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História Freak Out - Não me diga


Escrita por: sammye

Notas do Autor


Don't try to tell me what to do 🎵

Hoy! Tudo bom? Nesse capítulo de hoje iremos aprender como uma noz é martelada para que seja retirado seu fruto da casca, certo?

Desejo uma boa leitura! 💛

*Esquálido significa “desprovido de cuidados”, pálido // “Franzino” é magro, fino, delicado.
*Âmago é o mesmo que essência, alma, coração // E “Cáustico” significa “que queima, causa irritação”, sinônimo de irritante, sarcástico e mordaz.

Capítulo 37 - Não me diga


Fanfic / Fanfiction Freak Out - Não me diga

 

Peguei as chaves sobre a mesinha perto da escada e marchei apressada até a garagem em busca do carro, em seguida dei partida e saí de casa atravessando a avenida em direção à residência de Kendrick. Minha recordação em direção ao caminho era um tanto vaga devido ao estresse que tinha quando o visitei da outra vez.

Não demorou muito para que conseguisse avistar a construção, dei a volta no quarteirão e estacionei em frente do gramado, desci num pulo rápido caminhando diretamente até a entrada. Toquei a campainha três vezes e já estava indo para a quarta quando ele finalmente atendeu.

— Avril? – ele juntou as sobrancelhas numa expressão surpresa e me observou intrigado com minha presença. Em seus braços encontrava-se uma garotinha de cabelos loiros presos em duas tranças dona de grandes olhos curiosos me examinando.

Tirei as mãos do bolso da calça e comecei a balançar os braços — É, oi! – respondi um pouco sem jeito, da última vez que estive por aqui foi em um momento bem desnorteado. A garotinha acenou um “Olá” entusiasmado e eu repeti o gesto.

— Posso saber o que faz aqui?

— Precisamos ter uma conversa séria.

— Precisamos?

— É...

Fitou-me aparentemente irritado — Achei que você não quisesse mais falar comigo, não?

Mordi o lábio — Querer eu não quero, mas é preciso.

Bufou, girando os olhos impaciente — Hoje, sinceramente, não é um bom dia. Sobre o quê você quer falar?

— Cord.

— Pra quê? Tudo que eu falo você leva na ofensiva rebatendo como se fosse um ataque!

Respirei fundo olhando-o nos olhos e afirmei que dessa vez iria tentar ser mais paciente e ouvir o que ele tem a dizer sem fazer muitas interrupções. Sei que da outra vez fui rude, por isso pedi desculpas pela minha atitude e ele finalmente me deixou entrar em sua casa.

Notei diversos caixotes amontoados pelos cantos assim que passei pela porta, a decoração havia tido um rombo e logo deduzi que ele estava de mudança. Kendrick negou informando que apenas estava doando algumas coisas, mas encafifada, não tirei essa hipótese da cabeça. Talvez ele estivesse redecorando? Mas pra quê mentir?

Não seja intrometida, Avril!

Ele pousou a garotinha no chão pedindo carinhosamente para que ela fosse brincar enquanto ele conversava comigo, a menina saiu saltitando pela casa. Notei que Kendrick demonstrava tamanho afeto pela garota, então concluí que talvez fosse a irmã que ele havia comentado comigo tempos atrás, só não imaginei que fosse tão nova, ela não aparentava ter mais de cinco anos.

O segui até o escritório e esse cômodo, diferente da sala, estava mais recheado de decoração assim como até mesmo um tabuleiro de xadrez fazia parte da estante. Puxei a cadeira em frente à sua mesa e me acomodei nela — Sobre o quê exatamente você quer falar? – questionou assim que puxou a cadeira para sentar.

Assenti introduzindo minha teoria — Sobre o que você e Michelle tanto escondem.

— O que se trata a respeito de sua irmã não me interessa, agora sobre minha vida eu não tenho obrigação nenhuma em lhe dizer.

— Vejo que está irritado.

— E por que não estaria?

Cruzei os braços e fiquei o encarando sem muito dizer, não demorou muito para que isso o incomodasse. Pedi mais uma vez para que me contasse a história do roubo e ele repetiu o que tinha me dito sem muito interesse, então questionei o porquê desse caso soar tão ensaiado e ele se irritou com minha curiosidade.

