História Good Traffic - Kim Taehyung FF - 21. Smile

Saindo do meu quarto, depois de vestida com uma roupa normal – uma vez que hoje não trabalhava – e cabelo amarrado, com apenas alguma mexas soltas na parte da frente dando um ar natural e bonito, dou de caras com o retrato novamente. Penso em como tenho de achar logo essa biblioteca, caso contrário seria tudo um caso perdido...

Desço as enormes escadas, lembrando em como já faz mais de quatro meses desde que as subi pela primeira vez, e, ao chegar ao andar de baixo, vejo Taehyung, já vestido, indo em direção do quarto onde esteve ontem com a mulher, saindo segundos depois com ela do seu lado.

Ele se encontrava carrancudo, mal humorado posso dizer. Completamente diferente de ontem – quando se encontrava aos risinhos com ela. Já a mulher, esta se encontrava um pouco desnorteada, uma cara de veras confusa e talvez um pouco chateada, mas, ao me ver, a sua cara logo se transformou num sorriso e numa felicidade extremamente artificial. No momento seguinte, ela entrelaçou os seus braços no de Taehyung, encostando o seu peito – quase descoberto por tamanho decote – no seu antebraço, praticamente se roçando nele. Ao me ver, Taehyung rolou os olhos, como se soubesse exatamente a tática que ela estava usando. Ou pelo menos tentava usar. 

– Por Deus, me largue de uma vez mulher! 

– Ahh, o que foi Taehyung... você ontem não disse isso... - disse manhosa, insistindo em não largar. 

– Eu disse para você me largar. Não arrisque, eu já avisei... - advertiu ameaçador, e ela pareceu rapidamente perceber o que ele queria dizer, largando o seu braço de imediato. - E para você é Sir, não venha com esse intimidade toda, a qual não temos. Agora vá, vá para casa. 

A mulher rapidamente assentiu mesmo não se movendo, e os seus olhos estavam voltados para o chão como se tivesse embaraçada, enquanto mexia as duas mãos nervosamente por cima do vestido – aparentemente dispendioso – que usava. 

– Suan... peço desculpa por ter de assistir a isso. Compareça na sala de jantar assim que puder, o pequeno almoço está prestes a ser servido. - Taehyung disse num tom mais suave do que o que usava antes, mas ainda assim distante. Como sempre. 

– Sim senhor. - respondi, e ele apenas assentiu sério, saindo do meu campo de visão. Como sempre, elegantemente...

O meu olhar foi advertido para a mulher à minha frente, que me encarava com uma mão na cintura.

– Bom... se quiser posso levar você à porta de saída. 

– Não aja de forma sonsa... - ela interrompe, com um sorriso de deboche no seu rosto.

– Perdão? - a encarei, relativamente confusa e indignada. 

– Ele age todo sério à sua frente... - disse alto, como se fosse um pensamento para si, que a mesma acabou interrompendo. – Não fique achando que é melhor que eu, ele vai se entregar a mim um dia, você vai ver Suan! Você não passa de uma criança que se refugiou aqui, sabe Deus para quê. Dinheiro talvez? - indagou retoricamente, o seu tom cheio de sarcasmo em cada palavra que pronunciava. - Ou foi por um bom corpo para saciar a sua fome? 

Mas... eu nem disse nada... Sequer pensei. Nem sei como ela me conhece, nem que autoridade tem para falar comigo desse jeito. Mas se há uma coisa que eu não tolero, de jeito nenhum, são mentiras, injustiças e faltas de respeito principalmente. 

Olhando ela, é possível ver que dá grande dedicação e atenção peculiar ao seu cabelo, de uma cor falsa loira, quero dizer pintado, mas bonito do mesmo jeito. Aliás, esse era o seu único aspeto positivo, se tivesse de ser sincera... 

