História Fique Longe Dele - Kim Taehyung - A felicidade dura pouco.

Choi Yuri.

Senti meu braço ser segurado, impedindo-me de tomar impulso e abrir a porta do veículo para me retirar. 

O único som presente entre nós era o dos pingos da chuva. Eu congelei, sentindo o leve aperto da mão de Taehyung em meu braço, sem saber o que deveria fazer. 

Virei-me vagarosamente na direção dele, indo de encontro aos seus olhos. Estavam diferentes, ele por algum motivo tinha uma expressão muito diferente da comum nesse momento.

O que está acontecendo?

— Me desculpa… — Disse. 

Meu coração, tudo dentro de mim pareceu estremecer, ele estava me pedindo mesmo desculpa?

— Pelo... quê? — Eu queria ouvir o motivo, e por que?

Ele suspirou, umedecendo os lábios.

— Por ter agido daquela forma com você, eu não te acho uma garota qualquer, só gostaria que soubesse disso… — Desviou o olhar. 

Eu não sabia o que pensar, eu não sabia o que fazer… honestamente, Taehyung parecia ser outra pessoa agora, até seu tom de voz mudou, passando de um tom confiante e firme para um inseguro e calmo. Mas isso poderia ser algum tipo de jogada? Para me persuadir? Torna-se difícil depois de tudo…

Afastei o meu braço devagar.

— Eu aceito as suas desculpas… — Afastei uma mecha do meu cabelo para detrás da orelha. — E… obrigada pelo almoço…

O clima entre nós se tornou tão constrangedor de repente.

— Podemos começar de novo? Esquecer aquilo? — Falou.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, eu deveria mesmo ceder assim? Talvez, não faria mal me colocar no lugar dele somente desta vez…

Eu ainda não o conhecia bem, apenas uma pequena parte da sua "personalidade" que até agora me soava bastante estranha. Possuo um grande defeito, que é sempre acreditar no lado bom das pessoas, sendo assim, com Taehyung não seria diferente.

— É claro… — Abri um pequeno sorriso.

Ele retribuiu o gesto.

— Melhor ir, antes que a chuva fique mais forte. 

Assenti, saindo finalmente do carro.

Entrei em casa às pressas, fechando a porta para que a chuva não molhasse tudo. Soltei o ar dos pulmões, retirando meus sapatos, e passando pelo pequeno corredor de entrada. O ambiente encontrava-se silenciosa, minha mãe com certeza estava descansando para trabalhar mais tarde, fui até seu quarto, abrindo a porta devagar para não fazer barulho. Ela estava deitada, e ao seu lado se encontrava meu irmão, agarrado a seu corpo, espremendo sua pelúcia entre os braços. Yong-sun também tinha muito medo de trovões, e sempre ficava comigo durante esses temporais, mas como demorei um pouco mais que o normal para chegar, fico feliz que ele tenha a mamãe aqui…

Me aproximei dos dois, depositando um beijo na bochecha de cada. Porém, minha mãe acabou despertando, forçando a vista para me reconhecer.

— Yuri… onde estava? Por que demorou para chegar hoje? — Indagou sonolenta.

Hesitei, com certeza ela poderia ficar brava se eu dissesse que sai para almoçar fora com um garoto…

Ok, pensa rápido, pensa rápido.

— Eu… tive dor de barriga, fiquei um tempo na enfermaria até melhorar, então começou a chover… — Sorri sem graça.

Essa foi a pior desculpa que eu já inventei em toda a minha vida. E como já era esperado, ela franziu o cenho, mas voltou a fechar os olhos e se virar.

— Pare de comer besteiras. 

Suspirei aliviada, me retirando do quarto para deixá-los dormir.

Caramba o que foi isso? Minha cabeça está girando, isso foi demais pra mim, preciso de um banho…

                                     [...]

Sexta-feira.

10:00.

— Yuri, fofinha! — Min-Ji me abraçou por trás, enquanto eu estava na fila para comprar pão doce na cantina.

Ela acariciou meus cabelos, apertando com carinho minhas bochechas. Honestamente, eu gostava muito dela, e o seu jeito apegado e gentil comigo, graças a ela eu não me senti desconfortável e excluída, conheci muitas pessoas aqui por sua causa.

— O que foi? — Perguntei sorrindo. 

— Nada, vai comprar pão doce? — Perguntou.

