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História Gringa Grudenta - (Catradora) - Barreiras da língua (NÃO ESSA LÍNGUA)


Escrita por: BriasRibeiro

Notas do Autor


Vocabulário no final do capítulo.

Capítulo 6 - Barreiras da língua (NÃO ESSA LÍNGUA)



- Adora? Royal Grayskull Adora?! – a loira assente – puta que pariu, cê é a vadia que me quebrou!
- Catra?!

As duas ficam se encarando intensamente por um tempo como se tivessem visto um poltergeist, enquanto o resto do grupo olha na direção delas, curiosos.
- She-Ra? Algum problema? – pergunta Tallstar, chamando a atenção das duas. Adora engole em seco.
- É a... Catra... – ela murmura – a menina que eu quase quebrei o tornozelo! – Adora torna a olhar para Catra e, ciente da dificuldade da outra com inglês, fala tão pausadamente quanto possível, apontando para o seu tornozelo – você, está, melhor?

Catra gira lentamente o pescoço de volta de Tallstar para Adora e a encara com os olhos questionadores.
- Que bérer o quê, a mina tá doida – ela reclama – I’m Catra, not Bérer – ela diz. Adora encara a garota sem entender, enquanto os outros riem da confusão. Bow intervém.
- Ela está perguntando se você está SE SENTINDO melhor – ele explica lentamente, num tom gentil, e repete – você, está, se sentindo, melhor?

Catra reconhece a palavra “feeling”. Tem quase certeza do significado. “Obrigada por mais essa, Hayley Kyioko”, ela agradece em pensamento.
- What the porra is bérer? – ela pergunta.
- Acho que ela está perguntando o que significa “better” – alguém sugere.
- Hã, erm...

Bow e Adora tentam explicar, até perceberem que Catra não está mais os ouvindo e em vez disso, tem os olhos fixos na televisão. Assim, desistem de tentar esclarecer as coisas. O jogo já começara há algum tempo, e as Salineas Sharks estão dominando. A empolgação de Catra com a habilidade e liderança da camisa 11 do time de azul é crescente, enquanto a explicação dos dois estrangeiros era confusa e vaga, e por isso aos poucos ela se esqueceu de continuar fingindo que estava ouvindo. O estilo dessa camisa 11 não é o que Catra costuma admirar, mas a sua fluidez faz ela sentir um frio na barriga. Ela desliza como água entre as jogadoras adversárias com seu posicionamento e controle de bola. "Ela é o tipo de centroavante que eu adoraria fazer dupla", a brasileira pensa, com um sorrisinho besta.

Não demora muito para as Salineas Sharks marcarem o primeiro gol, num lance onde Mermista passa entre duas zagueiras e toca colocado na saída da goleira. A bola ainda toca na trave antes de entrar.
- CARALHO QUE GOLAÇO! Boa! – Catra comemora o gol levantando os dois braços e atrai vários olhares da própria mesa e das mesas ao redor, mas ela nem repara. Em vez disso, toma mais uma golada do copo de refrigerante e se recosta à cadeira, relaxando com um sorrisão no rosto, assistindo às garotas do time de azul comemorando na lateral do campo, carregando sua artilheira com um sorrisinho presunçoso de canto de boca no rosto.
- Então, você torce para as Salineas Sharks? – pergunta Adora. Catra não percebe que a mensagem é direcionada a ela e por isso não dá atenção alguma, continuando com os olhos concentrados na televisão, enquanto Adora encolhe os ombros envergonhada e abaixa os olhos. Bow, percebendo a interação, toca os ombros da amiga, chamando sua atenção.
- Ei, não se preocupe tanto com isso – ele diz, e indica as batatinhas no centro da mesa com a cabeça, estimulando à amiga que pegue um pouco mais. Suspirando, Adora segue o conselho do amigo e torna a comer das batatinhas, espiando a estrangeira vez ou outra. Ela engole em seco se lembrando daquele olhar intenso que trocavam, antes de se reconhecerem. O que será que Catra estava pensando naquele momento?

