História Forever - Estúpido!...

Ele abraçava minha cintura com força enquanto eu apenas escondia meu rosto em seu peito. Eu deveria estar muito vermelha naquele momento. Além de ser pega fazendo uma coisa... Bom não diria que era errada, eu só estava vendo uma flor.

“Mas é claro que você tinha que cair né Gabriela!” – pensei.

– Você deveria tomar mais cuidado – disse finalmente.

– Desculpe Ji... – deixei a frase morrer quando levantei a cabeça para olhá-lo, eu podia jurar que tinha sido Jimin a me segurar, mas para a minha surpresa quem me segurou foi aquele homem alto e pálido de mais cedo, seus cabelos castanhos estavam bagunçados. Como era mesmo o nome dele?

– Yoongi... – revirou os olhos e com “delicadeza”, se é que pode chamar aquilo de delicadeza, me tirou de cima dele e levantou – sou Yoongi.

– Me desculpe Yoongi, eu pensei que fosse o... – disse me levantando.

– O Jimin... Eu sei, mas ele está brincando com os filhos dele na sala. Só estou aqui porque vi você entrando na estufa e daqui a pouco os irri... – Nesse momento os irrigadores se ativaram – merda! Venha! – disse me puxando pelo braço.

– Eu sei onde fica a saída – disse soltando a mão dele. Não gostei do modo como falou comigo.

Sai daquela estufa toda molhada, ela era grande e para o meu azar eu estava no fundo.

Antes de chegar à varanda da casa senti Yoongi segurar minha mão.

– Ei, ei... Desculpa pelo jeito que eu falei, não estava querendo ser grosso nem nada é só o meu jeito mesmo, minha avó já me avisou que... – não deixei que terminasse a frase.

– Tudo bem Yoongi – dei ênfase em seu nome – eu estava errada, não deveria ter entrado e nem mexido em nada sem avisar.

– Pode entrar lá a hora que quiser, só toma cuidado para não cair de novo – Yoongi disse cruzando os braços, acho que ele também não gostou do jeito que eu falei com ele.

Revirei os olhos e continuei andando.

– Droga! Estou toda molhada! – disse para mim mesma já sem paciência. Porque eu ainda estava falando inglês? Também não sei, não to nem raciocinando direito... Que raiva porque estou assim?

– Espera, vou te emprestar roupas secas, vem comigo – disse virando às costas e se pôs a andar.

Pensei em recusar, mas não poderia entrar na casa toda molhada, então o segui. Ele começou a andar por uma trilha em meio a árvores, a cada paço que eu dava ficava com um pouco de medo, afinal nunca o vi e do nada ele me leva pro meio do mato pra me emprestar roupa. Estranho? Talvez.

Andamos por uns dois minutos até finalmente chegarmos a uma casa afastada. Não era grande, havia apenas um quarto, banheiro e uma cozinha pequena.

– Onde estamos? – perguntei olhando em volta.

– Na minha casa, pelo menos eu gosto de chamar assim – sorriu indo até a pia da cozinha para lavar a mão.

– Por que não fica com a senhora Sook na outra casa? – estava curiosa.

– Gosto mais daqui é mais afastado e silencioso, além do mais eu só durmo aqui, fico o tempo todo ajudando minha avó. Espera aqui vou pegar uma roupa pra você.

Entrou no quarto e eu fiquei observando o local. Era muito organizado e limpo, havia uma estante pequena com livros e uma poltrona onde provavelmente seria sua “sala”. No mesmo cômodo era a cozinha onde havia um fogão simples de quatro bocas, pia, geladeira, uma mesa pequena e alguns armários. Ao lado da geladeira tinha uma porta, lá provavelmente seria o banheiro.

Parei de observar e pensei por um momento, percebi o quão burra eu estava sendo, poderia muito bem pedir roupas para senhora Sook que é mulher, mas é claro que eu segui um homem estranho no meio do mato pra pegar roupas dele emprestado. Bati em minha própria testa.

