faz questão de carregar a única caixa com meus pertences até o carro. Enquanto ele dirige de volta para a mansão, ligo para Justin, mas ele não atende. Deve estar ocupado. Então apenas deixo uma mensagem informando que pedi demissão.

— Oi, Abby — cumprimento a ruiva quando passo pela porta da cozinha.

— Ei, está tudo bem? — pergunta, me fazendo parar.

— Ah… — olho para a caixa nos meus braços. — Pedi demissão.

— Por quê? — franze o cenho, confusa.

— Digamos que eu encontrei uma oportunidade melhor — respondo com um leve sorriso. — Enfim. Eu vou subir um pouco, precisa de alguma ajuda?

— Não, está tudo bem.

Aceno com a cabeça e sigo o meu caminho até o quarto. Desço do salto e começo a arrumar as minhas coisas, depois troco de roupa e ligo o notebook para fazer algumas pesquisas sobre as tais instituições de pesquisa fundada pelos Bieber. Ao me aprofundar na pesquisa, vejo o quanto essas instituições são privilegiadas e reconhecidas, encontro até algumas fotos de Justin no google junto à sua família. James me contou algumas vezes sobre esses projetos, até me convidou para participar de algumas inaugurações, mas sempre preferi não me envolver demais, ficar apenas pela superfície, e agora, cá estou eu… Eu não estou criando expectativas, claro que não, mas no fundo acredito que essa seja a oportunidade para mudar a minha vida.

Depois de passar o dia todo perambulando pela mansão e gastar um pouco do meu tempo — agora bastante vago — na academia, decido ir um pouco lá fora enquanto espero Justin para o jantar, ele confirmou sua presença hoje à noite e disse que tinha novidades sobre minha nova proposta de emprego. Não posso deixar de mencionar o quanto estou ansiosa, apesar de ter um leve peso na consciência por causa de Jake, mas estou tentando deixar isso pra lá.

Entretanto, enquanto cruzo os corredores para encontrar a saída deste labirinto que parece não ter fim, dou de cara com a porta do escritório entreaberta. Aproximo-me e coloco a cabeça por entre a brecha, esta porta costuma ficar sempre fechada, talvez Justin já tenha chegado, mas não consigo encontrá-lo em nenhum canto que meus olhos podem alcançar.

— Justin? — chamo, mas não obtenho resposta.

Empurro a porta e entro na sala, espiando tudo ao redor. Bem, é nítido que ele não está aqui, mas com certeza alguém esteve aqui recentemente, percebo pelos papéis espalhados pela mesa como aquela pequena bagunça que fazemos quando estamos procurando alguma coisa às pressas. Sem nenhum interesse aparente, pego um dos papéis e dou uma olhada, e quando estou prestes a largar, o conteúdo exposto nela me chama atenção. É um documento, mais precisamente, uma avaliação médica… O nome do Justin preenche o espaço do paciente em questão, e logo abaixo, na causa da avaliação, a única palavra, solitária e seca, me faz ter calafrios… Overdose. Penso que meus olhos estão me traindo, e quando estou disposta a reler e me aprofundar mais nas palavras que se tornam turvas de repente, uma voz rígida me interrompe no ato.

— O que pensa que está fazendo?

Giro tão rápido que me sinto tonta, mas ainda assim consigo capturar os olhos endurecidos de Justin parado bem na porta.

— E-eu… — gaguejo.

Que ótimo.

— Por que está mexendo nas minhas coisas? — Ele avança em minha direção e praticamente arranca o documento das minhas mãos. Quando ele percebe do que se trata, parece ficar ainda mais enfurecido. — Que merda é essa? — quer saber.

— Desculpa, tá legal? — digo na defensiva. — Eu só entrei aqui e vi isso, eu só… — é, não tenho palavras para explicar e me sinto constrangida por isso. — Não quis invadir sua privacidade.

— Não quero você mexendo nas minhas coisas pessoais. — Ele olha no fundo dos meus olhos para mostrar que suas palavras não são brincadeira. — Estamos entendidos?

— Desculpa! — elevo o tom de voz para que ele me escute, mas parece que despertei sua raiva.

— Estamos entendidos? — repete entredentes, sem dar a mínima para o que eu digo.

Solto a respiração e olho para ele meio emburrada.

— Estamos entendidos — eu sorrio falsamente, e depois desfaço o sorriso e ando até a porta depois de esbarrar propositalmente em seu ombro, murmurando um: — Babaca!

