1. Spirit Fanfics >
  2. Fogo Vivo - A história não contada >
  3. Palavras encantadas

História Fogo Vivo - A história não contada - Palavras encantadas


Escrita por: brullf

Notas do Autor


Amoras lindas!
Não escreverei nenhum texto aqui sobre nós, mulheres, mas, porque esta história é sobre duas mulheres que se amam, duas mulheres fortes, independentes, poderosas, donas de si, que caem, sofrem, lutam.
Protagonistas, cada uma com uma bagagem de vida imensa.
Além delas, outras mulheres igualmente incríveis, diante das quais os adjetivos se apequenam.

Por isso, hoje, eu estendo a minhas mãos a vocês e as convido para uma dança. O ritmo pouco importa. O que vale é celebrarmos o milagre e a grandeza do que somos: mulheres.

Este capítulo é uma ode a nós!

Boa leitura.
💜

Capítulo 10 - Palavras encantadas


Fanfic / Fanfiction Fogo Vivo - A história não contada - Palavras encantadas

A sombra tremia imersa em algum pedaço de azul enquanto Regina segue seu caminhar solitário pelas calçadas de sua cidade. Deixa o perfume caminhar à frente, feito vento que chega e pega o olhar de uma vez só e, sem esforço, solta-se ao chão. Ajeita uma mecha de cabelo enquanto seu pensamento se fixa naquela que lhe invade as memórias e o peito. Primeiro o rosto. O contorno da boca e depois a linha da sobrancelha, mais definida a cada instante com devastadora clareza. 

A rainha sabe que aquele olhar dura mais que o poente acima de sua pele, liquidando as palavras sem perder o equilíbrio e um sorriso lhe corre nos lábios como um marinheiro em terra firme: revirando as paredes tão bem construídas em seu íntimo, fazendo malabarismos no ventre da razão. Lentamente, retira o pensar daquela presença, passando aquele azul de uma folha para as outras que encontra no chão, em seu caminho. Os borrões que habitam Regina Mills ainda estão acordados pelos temporais por onde se perde. Mais que uma maré. Mais que o além-mar.

O azul daquelas pupilas que já a observam, mesmo de longe, é o esvoaçar da melodia que lhe solta o sentir, livre, do murmurar intenso do mar. O seu mar... onde deságua.

Mills caminha com o rosto baixo, mas sabe que, ao atravessar a rua, Maleficent está a sua espera. E também sabe que, desde que dobrara a esquina para entrar na via que a conduz ao Richmonds, a feiticeira está parada, ao lado da placa de sinalização, observando-a com afeto e o ensaio de um sorriso que se abrirá quando se olharem. Regina respira fundo, repassa a conversa que teve com Zelena e tenta decidir o que são memórias suas e o que são desejos do seu subconsciente. Ela aperta os dedos uns nos outros nos bolsos de seu sobretudo, está nervosa, e para ao final da calçada. Só então levanta a cabeça.

O vento sopra frio na cidade. Há um bom movimento de pessoas por ali, próximo ao restaurante. Algumas delas reparam nas duas mulheres. Outras simplesmente seguem em frente. Mal e Regina se encaram e a conexão entre seus olhares é imediata. A prefeita sente como se fosse recebida no íntimo da outra, onde arde uma fogueira eterna e intensa. A sensação é de acolhimento. A mulher-dragão sorri e é como se uma chama passe a dançar dentro da rainha, iluminando-lhe os sentires.

A morena atravessa a rua, tira as mãos dos bolsos e sabe que suas bochechas estão levemente enrubescidas. A loira não perde nenhum de seus movimentos, os braços cruzados à frente do corpo, a pose elegantemente descontraída. A simples presença de Regina tem o mesmo efeito na feiticeira que o da Lua sobre os oceanos, comandando preamares e baixa-mares.

Imaginando-se como num sonho antigo, à procura da janela exata na dança das borboletas, Maleficent refaz a esperança na reinvenção das horas e estende sua mão para a prefeita. E tocam-se os dedos saudosos daquele calor único que se cria ao contato delas. Uma cena informal. Repleta de pequenices, sem o frenético romance com a velocidade do tempo vivido, sem casar-se com as regras de um antigo manual ditando os passos da dança do viver.

- Boa tarde, meu bem – o sorriso da loira é incontido.

- Boa tarde, Mal – Regina aproveita o carinho em sua mão – Obrigada por aceitar meu convite para o almoço... – permite deixar seu olhar um pouco mais naquele azul de tantos tons.

- É um prazer... – a feiticeira as conduz até o restaurante – Mas confesso que fiquei surpresa com a sua ligação.

