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História Guerra e Paz - Capítulo XXXIII - A Divina Comédia.


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


CAP DO PASSADO.

Por favor, leiam as notas finais desse capítulo. Há informações interessantes que podem ajudá-los a melhor compreender essa estória.

Capítulo atualizado em: 21/01/2024
Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 34 - Capítulo XXXIII - A Divina Comédia.


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XXXIII - A Divina Comédia.

Capítulo XXXIII – A Divina Comédia.

Após as palavras de sua deusa, os cavaleiros foram dispensados para suas devidas casas zodiacais. O primeiro a abandonar o salão do Grande Mestre foi Milo, a passo rápido, desceu a escadaria de Peixes a caminho de Escorpião, sem trocar palavras com ninguém. Logo após, Hécate educadamente se despediu de Athena e desapareceu no ar. 

Camus observou o gesto do amigo, mas nada disse. O aperto em seu peito ainda presente.

- Me pergunto se o sacrifício da armadura de Milo tem algo haver com termos ressuscitado. – Ponderou Saga, que também acompanhou a saída do companheiro. – Mas creio que é pertinente deixarmos qualquer discussão para amanhã. – Começou a estralar seu ombro direito. – Sinto como meu corpo tivesse rolado toda a escadaria das doze casas. Com sua licença, Camus, Shura. – Disse ao aquariano e ao capricorniano que começava a se aproximar.

- Tenham uma boa noite Saga, Kanon. – Respondeu educadamente o espanhol.

- Espero que consigam descansar.  – Seguiu o francês.

Ambos lançaram um cumprimento de cabeça e começaram sua descida, pouco depois de Shaka, que também havia abandonado o ressinto, como Escorpião, sem falar com ninguém. O olhar de Saga encontrou-se brevemente com o de Aiolos, que finalmente conversava com Seiya. Apenas um aceno foi trocado, junto a uma promessa de uma conversa futura.

-.-

- Acho melhor dormir em alguma pousada de Rodorio. – Pronunciou-se finalmente Kanon, quando começaram a descer Peixes.

- Do que está falando? De acordo com a Ursa Maior em relação à Polaris* deve ser por volta das três da madrugada. – Disse analisando o céu estrelado que os recobria. – Mas se observarmos a fase da lua...

- Só mesmo você para saber fazer uma coisa dessas. – Resmungou o mais novo com uma expressão entediada. – Pode ser tarde, mas você sabe que os aposentos pessoais de Gêmeos são muito pequeno para nós dois.

- Nós costumávamos dividi-la o tempo todo.

 - Éramos adolescentes, Saga. Já era apertado quando tínhamos doze, imagina agora. Caso não tenha reparado, nós crescemos desde então. – Alegou como se fosse óbvio. – Não estou a fim de ter o rosto chutado durante a noite como você sempre costumava fazer.

- Você tem que aprender a deixar de guardar rancor por coisas pequenas, sabia? – Suspirou cansado. - O que me diz sobre as residências de treino?

- Eu realmente não me sentiria bem dormindo na residência dos cavaleiros com os demais. - Contestou. - Você viu como aqueles dois de bronze atrás de Athena olhavam para nós.

- Estamos marcados por nossas ações Kanon, isso é fato, tudo que podemos fazer agora é seguir adiante.

Ambos mantiveram silêncio enquanto chegavam a Aquário.

- Recorda-se daquela colina atrás do Santuário? – Sugeriu repentinamente Kanon.

- Estava imaginando se você iria sugerir isso. – Saga sorriu suavemente. – Dormimos lá vendo as estrelas centenas de vezes quando éramos crianças. De fato, é uma boa ideia. Porém, eu me sentiria melhor se me banhasse antes. Jamais teria imaginado que o elixir dos deuses, de fato, fosse um doce. Essa sensação pegadiça no corpo está me incomodando.

- Tudo bem, mas eu irei me banhar primeiro! – Declarou Kanon, acelerando o passo a caminho de Capricórnio.

O mais velho teve que conter uma risada, vendo como o mais novo acelerava sua descida, apenas para poder lavar-se primeiro.

- E depois diz que não é mais um adolescente. – Disse em tom de graça, seguindo a descer tranquilamente, aproveitando os ventos noturnos contra seu rosto.     

-.-

No salão do Grande Mestre, após a saída dos gêmeos, Shura iniciou conversa com Camus, ao tempo que Aldebaran ia até Muh, ver a situação de Kiki, agora que Seiya havia ido praticamente aos saltos até Aiolos.

- Eu pude escutar o que Saga te disse, e ele tem razão. Milo deve estar com os nervos à flor da pele depois de tudo que aconteceu. Mesmo eu não sei como poderemos nos desculpar com Shaka. Muito embora tenha certeza que ele não espera por algo assim. De todo modo. – Lançou um olhar lateral a Aiolos. – Nossas ações tiveram consequências, e é hora de enfrentá-las. O melhor então é fazermos isso quando tivermos nossas mentes plenas. Tenha uma boa noite Camus.

