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História Gringa Grudenta - (Catradora) - De volta para casa


Escrita por: BriasRibeiro

Notas do Autor


gente, eu finalmente deixei de preguiça e comecei a publicar minha história no Wattpad. Por favor, quem tiver conta lá me dá uma força e favorita a história lá também > https://www.wattpad.com/story/243458875-gringa-grudenta-catradora

Capítulo 26 - De volta para casa


Cinco meses. Esse foi o tempo que Catra passou longe da sua família, da sua cidade natal, do seu país.

Até dois anos atrás, ela acreditava que nunca nem sequer sairia do seu estado, e de repente estava viajando todo o Brasil para as partidas da equipe sub20 do São José. E de repente estava na equipe principal do São José. E de repente se encontrava morando noutro país, viajando para a Europa, com um salário mensal maior do que sua mãe consegue tirar o ano inteiro. Catra não sabe os salários exatos dos seus irmãos para conseguir fazer a conta de cabeça, mas ela não duvida que, nem juntando o salário anual dos três, daria o que ela ganha em um mês.

Mesmo pagando aluguel, comida, conta de energia, água, gás, uber, tendo comprado um Playstation e vários jogos, e mandando parte do dinheiro de volta para casa pra facilitar a vida deles, ela ainda não consegue gastar tudo o que recebe. É um sentimento incrível. Catra se pergunta se é assim que burgueses se sentem, nunca tendo que ter a menor preocupação com dinheiro e podendo comprar qualquer coisa que queira sem pensar duas vezes.

Depois de descer do avião no aeroporto de Guarulhos e pegar um ônibus até sua cidade-natal, Catra finalmente se encontra no banco de trás de um táxi, sentindo uma euforia por antecipação. Abraça sua mochila protetoramente com um braço, enquanto mantém a mão livre sobre a gaiola de Melog, que de vez em quando solta uns miados incomodados.
- Shh, calma gatinha. Aqui é da onde sua mamãe saiu, viu? – ela conversa com a gata vez ou outra, tentando tranquilizá-la.
- Sério que cê é da Zona do Medo? Não parece não... – comenta o taxista, dando uma rápida olhadela na garota no banco de trás através do retrovisor.
- Ué mermão. Comassim?
- E esse tênis caro aí? Essa mochilona de filme americano? E essas lentes de contato de cor diferente?
- Eu me dei bem na vida – gaba-se Catra – e lente de contato é o caralho – o motorista resmunga um “aham, claro, acredito”. Quando param no sinaleiro, o taxista fica lançando um olhar desconfiado para ela pelo retrovisor até o sinaleiro abrir – ué mano, qual foi?
- “Se deu bem na vida”... aham, sei.

“Ué, num saquei não”, pensa Catra, embora tenha umas teorias em mente.
- Eu sou jogadora de futebol – diz ela, um tanto raivosa – jogo num time de Etéria que chama Red Horde.
- Claro, claro. Como se alguém se importasse com futebol feminino.

Catra tem vontade de dar um chute na nuca desse motorista, mas suprime a raiva dando o dedo para Melog brincar e se distraindo com as gracinhas dela. Não quer ser presa por agressão logo no seu primeiro dia de volta ao Brasil.

Assim que chegam na frente de sua casa, ela paga o motorista e pega a mala no bagageiro sozinha, recusando sua ajuda. Catra se dirige até a frente do portão de casa, um verde descascado tão baixo que até uma criança conseguiria pular mas que mesmo assim é preso por correntes.
- Ô DE CAAAAAAAAAAAASA! – ela berra com toda a força dos seus pulmões, e logo ouve uma movimentação do lado de dentro.

Quem atende a porta é Lucas, seu irmão mais novo sem contar Luana. O garoto, que cresceu no mínimo alguns centímetros durante o tempo em que Catra esteve fora, acelera até o portão para destrancar as correntes, com um sorriso rasgado no rosto.
- Ágata!
- Opa, e aí – seu humor já melhora só de vê-lo. O garoto termina de destrancar as correntes e abraça a irmã, quase a levantando do chão com mochila e tudo. Catra solta um “meu deus!” em meio a risadas, e quando Lucas a solta ela pode observá-lo melhor.

