1. Spirit Fanfics >
  2. Girls and Blood - Reimagined Twilight >
  3. Thirty Three

História Girls and Blood - Reimagined Twilight - Thirty Three


Escrita por: Azrael_Araujo

Capítulo 34 - Thirty Three


Primeiro a dor foi pior. Eu gritei e me contorci contra as mãos geladas que me seguravam no lugar. Eu ouvi a voz de Archie tentando me acalmar. Alguma coisa pesada segurava minha perna no chão, e Carine segurava minha cabeça presa no vão do seu braço de pedra.

Então, lentamente, minhas extorsões se acalmaram enquanto minha mão ia ficando mais e mais entorpecida.

O fogo estava diminuindo, se concentrando em um pequeno ponto. Eu senti minha consciência sumindo enquanto a dor diminuía. Eu estava com medo de cair nas águas escuras de novo, com medo de perdê-la na escuridão.

— Edythe. — Tentei dizer, mas eu não conseguia ouvir minha voz.

Eles podiam me ouvir.

— Ela está bem aqui, Bella.

— Fique, Edythe, fique comigo...

— Eu vou. — A voz dela estava tensa, mas de alguma forma triunfante.

Eu suspirei contente.

O fogo havia desaparecido, as outras dores estavam adormecidas, vazando pelo meu corpo.

— Está tudo fora? — Carine perguntou de algum lugar distante.

— O sangue dela está limpo. — Edythe disse baixinho. — Eu pude sentir o gosto da morfina.

— Bella? — Carine me chamou.

Eu tentei responder.

— Huh?

— O fogo foi embora?

— Sim. — Eu suspirei. — Obrigada, amor.

— Eu te amo. — Ela respondeu.

— Eu sei. — Respirei, cansada demais.

Eu ouvi o meu som favorito no mundo inteiro: a risada baixinha de Edythe, fraca de alivio.

— Bella? — Carine chamou de novo.

Eu fiz uma careta, eu queria dormir.

— O quê?

— Onde está a sua mãe?

— Flórida... — Suspirei. — Ela me enganou, Edythe. Ela assistiu aos nossos vídeos. — O ultraje na minha voz era uma entonação frágil de dor.

Mas isso me lembrou.

— Archie — tentei abrir meus olhos — Archie, o vídeo... conhecia você, Archie... sabe de onde você veio. — Eu tentei falar urgentemente, mas minha voz estava grogue. — Eu cheirei gasolina. — Acrescentei surpresa entre a neblina que havia no meu cérebro.

— É hora de mover ela. — Carine disse.

— Não, eu quero dormir. — Reclamei.

— Você pode dormir meu amor, eu vou carregar você. — Edythe me confortou.

E eu estava nos braços dela, embalada no peito dela, flutuando, toda a dor havia desaparecido.

— Durma agora, querida. — Foram suas últimas palavras que eu ouvi.

 

 

Meus olhos abriram para uma brilhante e branca luz. Eu estava em um quarto que não me era familiar, um quarto branco. A parede perto de mim estava coberta por longas venezianas verticais, acima da minha cabeça, as ofuscantes luzes me cegaram. Estava apoiada em uma dura e irregular cama, uma cama com grades. O travesseiro era liso e macio. Havia um irritante som de bip vindo de algum lugar. Eu tinha esperanças de que significasse que eu ainda estava viva.

Morte não devia ser tão desconfortável.

Minhas mãos estavam completamente deformadas com tubos claros, e alguma coisa estava amarrada cruzando meu rosto, embaixo do meu nariz. Eu levantei minha mão para tirar aquilo.

— Não, não faça isso. — E dedos frios alcançaram minha mão.

— Edythe? — Virei minha cabeça vagarosamente.

Seu delicado rosto estava apenas à uma polegada do meu, seu queixo apoiado na beira da minha cama. Eu percebi que eu estava viva, dessa vez com agradecimento e sublimidade.

— Edythe... Eu sinto muito!

— Shh — ela me silenciou — Ta tudo bem agora.

— O que aconteceu?

Eu não conseguia lembrar perfeitamente, e minha mente se rebelava contra mim enquanto eu tentava relembrar.

— Eu quase cheguei tarde demais. Eu podia ter chegado tarde demais. — Ela sussurrou sua voz atormentada.

— Eu fui estúpida, Edythe. — deixei meus ombros caírem — Eu achei que ela estava com minha mãe.

— Ela enganou a todos nós.

— Tenho que ligar para Charlie e para minha mãe. — Percebi.

— Archie ligou para eles. Renée está aqui no hospital. Ela está comendo alguma coisa nesse momento.

— Ela está aqui? — Tentei sentar, mas o giro da minha cabeça ficou mais rápido, e sua mão me empurrou gentilmente para o travesseiro.