- Obrigado, você também meu amigo. – Declarou simplesmente, vendo como o capricorniano se afastava em direção à sua própria casa, Aiolos o viu descendo, mas ao contrario de como com Saga, seus olhares não se encontraram.

- Mestre, por favor, fique na casa de Aquário, eu irei à residência de treinamento. – Disse Hyoga tornando a se aproximar de seu mentor.

- Isso não é necessário Hyoga. – Impôs em seu tom sério. - Essa armadura que usa é prova suficiente de que a decima primeira casa é sua por direito. Não se incomode, estou familiarizado com os aposentos de treinamento, costumava usá-los quando era apenas um aprendiz. - Um esboço de minúsculo sorriso se desenhou em seus lábios. - Conversaremos melhor amanhã, por hora você deve descansar.

- Se prefere assim, mestre. – Respondeu com respeito, sorrindo mais abertamente que o outro.

Um silêncio se formou entre ambos, o francês pensou em dizer algo sobre Shun, podia deduzir que eram amigos muito próximos. Contudo, obviamente como bom cavaleiro de Aquário, sentimentalismo não era algo normalmente existente em seu repertório. Isso dificultava que lidasse bem com esse tipo de situações.

- Sinto muito por seu amigo Shun. - Disse em tom neutro.

-...Obrigado mestre. – Apesar do agradecimento, o russo abaixou a cabeça, visivelmente abatido.

Indiferente a isso, o mago do gelo seguiu seu caminho até a escadaria de Peixes.

- Boa noite, Hyoga.

- Boa noite, Mestre.

Próximo à cena, Afrodite e Máscara da Morte discutiam alheios aos demais.

- Vamos! Não seja um maledetto, eu estou me sentindo destruído depois de ressuscitar! Eu não quero ter que descer até a porcaria da quarta casa, me deixa dormir em qualquer lugar da sua! – Insistia o canceriano.

- Eu já tive que te trazer de volta ao Santuário depois de comas alcoólicos o suficiente para saber que você ronca altíssimo. Até parece uma foca morrendo. – Defendeu-se o pisciano ainda inclinado contra um dos pilar.

- Mas a sua casa é aqui do lado! – Insistiu impaciente. – Um par de passos e pronto!

- Você viu Saga reclamando? Ou mesmo Muh e Aldebaran? Deixe de ser mole e vá dormir de uma vez se está tão cansado. – E assumindo isso como o fim da discussão, se encaminhou até as escadarias.

- Desgraçado egoísta! - Resmungou Câncer. – A sua ainda deve cheirar a morte pelo veneno das rosas, agora como eu vou conseguir dormir em paz na minha? Eu duvido que tenham deixado as minhas cabeças onde elas deveriam estar!

- Você é doente. – Colocou fingindo repulsa, mas a verdade é que já estava acostumado a essa faceta do amigo. – Além disso, é burro. Com certeza todas as minhas rosas já murcharam enquanto estivemos mortos.

- Estivemos mortos por tanto tempo assim? – Perguntou coçando a nuca, confuso.

A dupla passou ao lado de Camus, que também ia até a escadaria, porém o francês foi detido por um comentário de Aiolos, os outros dois pararam para ouvir.

- Você e Milo se tornaram amigos então? – Questionou o sagitariano, deixando de responder por um segundo as perguntas desenfreadas de Seiya. – Eu disse para Saga quando você chegou ao Santuário que vocês dois acabariam se tornando grandes amigos. Vocês dois tinham seis na época, eu acho.

O francês se voltou ao grego, Aioria observava a interação, curioso, Seiya, por outro lado, parecia incomodado por ter sido interrompido.     

 - Você pode dizer que sim. – Respondeu simplesmente Aquário.

- E esse é o jeito do vaso dizer que são melhores amigos. – Intrometeu-se Máscara. Afrodite apenas revirou os olhos pela atitude intrometida e provocadora do amigo.

- Eu lembro que Milo costumava ser absolutamente quieto até você chegar, nunca falava nada com ninguém, eu até cheguei a pensar que ele era mudo, apesar do Mestre Shion ter dito que o ouviu falar quando o trouxe para cá. – Divagou Aiolos.

- Milo quieto? Aaaah esses bons tempos que não voltam mais! – Ironizou o canceriano, tornando a caminhar.

- Apenas ignorem-no. – Aconselhou Peixes, ainda assim, seguindo o mais velho.

O Sagitário nada disse quanto à provocação, olhando para as escadas sob as quais Hyoga há pouco tinha desaparecido, vendo agora os dois sumirem de vista. Aioria e Seiya lançaram olhares irritados para as costas do cavaleiro da quarta casa. Camus apenas se manteve impassível.

- Máscara, em contra partida, continua o mesmo. - Seguiu o grego tranquilamente, como se não tivesse sido interrompido. -  De qualquer forma, eu achava interessante que ele só conversava contigo, ainda mais porque na época você não falava ou entendia nada de grego,  chegava a ser engraçado ver você se esforçando pra conseguir compreender alguma coisa!

- Tínhamos cinco. – Corrigiu o aquariano. – De qualquer forma, boa noite.