— Não entendo, primeiro quando eu tentei te dizer alguma coisa você me expulsou de sua casa e agora bate na minha porta querendo que eu lhe diga o que você quer ouvir? – arqueou a sobrancelha, confuso. Percebi que Kendrick estava nervoso com alguma coisa ao evitar me olhar demonstrando uma inquietação — Você acha mesmo que eu vou dizer algo que você “queira ouvir”?

Fiz uma careta — Naquele dia eu não queria saber, não parei para pensar direito no que estava acontecendo, mas agora estou disposta a ouvir. O que vocês tanto escondem? Olha, seja lá o que for e se for algo errado, eu posso lhe ajudar com um bom advogado, portanto você me dizendo aqui e agora o que é que está acontecendo. – juntei as mãos entrelaçadas sobre a perna cruzada e finalizei meu discurso de “boas vindas”.

— Dinheiro não é um problema.

— Não estou falando do advogado mais caro e sim do melhor.

Ralhou afirmando que não tinha nada a dizer e que era melhor a minha retirada de sua casa imediatamente, pensei em insistir e bater o pé antes de sair, porém eu mesma o expulsei numa situação parecida e ele foi sem tentar persistir. E eu não tenho nenhuma intimidade com ele, nem relação ou resquício de amizade, mal nos conhecemos e por esse motivo não posso continuar teimando para que se abrisse comigo.

Respeitando seu espaço, levantei-me em direção à porta ressaltando que minha proposta permanece em pé e que apesar dos desafetos, apenas quero ajudar. Kendrick agradeceu minha gentileza e enfiou a cara em suas mãos soltando um longo suspiro angustiado, senti uma leve tristeza ao vê-lo tentar esconder sua dor.

Girei a maçaneta da porta e quando ameacei sair, sua voz rouca ecoou pelo cômodo iluminado pela luz que vinha da janela e me causou um arrepio — Eu matei o Cord. – anunciou apavorado e isso me fez cessar os passos congelando o corpo feito uma estátua.

— Você o quê?

— Eu matei meu melhor amigo. – repetiu convicto e eu ao invés de sair correndo dali, dei meia volta e o analisei assustada. Mas o que é que você está fazendo? Corra daí agora!

Ele passou a mão no rosto antes de tentar me encarar, com as mãos trêmulas e corpo curvado, seus olhos conturbados realçavam a aparência esquálida — Eu fui o culpado, deixei com que ele morresse e não fiz nada para impedir! – lamuriou descontente. Levei a mão ao peito e voltei a respirar mais aliviada com sua explicação, o que Kendrick sentia era culpa, remorso por estar jogando xadrez comigo ao invés de estar ao lado dele?

— Você quis dizer que o “matou” metaforicamente falando?

Retornei para a cadeira enquanto ele tomava fôlego para recordar — Eu o ajudei a roubar aquele maldito pingente, fui seu cúmplice. Tentei explicar que era loucura, mas ele não quis ouvir, no entanto ele era meu irmão e eu não podia deixar que fizesse isso sozinho, então o ajudei... – iniciou o relato balançando a cabeça negativamente discordando de suas próprias ações — Então eu o matei no momento que colaborei para que isso acontecesse.

Engoli a saliva em seco tentando evitar interromper seu desabafo, por que se eu disser qualquer asneira é capaz dele cessar o discurso e não contar mais nada. Apenas cruzei os braços tentando prestar atenção, depois desfiz o gesto ao lembrar de Camille dizendo que essa ação era como se eu estive “fechada a novas ideias, a um diálogo” e não era isso que queria transmitir no momento.

— Então os exames de Lauren ficaram prontos e o diagnóstico fora feito, naquele instante eu já havia feito um arrombo em minha conta bancária ao fazer a doação para aquele evento do Halloween.

Não contive a pergunta — Lauren?

— É, aquela garotinha que estava comigo hoje mais cedo é a minha irmãzinha. – respondeu retornando ao que estava prestes a falar — Então falsifiquei o pingente antes de Cord entregar para Michelle.

— Você enganou minha irmã?!

— A ideia fora do próprio Cord, ele como meu irmão quis o melhor para Lauren.

Franzi o cenho — E não era mais fácil o próprio Cord lhe ajudar a levantar a quantia necessária ao invés de promover um assalto?!

Balançou a cabeça gesticulando as mãos — Você não ouviu a parte em que eu disse que nada iria tirar essa ideia da cabeça de Cord?! E sim, eu agi errado e estou pagando por isso, mas foi para o bem de minha irmã! Ela só tem sete anos, não podia deixar isso acontecer de novo! – dono de um brilho melancólico nos olhos, ele praguejou inconformado — Infelizmente eu sacrifiquei meu irmão por ela...