Assenti.

— Você quer? — Ofereci enquanto era finalmente atendida.

— Sim! Eu quero. — Bateu palminhas.

Comprei dois pães doces e dei um a ela, da última vez ela pagou o meu, então era justo. Fomos até um dos bancos do pátio nos sentar para comer.

— Os intervalos aqui são tão rápidos, na minha antiga escola era quase meia hora só de bobeira.

— Você era de uma escola pública por acaso? — Ela riu.

— Não, só desorganizada… — Suspirei enquanto comia.

— Falando nisso, como foi na quarta-feira? Vocês almoçaram?

Ergui o cenho, queria tanto evitar falar disso…

— Sim, almoçamos… — Respondi.

— Sério? Oh minha nossa, e foi em um lugar chique ou comum? 

— O que você acha? Alguém aqui nessa escola tem cara de que come em lugares comuns? — Olhei para ela, a mesma riu.

— É verdade… mas achei que teriam feito diferente, você não tem cara de que costuma comer em lugares assim, sem ofensa, claro. — Ergueu as mãos em defesa.

— Tudo bem, não me ofendi, mas é verdade, eu não costumo ir a lugares tão extravagantes, foi a primeira vez, e adivinhe só? Ele pediu a minha comida favorita!

Min-Ji arregalou os olhos.

— E como ele sabia da sua comida favorita?

— Ele pediu só para que eu provasse, não sabia que eu já gostava, fiquei muito feliz, fazia muito tempo que eu não comia Japchae… — Suspirei, lembrando do gosto daquela comida maravilhosa.

— Isso significa que agora vocês estão quites? — Perguntou séria.

Hesitei em responder, e imediatamente aquela lembrança de Taehyung me pedindo desculpas veio a tona… 

— Sim, pelo bem da nossa nota no final do ano. — Falei apenas.

Continuamos a comer em silêncio, aproveitando a companhia uma da outra.

— Ah, vocês estão aí! — De repente, Namjoon se aproximou.

— Não estamos nos escondendo, bobão! — Min-Ji mostra a língua para ele.

— Oi, Namjoon. — Sorri para ele.

— Podia ser mais educada como a sua amiga Min-Ji, arranjaria um namorado mais fácil assim. — Brincou ele.

— E quem disse que eu quero um namorado? — Ela rebateu, cruzando os braços.

Tentei conter o riso.

— Ah é mesmo? O Jimin disse hoje na classe que percebeu que um certo "alguém" estava olhando para a bunda dele. — Enfatizou, entre risos.

Não pude mais me segurar, ao ver as bochechas de Min-Ji completamente vermelhas soltei uma gargalhada. Ela olhou emburrada para mim e Namjoon.

— Eu vou arrancar a cabeça de vocês dois e pendurar na parede do meu quarto! Seus… — Esbravejou.

— Calma Ji, é só brincadeira… — Disse tentando a acalmar.

— É verdade, só estamos brincando, não precisa levar para a violência. — Namjoon tenta recuperar o ar.

— Aliás, o que você quer com a gente Nam? — Min-Ji indaga, ainda emburrada. — Só veio aqui me provocar?

Ele negou em um movimento de cabeça.

— Não, na verdade, hoje é sexta-feira! — Exclamou.

— E daí? — Min-Ji revira os olhos. 

— Daí que eu vim convidar vocês duas para sair, o que acham? 

Oh não, não tenho lembranças muito agradáveis da última vez que sai com ele, será que devo aceitar desta vez?

— Ah jura? Para onde? — Ji inclinou a cabeça para o lado.

— Então, Hoseok, Soo-won, Jin e eu combinamos de ir a noite comer em uma lanchonete legal que inaugurou no centro da cidade, e eu pensei em chamar vocês duas para ficar mais animado. 

Me senti um pouco feliz por ele ter lembrado da gente, mais especificamente de mim, já que é próximo de Min-Ji.

— E os outros? Não vão também? — Min-Ji se levanta, ajeitando sua saia, já estava quase no fim do intervalo.

— Nós os convidamos, mas Jungkook, Jimin e Yoongi já tinham planos, e Taehyung não confirmou ainda. — Disse Namjoon.

É claro que iam convidar Taehyung, eles são como um grupinho inseparável.

— Que horas vai passar na minha casa? — Min-Ji foi direta, me impressionei em como ela topava tão fácil as coisas.