  E seguiu sem mais seu caminho.

- Antipático como Hyoga, dá para entender porque seu pupilo pode ser tão insuportável. – Resmungou Seiya, cruzando os braços.

- Ele é assim mesmo meu irmão. - Tranquilizou Aioria, vendo como o outro observava Camus sumir em Peixes, curioso.

- Na verdade ele me parece preocupado. – O Leão o olhou confuso, então Sagitário acrescentou. – Eu sempre fui bom em analisar as pessoas, descobrir o que elas estão escondendo. Por isso notei que havia algo errado com Saga quando... Bem, você sabe. – Sua expressão se entristeceu um pouco, mas logo tornou a sorrir, voltando-se para Seiya e passando a mão pelo ombro de seu irmão. – Eu adoraria responder mais perguntas sobre os golpes de Sagitário, Seiya, mas podemos deixar isso para depois? Eu passei alguns quantos anos morto e tudo é muito novo para mim. Além disso, eu também quero passar algum tempo com meu irmãozinho, que aparentemente agora é mais velho do que eu. Então não se preocupe, eu dormirei na casa de Leão esta noite.

- Ah sim, tudo bem... - Concordou desapontado. – Um bom descanso para vocês...

- Boa noite, Seiya. – Cumprimentou Aioria aliviado de finalmente se livrar do mais novo.

- Até amanhã! – Despediu-se contente Aiolos, e ambos se encaminharam a igual que os demais para as escadarias. Leão lançou um olhar de lado, que não passou despercebido pelo outro grego, para Marin, mas esta estava ocupada explicando para Jabu e Ichi quem eram os cavaleiros ali presentes que haviam morrido durante a batalha das doze casas.

Assim que sumiram de vista, Seiya foi até sua deusa, que conversava com o Grande Mestre sobre a questão dos alojamentos, roupas e demais detalhes para melhor aconchego dos recém-chegados. Entediou-se em menos de dois minutos sobre o assunto, despedindo-se dos dois e decidindo ir dormir também. Resolveu que explicaria tudo para Seika amanhã, já que provavelmente ela estava dormindo a essa hora. Além do mais, se entrasse na área das amazonas agora, com certeza Shina ia matá-lo. Todo o assunto da ressurreição o fez esquecer completamente sobre o assunto que o fez subir até o salão do Mestre em primeiro lugar.

Enquanto Saori e Shiryu tratavam de negócios, Dohko e Shion estavam imersos em sua própria conversa.

- Athena parece estar realmente muito desgastada. – Comentou o libriano com um olhar preocupado. – Provavelmente se deve a morte tão recente de Shun.

- Eles eram tão próximos? – Questionou o ariano, observando sua deusa de lado. – É difícil assimilar que aquele pequeno bebê se tornou tão formosa jovem.

- O mesmo foi com Sasha, você não acha? Ela costumava ser tão calada e tímida quando chegou, mas depois se tornou uma mulher extremamente forte e determinada. – Analisou sabiamente Dohko. – E mesmo assim, a morte de um dos nossos sempre lhe causava muita dor.

- Talvez devêssemos seu rápido crescimento à imprudência de Kárdia. - Ponderou Shion com um deixe de melancolia.

 - De qualquer forma, meu amigo, respondendo sua pergunta. Athena dessa época não cresceu no Santuário, como pode deduzir, ela foi criada por seu avô adotivo no longínquo Japão. Os únicos cavaleiros com que ela teve contato nesses anos foram os antigos cavaleiros de bronze, dentre eles estava Shun. – Explicou calmamente. – Ele era um jovem muito tranquilo e de coração sempre aberto.

- Exatamente como Alone costumava ser. – Apontou o antigo Grande Mestre, sério.

Dohko suspirou, concordando com a cabeça.

- Como é esperado a cada reencarnação, o receptáculo de Hades, Pégaso e Athena eram muito próximos. Embora talvez não tanto quanto Sasha e Alone que eram irmãos.

- De acordo com os registros dos Grandes Mestres, nunca um hospedeiro de Hades sobreviveu à Guerra Santa e a possessão. – Seguiu analítico o ariano. – Shun foi o primeiro.

- E isso faz a perda dele ainda mais dolorosa. – Concluiu Dohko. – Perdê-lo depois que a batalha de tantos séculos finalmente estava ganha.

Quando todos os assuntos foram acertados entre deusa e Mestre, ela se despediu com um sorriso cansado para todos àqueles que ainda se mantinham no salão, foi até Muh, conversou rapidamente sobre a situação de Kiki, para só então retirar-se para seus aposentos. Logo depois, Jabu, Ichi e Marin também seguiram seu caminho. O unicórnio lançou um último olhar preocupado para Kiki, mas levando-se em conta toda a atenção que já recebia, assumiu que o melhor era se retirar. Marin também olhou ao redor do salão, parecendo levemente desapontada.

E então, todos que ainda restavam no salão eram Muh, Aldebaran, Shion, Geki, Shiryu e Dohko, além do inconsciente Kiki, que parecia respirar tranquilamente.