Deprimido, Kendrick comentou que a pequena era frágil e seu coração não aguentaria por muito tempo, seus pulmões eram delicados e que por isso a garota precisava de cuidados médicos extremamente caros. Sendo assim, os dois planejaram o roubo para custear o tratamento dela e entregando a falsificação para minha irmã ao invés da original. Contudo, Cord fora descuidado e alguém o viu, dessa forma vieram atrás dele.

— E você mentiu quando disse que veio falar comigo por causa de Michelle?

— Não. Naquele dia eu já não tinha mais o verdadeiro em mãos, dessa maneira a única opção era recuperar o de Michelle.

Arrisquei palpitar — Na esperança de que o dono não percebesse que era uma falsificação?

Ele fez que sim, a intenção era enganar ambos os lados, todavia o restante da história eu já sabia. Cord fora morto antes de poder fazer mais um trambique e Kendrick “manteve” a promessa ao melhor amigo perpetuando tudo em segredo até então.

Eu estou tentando digerir essa história toda sem ficar incrédula, pois ele acabou de confessar ser cúmplice de um crime e isso não parecia uma situação boa para o meu lado por motivos de que vim aqui sem avisar ninguém, e se ele resolver me apagar?

Calma, Avril. Isso é por causa dos filmes e demasiada adrenalina em sua cabeça.

É... E eu que me sentia culpada por ter roubado um whiskey da loja de bebidas perto de casa com meu namorado da época, o Matt, e me martirizei desde então... Acho que agora posso dormir mais tranquila, né? – forcei um sorriso apaziguador tentando amenizar a tensão.

Mas não adiantou em nada, o silêncio tomou conta do ar e eu me sufoquei com a imensidão daquela “tranquilidade”. Não tinha muito o que dizer, a situação falava por si só. Kendrick estava com a cabeça enterrada na mesa murmurando coisas que não pude entender coisa alguma, e por mais que pro seu lado a coisa esteja feia, não pude deixar de me contentar com a parte em que Michelle apenas sabia que era “dona” de um item roubado.

— Sabe, eu não menti quando disse sobre o advogado...

Ele ergueu os olhos para me fitar. Agora que sei da sua situação financeira, negar minha ajuda seria imprudência, pois finalmente consegui entender o porquê dos móveis faltantes e caixas espalhadas pelos cantos, ele não estava de mudança e sim vendendo suas coisas para saudar as dívidas.

Arqueou a sobrancelha, incrédulo com minha proposta — Sério isso?!

Dei de ombros, ao menos eu tentei! Então me levantei mais segura de que agora poderia deixar o detetive Thomas seguir sua investigação sem ter que me preocupar tanto com minha irmã, isso de fato é egoísmo de minha parte, pois Kendrick está sofrendo com as consequências de seus atos. Porém, era minha irmãzinha e assim como ele fez de tudo pela sua, eu faço o mesmo pela minha.

Ofereci ajuda emocional, suporte para caso ele quisesse conversar alegando fingir não saber sobre o fato dele ser cúmplice de Cord, afinal isso era um segredo entre dois irmãos e não posso mais me intrometer.

Meu coração apertou com seu semblante abatido ao deixa-lo para trás quase chorando de arrependimento. Infelizmente, não pude fazer muito para ajudar, apenas respeitei sua dor e me retirei dali sem fazer barulho. Quando passei pela cozinha, a garotinha passou correndo por mim.

— Oi! Você aceita tomar chá conosco?

Contemplei uma mesinha com algumas xícaras e louças rosas de brinquedo para a hora do chá, ao lado tinha três cadeiras vazias na qual em duas delas seus amigos imaginários estavam acomodados apreciando um pedaço de bolo de aniversário — Claro, eu aceito! – evitei sentar na cadeira porque obviamente iria quebrar, sendo assim no carpete sentei sobre as pernas.

Lauren estava com as bochechas coradas quase encobrindo sua palidez, no entanto dava para notar como seu corpo era franzino. Apesar de sua notória alegria, era perceptível sua delicadeza. Acompanhei a menina na hora do chá com seus amiguinhos fazendo amizade com o senhor Fuzzy e nos tornando bons amigos, quanto ao senhor Frosty, esse já não gostou muito da minha postura por ser mais sofisticado. Lauren o repreendeu e ele pediu desculpas.