— Ela vai voltar logo. — Ela prometeu. — E você tem que ficar tranquila.

— Mas o que você disse a ela? — Entrei em pânico.

Não queria ficar tranquila. Minha mãe estava lá e eu estava me recuperando do ataque de uma vampira que tinha uma estranha obsessão por mim.

— Porque você disse a ela que eu estou aqui?

— Você caiu por dois andares de uma escada e por uma janela. — Ela pausou. — Tem que admitir, isso podia ter acontecido.

Suspirei, e isso doeu. Eu olhei para baixo para meu corpo embaixo do lençol, para o grande bloco que era minha perna.

— O quão mal eu estou? — Perguntei.

— Você tem uma perna e quatro costelas quebradas, algumas fendas em seus ossos, machas roxas cobrindo cada polegada de seu corpo e perdeu um monte de sangue. Eles fizeram algumas transfusões em você. Eu não gostei disso, isso fez você cheirar completamente diferente por um tempo.

— Isso deve ter sido uma boa mudança pra você.

— Não, eu gosto de como você cheira.

— Como fez aquilo? — Perguntei calmamente. Ela soube o que eu quis dizer de primeira.

— Eu não tenho certeza.

Ela olhou pra longe dos meus olhos curiosos, levantando minha mão enfaixada da cama e segurando gentilmente com a dela, cuidadosa em não romper o fio que me conectava aos monitores.

Eu esperei pacientemente pelo resto. Ela continuou sem responder.

— Era impossível... Parar. — Ele sussurrou. — Impossível. Mas eu fiz. — Ela olhou pra cima finalmente, com um meio sorriso. — Ainda bem que te amo.

— Eu não tenho um gosto tão bom quanto o cheiro? — Sorri em resposta. Aquilo machucou meu rosto.

— Até melhor, melhor do que eu imaginava.

— Sinto muito. — Me desculpei.

Ela levantou seus olhos para o teto.

— De todas, se desculpa por isso...

— Pelo o que mais eu devia me desculpar?

— Por chegar muito perto de ficar pra longe de mim pra sempre.

— Sinto muito. — Me desculpei novamente.

— Eu sei por que você fez isso. — Sua voz era reconfortante. — Foi completamente absurdo, é claro. Você deveria ter me esperado, deveria ter me contado.

— Você não me deixaria ter ido.

— Não. — Ela concordou em um tom amargo. — Eu não deixaria.

Algumas memórias muito desagradáveis estavam começando a voltar para mim. Estremeci, e então recuei.

Ela estava instantaneamente inquieta.

— Bella, o que foi?

— O que aconteceu com... Victoria?

— Depois que eu a separei de você, Eleanor e Jessamine tomaram conta dela. — Havia uma feroz conotação de pesar em sua voz — Apesar de Archie ter visto vocês no estúdio de balé, ela te levou pra um lugar bem distante, algo como um esgoto. O lugar era um labirinto e ela tinha matado várias pessoas lá... Possivelmente para tentar encobrir seu cheiro de mim.

— Eu não vi Eleanor e Jessamine lá.

— Elas tiveram que sair... Tinha muito sangue.

— Mas você ficou.

— Sim, eu fiquei.

— E Archie, e Carine... — Falei curiosa.

— Elas também te amam.

Um flash de imagens dolorosas da última vez que eu tinha visto Archie me lembrou de uma coisa.

— Alice viu a fita? —Perguntei ansiosamente.

— Sim. — Um novo som obscureceu a voz dela, um tom de ódio.

— Ele sempre esteve no escuro, por isso não conseguia lembrar.

— Eu sei. Ele entende agora. — A voz dela estava uniforme, mas seu rosto estava negro de fúria.

Tentei alcançar o rosto dela com a minha mão livre, mas alguma coisa me parou. Eu olhei pra baixo pra ver o tubo puxando minha mão.

— Ugh. — Estremeci.

— O que foi? — Ela perguntou ansiosamente, distraída, mas não o suficiente.

A escuridão não abandonou os olhos dela completamente.

— Agulhas. — Expliquei, desviando o olhar daquela que estava na minha mão.

Eu me concentrei nos ladrilhos do teto e tentei respirar fundo mesmo com a dor nas minhas costelas.

— Medo de agulhas... — Ela murmurou pra si mesma por baixo do fôlego, balançando a cabeça — Oh, uma vampira sádica, tentando torturar ela até a morte, claro, sem problema, ela corre pra encontrá-la. Um tubo na mão, por outro lado...

Eu revirei meus olhos. Eu fiquei satisfeita de ver que pelo menos isso não doía. Eu decidi mudar de assunto.

— Porque você está aqui? — Perguntei.

Ela olhou pra mim, primeiro a confusão depois a dor tocou os olhos dela. As sobrancelhas dele ficaram juntas quando ela fez uma careta.

