História Garoto Reprimido - FASE I: Capítulo 1 - Reencontro

Sentado no banco de trás do carro do pai, estava o adolescente Josh Hale.Lia o romance A Culpa é das Estrelas, do autor John Green. À frente, seus pais, Dr. Gustavo Hale, que dirigia o veiculo, e sua mãe, Emily. O Dr. Hale, aos 44 anos, era um homem bem atraente. Seus músculos eram definidos, os cabelos curtos e castanhos escuros, a barba por fazer. Chamava bastante atenção por onde ia, inclusive no trabalho. Josh herdara dele os olhos azuis. Emily tinha 37 anos e também era muito bonita. A pele branca, os cabelos outrora pretos se encontravam tingidos de loiro, as unhas pintadas de um vermelho não extravagante. Também possuía um corpo de dar inveja, afinal, fazia pilates três vezes por semana e cuidava bem de sua aparência. Sua profissão era cabeleireira, Emily tinha seu próprio salão de beleza.

Gustavo parou a Mercedes em frente aos portões com barras de metal. Cinco segundos depois, foram abertas automaticamente e ele adentrou o local. Estavam agora no solo do Instituto Bom Futuro, somente para garotos. Josh estudava neste instituto, iria começar o 2° ano do ensino médio. O jovem olhou para fora do carro. Havia vários garotos circulando pela área carregando suas bagagens.

- Chegamos, filho – disse Gustavo. A família saiu do veiculo, Josh pegou sua mochila, guardou o livro na mesma e passou os braços pelas alças. O pai abriu o porta malas e pegou a maleta com rodas de Josh.

- Aqui nos despedimos – disse Gustavo – Tenha um bom ano, filho.- Eu vou. Obrigado, pai – Josh o abraçou, depois abraçou a mãe.

- Fique com Deus, meu amor. Nos vemos nas férias de julho. – despediu-se ela.

- Tchau, mãe. A gente se vê logo.

O Sr e a Sra. Hale entraram novamente no veículo. Gustavo deu a partida e saiu dos limites do instituto, Emily acenava com a mão para fora do carro.

Josh respirou fundo. Caminhou em direção ao prédio principal para pegar seus horários e número de dormitório, assim como os demais alunos. O campus tinha um gramado de um verde bem vivo, árvores podadas e arbustos. No meio dele, um chafariz. Era composto por nove dormitórios, três para cada ano do ensino médio, quatro andares cada. Em cada andar, seis quartos com quatro camas e armários, uma escrivaninha para os alunos fazerem as tarefas e um banheiro. Entre os dormitórios, no centro, ficava o prédio principal, para o qual Josh rumava, onde as aulas eram aplicadas. Incluía também a piscina no andar inferior, refeitório e quadra. Ao lado do prédio, o dormitório dos professores e outros funcionários do instituto.

Chegando a frente do prédio, onde os garotos esperavam para pegar seus horários, Josh avistou dois de seus amigos, Gilbert e Alex.

- Ei, vocês dois – chamou-os.

- Josh! – Gilbert se aproximou e deu aperto de mão no amigo. Ele era um garoto baixo, mas forte, pois praticava bastante esporte e era do time de futebol. Usava uma camiseta do Nirvana – Como é que vai, cara?

- Vou bem. E aí, Alex?

- Oi, Josh. Diz aí, como foram as férias em Portugal?

- Frias – riram – Mas foram boas. E vocês?

- Eu trabalhei na livraria do meu pai, mas deu pra aproveitar – disse Alex.

- E eu passei um verão entediante na casa da minha avó – Gilbert reclamou – Cara, lá não tem internet. Ela é antiquada, acha que acaba com os neurônios – continuou, fazendo os amigos rirem – E pior, TV só até as 7 horas da noite. Foi um horror.

Josh e Alex gargalharam alto.

- Mas tudo bem, pessoal. Nós tínhamos que ficar lá, meu pai e eu. Ele não conseguia ficar na nossa casa depois... vocês sabem.

- Sim – murmuraram.

- Ei, boy olas! – era Liam, outro amigo deles – Tiveram boas férias?

- Oi, Liam – disse Josh.

- E aí, pegaram seus horários?

- Ainda não, acho que estão esperando mais alunos chegarem – disse Alex.

- Pronto, menos dois – falou Gilbert, vendo que João e Gordon se aproximavam.