- Espero não ter atrapalhado ou... – a loira interrompe e para bem perto da prefeita.

- Regina, mesmo que eu tivesse qualquer outra coisa para fazer, eu estaria aqui, com você. Porque é onde eu quero estar – a força e a sinceridade naqueles orbes desarmam a rainha de qualquer argumento, um silêncio cálido se assenta em seu peito, bem como a certeza de que é ali, de mãos dadas com a mulher-dragão que ela também quer estar. E não apenas para um almoço.

 

Compartilham uma refeição leve e Mal se interessa em lhe perguntar pelo dia a dia da cidade, assunto que deixa a prefeita à vontade, tanto que acaba revelando sua necessidade de encontrar alguém que possa ocupar o cargo de vice-prefeito. A feiticeira a provoca dizendo que deveria convidar sua ex-enteada, Snow White, o que provoca uma das sonoras risadas de Mills. Algo que vem se tornando mais corriqueiro desde o reencontro com a mulher-dragão em Storybrooke.

Com muito bom humor, Regina responde que seria trágico ter Snow na prefeitura, já que a princesa não tem lá muito talento para a administração pública, então é melhor que ela fique na escola mesmo, como professora.

- Você já pensou no Nolan? – questiona a feiticeira enquanto leva aos lábios a taça de vinho e atrai toda a atenção da outra.

- É um bom xerife para uma cidade onde crimes comuns são uma raridade... mas o que um pastor de ovelhas saberia sobre processos administrativos e impostos? – não há ironia na entonação da prefeita, nem mesmo um tom de desprezo, para ela, sua análise é a mera constatação de um fato.

- Não se pode aprender sobre essas coisas? – o interesse da mulher-dragão é sincero.

- Sim, mas... – Regina se recosta na cadeira com sua taça de vinho nas mãos.

- Mas...? – a mulher-dragão mantém seu azul fixo nos castanhos da rainha.

- Não acho que ele tenha o perfil, sinceramente – toma sua bebida de uma vez.

- Não é minha intenção que isso possa irritá-la, Regina. Apenas não pense demais sobre isso, meu bem, não foi minha intenção incomodá-la com o assunto... – estende o braço por cima da mesa e logo a morena volta a sua posição mais relaxada, indo buscar o toque de Maleficient entre os utensílios ali dispostos.

- Ok... então, como tem se sentido aqui na cidade? – a prefeita arrisca outro tema, mais próximo do que ela realmente deseja saber.

- É uma vida diferente, estou aprendendo a fazer muitas coisas sem magia com Lily, ao mesmo tempo em que compartilhamos momentos únicos quando praticamos juntas – a mulher-dragão sorri, orgulhosa – Você criou um reino bastante interessante, Regi. Até mesmo prático, eu diria. Autossuficiente no fornecimento de alimentos, isso é um grande feito – as duas se olham – E eu gosto do desafio de me adaptar à vida aqui.

- Não pensa em voltar a Moors, retomar sua vida por lá? – há um que de apreensão na voz da prefeita.

- Eu poderia. Seria muito mais cômodo para mim. Mas... há dois motivos que me fazem querer ficar em Storybrooke.

- Dois? – Mills brinca com seus dedos entre os da feiticeira.

- O primeiro é o fato de Lily ter crescido neste mundo e de gostar de viver aqui. Especialmente agora que ela está se envolvendo com a senhorita Luccas – revela dois tons mais baixo que o restante da frase, afinal, a vida de sua filha não diz respeito a quem quer que seja ao redor delas.

- Oh... – a morena está surpresa com a fala da outra, ainda que, pensando nas duas juntas, entenda completamente aquele encanto mútuo que havia visto em seus olhares quando esteve no Granny’s – E você está bem com isso, quero dizer, o fato de Lily ter encontrado alguém na cidade?

- Regina, tudo o que eu quero é que minha filha seja feliz, depois de tudo. Que ela acorde sorrindo pelas manhãs pensando que logo encontrará o motivo de seus sorrisos, que faça o café da manhã cantando e dançando músicas que eu ainda desconheço e me receba com um beijo de bom dia enquanto a observo brilhar em cada mínimo movimento. Lily pode ter redescoberto sua magia de dragão em Moors, despertado para suas aptidões como feiticeira junto a mim, em meu castelo. Mas aqui... ela encontrou algo muito maior – Maleficent não esconde sua emoção ao falar da filha – Não é algo assim que você também deseja para o seu príncipe?

A pergunta sobre Henry surpreende a rainha.

