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História For You. (Limantha) - There For You


Escrita por: itsmegeo_s

Notas do Autor


Dedicado a todas as pessoas que dizeram que choraram com os capítulos passados.

Capítulo 7 - There For You


Fanfic / Fanfiction For You. (Limantha) - There For You

Passo devagar por entre as pessoas, com passos preguiçosos de quem não queria sair de onde estava. As chamadas de voos aconteciam de forma rápida, e pessoas corriam dali à cá e se deixavam cair em lágrimas grossas nos ombros de entes amados.

Eu sentia uma melancolia em esperar meus voos naquela sala de espera onde talvez a verdade estivesse e os beijos em aeroportos eram mais reais do que aqueles vistos em igrejas. Costumamos levar nossos olhares para a mentira bonita, mas talvez a reza mais sentida de fé era aquela de hospital.

Suspiro ao ter meu voo chamado e me levanto sentindo um ardor no peito. Um sentido claro que eu devesse ficar, estancar meus pés na terra e permanecer em seus abraços.

Mas minha vida também era lá. Tão mais lá do que cá.

Meu celular vibra no bolso e suspiro com pesar atendendo sem olhar quem era.

-Sam... -Sua voz chorosa me cortou, me fez perder o ar e parar no meio de todos. -Sam, pode vir pra cá?

-O que houve? -Ela soluça e começa um choro alto e sentido.

-Dalila morreu. -Franzo o cenho e olho ai redor. Tudo parecia girar enquanto eu processava sua informação.

-Quem é Dalila, amor? -Praguejo mentalmente e ela soluça de novo e a segunda chamada do meu voo é feita e dou alguns passos para frente.

-Minha gatinha, Sam. -A ouço assoar o nariz e faço uma careta. -Vem pra cá, por favor.

Abro a boca e respiro fundo, todos andavam impaciente a minha volta. Mas eu não sabia o que fazer.

-Lica... Eu... -Ela soluça de novo, vejo as letras do meu voo se transformar em outras, com destino à outros lugares. -Eu to indo. Me passa seu endereço.

Coloco os fones ouvindo a última chamada acontecer. Puxo minha mala sentindo o chão liso deslizar sob as rodinhas de forma calma e respiro fundo ao sentir o ar gelado me envolver.

Acendo um cigarro enquanto espero o carro que havia chamado e me apoio na parede cinza do lugar, a sensação de queimação invadia minha garganta e me deixava a par da realidade.

-Eu estou indo para você, Lica. -Digo comigo mesma em tom baixo. -Mas espero que você esteja comigo também.

(...)

-Então...? -Chuto uma pedrinha pelo caminho e sinto o conforto de sua mão na minha.

-Ainda amo Caravaggio. -Sorrio e paramos na ponte apreciando o vasto rio sob nossos pés. -Ainda ama Charles?

-Sim! -Respondo animada e ela ri. -Mas passei muito tempo me dedicando à Cassandra Clare.

Abraço sua cintura e a puxo para mais perto.

-Como fará? -Ela torna o assunto sério em poucos segundos e beija a palma de minha mão, cada linha do destino, eu sabia e imaginei, era traçada a dela se comparássemos.

-Gostaria de voltar ao Brasil. -Ela suspira pesado e se encolhe em meus braços. Tentando se esconder do tempo que corria contra nós. -Lá é meu lar. Você não pensa em voltar?

Ela suspira e brinca com meus dedos. Vejo seu olhar baixo, os cílios se embolando em suas piscadas longas e pesadas. A tatuagem em realce agora que eu podia ver de perto.

-Penso. Penso todos os dias. -A olho confusa. -Às vezes acho que já passou do tempo disso acontecer. E realmente creio nisso, mas... Não quero deixar a galeria, ou Tálio.

-Pode abrir uma galeria lá... Imagina se o Grupo tivesse um projeto semelhante ao que faz aqui? -Tento, de modo sutil ou não tão sutil assim, argumentar contra suas questões que a prendiam aqui. -E Tálio... Por que não o leva junto?

Ela abre e fecha a boca por uma dezena de vezes e me olha, os castanhos se tornando claros por conta do sol que batia em nossa pele.

-Eu já pensei em levar o projeto pro Grupo, ou criar minha galeria por lá. Seria até fácil... -Sorrio de canto e beijo sua bochecha. -Mas levar Tálio seria a questão mais difícil aqui.

-Podemos tentar. -Respondo e ela me olha surpresa, os olhos se abrindo em choque e suas bochechas ganhando um tom vermelho. -O que?

-Você lutaria por isso? -Respiro fundo e olho para o horizonte. Às vezes penso em como os antigos foram corajosos ao partir de uma terra cheias de certezas e encontrar um vasto mar de todas as questões que poderiam haver.