— Às 19:00, íamos mais cedo, mas Jin só sai da aula de violino às 18:40, então fica um horário mais fácil pra todos.

Jin pratica violino? Uau… 

— Minha nossa, quantos cursos esse cara faz? Achei que só o de culinária era suficiente, tão ambicioso… — Min-Ji revira os olhos.

— Ele faz curso de culinária? — Perguntei.

— Sim, ele pretende se formar em gastronomia quando terminar o ensino médio, vou ter de destacar isso na redação dele. — Namjoon suspira.

— O que? Estão formando duplas na classe de vocês também? — Ergui o cenho.

— Foi uma atividade aplicada para todas as turmas de terceiro ano Yuri. — Disse Min-Ji.

Assenti, entendendo, então Namjoon e Seokjin eram uma dupla, sortudos, já eram amigos, seria fácil para eles, enquanto eu sequer sei a idade de Taehyung.

— Mas enfim, busco vocês duas às sete, combinado? Estejam prontas. — Falou, se afastando de nós.

Sequer tive tempo para dizer algo.

Min-Ji e eu retornamos para a classe  assim que o toque do fim do intervalo soou.

— Você vai, não é? Vai ser legal. — Min-Ji me pergunta enquanto caminhávamos de volta a sala.

Suspirei pensativa.

— Vou pensar, aviso você qualquer coisa. — Sorri para ela.

A mesma assentiu.

Entramos na sala, indo cada uma para o seu devido lugar.

                                     [...]

 18:57.

Encontravam-me devidamente pronta, trajando uma saia jeans clara, um moletom vermelho e meus all star branco, com uma maquiagem leve e o cabelo solto.

Honestamente, achei que minha mãe não fosse permitir que eu fosse, porém ela acabou concordando tranquilamente, desde que eu voltasse antes das 23:00, ela teria de cobrir uma amiga nesse horário no hospital, e meu irmão não poderia ficar sozinho.

Ouvi a buzina do carro, me despedi da minha mãe e sai. Adentrei o veículo, me sentando no banco de trás.

— Boa no… AAAAA! — Gritei assustada, ao deparar-me com Jin ao meu lado, que arregalou os olhos.

Acabei assustando a todos ali.

— Yuri? Você está bem? — Min-Ji se virou.

— Que susto, garota! — Namjoon liga a luz do carro.

— Oh… me desculpem. — Pus a mão sobre o peito. — Não sabia que o Jin estaria aqui também, estava escuro aqui dentro, me assustei, perdão.

— Uau… sou tão feio assim que te assustei? — Jin esboçou uma expressão melancólica para mim.

Se havia um atributo que Kim Seokjin estava longe de ser, era feio.

— Não, eu apenas não sabia que você iria conosco. — Falei.

— E ele não ia, mas está proibido de usar os carros. — Disse Min-Ji.

— Por que? — Me virei para ele.

— Ainda não tirei minha habilitação, meu pai tem medo que eu seja pego dirigindo por aí "clandestinamente" — Deu de ombros.

— Oh sim. — Falei.

— Temos sorte que o Namjoon é um eficiente motorista, não é bebezão? — Min-Ji desferiu um tapinha no ombro do amigo.

— Ei, não abuse de mim! — Exclamou Namjoon enquanto dirigia.

Todos rimos e seguimos a viagem conversando sobre qualquer assunto aleatório, devo admitir que eram muito divertidos.

Chegamos ao centro da cidade, era como se fosse outro mundo, tudo era tão bonito, prédios enormes, ruas iluminadas e decoradas, vários lugares de luxo espalhados, essa era a primeira vez que eu saia com pessoas que vinham para esse tipo de lugar. Na verdade, era a primeira vez que eu fazia amizade com pessoas de classe mais alta.

Namjoon estacionou o carro frente a uma lanchonete estilo fast food, mas não era da forma que eu imaginei nem um pouco, o lugar era enorme, e parecia ser muito bonito e chamativo por dentro, só pela fachada eu já sabia que era "cinco estrelas"

— Pensei que estaria mais cheio, não inauguraram hoje? — Jin pergunta enquanto descia do carro.

— Na verdade foi antes de ontem, eu disse que era hoje pra convencer vocês a virem… — Disse Namjoon.

— Ah claro, porque adoramos uma inauguração, péssima estratégia Namjoon. — Min-Ji revirou os olhos.

