Jeon Jungkook.
— Puta merda… o teto está girando…
A voz arrastada de Park Jimin soava ao meu lado, nos encontrávamos deitados naquele colchão pouco espaçoso do qual tinha de ficar bem próximo a ele para que ambos pudéssemos caber ali.
Eu não deveria estar na casa dele, deveria ter continuado dentro daquele táxi e seguido para a minha casa, mas o Park não tinha forças sequer nem para ele mesmo, e acabamos assim, comigo tendo de servir de muleta e o trazendo para dentro.
— Terei que pedir um carro por aplicativo… que merda. — Apertei os olhos para enxergar a tela do meu celular, estava tonto.
— Não… fica… — A mão pequena de Jimin tocou em meu pulso, fazendo uma leve pressão. — Não me deixa sozinho nesse estado…
Suspirei, bloqueando a tela do aparelho e desistindo, não por ele, mas por não me sentir em condições nem de me levantar da cama, realmente tinha extrapolado dos limites dessa vez em relação ao álcool, me sentia frustrado, sempre me deixo levar demais, mesmo sabendo que não podia por causa do trabalho, continuava sendo teimoso comigo mesmo.
Passei as mãos por meus cabelos, arfando, buscando por um mínimo de sobriedade.
— Eu estou cansado. — Disse Jimin em tom baixo.
— Eu também… — Respondi.
— Por que parece que todos ao meu redor tem uma vida estável, menos eu? — Suspirou. — Eles parecem estar tão felizes e satisfeitos consigo mesmos, e eu só consigo fazer merda atrás de merda…
— Como assim? — Me virei para ele, umedecendo os meus lábios. — Você não me parece ter uma… vida ruim.
— E não tenho… — Virou-se para mim. — Mas só isso não é suficiente… você não entenderia.
Fiquei em silêncio, não conseguia pensar em nada coerente para responder. Estava quente, e eu só queria me livrar das peças de roupa, ao menos as partes de cima.
Me ergui desajeitado, retirando a minha jaqueta, a jogando em qualquer canto e voltando a deitar, fitando o moreno ao meu lado olhar para o teto.
— Você… já se sentiu como se tivesse feito alguma coisa ruim? Sabe… com um sentimento de culpa, mesmo sabendo que não era em si sua?
— O tempo inteiro… — Respondi sem pensar, mas tinha entendido a pergunta.
— É uma merda… — Disse. — Minha consciência diz que não, mas eu simplesmente ignoro e continuo insistindo… — Riu fraco. — Mesmo sabendo que nunca daria certo, continuo querendo o que não posso ter…
Franzi as minhas sobrancelhas, fitando a luminária neon sobre a mesa de cabeceira à esquerda de Jimin, emitindo um longo suspiro pesado.
— Eu sei como é… — Murmurei. — Esse é o meu maior defeito…
Jimin se virou para mim novamente, e estranhei ele ter conseguido me ouvir, mesmo que tenha falado em um tom tão baixo que nem eu mesmo sabia se estava falando ou não.
— Me diga… Jeon… — Me olhou nos olhos. — Tem algo que você deseja, mas que não pode ter?
Aquela foi uma das perguntas mais difíceis que já tinham me feito, na verdade, eu a tornei difícil, ela poderia ter uma resposta qualquer, por exemplo, um dragão, eu nunca poderia ter um mesmo se quisesse, afinal, eles não existem. Havia uma infinidade de coisas que eu poderia desejar, mas não poder ter, mas tinha algo em específico, do qual minha mente associou automaticamente ao ouvir a pergunta de Jimin, contra a minha vontade, já pensando naquilo novamente. Me sentia muito pior.
— Tem…
— O que?
Voltei a fitar o teto, e agora o mesmo parecia estar girando, e era como se eu pudesse ver cenas de um momento distante, um momento que nunca deveria ter acontecido.
Acredito que se estivesse sóbrio, jamais estaria tendo esse tipo de conversa com o Park, nós não éramos do tipo que compartilhávamos assuntos além do superficial, nunca sobre os nossos sentimentos ou relações, a última vez em que algo assim ocorreu, foi no ensino médio, quando ele se confessou para mim, mas infelizmente não pude e possivelmente nunca vou conseguir o corresponder.
Mas nesse momento, é como se eu sentisse que pudesse falar qualquer coisa, literalmente…
E esse sempre vai ser o meu maior erro.