- Como ele está? – Questionou o ariano mais velho, aproximando-se junto a seu amigo. Shiryu caminhou até estar do lado de ambos.

- Ele está bem. – Anunciou Muh, embora mostrasse preocupação em sua expressão. – Eu sinto ainda a energia de nossa deusa emanando dele, seu desmaio foi devido à falta de ar, não é? – Voltou-se a Shiryu.

- Sim, antes de ressuscitar vocês, Moros, aquela primeira entidade a desaparecer, quis nos testar, para isso atacou Kiki. – Respondeu o ex-Dragão. – Ele foi muito corajoso e sacrificial, nos impediu de atacar o primordial e assim poder começar outra guerra com o Submundo, em contrapartida, acabou ficando inconsciente.

- Viver para a justiça em vez de fazê-lo pela sua segurança é bonito, porém triste.* - Recitou o Mestre Ancião, lançando um meio olhar ao seu discípulo.

 - Sem dúvida, é um rapaz de fibra. Fico feliz que ele continue vivo. – Anunciou Aldebaran em seu tom forte.

- Sim... Geki me contou o que houve. - Muh olhou com carinho para seu pequeno, acariciando seus cabelos rebeldes. – Eu apenas não compreendo porque ainda não acordou, não parece ter sido um golpe tão severo, mas ele parece muito cansado e enfraquecido.

- A morte de Shun foi muito difícil para ele. – Geki explicou. – Haviam se apegado bastante. Ter que ajudar Marin a trazer seu cadáver foi muito doloroso. Por conta disso, ele não comeu nada desde ontem, deve ser por isso que está tão fraco.

Muh concordou ligeiramente com a cabeça.

- Muh, leve ele contigo para a casa de Áries. Lá vocês dois poderão descansar melhor. – Instruiu Shion, chamando a atenção de seu antigo aprendiz.

- Mas e o senhor, mestre?

- Irei para as residências dos aprendizes como os demais. – Declarou simplesmente. – Não precisa se preocupar.

- Eu imagino que a casa de libra esteja vazia. – Emendou Dohko, Shiryu confirmou. - Mas voltar a dormir nas velhas residências me traz tantas lembranças! Não frequento aquele lugar há uns... Duzentos e quarenta e cinco anos? Pergunto-me como está hoje em dia. Se não se importar, eu preferiria ficar onde a maioria está, depois de tantos anos de isolamento.

- Tudo bem, eu compreendo mestre, mas a casa de Libra estará sempre à sua disposição se desejar. Ela é sua afinal. – Pronunciou-se com respeito ao seu velho mentor. – O mesmo digo sobre o salão de Grande Mestre ao senhor, mestre Shion.

- Agradeço por esse gesto receptivo, Grande Mestre. – Sorriu abertamente o libriano mais velho. – Pode me chamar apenas de Dohko, Shiryu, creio que agora seja mais apropriado.

- Também agradeço. – Seguiu Shion. - Mas esse cargo não me pertence mais. Posso não conhecê-lo adequadamente, mas sendo discípulo de meu velho amigo, tenho certeza que Athena fez uma sábia decisão. Por isso, não me vejo mais no direito de usufruir desse lugar.

 Enquanto isso, Geki levantou Kiki deitado entre seus braços, Aldebaran se ofereceu para ajudar, mas o forte japonês negou respeitosamente.

- Não se preocupe Senhor Aldebaran, Kiki é muito leve, e eu prometi que ia ficar de olho nele, então me sinto responsável.

Tanto o guardião da primeira e da segunda casa piscaram surpresos com essa resposta, até que o taurino começou a rir ruidosamente, e Muh sorriu satisfeito.

- Parece que em minha ausência, Kiki encontrou um ótimo amigo. – Disse Áries.

A risada estrondosa interrompeu a conversa dos antigos e atuais líderes do Santuário.

- Boa noite então mestre. – Despediu-se Muh com um suave sorriso esperançoso. - Até amanhã?

- Até amanhã Muh. – Respondeu, compreendendo a sensação calorosa que a perspectiva de um novo amanhecer representava. Estar de volta a Terra, poder ver com seus próprios olhos o quanto seu crescido discípulo havia se desenvolvido, acompanhar o de Kiki, que claramente tinha um enorme potencial. Esses fatores encheram seu peito de uma esperança que pensou haver se extinguido há muito tempo. – Ainda temos muito o que dizer e viver daqui pra frente.

- Sim mestre! – Declarou emocionado, inclinando-se com respeito.

Assim, Muh, Aldebaran, Geki, e Kiki em seus braços, se encaminharam para a escadaria de peixes, deixando Shion, Dohko e Shiryu sozinhos.

Quando tinha certeza que não eram mais escutados, o antigo mestre ancião se voltou sério ao seu aprendiz.

- Depois, se não se importar, gostaria que nos contasse de novo sobre o episódio da armadura de Escorpião. – Trocou um significativo olhar com seu velho amigo, que parecia entender onde ele queria chegar. – Isso me preocupa.