- Sim, é... – ela pensa em Henry, no quanto ele está crescido e nos planos que faz para dali a poucos anos – Mesmo que ele ainda tenha apenas uma vaga ideia do que deseja em seu futuro, eu farei o possível para que o meu príncipe seja feliz, ainda que isso signifique vê-lo partir – uma lágrima lhe escapa.

- O segundo motivo que me faz querer ficar em Storybrooke é você, Regina Mills – o choque das palavras de Maleficent a tomam por completo. De fato, a feiticeira havia voltado por ela. E, naquele ínterim, tudo o que a morena consegue ouvir são as batidas aceleradas de seu coração.

 

No Granny’s, Henry abre a porta para Violet, os dois chegam conversando sobre o período de provas que está próximo. A garota está receosa e não se sente bem preparada em algumas matérias, mas o adolescente garante que eles podem se sair bem estudando juntos. O jovem casal se dirige para o balcão quando ele avista sua tia acompanhada de alguém, numa mesa mais ao fundo, e pede que Violet o acompanhe.

- Tia Zel... – ele se aproxima e então reconhece a companhia da ruiva – Belle, boa tarde!

- Henry e Violet, olá, queridos! – a bruxa do Oeste os cumprimenta com um sorriso.

- Boa tarde – Belle também sorri – Sentem-se conosco! – convida e os dois se ajeitam nas cadeiras com cuidado para não acordar Robin, que está dormindo no carrinho de bebê ao lado de sua mãe.

- Regina não vem? – a ruiva questiona.

- Não, eu mandei mensagem quando saí da escola, mas ela só me desejou bom almoço e fez todas aquelas recomendações de mãe... – conta com um sorriso no rosto que as mulheres acompanham. A primogênita Mills torce para que sua irmã tenha ido conversar com certa feiticeira loira.

- Para sua sorte, eu estou aqui – Zelena pisca – E não contarei se você não seguir exatamente todas aquelas mil recomendações da sua mãe sobre comida saudável, eu sei bem como sofri durante a minha gravidez – comenta.

- Zel! – Belle chama a atenção da feiticeira – Está certo que Regina tem regras rígidas quanto à alimentação, eu sei porque já... bem... já passei um tempo considerável sob a responsabilidade dela, digamos assim – French gesticula enquanto fala, um tanto nervosa.

- Você foi prisioneira dela, não há porque minimizar os fatos, Belle... – a ruiva argumenta.

- Tudo bem... ainda assim – olha para Zelena – Durante a sua gravidez, ela estava preocupada com a sua saúde e a do seu bebê. Você pode não ter gostado muito, mas era o jeito dela de cuidar de vocês – a bibliotecária diz encarando a mais velha – E quanto ao Henry.... bom, ela está fazendo o que acha que é o melhor para a sua saúde – diz mais doce e surpreende tia e sobrinho ao defender a prefeita.

- Eu sei Bel, e entendo, de verdade – o garoto sorri – Hoje eu acho muitas vezes engraçado esse lado superprotetor da mamãe. E quanto a regras para o almoço, acho que isso fez com que eu poucas vezes ficasse doente até hoje – dá de ombros – É só que, de vez em quando, eu quero comer outras coisas, sabe? Tipo cheesebuguer com batata frita e milk shake de chocolate! – todos sorriem.

- É isso o que você vai pedir para o almoço, Hen? – Violet o olha com uma careta.

- Ainda não sei, estou pensando, Vi, por quê?

- Acho que eu não conseguiria estudar nada depois de comer tudo isso! – ela diz um tanto tímida.

- Bom, eu dou conta – ele sorri de canto – Mas fique à vontade para pedir o que quiser, tudo bem? – segura a mão dela com carinho e as duas mulheres se olham rapidamente e sorriem – Vocês já terminaram, tia?

- Sim, querido, nós já almoçamos, mas podemos ficar fazendo companhia a vocês, se quiserem – oferece.

- Só não queremos atrapalhar – Belle se apressa em completar.

- Atrapalhar?! – Henry franze o cenho – Não! Quero dizer, é legal ter vocês aqui.

- É, assim a gente pode falar de outros assuntos que não sejam as provas da escola e eu fico menos nervosa – admite Violet.

- Dificuldades na escola? – Belle se preocupa.

- Bem... um pouco. As coisas aqui são bastante diferentes de Camelot, da escola onde eu estudava.

- Se precisar de alguma ajuda, pode me procurar na biblioteca, Violet. Eu não frequentei a escola de Storybrooke também, mas talvez possa ajudar em algo.

- Obrigada, Belle – a garota sorri, sentindo-se acolhida.

