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História Girls and Blood - Reimagined Twilight - Ten


Escrita por: Azrael_Araujo

Capítulo 11 - Ten


Como boa mentirosa que sou, consegui enrolar Charlie alegando que tinha muito dever de casa e que já havia comido o suficiente em la Push — assim, consegui fujir do jantar. Ele não pareceu se importar.

Já no meu quarto, tranquei a porta. Vasculhei minha mochila até encontrar meu fones de ouvido e os conectei na entrada do celular prateado, abrindo o aplicativo de músicas online e deixando-o tocar aleatoriamente, deitando na cama. Fechei os olhos e coloquei um travesseiro na parte de cima do rosto.

Eu me concentrei só na música, tentando entender as letras. A playlist de uma banda de heavy metal pareceu assumir o comando, e eu a deixei no repeat — o barulho das guitarras e bateria era reconfortantes. 

Na terceira vez que ouvi toda a playlist, eu sabia pelo menos toda a letra dos refrões. Fiquei surpresa em descobrir que eu havia gostado da banda, depois de conseguir passar pelo barulho ensurdecedor.

E deu certo: graças à batida de rachar os tímpanos, foi impossível pensar — e era esse o propósito do exercício.

Ouvi as músicas repetidas vezes, até que estava cantando todas as músicas e até que, finalmente, dormi.

Quando abri os olhos, estava em um lugar familiar.

Apesar de parte da minha mente parecer saber que eu estava sonhando, a maior parte de mim estava apenas presente na luz verde da floresta. Eu podia ouvir as ondas quebrando nas pedras em algum lugar por perto e sabia que, se achasse o mar, poderia ver o sol. Tentava seguir o som, mas então Jake estava ali, puxando minha mão, arrastando-me para a parte mais escura da floresta.

— Jacob? Qual é o problema? — perguntei.

O rosto dele estava assustado enquanto ele me puxava com toda a força, tentando me levar para a escuridão.

— Corre, Bells, você tem que correr! — sussurrou ele, apavorado.

— Por aqui, Bella! — Era a voz de Riley Biers que eu ouvia agora, gritando do meio das árvores, mas não consegui vê-la.

— Por quê? — perguntei, ainda tentando me libertar de Jake. Encontrar o sol era muito importante para o eu do sonho. Era a única coisa em que eu conseguia me concentrar.

Nessa hora, Jake soltou minha mão; ele deu um gritinho estranho e, tremendo de repente, caiu no chão e começou a se contorcer. Olhei com pavor, sem conseguir me mexer.

— Jake! — gritei, mas ele tinha sumido. Em seu lugar havia um lobo grande e castanho-avermelhado de olhos negros. O lobo desviou os olhos de mim, apontando o focinho para a praia, o pelo eriçado nos ombros, emitindo rosnados baixos por entre as presas à mostra.

— Corre, Bella! — gritou Riley novamente de trás de mim. Mas não me virei. Eu estava vendo uma luz que vinha da praia na minha direção.

E aí, Edythe apareceu no meio das árvores. Ela estava com um vestido preto. Ia até o chão, mas deixava os braços os ombros à mostra e tinha um decote profundo em V. A pele brilhando um pouco, os olhos negros. Ergueu uma das mãos e acenou para que eu fosse até ela. As unhas estavam lixadas com pontas afiadas e pintadas de um vermelho tão escuro que pareciam quase tão pretas quanto o vestido. Os lábios estavam da mesma cor.

O lobo entre nós rosnou.

Dei um passo à frente, na direção de Edythe. Ela sorriu e, entre os lábios escuros, os dentes eram afiados e pontudos como as unhas.

— Confie em mim — sussurrou ela.

Dei outro passo.

O lobo se atirou no espaço entre mim e a vampira, as presas mirando a jugular dela.

— Não! — gritei, erguendo-me da cama.

Meu movimento súbito fez os fones puxarem o celular prateado, e ele caiu no chão de madeira.

Minha luz ainda estava acesa e eu estava sentada toda vestida na cama, ainda com as botas de couro em meus pés. Olhei, desorientada o relógio na cômoda enquanto coçava os olhos. Eram cinco e meia da manhã.

Gemi, caí de costas e me virei de bruços, tirando as botas e desabotoando a calça para jogá-la longe. Me virei na horizontal e puxei a blusa de algodão pela cabeça — ficou presa em meu cabelo por alguns segundo até que consegui jogá-la na mesma direção em que a calça estava. Rolei deitando de barriga pra baixo, finalmente confortável em estar apenas de calcinha e sutiã.