Ele finalmente a passou em altura enquanto ela esteve fora. Uns pelinhos de bigode já começam a aparecer acima dos seus lábios e ele mantém os mesmos dreadlocks de quando ela partiu, porém agora um pouco mais longos, passando ligeiramente da altura dos ombros.
- Porra, quanto tempo, mana! – ele olha para a gaiola e começa a rir – Ágata e a gata!
- Vem cá, quem foi que deixou cê ficar mais alto que eu? – ela pergunta, agarrando o irmão pelo pescoço e esfregando o punho na cabeça dele, que tenta se desvencilhar. Os dois entram em casa e Catra encontra Luana, sua irmãzinha, desenhando algo na mesa da cozinha. A garotinha levanta a cabeça na direção de Catra quando a mais velha entra e permanece ali, encarando a irmã mais velha e morrendo de timidez, enquanto Catra põe a gaiola de Melog no chão e faz Lucas levar suas malas para o quarto.
- O-oi... – cumprimenta Luana, como se não conhecesse Catra. A mulher se agacha e sorri para a irmãzinha.
- Não vai vir me cumprimentar direito não, baixinha?
- Tá bom... – ela levanta lentamente e vem de ombros encolhidos até Catra, e as duas se abraçam. Catra se levanta com a irmã no colo, que dá um gritinho agudo assustado e depois começa a rir.
- Eu trouxe uma gatinha! Quer brincar com a gatinha?
- Gatinha! – os olhos de Luana brilham ao ver Melog dentro da gaiola.
- Mas tem que tomar cuidado com ela, tá? Não é um brinquedo – explica Catra, fazendo uma expressão fingidamente séria – não pode machucar a gatinha, ok? E se ela estiver incomodada, tem que parar, ok?
- Tá bom – ela assente com a cabeça freneticamente. Catra põe a irmã no chão e abre a gaiola de Melog, e as duas começam a chamar a gata, tentando convencê-la a sair.

Demora um bom tempo – o suficiente para Lucas voltar à sala depois de guardar as malas e se juntar às duas irmãs nos seus esforços para convencer a gata a deixar a gaiola – mas Melog finalmente sai. Ela se aproxima lentamente dos desconhecidos, esticando o pescoço para frente e farejando o ar.
- Oferece a mão pra ela cheirar – diz Catra, e Luana segue o conselho.

Não demora muito e a menininha já voltou ao seu desenho na mesa da cozinha, com Melog sentada sobre a mesa observando a pequena. Luana fica mostrando seus desenhos para a gata e conversando com ela como se pudessem se entender, não muito diferente do que Catra faz quando está sozinha.
- Melog, olha só! Essa aqui é você, essa sou eu, essa é a mamãe, essa é a Ágata, esse é o Lucas, o Jê, e esse aqui é o Caio nos vendo lá do céu!
- A mãe e o Jefferson tão no trampo, né? – Catra, sentada no sofá da sala com Lucas, pergunta. O rapaz assente com a cabeça.
- Normalmente agora eu taria mexendo nas parada das minha música – conta Lucas – mas a mãe mandou eu ficar de olho pra quando cê chegasse, pra te receber.
- Daora. E a escola nova, como tá?
- É meio esquisito – admite Lucas – povo da escola particular é mó diferente, sei lá. Eu e o Jê tamo tendo que estudar pá caralho pra conseguir acompanhar, mas a baixinha parece que tá de boa.
- Ela é muito mais esperta que cêis dois juntos memo – debocha Catra, fazendo o irmãozinho rir.

[...]