- Escorpião tem uma relação mortal com o fogo, desde os tempos mitológicos. Diferentes tipos de enfermidades que desregulam a temperatura corporal afetaram os herdeiros dessa casa. – Completou Shion, também sério. – Deve ser algo ligado à vida de Astéria, a primeira amazona do signo, mas há poucos registros sobre ela. Tudo que temos a seu respeito foi escrito por Erisictão de Aquário, e o que ele escreveu... Pode não ser muito confiável.

- O que quer dizer? – Questionou Shiryu confuso.

Dohko respirou fundo, assumindo uma expressão triste.

- Veja bem Shiryu, você ainda não deve ter conseguido ler os documentos exclusivos aos Grandes Mestres devido a seu estado. – Analisou, indicando sua cegueira.

- Sim, de fato, e eu diria que minha ascensão foi bem recente, quatro dias contando essa madrugada para ser mais exato. E com a morte de Shun ontem, não tive oportunidade de analisar os arquivos corretamente. - Explicou o chinês.

- Muito bem, acontece que, os cavaleiros de Athena são escolhidos ainda muito jovens. – Seguiu o mestre. – Treinados a exaustão para ultrapassarem os limites humanos. Contudo, ainda assim, continuamos sendo humanos. O ideal é que os cavaleiros só participassem de guerras quando tivessem pelo menos vinte anos, mas vocês mesmos são a prova de que isso nem sempre é possível.

- Os primeiros cavaleiros de ouro, eram basicamente crianças e adolescentes que haviam sobrevivido à investida de Poseidon contra a Terra. – Continuou solene Shion. – Dentre eles, Erisictão era o mais jovem. Se passar por uma guerra de tal calibre já não fosse traumático o suficiente para uma criança, quando ocorreu a primeira guerra de Athena contra Hades, Astéria foi a primeira vitima, não sabemos como se deu sua morte, porém, Póllux de Gêmeos deixou registrado em detalhes como isso afetou o guerreiro de Aquário. Aparentemente, ele sucumbiu a loucura, se deixou afogar por suas emoções e traiu nossa deusa, ceifando sua própria vida durante uma viagem para recuperar a armadura de Athena. 

- Nem todos os registros antigos são acessíveis a todos os cavaleiros, devido a que alguns podem ser... Muito pesados para aprendizes que ainda são demasiadamente jovens. – Concluiu com tristeza Dohko. – Eu sei que soa terrivelmente cruel, mas supostamente os cavaleiros são soldados ao serviço da deusa e da terra. Informações que possam gerar pânico ou que possam atrapalhar seus treinamentos são filtradas e encaminhadas apenas para o Grande Mestre.

Shiryu nada disse, mantendo-se em completo silêncio, uma sensação amarga passando por sua boca até cair como pedra em seu estômago. Claro, essas informações eram compreensíveis, como seu mestre disse, eles eram soldados. Contudo, a ideia de ter que começar a esconder conhecimentos de seus irmãos de arma e sangue não era nem um pouco agradável, depois de tudo que passaram juntos, sempre dividindo suas dores e incertezas, era como estar dando as costas para eles de repente.

Então algo lhe ocorreu.

- Me perdoe mestre Dohko, mas como sabe de tudo isso? Eu sei que o senhor liderou o Santuário após a morte de Saga, mas a única vez que veio para cá depois disso foi quando o selo dos espectros se rompeu, não?

O libriano mais velho tornou a sorrir, enquanto Shion revirou os olhos, cansado, evitando a cara radiantemente irritante de seu velho amigo.

- Como você pode imaginar Shiryu, esses conhecimentos são muito pesados para alguém carregar sozinho, por isso, podemos dizer que se tornou uma pequena tradição confiar essas informações a alguém mais. Um irmão, ou um grande e super confiável melhor amigo.

- Ou no caso, o único amigo que sobreviveu a guerra contigo. – Cortou Shion, Dohko fingiu uma expressão ofendida, a qual o ariano ignorou categoricamente. – De todo modo Shiryu, até para o caso de algo acontecer ao Grande Mestre, é importante que certas informações vitais sejam passadas para alguém mais.

- Compreendo. – Concordou pensativo. Lamentando internamente que essa pessoa não poderia ser Shun.

- Precisa ser alguém de confiança. – Tornou a dizer o antigo mestre ancião, voltando a aparentar seriedade. – Então escolha com cuidado.

- De qualquer forma, creio que nossa conversa se estendeu demasiado. – Disse Shion olhando a posição das estrelas no céu. – Se continuarmos aqui, logo irá amanhecer.

- Pela manhã falaremos melhor sobre esse assunto da armadura de Escorpião, além disso, é melhor ficarmos de olho na saúde de Milo de agora em diante. – Seguiu Dohko. – Porém Shiryu, é importante que você não divida essa informação com ninguém por enquanto, é crucial que principalmente Hyoga e Camus não saibam de nada.

- Mas Camus é o melhor amigo de Milo, pelo que Hyoga me disse. – Interveio o chinês. – Não seria importante que ele soubesse de algo assim?

