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História Fugaz - Epílogo


Escrita por: azul46

Notas do Autor


não sei o que eu estou fazendo da minha vida

Capítulo 1 - Epílogo


Fanfic / Fanfiction Fugaz - Epílogo

Os diversos sons da movimentada estação já faziam parte de suas lembranças embaralhadas. Estava acostumado a ouvi-los e estima-los como importante fragmento de sua antiga vida. Vinha para a estação de trem sempre que podia, apenas para sentar em um dos bancos e observar o movimento. Seus olhos se perdiam pelo local, coletando novamente esses fragmentos a fim de montar em sua memória um quebra cabeça das imagens que sua mente tendia a esquecer.

Comprava as passagens de ida e volta para Busan e nunca embarcava. Por mais que tivesse muita vontade de ver os pais novamente, por mais que quisesse sentir o cheiro característico de sua casa, por mais que quisesse enterrar o rosto no travesseiro de sua antiga cama, não entrava no trem. Jeongguk não podia voltar. Na verdade, ele até poderia, mas não sabia se aguentaria ter que regressar a Seul depois de alguns dias. Tinha deixado a casa materna para viver uma nova vida, seguir um sonho. Voltar para lá parecia regredir, na visão de Jeongguk. Além do mais, ainda não tinha alcançado esse sonho. Queria voltar para casa quando estivesse no topo da escada que decidiu subir, pois foi o que prometera a seus pais.

Ainda não estava nem na metade dos quase infinitos degraus que escolhera escalar.

Suspirando, colocou as mãos no bolso da jaqueta e apoiou o peso do corpo em uma das pernas. Estava em pé no meio da estação em uma manhã de sexta-feira aparentemente calma. Havia acordado com saudades de casa naquele dia, então foi marchando até a bem conhecida estação de trem. As passagens iam amassadas em sua mão direita, fechada dentro do bolso. O olhar perdido se fixava na beirada da plataforma, onde no momento não passava nenhum trem.

Aquele lugar também o fazia se lembrar de outra coisa da qual ele sentia falta. Coisa essa que estudou com ele por algum tempo, tinha cabelos das mais diversas cores e o sorriso mais encantador em que Jeongguk já havia colocado os olhos.

A última vez que o vira fora ali mesmo, na estação de trem.

Jeongguk sorriu pequeno ao se lembrar do energético garoto, que não falhava em deixá-lo cansado apenas com seu jeito de tocar a vida. Taehyung não seguia regras, não andava pelos caminhos considerados normais e muito menos planejava seu futuro. O garoto era uma peça rara de um jogo que só existia em seu mundo, um lugar inalcançável para meros mortais como seu primeiro e mais apaixonado admirador, Jeon Jeongguk.

Taehyung cansava facilmente das coisas. Quando eram crianças, brincavam de diversas brincadeiras durante o dia, porque o ligeiramente mais velho enjoava muito rápido. Taehyung inventava suas próprias brincadeiras, jogos, brinquedos e histórias, todas fantásticas aos grandes olhos escuros de um garotinho tímido que ele carinhosamente chamava de Gukie.

Taehyung, ou Taetae, como pedira para que o mais novo o chamasse, passou por todas as cores que seu cabelo podia ser tingido e nunca estava satisfeito. Jeongguk, porém, tinha certeza que ele ficava maravilhoso com todas elas.

Usava roupas que não combinavam, que tinham rasgos feitos por ele mesmo e que já haviam saído de tendência fazia muito tempo. Taehyung tinha seu próprio senso de moda e uma intuição que resultava em uma escolha ridícula de peças de roupa, mas que caiam perfeitamente sobre seu corpo esguio e magro. Jeongguk achava incrível como ele ficava bem em qualquer roupa e às vezes se pegava imaginando como ele ficaria sem usar nenhuma.

