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História Fy Eiddo (SasuSaku) - PARTE 02: Dagrau (Lágrimas)


Escrita por: DudaKCALY

Capítulo 22 - PARTE 02: Dagrau (Lágrimas)


Fanfic / Fanfiction Fy Eiddo (SasuSaku) - PARTE 02: Dagrau (Lágrimas)

Fy Eiddo
Capítulo Vinte e Dois – Dagrau

 

.-*-.

Você nunca vai desaparecer

Seu amor está aqui para ficar

Ao meu lado na minha vida

Brilhando através de mim todos os dias

 

Wake – Hillsong Young & Free

 

.-*-.

 

 

A mala estava aberta em cima da cama, e roupas se espalhavam pelo chão.

Sua respiração era ofegante, e as lágrimas dificultavam sua visão enquanto jogava suas roupas de qualquer jeito dentro de uma velha mochila.

A porta se abriu num soco, e Sakura nem precisou virar-se para saber que Ino vinha em sua direção.

– Sakura, pelo amor de Deus, o que está acontecendo?! – perguntou Ino assustada – Pra onde você vai?!

Sakura não respondia, apenas continuava jogando as peças com força para dentro da mochila. Era como se a amiga não estivesse ali.

– Sakura? Está me ouvindo? – nenhuma resposta – Sakura?!

– Você sabia também, não sabia?! – gritou Sakura, virando-se de uma só vez. A força da mágoa e as lágrimas acumuladas nos olhos da amiga fizeram Ino prender a respiração e recuar um passo.

– E-eu... Não podia... – disse Ino num sussurro – Não podia te contar.

– Essa é a sua desculpa para tudo – acusou a rosada.

– Como você queria que eu desafiasse uma ordem do próprio Alfa? – retrucou Ino entredentes – Se põe no meu lugar!

– E você, se pôs no meu lugar quando decidiu mentir para mim? – perguntou Sakura aproximando-se lentamente.

– Eu acho que você está fazendo uma tempestade num copo d’água. Nem foi uma coisa tão grave assim.

– Você sabe como eu odeio mentiras, Ino! Você, mas do que qualquer um nesse lugar, sabe disso! – gritou Sakura o mais alto possível, fazendo Ino calar-se – Odeio ser a última a saber das coisas! Odeio me sentir subestimada! Você mais do que ninguém, Ino, deveria saber disso!

Elas se encaram por alguns minutos.

– Eles são minha família, Sakura, eu não podia traí-los.

– Eu também sou sua família, Ino. – observou Sakura com a voz rouca.

Ino sentiu como se alguém lhe tivesse acertado um soco no estômago. A saliva já não descia pela garganta, e sua pele havia ficado fria. Momentos que passou ao lado da rosada, aquela que considerava mais próxima do que uma irmã, preencheram sua memória para tortura-la.

Sakura tinha razão. Ela era sua família muito antes de tudo aquilo ter início, e a loira não havia dado valor.

Com essa constatação, Ino pôs-se a chorar. Sakura já não a olhava mais, simplesmente continuava a arrumar sua mochila.

Quando a Rosada terminou de socar as roupas, pendurou a mochila nas costas e virou em direção à porta.

Ino, que chorava copiosamente, agarrou seu braço antes que ela pudesse sair.

– Para onde você vai? – perguntou em meio aos soluços.

– Isso não é da sua conta – respondeu a Rosada friamente, soltou-se de Ino e passou pela porta, levando consigo todo o calor e o cheiro calmante que tinha.

Ino caiu de joelhos.

Ela, mais do que ninguém, deveria ter lembrado que Sakura não suportava mentiras, sejam elas grande sou pequenas.

Ino, mais do que ninguém, deveria ter lembrado disso.

 

.-*-.

 

Sakura dirigia com velocidade pela cidade. As ruas eram um borrão, e ela apenas sentia seu pé afundando mais e mais no acelerador.

Precisava sair dali, fugir daquele lugar cheio de lembranças dolorosas.

Assim que chegou perto do portão da cidade, que fazia divisa com o país de Suna, viu alguém que encheu seu peito de alívio.

Sara estava parada encostada ao carro que as trouxe de Wawr. Os braços cruzados, as feições sérias, a roupa totalmente preta e a linha reta que sua boca formava davam a ela um ar de seriedade que causava medo.