- Depois da tragédia de Erisictão, se tornou categórico entre os cavaleiros de aquário expurgar suas emoções a fim de não serem mais um empecilho para a deusa. – Relatou o antigo grande mestre. – Contudo, mesmo que tenham suas emoções sob controle, eles podem chegar a ser extremamente autodestrutivos quando se trata daqueles que são importantes para eles, sem sequer se darem conta disso. – Inevitavelmente a lembrança de Dégel passou por sua mente, a forma como se sacrificou para congelar Atlântida, o que possibilitou o salvamento de seu amigo Unity e a obtenção do Oricalco*. Muito embora esse seu sacrifício, indiretamente, também havia condenado Kárdia, que era incapaz de sobreviver a sua doença sem a intervenção do aquariano.

Era como se os dois signos estivessem presos numa eterna tragédia grega.     

- Eu entendo. E prometo manter isso em segredo por hora. -  Confirmou o libriano mais jovem.

- Então por hoje está encerrada esta reunião improvisada! – Anunciou Dohko cheio de energia, colocando os braços irreverentemente atrás de sua cabeça. – Vamos descansar agora, todos nós! Porque meu corpo todo dói, eu sinto como se tivesse voltado a ter duzentos e sessenta anos!

- Falando nisso mestre, antes de qualquer coisa, pela manhã, acredito que Shunrei ficará muito emocionada quando rever o senhor. –Anunciou mais alegre o ex-Dragão.

Isso surpreendeu o velho mestre.

- Ela está aqui?!

- Sim, eu a trouxe comigo, dividimos os aposentos do mestre, muito embora não tenhamos nos casado ainda.

A expressão de surpresa passou comicamente para uma de choque, e então os olhos do mais velho praticamente estavam brilhando de antecipação. No segundo seguinte puxou o mais novo para um apertado abraço.

- Isso é maravilhoso Shiryu! Estou tão feliz por vocês! Sempre soube que formariam um casal maravilhoso!

Levou alguns bons minutos e muita paciência de Shion para finalmente conseguir arrancar o melhor amigo dali para que o Grande Mestre pudesse descansar. Ele conhecia o nome Shunrei brevemente, pouco antes de ser assassinado, treze anos atrás, Dohko havia lhe contado que adotou um bebê menina.*

Ainda assim, quando finalmente realizou seu objetivo e estavam cruzando a escadaria de Peixes, Libra não estava menos radiante.

- Sabe o que isso significa? – Questionou com um sorriso que mal cabia em seu rosto.

- Que Athena resolveu destituir de vez as regras do celibato? – Tentou o ariano, simplesmente.  

- Naaah, essas regras nunca foram realmente cumpridas, lembra quando você e aquela lemur-

- Dohko, você está desviando do tema. – Cortou categórico.

- Enfim, não. Isso significa que estou prestes a me tornar avô! – Declarou extremamente contente.  

Áries deteve seus passos, franzindo as sobrancelhas de ponto.

- Não acha que você está se antecipando?

- Bobagem! Shunrei é maravilhosa e Shiryu um garoto esperto! Eu apostaria minha armadura de que ainda esse ano isso vai acontecer!

- Se você diz. – Resolveu simplesmente concordar, era impressionante e até um pouco assustador como seu velho amigo podia passar de um homem sábio, para um jovem hiperativo cheio de energia.

Provavelmente, os dois lados da balança de Libra. O que resultaria provavelmente ainda em muitas dores de cabeça.

Ainda assim, era muito bom finalmente ter seu antigo amigo ao seu lado, como nos velhos tempos.

-.-.-.-.-

Shaka, depois de haver se banhado graças aos antigos aquedutos que levavam água ao Santuário, vestiu-se com suas tradicionais roupas indianas brancas, nas quais se sentia muito mais cômodo que as togas gregas, apesar da grande semelhança entre ambas. Nesse meio tempo, pôde sentir um a um os cavaleiros descendo as doze casas. Contudo, ignorou isso e se dispôs a analisar alguns livros que encontrou em seus aposentos privados, para tanto manteve os olhos abertos. Todos possuíam o carimbo do Grande Mestre, portanto, deveriam ser de sua biblioteca privada. Se tivesse que adivinhar, levando-se em conta a explicação que tiveram depois de ressuscitar, diria que o atual senhor do Santuário havia emprestado esses volumes a Shun, já que devido à sua deficiência não poderia aproveitá-los como era devido.   

Analisou os títulos, todos em grego antigo, com um novo interesse. O primeiro da pilha, que parecia ter sido o último a ser manuseado era as Eumênides de Ésquilo. Abriu o volume para folheá-lo, e isso o impressionou mais, era um códex, uma junção de vários pergaminhos juntos como páginas, o percursor dos livros atuais. Sua aparência era tão gasta e antiga, que era possível até mesmo que tivesse sido escrito pelo próprio Ésquilo, ou pelo menos por um de seus aprendizes, já que não saberia dizer se em sua época já eram feitos os Códex ou ainda se fazia apenas os Volumen, textos em rolos imensos de pergaminho.