Taehyung nunca quis ser ninguém na vida, respondendo um sonoro “nada” quando perguntavam o que ele queria ser quando crescesse. Jeongguk tinha a resposta na ponta na língua, orgulhoso por responder que não só queria, mas iria se tornar um famoso cantor e dançarino um dia. Porém, ficava abismado quando Taehyung respondia que não tinha nada em mente, e que não pretendia ser nada.

“Por que eu tenho que ser alguma coisa, se eu já sou Kim Taehyung?”

Guardava todas as frases icônicas do garoto em sua memória, sendo essa uma delas. Taehyung de fato era uma criatura rara, que Jeongguk jurava que pertencia a outro planeta. Taehyung, no entanto, dizia que não pertencia a lugar nenhum e a todo lugar consecutivamente.

“Eu sou do mundo, Gukie.”

Taehyung, aquele que queria fazer coisas ao invés de ser alguma coisa, se tornou a principal decepção de Jeongguk.

Taehyung, aquele que era eternamente uma criança em seu âmago, o deixou de pé nessa mesma estação quando completara seus dezoito anos.

Jeongguk se perguntava se Taehyung tinha ao menos saudades de sua casa, como ele tinha.

Mas não, Taehyung não era como ele. Não se apegaria tanto assim a um simples local e definitivamente não estaria ali em seu lugar, comprando passagens apenas para jogar fora e imaginar como seria comer a comida caseira de sua mãe.

Taehyung era do mundo.

E Jeongguk era de Taehyung.

 

X

 

Não acreditou em seus próprios olhos quando viu aquela figura franzina saindo de um dos trens. Usava calças escuras e largas, além de um moletom preto e sandálias sobre um par de meias brancas. Aquele estilo peculiar lhe parecia conhecido, então lentamente se levantou do banco e pôs-se a caminhar em direção ao rapaz.

Jeongguk prendeu a respiração sem perceber. Aquele rosto, aquelas mãos, aquele jeito de se colocar de pé. O garoto segurava a alça da mochila – que ia aos ombros – com uma das mãos e um folheto com a outra. Seus grandes olhos cor de mel estavam focados em sua leitura, e o cabelo castanho caia levemente sobre sua testa bronzeada.

Tinha que ser ele.

Ou Jeongguk estava finalmente vendo miragens.

Mas foi apenas quando o garoto olhou para si e sorriu, que Jeongguk teve certeza de que se tratava de seu Taehyung, depois de tanto tempo. Sem perder nenhum segundo sequer, Taehyung veio ao seu encontro e lhe colocou em um abraço apertado. Jeongguk não sabia o que fazer naquele momento, sentir o outro depois de anos era algo que brincava com seus sentidos e confundia seu cérebro. Taehyung tinha cheiro de camomila e chocolate, provavelmente por causa de seu shampoo e eventual lanchinho que tenha feito no trem.

– Jeongguk. – Ele disse, e o dono do nome finalmente colocou seus braços ao redor do mais velho e o apertou contra si.

Agora ele tinha certeza, Taehyung era real e estava ali.

– Senti tanto a sua falta. – Deixou escapar por seus lábios, enquanto levava uma das mãos aqueles cabelos castanhos.

Taehyung riu, mas nunca respondeu.

 

X

 

Jeongguk se viu arrumando o sofá-cama que teve a sorte de ter no apartamento. Taehyung não tinha mais casa em Seul, disse o próprio, pois havia vendido para fazer dinheiro para suas viagens. O garoto veio tagarelando o tempo todo, sobre as comidas que tentara na Tailândia, sobre os passeios de riquixá na China e na Índia – que Jeongguk descobrira depois que se tratava de um tipo de taxi-carroça – e sobre o tempo que passou morando no Japão. Jeongguk o ouvia atentamente, enquanto arrumava brevemente o apartamento e colocava roupa de cama no sofá da sala.

Taehyung também visitara todos os cantos de Coreia nesse tempo em que esteve fora de Seul, passara até por Busan, informação que deixou Jeongguk com um peso no peito que equivalia à saudades que tinha de sua casa.

Coisa que ele sabia que Taehyung não sentia, pois a sua sede de viajar e conhecer lugares era maior do que aquela âncora que prendia Jeongguk no lugar onde estava.