Sakura não sentiu nada além de alívio. Ela estava viva, e bem. Era tudo o que importava.

Estacionou o carro no acostamento da rodovia e andou calmamente até onde a morena estava. Não deixou de perceber a presença de Richard por entre as árvores, à espreita. Estava parado, de braços cruzados sobre o peito e as feições ainda mais sombrias que as de Sara. Seus olhos carmesins não saíam da Uchiha por nenhum segundo sequer.

Sakura sabia que isso era medo por quase a ter perdido alguns minutos atrás.

Quando parou em frente a Uchiha, suspirou.

– Que bom que está viva.

Sara abriu um mínimo sorriso de canto.

– Digo o mesmo a você. – respondeu a morena.

Um silêncio recaiu sobre a dupla, que apenas se encarava. Sakura sentia uma ligação forte e inexplicável com a morena.

– Por que está aqui?

– Richard me contou o pouco que viu antes de sair para me encontrar. Presumi o resto.

– Como sabia que eu ia sair da cidade?

Agora, o sorriso que a morena abrira fora um pouco maior.

– Somos bem mais parecidas do que você pensa.

Sakura devolveu o fraco sorriso.

– É, estou vendo. Mas se você veio aqui pedir para eu não-

– Não. Eu quero que você vá. Mas, antes, preciso que saiba de algumas coisas.

Sakura suspirou.

– Mais coisas?

– Este é seu mundo agora, Sakura. E a primeira coisa que você tem que saber é que não tem como fugir. Essa é quem você é agora.

Sakura cerrou o maxilar.

– Não sei quem sou agora.

– Então trate de descobrir.

O tom era de bronca, mas o sorriso zombeteiro no rosto da morena provava à Sakura que era só uma conversa de mulher para mulher. De amiga para amiga.

– Sim, senhora.

– A segunda coisa que precisa saber é que você vai sofrer com esta separação.

Sakura franziu o cenho.

– Do que está falando?

Sara ajeitou-se no capo do carro. Descruzou os braços e apoiou-os na lataria atrás dela, ficando numa posição mais relaxada.

– A ligação entre um macho e uma marcada é muito forte, mas isso você já deve saber por experiência própria.

Sakura bufou.

– Já.

– O que você não sabe é que seu corpo corresponde não só com vibrações positivas, mas negativas também. Quando um dos dois está chateado com o outro, eles sofrem tanto fisicamente quanto emocionalmente. A separação dos corpos também causa isso.

Sakura franziu a testa.

– Não estou entendendo muito bem...

– Sakura, você e o Sasuke vão adoecer por ficarem um longe do outro.

– Adoecer?

Sara assentiu.

– Quanto mais longe você for, maiores serão os sintomas.

– Que sintomas?

– Febre, desidratação, falta de apetite, dor de cabeça, dor de ouvido, dor no estômago... São muitas as formas da ligação castigar vocês pela separação.

Sakura engole seco.

– E tem mais. – continuou Sara.

– Mais?

– Sasuke vai perder seus poderes parcialmente.

Sakura arregalou os olhos.

– Como assim?

A voz rouca de Richard soou:

– A partir do momento em que um macho encontra sua marcada, o lobo que ele abriga fica completa e totalmente dependente de sua marcada. Se ela é arrancada de si ou vai embora, ele não se transforma mais. Do mesmo jeito que o corpo sofre.

Sara continuou a explicação:

– E como você que está chateada com Sasuke, ele sofrerá em dobro, pois sua consciência vai pesar mais cedo ou mais tarde, e então o próprio lobo se virará contra ele.

– Por que? – pergunta a rosada. Está completamente atordoada.

– O lobo vai responsabiliza-lo por perder você. Vai jogar para ele a culpa de você estar longe, e então vai se voltar contra ele. Vai começar a mata-lo por dentro, lenta e dolorosamente. – respondeu Richard.

Sakura engoliu seco.

– Eu não sabia que era assim.

Sara suspirou.

– Não estamos dizendo tudo isso para que desista de ir, muito pelo contrário. Nós estamos dizendo justamente para que você vá.

Vendo que Sakura não entendia, Richard resolveu explicar melhor.

– Se você ficar, o sofrimento de Sasuke, e o seu próprio, será muito maior. Vocês não conseguirão resolver estes problemas estando juntos. Uma bola de neve pode surgir e acabar sufocando ambos.