É quando Adora percebe que a brasileira não pegou nenhuma batatinha ainda. Ela pega uma das últimas na vasilha já quase no fim e a oferece à brasileira com um gesto. Catra nega gesticulando com a mão, mas Adora insiste. Revirando os olhos, Catra toma a batatinha da mão dela e enfia na boca, fazendo em seguida a mesma careta que fizera durante o jogo para Adora, com os olhos cruzados e a língua de fora. Assim como durante o jogo, Adora ri baixinho.
- Tonta – murmura Catra, tornando a olhar para a tevê. Pelo canto dos olhos, ela flagra Adora se tornando para encará-la várias vezes. “Mano, na moral que essa mina quer dar uns pega ni mim, né nem zoeira”, pensa.

A verdade é que a Adora na vida real, vestida em roupas casuais, de cabelos soltos e com a sua tatuagem colorida à mostra é muito mais bonita do que Catra havia imaginado no jogo, vestindo aquele ridículo uniforme roxo, com os cabelos presos num rabo-de-cavalo que formavam um topete esquisito, toda suada e fedorenta, lhe enchendo o saco e lhe arrebentando o tornozelo. “Ah, é verdade”, ela se lembra mais uma vez. “Essa loira do condomínio é quem fudeu meu tornozelo”. Catra desvia o olhar da televisão num momento em que a bola sai pela lateral, e flagra Adora a encarando mais uma vez. Em vez de desviar o olhar, é como se os olhos das duas ficassem presos um no outro.

“Hm, até que eu perdoo ela”, pensa Catra, tornando a desviar os olhos da loira com um sorrisinho safado. “Gata pra caralho”. E se distraindo com a lateral das Crimson Reapers conduzindo a bola para o ataque, ela perde o momento que Adora passa a encarar as próprias coxas, escondendo o rosto numa crise de vergonha por ter sido flagrada encarando.
- CHEGUEI! – uma voz estridente assusta Catra, que olha para trás e dá com uma garota baixinha e gordinha de cabelo rosa. A reconhece imediatamente do jogo contra a Royal Grayskull: “a tal da Glitter, a mina do foguete no cu”.
- Quem é vivo sempre aparece, hein!
- Bem-vinda, brilhosa.
- Ai gente, desculpa por isso! – a garota puxa uma cadeira vazia de outra mesa e a arrasta para entre Bow e Double Trouble – eu NEM TE CONTO o que a minha mãe inventou dessa vez! Ei, peraí, quem é você?

Catra, que já não prestava mais atenção na conversa, não percebe que é com ela que Glimmer fala.
- Essa é a...
- Catra –
Adora completa no lugar de Bow.
- Catra... peraí, CATRA? Aquela mulher da Red Horde que você mandou pro hospital?! – Glimmer reage.
- Eu não mandei ela pro hospital! – replica Adora, indignada.
- Bem, você entendeu!
- Adora não para de olhar pra ela –
conta Bow, tampando uma risada com a mão.
- Quê? Não estou não!
- Está sim – replica Bow.
- Não estou!
- Ai sapatão, se liberta – intervém Double Trouble, revirando os olhos – todo mundo tá vendo, viu?
- Verdade – concorda Tallstar, com Falcon assentindo.
- Parece uma menininha de 13 anos com o seu primeiro crush – continua Starla.
- Eu não imaginava que aquela agressividade toda no campo era só tensão sexual – afirma Frosta, atraindo todos os olhares da mesa – o que foi? – ela diz num tom inocente, enquanto Adora revira os olhos, com raiva.
- Vocês são RIDÍCULOS. Sério mesmo.

O jogo termina em 4 a 1 para as Salineas Sharks com uma atuação magistral de Mermista, que naquele dia ganhara uma nova fã brasileira. Catra aplaude a bela atuação como se estivesse num estádio, chamando a atenção de outros clientes do bar, agora já bem menos cheio do que quando chegara.
- Belo jogo – elogia Catra, ruidosamente arrastando a cadeira e se levantando – aí, valeu pela companhia rapaziada, mas tá na minha hora. Bye-bye – ensaia seu inglês.

E começa a caminhar para fora do campus, já tendo decorado o ônibus que deve pegar para chegar em casa. Provavelmente Scorpia viria buscá-la de carro se pedisse, mas essas mordomias todas a deixam desconfortável. Ela não percebe os estrangeiros começando a discutir às suas costas, e tudo porque Glimmer começara a zombar de Adora por estar acenando um tchauzinho para a brasileira com cara de cachorrinho abandonado.
- Hmmmm, tá apaixona-da! Tá apaixona-da! – Glimmer puxa o coro e logo toda a mesa está cantando – Catra and Adora, sitting in a tree / K-I-S-S-I-N-G / First comes love, then comes marriage / Then comes baby in the baby carriage!