– Quero te levar para conhecer o Japão. – Taehyung disse enquanto comiam ramyun, um sorriso sonhador estampado no rosto. Sorriso esse que Jeongguk sentia muita falta. – Em uma semana conseguimos conhecer os principais pontos turísticos se formos durante uma época boa.

Jeongguk sorriu pequeno e encarou seu macarrão instantâneo. Imaginou-se passeando pelas ruas pacatas do interior do Japão, debaixo das cerejeiras e entre os diversos aromas daquele lugar incrível. Mas ele sabia que estava preso ali, indo da escola para o treino e do treino para a academia.

– Eu adoraria.

– Então vamos? – Taehyung abriu aquele sorriso encantador, o qual fazia Jeongguk querer beijá-lo até deixá-lo sem ar sobrando nos pulmões. – Só preciso ficar um tempo aqui e arrumar um emprego, espero que não se importe se eu ficar aqui em seu apartamento.

Negou a última sentença com a cabeça. É claro que não se importava em ficar com Taehyung em sua humilde casa. Na verdade, queria que existisse uma maneira de prendê-lo ali, para que nunca o deixasse. Porém Jeongguk sabia que Taehyung era como uma ave selvagem, se cortasse suas asas e o trancasse em uma gaiola, traria apenas tristeza à pobre criatura.

– Eu não posso, Tae. – Disse enquanto tirava as tigelas, as colocando na pia. – Eu tenho que ficar aqui.

Jeongguk sentiu aqueles braços finos se colocarem ao redor de si e, logo depois, um peso sobre seu ombro. A respiração quente de Taehyung atrás de sua orelha o fez ter arrepios. Jeongguk se viraria naquele instante e tomaria aqueles lábios como seus, porém estava com medo de quebrar as tigelas de cerâmica que tinha nas mãos.

Ficaria para a próxima.

– Ainda querendo se tornar um ídolo, Gukie? – Ele disse, e Jeongguk acenou com a cabeça. – Viver trancado em um calendário escravo e trabalhar feito um condenado?

– Se for um grupo famoso, podemos nos apresentar em vários lugares diferentes.

“Se”... Mas e quanto tempo você vai ter que ficar trancado em uma sala, treinando para uma coisa tão incerta? – Jeongguk finalmente largou as tigelas e tirou os braços de Taehyung de si, virando o corpo e calando o outro com um beijo cheio de saudades.

– De todas as pessoas, não esperava isso de você. – Disse, depois de deixar o outro ofegar levemente. – Você não vive fazendo coisas incertas?

Taehyung ainda tinha os olhos arregalados, Jeongguk podia dizer que ele não esperava por um beijo assim de repente. O primeiro e o último que trocaram fora naquela estação de trem, um beijo sem promessas e sem um significado definido. Não era um beijo de namorados, nem de amantes.

Era um beijo de despedida.

Um que não tinha data de validade, nem de regresso.

– Mas é diferente, Jeongguk. – Taehyung colocou seus braços ao redor do pescoço do outro que o puxou para perto pelos quadris. – Eu vivo livre, mas você vai ficar preso por muito tempo para tentar, e quando conseguir, ainda mais tempo trancafiado em uma rotina desumana de shows e programas idiotas.

– É o meu sonho. – Beijou o levemente mais alto na testa e sorriu. – É o que eu quero fazer.

– Nunca entendi isso de sonho. – Taehyung acariciou seus cabelos negros e suspirou. – Sonho para mim é o que você tem durante a noite, imagens que não significam nada além de interpretações de seu inconsciente.

– Desde quando você é assim, hm? – Jeongguk ouviu o gemido baixinho do outro, quando mordeu de leve sua orelha direita. – Gostava de contar seus sonhos sem sentido para mim.

– Não tenho sonhado ultimamente. – Finalmente o mais velho se separou do abraço. – Talvez porque eu não precise mais, porque agora vivo todas as coisas fantásticas que sonhava quando era mais novo.