— Você quer que eu vá embora?

— Não! — Protestei, horrorizada pelo pensamento. — Não, eu quis dizer isso, porque minha mãe acha que você está aqui? Eu preciso me lembrar da história direitinho pra quando ela voltar.

— Oh. — Ela disse, e a testa dela se suavizou num mármore de novo. — Eu vim pra Phoenix pra colocar algum senso na sua cabeça, te convencer a voltar pra Forks. — Os olhos dela eram tão intensos e tão sinceros, que eu mesma quase acreditei nela — Você concordou em me ver e foi dirigindo até o hotel onde eu estava com Carine e Archie, é claro de que estava aqui com a supervisão da minha mãe, — ela inseriu virtuosamente — mas você tropeçou nas escadas á caminho do meu quarto e... Bem, você já sabe o resto. Porém, você não precisa se lembrar dos detalhes, tem uma desculpa muito boa pra não se lembrar dos detalhes mais importantes.

Eu pensei nisso por um momento.

— Tem algumas falhas nessa história. Como nenhuma janela quebrada.

— Na verdade não. — Ela disse. — Archie se divertiu um pouco demais fabricando as evidências. Tudo já foi cuidado de forma muito convincente, você poderia provavelmente até processar o hotel se você quisesse. Não tem nada com o que se preocupar. — Ela prometeu, alisando minha bochecha com o mais leve dos toques. — Seu único trabalho agora é sarar.

Eu não estava tão envolvida pelas dores ou pela névoa dos medicamentos pra não responder ao toque dela. O bipe do monitor pulou erraticamente, agora ela não era mais a única que podia ouvir o meu coração se comportando mal.

— Isso é tão vergonhoso. — Murmurei pra mim mesma.

Ela gargalhou, e um olhar especulativo apareceu nos olhos dela.

— Humm, eu imagino...

Ela se inclinou, o barulho do bipe acelerou selvagemente antes mesmo que seus lábios me tocassem. Mas quando me tocaram, mesmo que com a mais leve pressão, o bipe parou completamente.

Ela pulou pra trás abruptamente, sua expressão ansiosa se tornando de alívio enquanto o monitor reportava meu coração voltando a bater.

— Parece que eu vou ter que ser mais cuidadosa com você por um tempo. — Ela fez uma careta.

— Eu não terminei de beijar você. — Reclamei. — Não me faça ter que ir até aí.

Ela sorriu largamente, e se inclinou pra pressionar seus lábios gentilmente nos meus. O monitor ficou louco. Mas então seus lábios se esticaram. Ela se afastou.

— Eu acho que estou ouvindo sua mãe. — Ela disse, sorrindo largamente de novo.

— Não vai embora. — Chorei, uma sensação irracional de pânico passando por mim.

Não podia deixá-la ir, ela podia desaparecer de novo.

Ela leu o terror nos meus olhos por um breve segundo.

— Eu não vou. — Ela prometeu solenemente, e então sorriu. — Vou tirar uma soneca.

Ela saiu da cadeira de plástico ao meu lado e foi para um sofá de couro falso azul-turquesa reclinável que havia no pé da cama, e fechou seus olhos.

Ela ficou perfeitamente imóvel.

— Não se esqueça de respirar. — Sussurrei sarcasticamente.

Ela respirou fundo, os olhos ainda fechados.

Podia ouvir minha mãe agora. Ela estava falando com alguém, talvez uma enfermeira, parecia cansada e aborrecida. Eu queria pular da cama e correr pra ela, pra a acalmar, prometer que estava tudo bem. Mas eu não estava em forma pra pular, então eu esperei pacientemente.

A porta abriu um pouquinho, e ela observou pela abertura.

— Mãe! — Sussurrei minha voz cheia de amor e alívio.

Ela olhou para a figura imóvel de Edward no sofá reclinável, e foi na ponta dos pés até minha cama.

— Ela não vai embora nunca, não é? — Ela murmurou pra si mesma.

— Mãe, eu estou tão feliz de ver você!

Ela se inclinou pra me abraçar gentilmente, e eu senti lágrimas quentes rolando nas bochechas dela.

— Bella, eu estava tão preocupada!

— Me desculpe mãe. Mas vai ficar tudo bem agora, está tudo bem. — Eu a confortei.

— Estou feliz só por ver seus olhos abertos. — Ela sentou na borda da cama.

De repente eu me dei conta de que não sabia quando era.

— Por quanto tempo eu fiquei apagada?

— É sexta, querida, você esteve fora por algum tempo.

— Sexta? — Eu estava chocada.

Tentei me lembrar de que dia era quando... Mas eu não queria pensar nisso.

— Eles tiveram que te manter sedada por algum tempo, querida, você tem um monte de ferimentos.

— Eu sei.

Podia senti-los.