Porém o que realmente o surpreendeu não era a idade da obra, uma vez que fazia parte dos pertences dos Grandes Mestres, isso era esperado, o que sim resultava inusitado era que houvesse um papel muito mais novo entre as páginas, ainda impregnado com a energia de Shun, com anotações escritas em grego tão ou mais antigo que o do próprio livro. Ele que havia nascido na Índia e vivido alguns anos no Santuário, ainda não conseguia ler completamente aquela obra, apesar de ser proficiente* no idioma, a escrita era muito arcaica, o que dificultava em muito a compreensão.

Apenas aos líderes do Santuário era ensinado o grego antigo, tanto para que pudessem melhor se comunicar com os deuses, como para que pudessem compreender os documentos antigos.  Como era possível que Shun fosse capaz não apenas de compreender como também de fazer esse tipo de anotações?

Além disso, a deusa Hécate e o próprio Grande Mestre haviam dito que Shun se retirou em treinamento por três meses, para tanto, era de se imaginar que Athena o tivesse confiado os pergaminhos antigos de Virgem, porém, esses estavam escritos quase inteiramente em hindi e os mais importantes em Sânscrito. Era um modo de garantir que apenas ele e Lason, seu irmão quando foi Eniato em sua primeira vida, pudessem compreender a totalidade dos segredos do signo da sexta casa.          

Era absurdo pensar que Shun pudesse dominar tantos idiomas assim, sendo tão jovem e inexperiente. Pelo que pesquisou sobre o japonês e seu irmão tempestuoso depois da batalha das doze casas, ambos haviam nascido no Japão, sendo enviados, ainda crianças, para a Ilha de Andrômeda no norte da África, e para a Ilha da Rainha da Morte na Oceania. Daidalos, o mestre de Shun, um reconhecido cavaleiro de prata que possuía o nível de um dourado, não deveria saber mais que um pouco de Amárico e Somali, devido à localização de Andrômeda, além do espanhol de sua terra natal e grego comum, não podia então ter sido o responsável por tais ensinamentos.

Fechou o livro, guardando as anotações consigo. Seu sucessor havia se tornado uma pessoa realmente misteriosa. Parecia ter deixado as peças de um quebra cabeça para trás, e estava mais que disposto a juntar essas peças e revelar o que havia oculto por trás do virginiano que supostamente morreu como herói.

O seguinte Códex era Prometeu Acorrentado, também de Ésquilo, separou para si as anotações que havia dentro deste também. O próximo A Descida de Perito, um Volumen de Hesíodo, escrito no que poderia ser outro tipo de dialeto grego, sendo incapaz de ler mais que seu título. Outras anotações. Os Trabalhos e os Dias, no mesmo estilo de escrita, outra vez de Hesíodo, nesse, porém pôde reconhecer um dos títulos internos do Códex, “Prometeu & Pandora”.  Era a segunda obra sobre Prometeu, parecia ser que Shun andava interessado no Titã.

Havia também A Odisseia e a Ilíada de Homero, mas estes não pareciam ter sido lidos, pela quantidade de pó que ainda possuíam, além de vários outros pergaminhos de textos soltos desse autor.

O último livro era bem mais novo que os demais, ao invés de grego, estava escrito em letras romanas, onde se lia Comedìa, o nome do autor, em contrapartida, estava realmente muito gasto e impossível de ler, era como se o mesmo tivesse sido manipulado incontáveis vezes, causando tamanho desgaste.

Também estava escrito a mão, e a mesma letra da obra assinava uma dedicatória em seu início.

Per il nobile Cangrande e per tutta la famiglia I della Scala.

Isso provavelmente era italiano, mas não havia nenhuma anotação de Shun nessa obra. Lançou um olhar para a pequena cama de pedra e para a cômoda de carvalho ao seu lado, mas esses pareciam ser os únicos livros ali presentes, porém um pequeno caderno sobre leito de pedra captou sua atenção. O tomou. Não havia nada escrito nele, parecia ser apenas um simples caderno de caligrafia.

 Deixou isso na cômoda, e pegou novamente o livro italiano, decidindo avaliá-lo melhor depois que visse em que estado estava o Jardim da Casa de Virgem depois da clara reforma do Santuário. Encaminhou-se até a parede que limitava o espaço privado, e ao apoiar sua mão, a mesmo se abriu, dando passo ao salão principal, onde as lutas deveriam ser realizadas, e ao fundo o local onde algumas vezes fazia sua meditação.  Andou até o porão que levava ao jardim e o deixou aberto, não era mais um segredo de qualquer forma, e seguiu até o lugar desejado.

Sentiria tristeza, se ainda fosse capaz de usufruir desses sentimentos tão humanos. O seu belo jardim estava completamente morto, não havia um único broto de flor, tampouco qualquer sinal das árvores gêmeas. Isso era lógico, afinal, a luta contra os renegados havia destruído completamente o lugar, contudo, se Shun se mostrava tão capaz como Athena e o Grande Mestre haviam feito entender, esperou que ele também se dignasse a reerguer o jardim, como herdeiro da casa de Virgem.

Além disso, podia sentir algo estranho emanando desse lugar, mas não tinha certeza do que era.