Jeongguk mordeu o lábio inferior. Gostava de ouvir os sonhos malucos de Taehyung, a maioria não fazia sentido nenhum. Estava acostumado a ser acordado durante a noite, para ouvir o que o outro tinha a lhe contar. Cedia o um lado da cama para que Taehyung dormisse quando tinha pesadelos, e acordava com um sorriso no rosto e o peso do corpo do garoto sobre seu peito.

Mas esse Taehyung parecia distante, diferente, como se tivesse deixado uma parte de si em cada local em que estivera. Sabia que era seu Taehyung, mas algo o incomodava. Algo faltava.

– Eu vou dormir, estou cansado da viagem. – O mais velho declarou, se aproximando de Jeongguk com certa hesitação, coisa que nunca fizera antes. – Obrigado por me deixar ficar.

– Obrigado você, por ficar. – Jeongguk fechou os olhos ao sentir o breve selar. – Nem que seja apenas por uns dias.

Taehyung sorriu e sumiu no corredor escuro do apartamento, deixando Jeongguk com um nó na garganta e lágrimas de saudade se formando no canto dos olhos.

 

X

 

Jeongguk se perguntava como Taehyung conseguia aguentar tanto tempo longe, perambulando sozinho por terras desconhecidas. Estava morando com ele fazia um mês e o garoto não desgrudava de si. Havia arrumado um emprego em um mercadinho perto do apartamento e, quando não estava trabalhando, vivia como sendo a sobra de Jeongguk. Não que ele achasse ruim, pelo contrário, porém aquilo o intrigava. Certa vez estavam abraçados como um casal de namorados, sentados no sofá em uma sexta-feira a noite e ele fez essa pergunta a Taehyung. A resposta, porém, o deixou ainda mais curioso.

E enciumado, claro.

– Eu nunca fico sozinho, você sabe que eu odeio. – Taehyung murmurou contra seu peito, onde estava esfregando o rosto como um gatinho. – Sempre tem alguém novo para conhecer quando você viaja.

Jeongguk resmungou algo que nem ele entendeu, uma mistura de tristeza e ciúme se formando em seu ser. Taehyung, por outro lado, apenas sorriu e beijou-lhe contra a camiseta, dizendo que a melhor pessoa que ele tinha conhecido em toda sua vida ainda era Jeongguk.

– Ao menos vamos para Busan. – Jeongguk franziu o cenho com essa frase, empurrando Taehyung de si apenas para olhar em seus olhos. – Faz tempo que você não vai para lá, não é?

– Desde que cheguei aqui.

– Então vamos.

Jeongguk ia protestar, mas nunca pode e nunca poderia dizer não para aqueles olhos castanhos.

 

X

 

Estava parado em frente à porta aberta do trem, com as passagens nas mãos e o coração quase saltando pela boca. Teria corrido para fora da estação se a mão macia de Taehyung não estivesse segurando a sua.

– Vamos? – O garoto disse com um sorriso, e naquele momento, todo medo de Jeongguk foi deixado para fora do trem.

Sentaram em um banco afastado das outras pessoas, que eram poucas a julgar pelo horário, e Jeongguk se viu suspirando várias vezes. Taehyung insistiu que ele sentasse perto da janela, alegando que ele teria que ver as paisagens que não via a tanto tempo. Jeongguk suspirou pela vigésima vez, porque era a única coisa que podia fazer quando se tratava daquele sorriso e daquele olhar muito convincente.

Limitaram-se a olhar pela janela, a cabeça de Taehyung ia apoiada no ombro de Jeongguk, que o segurava pela mão enquanto perdia o olhar nas diversas paisagens. Sentia falta de andar de trem, assim, ao lado do amor de sua vida, vulgo Kim Taehyung.

Infelizmente, não demorou muito para que chegassem, dando um fim aquele momento fugaz que Jeongguk queria guardar para sempre em seus fragmentos de memória.

Não soltou da mão de Taehyung em nenhum momento, desejando mantê-lo ao seu lado para sempre.

