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História Golpe Baixo - O garoto chamado inverno


Escrita por: YOUGOT7JAMS

Notas do Autor


OLÁAAAAAA ♡
Peço desculpas por não estar conseguindo responder os comentários de vocês :(
Minhas aulas voltaram e eu tô muito atrapalhada com o TCC + processo seletivo de estágio + mil trabalhos da faculdade (e mal começou, vejam bem...)
Estou tentando dar prioridade à escrita pra que eu possa estar atualizando toda semana, então me desejem força!
E A FANFIC CHEGOU EM 2 MIL FAVORITOS, EU TO AAAAAAAAAAAUHASLDHASKDJHSAKJDSKJDHJSKDHSAJKDGSKJDGHKJSDGHS GRITANDO TANTO QUE VOU ACORDAR ATÉ RAMSÉS III DA TUMBA. OBRIGADA DE VERDADE, GENTE! ♡

Sebaekas, esse capítulo é pra vocês
Boa leitura! :)

Capítulo 17 - O garoto chamado inverno


Fanfic / Fanfiction Golpe Baixo - O garoto chamado inverno

Na aula de química daquela semana, Kyungsoo descobriu que cloreto de potássio e balas de gelatina não eram uma boa combinação.

Um dos olhos felinos de Minseok aparecia e desaparecia por trás de uma lente enquanto ele inspecionava três amostras de diferentes substâncias em cima do balcão. O horário parecia passar irritantemente devagar antes do intervalo, principalmente quando os ponteiros do relógio acima do quadro branco faziam tanto barulho. Como se isso não bastasse, alguns alunos armados de canetas esferográficas e nenhum bom senso se divertiam transformando quatro béqueres de tamanhos distintos em instrumentos musicais.

Ele olhou discretamente para alguns membros do coral da escola, sentados na bancada à direita deles. Kyungsoo quase podia ver seus dedos tremerem de ansiedade, loucos para transformar aquilo em alguma cena cantada de High School Musical.

Não era nem de longe uma das aulas mais empolgantes e dinâmicas, mas ainda assim era melhor do que ser o principal alvo no jogo de queimada da educação física. E também menos humilhante do que ter todas as cabeças voltadas em sua direção toda vez que mencionavam AIDS na aula de educação sexual. E, cá entre nós, era melhor ver materiais biológicos no microscópio do que aguentar um bando de machos escrotos que não conseguem colocar camisinha em uma banana sem fazer piadas ou soltar risadinhas.

Mas, daquela vez, ele sabia que a aula de química estava prestes a se tornar um pouco mais divertida.

O destino era bom com Kyungsoo. Ele teve a sorte de sentir seu celular vibrar e se inclinar para espiar a mensagem por baixo da bancada, a distração livrando-o da visão perturbadora de um dos alunos tirando cera do ouvido para usar como material para análise.

 

Quarterback nem-tão-idiota-assim:

Quarterback chamando Garoto da Trompa

Como vão as coisas aí no laboratório?

Câmbio

 

Kyungsoo:

Você tem mesmo que agir como se fosse Missão Impossível?

Tudo de acordo com o plano por enquanto, Quarterback

Câmbio

 

Quarterback nem-tão-idiota-assim:

Banheiro perto da enfermaria em dez minutos

 

Kyungsoo:

Isso também faz parte do plano?

 

Quarterback nem-tão-idiota-assim:

Faz parte do meu plano de beijar você escondido durante o intervalo

 

Ele riu para o celular e digitou uma resposta rápida, antes de guardá-lo no bolso novamente.

 

Kyungsoo:

Vai sonhando, quarterback

 

Seguindo conforme o planejado, Kyungsoo acabou enfiando a cara em seu caderno, procurando em suas anotações de química alguma coisa que pudesse causar uma grande confusão. Ou, no mínimo, desviar a atenção dos alunos e do professor enquanto ele pegava o celular na mochila de Kris.

Ele preferia ler sobre oxidação do que ver Yifan, Yixing e Sehun analisarem a amostra do próprio cuspe na bancada da frente.

— Você ainda tem aquelas balas de gelatina? — ele perguntou a Minseok, que agora escrevia um relatório sobre a observação de uma maionese e a classificava em sua listagem como coloide, muito concentrado na aula. O garoto olhou para o amigo através dos óculos de proteção, assentindo com a cabeça. — Pode me emprestar?

— Claro. O que você vai fazer?

— Vou colocar no tubo de ensaio com cloreto de potássio.

— Mas cloreto de potássio é uma substância oxidante… — Minseok começou, preocupado. — E o açúcar é facilmente oxidável.