- E aí, men – disse João.

Os amigos ficaram conversando enquanto aguardavam os coordenadores. Após uma hora de espera, o diretor, Sr Javier, um homem de 55 anos, calvo, barrigudo, apareceu. Havia um pedestal de microfone no alto da escada, com caixas de som. Ele pigarreou e disse:

- Boas vindas para todos. Espero que tenham tido ótimas férias. Aos que já estudavam aqui, bem vindos de volta. Aos alunos do 1° ano, minhas saudações. Muito bem, rapazes, formem filas, por favor, dividas por séries, para pegarem seus horários e os números de seus quartos. Ah, depois que se instalarem, a piscina está liberada, assim como o salão de jogos – os alunos urraram e aplaudiram – Para os alunos novos, temos extracurriculares, como o time de futebol, o coral, curso de química, entre outros. Amanhã mesmo podem se inscrever – aplaudiram – Muito bem, podem formar as filas agora.

Assim o fizeram. Os alunos pegavam seus horários e iam direto para o dormitório. 

- Em que quarto vocês estão? – indagou Josh.

- Eu estou no dormitório 2° ano B, quarto 305 – falou Gilbert.

- O meu também, legal.

- Alex, João e eu estamos juntos, dormitório B também – disse Liam.

- Também estou no B. Legal, eu sou o único que ficou sozinho – reclamou Gordon – Mas tudo bem.

- Ok, vamos logo guardar nossas coisas, quero ir para a piscina – disse Gilbert. Foram até o dormitório 2° ano B. Cada um foi para seu quarto, Gordon no 101, Alex, Liam e João no 303, Josh e Gilbert no 305.

- Aqui estamos nós – Gilbert se jogou na primeira cama à sua direita – 2° ano finalmente. Só mais dois anos para terminar.

- Pois é – falou Josh, se sentando na cama ao lado da dele – Passou rápido, não acha? No ano que vem, a gente já vai se formar. E aí começa a vida.

- É. Mas não vamos falar disso agora. Vamos arrumar nossas coisas – o baixinho se levantou e jogou a mala sobre a cama, abriu-a e começou a guardar suas coisas no armário.

- Ok – Josh se levantou e pegou sua mochila. Tirou dela seu notebook e seus livros, que eram muitos, pois amava ler.

- Que livro você está lendo agora, Josh?

- Eu estou relendo A Culpa é das Estrelas.

- Não tem o filme?

- Tem sim, lançado ano passado. É bom também, mas eu sempre prefiro os livros.

- Eu não gosto muito de ler. Não tenho muita paciência. Só li dois livros a minha vida toda.

- Pois devia, Gilbert. Ler é muito bom.

- Prefiro esperar que lancem o filme.

Josh revirou os olhos.

Ao terminarem de guardar todas as suas coisas, Gilbert falou:

- E aí, vamos?

- Claro.

Gilbert pegou uma sunga de banho preta. O baixinho retirou a camiseta, ficando com o troco despido. Josh corou e virou as costas para o amigo, não queria vê-lo nu. Pegou em sua mala sunga azul escura e foi para o banheiro despir-se e vesti-la. Josh nunca ficava nu na frente de seus companheiros de quarto. Quando saiu do banheiro, Gilbert já vestira um short e uma camiseta, Josh vestiu peças parecida, e os dois foram para a piscina no prédio principal encontrando João, Gordon, Alex e Liam lá. O local estava bem cheio por que todos os residentes do colégio, incluindo os calouros. Um aluno do 3° ano era atuava como DJ, tocando musicas muito boas e misturando algumas musicas de Calvin Harris.

Josh e os amigos estavam sentados lado a lado na beirada da piscina, conversando.

- Sabem qual é o defeito de um colégio interno masculino? – falou João.

- É só para garotos – os amigos responderam em uníssono, rindo.

- Concordo – disse Alex – Eu queria que fosse um colégio misto.

- Por isso meus pais me colocaram aqui ano – disse Gilbert – Eles acham que namoro atrapalha os estudos. Eu não acredito. Shelley e eu nunca atrapalhamos um ao outro. E também foi um pretexto pra minha mãe me afastar dela, por que acha que ela é “má influência”. Quem diz isso é logo ela. – resmungou.

- Tem falado com ela, Gil? – Liam perguntou.