 

X

 

Foi assim que os dois pararam na frente da porta da casa de Jeongguk, de mãos dadas. Taehyung o mostrou um sorriso e bateu na porta. A mãe de Jeongguk atendeu, colocando a mão sobre a boca e soltando uma risada com som de saúdes. Entraram, comeram torta e Taehyung a fez rir.

Jeongguk nunca se sentiu mais em casa do que naquele momento.

Quando seu pai chegou, jantaram juntos e conversaram sobre diversas coisas. Taehyung falou sobre suas viagens, sua amizade com Jeongguk e sobre coisas sem sentido. Jeongguk, contou sobre a vida em Seul, como ia a escola e o treinamento. Seus pais sempre apoiaram seu sonho, e estavam mais do que felizes de tê-lo de volta a casa e apenas ouvir boas noticias.

Enquanto ele falava de quanto se esforçava, sentia três pares de olhos orgulhosos o fitando.

Depois do jantar, saíram para andar nas ruas largas de Busan e logo tornaram a caminhar para casa. Jeongguk sentia uma alegria estranha no peito. Estava feliz por voltar para a sua cidade, ver seus pais e passar um tempo relembrando memórias antigas. Mas segurar a mão de Taehyung o tempo todo o fazia sentir receio de deixá-lo ir depois que tudo aquilo acabasse. Por que não podiam ficar ali para sempre? Os dois? Alugariam uma casinha no subúrbio da cidade e viveriam ali, envelheceriam juntos. Apertou os dedos do outro, e Taehyung o lançou um olhar questionador. Jeongguk apenas fez uma careta e apressou o passo, praticamente arrastando o outro consigo.

– Você não quer conhecer todos os cantinhos de Busan? – Taehyung perguntou, quase tropeçando em seus próprios pés.

Jeongguk não conhecia todos os cantos de Busan, mas naquele momento preferia conhecer todos os cantinhos do corpo de Taehyung.

 

Estar aos beijos em cima da cama em que dormia quando criança era uma experiência estranha. Sentia cada músculo de seu corpo se relaxar e contrair, e cada célula de seu ser gritava por mais contato. Jeongguk não conseguia pensar em outra coisa senão nas mãos de Taehyung em seu cabelo, em seu torso, em suas costas e em seu rosto. Mantinha os olhos abertos, porque ver Taehyung daquele jeito debaixo de si, corado e com os olhos cheios de sentimento era melhor do que ver qualquer paisagem de qualquer país que o outro já visitara. Jeongguk se sentia um turista de primeira viagem enquanto passeava pelo corpo do outro com as mãos, se aventurando debaixo de sua camiseta e arrancando sons, oh, tão bonitos de seus lábios róseos. Se havia algo melhor que aquilo, Jeongguk queria saber, queria provar.

– Pensar que você já fez isso com alguém me deixa deprimido. – Disse baixo, finalmente tirando sua camiseta e indo se livrar das roupas do mais velho.

– Você será sempre meu primeiro, Gukie. – Taehyung gemeu entre as palavras, sentindo a mão do outro lhe tocar sem querer no meio das pernas. – Nunca fiz isso com ninguém.

Jeongguk sorriu, prosseguindo com a tarefa de tirar aquela calça fora de moda que o outro usava. Segurava o corpo de Taehyung contra o seu, agora ambos despidos, sentindo o calor que a pele dele criava conta a sua. Segurava-o com força, deixando marcas em seus quadris que provavelmente ficaram ali por pelo menos alguns dias. Segurava-o com o quem segura um tesouro valioso, com medo de perdê-lo, de ser roubado. A fugacidade daquele momento era palpável e Jeongguk sabia disso. Porém aquela noite, Taehyung era dele.

Rolava os quadris a uma velocidade quase torturante, após todo o “aquecimento”. Taehyung o provocou sobre estar planejando isso o tempo todo, pois estava surpreso em encontrar preservativo no bolso da calça de Jeongguk. Ao contrario de Taehyung, ele estava acostumado a planejar as coisas. Tinha planos, tinha sonhos, tinha ambições.