-Eu não te pedi para ficar por duas vezes. -Ela fica tensa em meus braços. -Então vi que quem deveria seguir com você era eu. Não por amor cego, porque vejo tudo o que posso perder e ganhar, mas... Sou romântica demais para ignorar todos esses sentimentos que não se calam nem por todos esses anos afastadas.

-E se não der certo?

Sorrio e beijo sua boca de forma rápida.

-E se der certo?

(...)

-Eu nunca viajei de avião. -Tálio diz e dá leves pulinhos enquanto segurava nossas mãos. Apesar de ser um ano mais velho agora, seu tamanho pouco havia mudado.

Suas malas, as menores que haviam em toda nossa bagagem, eram decoradas por mãos e olhares fortes. Sentia que tudo ali exalava sua presença forte junto com a presença marcante de Lica.

Qualquer um que convivesse com eles jamais poderia esquecer tal momento, ou fingir que ele nunca ocorreu. Porque qualquer um que pudesse ter a honra de sua presença, perceberia o porque de ela ser como era. E tudo o que isso significava.

Você sabe que encontrou alguém marcante quando alguém cita seu nome e você percebe que poderia ansiar por qualquer novo minuto com tal presença.

Eu sempre desejei ser esse tipo de pessoa. Com olhares fortes, presença imponente e alguém que poderia aparecer em memórias felizes. Mas talvez não fosse para mim tamanha responsabilidade.

E percebi que não queria cativar tantas pessoas assim. Somente aquelas que me marcassem a memória também.

-Como é no Brasil, tia Sam? -Fico pensativa e começo a descrever o que sentia quando me lembrava do Brasil.

Todo o calor humano que nos rodeava de forma intensa, era minha gente que lutava ali todos os dias. Era minha gente que gritava e lutava todos os dias. Eu sentia-me acolhida como abraço de mãe quando pensava no Brasil.

E foi assim que Tálio sorriu e me disse convicto que se sentiria orgulhoso de ser brasileño, sua pronúncia enrolada e arranhada das palavras me fez sorrir e suspirar feito boba.

-Eu tenho uma pergunta. -Ele franze as sobrancelhas grossas e olha de Lica a mim, de mim a Lica.

-Faça, querido. -Ela diz em tom calmo como sempre era quando falava com Tálio.

-Vocês vão morar juntas? E... Sim... Serão minhas mães? -Pigarreio e engasgo com o ar os fazendo se alarmar e vim em minha direção.

Tusso forte e Lica começa um carinho em minhas costas, fazendo sons calmantes e me olhando nos olhos.

-Por Deus, Samantha. -Ela ralha ao ver que minha respiração voltava ao normal. -Quer ter uma crise de asma antes de um voo? -Rio de seu pequeno desespero e ela me acerta um leve tapa no braço, mas em seguida beija minha boca.

Não pude amar mais aquela mulher.

-Eu não sei... -O respondo e ele faz um muxoxo, mas assente e abaixa a cabeça. -Mas podemos pensar.

-Seria legal. -Ele diz simplesmente.

Sorrio ao voltar a encarar Lica e ela sorria de volta. Seus olhos estavam marejados e as lágrimas presas no canto do olho deixando seu castanho brilhoso.

-Acho que seria. -Ela responde.

Nosso voo é chamado.

(...)

Rimos alto ao ver Tálio sujo de farinha, os cabelos encaracolados estavam sujos até as pontas e ele sorria largo enfiando os dedinhos na massa.

-Não brinque com a comida, querido. -Lica diz, mas se mantinha rindo.

-Ta bom, mama. -Ele responde nos fazendo sorrir ainda mais.

Terminamos de preparar tudo e levo Tálio para um banho junto comigo. O mais estranho foi acostumar nosso menino com banhos diários, porque de todo o resto nós já parecíamos ter essa rotina formada há anos.

Achava engraçado como a sensação de familiaridade nos atingiu rápido, enquanto houve um tempo em que eu estava acostumada a jantar pizza sozinha quase todas as noites. E agora nós sujávamos metade da casa com farinha para preparar o jantar e a sobremesa.

-Olha, mãe, olha. -Ele dá pulinhos com o pijama que tinha uma capa de super herói e fazia uma pose enquanto pulava na cama bagunçando todo o cobertor, mas eu não liguei, ele já bagunçaria tudo enquanto dormia mesmo.

-Vamos lá, herói, precisamos descer para encontrar as amigas das mamães.