— Sim, e isso vai provocar uma reação de oxidação bem legal — ele respondeu, antes que o amigo pudesse terminar o próprio raciocínio. Kyungsoo olhou para o balcão perto da porta, onde havia alguns vidros com insetos mortos, de repente tomado por mais uma ideia. — Lembra de quando você ameaçava colocar formigas, besouros e gafanhotos na mochila das pessoas? Acho que agora é uma boa hora.

Minseok pareceu finalmente compreender onde ele queria chegar.

Os dois olharam para Kris, que ria de alguma piada que Yixing havia contado.

O amigo puxou e esticou as luvas, como um especialista, e depois fuçou em sua mochila à procura do doce.

— Acho que você vai precisar do pacote inteiro, então. — Ele sorriu. — E um tubo bem maior.

Os dois colocaram máscaras e ajeitaram os óculos de proteção, antes de finalmente colocar as mãos na massa. E apenas alguns mililitros de cloreto de potássio e uma dúzia de ursos de gelatina sabor morango depois, eles se afastaram, observando enquanto o ruído provocado pela reação preenchia o laboratório e o tubo de ensaio cintilava com uma cor avermelhada, soltando uma fumaça densa pela sala.

Quando o barulho começou, Kyungsoo e Minseok se esconderam debaixo da bancada enquanto todos os alunos corriam em direção à saída. O Sr. Hwan cobria a boca e o nariz com o tecido do jaleco, fazendo um gesto com o braço livre para que os jovens deixassem o laboratório.

— Saiam todos! Saiam todos! — o professor repetia, guiando-os para fora.

Kyungsoo começou a agir assim que a porta se fechou. Ele correu até a mochila de Yifan, jogada no chão perto da cadeira onde o rapaz estava sentado. Enquanto isso, Minseok ia na direção oposta, apanhando os potes de vidro com animais mortos e selecionando os insetos que pareciam mais nojentos.

— O celular, o celular… — o baixinho murmurava para si mesmo, vasculhando todos os bolsos. Não era permitido usar o celular durante as aulas, então ele deveria estar ali em algum lugar.

Ele o encontrou no fundo da mochila, escondido entre um caderno (era uma enorme surpresa que Wu Yifan realmente tivesse um caderno) e um casaco amarrotado.

Como o universo nem sempre parecia estar a favor dele, Kyungsoo percebeu que a reação química já havia se dissipado no tubo, e o professor estava voltando a passos ligeiros pelo corredor, provavelmente para checar o que havia acontecido. Se não quisessem ser pegos ali, a única opção seria pular a janela do outro lado. Mas como fazer isso sem fazer barulho ou serem percebidos?

Ele chamou o amigo com um gesto, agitando o celular de Kris no ar.

Minseok já estava com alguns insetos mortos nas mãos, esperando pelo sinal. Assim que Kyungsoo se afastou para abrir a janela dos fundos, o garoto despejou os bichos dentro da mochila e fechou o zíper o mais rápido que pôde. Ele nem mesmo teve chance de se livrar das luvas sujas e fedidas antes de se reunirem em cima da janela ampla, dividindo o espaço do parapeito.

Kyungsoo olhou para o amigo, respirando com dificuldade. Ele sentia como se tivesse corrido uma maratona. Sentir que estavam prestes a serem pegos no flagra não era nem um pouco emocionante.

Ele olhou para o relógio.

— Ok, cinco segundos até o sinal tocar.

Os passos estavam cada vez mais perto agora.

— Três — eles contaram juntos, sussurrando.

— Dois.

A maçaneta girou na porta.

— Um.

Eles se prepararam para pular ao mesmo tempo em que a porta se abria.

O sinal tocou, alto e estrondoso, anunciando o início do recreio.

E Minseok e Kyungsoo agora corriam pelos fundos do colégio, gargalhando e com os cabelos soprados ao vento, deixando o laboratório para trás.

A primeira parte do plano estava completa.

 

 

Jongin estava a bagunça de sempre.

Os fios castanhos-claros desarrumados, o uniforme ligeiramente amassado e a gravata pendendo frouxa do seu pescoço, daquele jeito que fazia os professores e inspetores arrancarem os cabelos e pedirem por chá de camomila na cantina.

Ele nunca se importou muito em parecer bonito para alguém. Daquela vez, no entanto, enquanto esperava por Kyungsoo no banheiro perto da enfermaria, ele se olhou no espelho algumas vezes só para ajeitar a franja — e também para casualmente desfazer o primeiro botão da camisa do uniforme, só para que sua clavícula ainda bronzeada do acampamento pudesse ficar à mostra.