Pelo menos um deles concluiria ali, naquela cama.

Sua testa suava contra a curva do pescoço de Taehyung. Já não conseguia se concentrar em beijá-lo. Os deliciosos sons que o outro fazia, combinados com aquela fricção viciante, estavam levando Jeongguk à loucura e não levou muito tempo para que sentisse aquela coceguinha em seu baixo ventre. Taehyung o segurava pelos ombros com os dedos, as unhas curtas cravavam marcas em formado de meia-lua em sua pele. Tratou de angular melhor seus movimentos e foi presenteado com uma série de gemidos que formavam seu nome, como se fosse um cântico. .

Taehyung veio primeiro, lhe puxando os cabelos da nuca e enterrando a cabeça no travesseiro, dando espaço para que ele pudesse marcá-lo no pescoço. Jeongguk veio logo depois, uma mistura de prazer, amor e saudades antecipadas.

Segurou o garoto com toda delicadeza que podia demonstrar, o prendendo em seus braços e o cobrindo de beijos no rosto ruborizado.

Jeongguk se declarou mentalmente e fechou os olhos, sem nem se preocupar com o que seus pais possam ter ouvido do quarto ao lado.

 

X

 

O fim de semana estava acabando e eles teriam de voltar. Depois de tomar um grande café da manhã reforçado com os pais de Jeongguk, seguiram para a estação de trem. Taehyung de alguma força conseguiu arrastá-lo até onde os vagões ficavam guardados, sem serem notados por nenhum funcionário.

– O que estamos fazendo aqui? – Jeongguk perguntou, olhando para os lados enquanto se esgueiravam entre does vagões de carga.

– Gosto de trens, sempre quis entrar em um assim, clandestinamente. – Taehyung sorriu lascivo e puxou Jeongguk para perto do vagão.

Os dois subiram a pequena escada e sentaram no topo de um dos vagões. O céu estava limpo aquela manhã, e a brisa batia gentilmente sobre seus rostos, bagunçando seus cabelos. Jeongguk observava as mechas castanhas de Taehyung voarem com o vento, tentando tatuar aquela imagem atrás de suas pálpebras.

Você é lindo.

Taehyung estava sério. Seus olhos perdidos em nada em especial, mãos sobre os joelhos e palavras presas por seus lábios fechados.

– Eu não entendo isso.

– O que? – Perguntou, sentando mais perto de Taehyung.

– Ter um sonho, seguir um sonho... – Ele disse, molhando os lábios com a língua. Jeongguk queria prestar atenção no que ele dizia, mas ficava difícil com tal hábito. – Eu não tenho sonho algum. Não tenho nada para seguir, nada para alcançar.

– É por isso que sai por aí sem rumo? – Jeongguk perguntou baixo, sem a intenção de que o outro escutasse. – É por isso que sai procurando algo em outros países, outros lugares?

– Cansei de procurar. – Taehyung respondeu, olhando finalmente para Jeongguk.

– O que você procura?

– Eu não sei. – O mais velho suspirou. – Acho que só vou descobrir quando eu encontrar.

Jeongguk abaixou a cabeça, fitando a mão de Taehyung. Juntou-a com a sua e apertou os dedos do outro. Taehyung olhou para si e abriu a boca, tendo as palavras engolidas por um beijo doce.

– Eu te amo. – Aquele não era o melhor momento para aquela confissão, mas Jeongguk não ligava. As três palavras saíram sozinhas de sua boca, que as esteve guardando fazia muito tempo.

Taehyung sorriu tímido, sem mostrar os dentes, mas nunca respondeu.

 

X

 

Taehyung voltou dormindo em seu ombro, após Jeongguk convencê-lo de que não podiam voltar dentro do vagão de carga. Depois daquela conversa, Taehyung não disse mais nada. Jeongguk o acariciava os cabelos enquanto se despedia de Busan pela janela do trem.