— Você teve sorte porque a Dra. Cullen estava lá. Ela é muito legal... Porém nova demais. E ela parece mais uma modelo do que uma médica...

— Você conheceu Carine?

— E o irmão de Edythe. Ele é um garoto adorável.

— Ele é. — Concordei sinceramente.

Ela olhou por cima do ombro para Edythe, que ainda estava com os olhos fechados no sofá.

— Você não me contou que tinha tão bons amigos em Forks.

Fiz uma careta e então gemi.

— O que dói? — Ela perguntou ansiosamente, se virando pra mim de novo.

Os olhos de Edythe vieram na minha direção.

— Eu estou bem. — Assegurei as duas. — Só tenho que me lembrar de não mexer.

Ela voltou á sua sonora soneca.

Eu usei a vantagem da distração pelo comentário da minha mãe pra evitar que assunto não fosse para o meu comportamento menos-cuidadoso.

— Onde está Phil? — Perguntei rapidamente.

— Flórida, oh, Bella! Você nunca vai adivinhar! Estamos prestes a ir embora, as melhores notícias!

— Phil conseguiu um contrato? — Adivinhei.

— Sim! Como você adivinhou? Com os Suns, dá pra acreditar?

— Isso é ótimo, mãe. — Disse com todo o entusiasmo que pude, apesar de sentir tontura só por estar falando.

— E você vai gostar tanto de Jacksonsville. — Ela esguichava enquanto eu olhava vagamente pra ela. — Fiquei um pouco preocupada quando Phil começou a falar de Akron, com toda aquela neve e tudo mais, porque você sabe que eu odeio o frio, mas Jacksonsville! É sempre ensolarado, e a umidade não é tão ruim assim. Nós achamos a casa mais fofa, amarela, com a ornamentação branca, e com uma entrada como a dos filmes antigos, um enorme carvalho, e é só a alguns minutos do oceano, e você terá seu próprio banheiro...

— Espera mãe. — Interrompi.

Edythe ainda estava com os olhos fechados, mas estava tensa demais pra fingir que estava adormecida.

— Do que é que você tá falando? Eu não vou para a Flórida. Eu moro em Forks.

— Mas você não tem que morar mais, sua boba. — Ela riu. — Phil vai conseguir ficar mais parado agora... Nós falamos muito sobre isso, e o que eu vou fazer é deixar de ir a alguns jogos, metade do tempo com ele, metade do tempo com você.

— Mãe... — hesitei, imaginando o melhor jeito de ser diplomática sobre isso. — Eu quero continuar em Forks. Eu já estou acostumada com a escola, tenho algumas amigas. — Ela olhou pra Edythe de novo quando eu falei das amigas, então eu tentei outra direção.

— Charlie precisa de mim. Ele fica sozinho lá, e ele não sabe cozinhar nem um pouco.

— Você quer ficar em Forks? — Ela perguntou desnorteada.

Essa era uma ideia inconcebível para ela. E então os olhos dela Foram parar em Edythe de novo.

— Por quê?

— Eu te disse, escola, Charlie, ai! — Levantei os ombros. Má ideia.

As mãos dela flutuaram por cima de mim sem poder fazer nada, tentando encontrar um lugar onde ela pudesse segurar em segurança. Ela encontrou minha testa, não havia bandagens lá.

— Bella, querida, você odeia Forks. — Ela me lembrou.

— Não é tão ruim assim.

Ela fez uma careta olhando pra frente e pra trás entre Edythe e eu, dessa vez muito deliberadamente.

— É essa garota? — Ela sussurrou

Abri minha boca para mentir, mas os olhos dela estavam me analisando, e eu sabia que ela veria além da mentira.

— Ela é... parte disso. — Admiti. Eu não precisava contar qual era o tamanho da parte. — Então, você teve uma chance de conversar com Edythe? — Perguntei.

— Sim. — Ela hesitou olhando para a sua forma perfeitamente imóvel. — E eu quero falar com você sobre isso.

Uh-oh.

— Sobre o que? — Perguntei.

— Eu acho que essa garota está gostando de você. — Ela acusou, mantendo a voz baixa.

— Eu também acho que sim.

— E como você se sente em relação a ela? — Ela escondeu muito mal a curiosidade na voz dela.

Suspirei, desviando o olhar. Não importava o quanto eu amasse minha mãe, essa não era uma conversa que eu queria ter com ela.

— Eu estou louca por ela.

Aí, isso parece com algo que uma adolescente diria sobre o primeiro namorado dela.

— Bem, ela parece muito legal, e, minha nossa, ela é incrivelmente linda, mas você é tão jovem, Bella... — A voz dela estava incerta, até onde eu podia lembrar essa era a primeira vez desde que eu tinha oito anos que eu ouvi alguma coisa aproximada de autoridade materna.