Após alguns minutos, tive que me despedir. Ganhei um abraço apertado com beijos de cortesia, estava para sair quando Kendrick veio em minha direção e pediu para que aguardasse um pouco. Então disse para sua irmãzinha o esperar em seu quarto antes de conversar comigo, ela aceitou o pedido sem relutar deixando a sala — O que houve? – perguntei claramente nervosa.

— Eu preciso te dizer mais uma coisa.

Sua voz séria causou-me arrepios, senti uma súbita vontade de recusar ouvir qualquer coisa.

— O que?

E mesmo assim deixei minha curiosidade falar mais alto mais uma vez.

— Eu fui cúmplice de Cord.

Franzi o cenho — Isso você já me disse...

— Mas eu não te disse que quem arquitetou todo o plano foi sua irmã, Michelle.

Meu coração deu um tranco descarrilhando dos trilhos e colidindo com minha mente não mais tão sã. Quis gritar, porém a voz não saiu. Isso é mentira, Mich não sabia nem roubar doce de festa infantil!

Kendrick tentou intervir para que eu não saísse desnorteada de sua casa, contudo continuei caminhando aos tropeços até meu carro. Ignorei tudo o que ele dizia no meio do percurso, simplesmente não queria mais saber. E quando estava prestes a ligar o motor meu celular começou a tocar. Vi o remetente, era Misty.

Não quis atender, no momento minha raiva e desespero não me deixou pensar em nada. A única coisa que martelava em minha mente era o fato de que irei para Nova York ainda hoje encontrar aquela peste. Rejeitei a chamada e liguei para Camille pedindo para que agendasse um voo de última hora ainda hoje, ela disse que iria tentar marcar um para antes das 22h.

Agora mais calma com a possibilidade de bater de frente com minha irmã, respirei fundo e encarei a tela de chamadas do celular. Disquei os números e telefonei de volta para a consultora conforme batucava impaciente no volante. Ela atendeu de imediato — Avril, tudo bem? – perguntou assim que atendi e sua voz já havia um timbre de preocupação.

— Você queria falar comigo?

— Sim.

— Alguma coisa que deixei passar nas anotações?

— Não, não é sobre isso que quero falar.

Ergui a sobrancelha — Não?

— Você poderia dar uma passada aqui assim que puder? É sobre pedido que você me fez.

— Que pedido?

— A “pesquisa”...

Passei a mão na testa soltando um suspiro, tinha até me esquecido desse detalhe no meio da correria — Você não pode adiantar a conversa?

Suspirou — Temo que não, é um assunto delicado para falar por telefone, prefiro pessoalmente.

Baixei os olhos e observei a hora no relógio. Era 17h56, dava tempo de passar em sua residência e voltar correndo pra casa pegar a mala – que por sorte ou preguiça ainda não desfiz – e ir direto ao aeroporto fazer o embarque já que Camille cuidaria de todo o resto durante essas horas.

Decidi passar lá ainda hoje, pois pelo seu tom de voz dava para perceber que ela estava bem séria. O que será que ela descobriu?

— Tudo bem – emiti entre os dentes — Estou ligando o carro agora, nos vemos daqui a pouco então.

— Certo, até mais!

Encerrei a chamada e dei partida dirigindo um tanto absorta em meus pensamentos, numa hora tudo está florido e repentinamente os espinhos cutucam minha alma. Não era possível que Michelle tenha feito algo assim, ela não é assim, essa não é a minha irmã! Eu queria poder ligar para mamãe, ela saberia resolver essa situação em dois segundos, mas do que adiantaria simplesmente dedurar ela?

E como se não bastasse toda essa confusão, ainda tinha a preocupação de Misty ecoando em minha mente alarmando mais ainda minha angústia.

 

...

 

Cheguei na casa da consultora faltando um tempinho para as 19h. Misty conduziu-me até a sala de estar e pediu desculpas por não poder me recepcionar no escritório, uma vez que, nesse momento seu irmão estava ocupando o local. Repliquei que não havia problema algum em ser na sala já que estávamos sozinhas ali.

Ela ficou dando rodeios, observei que Misty estava um pouco inquieta também — O que houve? – perguntei parada em sua frente tentando não me perder em seus gestos.