— Na verdade eu adoro comer, então não foi tão péssima assim, sendo inauguração ou não. — Jin deu de ombros.

Contive uma risada, por algum motivo, eu achava engraçado o modo em que eles interagiam, Min-Ji parecia uma mãezona estressada e Namjoon o filho repreendido, enquanto Jin, bom, era o Jin…

— Vamos entrar? Estou curiosa para ver lá dentro. — Falei empolgada.

Eles assentiram, e nos dirigimos à entrada.

Eu estava impressionada, aquele lugar fazia-me lembrar um cenário de filme, como aquelas lanchonetes de séries adolescentes, como por exemplo o Pop's de Riverdale, só que mil vezes maior e mais espaçoso, além da música ambiente, que eu reconheci ser Elvis Presley tocando.

— Espero que vocês tenham memória sobrando no celular de vocês, pois assim que acabar a minha… — Min-Ji deu um giro. — Vou tirar muitas fotos nesse lugar! Isso é demais!

— Será que o Hoseok e a Soo-won já estão aqui? Disseram que encontrariam a gente. — Disse Namjoon, olhando para todos os lados.

— Estão ali! — Jin apontou em uma direção.

Caminhamos até o casal, eles se encontravam sentados em uma mesa grande, com dois sofás vermelhos de couro que parecia brilhar, a mesa era de vidro com detalhes prateados, e não pude deixar de notar o piso refletido. Era como um tabuleiro de xadrez em preto e branco. 

— E aí pessoal! — Cumprimentou Hoseok.

— Sentem-se, estávamos esperando vocês para pedir. — Disse Soo-won.

Namjoon sentou-se ao lado de Hoseok em um sofá, enquanto eu, Min-Ji e Jin sentamos no outro de frente para eles, eu acabei ficando no meio dos dois. 

Hoseok nos mostrou o cardápio, havia uma variedade de comidas, inclusive as de fast food.

— Acho que vou querer esse X-Bacon com quatro carnes… — Soo-won se pronuncia.

Todos olharam para ela estáticos, Soo-Won daria conta daquele monstro? 

— Então eu divido com você. — Disse Hoseok para a namorada.

— Nada disso! Vou comer sozinha, peça o seu. — Soo-won fez bico.

Namjoon trocou olhares com a gente, estávamos todos em expectativa e perplexos.

Admito, quero ver se ela vai mesmo conseguir.

— Ok, então eu vou pedir esse sanduíche de frango grelhado. — Hoseok entregou o cardápio a Namjoon. Ele analisou concentrado as opções.

— Vou querer o mesmo do Hoseok, peguem. — Arrastou o cardápio na mesa para nós.

Posicionei o cardápio no meio, para que Jin e Min-Ji pudessem ver, seria mais rápido se víssemos juntos.

— O que acham de pedirmos uma pizza para nós três? — Min-Ji sugeriu.

Troquei olhares com Jin, ele concordou.

— Certo, de qual sabor vamos pedir? — Perguntei.

Jin suspirou, Min-Ji também parecia indecisa.

 — Olha, tem essa de chocolate com morangos, nunca comi, vamos experimentar? — Min-Ji apontou para a foto do prato.

— Parece gostosa, sim! — Falei, e Jin também demonstrou estar de acordo.

Por fim, todos já haviam escolhido seus pratos, chamamos a garçonete e fizemos o pedido.

— Nem uma cervejinha? — Retrucou Hoseok.

— Não senhor, hoje somos todos cultos. — Soo-won o repreendeu. 

— Ela te colocou na coleira mesmo ein. — Brincou Namjoon.

— Que casal mais lindo, é o mínimo depois daquela vergonha na festa de sábado. — Disse Min-Ji.

Hoseok ficou sem graça, mas não parecia mal com isso, afinal, não tinha perdido a namorada, graças a Deus. Eles formavam um belo casal, Soo-won era muito bonita, e ele então…

— Aliás, vocês perceberam? — Hoseok ergueu o cenho. — Estamos todos em casais aqui.

— O que? — Jin Franziu o cenho.

— É verdade. — Soo-won riu. — Hoseok e eu, Namjoon e Min-Ji, e então… Jin e Yuri.

— Não estou sentada perto do Namjoon, então não conta. — Min-Ji cruzou os braços. — E mesmo assim não somos um casal, apenas amigos!