Eu reconheci aquele tom razoável, mas firme que nós tínhamos nas nossas conversas sobre homens.

— Eu sei, mãe. Não se preocupe. É só uma paixonite. — A acalmei.

— Isso mesmo. — Ela concordou facilmente agradada.

Então ela suspirou e deu uma olhada cheia de culpa para o grande relógio redondo na parede.

— Você precisa ir?

Ela mordeu o lábio.

— Phil deve ligar em pouco tempo... Eu não sabia quando você acordaria...

— Sem problemas, mãe. — Tentei não mostrar muito o alívio pra que ela se sentisse um pouco culpada. — Eu não vou ficar sozinha.

— Eu volto logo. Eu estive dormindo aqui, sabe. — Ela anunciou, orgulhosa de si mesma.

— Oh, mãe, você não precisava fazer isso! Podia ter dormido em casa, eu nunca iria reparar.

A onda de medicamentos pra dor fazia a minha concentração difícil mesmo agora, apesar de, aparentemente, eu ter ficado dormindo durante dias.

— Eu estava nervosa demais. — Ela admitiu timidamente. — Aconteceu um crime no bairro, e eu não gosto de ficar lá sozinha.

— Crime? — Perguntei alarmada.

— Alguém invadiu aquele estúdio de dança na esquina da nossa casa e tocou fogo nele, não sobrou nada! Eles deixaram um carro roubado lá na frente. Você lembra de quando eu dava aulas de dança lá, querida?

— Eu me lembro. — Me arrepiei e estremeci.

— Eu posso ficar, bebê, se você precisar de mim.

— Não, mãe, eu vou ficar bem. Edythe vai ficar comigo.

Pareceu que esse era o motivo pelo qual ela queria ficar.

— Eu vou voltar à noite. — Isso pareceu tanto um aviso quanto uma promessa, e ela olhou para Edythe de novo quando disse isso.

— Eu te amo, mãe.

— Eu te amo também, Bella. Tente ser mais cuidadosa quando anda, querida. Eu não quero perder você.

Os olhos de Edythe continuaram fechados, mas um sorriso largo apareceu no rosto dele.

Uma enfermeira invadiu o quarto nessa hora pra checar meus tubos e fios. Minha mãe beijou minha testa, deu uma tapinha na minha mão com o curativo e foi embora.

A enfermeira estava checando o papel da minha avaliação e o monitor do meu coração.

— Você está se sentindo ansiosa, querida? O seu coração está parecendo um pouco rápido aqui.

— Eu estou bem. — Assegurei a ela.

— Eu vou dizer á medica que está cuidando de você que está acordada. Ela vai vir te ver em um minuto.

Assim que ela fechou a porta, Edythe estava ao meu lado.

— Você roubou um carro? — Ergui minhas sobrancelhas.

Ela sorriu, sem arrependimento.

— Era um bom carro, muito rápido.

— Como foi a sua soneca? — Perguntei.

— Interessante. — Os olhos dela estreitaram.

— O que?

Ela olhou pra baixo enquanto falava.

— Eu estou surpresa. Eu pensei que a Flórida... E a sua mãe... Bem, eu pensei que isso era tudo o que você podia querer.

Eu olhei pra ela sem compreender.

— Mas você ficaria presa o dia inteiro em casa na Flórida. E só poderia sair durante a noite, como uma vampira igual aos filmes do Drácula.

Ela quase sorriu, mas não exatamente. E o rosto dela estava grave.

— Eu ficaria em Forks, Bella. Ou algum lugar assim. — Ela explicou. — Algum lugar onde eu não te machucasse mais.

No início eu não me toquei. Continuei a olhar pra ela com o olhar vazio enquanto as palavras se encaixavam uma a uma na minha cabeça como um horrível quebra-cabeça. Mal tinha consciência do som do meu coração acelerando, apesar de que, a minha respiração que estava hiperventilando, me deixou consciente da dor aguda das minhas costelas protestando.

Ela não disse nada, observou meu rosto cautelosamente enquanto uma dor que não tinha nada a ver com meus ossos quebrados, um dor que era muito pior, ameaçava me deixar aos pedaços.

E então outra enfermeira entrou propositalmente no quarto. Edythe estava rígida como uma pedra enquanto ela olhava pra mim, primeiro com um olho treinado e depois para o monitor.

— Está na hora dos remédios pra dor agora, querida? — Ela perguntou carinhosamente, dando tapinhas no tubo de entrada.

— Não, não. — Murmurei, tentando esconder a agonia que havia na minha voz. — Eu não preciso de nada agora. — Eu não podia me dar ao luxo de fechar os olhos agora.

— Não precisa ser corajosa, querida. É melhor se você não se estressar, você deve descansar.

Ela esperou, mas eu só balancei minha cabeça.