"Como pode sempre tomar as MELHORES decisões Gabriela?" – pensei indignada comigo mesma.

Fui até seu quarto e entrei sem bater. Pra que meu Deus?

– Yoongi, acho melhor... Meu Deus! Ai me desculpa – estava completamente envergonhada, meu rosto queimava muito.

Quando entrei no quarto ele estava apenas de cueca, estava tirando a roupa molhada, por isso estava demorando tanto. Tentei sair rápido, mas a única coisa que ganhei foi um beijo maravilhoso da porta.

– Que isso garota? Tá maluca, eu pedi para esperar lá fora! – vestiu a calça rápido – você está bem? – eu ainda estava de costas para ele e escondia o rosto nas mãos porque, com certeza, estava muito vermelho. Me virou de frente para ele e passou a mão em minha cabeça rápido fazendo o local esquentar um pouco, isso fez com que a dor amenizasse um pouco.

– Claro, um galo na testa não é nada. Nossa me desculpa, por favor, não deveria ter entrado sem bater – disse tirando as mãos do rosto e procurando a maçaneta que decidiu se esconder, mas ele me impediu.

– Não mesmo! Eu estava trocando de roupa, não sabe bater? Ainda bem que eu já estava de cueca – respirou fundo tentando se acalmar – você tem que tomar cuidado, vai acabar se matando desse jeito – disse olhando o vermelho em minha testa – vista essa roupa – apontou para cama – vou pegar um gelo para colocar ai.

Quando ele saiu do quarto fechei a porta e coloquei as mãos na cabeça. Como uma pessoa pode ter tanta “sorte” desse jeito?! E como um cara pode ser tão grosso desse jeito? Não sei qual era o maior, se minha vergonha ou a raiva que sentia dele!

Sem mais o que fazer peguei a roupa e vesti, achei estranho ser um short feminino, mas não me importei. Pelo menos não ficaria tão estranho com aquela camisa larga.

Sai do quarto e ele estava tomando água na cozinha.

“Porque Deus? Porque ele tem que estar sem camisa?” – pensei analisando seu corpo.

Tenho que admitir que ele tinha o corpo muito bonito, não era o cara com a barriga e peitoral mais definido do mundo, mas eu sempre gostei de homens assim então de certa forma ele me atraiu.

Parou o que estava fazendo e me analisou de cima a baixo. Me senti envergonhada com o modo que ele me fitava, era tão intenso o jeito que olhava nos meus olhos. Sentia como se ele pudesse ler meus pensamentos só com aquele olhar e convenhamos que meu pensamento não estava em um bom momento para ser lido.

– Pega – jogou um saquinho com gelo pra mim.

“Quanta gentileza” – revirei os olhos, ele conseguiu acabar com tudo apenas com esse ato – “acabar com o que Gabriela tá doida?”

– Obrigada – coloquei o gelo na testa e um silêncio muito constrangedor tomou conta do ambiente. Resolvi quebrá-lo – gosta de ler? – disse indo até sua estante de livros.

– Sim, quando eu tenho tempo é sempre bom ler – Yoongi continuava encostado na pia com os braços cruzados.

– Entendo, você deve ser muito ocupado mesmo – eu estava curiosa quanto ao short, mas estava com vergonha de perguntar... Bom eu vi ele de cueca, mais vergonhoso que isso não deve ser – mas de quem é esse short em? – uma cara maliciosa involuntária se formou no meu rosto.

– Que cara é essa? Não vá pensando besteiras sem saber – fechou a cara e virou o rosto, parecia uma criança birrenta. Eu até daria risada se ele não tivesse sido tão estúpido.

– Dá pra parar de falar comigo desse jeito, eu só fiz uma pergunta droga!

– Tá foi mal, mas cada pergunta que você faz – revirou os olhos – é da minha irmã mais nova, ela mora na Coreia e vem passar o verão com a gente. Ela esqueceu aqui na última vez que veio. Ao invés de você pensar besteira deveria agradecer, aposto que uma calça minha não ficaria tão bonita em você. E a camisa é minha antes que pense outra coisa.

