História Forever - Cuidado!...

– Vai sair com ele? Sério? – Daniele me encarava com a sobrancelha arqueada – Gabi você sabe que ele é casado.

– Não vai ser um encontro, vou apenas visitar a senhora Sook – falei enquanto terminava de preencher uma ficha –  e também eu não tive muita escolha, até falei que preferia ir sozinha, mas ele fingiu não ter me ouvido – revirei os olhos.

– Bom se você acha que não vai dar em nada... Mas sério cuidado, não quero te ver sofrendo por ele – suspirou – sinceramente acho que não é... – parou de falar e jogou uma lista de remédios na mesa – a quer saber deixa pra lá, vai ser bom pra você ver a senhora Sook – se levantou e saiu da minha sala.

Ela não gostou da ideia, mas que mal tem? Eu não vou para agarrar ele, tenho total consciência que ele é casado e tem filhos. É bem capaz da esposa dele estar lá... Parando pra pensar deve ser por isso que a Dani está tão preocupada.

Segunda- feira (13:30)...

Os dias se passaram rápido e a cada dia eu ficava mais nervosa. Não sei o que esta acontecendo! O simples fato de saber que ia sair com Jimin, mesmo que seja só como amigos, me faz pirar e isso me deixava frustrada, sou muito fraca! Deveria ter resistido e falado que não, acho que seria o certo.

“O que estou fazendo, ele tem filhos. Vai que a mulher dele está lá?! Merda! Como eu vou agir se ela estiver lá?! Bom agora já era, falta só meia hora para ele passar aqui... Eu sou muito burra mesmo!” – pensava enquanto encarava um vaso de flores na sala de consulta.

– Gabi! Dá pra você parar com isso e se concentrar – Daniele chamou minha atenção,  eu escutei a porta do consultório ser fechada, o proprietário do paciente deve ter saído – já faz quatro dias que você está no mundo da lua! Eu sabia que isso não ia dar certo... – respirou fundo – tive que pedir para o senhor Enri sair se não ele ia pensar que somos incompetentes, dá próxima vez que der folga pra Andy mantenha a concentração pra eu não precisar cuidar dos seus pacientes! Agora me passa a porcaria da seringa! – disse brava.

– Sinto muito – disse baixo.

Daniele é a pessoa mais amigável do mundo, mas quando se trata de suas responsabilidades ela não admite erros e digamos que eu não estava sendo a veterinária mais responsável do mundo nessa ultima semana. Entreguei a seringa e ajudei na contenção do gatinho para que ela pudesse aplicar o medicamento.

Faltavam 10 minutos para Jimin chegar. Parecia que eu ia explodir de tanto nervosismo, e um pouco de medo também. Medo do que eu encontraria lá, medo de me arrepender e ficar chorando depois.

“CHEGA GABRIELA! Você não vai chorar por ninguém, independente do que você veja lá. Já está na hora de crescer!” – pensava olhando pela janela grande que tinha na recepção.

– Vamos? – falou perto do meu ouvido.

– AI MEU DEUS – meu coração acelerou.

– Deixa eu adivinhar... Se assustou de novo? – disse Jimin dando risada.

– A culpa é sua por isso, parece que brota nunca vi – revirei os olhos – vamos logo – comecei a andar para o estacionamento.

– Você quem manda.

Saímos da clínica e entramos no carro de Jimin. A casa da senhora Sook era longe, uma hora de carro mais ou menos. Dani fez bem ao liberar Dimitri, deveria ser difícil para ela ir à clínica toda hora.

O caminho era calmo, poucos carros trafegavam naquela área e a vista era linda.

Entramos em uma estrada de terra que nos levou a uma pequena chácara. Lá era muito lindo, o que mais me chamou atenção foi uma estufa enorme atrás da casa. Haviam alguns animais também, a Dani vai pirar quando eu falar pra ela, principalmente quando ela souber que tem cavalos.

Desci do carro e fiquei admirando o local.

– Bonito né – Jimin falou olhando em volta.

– Muito! A senhora Sook mora aqui? – perguntei voltando minha atenção à ele que agora estava ao meu lado.

– Na verdade ela trabalha aqui, ela e o neto dela Yoongi.

– Esse lugar é muito lindo, a Dani iria pirar com aquilo – apontei para os cavalos.

Ele sorriu e andou em direção a casa. É uma pena que está nublado, esse lugar deve ficar ainda mais bonito em dias de sol.

– Chegamos! – Jimin gritou em coreano e me guiou até a sala.

Eu não entendi, mas não deu tempo de perguntar o que ele tinha dito. Tudo foi muito rápido, quando vi já estava no chão com um cachorro em cima de mim. Dimitri estava mais forte desde a ultima vez que eu o vi.

– DIMITRI – ouvi senhora Sook gritando – TÁ MALUCO CACHORRO!

– Tudo bem senhora – disse rindo enquanto Jimin puxava Dimitri e eu tentava levantar.