Catra passa o resto da tarde ouvindo os remixes do irmão DJ, que se gaba por ter conseguido juntar dinheiro suficiente até para comprar seu próprio notebook, parando de depender do notebook dos amigos para fazer seu trabalho. Catra desconfia que parte do dinheiro tenha vindo do que ela mesma envia para a família, mas não fala nada: diverte-se ouvindo as versões de funk de várias músicas famosas, gringas e brasileiras, incluindo uma que mistura a voz do Michael Jackson com Chico Buarque. Catra começa a rir da mistura, fazendo seu irmão dar aquele sorriso torto constrangido que ela conhece bem.
- Não, não! Pode continuar, tá bom! – ela insiste, quando ele faz menção de pausar a música – só me pegou de surpresa, tá ligado?

A porta se abre e um cansado Jefferson em uniforme de funcionário de supermercado adentra a casa. Catra logo e levanta e vem sorridente até o irmão, que ao percebê-la sorri de volta.
- E aí, maninho!
- Mana! – os dois se abraçam rapidamente e quando se separam, Catra dá uma boa olhada nele.
- Carai viado, cada dia mais feio é a meta, né não? – pergunta, fazendo ele gargalhar.
- E você continua a baranga de sempre – devolve ele.
- Não é isso que a tua mina falou na noite passada!
- Já achei que ia falar da mãe – brinca Jefferson.
- Vem cá, te apresentar pra Melog – chama Catra, fazendo o irmão se aproximar lentamente da gata até ela aceitar sua presença e deixar que ele a toque.
- Ah, que fofin...
- AAAAAAAAAAA! POR QUE TEM UM GATO NA MINHA MESA DE JANTAR?! – os quatro irmãos se sobressaltam com o berro, enquanto Melog sai correndo e vai se esconder em algum dos quartos. Rindo, Catra vai dar as boas-vindas à mãe. “Ela não está mais chegando em casa quase meia-noite?”, se pergunta, feliz. Espera que a resposta seja sim, que hoje não seja uma exceção no seu calendário só por ela estar ali.

Catra, Lucas e Luana preparam o jantar em conjunto, enquanto Jefferson e a matriarca da casa tomam banho. Catra ensina Luana a cortar tomates e cebolas, de vez em quando brincando com Lucas e o chamando de péssimo professor por não tê-la ensinado a cortar legumes direito.
- Isso arde o olho! – ela reclama, lacrimejando, quando termina com as cebolas. Catra ri baixinho.
- Você acostuma, baixinha.

O jantar servido é uma bela fornada de sanduíches de bife picado com queijo, cebola frita, tomate e alface.
- Ah, eu não gosto de salada! – chia Luana – mãe, eu posso tirar?!
- Não. Cê não tava falando outro dia que quer ser jogadora de futebol igual sua irmã? Jogador come salada.
- Mas a Ágata mal comia salada quando criança! – aponta Jefferson, risonho, e leva um chute da mãe por baixo da mesa.
- Claro que comia! – retruca ela.

“Não comia não”, pensa Catra, rindo internamente, mas decide que é melhor pra saúde da irmã se ela não ficar sabendo disso.
- Então, você quer ser jogadora, é? – pergunta Catra, dirigindo-se à irmã com um sorrisinho – e que posição você vai jogar?
- Atacante! Vou fazer vááááários gols!
- Aposto que vai – ri Catra, já voltando os olhos aos dois irmãos –cêis vão ter que ensinar a baixinha a bater uma bola fina quando eu não tiver aqui, ouviram?
- Ela começou a acompanhar a gente pros jogos de domingo lá no campinho – diz Lucas, arrancando um olhar surpreso da irmã – logo logo vai tá dando olé em todo mundo!
- Espero que sim – é engraçado para Catra imaginar sua irmãzinha seguindo os passos dela. Elas sempre foram o total oposto uma da outra: desde criancinha, Catra era a garotinha marrenta e tomboy, que jogava de igual pra igual com os meninos, brincava de carrinho, via desenho de super-herói, enquanto por tudo o que acompanhou de Luana até aqui, ela sempre gostou de vestidinhos rosas e cheios de babados, filmes da Barbie, brincar de boneca e casinha, tímida até mesmo com conhecidos e sempre gentil. Imaginar aquela menininha que até pouco tempo atrás tinha o sonho de encontrar o príncipe encantado agora querer ser uma jogadora de futebol, é uma grande surpresa agradável, ainda que Catra pense que seja só uma influência passageira sua sobre a menina.