— Ok. — Ela suspirou. — Aperte o botão quando estiver pronta.

Ela deu uma olhada pra Edythe e depois deu outra olhada ansiosa pra o monitor, antes de ir.

As mãos frias dela estavam no meu rosto, eu olhei pra ela com os olhos bem abertos.

— Shh, Bella, acalme-se.

— Não me deixe. — Implorei com uma voz quebrada.

— Eu não vou. — Ela prometeu. — Agora relaxe antes que eu chame a enfermeira pra te sedar.

Mas meu coração não conseguia se aquietar.

— Bella. — Ela acariciou meu rosto ansiosamente. — Eu não vou a lugar nenhum. Eu vou ficar aqui até quando você precisar de mim.

— Você promete que não vai me deixar? — Sussurrei.

Tentei controlar a minha respiração, pelo menos. Minhas costelas estavam reclamando.

O cheiro do hálito dela era um calmante. Pareceu diminuir as dores da minha respiração. Ela continuou segurando o meu olhar enquanto meu corpo relaxava lentamente e o bipe voltava ao ritmo normal. Os olhos dela estavam escuros, mais próximos do preto do que do dourado hoje.

— Melhor? — Ela perguntou.

— Sim. — Disse cautelosamente.

Ela balançou a cabeça e murmurou alguma coisa impossível de entender. Eu achei ter entendido a palavra “reação”.

— Porque você disse isso? — Sussurrei, tentando evitar que a minha voz tremesse. — Você se cansou de ter que ficar me salvando o tempo inteiro? Quer que eu vá embora?

— Não, eu não quero ficar sem você, Bella, é claro que não. Seja racional. E eu também não tenho problema nenhum em salvar você, isso se não fosse pelo fato de que sou eu que está te colocando em risco... Que eu sou a razão pela qual você está aqui.

— Sim, você é a razão, — eu fiz uma careta — a razão pela qual eu estou aqui, viva.

— Por pouco... — A voz dela era um sussurro. — Coberta de gaze e de gesso, quase impossibilitada de se mexer.

— Eu não estava me referindo a mais recente experiência de quase morte. — Disse rugindo, irritada. — Eu estava falando das outras, você pode escolher uma. Se não fosse por você eu estaria dando um passeio pelo cemitério de Forks.

Ela estremeceu com as minhas palavras, mas o olhar de culpa não deixou os olhos dela.

— No entanto, essa não é a pior parte. — Ela continuou a sussurrar.

Ela agia como se eu não tivesse falado.

— Não ver você lá no chão... Amassada e quebrada. — A voz dela estava chocada. — Não foi pensar que eu estava atrasada. Nem mesmo ouvir você gritando de dor, todas essas memórias insuportáveis que eu vou carregar comigo por toda a eternidade. Não, a pior parte foi sentir... Saber que eu não podia parar. Acreditar que eu ia mesmo matar você.

— Mas você não matou.

— Mas eu podia. Tão facilmente.

Eu precisava ficar calma... Mas ela estava tentando se convencer a me deixar, e o pânico fluía nos meus pulmões, tentando sair.

— Me prometa. — Sussurrei.

— O que?

— Você sabe o que. — Estava começando a ficar com raiva agora.

Ela estava tão teimosamente determinada a continuar na negativa. Ela ouviu a mudança na minha voz, seus olhos se estreitaram.

— Eu não pareço ser forte o suficiente pra ficar longe de você, então acho que isso não vai acontecer... Quer isso mate você ou não. — Ela acrescentou duramente.

— Bom.

Ela, porém, não prometeu um fato que eu não deixei passar.

O pânico só estava meio controlado, eu não tinha mais controle para segurar a raiva.

— Você me disse como parou... Agora eu quero saber o porquê.

— Por quê? — Ela perguntou cautelosamente.

— Porque você fez isso? Porque você não deixou o veneno se espalhar? A essas horas eu seria como você.

Os olhos de Edythe pareceram ficar completamente negros, e eu me lembrei que isso era uma coisa que ela nunca quis que eu soubesse. Archie deve ter estado preocupado com as coisas que descobriu sobre si mesmo... Ou então foi muito cuidadoso com os pensamentos dele perto dela, claramente ela não sabia que ele tinha me enchido com todas as conversas sobre os mecanismos dos vampiros.

Ela estava surpresa, e furiosa.

As narinas dela inflaram e a boca dela parecia ter sido esculpida numa pedra.

Ela não ia responder isso estava claro.

— Eu serei a primeira a admitir que não tenho nenhuma experiência com relacionamentos... saudáveis... — Disse. — Mas me parece lógico... As duas pessoas tem que ser parecidos em algo... Como, uma delas não pode sempre estar sendo abatida e a outra salvanda. Elas têm que salvar uma a outra igualmente.