O atleta pegou o celular para olhar as horas, só para constatar que ele estava atrasado. Se ele não conhecesse Kyungsoo, diria que ele estava falando sério quando enviou a última mensagem. Por alguns segundos de pânico, Jongin pensou na probabilidade do garoto ter realmente furado com ele. Para se distrair, ele abriu a conversa que teve na noite anterior com Joy pelo KakaoTalk, sorrindo de alívio ao ver que a amiga parecia estar lidando bem com o que acontecera, mesmo que tivesse faltado às aulas nos últimos dias.

Ao que tudo indicava, a escola inteira estava ao lado dela naquela história toda. Jihyo já era conhecida por ser a típica líder de torcida cruel e mimada que os adolescentes costumam ver em filmes clichês, então fora apenas uma questão de tempo até todos estarem comemorando a queda de uma das populares e apoiando o namoro de Joy e Sungjae. Metaforicamente falando, ela não teve a sorte de ser atropelada por um ônibus, como Regina George em Meninas Malvadas. E Wendy também tinha dado um pequeno empurrãozinho ao escrever uma coluna no jornal sobre “Jihyo e seus amantes obedientes”, incluindo Wu Yifan.

Ele leu as duas últimas mensagens.

“Se cuida, Division”

“Pode deixar, quarterback”

E assim que deixou o celular de lado, a porta do banheiro se abriu, revelando a pessoa por quem ele estava esperando.

— E aí — Jongin cumprimentou, fechando a porta atrás do baixinho. — Você conseguiu?

O garoto estava ofegante e respirando pela boca entreaberta, os lábios cheios roubando toda e qualquer atenção de Jongin. Ele se agarrou ao restinho de bom senso que ainda lhe restava e tentou se concentrar no plano.

— Consegui! — o garoto comemorou, erguendo orgulhosamente o celular de Yifan.

E quando ele o guardou no bolso, o rapaz seguiu seu movimento com os olhos, sentindo-se de repente muito sortudo. Jongin chegou à conclusão de que Kyungsoo deveria usar calças apertadas mais vezes. Ele ficava bem nelas. E, assim, após quase dois segundos de interminável reflexão, ele decidiu mandar o tal do bom senso para as cucuias.

Eles sorriram um para o outro antes de Jongin puxá-lo pela gravata, beijando seu sorriso de modo desajeitado. Os estalos baixinhos de cada beijo eram interrompidos pela risada de Kyungsoo, que o atleta abafava com selinhos demorados enquanto eles cambaleavam juntos para trás. Ele o empurrou de leve, encostando seu corpo contra a parede e fazendo seus tênis All Star provocarem um ruído agudo irritante no piso.

— Você está atrasado — o atleta reprovou, estalando a língua.

Kyungsoo riu de novo e jogou a cabeça para trás, apoiando-a nos azulejos gelados da parede.

— Desculpa a demora. Minha intenção era nem ter vindo.

Mentiroso — Jongin replicou com outro sorriso, e depois o beijou outra vez.

Ele afrouxou sua gravata para deixar uma trilha de beijos pelo seu pescoço. Ouviu Kyungsoo suspirar por antecipação quando sua respiração soprou ali, suave e morna, antes de finalmente dedicar um tempo para adorar cada centímetro da pele macia. Era bom ter os dedos dele puxando seu cabelo com um pouco mais de força sempre que ele o repreendia, com medo que o quarterback pudesse deixar marcas. E também da outra mão em sua nuca, que pressionava e descontava ali a sensação de cada arrepio.

Após uma sessão de beijos lentos na pele sensível abaixo da orelha, Jongin quase estufou o peito de orgulho quando sentiu algo rígido contra a sua coxa, mas seus poucos segundos de vaidade desvaneceram no ar assim que ele percebeu que, ops, aquilo não era uma ereção, e sim o celular de Kris no bolso dianteiro da calça de Kyungsoo.

Depois de dias se vendo às escondidas pelo colégio, eles já estavam familiarizados um com o outro. Aos lábios que se encaixavam com perfeição, às mãos que sabiam exatamente onde segurar e apertar, agora sem medo ou hesitação. E até mesmo à temperatura dos corpos. Quando Jongin fechava os olhos, ele conseguia imaginar tudo perfeitamente.

Sem querer, ele havia decorado cada detalhe de Kyungsoo.

E Do Kyungsoo, aquele baixinho travesso, era mais fácil de decifrar do que parecia. Ele gostava de beijos no pescoço, de sentir a pressão nos quadris e de ter as mãos de Jongin enfiadas nos bolsos traseiros da sua calça (embora provavelmente nunca fosse admitir nenhuma dessas coisas). Ele também desconfiava que o garoto se amarrava em uma mão na coxa de vez em quando.