Adora observa toda a interação com a mais pura cara de desprezo.
- Meu deus, vocês são absolutamente ridículos – ela diz – não é nada, NADA disso! Eu só não tive a chance de pedir desculpas pelo o que eu causei desde o nosso jogo!
- Então por que não pediu desculpas agora?
– pergunta Frosta.
- Bom, eu... eu... não sei – Adora se sente burra, impotente – eu não queria simplesmente pedir desculpas, eu precisava dar algo mais! Aquela era a ESTREIA dela, vocês têm noção disso?!
- Se você quiser tentar agora... ela está quase sumindo de vista – observa Bow.
- Docinho, eu se fosse você, ia agora – reforça Double Trouble, e Adora não percebe o tom levemente zombeteiro na voz delu.
- Ah, eu vou! – ela levanta e corre na direção da brasileira, que acabara de virar a esquina e sair do campus.
- Ai, ai. Sapatão é foda – suspira Double Trouble.
Nossa menininha está crescendo, Bow – Glimmer finge limpar uma lágrima, arrancando risadinhas do resto da mesa, exceto de Frosta, que gargalha ruidosamente.
NOSSA MENININHA!! Eu entendi, é por que ela age tanto como uma criança ás vezes! Ai ai, muito bom!

Enquanto isso, na calçada do lado de fora da faculdade, uma loira desesperada corre atrás de uma brasileira distraída.
- Ei, ei! Catra, espera aí! – reconhecendo seu nome, Catra tira os olhos do celular e o guarda no bolso, virando para encarar a garota da tatuagem. É para onde seus olhos vão, instintivamente. Queria poder ver aquela tatuagem inteira. Ela sorri de lado com certa malícia e levanta os olhos para encarar a garota.
- Yo – cumprimenta – nid somefingue? – ela pergunta, deixando a loira confusa por um momento com a pronúncia. “Preciso de algum dedo?”, se pergunta, e pensamentos maliciosos instintivamente lhe ocorrem. Afastando o pensamento, ela aponta para o pé de Catra antes de juntar as duas mãos, como quem implora, e diz:
- Eu sinto tanto, tanto, tanto! Realmente, não foi minha intenção, eu juro por tudo... se houver qualquer coisa que eu puder fazer para... – Adora se lembra que a garota provavelmente não está entendendo nada e cala a boca.

“Ela ficou gaga?”, se pergunta Catra, após a sequência de “so-so-so-sorry”.
- Okay – responde, simplesmente. Já perdoara a outra de qualquer forma, mas ainda não confia o suficiente no seu inglês para tentar dizer algo mais.
- Você... não está irritada comigo ainda, está? – Adora não tem certeza se a outra vai entender. Catra a encara em silêncio por vários segundos.
- Huh... okay.

“Okay? Okay o quê, pelo amor de deus?!”, se pergunta Adora. A verdade é que Catra simplesmente estava cansada de ouvir e tentar entender inglês o dia inteiro, por isso deu uma resposta genérica esperando que desse certo. Quando Adora não diz mais nada, Catra dá de ombros e começa a andar de costas, apontando para o ponto de ônibus atrás de si.
- I need... pegar ônibus, now – ela diz. Adora assente e volta cabisbaixa pelo caminho de onde tinha vindo.

Ela encontra seu grupo de amigos parados de pé perto da Seaworthy, conversando animadamente. Glimmer e Bow são os primeiros a perceber a sua aproximação.
- E aí, She-Ra? Como foi?! – perguntam eles, animados. Logo o grupo inteiro está olhando para ela.
- Argh... ela nem se importou! Só disse “okay” e foi embora! Eu disse que eu precisava fazer algo mais! – Adora apoia a mão na têmpora.
- Ei, relaxa – Bow a toca gentilmente nos ombros – vamos lá, eu tenho certeza que é só a barreira da língua.
- Sim – Glimmer se apressa a concordar – E ALIÁS, NINGUÉM ME CONTOU AINDA COMO ISSO ACONTECEU! PORQUE DIABOS ESSA GAROTA ESTAVA AQUI?!