Ela dobrou os braços do lado da minha cama e descansou o queixo nos braços. Sua expressão era suave, a raiva havia abrandado. Evidentemente ela havia decidido que não estava com raiva de mim. Esperava ter uma chance de avisar Archie antes que ela se encontrasse com ele.

— Você me salvou. — Ela disse baixinho.

— Eu não posso ser Lois Lane. — Insisti. — Eu quero ser o Superman.

— Você não sabe o que está pedindo. — A voz dela era suave, ela olhava intencionalmente para a pontinha do travesseiro.

— Eu acho que sei.

— Bella, eu não sei. Eu já tive quase noventa anos pra pensar nisso e ainda não tenho certeza.

— Você queria que Carine não tivesse salvado você?

— Não, eu não desejo isso. — Ela parou antes de continuar. — Mas a minha vida estava acabada. Eu não estava desistindo de nada.

— Você é a minha vida. Você é a única coisa que eu me incomodaria em perder. — Eu estava ficando melhor nisso.

Era muito mais fácil admitir o quanto eu precisava dela.

No entanto, ela estava muito calma. Decidida.

— Eu não posso fazer isso, Bella. Eu não vou fazer isso com você.

— Porque não? — Minha garganta arranhou e as palavras não saíram tão altas como eu havia planejado. — Não me diga que é muito difícil! Depois de hoje, ou eu acho alguns dias atrás... De qualquer forma, depois daquilo, isso não devia ser nada.

Ela olhou pra mim.

— E a dor? — Ela perguntou.

Eu embranqueci. Não pude evitar. Mas eu tentei evitar que a minha expressão mostrasse que eu lembrava da dor... Do fogo nas minhas veias.

— Isso é problema meu. — Disse. — Eu posso aguentar.

— É impossível aguentar a coragem a partir do momento que ela se transforma em loucura.

— Isso não é problema. Três dias. Grande coisa.

Edythe fez outra careta quando as minhas palavras relembraram ela de que eu estava mais bem informada do que deveria estar. Eu observei ela reprimir, observei os olhos dela ficarem especulativos.

— Charlie? — Ela perguntou curtamente. — Renée?

Os minutos se passaram em silêncio enquanto eu lutava pra responder a pergunta dela. Eu abri a minha boca, mas nenhum som saiu dela. Eu a fechei de novo.

Ela esperou, e a sua expressão se tornou triunfante porque ela sabia que eu não tinha nenhuma resposta de verdade.

— Olha, isso também não é nenhum problema. — Finalmente murmurei, minha voz não estava convincente, como sempre quando eu mentia — Renée sempre fez as escolhas que funcionavam pra ela, e ela sempre quis que eu fizesse o mesmo. E a alegria de Charlie, ele está acostumado a ficar sozinho. Eu não posso tomar conta dele pra sempre. Eu tenho a minha própria vida pra viver.

— Exatamente. — Ela cortou. — E eu não vou acabar com ela pra você.

— Se você está esperando pra ficar comigo no meu leito de morte, eu tenho notícias pra você! Eu estarei lá!

— Você vai se recuperar. — Ela me lembrou.

Eu respirei fundo pra me acalmar, ignorando o espasmo de dor que isso causava. A encarei, el me encarou de volta. Não havia compromisso no rosto dela.

— Não, — disse lentamente — eu não vou.

A testa dela se enrugou.

— É claro que vai. Você pode ficar com uma cicatriz ou duas...

— Você está errada... — Insisti. — Eu vou morrer.

— Sério Bella. — Ela estava ansiosa agora. — Você vai sair daqui em alguns dias. Duas semanas no máximo.

Eu olhei pra ela.

— Eu posso não morrer agora... Mas eu vou morrer alguma hora. A cada minuto do dia, eu chego mais perto. Eu vou ficar velha.

Ela fez uma careta quando se tocou do que eu estava falando, pressionando seus longos dedos nas têmporas e fechando os olhos.

— Isso é o que supostamente acontece. É assim que deve acontecer. Aconteceria se eu não existisse, e eu não deveria existir.

Eu bufei. Ela abriu os olhos surpresa.

— Isso é estúpido. Isso é como alguém que acabou de ganhar na loteria, pegando o dinheiro, e dizendo, “Olha, vamos voltar a ser como as coisas deviam ser. É melhor assim”. Eu não vou aceitar isso.

— Eu não sou bem um prêmio de loteria. — Ela rugiu.

— Isso mesmo. Você é muito melhor.

Ela rolou os olhos e ajeitou os lábios.

— Bella, nós não vamos mais continuar com essa discussão. Eu me recuso a te amaldiçoar a noite eterna e esse é o fim.

— Se você acha que acaba aqui, não me conhece muito bem. — O avisei. — Você não é a única vampira que eu conheço.

Os olhos dela ficaram pretos de novo.