— Falando nisso, repararam que Jin e Yuri são muito bonitos juntos? — Exclamou Soo-won novamente. — Eles possuem traços muito semelhantes.

Minhas bochechas começaram a esquentar na mesma hora.

— Agora que reparei, é verdade… — Hoseok inclinou a cabeça para o lado. — Nossa… parecem um casal de dorama.

— Não precisam exagerar, vão deixar a Yuri com vergonha. — Disse Namjoon apontando para mim.

— Tarde demais, ela já está vermelha. — Min-Ji enunciou entre risos.

— Parem com isso! — Jin sorriu, passando seu braço ao redor dos meus ombros. — Não precisa ficar assim Yuri, relaxa, além do mais eles acabaram de admitir que somos mais bonitos que eles. — Piscou para mim.

— Convencido. — Ri fraco.

Continuamos conversando sobre diversos assuntos, e finalmente os pratos chegaram. Umedeci os lábios, aquela pizza parecia ser muito saborosa, Min-Ji e Jin estavam com os olhos brilhando em direção ao alimento. Mas, o momento mais esperado e "chocante" era agora, olhamos todos para Soo-won, que encarava a torre de Babel em forma de hambúrguer que havia pedido.

— Amor, tem certeza que… — Hoseok tentou falar.

— Shhh… Não me atrapalhem. — Ela nos cortou.

Soo-won segurou o enorme hambúrguer nas mãos com um pouco de dificuldade, mas assim que encontrou um jeito de ele caber em suas pequenas mãos ela abriu a boca, dando uma abocanhada farta no lanche.

Nós nos entreolhamos, espantados.

— Ok, bom apetite pessoal… — Namjoon soltou, começando a comer.

A pizza de chocolate com morangos estava realmente muito boa, era a minha primeira vez comendo algo do tipo, e não estava nem um pouco arrependida, fiquei impressionada em como os sabores estavam em harmonia, o chocolate cremoso, dissolvendo em minha boca aos poucos e os pedaços de morango, nem tão azedo e nem tão doce, fora a massa da pizza, tão macia…

— Oh, isso está muito bom, o que achou Jin? — Min-Ji perguntou a ele.

Seokjin se virou, com as bochechas completamente cheias, lembrando um esquilo com nozes na boca, seus lábios estavam formados em um bico.

Tive de conter a risada para não engasgar.

Ele assentiu, parecia muito empolgado, deve ter adorado mesmo.

— Gente… — Hoseok engoliu a comida para continuar falando. — Aquele não é o… Taehyung?

Parei de mastigar…

Namjoon ergueu a cabeça, estreitando os olhos.

— Acho que sim, na verdade… É ele! — Confirmou.

— E você não o tinha convidado? — Soo-won se dirige a ele.

— Convidei, mas ele não confirmou nada. — Namjoon respondeu dando de ombros.

Min-Ji se inclinou, virando para trás, já que estávamos sentados de costas para a entrada.

— Me parece que ele está acompanhado. — Min-Ji diz.

Fechei os olhos com força, mordendo mais um pedaço da pizza, foi como se naquele momento todo o gosto da comida tivesse sumido ao ouvir aquilo.

 — Acompanhado? — Jin também se virou, enquanto os outros que estavam sentados a nossa frente apenas ergueram as cabeças.

Eu não movi um músculo e continuei comendo.

— Aquela não é a… — Soo-won hesita. — Chun-Hee?

— Chun-Hee? — Namjoon arregala os olhos. — Da turma 3-B?

— A própria… — Jin confirma.

— Bom, aí está o motivo de ele não ter confirmado nada, preferiu fingir demência que admitir que teria um encontro. — Hoseok revirou os olhos.

— Ponha encontro nisso, a Chun-Hee é tão gostosa… — Namjoon suspira. 

— Coma sua comida e pare de bisbilhotar os outros! — Repreendeu Min-Ji.

— Incrível, ele é realmente rápido. — Jin mastiga.

— Até parece que vocês não o conhecem. — Soo-won soa tediosa. — Taehyung troca de garota mais que eu troco de calcinha.

Crispei os lábios, aquilo era demais, não aguentava mais ouvir isso… 

— Com licença, preciso ir ao banheiro. — Falei, me levantando.

Rumei a passos rápidos até o banheiro.