Saio pisando em passos duros sem rumo aparente, e quando me dou conta, já estou na área da piscina. Quando estou sozinha, finalmente posso soltar o ar que nem sabia que estava prendendo. Ok, sei que o que fiz não foi nada legal, mas isso não muda o fato de que continuo bastante intrigada sobre o que vi. Como assim, overdose? O Justin teve uma overdose? Isso não faz sentido. James nunca me falou nada sobre isso, ele não me esconderia algo assim… Ou esconderia? Nada a respeito foi publicado na mídia, talvez eu esteja enganada e tudo não passa de um mal entendido, mas então por que ele ficou tão emputecido?

Esses pensamentos me deixa inquieta. Só consigo pensar em todas as vezes que James dizia que eu achava que conhecia o Justin, mas na verdade, não conhecia, e que existe muito mais além do que os olhos podem ver. Quais segredos são esses que ele insiste em esconder? Eu preciso mesmo saber? Preciso mesmo me envolver? São tantos ‘’e se…’’

O toque do meu celular me faz dar um sobressalto pelo susto. Respiro fundo e tento acalmar o meu coração que bate a mil, estou tão agitada… Alcanço o celular no bolso traseiro do short e vejo o nome do meu irmão brilhar na tela. De repente, tudo que eu sentia antes desaparece e algo novo surge para embaralhar minhas entranhas. Noah não queria falar comigo, e quando se dispôs a conversar, fui eu quem entrou em contato todas as vezes, mas agora ele tá me ligando e… E estou perdendo tempo pensando demais! Deslizo o dedo pelo visor e atendo a ligação, meio afobada:

— Noah? — Meu tom de voz se assemelha a um grito, meio feliz, meio aflita, estou um turbilhão de emoções agora.

Mas o meu sorriso vai desaparecendo à medida que a voz do outro lado ganha forma, um tom bem diferente da que eu queria ouvir.

— Olá, Cooper! Feliz em falar comigo?

Eu não consigo emitir nenhum som por cinco segundos.

— Lucca? O que você está fazendo com o celular do meu irmão? — pergunto em um tom de voz embargado, pensando nas inúmeras possibilidades que meu subconsciente não quer aceitar.

— Não vai nem perguntar como eu estou? — Há um sorriso nas suas palavras; ele está se divertindo com tudo isso.

— Onde está o meu irmão? — sou objetiva, sentindo as lágrimas quentes cruzarem o meu rosto.

— Estou olhando pra ele — responde com um tom de divertimento.

— Se você fizer alguma coisa… — começo, nervosa.

— Ei, ei, calminha — pede com um tom dramático. — Não fui eu que procurei o seu querido irmãozinho, ele veio até mim, não foi, cara? — Não escuto a resposta do outro lado. — Só achei legal agradecer pela grana. Sabe como é, não consigo controlar essa minha gentileza implacável — debocha.

Eu não consigo controlar a fúria, o medo e a raiva que transborda de dentro de mim, mas eu só consigo ficar lá, parada, com todo esse sentimento entalado na garganta.

— Bom falar com você, Cooper. Acho que o seu irmão quer dar uma palavrinha, é sempre bom fazer negócios com você, minha querida. Até mais.

Continuo paralisada enquanto escuto um ruído ao fundo, e meu único consolo é ouvir a voz meio abatida do meu irmão logo em seguida.

— Lu? Você tá aí?

— Que porra é essa, Noah? — esbravejo, mesmo que minha voz falhe pelo caminho. — Que merda você está fazendo com esses caras? Depois de tudo o que eu fiz…

— Ei, ei, calma, me escuta, tá bom? Não é nada disso que você está pensando — ele garante.

— Então o que é? Fala, Noah! — pressiono com um tom de voz elevado.

— Vim acertar minhas contas — ele responde com a voz carregada de dor.

— O quê? Contas? Do que você está falando? — questiono.

Ele faz uma breve pausa antes de falar:

— Eu errei com você, Lu. Eu te coloquei numa situação delicada, né? — solta um riso sem humor. — Eu fiz um monte de besteira e deixei nas suas costas, e não me orgulho disso. Eu me sinto muito mal por tudo isso, principalmente por saber que eu poderia ter evitado toda essa merda.

Olho para cima, tentando controlar as lágrimas.

— Nós vamos resolver isso, tá legal? — garanto.

— Não, Lu, você não precisa mais se meter nisso — sua voz fraqueja. — Eu quero abandonar esse passado estúpido, quero dar um jeito na minha vida, quero poder devolver a você tudo o que eu tirei, mas sinto que preciso fazer isso sozinho.

