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História Freak Out - Primor


Escrita por: sammye

Notas do Autor


Hey, hey! 🎶

Oie, tudo bom? Desde já, desejo uma boa leitura! ♡

*Mirrado significa seco, ressecado, murcho.
*Sepulcro é o mesmo que sepultura, túmulo.

Capítulo 30 - Primor


Fanfic / Fanfiction Freak Out - Primor

 

Minhas mãos suavam frias, as pernas bambas de tão trêmulas. O local estava frio e úmido, e a única iluminação que tinha era o feixe de luz que atravessava a janela e clareava um pouco o local, contudo a noite vinha caindo e a escuridão em breve tomaria conta do cômodo assim como o meu pânico.

 

...

 

A campainha tocou pela manhã, embora não fosse tão cedo assim, aproveitei que estava próxima à porta, sentada no sofá assistindo ao programa de culinária o qual iria participar futuramente, e levantei seguindo o percurso para atender. Assim que puxei a maçaneta, um grito histérico ecoou pela casa que fez meu ouvido zunir.

Encolhi o corpo, assustada, tapando o ouvido em reflexo ao susto. Pressionei os olhos com força até ouvir sua voz novamente dizendo para que a olhasse, respirei fundo sem coragem para encará-la. “Por favor, que seja um pesadelo”, supliquei mentalmente.

Mas não era, e muito pelo contrário, pairada em minha frente estava a irmã caçula de mamãe, a tia Juliette. Um pouco mais alta do que eu, loira dos olhos castanhos claros, nariz arrebitado e olhos marcados sutilmente pelo delineador, usava uma calça social e vestia um casaquinho por cima da blusa — Olá, Abbeyzinha! – tocou em minhas bochechas depositando beijos ao me cumprimentar.

Pisquei atônita, ainda estava tentando digerir a surpresa — Ti-Tia Lette! O que faz aqui? – balbuciei encarando-a dos pés à cabeça.

— Ora essa, vim lhe visitar!

— Por que não a mamãe?

Ela pendeu a cabeça — Não está contente com minha chegada?

— Na-Não! Longe disso!

— Ótimo.  – concluiu. Revirou sua bolsa de mão buscando por um frasco, depois levou o conteúdo até a boca, pendendo o corpo para que caísse o último gole — Droga! Onde você deixa a bebida mesmo? – exclamou, empurrando-me para o lado e passando apressada para dentro de casa, deixando sua bagagem para trás.

Espera! Ela trouxe malas?!

Ixi, socorro!

Saí para a varanda segurando no puxador das malas e arrastando-a com esforço para dentro de casa, o que ela carregava ali dentro? Um corpo por acaso?!

Quando dei por mim, ela já estava revirando minha prateleira buscando por qualquer conteúdo alcóolico — Tia, sem querer ser chata...

— Mas já sendo... – ralhou de volta entretida com as garrafas.

— Não está um pouco cedo para beber?

Girou sobre os calcanhares em minha direção com a sobrancelha arqueada, encarando-me cética — É, sabe que tem razão?

— Tenho? – franzi o cenho.

— Tem sim! Peça para a empregada me preparar o café...

— Mas já são mais de 10h! – interrompi.

Ela prosseguiu mesmo assim — Enquanto isso vou subir para o meu quarto.

— Seu quarto?

— Sim, você tem uma suíte, não é mesmo?

— Sim, no meu quarto mas...

— Ótimo! Vou tomar um banho.

Deu uns passos em direção à escada e eu saltei em sua frente de braços abertos impedindo a passagem — Espera! No meu quarto? – questionei inconformada com sua ousadia, ela estava ficando folgada — Vou pedir para Ellen me ajudar a arrumar uma suíte para a senhora, ok? Enquanto isso espere aqui embaixo, me dê apenas cinco minutos, por favor! – supliquei quase ao ponto de me ajoelhar.

Ela me olhou de cima à baixo refletindo suas escolhas, até que disse sim e marchou para a cozinha atrás da comida. Soltei um suspiro aliviado ao vê-la saindo da sala, girei em busca de Ellen e pedi para que me ajudasse a preparar um quarto para titia.