Ele bufa em tom de brincadeira, porque me via fazendo isso quando Lica começava a falar sozinha enquanto pintava algo complexo demais. Então eu caminhava até ela, a abraçava por trás e dizia que estava lindo, porque em minha concepção, tudo o que Lica pintava ficava lindo.

-Vamos lá. -Ele pula em meu colo, confiando demais nos meus braços ainda finos, e rindo atoa.

Ouvi a bagunça começando a acontecer lá embaixo. Podia imaginar todas entrando com um prato de comida diferente, abraçavam Lica com força – menos Benê e seu ainda recesso sobre abraços e contato – e diziam o quanto tempo haviam perdido ao longo dos anos.

Eu me sentia em um sonho muito bom, e sentia às vezes que não seria capaz de lidar com tanta felicidade que entrou em minha vida em tão pouco tempo. Mas ao parar no batente da porta enquanto Tálio corria para os braços da mãe, e assistindo todas rirem conversando como se o tempo nunca tivesse corrido, eu me senti que estava no melhor lugar que eu poderia querer.

O lugar onde Lica também estava.

(...)

Liguei o abajur vendo a luz amarelada deixar seu rostinho brilhando, seu semblante exausto mostrava o quanto ele tinha corrido durante a noite. Não parando em um só colo e sendo mimado por todas as pessoas que nos visitaram.

Beijo sua testa e me levanto fechando a porta com cuidado ao sair depois de uma última olhadela.

Procuro Lica pela casa, agora, silenciosa. A sala estava uma loucura, a cozinha se assemelhava em tal situação, mas eu sentia falta disso.

Vejo Lica na varanda e vou até la, abraçando sua cintura e beijando seu ombro desnudo. Ela sorri e se vira me abraçando pelos ombros e me deixando aquecida com seu olhar amoroso.

-Estive pensando... -Faço careta e ela ri me dando um leve tapa. -No quão louco foi tudo isso.

Sorrio e deito minha cabeça em seu ombro. Sinto seu cheiro doce e respiro fundo a fazendo se arrepiar. Gostava de todo o efeito que eu ainda causava nela, era tão semelhante ao efeito que ela tinha sobre mim. E sobre tudo o que eu sentia sobre ela.

-Em uma semana eu achava que você continuaria como uma lembrança boa... E na outra, você era meu presente. E eu novamente a queria no meu futuro. -Rio fraco e fecho os olhos, apreciando sua voz terna, seu cabelo fazia leve cosquinha em minha testa, mas eu não sairia dali.

-Você foi tudo o que minhas memórias lutaram para não sumir. E depois eu descobri que teria que lutar para você não sumir também. -Digo baixo. -E então nos encontramos de novo, porque é isso o que aconteceria uma hora ou outra. Não estamos amarradas, mas temos em nós toda a ânsia de ficarmos juntas. E então agora estamos no lugar onde devemos estar, sob as mesmas estrelas e sob o mesmo olhar. Poderia sonhar mil vezes com esse momento e em nenhum deles seria tão bom quanto vem sido.

Poderia pensar em mil formas de tê-la junto a mim, mas em nenhuma dessas fantasias eu teria sido capaz de imaginar uma realidade tão boa para nós.

Ela sorri largo.

Eu suspiro.

-Gosto de ver que qualquer que tenha sido meus sonhos com você, estou vivendo o melhor deles. -Ela diz me fazendo olhá-la de canto. -O de ter uma família. Como a que eu nunca tive, sem cobranças por ser filha de alguém importante. Depois que toda a confusão se acalmou, eu percebi que gostaria de uma vida mais estável do que eu levava. Obrigada por me dar isso.

Nossa historia parou de ser só sobre nós e se tornou sobre a vida de um outro ser que precisava de nós. E é engraçado imaginar todas as voltas que tivemos que dar para nos encontrarmos de novo no mesmo capítulo de tudo.

(...)

Tálio corria entre as pessoas e logo voltava para nosso meio, como alguém que queria explorar a tudo, mas não queria sair de seu conforto.

-Essas crianças são talento puro. -Seus olhos brilham felizes, a feira de exposição das crianças que estudavam na nova galeria de Lica tinha feito um sucesso e agora estávamos assistindo a todas elas sorrirem e conversarem com pessoas incríveis, que se importavam tanto com elas quanto nós.

Tálio já tinha feito suas amizades e brincava de um lado para o outro, parecendo nunca cansar.

-Ele tem seu talento. -Digo à Lica sobre nossa criança e ela sorri assentindo e me beijando.

-Precisamos então de alguém que tenha o seu. -Rimos baixo e assistimos uma garota de catorze anos apresentar um pequeno poema sobre as ruas onde morava.

Conversamos com Tina e Keyla sobre o que ocorria em cada canto ali, e até sobre o Tônico arranhar algumas músicas. O garoto estava enorme.