– Tenho certeza que há questões pendentes em seu passado, do mesmo jeito que Sasuke tem. – observou Sara – Isso está atrapalhando vocês.

– Sim – respondeu a rosada com a voz embargada. Desviou o rosto para que o casal à sua frente não visse suas lágrimas.

Eles pareciam tão perfeitos juntos... Será que também tiveram problemas?

– Isso acontece com todos os casais, Sakura – parecia que Sara havia lido sua mente – Não esquenta com isso.

Sakura fungou e assentiu.

– Mais algo que eu precise saber?

– Não saia dos limites do continente do fogo. A alcateia Uchiha não pode garantir sua segurança fora daqui. – disse Sara.

– Eu vou a Suna, preciso resolver uns assuntos. – Sakura fechou os olhos – Rever meu pai, talvez.

Sara sorriu.

– É um ótimo começo.

– Depois... Preciso ver para onde vou.

Sara deu um passo à frente e puxou Sakura para um longo abraço.

– Não vá muito longe, e não demore a voltar. Sentirei saudades.

A declaração fez a garganta de Sakura fechar-se de vez.

– Eu também sentirei sua falta.

A Uchiha afastou-se lentamente, e Sakura sentiu-se fria quando o toque cessou.

– Faça uma boa viajem.

– Você ainda vai estar aqui quando eu voltar?

Sara suspirou.

– Provavelmente não. Eu e Rick temos que voltar para Wawr e resolver as coisas.

Sakura sentiu o peito comprimir-se.

– Isso é um adeus?

– Eu não diria adeus... Diria que é um “até logo, bitch”.

Sakura riu.

– De todas as coisas que consegui depois que conheci Sasuke, você foi uma das mais importantes. Obrigada por tudo, Sara.

Sakura pode jurar que viu os olhos da morena marejarem-se.

– Digo o mesmo.

E com um simples aceno de cabeça, Sakura afastou-se do carro, de Sara, de Richard.

E, do mesmo modo, afastou-se de Konoha, da alcateia Uchiha... E de Sasuke.

 

.-*-.

 

As patas afundavam na terra batida do descampado. Os olhos vermelhos analisavam suas presas inocentes. Seu corpo ansiava pelo sangue de suas vítimas.

O enorme lobo de pelagem preta circulava lentamente o enorme rebanho de ovelhas, que pastavam tranquilas num pasto há alguns metros dali.

Naruto suspirou, preocupado. Já era o terceiro rebanho que Sasuke caçava em menos de dois dias. Com estas ovelhas, se somariam mais de 500 animais mortos pelo Alfa em 48 horas.

A visão do grande lobo negro assustava a todos os seres que encontravam pelo caminho, mas não era para menos: Sangue pingava da grande boca, e as presas eram tão grandes e afiadas que davam a Sasuke um ar completamente sobre-humano.

Desde que Sakura fora embora, Naruto não havia visto mais nenhum sinal humano em Sasuke.

Teria ele desistido de lutar?

Com a agitação do ruivo ao seu lado, o Uzumaki focou novamente sua atenção em seu soberano.

“Ele precisa parar com essa merda” a voz forte do lobo de Gaara invadiu sua mente.

“Eu não tenho coragem de ir lá impedi-lo. Se tiver, vá você!” Naruto retrucou num tom irritado.

O estado de espírito do Alfa afetava a todos os machos, pois sem o poder dominador do Alfa e o tranquilizante de sua marcada, todos ficavam irritadiços e brigões.

Realmente não era uma boa hora para provocar um macho da alcateia Uchiha.

“Vá à merda, Naruto.” Resmungou o ruivo, e assim se encerrou o pequeno contato.

Neji apenas observava seu superior no descampado abaixo. Ele tinha tanta habilidade que mesmo com sua audição lupina não conseguia ouvir um passo sequer do Uchiha.

Sasuke travou a mandíbula e ficou tenso.

Naruto fechou os olhos enquanto mais uma carnificina começava.

 

(...)

 

Quando todas as ovelhas jazeram no chão, Sasuke destransformou-se.

A expressão em seu rosto transpassava tanta dor e sofrimento que Naruto sentiu o peito comprimir-se de imediato.

Um grito rouco e cheio de sentimentos cortou o céu, enquanto Sasuke caia de joelhos no chão. Tentava aplacar a dor em seu peito de qualquer maneira. O choro sofrido lançava espasmos que sacodiam todo o grande corpo.