Estava no andar de cima quando ouvi sua voz nasal escoando pelo corredor — Abbeyzinha! – procurou, e assim que se aproximou, abri a porta do closet e saltei para dentro escondendo-me atrás das peças, e puxei a porta com o pé.

Peguei o celular no escuro e digitei apressada o número que deveria estar na discagem rápida, levou um tempo para que atendesse. Levei o aparelho à orelha — Mamãe! – exclamei angustiada.

— O que houve, minha filha?

— É a titia! A senhora sabia que ela vinha aqui hoje?

— Sua tia está na cidade?!

Fiz que sim como se ela estivesse em minha frente — Ela veio passar uns dias...

Mamãe riu — Sabemos que isso dura no mínimo semanas.

— Sabe o que ela faz aqui?

— Parece que se divorciou novamente e foi buscar refúgio no ar de uma outra divorciada bem sucedida.

Revirei os olhos, bufando — Podia ter resolvido isso com a irmã dela, não comigo!

— Coitada da sua pobre tia, sabe que Juliette adora você, a sobrinha preferida dela.

Adora minha conta bancária e minha piscina, isso sim!

Mas não podia negar que tia Lette era a que mais me apoiava entre os demais familiares, ela era meio louquinha e vivia com seu cantil de whisky em mãos. Isso me faz lembrar que foi desse cantil que bebi pela primeira vez, um dia, peguei escondido dela e me escondi no banheiro com Michelle, contudo o papai nos encontrou e não deu muito certo.

Pena que Mich temia a titia só porque uma vez ela acidentalmente quase ateou fogo no cabelo de minha irmã e desde então as duas se evitam o máximo possível.

Suspirei, esfregando a testa conforme tentava aceitar a situação — Por favor, venha aqui conversar com ela. Vocês são irmãs, a tia precisa do seu apoio nesse momento difícil.

— Ramona, você está tentando me tapear com essa história de amor fraternal?

— Estou sim, e está funcionando?

Riu — Vou ver o que posso fazer.

Escutei um ruído na porta do quarto — Tudo bem, preciso ir – desliguei apressada antes que Lette me encontrasse ali no closet.

Saí de fininho, colocando um pé por vez e tentando não fazer barulho. Antes de encará-la, precisava de algo para tomar coragem, então decidi ir lavar o rosto no banheiro já que estava muito cedo para um drink.

Levei um susto assim que abri a porta e a encontrei tomando banho na minha banheira, com os meus sais e lavando o cabelo com meu shampoo! Argh!

Ela esboçou um sorriso atrevido de orelha a orelha, esfregando o nariz por onde ficou um pouco de espuma — Olá, minha pequena, como vai? – pronunciou contente, fechando os olhos e pousando os braços na borda da banheira conforme apoiava a cabeça na ponta.

Engoli a saliva em seco, cerrando o punho e respirando fundo pela milésima vez, minha veia estava saltada assim como a sobrancelha arqueada — Eu... Eu vou... Tomar um café, tchau. – dei meia volta e fechei a porta atrás de mim. Quer saber, dane-se! Não vou me estressar por isso.

 

...

 

Lá estava eu de frente à pista de patinação, durante o entardecer, mais uma vez. Inspirei, respirando fundo. Era óbvio que as palavras ditas por Damien surtiram efeito em meu interior, meus olhos inchados eram a prova disso e as olheiras encobertas pela maquiagem deixava isso quase visivelmente claro. Meu ego estava inflado e minha determinação obstinada.

Quem tinha acesso aos conhecidos de Keid? Eu. E quem sabe sobre a promoção e amigos de Everly? Eu também. E quem tinha anotações sobre isso? Novamente, apenas eu. Então estava um passo à frente e não iria recuar.