Adentrei no lugar, me certificando de que não havia ninguém além de mim ali, percebendo que de fato estava sozinha, apoiei minhas mãos na enorme pia de mármore, inclinando o corpo para a frente, arfando.

Então é isso? É assim? Me pede desculpas, me leva a um restaurante caro, pede para recomeçar e em menos de dois dias faz isso? Sai com outra garota? E por que eu estou me importando com isso? Nós não temos nada, somos apenas uma dupla, isso é apenas para o bem da nossa nota… e ainda assim… Essa sensação, esse aperto no peito…

O que está havendo comigo? Droga, sou tão exagerada, tão…

É melhor eu voltar antes que estranhem minha demora. Lavei as mãos, arrumei o meu cabelo, respirando fundo.

Abri a porta do banheiro para me retirar, e pude ver ao longe, Taehyung, sentado em uma das mesas em uma direção oposta da nossa, ao lado da tal "Chun-Hee", de fato, ela era muito bonita, seu cabelo era curto na altura do ombro com algumas mechas cor de mel, o rosto afilado, trajada em uma roupa que destacava seus seios consideravelmente fartos, enfim, o tipo de garota que todo homem deseja se relacionar.

Eles estavam conversando, rindo juntos, trocando olhares como se já se conhecessem há muito tempo, e ela realmente parecia estar muito, muito afim dele…

Jimin estava certo, ele é como uma cobra…

Decidi ir embora, não queria correr o risco de esbarrar nele ou sequer olhar em seus olhos.

Retornei rapidamente para a mesa onde estava sentada, pegando a minha bolsa do colo de Min-Ji.

— Aonde vai? — Ela perguntou.

— Ah… eu… preciso ir. — Falei, evitando contato visual.

— Como assim? Não vai terminar de comer? Deixei o último pedaço pra você. — Disse Jin.

Forcei um sorriso, disfarçando.

— Bom, é que eu preciso estar em casa antes das onze, então…

— Agora que são nove horas. — Hoseok me mostra o relógio.

Parem de me encurralar…

— Ah…

— Yu-ri, você está bem? Aconteceu algo? — Min-Ji me encara preocupada.

— Você me parece um pouco pálida. — Disse Soo-won.

Ótimo, um escape.

— Sim, estou me sentindo um pouco mal, acho que essa… pizza não me fez muito bem… — Dei alguns passos para trás, pondo as mãos na barriga para simular que estava mal.

— Eu te levo! — Namjoon começou a se levantar.

— N-Não precisa, pode ficar aí a vontade, eu chamo um carro por aplicativo.

— Mas…

— É sério, deixei a minha parte do pagamento debaixo do meu prato, obrigada! — Falei.

— Me avisa quando chegar em casa? — Pediu Min-Ji.

Assenti.

Distanciei-me deles, e enquanto caminhava em direção a porta, olhei uma última vez para aquela mesa antes de sair…

Ele estava agora com o braço envolta do ombro dela, surrando algo em seu ouvido, a fazendo sorrir de e suas bochechas tornavam-se rubras.

E então se virou, e… nossos olhares se encontraram. Eu e Taehyung, nos encaramos por segundos, enquanto eu andava rumo a porta de saída.

Ele não expressou surpresa, na verdade, pareceu inexpressivo, mas ele tinha me visto, de cima abaixo. Desviei o olhar, abrindo a porta e finalmente me retirando. Soltei o ar dos pulmões, sentindo o vento frio da noite passear por meu corpo, cruzei os braços, ainda bem que pelo menos vim de moletom.

Aquela sensação, aquele incômodo interno ainda me atormentava…

O que será que ele disse para ela? Sobre o que estavam conversando? Droga… Isso não me interessa! 

Eu não posso, não posso ficar me importando com ele, ele não é assim, ele não é o cara que você pensa que é Yuri! 

E aos poucos eu vejo isso…

Cessei os passos… parando frente a um bar muito bonito e luxuoso. Ok, eu sei, isso é a mais pura idiotice, mas eu preciso dar um jeito de burlar este sentimento dentro de mim, e não conseguia pensar em nada melhor.

Olhei em meu relógio de pulso, ainda eram nove e vinte e dois. Peguei o meu celular, colocando o despertador para às dez e cinquenta, e assim que ele tocasse eu daria o fora dali. Seriam apenas uns copinhos, e nem é tempo o suficiente para que aconteça alguma coisa.