- Não muito – Gilbert respondeu secamente –E você, Josh, arrumou uma namorada portuguesa? – Gilbert perguntou a ele, a fim de mudar o rumo da conversa.

Josh corou.

- Eu... não. Não arrumei.

- Cara, sai dessa seca. Já ta na hora de arrumar alguma garota. – disse Alex – Não ri, Gordon, isso vale pra você também. Ah, esqueci, você só pode se for pra casar.

Gordon parou de rir na hora.

- Aí, respeita minha religião, falou? – ele reclamou com Alex. Gordon era de uma família 100 por cento cristã e que prezava muito os valores, portanto não lhe era permitido namorar, a não ser que fosse para casar, como Alex disse.

Quanto a Josh, este deu um sorriso forçado. Por dentro  estava chateado. Ele tinha um segredo: não gostava de garotas. Josh era gay. Nenhum de seus amigos nem qualquer pessoa de sua família sabia disso, e ele temia que todos o rejeitassem após descobrir sobre sua homossexualidade.

Sua descoberta foi perto da puberdade. Ele começou a reparar nos garotos do jeito que deveria reparar nas garotas. Admirava seus rostos, corpos, cabelos. Ele bem que tentou negar, não queria ser gay – ninguém quer, ele sabia disso – mas não havia como mudar isso. Levou muito, muito tempo para que aceitasse isso em si. Uma boa parte, pelo menos. Porém, o pior de tudo foi quando se descobriu apaixonado por seu melhor amigo, Harry Tyree. Josh e Harry se conheciam desde o maternal, eram inseparáveis. Quando tinha 13 anos, Josh se viu perdidamente apaixonado por ele, depois que ele o ajudou a enfrentar uns valentões da escola. Harry o defendeu de uma forma muito bonita, Josh nunca tivera alguém que o defendesse assim. Na mesma noite em que isto ocorreu, Josh sonhara com Harry. No sonho, Harry lhe beijava. Ao acordar, o moreno murmurou “eu te amo, Harry”. Depois deste, a maioria de seus sonhos eram com Harry. Inclusive, uma vez, teve um sonho erótico com ele.

Por três anos, Josh escondera sua orientação sexual e seu amor por pelo amigo. Todos os dias o admirava discretamente; amava tudo nele: sua voz, seus olhos, seus cabelos loiros escuros, sua personalidade. Harry era perfeito. Pensou em contar para ele sobre seus sentimentos com o mesmo, mas recuava. Era muito tímido e se Harry soubesse disso, nunca mais chegaria perto dele. Mas ao mesmo tempo Josh se perguntava se Harry não sentiria o mesmo por ele. Estavam juntos noventa por cento do tempo, as chances eram grandes, certo?

Errado.

Tudo mudou quando Harry deu a Josh uma notícia triste para os dois: Harry e sua família se mudariam para São Paulo, ou seja, para longe dele. A notícia pegou Josh totalmente de surpresa e a partir daquele dia ele sentiu um vazio no coração como se seu amor já tivesse partido para longe. Ele o perderia para sempre. Mas algo ainda pior aconteceu. Um dia antes da mudança, Josh, não sabia de onde, havia tomado coragem e confessado para ele seus sentimentos. E aconteceu algo que ele já temia, mas não esperava que fosse realmente acontecer. Não da maneira que foi.

- Essa não – disse João.

- O quê? – perguntou Liam. João apontou com um aceno de cabeça – Fala sério.

- Legal, mais um longo ano com Johnny Roland – reclamou Josh.

Johnny estava encostado num canto, conversando com seus amigos, ou melhor dizendo, seu “bando”. Ele tinha cabelos castanhos claro, olhos verdes, era musculoso. Tinha um piercing de argola no mamilo esquerdo e um na língua. Ele era considerado o terror do instituto. De todos, era o maior valentão dali. Seu bando e ele comandavam o colégio. Infernizavam a todos. Agrediam os mais fracos, pregavam peças de mau gosto, insultavam, entre outras coisas.O grupo de Josh era o alvo principal deles. Os chamavam de as Bibinhas, pois considerava todos gays – como se fosse algo ruim. Enquanto isso, as Bibinhas os chamavam de os Trogloditas. João e Josh tiveram o azar de dividir o quarto com ele no ano passado, e foi a pior experiência que tiveram. Johnny não os deixava em paz, atrapalhava-os na ora de estudar e vivia implicando com eles. Não aguentando aquele inferno, pediram urgentemente à secretaria para que os mudassem de quarto o quanto antes.