– Não precisa de tanta formalidade menina, pode me chamar só de Sook – sorriu, mas desviou o olhar para a porta – Yoongi! Limpa a bota antes de entrar! Olha só o chão, acabei de limpar!

– Desculp... – parou de falar e me olhou. Me senti estranha, ele me olhava intensamente, me analisava de cima a baixo. Ficamos longos segundos nos olhando. Ele pareceu nervoso, engoliu em seco e disse finalmente – vou limpar minha bota – e saiu rápido.

Senhora Sook olhou para Jimin que parecia contrariado com o que acabou de acontecer, mas... o que exatamente acabou de acontecer? Sinceramente nem eu entendi, só sei fiquei presa no olhar daquele homem.

– Vem Gabi, quero te mostrar um lugar – disse me fazendo despertar e perceber que ele estava sério. Quando saímos vimos Yoongi novamente. Jimin o olhou de forma estranha, ele apenas deu as costas e foi em direção a alguns cavalos.

– Está tudo bem? Percebi um clima estranho entre você e seu... O que ele seria seu já que é neto da senhora Sook? – perguntei confusa.

– Tia Sook é minha tia avó então... Ele seria meu primo avô? – me encarou confuso, depois de alguns segundos trocando olhares totalmente confusos caímos na gargalhada – enfim, não vou saber te explicar – disse enquanto limpava uma lágrima que se formou enquanto ele ria – respondendo sua pergunta, ele é meio estranho e não conversamos muito... Venha! – segurou minha mão e me guiou.

Andamos entre algumas árvores até chegar a uma clareira, aquele lugar era incrível, pude ver uma grande árvore no centro da clareira, em um de seus galhos havia um balanço. Aquilo me trazia lembranças, se fosse em outros momentos eu iria espantar essas lembranças o mais rápido possível, mas ali com ele... Era impossível.

– Vem! – Jimin gritou e começou a correr.

Não acredito que depois de tanto tempo aquilo estava se repetindo e dessa vez não era no meu sonho. Comecei a correr e me senti uma adolescente ao fazer isso, mas não me importava só queria aproveitar o máximo aquele momento.

– Senta aqui, vou te balançar – ele apontou para o balanço.

– Para com isso Jimin, não somos mais crianças isso é ridículo – disse rindo.

– Até parece, só porque somos adultos não podemos nos divertir? – fiquei parada – por Deus Gabriela. Vem logo!

– O.k! Você não muda nunca? Sempre mandão desse jeito – balancei a cabeça e sentei no balanço.

– Você que tem que parar de ser tão certinha e se divertir um pouco.

Começou a dar impulso no balanço que agora ia e voltava enquanto eu apenas sorria, fechei os olhos sentindo a brisa fazendo um leve carinho em meu rosto. Meu cabelo, que até então estava preso em um coque alto, se soltou e começou a ficar cada vez mais bagunçado enquanto o balanço fazia seu trabalho. Senti Jimin parar de dar impulso ao balanço e dar a volta ficando em minha frente, ele parecia se divertir com aquela cena e eu não conseguia para de rir. Aos poucos o balanço foi perdendo a velocidade até parar por completo, sentamos em baixo da árvore e ficamos conversando por assuntos aleatórios.

Não sei quanto tempo ficamos lá nos divertindo e conversando, realmente o tempo passa muito rápido quando estou com ele... Mas tem uma coisa que eu tenho que perguntar...

– Jimin... E a sua esposa? Ela está com os seus filhos? Vai vir aqui também? – perguntei em tom baixo olhando para as arvores.

Nesse momento sua expressão mudou, seu sorriso lindo sumiu.

– Gabi... Minha esposa não vai vir pra cá... – falou em tom baixo.

– Por quê? Ela não veio com vocês? – olhei em sua direção um tanto confusa.

– Na verdade... Ela... Ela morreu há dois anos – olhou para baixo.

Não sabia o que dizer, a única coisa que passava na minha cabeça era o quanto eu era burra por ter feito aquela pergunta.

– Jimin... Eu sinto muito, não deveria ter perguntado.

– Tudo bem – sorriu – meus filhos saíram com Jungkook, daqui a pouco eles chegam – mudou de assunto, provavelmente não quer conversar sobre a mulher e eu vou respeitar isso.

– Vamos voltar? Quero conversar com a senhora Sook e já faz um bom tempo que estamos aqui.

– Verdade... Quem chega primeiro? – perguntou se levantando e me estendeu a mão.

– Capaz mesmo Jimin, até parece que eu – sai correndo – vou deixar você me ganhar! – gritei enquanto corria.

– Isso é roubo senhorita – gritou e começou a correr.

– Perdeu – disse debochado – não acredito que mesmo saindo na frente você conseguiu perder.

– Também, com essas pernas de garça que você tem não dá para ganhar mesmo – cruzei os braços.

– A não fica assim não – acariciou meu rosto, olhei para ele espantada e senti meu rosto queimar – na próxima você ganha – falou baixo.