— Yuri…
Jimin gargalhou, rolando desajeitado no colchão.
— Mais uma das suas ficantes? — Indagou entre risos.
Realmente era engraçado em como ele não tinha associado.
— Não, ela não faz esse tipo. — Passei o braço por cima dos meus olhos, intervindo em minha própria visão.
— Espera um pouco, sei que podem existir outras com esse nome, mas… não me diga que…
— É da Yuri que estou falando, da única que conheço, e você também.
— Mas que caralho… — Ele murmura. — Você está muito bêbado…
— Estou…
Ficamos em silêncio por um momento, e aquilo estava me torturando.
— Então é verdade. — Quebrou o silêncio. — Mas você não pode…
— Tarde demais…
Era tarde demais, eu tive a cara de pau de dizer a ele que nunca faria o que fiz, mesmo depois de já ter feito, apenas não queria piorar as coisas, nós prometemos apagar tudo que aconteceu, eu prometi agir como se nada tivesse acontecido, prometi desde a primeira vez que não se repetiria, e anos depois eu estava quebrando essa promessa novamente. Eu estraguei tudo e estou convivendo como se não.
— Jungkook… você não fez isso…
— Eu fiz, porra! Eu transei com ela! — Meu corpo tremeu, e vi o arregalar de olhos de Park Jimin, incrédulo.
Talvez eu realmente seja um grande babaca, um babaca que não sabe controlar os próprios sentimentos e impulsos.
— V-Vocês… — Jimin arrastou as mãos pelos cabelos. — Como pôde fazer isso? Quando e como aconteceu?
Ri, ri totalmente sem humor, uma risada que chegou a doer em minha garganta de tão forçada.
Não importava, mas eu me sentia preso, estava acumulando tanta coisa dentro de mim que foi inevitável não soltar simplesmente tudo de que me lembrava daquela noite.
— Eu a convidei para me acompanhar em um evento do trabalho, era para ser apenas isso, ela só precisava ser a minha acompanhante… — Arfei, enquanto minha mente rebobinava tudo de uma maneira nada agradável. — Quando estávamos indo embora, um homem nojento ficou a provocando e eu quase pus em risco o meu emprego e minha sanidade por querer protegê-la, achei que apenas fosse o meu instinto protetor mesmo, comum com qualquer um que eu visse passando por uma situação daquela forma ou semelhante, mas não… Era mais que isso, sempre foi, e eu só percebi minutos depois de deixar ela em casa…
— Mas que merda…
— Eu estava com ciúme dela… — Ri novamente. — Eu queria ela, era desnecessário querer bater em um cara estúpido qualquer só por isso, mas eu quis, quis mostrar naquele momento que ela estava comigo, que era minha…
— Você voltou?
— Voltei. — Suspirei. — Eu voltei, fui atrás dela, e acho que já deixei claro o que aconteceu depois…
— Não acredito que ela cedeu…
— Não foi culpa dela, por favor, não a culpe…
— Mas ela cedeu! Você começou e ela deixou, porra! Que merda você tem na cabeça? Ela era comprometida caralho!
— Ela não estava com Yoongi na época, eles tinham dado um tempo…
— Dado um tempo, não terminado. — Rebateu. — O que vocês dois tinham na cabeça, meu Deus…
Ainda me faço a mesma pergunta todos os dias, o que eu tinha na cabeça. Afinal, oportunidades não me faltaram, mas sempre que eu tinha alguma chance, algo me atrapalhava, até mesmo Taehyung, e mais uma vez ele tomava o que deveria ter sido meu. Ainda que quisesse substituir, acabei passando por uma situação de merda, aceitando que não tinha jeito para isso, que não sirvo para nada além de um momento, além de uma foda e só isso, compromisso para que? Se no final posso ser trocado ou enganado?
Mas não ela, a única que me convencia sem sequer conhecer direito, de que poderia ter algo mais sem me preocupar, nem que fosse por uma noite, eu queria que ela fosse minha. Não me importei, e não sei, se ela sentiu o mesmo, ou se sequer sentiu alguma coisa, estava constrangido demais para perguntar ou olhar em seus olhos por mais de cinco segundos, ainda que ela tentasse se comunicar, insisti em fugir.
"Não deveríamos ter feito isso, Jungkook…"
Não podíamos, não devíamos…
— Não sei…
Eu não queria ter me apaixonado por ela, eu costumava não ser, ou fingia que não era sem saber.