— Não acha que é um pouco divertido? — Jongin sussurrou, murmurando cada uma das palavras com os lábios ainda encostados em seu pescoço. — A gente se pegando assim, escondido.

Kyungsoo continuou fazendo carinho no cabelo dele.

— Não estamos nos pegando escondido. A gente só tá... Se beijando de modo descompromissado de vez em quando sem ninguém saber.

O quarterback riu, arrancando outro arrepio do garoto.

— Em outras palavras, a gente tá se pegando escondido.

— Eu odeio você.

Jongin parou com os beijos e ergueu o rosto, a tempo de ver o baixinho revirar os olhos e reprimir um sorriso. Agora, sempre que ele tentava ofendê-lo ou dizer que o odiava, as frases escapavam em um tom de divertimento, quase contra a sua vontade.

— Pra ser sincero, eu meio que tô gostando dessa vida dupla — confessou o atleta. — As pessoas provavelmente ainda acham que a gente se odeia.

— Você fala como se fosse um estudante de dia e um agente do FBI de noite.

— Sou o Jongin que odeia o Kyungsoo de dia e o Jongin que beija o Kyungsoo no final das aulas... — ele murmurou, deixando um beijo rápido e estalado em seus lábios. — Eu gosto de como isso soa.

Ele balançou a cabeça e sorriu.

— Cala a boca.

— Ninguém cala a minha boca melhor do que você.

O baixinho detestava suas cantadas bregas — embora, no fundo, ele suspeitasse que Kyungsoo até gostava. Antes que ele pudesse reclamar, Jongin segurou em sua cintura para afastá-lo levemente da parede, só para escorregar as mãos até os bolsos traseiros da sua calça. O moreno sabia que tinha ganhado pontos com ele quando o garoto imediatamente fechou os olhos, inclinando a cabeça para tomar a iniciativa de beijá-lo.

— Podemos, por favor, voltar para os seus beijos no meu pescoço agora? — ele sussurrou, abrindo os olhos pouco depois de se afastar, ainda inebriado.

Jongin riu.

— Você anda tão exigente. Eu gosto quando você age desse jeito mandão.

E depois se inclinou de novo, dando um passo à frente para que seus peitos se encostassem. Antes que pudesse aprofundar o beijo, porém, a porta do banheiro se abriu de repente. E os dois simplesmente foram flagrados naquela posição mais do que suspeita: os corpos colados, as costas de Kyungsoo apoiadas na parede e com as mãos de Jongin na sua bunda.

O garoto recém-chegado parecia prestes a ter um colapso.

— Meus olhos! — Minseok gritou, dramático e exagerado como sempre. — Meus olhos estão sangrando!

— Obrigada por ser tão compreensivo — Kyungsoo brincou.

Depois de segundos de fingimento e dramatização, o garoto tirou as mãos que cobriam os olhos e se recuperou do falso choque.

— Não, eu é que agradeço — o amigo respondeu, no mesmo tom de sarcasmo. — Você faz ideia do quanto eu sempre quis interpretar uma cena de Friends na vida real? Eu me senti a própria Phoebe Buffay quando ela descobre sobre Chandler e Monica. Alguns anos atrás, eu teria feito a Lisa Kudrow perder o emprego. — Ele bateu as palmas uma na outra, como se estivesse limpando areia imaginária das mãos. — Minha missão na Terra está feita.

Jongin envolveu seu pescoço com um braço e disse baixinho:

— Já gostei do seu amigo.

Kyungsoo pigarreou. Não para limpar a garganta, claro, mas para dar uma indireta ligeira de que Minseok estava atrapalhando o momento. Como se não fosse óbvio.

— O que você veio fazer aqui? Aconteceu alguma coisa?

— Bom… — Ele coçou a nuca, constrangido. — Rolou um imprevisto com o lance do Kris. Encontrei a Joohyun à caminho do pátio e ela me pediu pra te avisar.

— Um imprevisto? — Kyungsoo e Jongin disseram juntos.

Bae Joohyun não costumava confiar em pessoas que não eram membros do clube para transmitir suas mensagens. Nem mesmo Minseok, por mais que ele estivesse ajudando com a missão de transformar Ren em rainha do baile. Ela preferia dar a notícia por conta própria, sempre se esforçando ao máximo para não prejudicar o Clube Gay. E Kyungsoo não conseguia deixar de pensar que alguma coisa saíra do planejado.

Minseok balançou a cabeça e apontou para a porta.

— Vocês deveriam ver com os próprios olhos.

Guiados pela curiosidade, os três correram pelo corredor, sem se importar se alguém os estava vigiando. Eles pegaram um atalho perto da enfermaria e saíram pela porta dos fundos. No fim, eles caminharam juntos pelo gramado em direção ao pátio, ouvindo o burburinho de longe. Parecia um grande evento.