– Você poderia parar de complicar tanto as coisas, dava para ter falado que era da sua irmã desde o início, seria bem mais fácil – o confrontei, já estava de saco cheio desse cara.

– E você poderia ser menos curiosa, teria evitado muita coisa assim – sorriu de lado e nossa como ele ficava fofo daquele jeito, nem parece ser esse cara tão grosso – mas pra você deve ser meio difícil isso não é?

– Realmente, eu poderia ter evitado muita coisa, evitaria ter caído, ter ganhado um galo na testa e principalmente, poderia estar conversando com alguém mais interessante no momento – falei tudo de uma vez.

– Quem por exemplo? Se for minha avó, o Jungkook ou as crianças eu até aceito, até o Dimitri você pode falar que é melhor companhia que eu, mas não vou aceitar que o Park seja a pessoa mais interessante que você diz – praticamente gritou o que me assustou um pouco, mas eu não iria demonstrar.

– E se for? O que teria de tão errado? Ele pelo menos não me trata com grosseria – também gritei.

– Não se engane menina – disse voltando a cruzar os braços só que dessa vez com um sorriso cínico nos lábios.

– Acha que eu tenho quantos anos para me chamar assim? Me poupe – revirei os olhos – realmente tenho que parar com essas decisões estúpidas e também de achar que todo mundo é gentil. Não sei nem o que estou fazendo aqui ainda.

– Ninguém está te obrigando a ficar aqui, eu já fiz minha boa ação do dia. Se parar pra pensar fiz até mais que isso, se me der licença tenho mais o que fazer – disse apontando para porta.

– Com todo o prazer Yoongi, pega – joguei o saco de gelo.

Sai da casa e andei o mais rápido que consegui, estava com muita raiva dele. Quem ele pensa que é para falar comigo daquele jeito?

Entrei na casa pisando forte o que acabou chamando atenção das pessoas que estavam na sala.

– Está tudo bem menina? – perguntou senhora Sook.

– Sim senho...

– Que roupas são essas? Porque você sumiu? – foi a vez de Jimin, ele parecia um pouco nervoso.

– Eu estava na estufa e os irrigadores se ativaram, essa roupa foi o Yoongi que me emprestou – escondi as outras partes, até porque quanto menos eu pensava nele melhor.

– Entendi – disse e saiu da sala em direção a cozinha.

O que será que deu nele, bom não estou afim de saber, estou cansada de pessoas rabugentas. Por hoje minha cota está cheia. Fiquei na sala conversando e dando risada.

Ficamos horas conversando, nem vi o tempo passar. Só percebi que estava tarde quando Yoongi entrou na sala. Nesse momento Jimin ficou sério e o encarou, mas ele pareceu apenas ignorar e foi até senhora Sook.

– Boa noite vó – disse dando um beijo na testa de senhora Sook.

– Já vai dormir Yoongi? – perguntou a senhora.

– Sim, já são 20horas amanhã acordo cedo – sorriu para a senhora e após receber um beijo na bochecha se retirou – boa noite.

Não deu tempo para respondermos, ele já havia saído.

– Nossa já está tarde Jimin eu tenho que voltar amanhã acordo cedo – disse me levantando.

– Tudo bem então – disse se levantando – deixa só eu colocar as crianças na cama – disse com Shin no colo que já dormia – vamos Mi-Cha já está tarde.

– Tudo bem papai, boa noite tio – beijou Jungkook – boa noite tia – beijou senhora Sook, fiquei surpresa quando ela veio em minha direção – boa noite Gabi, volte logo para brincarmos mais – e me abraçou.

– Claro pequena, assim que eu tiver um tempo eu venho e você pode ir me visitar também – sorri.

Me despedi de todos e fiquei esperando o Jimin perto do carro. Escutei um latido e sabia exatamente de quem era, fui até o canil onde Dimitri passava a noite.