Ouvi um barulho distante, ao fundo. Parecia um ofego — como se alguém tivesse corrido demais e estivesse tentando recuperar o fôlego. Minutos depois, senti minha pele sendo acariciada ao entrar em contato com o tecido macio do cobertor.

Franzi o cenho, ainda de olhos fechados, sonolenta demais para me importar com isso.

 

De manhã — quando realmente havia amanhecido — tomei um banho rápido e fiz minha higiene. Vesti-me lentamente com a calça jeans do dia anterior e um moletom branco e depois fiz minha cama.

Mas eu não podia mais adiar. Fui para minha escrivaninha e liguei o computador, enquanto comia meu cereal devagar, já me sentindo idiota antes mesmo de terminar de digitar a palavra.

Vampiro.

Senti-me ainda mais idiota ao olhar para ela. Tudo o que eu sobre o assunto provinha das minhas noites na casa de Lauren, onde passávamos madrugadas inteiras assistindo The Vampire Diaries e comíamos hambúrgueres junto com algum energético barato.

Cliquei em pesquisar.

Os resultados foram difíceis de avaliar. A maioria era de entretenimento: filmes, programas de TV, RPG, bandas de heavy metal... Havia roupas e maquiagem gótica, fantasias de Halloween e programações de convenções.

Acabei encontrando um site promissor — Vampiros de A-Z.  A página era simples e com aparência acadêmica, texto preto em um fundo branco. Duas citações me receberam na home page:

Em todo o vasto mundo das sombras de fantasmas e demônios, não há figura tão terrível, nenhum personagem tão medonho e abominado , e no entanto travestido de tal fascínio temeroso, como o vampiro, que não é nem fantasma nem demônio, mas participa da natureza das sombras e possui as qualidades misteriosas e terríveis de ambos.

— Rev. Montague Summers

Se há neste mundo um relato bem documentado, é o dos vampiros. Nada falta ali: relatórios oficiais, atestados de pessoas reputadas, de médicos, de padres, de magistrados; a prova judicial é a mais completa. E com tudo isso, quem há que acredite em vampiros?

— Rousseau

O resto do site era uma lista em ordem alfabética de todos os diferentes mitos de vampiros que existem em no mundo. O primeiro em que cliquei, o Danag, era um vampiro filipino supostamente responsável pelo cultivo de inhame nas ilhas havia muito tempo. Dizia o mito que o Danag trabalhou com seres humanos por muitos anos, mas um dia a parceria terminou, quando uma mulher cortou o dedo e um Danag chupou sua ferida, desfrutando tanto do sabor que drenou totalmente o sangue de seu corpo.

Li atentamente as descrições, procurando alguma coisa que parecesse familiar, sem mencionar plausível. Parecia que a maioria dos mitos de vampiros tinha mulheres bonitas como demônios e crianças como vítimas; também pareciam conceitos criados para explicar o alto índice de mortalidade de crianças novas e dar aos homens uma desculpa para a infidelidade. Muitas histórias envolviam espíritos incorpóreos e alertas contra enterros inadequados. Não havia muito que se parecesse com os filmes que eu vira, e só alguns, como o Estrie hebraico e o Upier polonês, ainda se preocupavam em beber sangue.

Só três verbetes realmente prenderam minha atenção: o romeno Varaco laci, um morto-vivo poderoso que podia aparecer como um ser humano bonito de pele clara; o eslovaco Nelapsi, uma criatura tão forte e tão rápida que podia massacrar uma aldeia inteira na primeira hora depois da meia-noite; e outro, chamado Strego ni benefici.

Sobre este último, só havia uma frase curta.

Strego ni benefici: vampiro italiano que se diz estar do lado do bem e é inimigo mortal de todos os vampiros do mal.

Foi um alívio estranho, aquele pequeno verbete, o único mito entre centenas que afirmava a existência de vampiros do bem.

Entretanto, no geral, pouco havia que coincidisse com as histórias de Jacob ou minhas próprias observações. Fiz um pequeno catálogo em minha mente enquanto lia e o comparei cuidadosamente com cada mito. Beleza, velocidade, força, pele clara, olhos que mudavam de cor; e depois, os critérios de Jake: bebedores de sangue, inimigos de lobisomem, pele fria e imortais. Havia poucos mitos que combinassem ao menos com um dos fatores.

E depois, outro problema, uma questão de que eu me lembrava do pequeno número de filmes de terror que vira e era sustentada pela leitura de hoje: os vampiros não podiam sair à luz do dia, o sol os queimava até que virassem cinzas. Eles dormiam em caixões o dia todo e só saíam à noite.