Minseok tinha razão.

Se Jongin não tivesse visto com os próprios olhos, ele provavelmente jamais teria acreditado que uma cena como aquela, digna de um filme clichê adolescente americano, estava acontecendo bem na sua frente. Havia uma multidão reunida no pátio ao redor do mastro central, onde ficava a bandeira do país e onde os alunos frequentemente eram enviados para cantar o hino no Dia da Liberação da Coreia.

Joohyun também estava lá. A garota parou ao lado deles, apontando na direção da confusão.

— As coisas fugiram um pouco do controle — disse a líder de torcida, suspirando alto. — O Tao só precisava mantê-lo ocupado por um tempo e tentar arrancar dele a senha do celular, mas parece que ele se empolgou demais.

No centro, amarrado pelos tornozelos e pelo tronco no mastro, Wu Yifan se debatia furiosamente, tentando se soltar. Seus pulsos estavam atados nas costas e a bandeira da Coreia, presa ao seu pescoço, estava oscilando atrás dele como se ele fosse um super herói. E Jongin estava estranhamente curioso para saber como Zitao tinha conseguido colocar a cueca de Kris por cima da calça.

Ele era uma versão tirânica e nem um pouco heróica do Super-Homem, só que com as palavras “Babaca” e “Otário” escritas na testa com caneta piloto preta.

— O olho roxo não foi culpa do Zitao — Joohyun explicou. — Isso foi culpa da Amber. O idiota estava dando problema e não estava querendo colaborar, então ela deu com a bola de vôlei na cara dele.

Kyungsoo soltou uma risada.

— Se eu não fosse gay, juro que me casava com essa mulher.

Os alunos na multidão, principalmente os nerds que já se sentiram ofendidos ou humilhados por Yifan no passado, agora apanhavam suas próprias canetas para deixar alguns recados nos braços, no uniforme e nas bochechas do Tight-End. As frases e palavras sempre saíam borradas ou tremidas, porque o rapaz não parava de se mexer. Mas, de uma forma ou de outra, a justiça estava sendo feita.

Um garoto fez o desenho de um pinto gigantesco na camisa dele, erguendo sua caneta de modo satisfeito.

— Isso é por ter enfiado minha cabeça no vaso e ter dado descarga — ele disse, e mais pessoas se juntaram à fila, despejando sobre ele seus traumas e tirando o peso das costas.

Uma garota derramou uma latinha de refrigerante na cabeça dele.

— Isso é por ter olhado por baixo da minha saia e por ter colado meus absorventes no mural da escola.

— Isso é por ter roubado meu trabalho de Ciências e entregado como se fosse seu.

— Isso é por ter colocado sua perna no caminho e ter me feito tropeçar no corredor.

— Isso é por ter… Bom, você não fez nada pra mim, mas eu sempre te achei um babaca.

Enquanto o garoto desconhecido escrevia um “Imbecil” na bochecha dele e desenhava mamilos em sua camisa branca, todos ao redor aplaudiam, assobiavam e gritavam em concordância.

Eles sabiam que em breve aquele espetáculo estaria acabado. Quando os inspetores e os responsáveis pela direção do colégio chegassem, eles teriam que sair correndo dali. Mas aqueles poucos minutos de glória mereciam ser apreciados até o fim. Cada bendito segundo.

Jongin trocou olhares com Ren, e depois com Heechul, e então com Zitao, Amber e todos os membros do clube espalhados por ali. Ele tocou a ponta dos dedos de Kyungsoo de leve. Só encostou, sem entrelaçar ou pegar sua mão. Embora não estivessem todos lado a lado, eles estavam juntos nessa. E eles sabiam que as coisas naquele colégio estavam prestes a mudar.

Aquele era só o começo.

 

 

Sehun gostava de dias chuvosos.

Gostava do frio, de usar seu moletom favorito dos Stones e do barulho de chuva contra os vidros da janela. Adorava ver filmes esparramado no sofá e não pensar em nada.

Mas, naquela noite, ele se armou com os seus headphones e colocou sua playlist para tocar no último volume. Ele não queria ouvir o ruído cada vez mais alto da tempestade do lado de fora, das gotas que violentamente atingiam a calçada da rua onde morava. Ele queria se isolar nas suas músicas de verão e fingir que os dias chuvosos simplesmente não existiam, porque dias como aquele o faziam lembrar de Baekhyun.

Porque Baekhyun era inverno dos pés à cabeça.

Era rígido, frio e volúvel, como água escapando entre seus dedos.