Fixei o olhar no elevador e marchei em sua direção, e quando estava passando pela escada rolante, avistei lá de cima a dupla de irmãos descendo em minha direção. Continuei caminhando ignorando a presença deles até ouvir um chamado e, quando dei por mim, Misty já havia pairado em minha frente — Espere, Damien quer lhe dizer algo! – proclamou enviando um olhar bravo a ele.

— Quero? – se fez de sonso, o que acredito que para ele não seja tão difícil.

Cruzei os braços — Já não falou o suficiente ontem? O que fazem aqui?

Ela suspirou — Viemos averiguar o que você nos disse ontem...

Sorri gentilmente — Ótimo, boa sorte! – dei um passo para o lado e desviei da barreira que ela havia feito no meu caminho, continuando meu trajeto.

— Achei que você tinha entendido o recado ontem – ele provocou com um grito antes que eu pegasse o elevador.

— Ah, mas eu entendi muito bem! Você quem não entendeu.

— O que eu não entendi?

Voltei o olhar em sua direção por cima dos ombros — Que eu não dou a mínima para o que você tem a dizer. – respondi, apertando o botão.

Os deixei para trás e assim que pus o pé para dentro da caixa metálica, a consultora brotou sozinha ao meu lado de novo — Oi! – exclamou tranquilamente e isso me deu um susto tão grande que acabei escolhendo o andar errado.

— O que...

— Preciso conversar contigo – interrompeu, ajeitando a postura rígida e me encarando — Meu irmão foi buscar pistas, enquanto isso nós podemos ir investigar as pessoas do trabalho dela.

Fitei-a impaciente — Já fiz isso ontem.

— Melhor ainda, já temos gente a menos na lista!

— Eu tenho um nome. – disse seca, virando a cara e olhando para a porta.

— Certo, podemos...

— Não. – intervi, tive que a encarar novamente. Embora não a quisesse culpar, não tinha como evitar sentir raiva — Seu irmão me escorraçou da investigação e você ainda vem me provocar?

— Ei, eu não sou o Damien! Temos ponto de vista diferente, o que ele enxerga como empecilho eu vejo como triunfo.

— E no entanto isso não o impediu de me atropelar.

Revirou os olhos — Não banque a dramática, por favor, sei que você é mais racional do que isso. Você sabe ser meio termo, por isso lhe quero na equipe, e se meu irmão for contra, problema será dele que terá de aturar nós duas! – ela riu espirituosamente e estendeu a mão para um acordo.

Hesitei em aceitar, afinal era contra a vontade dele e eu continuaria sendo um incômodo. Contudo, não estava disposta a deixar isso para lá! E Everly, assim como Raziel, Nathan e Muriella, mereciam uma resposta e não posso deixar meu orgulho estragar tudo.

Droga, ela tinha razão! Sou mais racional do que isso e posso fazer melhor, basta tentar!

Resolvi aceitar o aperto de mão. Depois, pressionei o andar correto e prossegui o restante da espera em silêncio até ela falar — Sabe, ontem... Peço desculpas pelo meu irmão! Damien não te odeia, ele só está ranzinza com todo mundo. Ele estava irritado com o fato de que Everly tinha uma filha pequena, talvez isso o aproximou? – ponderou, levando a mão ao queixo conforme pensava.

Dei de ombros — Olha, eu estou nem aí pro seu irmão. Por mim, ele que se dane – murmurei com desdém, saindo assim que a porta abriu.

Ela me acompanhou pelo hall — Mas é que... – insistiu, isso me fez revirar os olhos.

Notei que ela hesitou e isso me deixou curiosa — Que?

Relutou — Ontem, antes de você chegar, a Samantha esteve em casa para entregar os relatórios das mortes recentes.

— E conseguiram encontrar algo?

Fez que não — Ainda não tivemos tempo de ler tudo. Mas enfim, o Noam caiu da cadeira um pouco antes dela chegar, ele escalou por curiosidade para ver o que tinha no alto e a cadeira pendeu pra trás, levando-o ao chão.

Arregalei os olhos — Mas ele está bem?

— Sim, foi só um susto. No entanto, os dois discutiram novamente e Samantha está à um passo de pedir a guarda do garoto.