Naruto, relutante, apenas observava tudo de longe. Sabia que Sasuke precisava descarregar sua dor, e precisava fazer isso sozinho. Quando Gaara fez menção de ir até o Alfa, impediu-o.

O choro continuou aumentando, até o ponto em que Sasuke gritava de dor.

E ali, em meio à corpos destroçados, sangue e lágrimas, Naruto viu todo o poder de seu Alfa ruir.

Um relâmpago cortou os céus, e uma chuva torrencial teve início.

Foi a última vez que Sasuke se transformou.

 

 

.-*-.

 

 

Mikoto retorcia as mãos de puro nervosismo. Fazia quase dois dias que Sakura havia ido embora, e Sasuke ainda não havia retornado da floresta.

Sara e Richard haviam ido embora na noite anterior. Tranquilizaram-na afirmando que conversaram com Sakura e que ela estava bem, apenas muito magoada com Sasuke.

Fugaku havia reassumido temporariamente seus afazeres como Alfa, tocando a alcateia e protegendo os seus.

Naruto, Gaara e Neji haviam saído há três horas para rastrear seu filho, e até agora nenhum sinal.

Ino estava depressiva desde que Sakura fora embora.

Itachi estava colado ao lado da maca de Izumi, que ainda não havia acordado, e nem dava sinal de que iria algum dia fazê-lo.

Mikoto suspirou pela centésima vez. Sua família estava desmoronando e ela sentia-se tão impotente que tinha a impressão que ia sufocar.

Mas o que fazer? A quem recorrer? Qual filho acudir primeiro? Com que nora se preocupar mais?

Izumi estava prestes a morrer – coisa que ela não podia evitar – e Mikoto sabia que se Itachi perdesse sua marcada seria o fim. O filho jamais se reergueria novamente. Sasuke estava sumido, e logo iria começar a sofrer os efeitos da separação. Sakura estava solta pelo mundo, com um coração cheio de mágoas e a cabeça completamente atordoada, à mercê dos inimigos mais cruéis.

Seria desse jeito horrendo que tudo o que conhecia teria fim? Sua família, seus amigos, seu casamento... Tudo pelo que lutou à vida inteira escorreria como areia por entre seus dedos?

Sem que percebesse, uma lágrima escorreu pela pele alva.

Mikoto fechou os olhos e fez uma prece silenciosa aos deuses. Pediu com todas as forças de seu coração para que tudo voltasse a se ajeitar do melhor jeito possível.

Mas será que ainda havia esperanças?

Se ainda houver alguma esperança, por favor, mandem-me um sinal.

O toque em seu ombro foi suave, porém firme o suficiente para trazê-la de volta à realidade.

Seu marido estava parado em sua frente, e sua expressão era de puro pesar.

– Era tão mais fácil quando quem sofria era eu.

Fugaku suspirou e puxou uma cadeira para sentar-se ao lado da esposa. Meio sem jeito, passou um dos grandes braços pelos ombros trêmulos da mulher e acolheu-a num caloroso abraço.

– Nossa vida nunca foi fácil. Você já deveria estar acostumada – tentou brincar ele, mesmo não tendo muito jeito.

– Com filhos é tudo tão dolorido – explicou a morena – Sinto que vou explodir de tanta dor, ou sufocar com a impotência.

– Não cabe a nós resolver os problemas deles, Mikoto.

– Eu sei, mas não consigo controlar. Sofro por eles.

– Você sempre foi alguém altruísta demais. Pensa mais nos outros do que no próprio bem.

– Não consigo evitar – confessou num fio de voz, enquanto se encolhia mais e mais nos braços do marido – Não consigo.

Fugaku suspirou, e um silencio confortador se instalou ali.

Quando Mikoto estava quase dormindo, ouviu a voz rouca do marido.

– Não desista ainda, Mikoto. Eu preciso de você.

E ouvindo isso, entregou-se ao mundo dos sonhos, tendo a certeza que seu marido a protegeria de tudo, e jamais a deixaria cair.

 

.-*-.

 

O tempo em Suna estava estranhamente frio. O ar, como sempre, estava seco, mas o vento gélido que corria pela cidade e o céu completamente nublado davam um ar sombrio à cidade natal da rosada.