E o clima despertava em sua memória imagens dos dois se beijando no campo, pouco antes de a chuva começar a cair. Das mãos dele apertando seus bíceps e dos braços que o aprisionavam contra a parede, contra os armários do vestiário ou na grama da encosta do condomínio de Yifan, onde eles se beijaram pela primeira vez. Fora ele quem dera a ideia de começar aquilo, de entrar de cabeça nessa aventura descompromissada e fadada ao fracasso.

As coisas não deveriam ser assim. Ele não deveria pensar em Baekhyun.

Ele não deveria pensar em um garoto. Mas ele pensava. Muito mais do que queria admitir.

E enquanto pedia mentalmente para que a música alta em seus ouvidos levasse seus pensamentos para longe, alguém tocou a campainha. Ele sentiu mais do que ouviu, como se estivesse pressentindo a chegada de uma visita inesperada. Sehun tirou os fones e esperou que tocasse pela segunda vez, só para ter certeza de que não estava alucinando.

Então caminhou até a porta, temeroso, imaginando quem seria o idiota que resolvera visitá-lo tarde da noite no meio da chuva. Oh Sehun não sabia ao certo o que esperava ver do outro lado, mas com certeza não estava preparado para aquela visão.

Em pé, sobre o tapete de palha na entrada, estava um Byun Baekhyun completamente ensopado. Seu cabelo estava grudando no rosto e os tênis encharcados haviam deixado um rastro de pegadas molhadas no corredor do prédio.

— Oi — ele sussurrou, a voz ligeiramente rouca. — Posso entrar?

Se um dia pedissem para que ele descrevesse aquela cena em palavras, faltariam vocábulos em seu dicionário para ilustrar o que sentiu ao ver Baekhyun ali, parado em sua porta. Sehun jamais poderia explicar o que o fizera quebrar aquela distância entre os dois e envolvê-lo no abraço mais apertado que ele já deu em alguém.

— O que aconteceu? — ele perguntou, a mão apoiada nos cabelos molhados do garoto mais baixo.

E quando o abraço se desfez, não pensou duas vezes antes de segurar o rosto de Baekhyun entre suas mãos, deslizando o polegar pela sua bochecha. Que todas aquelas regras de não se envolver fossem para a porra do espaço. Ele não se importava.

O Byun apenas balançou a cabeça e fungou, ainda com as mãos segurando na barra do seu casaco. Ele não parecia estar chorando agora, mas parecia ter chorado antes.

— Vem — Sehun chamou, segurando em seu pulso para puxá-lo gentilmente para dentro. — Vamos entrar.

O wide-receiver nunca tivera que lidar com algo assim antes, mas a sua mãe costumava assistir a muitos filmes de romance na TV, então ele sabia mais ou menos o que deveria fazer. Se ela estivesse ali, provavelmente teria oferecido uma xícara de chá de erva doce ou algo do tipo. Chá era a resposta para quase todos os problemas quando Sehun ficava doente ou se sentia mal.

Ele guiou Baekhyun até a cozinha e desceu o zíper do seu casaco, ajudando-o a se livrar do tecido molhado e pesado, escorregando a peça pelos seus ombros. Fez o mesmo com o próprio moletom, que também estava encharcado por causa do abraço. Ele olhou por alguns segundos para o garoto à sua frente antes de erguê-lo pelas coxas e colocá-lo sentado em cima da pia de mármore.

Sehun só pretendia tirar os tênis encharcados dele, mas o garoto parecia ter interpretado o gesto da forma errada. Baekhyun imediatamente se inclinou e apoiou as mãos nos ombros largos, os olhos agora visivelmente marejados. Ele tentou beijar Sehun e erguer a sua camiseta, mas ele não o beijou de volta.

— Eu não quero te beijar.

O Byun piscou, aturdido. Ele parecia ligeiramente magoado.

— Por que não?

— Não sei. Eu sinto que não deveria — o rapaz disse, afastando a franja que pingava da testa dele e depois se abaixando para arrancar seus tênis molhados. — Não agora. — Ele virou de costas, abrindo um dos armários. — Eu vou preparar um chá e te emprestar roupas secas. E depois, bem... talvez a gente possa conversar, e aí você me explica o que veio fazer aqui no meio da noite.

Enquanto ele se concentrava na tarefa de esquentar a água e apanhar duas canecas no armário — uma preta com joaninhas e outra do Garfield que dizia “Odeio segundas-feiras” — Baekhyun continuou sentado sobre a pia, balançando as pernas de modo distraído e sentindo o mármore gelado sob suas coxas. E por um momento que parecia durar uma eternidade, havia apenas o barulho da chuva, do vento ricocheteando nas janelas e da água que fervia no fogão.