A garota suspira, sentindo uma felicidade que já não sentia há algum tempo. Não que sua vida tenha sido ruim ultimamente, longe disso.
- Fazia tempo que a gente não jantava tudo junto né?
- Pode pá – concorda Jefferson – memo quando cê tava aqui sempre tinha alguém trabalhando.

Catra quase diz, “gostaria que Caio estivesse aqui também”, mas não diz. Não quer estragar o clima. Quando a família termina de comer, Catra insiste em lavar toda a louça sozinha e faz todos irem esperá-la na sala. A ansiedade a faz limpar toda a louça o mais rápido possível e logo ela corre para o quarto para buscar sua mochila, volta e se mete na frente da televisão.
- Trouxe presentes! – anuncia, com um sorriso radiante.
- Presente! – Luana é a primeira a reagir, ficando de pé e batendo palmas.
- Ô, daora – Jefferson comenta, ciente que seja o que for, ele vai gostar. Sabe que sua irmã sempre capricha quando quer agradá-los.
- Ai, filha... você não torrou um monte de dinheiro por causa da gente de novo não, né? – sua mãe já esconde o rosto entre as mãos, e Catra nota que Melog está deitado no colo dela. A garota ri por dentro, eufórica, satisfeita que as duas já fizeram as pazes depois daquele susto.
- Que isso, véia! Tem mais um monte de onde veio! – gaba-se, depositando a mochila cuidadosamente no chão. Ela enfia a mão dentro e tira sua primeira leva de presentes: uma camisa da Red Horde para cada um deles, com seus nomes personalizados nas costas. Número 9 para Jefferson, que gosta de jogar de atacante; 7 para Lucas, que é fã de carteirinha do Cristiano Ronaldo; e 10 para a mãe e a irmã, que não devem ter uma preferência.
- Ah, por isso que cê pediu nosso tamanho esses dias – comenta Jefferson, já vestindo sua camisa por cima do pijama – porra, peita bunitona.
- Bonita mesmo – concorda Lucas – teve um jogo que a gente viu de você no youtube, cê tava jogando contra um time de rosa com umas estrela na frente, tá ligado? Bagulho feio pra cacete.
- Ah, as Mystacor Witches – Catra ri – o uniforme delas é fei que dói memo.
- Se você for jogar lá num precisa trazer camisa não – brinca Jefferson.
- Que isso mano, tá me estranhando? – os três riem, mas a mãe e Luana não parecem entender muito bem do que eles estão falando – tá, mas calma lá que num é só isso não! Peraí, que o próximo é pra mãe.

Catra tira de dentro da mochila um aspirador de pó desses que são um robozinho automático, que anda sozinho pela casa.
- Já que cê passa o dia limpando a casa dos outros, nada mais que justo que limparem tua casa pra você, né não? – a garota sorri com a reação surpresa da mãe, sua boca abrindo num “o”, e ela se levanta pra abraçar a filha.
- Você é um amor – ela diz, ao soltá-la – mas agora vê se para de torrar dinheiro em mim, eu não mereço não.
- Ah, só que me faltava agora – diz Catra, revirando os olhos e rindo jogando a cabeça pra trás – mãe, a senhora merece a porra do mundo! Se eu tivesse dinheiro eu comprava pra você! Né não?
- Verdade – concordam Jefferson e Lucas, em uníssono.
- Ve-verdade! – Luana segue os irmãos com uns segundos de atraso. Catra ainda flagra um momento que uma lágrima escorre pelo rosto da sua velha, mas ela limpa antes que mais alguém perceba.
- Primeiro grande show que eu fizer, vou usar o cachê pra comprar um presente foda pra mãe – declara Lucas pra ninguém em particular.
- Vocês todos são uns amores – ela diz, a voz trêmula pela emoção, e vai se sentar – e vê se parem de falar palavrões perto da Luana.
- Próximo presente é pra vocês três – ela indica os irmãos com a cabeça – e é pra dividir, ouviram?
- Okay...