— Isso quer dizer que Noam pode ir embora – concluí.

— E isso deixou Damien fora de si.

Oh! Faz sentido tamanha fúria repentina.

— É, tudo bem, isso dá um desconto para ele mas ainda não tira sua culpa.

Respirou fundo, encaixando as mãos nos bolsos do casaco — Não estou pedindo para perdoá-lo ou exonerar as palavras ditas por ele, isso seria injusto contigo. – falou, olhando-me de soslaio — O que peço é que tenha paciência e releve um pouco de sua grosseria, ele está passando por um mal momento, nós estamos – apressou-se em corrigir — Todavia, para ele é pior. A hipótese de perder Noam o deixa instável, ainda mais justo agora que ele está tentando ser um bom pai...

Suspirei, esfregando as mãos para aquecer, eu deveria ter pego as luvas antes de sair ou verificado a bolsa antes — Eu não sei o que você quer que eu diga, mal conheço seu irmão. Estou tentando ajudar, porém algo me diz que ele não vai muito com a minha cara e que não gosta da minha presença.

Ela abriu a boca para falar e novamente hesitou — Não é bem isso, é que... É uma história complicada. – murmurou, desviando o olhar. Depois levantou a cabeça e mudou de expressão num piscar de olhos — Já sei! – agora estava com um riso malicioso — Quando ele te irritar, diga que contará tudo para Miranda, isso o fará comer em suas mãos.

Ergui as sobrancelhas, embasbacada pelo entusiasmo dela em ver seu irmão se ferrando — Bom saber! – exclamei, ela sorriu.

Continuamos caminhando lentamente até pararmos em frente ao antigo trabalho da primeira vítima, anunciei o local e Misty indagou quem iríamos interrogar. Contei sobre Freddy e depois comentei a promoção que a vítima iria receber, em seguida mostrei as anotações feitas anteriormente antes de adentrar ao ambiente.

Avisei Casey, a gerente, que havíamos chegado e ela nos conduziu até os fundos onde um homem cuidava de verificar alguns equipamentos, foi até ele e comentou algo em seu ouvido que o fez erguer os olhos em nossa direção. Em seguida, ele guardou calmamente o que estava em suas mãos e veio até nós — Posso ajudar?

Nos entreolhamos e concordamos que ela iria falar — Oi, você que era o amigo de Everly?

Ponderou, fazendo uma careta — Não exatamente, éramos colegas de profissão e nos dávamos bem, contudo isso não chegou a ser uma grande amizade.

— Mas você a conhecia bem?

— Mais ou menos, a gente se dava bem, embora às vezes ela trouxesse alguns problemas.

Pendi a cabeça para o lado — Como assim? – perguntei dessa vez.

— Ah, ela dava um voto de boa fé e tentava ser amigável, aí algumas pessoas retornavam com equipamentos danificados e a culpa sobrava para todo mundo – seu timbre de voz mudou para um leve tom de irritação e isso deixou a consultora atenta.

— Isso quer dizer que havia desavenças entre vocês?

— Mas é claro, estamos trabalhando no mesmo ambiente, às vezes ocorrem umas brigas de equipe, é normal. Everly assumia sua culpa, fazia bem o seu serviço – explicou. Freddy parecia estar um pouco agitado enquanto estralava os dedos ansiosamente — Espera, vocês não acham mesmo que eu...

— Não achamos nada – afirmou ela, cética.

Soltou um suspiro, largando as mãos e relaxando o corpo — Olha, apesar de ser bondosa, ela não era nenhum pouco sonsa. Everly era brava, tinha um gênio forte e não levava desaforo para casa. Podia sim confiar nas pessoas, ela acreditava na bondade, porém não deixava que ninguém a desrespeitasse. – despejou tentando transmitir alguma informação útil — E ela também era encrenqueira, tinha vezes que discutia com Katie.

Discutiam?

— Por que elas se desentendiam?