Exasperada, apertei o botão para desligar o computador, sem esperar para desligar tudo adequadamente. Em minha irritação, senti um constrangimento dominador. Era tudo tão idiota. Eu estava sentada no meu quarto, pesquisando vampiros. O que havia de errado comigo?

Precisava sair de casa, mas não havia aonde eu quisesse ir que não envolvesse uma viagem de três dias.

Considerei, por alguns segundos, enviar um e-mail à Lauren. Eu queria conversar com ela. Queria contar-lhe tudo que estava acontecendo. Queria poder sentir a segurança que ela me passava com simples palavras e o carinho que demonstrava nos pequenos gestos. Ela saberia o que fazer, ela sempre sabia... Mas eu também sabia que não mandaria aquele e-mail.

Calcei as botas de qualquer jeito, desejando apenas sair mesmo sem ter certeza do meu destino, e desci a escada. Vesti a capa de chuva sem olhar o tempo e disparei porta afora.

Estava nublado, mas ainda não chovia. Ignorei meu carro e parti para o leste a pé, atravessando na diagonal o jardim de Charlie em direção à floresta. Pouco tempo depois, eu havia avançado bastante, a casa e a rua estavam invisíveis e o único som era o esmagar da terra molhada debaixo dos meus pés.

Havia ali uma trilha estreita que levava para o interior da floresta. A trilha entrava cada vez mais fundo na floresta, principalmente para o leste, pelo que eu podia perceber. Serpenteava pelos espruces e as cicutas, os teixos e bordos. Só conhecia vagamente os nomes das árvores em volta de mim, e tudo o que eu sabia se devia ao fato de Charlie apontá-las da janela da viatura na minha infância. Havia muitas que eu não conhecia e outras sobre as quais não podia ter certeza porque estavam cobertas demais de parasitas verdes.

Segui a trilha pelo tempo que a raiva me impeliu. Quando começou a amainar, diminuí o passo. Algumas gotas de água escorriam do dossel verde acima de mim, mas eu não podia ter certeza se estava começando a chover ou se eram simplesmente gotas que restaram de ontem, presas nas folhas no alto, caindo devagar na terra. Uma árvore recém-caída — eu sabia que era recente porque não estava totalmente atapetada de musgo verde — pousava no tronco de uma de suas irmãs, criando um pequeno banco abrigado a uma distância segura da trilha. Passei por cima das samambaias, me sentei e encostei a cabeça coberta pelo capuz na árvore viva.

Era o lugar errado para ir. Eu devia saber, mas para onde mais iria? A floresta era de um verde intenso e parecida demais com a cena do sonho da noite passada para que eu ficasse tranquila. Agora que não havia mais o som dos meus passos ensopados, o silêncio era penetrante. As aves também estavam quietas, a frequência das gotas aumentava, então devia estar chovendo no alto.

As samambaias eram quase da altura da minha cabeça agora que eu estava sentada, e eu sabia que alguém podia andar pela trilha, a um metro de distância, e não me ver. Aqui, nas árvores, era muito mais fácil acreditar nas palavras absurdas que me constrangiam entre quatro paredes. Nada mudara nessa floresta havia milhares de anos, e todos os mitos e lendas de cem terras diferentes pareciam muito mais prováveis nessa névoa verde do que em meu quarto claro.

Obriguei-me a me concentrar nas duas questões mais importantes que eu precisava responder.

Primeiro, eu tinha de decidir se era possível que aquilo que Jacob dissera sobre os Cullen fosse verdade. Minha mente reagiu imediatamente com uma negativa retumbante. Era tolice considerar essa ideia. Eram histórias bobas. Só lendas velhas e mórbidas. Mas o quê, então?, perguntei a mim mesma. Não havia explicação racional para o modo como sobrevivi à van.

Relacionei novamente em minha cabeça as coisas que observei: a beleza inumana, a velocidade e a força impossíveis, a cor dos olhos mudando do preto para o dourado e voltando ao preto, a pele branca e gélida. E mais, coisinhas que entraram na minha cabeça aos poucos: eles nunca pareciam comer, e havia a elegância perturbadora com que cada um se movimentava. E o modo como ela falava às vezes, com uma cadência desconhecida e expressões mais adequadas a um romance histórico do tipo que minha mãe amava do que a uma sala de aula do século XXI. Ela matou aula naquele dia em que fizemos a tipagem sanguínea. Não disse não para a viagem à praia até saber aonde iríamos. Parecia saber o que todos por perto dela estavam pensando... a não ser eu. Ela me dissera que era a vilã, perigosa... Poderiam os Cullen serem vampiros?