- Bom, se quiser algum feitiço para aprender, eu posso ver se...

- Tia, isso não seria contra as regras? – Henry interrompe Zelena.

- Oh, seria? – ela finge pensar para divertimento dos dois jovens – Bom, eu não ligo muito para isso! – dá de ombros.

- Mas deveria, não é? Afinal, Robin também irá para a escola um dia e você não pode simplesmente enfeitiçar a sua filha para aprender as coisas – Belle surpreende a bruxa com o que Zel considera um grande atrevimento.

- Não posso, senhora Rumple? – provoca Mills.

- Não deveria, eu quis dizer – a princesa ruboriza e Zelena, por motivos ainda desconhecidos para a ruiva, acha a cena simplesmente adorável e não está irritada com o que acabou de ouvir.

Uma garçonete chega para anotar os pedidos de Henry e Violet interrompendo o assunto. Quando ela sai, o garoto pergunta sobre Robin para sua tia, desviando o foco de Belle, ao que a princesa agradece silenciosamente.

 

No parque de Storybrooke, numa clareira rodeada de pinheiros e abetos, cercada de pequenas flores de lilases, Ruby e Lily almoçam sanduíches preparados pela jovem-dragão sentadas sob uma toalha velha que Granny cedeu para as duas. Elas riem enquanto bebem seus refrigerantes, porque ainda deverão trabalhar no restaurante da vovó pela tarde, por isso evitam bebidas com álcool.

- Então você quase pôs fogo no castelo da sua mãe? – a loba faz uma pausa nas gargalhadas.

- Em minha defesa, era apenas a segunda aula sobre bolas de fogo e outros feitiços de ataque rápido – a morena de cabelos mais curtos dá de ombros – Além disso, o fogo obedece a nós – revela, com orgulho – Quando o aceitamos como nossa essência. Não havia um risco real de eu provocar um incêndio, já que minha mãe estava junto comigo.

- Deve ser incrível... – Ruby termina seu sanduíche e olha para Lily.

- O que, exatamente?

- Você e sua mãe fazendo magia juntas... voando juntas! – os olhos verdes da metamorfa brilham – Queria ter tido essa chance também... – baixa os olhos.

- Sim, é incrível – a barista concorda – Nunca achei que eu pudesse ser...

- Tão poderosa? – as suas se encaram.

- Tão amada! – Page faz um carinho no rosto da neta de Granny ao seu lado e as duas se beijam lentamente, apreciando o presente que estão construindo juntas, ainda se conhecendo, mas, sobretudo, querendo estar uma com a outra.

Quando terminam o beijo, Ruby deita a cabeça no ombro de Lily e se deixa inebriar do perfume da morena, seu novo cheiro preferido no mundo.

- Sua vez de me contar uma aventura – pede a filha de Maleficent enquanto faz carinho nas longas madeixas da mulher ao seu lado.

- Houve um reino onde eu encontrei muitos outros seres como eu, que se transformam em lobos – a metamorfa suspira – Arzallum é uma terra fria, onde poucos humanos se aventuram. E aqueles que moram por lá, o fazem com bastante respeito aos poderes ancestrais. A magia ainda é muito forte por lá, quase podemos tocá-la no ar. Há um grande respeito pelas criaturas místicas e a Natureza ainda é forte e selvagem – a senhorita Luccas sorri.

- Ouvindo você falar sobre o lugar, me dá vontade de voar até lá para conhecê-lo...

- É um belo lugar mesmo, encantador aos olhos que sabem apreciar a beleza além do que sê... – Ruby pega a mão de Lily e entrelaça os dedos – Mas, apesar de estar entre tantos iguais a mim, eles não me consideravam uma igual – recorda-se com um sorriso triste – Após ter sido recebida no salão real de Damian, o rei de homens e mulheres lobos naquelas terras, e contado a minha história, recebi um quarto e a permissão para ficar enquanto desejasse.

- O que houve que a fez partir?

- Para muitos deles, eu já não era digna de confiança, havia vivido tempo demais junto a outras raças e seres inferiores, como eles chamam os humanos – a jovem suspira – Havia uma educação polida ao conversarem comigo, mas um julgamento velado em muitos olhos. Eu não pertencia àquele lugar, fiquei apenas o suficiente para aprender com uma anciã, uma das poucas criaturas que não se preocupava em me julgar ali. Aprendi sobre as minhas transformações, sobre entender a natureza do que eu sou não pra controlá-la, mas para vivê-la. Em Arzallum, entendi que meu lobo não é uma ameaça a ser domada... – fecha os olhos e fechas as mãos em punho.