— Bem, é sobre a investigação que você me pediu para fazer, eu apenas averiguei quem soltou o boato e não me aprofundei no por que dessa atitude.

Fiz que sim ouvindo atentamente e ela deu uma longa pausa — Tudo bem, continue... – falei já irritada com a demora, a hora estava passando e eu tinha outros compromissos.

— Tem certeza que você ainda quer saber quem fez isso?

Pelo tom de sua voz, estremeci. Uma dúvida brotou em minha mente, talvez fosse melhor deixar quieto do jeito que está, mas não era justo fazer isso comigo — Tenho. Afinal, o que você descobriu? – cruzei os braços e bati o pé no chão impaciente.

Misty juntou as mãos e enrijeceu a postura rígida esboçando um semblante sério — Eu sinto muito ter que dizer isso a você, Avril. – tentou não demonstrar tristeza adotando um ar profissional. Isso me fez repensar na minha teoria antiga em que Michelle poderia ter feito isso, apesar dela ter negado, pelo visto mentir tornou-se um hábito — O nome da pessoa que divulgou as informações é Louise Campbell.

Continuou dizendo mais alguma coisa que meu cérebro fez questão de desconsiderar, no momento a única coisa que senti foi uma pontada em meu peito e uma marreta massacrando meu âmago. Apoiei nos móveis ao redor para me afundar no sofá sem perceber no que estava segurando, fora como se um buraco tivesse aberto debaixo de meus pés puxando-me para a escuridão.

Minha melhor amiga, minha amiga de infância. Minha irmã! Não pode ser! Lou nunca faria isso comigo, ela jamais me trairia dessa forma ao expor minha vida assim, por que faria isso? Não tem motivos!

Quando dei por mim, estava balbuciando frases desconexas em meio a angustia e caos que se tornou meu coração — Sinto muito ter que dizer isso, eu sei que ela é sua amiga de infância, mas... – chateada, tentou dar consolo.

Neguei, balançando a cabeça — Você procurou errado, investigue de novo, Louise não seria capaz de aprontar uma coisa dessas! – proclamei indignada com tamanho absurdo.

— Avril, eu averiguei várias vezes antes de poder lhe afirmar isso...

Não. – bati o pé contestando essa teoria imponderável e depois uma ideia traiçoeira passou por minha mente, a não ser que... Eu demorei para contar sobre Deryck para ela e logo depois aconteceu disso “vazar”. Quer dizer, Louise não demonstrou muito espanto ao saber da suposta traição, então teoricamente, e se fosse ela a amante dele? — Meu Deus do céu, não pode ser! – exclamei boquiaberta e atônita com a descoberta. Agora tudo fazia sentido!

— O quê?

— Foi Louise quem ficou com o Deryck? Por isso ela já sabia?!

Misty ergueu a sobrancelha — Você não está se adiantando muito na história?

— Vai me dizer que você não pensou o mesmo? – rebati. Não recebi uma resposta com palavras, porém a careta que fez já fora o suficiente para confirmar minha suposição.

Não deu tempo para que ela rebatesse, uma vez que assim que abriu a boca para falar a campainha tocou e interrompeu sua fala. Pediu licença para ir atender a porta, esboçando uma cara de espanto ao atender um homem de terno escuro. E por mais que tentasse dizer algo, ele fazia afirmações e seguia ditando um diálogo de apenas uma única pessoa falando, em seguida Damien apareceu e os dois se estranharam.

— Precisamos conversar, Moxi.

— Estou ocupada agora, não posso atender.

Sua expressão era de alguém que não aceitaria um não como resposta. Passei a ignorar o diálogo dos dois e desviei para o meu mais novo problema: minha melhor amiga me traiu e isso esmagou meu coração como uma noz. Enfiei as mãos no rosto tapando meus olhos conforme tentava quase inutilmente conter as lágrimas, sentia-me fraca, vulnerável, exposta. Meus olhos ardiam, minhas bochechas queimavam e meu coração estava em chamas, queimando no fogo da raiva.

“Se um dia nos separarmos, lembre-se que estarei sempre contigo onde quer que você vá. Somos irmãs unidas pela vida, amigas para todo o sempre.”

E amigas verdadeiras traem uma a outra? Expõe um relato particular para a mídia? Causa alvoroço em um coração recém-costurado e remendado? O que Louise fez comigo?!