— Não me diga, não me diga que aconteceu de novo? Que foi apenas uma única vez... — Park exclama, tombando um pouco o corpo para o lado pela falta de equilíbrio.
— Tudo bem, eu não digo.
— Filho da pu… — Ele se levantou, ficando de pé e se apoiando na parede. — Será que em nenhum momento você pensa no que faz? Milhões de pessoas nessa porra de país, e tinha que trepar justamente com a que não deveria?
— Eu sinto muito…
— Não é comigo que você tem que se desculpar, e sim com Taehyung! — Aumentou o tom. — Você transou com a mulher dele, pelas costas dele, vocês dois fizeram uma grande burrada!
Passei as mãos no rosto, me virando para o lado e não dizendo mais nada, não havia o que dizer.
Minutos depois e eu estava ouvindo vozes, a voz de Jimin ecoando pelo quarto como se estivesse brigando com alguém.
— Você é louca? Como pôde transar com Jungkook? E quanto a Taehyung, será que não pensou nele? — Dizia, mas eu já estava mais sonolento e tonto que o normal agora. — Eu só, só queria admitir que fui eu quem levou Hoseok até a sala de química naquele dia, só queria pedir desculpas por isso, e aí… fiquei sabendo de algo pior ainda.
Queria perguntar com quem ele estava falando, mas simplesmente apaguei antes de fazer isso.
E agora estou aqui, com tudo isso pairando em minha mente mais uma vez, negando mais uma vez, diante de todos e até mesmo de quem considerava ser o meu melhor amigo.
— Vai se foder! — Yuri gritou, estava extremamente vermelha, encarando Jimin com raiva nítida no olhar.
Todos ali estavam atônitos, confusos, inclusive ele, que olhava para ela sem entender completamente nada e nem o motivo de estar assim.
— Yuri? — Taehyung a olha, mas a mesma o ignorou completamente.
— Esqueceram que ainda estamos em um local onde outras pessoas além de nós estão presentes? — Namjoon exclama.
— Mas não fomos nós que começamos. — Disse Seo-li.
— Está pondo a culpa em mim, Seo-li? — Min-Ji se dirige a ela.
— Não citei nomes, não seja inconveniente. — Rebateu. — Todos nós estamos nessa situação sem cabimento algum, é melhor que se acalmem!
— Concordo. — Seokjin bufa.
— Mas eu estou calma, e aparentemente os outros também, quanto a Yuri… não havia necessidade de gritar algo tão inapropriado. — Min-Ji debocha, olhando para ela, que ainda encarava Park Jimin.
— Yuri… — Park tentou falar.
— Isso tudo é culpa sua! De fato, você fez uma grande merda, Jimin! — Esbravejou, virando-se para Min-Ji em seguida. — E você… não passa de uma falsa, aproveitadora! Espero que esteja se divertindo com tudo isso! — Reverberou, tensionando o maxilar.
— Ah, é claro, aliás, deveria me agradecer! Afinal, falsa eu estaria sendo se omitisse as suas "brincadeirinhas de adulta" — A Han gesticulou, encarando Taehyung. — Sabe, Kim… se eu fosse você, abriria a porra dos olhos. Tem certeza de que Yun-Hee e Mi-Young são de fato seus? — Ela sorriu ladina, agora, olhando para mim, como se fosse a cereja do seu bolo. — Sinceramente, acho o nariz de Mi-Young muito específico…
— Desgraçada!
— Yuri! — Reconheço a voz de Haneul em um grito.
Era como se eu fosse capaz de ver aquela cena em câmera lenta. Choi Yuri se moveu tão rapidamente, como um piscar de olhos, e agarrava Min-Ji pelos ombros, mas fora apenas isso, pois imediatamente Seokjin as afastou uma da outra, e Namjoon se impôs a afastar Min-Ji.
— Você não presta! — Yuri esbravejou.
— E você menos ainda! Por que não conta para eles, huh? Conte o que você fez, sua santinha de merda! Taehyung merece saber!
— Chega, já chega, porra! — Namjoon Exclamou, levando Min-Ji consigo para longe dali, ao passo que Yuri também era afastada, e vi Kim Taehyung aproximar-se dela, segurando-a, tentando contê-la, o que não pareceu adiantar muito, pois a mesma se desvencilhou de seu toque, afastando-se a passos rápidos até a saída.