— Por vários motivos, é aquele lance idiota de mulher, sabe? – respondeu com deboche e isso irritou nós duas, ele recebeu nosso olhar de volta — Quer dizer... Ela retornará da pausa daqui uns cinco minutos, vocês podem esperar por ela ali – apontou para os brancos em frente à vitrine.

Misty concordou — Ok. – murmurou, dando meia volta e caminhando até o lugar.

Ela não achou isso suspeito? O cara despejou informações diretamente para a outra! Não deixei passar e indaguei sobre isso para a consultora, ela explicou que Freddy não deixava de ser suspeito e que no susto dizemos tudo o que vem em nossa mente, inclusive a verdade. Já eu, acredito que quando estamos apreensivos somos mais propensos a mentir, mas quem sou eu pra questionar né?!

Ficamos sentadas por um tempo esperando o retorno dela, conversamos um pouco sobre assuntos variados como desde o caso quanto à assuntos paralelos. Perguntei de Noam e como ele estava após o acontecido, ela disse que o menino estava bem e serelepe como sempre.

Olhei de relance para o final do corredor e avistei Damien acompanhando uma moça, eles trocavam risos e conversavam alegremente, quando chegaram perto de nós, ele se despediu com um abraço e entregou um cartão, ela saiu sorrindo para dentro da loja ao recebê-lo.

Misty levantou, estranhando a mulher. Ele disse que estava apenas seguindo uma pista e ficou quieto. Logo Freddy nos chamou de volta e assim que fomos em sua direção, ele apresentou a mulher com que o detetive conversava minutos atrás como sendo a Katie.

— Ah, oi! – ela disse diretamente para ele.

— Oi!

A consultora coçou a garganta tentando chamar a atenção — Podemos conversar?

— Sobre Evie?

Fez que sim — Soubemos que vocês discutiam com frequência.

— Sim, a gente se desentendia às vezes. Mas nos dávamos bem na medida do possível, apenas tínhamos pontos de vista diferentes e isso causava conflito – explicou, direcionando o olhar ao detetive mais uma vez.

— Quais pontos de vista? Se não for incômodo para responder. – ele disse gentilmente e Misty lhe acertou uma cotovelada.

Levei a mão à boca contendo o riso da careta que eles estavam fazendo — Imagina! – sorriu, ajeitando a compostura para explicar — Era sobre o estoque e locação de equipamentos, sobre os cuidados e onde cada um guardava. Evie achava melhor levar os equipamentos até os clientes, mas eu preferia que viessem buscar, assim gastava menos tempo. De toda forma, isso era uma dinâmica nossa, pois Casey não se importava tanto com isso a não ser que não cuidássemos bem do material.

— E alguns voltaram em estado crítico?

Grunhiu baixinho — Infelizmente, sim. Mas Everly cuidava disso sozinha.

Fiquei curiosa com uma coisa — Você foi a primeira pessoa que vi que a chama de “Evie”. – apontei.

Katie assentiu — Era um apelido carinhoso.

— Vocês eram amigas?

— Não exatamente.

De novo.

— A gente se entendia, nos dávamos muito bem, mas ela era uma pessoa desconfiada e afastada. Toda vez que alguém tentava se aproximar, ela recuava – contou. Isso era uma informação nova, então puxei o bloquinho e tomei nota — Nas últimas semanas, ela andava meio paranoica e estressada, eu diria até mesmo desleixada.

Damien indagou — E você sabe com o quê?

— Não – fez uma careta quando ele esboçou desapontamento — Ela era muito reclusa e até mesmo tímida. Não sabíamos muito sobre sua vida pessoal, só sei que ela estava saindo com um cara.

— E como sabia?

Deu de ombros — Sei lá, eu só sabia. Talvez seja o sexto sentido ou coisa de mulher, essas coisas são meio óbvias.

Misty suspirou — Sabe alguém que não gostasse dela?

— Não sei com certeza, mas acho que muita gente.

Franzi o cenho — Não foi o que os outros disseram.

Riu desdenhosa — E você acha mesmo que eles vão contar a verdade para os detetives?

— E por que você contaria? – sondei.