De certa forma, ele sentia que estava se despedindo de Taehyung também.

Três dias depois que chegaram a Seul, Jeongguk acordou sozinho. Um bilhete de adeus e uma xícara de café em cima do criado mudo.

 

X

 

Jeongguk se sentia mal em rejeitar Suwoong repetidas vezes. Sentia-se culpado por não conseguir superar os já dois anos desde a segunda partida de Taehyung.

A segunda vez que ele partira seu coração.

Suwoong era um garoto bonito e simpático, treinava dança e vocal com Jeongguk. Havia enfim entrado para uma empresa que o levaria a alcançar seu sonho. Tivera que rejeitar algumas e também fora rejeitado por outras, até que finalmente se situou em uma pequena empresa, a que ele se encontrava agora.

Olhava para os cabelos tingidos do amigo enquanto pensava em outro garoto que também tinha o costume de pintar as mechas. Não importava o quanto tentasse corresponder os sentimentos de Suwoong, Taehyung ainda tomava todo o espaço de seu coração.

– Está tudo bem. – Ele respondeu novamente, depois de outra tentativa frustrada de roubar um beijo de Jeongguk. Suwoong sorriu triste e coçou a cabeça, bagunçado os cabelos coloridos. – Não é como se a gente pudesse namorar mesmo, regras da empresa.

Jeongguk sorriu, querendo trazer o garoto para um abraço de desculpas. Porém sabia que isso apenas o machucaria mais.

Às vezes, Jeongguk queria apagar Taehyung da sua memória.

Mas quando fechava os olhos, estava lá tatuada a imagem do rosto do outro.

Afinal, Jeongguk era de Taehyung.

E Taehyung era do mundo.

 

X

 

A luz dos holofotes tornava difícil a visão da plateia, porém Jeongguk ainda assim conseguia ver suas fãs gritando e pulando. Eram muito diferentes das fãs na coreia, que eram mais retidas e menos histéricas. Ele gostava da energia. Olhou para o lado e encontrou Jimin sorrindo para elas, igualmente encantado com tudo aquilo. Finalmente estava ali, em cima de um palco fazendo o que ele sonhou fazer. Pegou Jimin pelo braço e sussurrou algo em seu ouvido. Os dois formaram um coração com os braços e as fãs foram à loucura, o tão famoso fanservice. Afinal, o Bangtan Sonyeondan era conhecida mundialmente agora, tinham que agradecer as fãs de alguma forma.

Teve um momento para parar e respirar propriamente, pois era a parte do rap de Namjoon, líder e colega de grupo que ele admirava. Jeongguk balançava a cabeça de acordo com a batida, quando seus olhos se perderam novamente nas fãs. Franziu o cenho quando viu uma figura que estava parada, no meio de tantas garotas pulando. O rapaz tinha um boné vermelho na cabeça.

Jeongguk quase perdeu a deixa da coreografia quando o garoto virou o boné para trás.

Taehyung.

Passou o resto do show tentando se concentrar nas musicas e coreografias, tomando cuidado para não olhar demais para Taehyung. O garoto continuava lá, sorrindo e segurando uma lanterna colorida que estavam vendendo do lado de fora da casa de eventos.

Jeongguk não voltou junto com os membros para o hotel aquela noite. Deu um jeito de escapar da van, alegando que iria andando. Usava um capuz sobre a cabeça e óculos escuros enquanto esperava do lado de fora de onde havia sido o show. Depois de um tempo, viu Taehyung saindo, uma garrafa de água mineral em suas mãos e um sorriso no rosto.

– Por que não comprou o nosso High Five? – Jeongguk disse manhoso, pegando Taehyung pela cintura com uma das mãos e tirando o óculos com a outra.

– Estava muito caro e eu ainda tenho que me alimentar, não é? – Ele sorriu e beijou Jeongguk nos lábios. –Vamos para o seu hotel, ou está disposto a dormir em um motel barato aqui em Los Angeles?

– Está tão necessitado assim? – Jeongguk riu.