Ela caminhava compressa pelas ruas movimentadas. A chuva estava para cair, e ela não tinha nenhum guarda-chuva.

Após achar um hotel para ficar, um banho rápido e roupas mais quentes, Sakura saiu em disparada pela cidade. Havia deixado o carro para trás pois estava quase sem gasolina.

Respirou aliviada quando a rua de sua casa enfim apareceu. Sua pele começou a formigar, e sua mão soava de nervosismo. Estava prestes a fazer algo que jurou nunca mais fazer: Encontrar-se com seu maldito pai.

Uma onda de aflição tomou conta de seu corpo, fazendo-a travar a alguns metros da entrada de sua casa.

Como ele reagiria? Como estaria?

Perguntas rondavam sua mente perturbada.

Como se não bastasse isso, os sinais da separação já começavam a aparecer. Julgando pela calça grossa e pelo casaco que usava na cidade mais quente do continente, estava prestes a ficar doente. Bem doente.

A campainha soou e Sakura esperou. Dois segundos depois, o trinco da porta barulhou.

A visão à sua frente fez seus olhos marejarem-se.

Era ele. O motivo de seus pesadelos. Aquele que ela não conseguia esquecer jamais.

Seu pai.

– O que faz aqui, menina ingrata?

Sakura trincou o maxilar e apertou a boca.

O velho estava totalmente... Acabado. Tinha olheiras profundas, com certeza havia emagrecido, e o bafo de cachaça era tão forte que fez seus olhos arderem.

Apesar de tudo o que passou nas mãos daquele homem, sentiu seu peito comprimir-se. Tinha pena dele.

– Vim ver como você está, pai.

– Achou que eu já estivesse morto?

Tinha que lembrar-se que fazia isso por sua mãe, mas também por ela. Tinha que vencer esse monstro do seu passado, ou jamais conseguiria seguir em frente.

– É, achei.

O velho crispou os lábios com puro desdém.

– Pois então sinta-se decepcionada, sua vagabunda. Eu ainda estou aqui.

Sakura sentiu os olhos queimarem, e teimosas lágrimas começarem a surgir.

Vagabunda. Essa palavra machucava mais do que qualquer tapa.

A rosada respirou fundo e secou as lágrimas. Não choraria agora. Não na frente dele.

Abriu um sorriso fraco.

– Que pena.

O velho chegou a rosnar de raiva, mas a mulher não se intimidou. Empurrou-o com facilidade para o lado e adentrou a casa.

– Você não pode entrar assim na minha casa! – ralhou o velho – Saia daqui!

– Isso aqui tá um nojo. – observou a filha.

O cheiro de comida estragada, cigarro e cachaça ali dentro era insuportável. Sakura tampou o nariz e sentiu-se arrasada com a visão de sua casa toda destruída.

Ele realmente era um monstro que destruía tudo o que tocava.

– O que você queria? Que eu fizesse a faxina?

Sakura virou-se para ele. O olhar queimava de ódio, e ela sentia o rosto queimar. Efeito da febre alta que estava chegando.

– Sim, isso era o que eu esperava de você! – ralhou – O mínimo que podia fazer era cuidar dessa casa, que ainda é o único bem que você tem!

– Olha esse tom, menina! – gritou ele estendendo-se por cima dela – Não ache que só por que criou asinhas vou ter medo de dar na sua cara.

Um bolo enorme travou sua garganta, mas ela esforçou-se para falar.

– Eu não tenho mais medo de você.

Só depois que Sakura estava no chão, com um lado da face ardendo, é que se deu conta do que aconteceu. O tapa fora tão forte e tão intenso que a deixou fora do ar por alguns segundos.

Sakura fechou os olhos enquanto uma fina lágrima escorreu por sua bochecha.

– Fique no chão, que é o seu lugar! – gritou o velho chutando-a nas costelas – Sua vagabunda!

– NÃO ME CHAME ASSIM!

Sakura levantou-se com tanta raiva que enxergava tudo vermelho. Agarrou o pai pelos ombros e jogou-o contra o sofá.

Kizashi levantou-se e urrou de raiva, lançando-se contra a filha. Derrubou-a no chão e chutou-a tão forte que ela perdeu o ar. Sakura tentou engatinhar para longe dele, mas ele agarrou-a pelos pés e puxou-a de volta. Agarrou seus fios róseos e desferiu um soco forte contra sua cabeça.