Virou em minha direção — Porque eu não estou a fim de ser uma suspeita sozinha, ok? – dito isso, voltou o olhar para Damien e acenou — Apesar disso, nosso café ainda está de pé né?

Ele concordou de imediato — Claro!

Misty revirou os olhos — Damien... – ralhou tentando intervir a paquera dos dois. Ele a encarou com um sorriso malicioso e perguntou “O que foi?” e ela, irritada, bufou e saiu depressa largando nós três para trás.

Senti um olhar me fitando, percebi que estava atrapalhando o flerte dos dois, então saí logo em seguida. A encontrei do lado de fora, brava e de braços cruzados caminhando de um lado para o outro — Por causa de Damien nem pude perguntar onde ela estava na hora do crime! – reclamou, levando a mão à testa e alisando a pele tentando conter a ira, sua veia estava um tanto saltada.

Mordi o lábio cogitando a ideia de responder — Talvez ele pergunte depois se você falar.

Balançou a cabeça negativamente — O Damien? – riu incrédula — Acho difícil.

Não respondo. Ela decidiu ir dar uma volta para espairecer e eu fiquei ali plantada que nem estátua, sozinha. Comecei a perambular pelo hall matutando os últimos dados obtidos, Everly era tão gentil e prestativa, tentava ajudar todos que encontrava e buscava sempre fazer o seu melhor. Embora a última coisa que Katie tenha dito não faça muito sentido com o restante das informações, era bom saber que havia opiniões divergentes.

Até porque Katie não se encaixa muito no perfil do assassino, ela era magra e pequena, a silhueta do assassino era mais robusta que a dela. Mas isso não a impedia de cometer um crime, vai saber como ela estava meses atrás!

De toda forma, me incomodava o fato de que Everly era descrita como uma pessoa solitária e de poucos amigos, aparentemente. Por mais que ela buscasse sempre ajudar, estava sempre tão sozinha, ninguém do seu trabalho era amigo de verdade e estar num ambiente onde não é bem recebido e mesmo assim manter o foco, era uma atitude valente.

Ela era corajosa, eu sabia disso. E não era justo, porque poucos sabiam ou viam. Misty contou que a filha morava com o pai em outra cidade e que ela a via poucas vezes por mês, que ela não tinha família próxima para pedir amparo. Isso me deixou triste, fez meu coração ficar apertado e meus sentimentos se esmagaram uns contra o outro.

Soltei um suspiro, entristecida. Baixei os olhos e fiquei contemplado as formas que o piso formava conforme remoía aquele turbilhão de sentimentos. Antes eu não sabia nada sobre ela, era apenas a moça que “esbarrei” acidentalmente, mas agora sabia mais e isso remexia com minha consciência. Sentia-me mal por ela, precisava fazer algum coisa!

Assim que a consultora reapareceu, eu tomei uma decisão — Preciso ir resolver um assunto, depois eu volto – anunciei apressada, dando meia volta e correndo até a porta de saída. Fui até o estacionamento, destravei o carro e entrei rapidamente.

Parei em frente à floricultura, busquei entre as diversas flores alguma que simbolizasse esperança. O floricultor me deu um ramo de amendoeira e disse que além da esperança, representava o despertar, era perfeito! Então aceitei o vaso e retornei para o veículo.

 

...

 

Minutos depois, já havia estacionado em frente ao cemitério. Desci do carro carregando o vaso em mãos e seguindo diretamente ao zelador, ou seria o coveiro? Era um senhor de idade, vestindo um uniforme onde seu nome dizia “Walter”. Perguntei sobre a lápide de Everly Munroe, ele buscou na memória e depois confirmou nos registro, seguindo em minha frente e me guiando por entre as centenas de covas que ali jaziam.

Fiquei de frente à sua sepultura, fitando-a. Seu nome fora entalhado numa fonte básica assim como a data de nascimento, era tão impessoal, como se ela não tivesse valência. Levei a mão ao peito, absorta com tamanho desdém. As folhas haviam caído em cima, a aparência estava suja e abandonada.