Catra tira uma caixa com um PlayStation 4 da mochila, novinho em folha. Os olhos dos irmãos brilham como se não houvesse coisa mais incrível no mundo.
- PUTA QUE... – começa Jefferson, e logo ganha um tapão da mãe na cabeça.
- Olha a boca, menino!
- CARAMBA! – corrige-se ele.

Os irmãos logo se apressam a conectar o videogame na televisão e ligá-lo, e Catra distribui os quatro controles entre seus irmãos e sua mãe.
- Que isso, querida. Joga você – ela tenta empurrar o joystick de volta para as mãos da filha.
- Nada vê, mãe. A senhora também tem que se divertir – Catra recolhe as mãos e se recusa a aceitar o controle de volta.

Por algumas horas, ela assiste os quatro se divertirem num game de Party que havia lhes trazido, um que havia comprado justamente para os quatro poderem jogar juntos, além de alguns outros que comprou pensando mais nos gostos individuais de cada. Finalmente, o grupo se dispersa e vai dormir, deixando Catra sozinha na sala: pode ser férias para ela, mas para eles ainda é o meio de uma semana cheia de trabalho.

[...]

No dia seguinte, Catra acorda mais cedo do que todo mundo – apesar de ter ido dormir mais tarde, consequência não do videogame, mas de ficar conversando com Glimmer e Adora pelo Messenger – e faz café-da-manhã para todos, que quando acordam já encontram a mesa pronta, e praticamente obriga sua mãe a descansar um pouco antes de sair e a aceitar que Catra lhe pague um Uber, em vez de ir de ônibus pro trabalho. Depois de todos saírem, a garota volta pra cama e dorme mais algumas horas e, ao acordar pela segunda vez, decide dar uma volta pelo bairro.

Cinco meses se passaram, e praticamente nada mudou. As mesmas ruas esburacadas, o mesmo Sol de rachar ao meio-dia em pleno junho, as mesmas casas, umas sem muros, outras de muros baixos, boa parte delas com a pintura descascada ou mesmo sem pintura. Ela se dirige até o campinho na entrada do bairro, e para a sua tristeza o encontra vazio. Talvez ele fique um pouco mais cheio durante a tarde, mas ela duvida que a rapaziada da sua idade com quem costumava jogar ainda tenha tempo de ir ali em dia de semana. Suspirando, Catra dá meia-volta com algumas opções em mente.