— O quê? O que quer dizer com isso? — massageio o meu peito, sentindo o coração diminuir do tamanho de uma azeitona.

— Eu pensei bastante no que você me disse, e eu… Quero largar as drogas, as dívidas, quero reconstruir a minha vida. Eu quero fazer isso dar certo, mas não quero que você me deixe trancafiado em um buraco de reabilitação, eu não quero ficar preso, Lu.

— Mas é necessário, Noah — retruco. — Só assim você pode ter uma chance de recomeçar tudo de novo.

— Eu amo muito você e amo muito a nossa mãe, mas eu não vou abrir mão da minha liberdade — diz ele. — E eu sei que essa decisão machuca você, e é por isso que decidi me afastar por um tempo.

— O quê? Como assim?

— Eu vou embora, Lu. Sumir por um tempo.

Nesse momento, sinto que o chão se abriu diante dos meus pés e estou despencando em um abismo sem fim.

— Noah, não. Você não vai fazer isso, eu não vou deixar — choro.

— Eu já tomei minha decisão. — Ele não está pedindo minha permissão.

— E você acha que isso vai ser melhor pra quem? — praticamente grito. — Sumir do mapa não vai melhorar as coisas, não vai fazer eu ou a mamãe melhor — cuspo as palavras com toda minha angústia. — Você precisa de ajuda, precisa se internar para se livrar do vício das drogas e assim então recomeçar. Não tem outra alternativa, Noah, você precisa me ouvir, por favor — suplico entre o choro.

Ele fica em silêncio por um tempo antes de dizer:

— Eu te amo, ok? Cuida da mamãe enquanto eu estiver fora.

— Noah? Noah! Espera, por favor, espera… — mas ele já desligou.

Meus dedos tremem quando tento retornar a ligação. Chama, chama, chama, e no fim, cai na caixa postal. Tento novamente, mas sei que é inútil, sei que ele não vai me atender. Tudo o que me resta é deixar minhas pernas fraquejarem e me render ao chão frio, apoiada na espreguiçadeira, enquanto o choro, a angústia e a dor toma conta de mim ao mesmo tempo.

Toda essa situação é tão dramática… Eu me sinto tão perdida, tão decepcionada comigo mesma por ter mergulhado tão fundo nessa história para acabar falhando no fim do jogo e perder a partida, a minha única chance de consertar tudo. É patético, na verdade. Eu sou uma grande piada, a atração principal do circo, fazendo papel de idiota mais uma vez. Achei que poderia controlar tudo de longe, que poderia estar acima dos meus problemas, mas a verdade é que sou muito menor do que toda essa situação, sou fraca, sinto mais medo do que deveria, e acabo de perder o meu irmão a quem sempre tentei proteger.

— Luara, escuta, eu sinto muito por ter sido tão… — Justin para no meio do caminho ao perceber o meu estado emocional. Sinto-me pior ainda por não conseguir disfarçar diante dele. Sou uma barragem que acaba de romper. — Luara, o que…? Deus, desculpe, eu não queria… Eu não sabia que você ia ficar tão…

Eu não consigo me conter, apenas uso a pouca força que ainda me resta para levantar do chão frio e me jogar em seus braços aos prantos. Justin, obviamente, é pego de surpresa pela minha ação, mas mesmo assim envolve seus braços fortes ao meu redor, meio desajeitado, porém serve de consolo.

— Ei, fica calma, ok? — Sua voz é mansa e suave, ele até arrisca passar a mão no meu cabelo enquanto molho sua camisa com minhas lágrimas. — Acho que não é por minha causa que está assim, então por que não tenta se acalmar e me conta o que está rolando, hum?

Afasto-me, fungando, e consigo dizer mesmo com um nó entalado na garganta:

— Desculpe, eu… Desculpe. Não é nada, eu só… — tento sorrir, mas falho miseravelmente diante do seu olhar compreensivo e eu diria até preocupado.

Não consigo me segurar e acabo derramando mais lágrimas, mas desta vez, cubro o rosto com as mãos para tentar diminuir a vergonha.

— Ei, ei, ei, fica calma — Justin me segura como se eu fosse desabar, e acho que estou prestes a fraquejar, mas ele me conduz até a espreguiçadeira e me faz sentar, acomodando-se ao meu lado logo em seguida. — Olha, eu sei que não sou o James e que talvez eu não seja a pessoa mais recomendada para essa situação, mas se você me contar o que está acontecendo, talvez eu possa te ajudar — insiste.

— Você não pode me ajudar — retruco com a voz aguda demais.

— Você não sabe — ele revida.