Um tempo mais tarde, com as duas canecas lado a lado no balcão e Sehun empenhado na tarefa de secar os cabelos do linebacker com uma toalha limpa, o rapaz acabou confessando sobre seus problemas.

E Sehun sabia que aquele era um passo importante, porque Baekhyun era um garoto fechado, e raramente se abria para as pessoas. Era mais fácil entrar em suas calças do que entrar em seu coração.

— Eu briguei com o meu pai — ele disse baixinho, cabisbaixo. O wide-receiver deixou a toalha que segurava sobre a cabeça dele, como se fosse um véu. — Nós discutimos feio e eu acabei dizendo que eu estava cansado de viver o sonho dele. Então eu fugi, saí correndo no meio da chuva… e não parei até chegar aqui. — Ele olhou para cima, e seus olhares se encontraram. — Eu ainda me lembrava onde você morava.

Sehun despertou para a realidade novamente e continuou a secar os fios molhados, se sentindo ligeiramente nostálgico com a lembrança repentina.

— Porque você e seus colegas imbecis do colégio Daewon vieram aqui uma vez jogar ovos na minha janela. Eu me lembro disso. — Ele esboçou um sorriso, apoiando as mãos no joelho do garoto. — Às vezes ainda sinto o cheiro de ovo podre no meu quarto.

Baekhyun riu. Uma risada meio engasgada.

— Isso significa que fizemos um bom trabalho.

— Você sempre foi um pé no saco, tampinha.

— Você também.

Eles sorriram. E os olhos carregavam um novo brilho de cumplicidade.

— É, acho que você tem razão. — Ele deu uma agitada nos cabelos ainda úmidos do garoto e afastou a toalha. — Acho que já tá bom. Meu quarto é na segunda porta à direita. Você pode fuçar nas minhas gavetas e pegar roupas limpas. Se quiser tomar um banho…

Baekhyun deu dois tapinhas em seu braço, interrompendo o discurso carregado de preocupação.

— Obrigado.

Ele saltou da bancada e atravessou a cozinha em direção ao quarto, deixando Sehun e duas canecas de chá pela metade para trás.

Meio episódio de Something in the Rain e três comerciais da Nature Republic depois, o moletom dos Stones já estava seco sobre o encosto da cadeira. O wide-receiver se enfiou nele outra vez e deu um fim ao líquido já frio na peça de porcelana do Garfield, indo até seu quarto para checar se o rapaz já havia terminado de tomar um banho e se arrumar.

Ele tinha um pequeno cubículo agregado ao quarto que as pessoas costumavam chamar de lavabo, mas que tinha espaço suficiente para um chuveiro, uma pia minúscula e um vaso sanitário antigo. A luz ainda estava acesa e a porta estava fechada, mas ele não ouviu o barulho da água caindo, o que significava que ele sairia em breve.

Sehun se jogou na cama e colocou de volta os fones de ouvido, ficando novamente aprisionado em sua bolha particular. Ele fechou os olhos enquanto ouvia I Wanna Be Yours, do Arctic Monkeys, tocando no aleatório da primeira playlist que ele encontrou pela frente. Esse era um daqueles momentos em que ele tinha a impressão de que estava vivendo uma cena elaborada pelo roteirista de um filme.

O rapaz estava esparramado na cama, as mãos enfiadas nos bolsos do moletom vermelho e as pernas pendendo para fora do colchão. A chuva ainda castigava a janela atrás dele. E talvez por instinto, ele olhou para a porta do banheiro ao mesmo tempo em que o segundo refrão começava. Baekhyun estava apoiado contra o batente, observando-o de longe, ainda sem camisa.

Ele disse alguma coisa, mas Sehun não escutou.

Ainda preso em sua bolha, ele acompanhou os movimentos do garoto enquanto ele vestia um de seus casacos de moletom sem nada por baixo. Baekhyun escolhera o azul-marinho com capuz. Um de seus preferidos. Cada passo, cada gesto parecia ser amplificado pela música. Foi impossível tirar os olhos dele até que o Byun se aproximasse da cama.

Sehun sentiu o colchão afundar ao seu lado quando ele se deitou.

Depois de três ou quatro músicas, durante a metade de Keeping A Secret, Baekhyun arrancou os fones do seu ouvido para roubar sua atenção. Quando olhou para o garoto, Sehun percebeu que ele tinha puxado o capuz sobre a cabeça, quase como se quisesse esconder parcialmente o rosto.

— Sehun? — ele sussurrou.

— O quê?

— Você acha que somos bi?