- Ele não disse que não iria estudar aqui este ano? Lembro que ele ficou se gabando ano passado... – disse Gordon.

- Que eu saiba, sim. Falou que ia estudar no mesmo colégio que a namorada dele. Só não sei o que ele faz aqui – falou Alex.

- Fiquei sabendo que terminaram – disse Liam.

- Quem disse? – Josh perguntou.

- Ah, uns caras aí me falaram. Disseram que ele postou no Face umas indiretas e umas merdas pra ela. Ainda colocou no status: “enfim livre, porra!”

- Que babaca. – Gilbert balançou a cabeça negativamente.

- Uns dizem que ela chutou ele. Outros que foi que ele chutou ela. E ainda teve galho na parada.

- Espero que ela tenha chutado ele. Literalmente. Um chute bem no cu – disse Gilbert, fazendo com que rissem – Ok, chega de falar desse panaca. Vamos nadar.

Dito isto, o baixinho se pôs de pé, retirou o short, a camiseta e pulou n’água. Os outros fizeram o mesmo. A água estava deliciosa. Uma das coisas que Josh mais gostava era nadar. No ano anterior, ficou dividido entre qual extracurricular escolheria, natação ou futebol, pois infelizmente não conseguiria fazer os dois; tomariam demais o seu tempo e ele ficaria esgotado. Acabou optando pelo futebol, o que foi uma ótima decisão dele. No seu primeiro ano no Bom Futuro, sentiu-se deslocado. Não conhecia ninguém dali, mal conversava com os outros alunos e levou tempo para fazer amizades – em seu antigo colégio não era diferente. João falava com ele no quarto em que dividiam, mas não andavam juntos, até o dia da aula de educação física. A aula era livre, os garotos jogaram futebol e Josh jogou muito bom no esporte. A partir daí, conseguiu se enturmar mais com os garotos, e passou a andar na companhia de João, que já tinha feito amizade com Alex, Gilbert e Liam. Gordon se juntara ao grupo um tempinho mais tarde.

Após umas duas horas desfrutando da piscina, saíram da água. As peles estavam enrugadas.

- Nada mau para um retorno às aulas – disse Liam.

- Galera, eu vou lá tomar um banho. Falo com vocês depois – Josh disse e foi até o vestiário. No chuveiro, retirou água da piscina de seu corpo. Se secou, vestiu seu short e a camiseta novamente e saiu do vestiário. No caminho, passou por Johnny, que deu um esbarrão com o ombro de propósito nele.

- Viadinho, olha por onde anda – ele disse, com marra. Josh revirou os olhos e o ignorou – Isso mesmo, caladinho.

Mas que raiva! Por que aquele garoto não o deixava em paz? Pra que essa perseguição para com ele e seus amigos? Garoto mais imaturo.

O moreno respirou fundo e seguiu seu caminho. Foi para o seu quarto para tomar um banho. Retirou a roupa e a sunga molhada, deixando-as no cesto de roupa suja. Abriu a torneira do chuveiro na água morna. Ensaboou o corpo e lavou os cabelos com xampu e condicionador. Era vaidoso com seu cabelo, por isso, cuidava sempre dele, fazendo banhos de creme. Terminou de se banhar e saiu do banheiro com a toalha em mãos. Abriu o guarda roupa e escolheu uma camisa e uma bermuda. Deixou as roupas sobre a cama e ficou secando seu corpo nu. Estava de costas para a porta.

Ouviu alguém girar a maçaneta. Constatou que fosse Gilbert. Mas ao se virar, deixou a toalha cair de suas mãos com o choque que levou.

Não. Não pode ser. Isso... só pode ser imaginação ou um sonho. Não pode ser ele.

Josh não acreditava no que seus olhos estavam vendo. Não o via há mais de um ano. Como ele poderia estar ali, bem na sua frente? Era ele mesmo? Sim, era. Não tinha duvidas. Os olhos levemente esverdeados, o cabelo loiro escuro, a pele clara e bonita... aquele era...

- Josh? – o garoto falou, também espantado ao encontrá-lo ali.

- Harry...?