Ele estava perto, muito perto. Podíamos sentir a respiração um do outro. Então eu me dei conta do que estava prestes a acontecer.

– Até parece – virei o rosto, mesmo assim ele continuava perto.

– Gabi... – tentou se aproximar novamente.

– Não! – olhei em seus olhos e me afastei.

Um silêncio constrangedor se fez presente. Estava impressionada com o modo frio com que eu agi. Ele apenas me observava, tentei decifrar seu olhar, mas não consegui. Quando ele ia se aproximar mais uma vez ouvimos uma buzina.

– Jimin chegamos! – disse Jungkook descendo do carro, duas crianças desceram correndo e vieram em nossa direção.

– Papai – Shin foi o primeiro a chegar até nós e pulou no colo do Jimin, a menina logo chegou e o abraçou pela cintura, aquela foi à cena mais linda que eu já vi.

– Crianças dêem oi pra Gabi – disse sorrindo.

– Olá – disseram juntos.

– Olá crianças – Sorri e me abaixei quando eles vieram em minha direção para me cumprimentar. Congelei quando os dois me abraçaram, mas retribui o abraço com carinho.

Ouvimos alguns latidos e vimos Dimitri vir correndo brincar com eles, me soltaram em uma velocidade incrível e foram correndo brincar.

– Eles são muito lindos Jimin – disse sorrindo e limpando minha calça.

– Com essa beleza de pai é claro que seriam lindos mesmo – disse passando a mão nos cabelos convencido.

– Espero que não sejam modestos igual a você – ri – eles são inteligentes, tão novos e já sabem falar inglês fluente. Quantos anos eles tem?

– Mi-Cha tem 10 e Shin tem 8. Coloquei eles para fazer aula desde pequenos, sabia que uma hora ou outra iriam viajar comigo, então já adiantei isso.

10 anos, então ele se casou pouco tempo depois de ter sumido... Fiquei triste com aquele pensamento, até hoje não consegui ter um relacionamento duradouro com ninguém e ele se casou. Ele percebeu minha expressão triste e abriu a boca para falar alguma coisa, mas JungKook o interrompeu.

– Gabi! Finalmente veio fazer uma visita em – Jungkook me abraçou.

– Venham comer! Preparei um café – gritou senhora Sook.

O café estava delicioso, finalmente parei para conversar com senhora Sook, estava até envergonhada, vim para fazer companhia a ela e sumi por quase duas horas com Jimin.

Ela me contou que trabalha e mora naquela chácara há muito tempo, ela e Yoongi cuidam dos animais e da estufa. Os patrões delas vão pouco para lá, mais em datas comemorativas ou feriados. Ela se mudou para lá quando era nova, tinha 25 anos, conheceu o pai de seu filho e se casou, ele faleceu há três anos em um acidente de carro que levou também seu filho e nora, os únicos sobreviventes foram Yoongi e sua irmã que atualmente esta na Coréia.

Jimin e Jungkook ficarão em Londres só até resolver alguns assuntos pendentes, após isso vão voltar para a Coréia.

Fiquei um pouco triste em imaginar Jimin indo embora de novo, mas tentei esquecer esse sentimento, não tínhamos mais nada e eu prometi a mim mesma que não iria mais sofrer por ele.

Depois que terminamos ajudei senhora Sook a limpar a cozinha e fui para sala onde encontrei JungKook lendo alguns documentos e Jimin brincando com as crianças. Ver eles fez milhões de coisas passarem pela minha cabeça.

“Se tudo tivesse dado certo poderiam ser nossos filhos Jimin” – pensei – “Nossa o que eu estou pensando?!”

Sai pela porta dos fundos e andei um pouco observando o lugar. Olhei para a grande estufa, desde que chegamos ali queria ver como era lá dentro, acho que não tem problema ir lá. Caminhei até ela e fiquei admirada com a quantidade de flores que havia ali, todas muito lindas e bem cuidadas.

Uma em especial me chamou atenção, ela era azul e estava em uma prateleira perto da grande janela. Cheguei mais perto, mas não consegui alcançar. Não sei o que deu em mim, nunca fui de mexer nas coisas dos outros, mas aquela flor me chamou muito atenção. Vi uma escada, provavelmente a que usavam para alcançar essas flores, sem pensar duas vezes fui até ela.

– É melhor não – falei decidindo se pegava a escada ou não – a quer saber – peguei a escada e coloquei próxima a prateleira.

Quando cheguei perto da flor fiquei admirando-a por um bom tempo, depois de alguns minutos admirando a linda flor decidi descer, mas para o meu azar eu tropecei em um dos degraus e me desequilibrei.

– Cuidado! – alguém gritou, estava com os olhos fechados sentindo meu corpo em queda livre e aguardando o impacto, mas ao invés disso a única coisa que senti foram braços fortes me segurando antes de cair comigo por cima de seu corpo.