Fechei os olhos e fiz uma prece em respeito à sua memória. Depois retornei a observar a sepultura, vi também um vaso murcho e velho estava posicionado ao lado, reconheci que eram cravos e isso me fez lembrar que pelo o que o floricultor disse, significava indiferença. Quem as colocou, nem sequer se importava de fato. Ao lado havia hortênsias, também mirradas.

Dei alguns passos e me aproximei para retirar aquelas flores antigas e substituir com a nova. Ao me aproximar, notei algo sobressaindo das folhas murchas, era uma pétala avermelhada escondida atrás da morte. Nas pontas dos pés, encarei melhor. Coloquei a mão para puxar com cuidado a rosa. Ela era familiar, eu a conhecia de algum lugar, porém não recordava o nome. Tinha pétalas saltando e o miolo dela era bem amarelo, sua cor era vívida e vibrante.

Peguei o celular do bolso da calça e busquei no navegador o nome da flor e seu significado, em alguns instantes encontrei seu nome. Era Flor de Lótus vermelha, a Lótus em si representa esperança, renascimento. E a vermelha em especial significa amor e compaixão. Quer dizer que alguém, além de nós, ainda lutava por ela? Pensando nisso, enviei uma mensagem com a imagem da flor anexada para Misty.

Escutei o barulho de um balde caindo no chão, levantei a cabeça assustada e busquei com o olhar para ver quem era, todavia não vi ninguém. Quer dizer, algumas pessoas estavam visitando outros sepulcros mas nenhuma delas me chamava a atenção. Sentia a impressão de que estava sendo observada, isso me causava arrepio e uma sensação incômoda.

Deixei as flores na lápide e saí de lá apressada buscando com o olhar qualquer pessoa suspeita, caminhei aos tropeços na trilha e segui um ruído que me chamou a atenção até um pequeno casebre abandonado nos fundos do grande terreno.

Pairei em frente à porta de madeira — Olá? – chamei, não houve resposta. Respirei fundo, contei até três e tomei coragem para entrar.

A porta estava entreaberta, bastou um empurrão de leve para que ela abrisse. Adentrei à passos lentos e cautelosos. O vento uivava ao assoprar, havia equipamentos de jardinagem e outros que não soube reconhecer, e como o interruptor não funcionava, a iluminação era feita por um feixe de luz que passava pela janela ao alto.

Um segundo ruído me deixou apreensiva, curvei o corpo para observar melhor uma pilha de baldes por onde um rato pequeno e apressado saiu correndo por entre meus pés. Dei um grito, soltando o celular da mão, deixando com que escapasse e fosse até o chão.

Agachei para pegar o aparelho trincado. Contemplei a tela rachada — Droga, tinha acabado de comprar! – ralhei, tentando ativar a luz, no entanto as teclas envolta da marca não estavam funcionando, a tela apagou e a sensibilidade do telefone pifou.

Soltei um suspiro, irritada. Ainda estava de costas quando ouvi a porta ranger seguida por um baque estrondoso. Dei um pulo, meu coração disparou freneticamente ao ouvir o barulho, e quando tomei coragem para virar o corpo para trás, encontrei a enorme porta de madeira bruscamente fechada. Ótimo, eu estou presa!

 


Notas Finais


Adoro quando as coisas começam pelo final ou de trás pra frente 💕 E eu juro que a intenção era diminuir mas aconteceu o contrário...
Estou sem meu notebook no momento, então infelizmente não posso garantir quando sairá o próximo capítulo pois para postar esse já foi uma batalha, e para "ajudar", eu enviei para formatar sem fazer o backup do próximo ;-; 😭

Primor significa delicadeza; excesso de apuro ou perfeição na realização de alguma coisa / Características favoráveis, que apresenta várias qualidades, e eu encontrei essa palavra no sinônimo de flor em "beleza e encanto".

Espero que tenham gostado, nos vemos no próximo, sim? 💖 *u*

*Prévia do próximo capítulo: http://i.imgur.com/YLACrsu.png


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