— Archie não ousaria.

E por um momento ela pareceu tão assustador que eu não pude deixar de acreditar. Não podia imaginar uma pessoa corajosa o suficiente pra passar por cima dela.

— Archie já viu isso, não foi? — Adivinhei. — É por isso que as coisas que ele fala aborrecem você. Ele sabe que eu serei como vocês... Um dia.

— Ele está errado. Ele também viu você morta. Nunca apostaria contra Archie.

Nós olhamos uma para a outra por um longo tempo. Estava silencioso, exceto pelo barulho das máquinas, o bipe, as gotas, o tique do grande relógio na parede. Finalmente a expressão dela se suavizou.

— Então onde isso nos deixa? — Imaginei.

Ela gargalhou sem humor.

— Eu acredito que se chama impasse.

Eu suspirei.

— Oh— Murmurei.

— Como você está se sentindo? — Olhando para o botão da enfermeira.

— Eu estou bem. — Menti.

— Eu não acredito em você. — Ela disse gentilmente.

— Eu não vou voltar a dormir.

— Você precisa descansar. Toda essa discussão não faz bem a você.

— Então desista. — Provoquei.

— Boa tentativa. — Ela alcançou o botão.

— Não!

Ela me ignorou.

— Sim? — O comunicador na parede respondeu.

— Eu acho que estamos prontas para mais remédios para a dor. — Ela disse calmamente, ignorando minha expressão furiosa.

— Eu vou mandar a enfermeira. — A voz parecia muito entediada.

— Eu não vou tomar. — Prometi.

Ela olhou na direção do saco de fluídos pendurado do lado da minha cama.

— Eu acho que eles não vão te pedir pra engolir nada.

O meu coração começou a bater forte. Ela viu o medo nos meus olhos e suspirou frustrada.

— Bella, você está sentindo dor. Precisa relaxar pra se curar. Porque você está sendo tão difícil? Eles não vão mais colocar agulhas em você.

— Eu não estou com medo das agulhas. — Murmurei. — Eu estou com medo de fechar meus olhos.

Então ela sorriu o seu sorriso torto, e pegou meu rosto entre as mãos dela.

— Eu disse que não vou pra lugar nenhum. Não tenha medo. Enquanto isso te fizer feliz, eu vou ficar aqui.

Eu sorri de volta, ignorando a dor nas minhas bochechas.

— Você está falando de pra sempre, sabe.

— Oh, você vai superar isso, é só uma paixonite.

Eu balancei minha cabeça sem acreditar, isso me deixou tonta.

— Eu fiquei chocada quando Renée comprou essa. Eu sei que você sabe mais que isso.

— Isso é a beleza de ser humano. — Ela me disse. — As coisas mudam.

Meus olhos reviraram.

— Não segure o fôlego.

Ela estava sorrindo quando a enfermeira entrou, segurando uma seringa.

— Com licença. — Ela disse bruscamente pra Edythe.

Ela se levantou e cruzou o pequeno quarto, se encostando a parede.

Cruzou os braços e esperou. Eu mantive meus olhos nela, ainda apreensiva. Ela encontrou meus olhos calmamente.

— Aí está, meu bem. — A enfermeira sorriu enquanto injetava o medicamento no tubo. — Você vai se sentir melhor agora.

— Obrigada. — Murmurei, sem entusiasmo.

Não demorou muito. Eu pude sentir a sonolência invadir minha corrente sanguínea quase imediatamente.

— Acho que isso será suficiente. — Ela disse enquanto minhas pálpebras se fechavam.

Ela deve ter deixado o quarto, porque alguma coisa suave e gelada estava tocando o meu rosto.

— Fique. — A palavra saiu mal articulada.

— Eu fico. — Ela prometeu. A voz dela era linda, como uma canção de ninar.

— Como eu já disse, enquanto isso te fizer feliz... Enquanto isso for o melhor pra você.

Eu tentei balançar a minha cabeça, mas ela estava pesada demais.

— Não é a mesma coisa. — Murmurei.

Ela riu.

— Não se preocupe com isso agora, Bella. Você pode discutir comigo quando acordar.

Eu acho que sorri.

— Tá.

Pude sentir os lábios dela no meu ouvido.

— Eu te amo. — Ela sussurrou.

— Eu também.

— Eu sei. — Ela sorriu baixinho.

Virei minha cabeça levemente... Procurando. Ela sabia o que eu estava procurando. Seus lábios tocaram o meus gentilmente.

— Obrigada. — Suspirei.

— Á disposição.

Eu já não estava mais completamente lá. Mas eu lutei contra o torpor lentamente. Havia só mais uma coisa que eu queria dizer pra ela.

— Edythe? — Lutei pra pronunciar o nome dela claramente.

— Sim?

— Eu aposto em Archie. — Murmurei.


Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...