– E ai garoto – disse fazendo carinho em sua cabeça – desculpe não passar muito tempo com você, aconteceram algumas coisas hoje – sorri – umas agradáveis e infelizmente outras nem tanto. Outro dia eu te conto.

– Essas nem tão boas são as que eu me encaixo não é – Yoongi disse se aproximando.

– O que você acha? – respondi ríspida.

– Nem vem que você não facilitou em nada – cruzou os braços e olhou para o outro lado.

– A quer saber esquece Yoongi, eu já estou indo, tchau – disse passando por ele e indo em direção ao carro.

– Até mais – disse baixo quando eu passei do seu lado.

– Sério por que você faz isso?! – estava nervosa com as mudanças de humor dele.

– Isso o que? – me olhou confuso.

– Horas me trata bem, depois MUITO mal e bem de novo, eu não te entendo.

– É só meu jeito já te disse. Mas confesse que se não fosse por ele você nem estaria conversando comigo agora – disse se aproximando até ficar a poucos centímetros de mim.

– Você que pensa. Mil vezes conversar com pessoas simpáticas do que um ranzinza como você, eu não consigo te entender e isso me irrita um pouco. Não sei como agir com medo de levar uma patada a qualquer momento.

– Faz parte do meu charme – se aproximou um pouco mais, mas por algum motivo parou e ficou sério – até mais Gabriela – e se foi sumindo na escuridão do bosque.

Fiquei um tempo parada observando ele se afastar, quando me virei para ir em direção ao carro vi Jimin na varanda me olhando. Ele me olhava de um jeito estranho, comecei a andar em direção ao carro sem falar nada. Escutei Jimin destravar o carro e entrei em silêncio.

Ele entrou no carro também em silêncio e assim fomos até o meu apartamento, sem falar nenhuma palavra.

Não desci do carro quando chegamos, esperava que ele falasse alguma coisa, se despedisse ou sei lá, mas ele não falou. Fiquei uns dois minutos dentro do carro esperando ele falar alguma coisa, como não falou eu tomei a iniciativa.

– Bom até mais Jimin – e abri a porta do carro.

– Espera! – segurou minha mão. Fechei novamente a porta e o olhei – desculpe se não falei com você ou se fiquei... Digamos que... –  tentava achar as palavras então resolvi facilitar pra ele.

– Emburrado toda hora que o Yoongi aparecia ou mesmo por não ter falado mais comigo desde a hora que eu voltei da casa dele? – joguei na cara mesmo porque sou dessas!

– Emburrado não seria a palavra, mas espera, você foi na casa dele? – perguntou com os olhos arregalados.

– Claro! Onde você acha que eu troquei de roupa, mas não mude de assunto! O que deu em você?!

– Só não gostei de te ver com ele! – disse de uma vez o que me fez ficar em silêncio por um momento – não gostei, principalmente agora quando ele estava se despedindo. Ele estava muito perto. E te ver com a camisa dele também não facilita em nada – olhou pela janela do carro.

– Ficou com raiva por causa disso? Pelo amor de Deus Jimin quantos anos você tem! Primeiro, eu e você somos amigos, você não tem que virar a cara toda vez que eu conversar com outro homem. Segundo, o Yoongi seria a última pessoa que eu teria alguma coisa, aquele cara irritante e mal-humorado com certeza não faz meu tipo – suspirei, só de lembrar do jeito bipolar dele eu ficava com raiva.

– Olha Gabi não quero discutir com você por causa dele. Só não confie nele o.k.

– Jimin, não sei qual o problema que envolve vocês dois, mas se resolvam e não me envolva nisso. Se eu quiser conversar com ele, coisa que eu não quero, não é você que vai impedir! Boa noite – e sai do carro.

Ele saiu do carro e me puxou pela cintura colando nossos corpos, estávamos tão perto que podia sentir sua respiração no meu rosto. O emburrei com brusquidão.

– Eu já falei que não! – entrei deixando ele para trás.