Ouvi passos se aproximando, não busquei ver de onde vinham até escutar sua voz interromper meus questionamentos — Você está bem? Eu ouvi sem querer uma parte da conversa... – proclamou com uma calmaria irritante.

Rosnei — Damien, por favor, eu sei que você me detesta e adora me provocar, mas agora não. – supliquei com a voz embargada de emoção engolindo a saliva em seco tentando não gaguejar.

Os passos ficaram mais próximos, não olhei em sua direção, mas sei que ele sentou no sofá da frente — Eu não ia te zoar, só não acho uma boa ideia você sair transtornada daqui soltando fogo pelas ventas sem tentar acalmar um pouco, não quer um copo d’água? – perguntou com uma súbita gentileza.

Estranhei — Não, obrigada.

O silêncio prosseguiu exatamente como deveria ser. Eu não queria conversar com ninguém, muito menos com Damien que sempre faz questão de impor seu ódio por mim. No momento meu maior desejo era sair voando dali direto pro pescoço de Louise e a fazer confessar qualquer baixaria que tivesse feito, todavia minhas pernas estavam bambas e dormentes, minha garganta ardia e até minhas mãos ficaram flácidas.

— Eu entendo que esteja sendo difícil de aceitar o que aconteceu...

Sério mesmo que ele estava tentando me ajudar? Eu nem queria olhar pra sua cara, ainda sentia raiva pelo o que havia me dito da outra vez — Entende? Aham, claro que entende. – ironizei impaciente com sua insistência.

— Quando Brianna foi embora com um amigo meu após nosso divórcio, eu também obviamente não aceitei muito bem...

Arregalei os olhos e ergui a cabeça o encarando — Divórcio? Você não quis dizer separação?

Juntou as sobrancelhas — Dá na mesma, o divórcio é um processo de separação. Enfim, como eu ia dizendo, senti que fui traído por eles dois mesmo que tenha sido depois da separação, vai saber se não mantinham um caso antes? Então deixei o rancor me cegar.

Pisquei ainda digerindo o início da conversa — Espera, espera! Você disse divórcio?!

— E você vai ficar me olhando com essa cara de louca?! Sim, divórcio, separação, rompimento, fim de casamento, essas coisas.

— Você já foi casado? – tapei a boca pra conter o riso que queria escapar.

Arqueou a sobrancelha — Infelizmente, sim. Por dois longos anos, quatro meses, dezesseis dias, cinco horas e doze intermináveis minutos.

A única expressão no momento que consegui emitir foi “Wow!” para depois emendar — Nunca imaginei que você fosse capaz de algum relacionamento maior que um breve romance, quem diria um casamento?!

Deu de ombros jogando-se no estofado — Eu era muito burro quando mais jovem. Tive um namoro que durou dos quinze aos dezoito, depois aos vinte entrelacei com Brianna e nos casamos no mesmo mês, no primeiro ano era um mar de rosas e no segundo tornou-se num inferno – reclamou com os olhos arregalados fazendo uma careta que quase me fez rir — Quase dois anos e meio amarrado, depois disso decidi que nunca mais iria fazer uma burrada dessas. Deus me livre e guarde!

No final acabei rindo do seu exagero, era engraçado que eu nunca imaginaria algo assim. Pelo visto essa Brianna deveria ser santificada, coitada da moça!

— Mas o que eu queria dizer para você é que – desencostou e apoiou os braços na perna olhando-me nos olhos com uma expressão compadecida — Quando ela foi embora, eu dei graças a Deus, é óbvio, mas senti como se tivesse sido apunhalado e não tentei raciocinar direito a situação, eu saí jogando pedra para tudo quanto é lado sem me importar em ferir alguém. E então houve um acidente, meu amigo partiu sem poder se defender, sem ter uma chance de explicar o que realmente aconteceu além do meu turvo campo de visão. – relatou um pouco irrequieto em contar isso — E olhando para você eu vislumbro algo que também já fiz outrora vez, você está aí supondo milhões de hipóteses e criando explicação sem nem sequer ligar para essa sua amiga para descobrir o que a fez cometer isso.

Revirei os olhos — Está dizendo para que eu esqueça que ela me traiu e simplesmente agir naturalmente?