Sua primeira parada é o barzinho não muito longe dali, vizinho daquela primeira mercearia onde trabalhou. Nem bem chega, já encontra um seu Raimundo meio bêbado contando mais uma das suas histórias de pescaria, a maioria das pessoas ouvindo mais para rir do que por acreditar nos feitos absurdos que ele descreve, enquanto o velho barman, seu Gil, ouve tudo com um certo desprezo cansado no olhar. A maioria das mesas estão ocupadas por trabalhadores em sua hora de almoço, que rapidamente colocam pra dentro a marmita que a esposa do seu Gil vende.
- Opa, e aí – ela cumprimenta aos presentes com um sorrisinho metido, assim que entra no bar, reconhecendo quase todos os rostos à sua vista – sentiram minha falta?
- Ora, ora, se não é a estrela da Zona do Medo! – brinca um cara mais ou menos da idade de Catra, pele negra e cabeça raspada, sentado junto ao balcão bebendo uma lata de cerveja e comendo uma marmita, metido num uniforme todo azul-escuro de trabalhador braçal. Catra o reconhece como um dos rapazes que jogava futebol com ela, Mariano.
- E aí, mano.
- Olha ali! É a nossa futura 10 da seleção – seu Serafim se levanta de uma mesa no fundo do bar, onde comia com dois amigos, e vem a passos rápidos e pesados até Catra, puxando a garota para um abraço e sorrindo como se estivesse vendo a própria filha. Depois, ele se volta pro bar inteiro e anuncia – essa menina aqui venceu a porra da Superliga de Etéria no seu ano de estreia, e entrou pra seleção da temporada de lá! Cêis tão me ouvindo?! Catra, quantos anos cê tem mesmo? 21?
- 19 – responde ela, escondendo uma risada. Não tem certeza se seu empresário não está meio bêbado.
- OUVIRAM ISSO?! 19 ANOS E JÁ É UMA ESTRELA! – ele berra – A FUTURA MARTA É DA ZONA DO MEDO, CARALHO!
- Que isso... – ela se desvencilha do seu empresário, ainda sorrindo apesar do leve incômodo com a sua última frase, e orgulhosa pelos gritinhos de comemoração e os aplausos que vários dos clientes do bar soltam – Marta é rainha e é única, dá pra igualar não. Eu vou ser eu mesma, Catra. Seu Gil, traz aquela coxinha ali pra mim, é de frango?

O barman assente e serve Catra, que come relaxada enquanto conversa com vários dos caras presentes, que a enchem de perguntas sobre como é a vida em Etéria, como foi o campeonato, para falar dos seus jogos, da seleção, como é Marta na vida real.
- Ei, Catra. Bebe uma com a gente – convida Mariano, levantando sua lata de cerveja.
- Que isso, mano. Faço mais isso não.
- Ah qual é mano, só umazinha pelos velhos tempos!
- Melhor não véi, sério.
- Tão tá né, cê que sabe.

Catra havia parado de beber e fumar alguns meses depois de se juntar às categorias de base do São José, como parte de um esforço para levar uma vida mais saudável e manter um físico melhor para os jogos. Ela sempre teve a sua parte física consideravelmente abaixo da média, porém sente que melhorou muito depois daquilo, e sente que pouco a pouco está conseguindo alcançar a média.
- Mariano, vem cá. A rapaziada inda joga?
- De vez em quando nos fim de semana, fica todo mundo ocupado com o trampo saca?
- Podemo marcar uma pelada esse fim de semana.
- Pode crê. Só aparecer lá no campin, a rapaziada que tá livre sempre cola lá.

[...]

Já faz algumas semanas desde que Adora começou a viajar pelo sudeste da Ásia com Bow e Glimmer. Visitaram Singapura, Malásia, Tailândia, Camboja, e atualmente se encontram em El Nido, nas Filipinas.

Tem sido uma das experiências mais marcantes da vida de Adora, pra não mencionar o fato dela ter descoberto que a comida tailandesa que ela ama e come em Etéria em nada tem a ver com a comida tailandesa original, a qual é no mínimo tão igualmente incrível quanto.

 

Catra

e ai

foi em que templo budista hoje

Adora

nenhum e.e

fizemos uma trilha na floresta :3

demos um mergulho num lago lindo

água toda transparente ^^

Catra

qdo vier pro Brasil n vai mergulhar no tietê não tá KKKKKKKKKK

Adora

o que é tietê?

 

As duas passam as férias inteiras trocando mensagem, curtindo praticamente tudo que a outra posta no Instagram. Adora chegou até a pedir o twitter de Catra, e logo teve seu feed invadido por publicações em português, normalmente da amiga extravasando suas emoções sobre alguma personagem sáfica badass de alguma série ou videogame ou reclamando que os seus shipps não se tornam reais.

 

Adora

e você me disse q ia jogar futebol hoje com seus amigos

como foi?

Catra

ganhamo facil

16 a 6

fiz 8 gols

espera a mãe qdo a liga voltar

Adora

mãe?

mãe de quem? Não entendi >.>

 

Ainda existem algumas barreiras linguísticas a ser superadas, mesmo que Adora sinta a cada dia a melhora de Catra com o idioma inglês.