Naquela semana, aos poucos Catra volta a participar dos treinos. Apesar de já estar quase morrendo de tédio dentro de casa, ela com certeza não sentira falta alguma dessa mala dessa treinadora, mas ainda é divertido poder voltar a jogar.
- Essa véia arrombada me persegue mano, eu tô falando – bufa ela para Netossa, numa sexta-feira – me diz, O QUE FOI QUE EU FIZ hoje?!
- Bom... – Netossa encolhe os ombros. Ela fica pensativa por um momento – é, realmente. Ela anda bem chata com você, não vou negar.
- Obrigada, algum apoio por aqui! – exclama Catra, terminando de guardar suas roupas sujas na mochila e se levantando – mas aí, tu percebeu que tinha uma mina na arquibancada te secando, né?
- Me secando? – estranha Netossa.
- Sim, pô! Mó sortuda, você! Uns puta peitão assim, ó – Catra demonstra o tamanho gesticulando com as mãos e dando um sorriso safado. Ao terminar o gesto, solta uma risada maliciosa – queria eu uns peitão assim pra usar de travesseiro!
- Aham – concorda Netossa, de cenho franzido – por acaso, ela tinha cabelos rosa? Usava collant com calça jeans?
- Pode pá, cabelo rosinha e pele branquinha – Catra encara a outra maliciosamente – há, já conhece né? Tá pegando essa safada há quanto tempo?
- Catra, essa é a minha esposa – Netossa tenta parecer inabalada, mas ainda há um quê de mágoa na sua voz.
- Tua ESPOSA?! – Catra intercepta a passagem de Netossa na surpresa e a agarra pelo ombro – mano, calma lá! ESPOSA?! Mas que porra...!
- Sim, Catra. Esposa – Netossa se desvencilha da outra e sai do vestiário, com Catra indo logo atrás – e por favor, não fale mais dela assim. É desrespeitoso. O que você é, um homem hétero?

Catra sente como se tivessem lhe dado uma bofetada na cara, abre e fecha a boca sem conseguir dizer nada. Quando se dá conta, Netossa já está entrando num carro do outro lado do estacionamento, com aquela mesma mulher da arquibancada no banco do motorista. Distraída, ela não percebe Scorpia chegando por trás e lhe dando um tapa nas costas.
- Hey, Wild Cat! Vamos pra casa?
- Okay
– concorda Catra.

Ainda se sente incomodada pelo recente diálogo com Netossa.


Notas Finais


“Feelings” é uma música da Hayley Kyioko - The Lesbian Jesus™, por isso a Catra reconhece a palavra.

A música que a Glimmer e os outros cantam pra zoar a Adora é tipo uma “cantiga popular” que crianças de países que falam inglês cantam para zoar outras crianças e deixar elas com vergonha quando têm algum crushzinho. A tradução é: “Catra e Adora, sentadas numa árvore / B-E-I-J-A-N-D-O / Primeiro vem amor, depois vem casamento / depois vem um bebê em um carrinho”. A parte separada em traços é cantada soletrando, por isso em inglês rima. Ex: em português você cantaria dessa forma: bê, ê, i, jota, a, ene, dê, ô.

Sobre a parte que a Catra fala “nid somefingue?”, o que ela quis dizer foi, “need something?”, ou “precisa de algo?”. Mas no caso ela viu a palavra escrita e não sabe que o G é mudo, por isso em vez de pronunciar “somfin”, ela pronuncia “somefingue”, fazendo a Adora pensar em “some finger”, “algum dedo”.

Vocabulário:
Toque colocado: chute com a parte de dentro do pé. Esse tipo de chute costuma sacrificar potência por uma melhor precisão.
Sair pela lateral: quando a bola atravessa as linhas que estão na lateral do campo, ela é considerada como fora de jogo e deve ser recolada em campo por uma atleta do time adversário ao último time que tocou na bola. Exemplo: se a Red Horde está jogando contra a Royal Grayskull, a Adora vai passar uma bola para uma companheira, ela erra o passe e ela vai pra fora, é a Red Horde quem ganha a bola para recolocá-la no jogo.
Arremesso lateral: recolocar a bola no jogo depois dela sair pela lateral.
Conduzir a bola: quando você está com a bola nos pés (ou seja, com a “posse da bola”) e a leva para algum lugar.


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