— Não, estou dizendo para você respirar fundo, contar até cinco, pegar esse celular e enviar uma mensagem. “Precisamos conversar sobre Deryck, é urgente”. Então você vai lá na casa dela, conversa cara a cara e descobre de uma vez por todas o que houve, mas para isso você tem que parar de deduzir as coisas, você não é vidente! – argumentou convicto e eu estava quase para ralhar que ele tinha razão quando Damien decidiu prosseguir acrescentando — Mas minha mãe era quase uma e eu herdei seu dom, sabia? Se quiser posso parcelar uma consulta em cinco vezes no cartão.

Fitei-o cética com os olhos semicerrados — É sério isso?

— Claro, acha mesmo que vou dar conselho de graça?!

Balancei a cabeça pasmada com sua cara de pau. Virei a cara para o lado e notei um balde cheio de balões d’água coloridos no pé do sofá — Pra quê esses balões? – perguntei intrigada e ele ergueu a cabeça para olhar.

— Ah, isso são para jogar.

— Jogar?

— É, a psicóloga disse para minha mãe que era uma forma de extravasar a ira, então eu sempre faço isso quando estou estressado.

Que é o tempo todo, pensei — Ah é? E pode jogar isso em pessoas também?

— Pode sim, mas minha mãe nunca me deixou acertar meu irmão – fez uma careta de decepção.

Sorri maliciosa com essa possibilidade — E por um acaso eu poderia tacar um desses em alguém que me irrita muito?

Ele ergueu a sobrancelha para me encarar já compreendendo onde quis chegar — Talvez essa pessoa mereça um pouco... – disse, por fim. Olha só como ele estava bondoso hoje!

Puxei o balde e peguei um balão azul, ergui o braço pronta para arremessar quando infelizmente a porta rangeu e Misty saiu do escritório acompanhada do homem de terno escuro. Congelei por um instante, então abaixei a mão e devolvi a bexiga de volta ao seu lugar analisando o estranho passar.

Ele olhou em minha direção, seus olhos eram escuros como o breu e uma névoa encobria qualquer resquício de brilho que ali poderia ter. Assustador, essa fora a única palavra que consegui encontrar para o descrever. Como se já soubesse de meus mais profundos segredos, seu olhar parecia querer sugar minha alma.

De repente eu já não queria mais ficar aqui. Levantei quase que automático e marchei para a saída desejando não o encontrar mais, contudo ele me chamou pelo meu sobrenome e me tomou a atenção — Olá, senhorita Lavigne. Prazer em conhecê-la – estendeu a mão para que eu o cumprimentasse e gélida um calafrio arrepiou todo meu corpo assim que apertei sua mão gélida — Você precisa de algum advogado?

Era como se ele soubesse que eu poderia vir a precisar de um — N-Não...

— Um produtor então?

Senti minhas energias sendo sugadas por aquele interminável cumprimento, até que Damien interrompeu e o afastou — Deixa ela em paz, Seth! – proclamou abrindo a passagem que o estranho tinha barrado.

Antes que desse mais um passo, ele ofereceu um cartão — Para qualquer coisa que precisar, como um consultor ou um assessor, qualquer coisa basta apenas ligar para esse número no cartão e seu problema será resolvido. – anunciou com um cáustico sorriso.

Aceitei apressada tentando me livrar dos arredores de sua nuvem escura o mais depressa possível. Não sei quem ele era, só sei que o modo como ele portava causava-me aflição. Fingi interesse abaixando a cabeça e lendo o enunciado “Seth B. Mawr”. De onde foi que eu vi esse sobrenome antes?

Damien abriu a porta e eu saí sem me despedir direito de Misty e agradecer por sua ajuda, sendo assim, dei meia volta para dizer adeus justamente no momento em que ele bateu a porta na minha cara. Claro, já era de se esperar que sua educação não durasse mais que dois minutos!

Inspirei, expirei. Passei lentamente pelo portão da frente remoendo minhas opções respirando fundo e amenizando a tensão do corpo momentos antes de retornar para o carro. Eu poderia baixar na casa de Louise agora mesmo de supetão sem dar chance para que ela criasse uma desculpa, entretanto até eu chegar em sua casa, retornar para a minha, pegar a mala e ir para o aeroporto, o voo já teria decolado. Então eu poderia ir atrás de Michelle ou procurar por Lou.

Escolhi a mais cabível e segui ao seu encontro.

 


Notas Finais


Que confusão, Michelle aprontando daqui e Louise dali 👀

Don't try to tell me what to say
You're better off that way 🎶

Obrigada a quem veio até aqui, espero que tenham gostado! Nos vemos no próximo, sim? 💖 *u*


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