- Não, não é mesmo... – Lily lhe toma as mãos e faz carinho nelas – O seu lobo é uma criatura belíssima, Ruby, poder em estado puro – a jovem-dragão sorri – O seu lobo é um dos totens mais antigos da Natureza e do sagrado mistério – a voz de Lilith é suave e toca a outra como se a abraçasse – O seu lobo é para ser reverenciado, Ruby Luccas – a metamorfa sorri largo.

- Assim como o seu dragão, Lilith Page! – a neta de Granny segura o rosto da filha de Maleficent com carinho enquanto elas se admiram. Primeiro, elas tocam as testas, espelham sorrisos pares e então se beijam enquanto o vento dança ao redor.

 

Após o almoço e a revelação de Maleficent, Regina se calou em seu lugar, tentando assimilar ainda o impacto daquela declaração. O modo direto de ser e de agir fora algo que sempre admirara na feiticeira, mesmo que tenha sido ela, enquanto jovem rainha, a ousar beijar a mulher-dragão. As duas dividem a conta e saem do restaurante em silêncio. A falta de palavras não incomoda a loira, afinal, a prefeita está ao seu lado, de braços dados e elas caminham juntas. E Mal conhece, de muito tempo, os silêncios de Regina.

A feiticeira sabe bem a mulher ao seu lado para ter certeza de quantos cenários de futuro ela está imaginando, quanto do passado ainda pesa em seu íntimo e os tantos caminhos que busca para tentar erguer novas barreiras contra seus sentimentos. Mal sabe também que os medos e receios da outra não desaparecerão tão facilmente. Por isso se mantém ali, dando o espaço que Mills necessita, sem deixar que ela se afaste.

Os passos da prefeita acabam guiando as duas até sua mansão.

- Algum compromisso esta tarde? – pergunta enquanto destranca a porta da frente.

- Nenhum que eu me recorde – as duas finalmente se olham. Regina abre a porta e deixa que Mal entre primeiro.

Ao retirarem seus sobretudos e cachecóis, ambos pretos, elas sorriem novamente, como tinha ocorrido no restaurante, pelo guarda-roupa invertido. A morena veste um conjunto de terninho roxo, com uma camisa cinza por dentro. A loira, por sua vez, usa um conjunto de terninho cinza e uma camisa roxa por dentro. Ambas calçam scarpins de salto, pretos.

- Ficamos na sala de estar ou no meu escritório? – a presença de Mal em sua casa deixa a rainha um tanto insegura de como agir.

- Onde se sentir mais à vontade, meu bem, você sabe que não precisa de cerimônias comigo, Regina – a feiticeira diz bem próxima.

- Eu sei...

Sabendo que o escritório é seu refúgio naquela casa, encaminha-se para lá e gosta dos sons que os dois pares saltos produzem no chão de mármore: rítmico, harmônico, coeso.

Maleficent se acomoda em uma poltrona enquanto Regina ocupa um dos sofás. A prefeita liga para sua secretária e informa que não retornará naquela tarde, já que não há nenhuma reunião marcada, dispensando também Ashley.

- Pelo que parece, ganhei uma tarde inteira com você – comenta Mal com um sorriso singelo.

- Acho que precisamos desse tempo... – Regi limpa a garganta – Eu preciso... – ela está inquieta e respira fundo.

- Você tão nervosa em minha presença é uma memória bonita de rever, me lembra de quando nos conhecemos – brinca a mulher-dragão.

- Eu queria conversar um pouco sobre isso... – a morena entrelaça uma mão à outra.

- Pois bem, eu estou aqui... – cruza as pernas e ajeita sua postura.

- Em nosso primeiro almoço, quando foi me buscar na prefeitura, você disse que sua viagem a Moors com Lily a tinha feito se lembrar de...

- Nós – a feiticeira tenta ajudar a rainha.

- Nós... – a voz de Mills é quase um sussurro e ela vira o rosto para a janela, recostando-se no sofá. A morena passa algum tempo assim, até se virar outra vez na direção de sua interlocutora – Do que você se lembrou?

É a vez de Maleficent respirar profundamente.


Notas Finais


Para nós, filhas da Grande Mãe, marcadas com o sinal da Lua.
Para nós - além de nossos casais - é a música de hoje: "Venus".

"At first I thought you were a constellation
I made a map of your stars, then I had a revelation
You’re as beautiful as endless
You’re the universe I’m helpless in
An astronomer at my best
When I throw away the measurements"

https://youtu.be/iddo7W-wj8Y


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...