Nos sentamos perto da saída, aproveitando o vento forte que cancelava um pouco de todo o calor que fazia em São Paulo naqueles dias. De longe observávamos Tálio brincar com a garota da poesia, ela era alta, branca até demais, os cabelos lisos estavam cortados no mesmo estilo que Lica adorava, suas sobrancelhas eram grossas e uma porção cheia de sardas enfeitava todo o rosto.

-Theresa. -Lica diz ao me ver analisando a garota. -Chegou no orfanato faz pouco tempo, mas é uma ótima garota. Infelizmente todos tem suas preferencias e em sua maioria desejam as crianças menores, dificilmente ela vai conseguir ser adotada.

Tálio puxava a garota até nós, mas ela parecia relutante e com uma vergonha similar a que eu tinha quando ainda observava Lica de longe.

-Olá senhorita Gutierrez. -Ela cumprimenta com as bochechas coradas. -E senhorita...

-Me chame de Samantha, ou Sam. -Lhe sorrio e ela abaixa a cabeça.

-Eu adoro seus livros. -Sorrio largo e Tálio se senta entre nós, nos afastando e depois se concentrando no sorvete que Lica havia trago.

-Gostaria? -Lica oferece e a menina nega sem jeito.

Pego o sorvete e entrego em sua mão a puxando para se sentar conosco enquanto conversávamos sobre meus livros. Não gostava de soar narcisista, mas adorava quando conhecia alguém que gostasse de minhas palavras, e aquela garota parecia as conhecer bem.

Tálio ria enquanto conversava com Lica e deve seu corpinho atacado por cócegas e Theresa sorria, ainda que envergonhada, para nós.

A responsável pelas crianças do orfanato chama todos para irem e Theresa se levanta devagar, sorri sem graça e se afasta com um aceno. Suspiro ressentida e olho para Lica que limpava o rosto gorducho de Tálio, me surpreendo ao sentir um baque em meu corpo e sorrio ao perceber ser a garota que brincava com os dedos segundos atrás.

-Obrigada. -Pisco lentamente e confusa, ela pigarreia e olha para baixo. Seus cílios eram castanhos e longos, de perto as sardas se assemelhavam a pequenos pontos amarelados fofos e irregulares, cobrindo o nariz fino e as bochechas gordinhas. -Quando eu achei que não tinha mais nada... Eu costumava ler seus livros a noite e percebi que apesar de tudo, eu ainda tinha suas palavras.

Ela se afasta correndo, a bolsa de ombro voando junto com a saia de seu vestido. Os cabelos parecendo brilhar com o sol, assim como seu olhar agora brilhante. Queria ter o talento de Lica para pintar aquele momento.

-É uma garota incrível, não é? -Assinto e me viro sorrindo sapeca. -Ah não, Sam. -Rio alto, jogo a cabeça para trás e deixo o vento acalmar o calor que fazia em meu pescoço e nuca. -Mal me deu um filho e já quer outro? -Rio ainda mais e Tálio me acompanha confuso.

Sempre supus que minha risada o fizesse rir até sair lágrimas de seus olhos. Acho que ele achava engraçado o modo como eu me debatia sem ar.

-Temos 29 anos, mulher, aposto que tem energia pra uma multidão de filhos ainda. -Ela arregala os olhos e eu gargalho de sua reação, fazendo Tálio rir ainda mais. -Além disso, você mesma disse que dificilmente ela seria adotada, podemos tornar isso mais fácil.

Ela me olha por longos segundos, cutuco Tálio e fazemos um biquinho semelhante, os olhinhos grandes e pidões sempre fazia Lica suspirar e negar com a cabeça. Mas ela nunca resistia.

-Era tão mais fácil quando você não fazia esse biquinho. -Ela segura em minhas bochechas formando um bico e o beijando diversas vezes em seguida.

O mais engraçado, louco ou estranho da criação da família, é que as vezes você se encontra sozinho no mundo, mas ao olhar ao redor, pessoas que você nunca imaginou estão ali para te apoiar e disser que tudo vai ficar bem. Às vezes, família surgia do nada, como um pequeno punhado de grama entre o concreto, e então crescia para todos os lados, atraindo mais pessoas, e mais amor.


Notas Finais


Samantha ficou um ano em Londres junto com Lica e Tálio. E tiveram um ano no Brasil até Theresa surgir. E ao todo, se passou 12 anos até o presente momento (se minhas contas de humanas estiverem certas)
3 capítulos para o fim.
Amo vocês, obrigada pelos favoritos e comentários 💜💜💜💜💜💜💜💜💜💜
Até mais 💜🍕


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