– Não sei de onde você, senhorita, tirou essas conclusões, de facto incorretas, mas devo dizer que você não tem nada a ver com a minha vida, e duvido sequer que tenha a ver com a vida das pessoas que aqui moram. Aliás, sugiro apenas que saia dessa casa agora mesmo e que tire toda essa maquiagem. - sugeri, me inclinado um pouco para a frente, colocando as mãos na cintura, e a mesma apenas me olhou com o cenho erguido. 

– Como é que é?

– Você não se apercebe, querida - comecei com a voz cheia de sarcasmo - ,de que tem muito mais graça uma mulher que, embora se arranje, o faz parcamente e tão pouco, que quem a vê fica em dúvida se ela está ou não maquiada, do que outra muito empastada, como é o vosso caso, que parece ter uma máscara na cara e não ousa rir para não a gretar, ficando o resto do dia como uma estátua de madeira imóvel? Pois bem, penso eu que tenho de lhe ensinar umas coisas... Agora, faça favor. A porta é por ali. - terminei, talvez com a cara vermelha de falar tudo tão seguido, e apontei para a direita.

A mulher, enfurecida, logo fez questão de se retirar a passos largos enquanto murmurava algo de como as coisas não ficariam assim. E sabe que mais? Não quero nem saber.

Sou acordada de meus pensamentos, quando ouço uma risada nasal vinda da porta que leva à sala de jantar, e vejo Taehyung encostado na lateral da mesma. 

Um sorriso ladino em seu rosto. 

– O que foi? - perguntei entediada, cruzando os braços na altura do peito. 

– Nada não... Só não achei que tinha uma personalidade tão forte ao ponto de reagir assim. - justificou, tentando claramente conter o seu sorriso.

– Quer mesmo que eu te mostre? - inquiri, erguendo meu punho. 

– Whoa, vamos com calma sim. - disse, rindo finalmente. O primeiro sorriso verdadeiro que havia visto em seus lábios. - Eu não fiz nada, não é minha culpa. 

– É culpa sua ter trazido uma qualquer e eu ter de lidar com todo esse stress de manhã. No meu dia de folga. - dei ênfase na última sentença, minha mão massageando as minha têmporas, passando por Taehyung que logo me seguiu.

– É ciúme tudo isso? - ouvi atrás de mim, com um tom de brincadeira. 

– Não Taehyung, é apenas indignação. - respondi finalmente o que ia na minha cabeça, parando de andar e me virando para ele. - Indignação em como alguém encara uma relação sexual como um passatempo interessante, um entretenimento delicado, mas nada mais. Voce não encara esse prazer como uma atividade por excelência de um ser humano preocupado com o amor e com o sentido da vida.

O semblante de Taehyung se fechou. Não de modo carrancudo e sim, de certa forma, confusa e embaraçada. Ele fez menção de falar, abrindo a boca uma ou duas vezes, mas acabava sempre por não dizer nada. 

– Não acho a mínima graça em sair beijando qualquer pessoa. Onde está a emoção da conquista? O nervosismo? Essa é a parte interessante, ver que a pessoa se importa de verdade. 

– Dessa vez não vou discutir com você. - disse, um sorriso mínimo aparecendo em seus lábios. - Não vou porque, por muito que eu não queira admitir, sei que você tem razão. Mas só desta vez. Agora venha, o pequeno almoço está na mesa. - proferiu, seguindo caminho ainda com um sorriso no rosto. 

Sempre ouvi dizer que no momento em que sorrimos para alguém, descobrimos ela como pessoa, e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos uma pessoa para ele. E isso não sai da minha cabeça cada vez que vejo o bonito sorriso quadrado de Taehyung. 

Aliás, o que mais me surpreendeu foi o facto de ele não ter debatido ao que eu disse. Ele, que tanto gosta de arrumar confusão, acabou nem tentando. 

– Não vem? - ouvi um voz risonha em meio ao silêncio – tirando as vozes da minha cabeça –, e logo comecei a caminhar em direção do cheiro delicioso que vinha da sala.