Pelo menos foi isso que eu pensei…

                                     [...]

22:38.

— Garçom… — Solucei. — Mais um desse azulzinho… por favor… — Minha voz soava levemente arrastada, céus eu sou realmente fraca.

Já havia virado oito copinhos. E foram o bastante para me deixar abobada, ou talvez eu estivesse tão sensível que foi mais fácil ser possuída pelo álcool. Parabéns para mim, que consegui ficar bêbada em metade de uma hora…

Sorri abobada ao pensar nisso.

Eu estava desacompanhada, me sentindo uma completa idiota naquele lugar só de ricos. Já havia gastado todo o meu dinheiro com o último copo daquela bebida. Peguei o meu celular, havia uma mensagem, forcei a vista para ver quem era.

Mãe: Querida, não precisarei mais cobrir a minha amiga, então não precisa se preocupar, mas não chegue em casa muito tarde!

Ótimo! Não preciso mais me preocupar em chegar em casa às pressas, com sorte chego quando eles já estiverem dormindo e não me vejam assim, totalmente retardada. A minha mãe me mataria se soubesse que estou bebendo uma hora dessas, e sozinha. Mas horário é horário, e meu despertador acabou de tocar.

O desliguei, guardando meu celular no bolso, paguei pela bebida e me levantei da banqueta em que estava sentada no balcão. Por um momento, apoiei minha mão ali, sentindo minhas pernas bambearem.

— Céus… — Murmurei.

Respirei fundo, e comecei a andar novamente. 

Minha visão estava um pouco turva, mas eu precisava me manter firme. Enquanto caminhava rumo a porta, acabei esbarrando em alguém…

— Opa… — Cambaleei um pouco para trás, erguendo a cabeça para ver em que tinha esbarrado.

Era um rapaz, alto comparado a mim.

— Ei, acho que te conheço. — Ele diase.

Forcei um pouco a vista para tentar o reconhecer.

Por Cristo, pelo pouco que consegui ver nitidamente, ele era lindo, tão lindo que não só minha bochecha mas meu corpo inteiro esquentou. 

— Que bom… — Ri, me aproximando dele. — Então acho que pode me dar uma carona? — Soei abobada.

Ele franziu o cenho.

— Espera um pouco… Yuri? É você? — O rapaz segurou os meus braços.

Continuei rindo.

— Sabe até o meu nome? Não sabia que já éramos íntimos… — Solucei. — Mas não lembro do seu nome… qual é?

— Não lembra de mim? Sou eu, Jungkook!

Ergui o cenho, segurando o seu rosto com as duas mãos.

— Jungkookie? Isso é alguma marca de biscoito? — Ri. 

— O que? Não, não tem nada a ver. — Falou.

Formei um bico nos lábios.

— Ah poxa… que pena, porque eu adoro biscoito… — Pisquei para ele.

O ouvi rir.

— Você está bêbada, não é? 

Neguei com um movimento de cabeça - típico -.

— Pode me levar para casa? Estou com tanto calor… 

— Mas…

— Por favor… — Lhe abracei, esfregando o rosto em seu peito.

Ele suspirou.

— Ok, eu já estava de saída mesmo. — Segurou o meu pulso. — Mas precisa me passar o seu endereço, então aguenta um pouquinho.

Puxou-me, para fora do bar.

Entramos em seu carro, eu sentia que iria explodir de tanto calor.

— Está tão quente… — Segurei na barra do meu moletom, começando a o erguer.

 — Ei, Ei! Não faça isso aqui, por favor! — Jungkook segurou as minhas mãos, descendo o moletom. — O quanto você bebeu? 

Olhei para ele, fazendo o número nove com as mãos.

— Nove? Nove copos?

Assenti rindo.

— Estou com sono… me leva pra casa…

— Ok, mas não tire a roupa enquanto eu dirijo ou estaremos ferrados, vou ligar o ar-condicionado. — Falou, dando partida no veículo.

O vi começar a dirigir.

— Me diz, onde você mora? — Perguntou.

Solucei novamente.

— Por ali. — apontei.

Minhas pálpebras começaram a pesar.

— Certo, pode me dizer o nome do bair… Yuri!

O sono atingiu-me como um tiro, e quando me dei conta meus olhos já estavam fechados, a última coisa que pude ouvir foi a voz de Jungkook pedindo para que eu não adormecesse…