Sakura gritou, enquanto sua perna reagia sozinha e chutava seu pai para longe.

Arranjando forças de onde não tinha, pegou um dos abajures e quebrou-o na cabeça do pai, desacordando-o.

Suas pernas estavam tão trêmulas e sua cabeça latejava tanto que ela se encostou na parede mais próxima e escorregou até o chão. O choro começou contido, mas logo os soluços balançavam seu pequeno corpo.

Não tinha mais como enfrentar isso sozinha. Seu pai não iria mudar sozinho. Ela precisava de ajuda.

Arrastou-se até a bolsa e pegou o celular. Trancando o choro, discou o número da primeira clínica de reabilitação que encontrou.

 

(...)

 

A ambulância pareceu demorar uma eternidade, mas quando finalmente chegou, a rosada suspirou aliviada.

Os enfermeiros sedaram seu pai, que ainda continuava desacordado por conta de sua pancada.

– Não se preocupe, Sakura. Seu pai irá se recuperar.

Sakura suspirou. A visão de seu pai numa camisa de forças realmente era algo que a perturbava.

– Ele será bem tratado, não é?

– Somos os melhores do país. Seu pai está nas melhores mãos possíveis.

Sakura assentiu.

– Eu sei disso – mais um suspiro para evitar que uma lágrima caísse – Obrigada por ter vindo, mesmo que em cima da hora, Haru.

O homem loiro ofereceu-lhe um cálido sorriso.

– Não precisa me agradecer. Faço isso pelos velhos tempos.

Haru era um antigo colega de faculdade, e eles chegaram a sair algumas vezes juntos pois, além de fazerem parte da mesma turma de amigos, Ino já havia tido um caso amoroso com o homem – o que não durou nem um mês, mas acabou aproximando o loiro da rosada.

Sakura até tentou retribuir o sorriso gentil, mas o máximo que conseguiu foi uma careta.

Suspirou uma terceira vez.

– As mensalidades serão pagas por mim, então, por favor, transfira quaisquer despesas para minha conta pessoal.

Haru assentiu.

– Pode deixar, Sakura. Você não vai precisar se preocupar com nada.

Sakura fechou os olhos com força e passou os dedos pelo cabelo. Seu estresse estava elevado, e ela sabia que se não parasse agora iria surtar.

– Estou indo para o hotel onde estou hospedada. Preciso de um banho e longas horas de sono. Você pode, por favor, trancar tudo por aqui?

A expressão de Haru era de pena e preocupação.

– Claro. Vá descansar.

Sakura, não suportando mais toda aquela pressão, apenas agradeceu mais uma vez e saiu. Seus ombros estavam baixos e seus olhos pesavam tanto que ela achava possível que dormisse no meio da rua.

Somente quando abriu a porta da casa é que percebeu a chuva torrencial que havia se iniciado. Os trovões retumbavam pela noite, e o vento forte envergava as muitas árvores espalhadas pela rua.

– Quer uma carona? – era Haru novamente.

– Não quero te atrapalhar.

– Não vai. Estou voltando para a clínica. Se seu hotel for no centro, é no caminho.

– A clínica é afastada do centro.

– Mas preciso ir na sede das finanças, que fica no centro. É lá que trabalho.

Sakura assentiu, compreendendo. Denki havia se formado em direito, afinal.

– Então eu agradeço sua carona.

O loiro abriu um sorriso, enquanto tirava um guarda chuva de algum lugar.

– Eu sabia que não resistiria ao meu charme. Algum dia teria que funcionar.

Sakura riu levemente.

– É claro, por que você é maravilhoso, não é mesmo?

A expressão de Haru ficou convencida.

– Isso aí, eu sou maravilhoso.

Sakura caminhou com o amigo sob o guarda-chuva até o carro. Agradeceu imensamente quando o frio do ambiente foi substituído pelo calor do aquecedor do carro.

Quando seu amigo estava arrancando o carro, tagarelando algo sobre os tempos de faculdade, Sakura sentiu um forte arrepio de frio na espinha, e seu peito aqueceu-se de uma forma que ela sabia que só acontecia com uma pessoa.

Os olhos esmeraldinos percorreram as ruas agitados. Sabiam o que queriam encontrar, mas não sabiam por onde começar.

Ela suspirou novamente quando não encontrou nada.