Olho para ele, meio hesitante, e ele tem razão de dizer que talvez não seja a melhor pessoa para eu me abrir sobre isso, mas para todos os lados que olho, estou sozinha, e talvez Justin seja o meu único ombro para chorar no momento.

— O meu irmão, ele… — as palavras travam no meio do caminho e o choro ameaça voltar com tudo.

— Vamos lá, Luara, se esforce um pouco, você consegue — ele incentiva.

É necessário respirar fundo duas vezes para eu poder continuar.

— O meu irmão, ele se envolveu com algumas pessoas erradas e é por isso que estou aqui — confesso a verdade que eu tentava esconder. — Ele estava com uma dívida de 200 mil dólares, e se eu não pagasse, iam matá-lo, o que eu poderia fazer? — Não consigo evitar o tom de choro.

Justin balança a cabeça como se processasse a informação lentamente.

— Por isso você pediu um adiantamento de 200 mil dólares. — Ele observa, cauteloso.

Concordo com a cabeça.

— Mas por que não pediu ajuda ao James? Por que preferiu aceitar esse contrato? — questiona.

— Eu não podia fazer isso, eu sei que o James me ajudaria, ele até tentou, mas não é a primeira vez que isso acontece e eu não podia tirar mais dinheiro dele por causa das burradas do meu irmão — explico. — Esses caras são pessoas perigosas, eles espancaram o meu irmão como um aviso e eu não sabia o que fazer. Então você me ofereceu isso e eu não tive como recusar, eu não pude.

Ele morde o lábio inferior, apreensivo.

— O seu irmão está envolvido com drogas, é isso? — pergunta.

— É. — Concordo, e acabo soltando um riso sem humor. — Eu tentei tirá-lo dessa vida, eu fiz tudo que estava no meu alcance, tudo porque não queria que ele acabasse como o nosso pai, com uma bala cravada na cabeça por causa de dívida com drogas.

Justin engole em seco, parece abalado com a informação.

— Eu estava tentando colocá-lo numa clínica de reabilitação, e agora ele acaba de me ligar e diz que vai sumir do mapa, que não quer minha ajuda e que não vai abrir mão da liberdade dele para se tratar — começo a chorar de novo. — Porra, toda essa merda foi em vão.

— Shhhh… — ele passa o braço ao redor dos meus ombros e me puxa para o seu peito onde posso me aconchegar melhor. — Eu sei que é difícil, mas não adianta ficar com os nervos à flor da pele, isso não vai resolver nada.

— E o que sugere que eu faça então? Que eu finja que nada disso está acontecendo? — ironizo.

— Não, não foi isso o que eu quis dizer — ele se defende. — O que eu quero dizer é que você precisa se acalmar para podermos achar uma solução.  

Afasto-me do seu toque e olho para o seu rosto.

— Solução? — abro um sorriso sem humor. — Ele foi embora, Justin, não há mais nada a fazer.

— Está errada — ele discorda. — Vamos encontrar o seu irmão onde quer que ele esteja, vamos até ele e vamos convencê-lo que se internar é a melhor solução.

Franzo o cenho.

— E como vamos fazer isso?

Ele segura a minha mão, o toque acaba me aquecendo mais do que deveria.

— Confie em mim, ok? Vamos achar o seu irmão e todo seu esforço e coragem vai valer a pena — e então sorri de uma forma tão acolhedora que eu decido acreditar nas suas palavras.

— Por favor, não brinca com isso…

— Eu te dou minha palavra — garante, olhando nos meus olhos.

Tudo que posso fazer é abraçá-lo o mais forte que consigo.

— Obrigada. — Sussurro.

Consigo ouvir o seu suspiro. Ele se afasta, toca carinhosamente o meu rosto — o que é estranho, eu admito — e se levanta.

— Eu vou jantar, você vem?

Não tenho certeza se conseguiria engolir alguma coisa, então apenas me mantenho em silêncio. Sinto-me um pouco mais leve apenas por poder desabafar, mesmo que seja relativamente estranho compartilhar isso justamente com Justin.

Ele aperta os lábios, compreensivo, diante do meu silêncio e anda em direção a saída.

— Justin? — chamo-o antes que ele possa cruzar a porta.

— Sim? — volta-se para mim.

— Por que está me ajudando? — questiono. — Não é problema seu.

Ele para por um segundo, parece refletir sobre a minha pergunta, e então responde antes de se retirar e me deixar sozinha com um imenso vazio:

— Há muitas coisas aqui que você desconhece, Luara… Somos uma equipe agora, e é isso que uma equipe faz: ajuda um ao outro.



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