Bom, eles eram alguma coisa.

Além de esquizofrênicos, minha mente me lembrou.

Algo fora dos limites do normal e são estava acontecendo naquela cidadezinha insignificante. Fossem os frios de Jake ou minha teoria do super-heróis, Edythe Cullen não era... humana. Era algo mais.

Então — talvez. Essa teria que ser minha resposta por enquanto.

E havia a questão mais importante de todas. O que eu ia fazer?

Se Edythe fosse uma vampira — eu mal conseguia pensar na palavra —, o que eu deveria fazer? Definitivamente estava fora de cogitação envolver outra pessoa. Eu nem conseguia acreditar; qualquer um com quem eu tentasse falar sobre o assunto me internaria.

Apenas duas opções pareciam práticas. A primeira era aceitar o conselho dela: ser inteligente e evitá-la ao máximo. Cancelar nossos planos, voltar a ignorá-la da melhor maneira que eu pudesse. Fingir que havia um vidro grosso e impenetrável entre nós em uma aula onde éramos obrigadas a sentar juntas. Dizer a ela que ela estava certa e nunca mais voltar a falar com ela.

E doeu, a mera ideia, mais do que deveria. Mais do que eu achava que conseguiria aguentar. Mudei de direção e pulei para a opção seguinte.

Eu não podia fazer nada diferente. Afinal, se ela era uma coisa... sinistra, até agora não tinha feito nada de ruim. Na verdade, eu seria uma panqueca branca e gosmenta no para-lama do carro de Taylor se ela não tivesse agido com tanta rapidez. Tão rápido, argumentei comigo mesma, que podia ter sido por mero reflexo. Mas, se foi um reflexo para salvar uma vida, como ela poderia ser má? Minha cabeça girava sem respostas.

Havia algo de que eu tinha certeza, se é que tinha certeza de alguma coisa. A Edythe de vestido preto com dentes e unhas afiadas era só a encarnação das palavras de Jake, não a verdadeira Edythe. Mesmo assim, quando ela gritou de horror na hora que o lobisomem atacou, não foi medo do lobo que me fez gritar. Não. Foi medo de que ela fosse ferida. Mesmo com ela me chamando com presas afiadas, eu temia por ela.

E eu sabia que havia uma resposta aí. Não sabia se havia alternativa. Eu já mergulhara fundo demais. Agora que eu sabia — se é que sabia —– o que eu podia fazer? Porque, ao pensar nela, na voz, nos olhos hipnóticos, na força magnética com a qual o corpo dela atraía o meu, eu só queria estar com ela agora. Mesmo que... Mas eu não queria pensar na palavra de novo. Não aqui, na floresta silenciosa. Não enquanto a chuva a tornava sombria como um crepúsculo sob as árvores e tamborilava como passos no chão de terra lamacenta. Eu tremi e me levantei, preocupada que de algum modo a trilha sumisse com a chuva.

Mas estava ali, sinuosa na sombra verde gotejante. Dei passos maiores agora, e fiquei surpresa, à medida que quase corria pelas árvores, com o quanto fui longe.

Comecei a me perguntar se estava saindo da floresta ou se seguiria a trilha ainda mais para os confins dela. Mas, antes que o pânico fosse demasiado, comecei a vislumbrar alguns espaços abertos pela teia de galhos. Depois, pude ouvir um carro passando na rua, e eu estava livre, o gramado de Charlie debaixo dos meus pés.

Era meio-dia quando entrei em casa. Fui para o segundo andar e me troquei, shorts moletom e uma camiseta, ficando descalça, uma vez que ia ficar em casa. Não precisei de muito esforço para me concentrar na tarefa do dia, um trabalho sobre Macbeth que devia entregar na quarta. Comecei a escrever um rascunho, mais serena do que me sentia desde... Bom, desde a tarde de quinta-feira, para ser franca.

Mas esse sempre foi o meu jeito. Tomar decisões era a parte dolorosa para mim, a parte que me angustiava. Mas, depois que a decisão era tomada, eu simplesmente seguia em frente, aliviada por ter decidido. Às vezes o alívio era tingido de desespero, como minha resolução de vir para Forks. Mas ainda era melhor do que lutar com as alternativas.

Era quase fácil demais conviver com aquela decisão.

Perigosamente fácil.


Notas Finais




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