Mas, quando Haru cruzou a rua para entrar na marginal, Sakura teve a impressão de estar sendo intensamente observada.

E essa sensação seguiu consigo por muitos e muitos dias.

 

.-*-.

 

Primeira chamada para o voo 192 com destino à Ohio, Estados Unidos. Passageiros, por favor, dirijam-se ao portão 12.

Este é seu mundo agora, Sakura. E a primeira coisa que você tem que saber é que não tem como fugir. Essa é quem você é agora.

Sakura suspirou, enquanto seus saltos faziam barulho contra o piso polido do aeroporto internacional de Suna.

A voz de Sara penetrava em suas entranhas, fazendo-a questionar cada uma de suas decisões desde que nasceu.

Aquele era seu mundo? Sasuke era realmente seu? O que estava fazendo de errado? Por que tudo tinha que ser tão difícil? Porque doía tanto estar longe dele?

Apertou mais o casaco contra o pescoço febril, enquanto sentia novamente as lágrimas queimando em seus olhos. Nos últimos dias havia se tornado uma sensação tão presente que ela já estava acostumada.

Onde será que ele está? O que está fazendo? Será que está sofrendo?

Eram pergunta muito presentes em seu dia-a-dia. Distraía-se por um segundo e pegava-se pensando nele. Como ao lado dele tudo parecia tão certo, tão lindo, tão normal. Como um abraço dele era melhor do que todos os abraços do mundo, e como seu sorriso aquecia até as partes mais profundas do seu ser.

O tempo que passou com Sasuke não podia ser comparado a nenhum outro. Nada era como estar com ele, ter perto de si a presença intimidante, o cheiro embriagante, a voz envolvente...

Por que era tão difícil deixa-lo para trás? Por que?!

Sakura franziu o cenho.

Vamos lá. É só embarcar nessa merda desse avião e deixa-lo.

Eu consigo.

Não é nenhum esforço.

Eu preciso fazer isso.

Eu tenho apenas que entrar no avião, e ele vai me levar para bem longe de toda essa loucura.

Eu sou uma médica renomada, nasci para salvar vidas. Esse é meu caminho, não aqui, não ao lado dele.

Esse lugar não é seu!

Tentava se convencer a todo custo, mas eram só pensamentos vazios. Sua cabeça mandava-a para bem longe dali, mas seu coração... Ele não a deixava mentir. Seu corpo resfolegava e acendia-se como brasa diante da mínima lembrança do moreno.

Não pode ser uma ligação tão forte assim.

Não tive tempo suficiente para me apaixonar de verdade.

Esse negócio de marcada não existe.

Eu

Não

Amo

Sasuke.

A fisgada em sua cabeça foi tão forte que ela teve que parar por um momento e gemer de dor. Sua têmpora latejava e ela sentiu-se tão fraca que quase veio ao chão.

Deteve-se no meio do aeroporto. Sua respiração estava acelerada e uma fina lágrima escorreu por sua bochecha.

Levando a mão até suas têmporas, procurou uma cadeira e sentou-se. O choro era contido, porém sofrido.

A quem eu estou querendo enganar?

Oh meu Deus, eu o amo mais do que a mim mesma. Amo tudo nele, até seus defeitos.

Não preciso de tempo para me apaixonar.

Para que?

No primeiro olhar ele já me arrebatou completamente.

Meu corpo sabe que pertenço a ele, e que jamais haverá outro que me complete como Sasuke Uchiha.

– Última chamada para o voo 192 com destino à Ohio, Estados Unidos. Passageiros, dirijam-se ao portão 12.

Sakura enfiou a cabeça por entre os joelhos e as mãos nos cabelos, apertando-os.

Não consigo. Não sou forte o suficiente.

Posso encarar tudo: Um pai alcoólatra, uma mãe morta, uma vida de sofrimentos, até mesmo a morte... Mas não posso encarar uma vida sem Sasuke Uchiha.

O pensamento arrebatou o resto de suas forças. Mesmo estando magoada, não poderia entrar naquele avião.

Nem mesmo sabia como esta ideia havia passado por sua cabeça.

Sasuke estava cravado fundo em sua alma, e jamais sairia de seu coração.

Tinha que conformar-se de vez com isso.

 


Notas Finais


Heuheuheu adianta fugir não Sakura....
O que acharam???


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