– Você é que faz aquela coisa com os quadris o show todo e não quer que eu fique excitado? – Taehyung resmungou, escondendo o rosto na curva do pescoço de Taehyung. – Aliás, quem é aquele baixinho que você ficou conversando?

– Hm, Kim Taehyung está com ciúmes?

O outro lhe lançou um olhar, mas nunca respondeu.

– Onde é seu próximo show?

– Tóquio.

– Estarei lá.

 

X

 

Jeongguk queria chorar quando viu Taehyung no meio da multidão japonesa de fãs. Dessa vez, seu cabelo estava negro com a noite, exibindo algumas luzes aqui ou ali. Ele vestia uma camiseta da tour e segurava uma plaquinha com o rosto de Jeongguk.

Jeongguk sorriu, nunca esteve tão feliz em ver um fã seu quanto aquela noite.

Logo que o show chegou ao fim, estava sendo arrastado pela mão pelas ruas movimentadas de Tóquio. Taehyung tagarelava sobre quantos lugares eles podiam visitar, mas Jeongguk só conseguia prestar atenção em sua boca e no som de sua voz.

– Pena que você vai embora amanhã, para que cidade vo-

Jeongguk o beijou com força, o segurando pela cintura com a mesma força que aquela primeira vez dos dois. Taehyung logo se rendeu ao beijo, fazendo suas mãos seguirem o caminho até as mechas descoloridas de Jeongguk.

– Preferia seu cabelo escuro. – Taehyung arfou, quando Jeongguk finalmente o deixou respirar.

– Prefiro você comigo.

Dessa vez não precisaram procurar um motel barato, já que Taehyung tinha um apartamento alugado.

 

X

 

Jeongguk acordou mais do que satisfeito, apenas para abrir os olhos e ver lágrimas no rosto de Taehyung.

– Taetae, o que foi? Por que está chorando? – Rapidamente, pegou o rosto pequeno do outro em suas mãos e beijou as lágrimas para longe.

– Sabe por que eu saio por aí procurando alguma coisa? – Ele disse, choroso. – Porque eu não tenho nada Jeongguk, sou uma pessoa vazia.

– Você tem a mim. – Beijou-o na testa. – Não importa quantas vezes você vá embora, eu sempre estarei te esperando.

Taehyung deixou mais lágrimas caírem antes de aceitar ser colocado em um abraço.

Jeongguk teve que voltar para junto do grupo, e Taehyung pegou o primeiro avião para fora do Japão.

 

X

 

Estava cansado. Haviam terminado finalmente as promoções do novo álbum e lhes foi dado uma folga. Jeongguk estava sentado no banco do trem, depois de voltar de sua breve visita a Busan. Seus pais estavam mais do que orgulhosos, alegando assistir todas as suas apresentações e comprar todos os álbuns. Jeongguk estava feliz de finalmente poder vê-los, apesar de logo ter que voltar para Seul. Usava máscara, capuz e óculos escuros. Era facilmente reconhecido por fãs, então todo cuidado era pouco. O trem finalmente parou e Jeongguk soltou um suspiro. Em breve estaria no dormitório novamente, vendo os rostos igualmente cansados de seus colegas de grupo. A porta finalmente se abriu e Jeongguk saiu, parando em frente à plataforma para ajeitar o capuz.

Quanto levantou o olhar, seu queixo caiu sem que ele pudesse fazer algo. Taehyung estava parado à sua frente, mochila nas costas e um olhar de cachorro perdido.

– Taehyung.

– Eu achei o que eu procurava.

Jeongguk mordeu os lábios, Taehyung fez o mesmo.

– Ah é?

– Você me perdoa? – Taehyung perguntou, logo sendo apertado entre os braços fortes do outro.

Jeongguk sorriu e deu-lhe um beijo no rosto, mas nunca respondeu.

Não que ele precisasse, porque agora sim.

Jeongguk era de Taehyung.

Taehyung era de Jeongguk.

E os dois eram do mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


gosto de trens

desculpa pelos erros de digitação


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