O relógio marca 22:30, pego o carro e saio para pegar a Sophie. Chego bem rápido na pizzaria onde ela está, afinal quase não tem trânsito esse horário. Ligo pra ela e ela demora a atender.
— Sophie, estou estacionando aqui na frente, você já está pronta né?
— Ah Jake, não dá pra esperar mais um pouco?
— Não, não dá. Você ouviu bem o que nosso pai disse, agora vem logo.
— Mas Jake...
— Não, Sophie! Você sabe que não foi fácil pra ele deixar você sair com o Henrie, então não abusa.
— Ah ok, ok.
Ela demora um tempo pra sair e quando me preparo pra sair do carro, vejo ela na porta. E presencio o primeiro beijo da Sophie.
Gelo, fico paralisado, não estava preparado pra isso. Minha irmã caçula dando o primeiro beijo, na minha frente.
Ok, ela não sabia que eu estava olhando, mas igual, foi na minha frente.
Eles se despedem e quando ela me olha no carro, arregala os olhos e fica com as bochechas vermelhas. Entra no carro e fica quieta, não faz nenhum barulho e só se consegue ouvir o motor do carro.
— E aí, não vai falar nada?
— Falar o que?
— Ué, como foi seu encontro, se foi divertido, se ele é legal mesmo...
— Ah Jake, não foi um encontro. Mas foi divertido, ele é bem mais legal do que eu achava e tomara que ele tenha pensado o mesmo de mim.
— Como não foi um encontro?
— Tá, foi um encontro.
— E só isso, não vai falar mais nada?
— Não tem o que falar...
— Sophie... E o que eu vi ali na saída, antes de vocês se despedirem?
— Jake!! — Ela soca meu braço, como uma punição pelo que acabei de falar e pela risada que dei.
— Ué, o que tem demais? Todo mundo já deu o primeiro beijo, não sei porque você ficou tão envergonhada, ainda mais com vergonha de falar pra mim!
— O que tem demais? Meu irmão viu meu primeiro beijo, não era pra ser assim. E eu iria te falar, mas agora você já viu mesmo. Mas não vai contar pro pai né? Por favor!
— Por que eu falaria? Quem tem que falar é você, não eu.
Chegamos em casa, guardo o carro na garagem e ela me segura pra não sair ainda.
— O que foi?
— Como que eu falo isso pra ele?
— “Pai, eu e o Henrie nos beijamos, obrigada por ter deixado eu sair com ele, boa noite.”
— Você está brincando né?
— É claro que sim, Sophie. — Reviro os olhos — Fala com a mãe primeiro, conta pra ela o que aconteceu e pede pra ela te ajudar a falar com ele. Ah e outra é só um beijo, ok é seu primeiro beijo, mas é um beijo. Agora vamos que eu não jantei ainda e estou morrendo de fome.
Entramos em casa e nosso pai está ansioso por notícias de como foi o primeiro encontro da única filha.
— Eiiiii filha, como foi? Se divertiu? Valeu a pena?
— Oi pai, foi bem legal e valeu sim. — Ela parece bem desconfortável em comentar sobre isso com ele — Mãe, pode subir comigo, por favor?
— Claro, vamos lá. Ah Jake, eu e o Troy já jantamos, mas deixei pronto o prato e os talheres pra você, e a comida está no forno. Depois que comer deixe tudo limpo ok?
Elas sobem e meu pai vem tentar tirar alguma informação de mim.
— O que você acha que ela quer falar com a Gabriella?
— Não sei pai, deve ser coisa de mulher.
— Será que aconteceu alguma coisa? E se esse garoto fez alguma coisa com ela? Se ele avançou algum sinal?
— Calma pai, aposto que não foi nada disso. Até porque se ele tivesse tentado algo a Sophie não ia deixar, sabe como ela é com essas coisas, ela não aceita nem assédio na rua, imagina algo assim. Ela só deve estar querendo falar com a mãe porque não se sente tão confortável pra falar com a gente, é normal.
— É, você tem razão... Vai ver o jogo depois?
Enquanto isso, no quarto da Sophie, ela começa a contar sobre o que aconteceu no encontro.
— Nós conversamos sobre muita coisa, ele contou das séries, músicas que ele gosta e descobrimos que temos muito em comum.
— Que bom filha, mas eu sei que tem alguma coisa que você quer falar mas está com vergonha...
— Como você sabe?
— Eu sou sua mãe, conheço você e o Jake mais do que vocês imaginam. E também sou mulher, sei como é ter um primeiro encontro e que tem coisas que temos vergonha de falar, ainda mais pros nossos pais. Mas se quiser contar, fique à vontade.
— É que... Bom... Quando fomos nos despedir... Nos beijamos. — Ela coloca as mãos no rosto, se escondendo de vergonha.
— E você gostou?
— Gostei.
— Então que bom, fico feliz por você. E não tem porque sentir vergonha, isso é algo normal, acontece com todo mundo.
— E você acha que eu devo contar pro pai?
— Sinceramente? Acho que sim, ele vai gostar de saber disso.
— Mas e se ele me xingar?
— Ele não vai te xingar, filha. Seu pai não é um monstro que não quer que você viva ou algo do tipo, ele só está se acostumando com a ideia de que você e o Jake não são mais crianças, principalmente você que é a única filha. Mas ele vai gostar de saber e de participar dessa nova fase da sua vida, assim como ele participou de todas até agora.
— E você acha que eu conto agora?
— Sim, se você estiver confortável com isso, por que adiar?
— Você vai comigo?
— É claro, vamos lá.
Elas descem e Sophie gesticula pra mim como se perguntasse se ele está calmo, eu faço sinal de que sim, e então elas entram na sala.
— Troy, a Sophie quer falar com você?
— Ah sim, aconteceu alguma coisa? — Ele põe a televisão no mute, pra poder prestar atenção somente no que ela tem a dizer.
— Então pai, hoje quando o Jake foi me buscar aconteceu uma coisa sim.
— O que você fez Jake?
— Não pai, não. O Jake não fez nada.
— Então o que foi?
— É que quando o Jake foi me buscar, quando eu e o Henrie nos despedimos... Nós nos beijamos, mas não passou disso, eu juro.
— O que?
— Ai Troy, eles se beijaram e a Sophie quis te contar isso, quis compartilhar com a gente algo que foi importante pra ela.
— Eu sei, eu sei, mas é que né... É estranho pra mim.
— Mas pai...
— O mais importante é saber se você quis e se gostou.
— Sim, sim.
— Então é isso que importa. Não vou bancar o pai chato e te dar um sermão porque você tem direito de querer e gostar disso e fico feliz que tenha me contado. Obrigado.
— Nós somos uma família, não tem porque escondermos nada uns dos outros, desde sempre foi assim e não é agora que vocês cresceram que isso têm que mudar. E é assim que, unidos, vamos fazer os meus, os seus, os nossos sonhos virarem realidade.
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