É manhã cedinho nas Filipinas e Adora toma o café da manhã do albergue com Glimmer e Bow.
- Com quem foi que você ficou conversando ontem até tarde da noite, hein? – pergunta Glimmer, de um jeito provocador.
- N-ninguém! – desconversa Adora, atraindo olhares desconfiados dos amigos.
- Hmmmmmm... Huntara? – sugere Glimmer – ou Catra?
- Catra, com certeza – define Bow – Huntara nunca fica no celular com ninguém até tarde.
- Mas lá em Etéria ainda era dia – argumenta Glimmer.
- Verdade – concorda Bow – huh, então não sei... e então, Dorinha? Huntara ou Catra?
- Meu deus, vocês são um saco – reclama Adora – EU VI VOCÊS DE MÃOS DADAS QUANDO EU ACORDEI, OUVIRAM?!
- Mãos dadas? Nós? – Glimmer se faz de boba. Adora flagra Bow desviando o olhar, típico de quando está constrangido – não, nada a ver. Você deve estar se enganando.
- Ai, não vem com essa pra cima de mim não! Podem abrir o jogo que eu já percebi faz tempo!

Glimmer e Bow se entreolham por um momento.
- Ela definitivamente tá passando tempo demais com a Catra.
- Está – concorda Glimmer – minha She-razinha inocente nunca teria percebido nada...
- Não sou tão inocente quanto vocês pensam – replica Adora, e se arrepende na hora, ao ganhar olhares de “hmmmmmm” dos dois amigos – ei, podem parar com isso! Seja lá o que for que vocês estão pensando, não é isso!
- Aham.
- Só se assumam logo, tá legal? – Glimmer bufa e Bow respira fundo. O rapaz é o primeiro a falar.
- Seguinte...
- Finalmente!
- Não é bem assim.
- Ah, vá se...
- Ela tá andando demais com a Catra – conclui Glimmer, interrompendo Adora antes que ela termine de xingar.
- Nossa menininha é influenciável demais – Bow sacode a cabeça como um pai decepcionado.

Bow explica a Adora que ele e Glimmer estão mantendo um “relacionamento queerplatônico não-monogâmico”. Embora Adora já tenha ouvido falar em não-monogamia por sua convivência com Glimmer e Lonnie, ela não faz ideia do que seria um “relacionamento queerplatônico não-monogâmico”, e os dois se confundem o tempo todo para explicar. Só o que Adora consegue tirar de tudo o que dizem é que é algo entre “uma relação romântica e amizade”, mas "não exatamente isso", e que ambos escolheram ser privados sobre isso para não afetar a maneira como outras pessoas se relacionam com eles ou como os veem, já que acima de tudo eles ainda são melhores amigos de infância.
- Mas e aí, o que vamos fazer hoje? – eles mudam o rumo da conversa.

[...]

Naquela manhã, Catra acorda com fotos do trio de patetas num passeio de barco lotando o seu feed do Instagram.


Notas Finais


gente, pergunta
o meu planejamento inicial era postar um cap extra ontem e esse cap aqui na segunda, mas acabei mudando de ideia e mantendo o planejamento padrão da maioria das semanas de cap terça e sábado
eu percebi no último cap extra q teve bem menos engajamento q no primeiro, ent queria perguntar se vcs ainda tão interessades nisso
pq se não tiver, eu vou postar os cap extras em dia q tiver coisa a mais pra postar, tipo qdo eu for lançar o primeiro cap da minha outra fic, pra aí ter alguma coisa de história pra ler no dia pra quem n quer ler os cap extras
me digam suas opiniões e por favor sejam sinceres tá, n vou me magoar ABJASDASD

mais uma vez lembrando de por favor favoritarem minha história no wattpad > https://www.wattpad.com/story/243458875-gringa-grudenta-catradora

me apoia no padrim: https://www.padrim.com.br/briasribeiro


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