Ele mordeu a boca, pensando sobre aquela pergunta. Não havia muito o que pensar a respeito. Depois de dias refletindo sobre esse mesmo questionamento todas as noites, ele chegara à mesma resposta milhares de vezes. Não deveria ser assim tão complicado. E assim que ele decidiu que não queria continuar mentindo para o Byun ou para si mesmo, as palavras escaparam com mais facilidade do que ele esperava.

— Sim…

Baekhyun suspirou e olhou para o teto.

— Eu também acho.

Sehun definitivamente não esperava por essa resposta. Assumirem ser bissexuais em voz alta era assumir que eles se sentiam atraídos um pelo outro. Era admitir que não tinha nada a ver com a bebida, ou com uma distração momentânea ou qualquer coisa que o valha. Era quase gritar ao mundo que sim, eles gostavam de ficar juntos.

Gostavam de cada beijo, cada toque e cada maldito sussurro ao pé do ouvido que costumava soar como ameaça, e que agora estavam prestes a se transformar em declarações veladas.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer… — o rapaz começou, e finalmente virou a cabeça o suficiente para que ele pudesse ver o seu rosto. — Quer dizer que eu gosto de como as coisas estão agora.

O garoto achou que aquela pequena felicidade irradiando do seu peito deveria ser proibida. Então ele a espantou para longe, tentando manter a carranca indiferente.

— Ah, meu Deus. Você fica todo sentimental quando tá triste. — Ele tirou uma das mãos do bolso pra jogar o cabelo para trás, fazendo os fios caírem de volta na testa de modo bagunçado. — Se está dizendo isso pra tentar me convencer a transar com você hoje, pode esquecer. Não quero você chorando no meu ombro.

O linebacker balançou a cabeça, deixando escapar uma risada soprada.

— Você é um idiota.

— Você também é, Baekhyun. A gente combina.

Baekhyun. Não “tampinha”, mas Baekhyun.

Byun Baekhyun.

Ele riu de novo e mordeu os lábios por acidente, como o moleque travesso que era, antes de se arrastar no colchão para perto de Sehun. O capuz do garoto caiu para trás, e o wide-receiver não pensou duas vezes antes de levar os dedos até sua nuca, acariciando os fios macios e cheirosos do seu cabelo recém-lavado. Cada gesto se tornou instintivo, quase automático. Como se tivessem feito isso milhares de vezes antes.

Mas era a primeira vez. A primeira vez que Baekhyun abraçava sua cintura daquele jeito, sem força ou agressividade, apenas para se proteger do mundo no aconchego do abraço de Sehun. A primeira vez que eles enroscavam a perna uma na outra, que o Byun escondia o rosto no seu pescoço ou que eles permaneciam apenas naquela posição acolhedora, sem qualquer intenção sexual por trás de cada movimento.

Sehun ergueu o rosto do garoto e se perdeu por mais tempo do que planejava nos seus olhos castanhos. Aquele era um tipo de tensão diferente da que eles costumavam ter a sós. Baekhyun moveu a cabeça ligeiramente para a frente, os lábios entreabertos, apenas testando. Dessa vez, Sehun não protestou. Ele se inclinou para a frente e deixou que suas bocas se encontrassem no meio do caminho.

O rapaz percebeu que ele nunca tinha beijado assim. Nem uma garota, nem um garoto. Era lento até demais para o seu gosto, com os lábios se movendo de modo calmo e suas mãos apenas tocando de leve suas costas e os cabelos da sua nuca. Não tinha mordidas ou toques provocantes. Ele simplesmente nunca tinha beijado ninguém daquele jeito.

— Pensei que você não fosse me beijar — Baekhyun murmurou.

Sehun nem sequer abriu os olhos.

— Mudança de planos — ele respondeu, e se inclinou de novo.

Sehun nunca tinha reparado em como Baekhyun cabia perfeitamente em seus braços. Ele não esperava que algum dia fosse passar uma madrugada abraçado a alguém. E de todas as pessoas do mundo, ele jamais imaginaria que esse alguém seria Baekhyun. Ele também não esperava que beijos preguiçosos pudessem ser tão intensos. Mas, como sempre, tudo era muito intenso quando se tratava do Byun.

Naquela noite, Sehun descobriu que Baekhyun também podia ser abraços quentes debaixo do edredom, beijos lentos e uma calmaria morna. Risadas despertando cócegas no pescoço, carícias no cabelo com cheiro gostoso de shampoo e conversas sussurradas até o sol nascer.

Baekhyun era inverno, de fato.

Mas Sehun descobriu que ele também podia ser verão.

 

 


Notas Finais


O Minseok realizou o sonho maligno dele de colocar insetos na mochila de alguém. Estou sentimental 😔👊

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Até semana que vem, chuchus (se tudo der certo) ♡


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