— Yuri! — Ele a chamou, não recebendo resposta. Então, virou-se, e os nossos olhares se cruzaram. Encontrava-me em um estado estático, tenso, especificamente em choque, pois não esperava que esta noite tomasse tamanha proporção, mas, no entanto, confesso, que naquele momento, nem mesmo o olhar da minha mãe quando estava com raiva por algo errado que eu havia feito, parecia ser pior que a maneira a qual Taehyung encara-me agora. Os orbes felinos me retaliavam, entretanto, me impus a não demonstrar absolutamente nada, completamente neutro, até o instante em que ele nos deu as costas, praticamente correndo até a saída.
Todos se entreolharam ainda mais confusos e atônitos, e agora Jimin tinha os olhos marejados.
— Nunca senti tanta vergonha… — Haneul suspirou. — O que diabos aconteceu aqui? Por que fez isso, Min-Ji? — Indagou, quando Min-Ji repentinamente retornou, aparentemente para pegar a sua bolsa.
— Eu não fiz nada, apenas fiz uma pergunta, são as regras do jogo.
— Não! — A encarei sério, atraindo a sua atenção através do tom alto da minha voz. — Você fez de propósito, nada que vem de você é inocente, sugeriu essa brincadeira justamente para chegarmos a esse ponto. Você é o pior tipo de pessoa que eu já conheci!
Os que sobraram naquela roda, olharam para mim, mas sequer dei importância, não sentia nada além de raiva, tudo que eu menos queria sentir agora.
— E sabe que está incluído nisso também, não é? Afinal, você pode ser o responsável pelo fim, e você sabe muito bem do quê!
— Cale a merda da boca, Min-Ji, chega, inferno! — Jimin esbraveja. — Já estamos cansados de você, já deu para mim.
Park passou por todos nós, em direção a saída.
— Jimin! — Seo-li e Haneul foram atrás dele.
— Satisfeita? — Yoongi se pronuncia. — Até o Diabo teria inveja das desgraças que você causa. Sinto muito Jin, mas não me sinto mais confortável para continuar aqui. — Yoongi se afastou, fazendo a mesma rota que os outros.
— Aish… — Jin suspira. — Jungkook…
— Sinto muito. — Disse apenas, trocando um último olhar de repulsa com a mulher que parecia sem graça, mas ainda assim não demonstrou estar intimidada.
Passei por eles, caminhando em direção a saída, encontrando Jimin, Haneul e Seo-li do lado de fora.
— Não iremos sair daqui enquanto não o vermos indo para casa em segurança. — Disse Haneul. — Por que não está de carro?
— Não dirijo quando bebo. — Respondeu.
— Então…
— Eu levarei ele. — Retruquei, interrompendo Seo-li.
Os três me olharam, surpresos pelo meu aparecimento repentino.
— Jungkook…
— Vou levá-lo pra casa e ponto final. — Disse firme. — É melhor vocês duas voltarem para dentro, está deserto aqui e Hoseok pode ficar preocupado, Seo-li.
Elas assentiram, se despedindo de nós.
Jimin parecia inquieto, nervoso e muito sem graça, relutou por um momento, mas cedeu a carona, adentrando o carro junto a mim e dei partida para sairmos dali.
— Foi tudo culpa minha, ela nunca irá me perdoar… — Soou choroso.
— Não foi culpa sua. — Rebati.
— Como não? Fui eu quem contei! Elas quase saíram na porrada, Jungkook!
— Mas você não sabia que era Min-Ji do outro lado da linha, foi um engano! Mesmo que não devesse ter feito ligação alguma naquela noite, mas agora já aconteceu.
— Jungkook, será que ainda não parou para raciocinar?
Suspirei, olhando rapidamente para ele, logo voltando os olhos para a estrada.
— Jimin…
— Tanto você como eu, se ela contar a Taehyung o que aconteceu ou ele souber por um de nós, vamos ser os responsáveis por isso!
Meu Deus… será que ela vai mesmo contar? Não é como se ele não fosse perguntar a ela, a mesma demonstrou claramente estar envolvida ao gritar com Jimin, e todo aquele alvoroço com Min-Ji a respeito dos filhos, não deveria ter se acusado daquela maneira. Taehyung sempre foi muito preocupado com ela.
Porra… inicialmente, toda a merda da culpa é minha!
— Eu…
— Ele irá deixá-la, Jungkook! Taehyung não vai aceitar quando souber a verdade! Esteja preparado para isso.
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