Foi retirado de seus pensamentos quando sentiu Máscara da Morte na entrada de sua casa, pedindo autorização para entrar através de seu cosmo. O cavaleiro nunca foi exatamente dos mais educados, mas se tratando de Shaka, mesmo ele preferia se precaver.

- Imaginar que existia um lugar assim em sua casa. - Declarou assim que pisou no antigo jardim, porém, rapidamente o indiano notou que sua postura estava série e atenta.

- O que houve? Não imagino que você pediu para vir até aqui apenas para fazer uma visita. – Declarou em seu tom neutral, de costas, voltando a fechar os olhos.

- Você não é capaz de sentir? – Questionou o canceriano em tom grave.

Shaka não respondeu de imediato, ainda de olhos fechados. A privação de um de seus sentidos, como sempre ampliava os demais, aumentando assim a sensação de que havia algo mais naquele jardim.

- Sinto que há algo de errado aqui, mas não sei precisar o que é exatamente. - Declarou simplesmente. – Algo como um ligeiro incômodo.

- Há, só podia vir de você mesmo um comentário assim. – Ironizou Máscara da Morte cruzando os braços.

- O que exatamente tem nessa sala? – Insistiu, ignorando a postura petulante de seu companheiro de armas.

- Eu posso até te contar. – Brincou, sua postura agora completamente relaxada. – Mas eu quero algo em troca, indiano. Não é grande coisa! Você vai ver.

Shaka manteve sua postura firme, era o tipo de pessoa que odiava essa classe de joguinhos. Contudo, sua intuição lhe dizia que o melhor era ceder, no momento.

Sempre podia tirar os cinco sentidos do outro depois.

- O que seria? - Contestou simples.

- Me deixe dormir nesse jardim essa noite! Para mim, ironicamente, esse lugar é como estar nas nuvens! Lembra-me até o ambiente da minha velha casa zodiacal. – Soltou um suspiro melancólico. - Qualquer outro mortal que entrasse nesse lugar, já não estaria de pé pelo tempo que conversamos. Qualquer outro cavaleiro começaria a sentir a mente ser invadida pelos piores tipos de sentimentos, o levando a perder a consciência em torno de poucos minutos. E você só sente um ligeiro incômodo, tem certeza que é humano? – Riu de seu modo insano, enquanto o virginiano inclinava ligeiramente a sobrancelha por pedido tão descabido. Esse homem só poderia estar louco. – Vou assumir que seu silêncio é um sim. Isso é miasma, Shaka. – Respondeu simplesmente o canceriano, descruzando os braços e voltando a olhar sério para o jardim. – A maior concentração que já vi em toda a minha vida, é como se esse lugar não pertencesse mais ao mundo dos vivos, como se fosse o próprio Sekishiki.

Caminhou até o virginiano, e tomou o livro que estava em suas mãos. Shaka não se opôs a isso.

- Comedìa. A primeira versão del il sommo poeta, Dante Alighieri. Isso também estava aqui? – Observou com interesse.

- Não desvie do tema Máscara da Morte. – Colocou em tom sério o virginiano.

- Não estou desviando, Buda. – Colocou irônico. – Eu não sou um homem muito ligado às letras, sempre deixei isso mais para Afrodite, mas eu conheço esse livrinho aqui. - Disse sacudindo o exemplar. - Como não conheceria? É praticamente a base do meu idioma materno, além disso, esse cara, o Dante, era um sujeitinho invocado, além de grande amigo de um velho antecessor meu, CanGrande* de Câncer, um cavaleiro do final do século XIII. Hoje em dia essa obra aqui é mais conhecida como La Divina Commedia, ou A Divina Comédia, no idioma daqui.

- A representação literária mais difundida sobre o Submundo grego. – Completou Shaka, pensativo. – Embora misture com conceitos católicos.

- Então você conhece.

- Eu já tinha ouvido falar. – Contestou simplesmente.

- Apesar de CanGrande contar ao velho Dante como era o Submundo, ele fez sua própria versão, eu diria, ou eu que nunca entendi muito bem esse livro, é todo em versos, muito confuso. – Retou interesse, lançando o livro de volta para Shaka, que o apanhou, apesar de se manter de olhos fechados. – Você disse que esse Shun, o cavaleiro de bronze com rostinho de moça, foi o receptáculo de Hades. Ele assumiu esta casa depois de você, ainda tem um restinho do cosmo dele por aqui. Por esse livro, podemos dizer que ele tinha certo interesse no mundo do deus que roubou seu corpo. Algo meio masoquista se quer minha opinião. De acordo com aquela amazona, Marina, ou sei lá o nome dela, nunca me importei em saber, ele morreu fora em missão. Poucas horas depois disso nós somos ressuscitados. Olha, eu não sou nenhum gênio, senhor Buda, mas ainda assim posso dizer claramente que seu pequeno sucessor parece ser na verdade um lobo na pele de ovelha. – Seu sorriso se ampliou. – É como eu sempre digo, os quietinhos e santos são sempre os piores.

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Notas Finais


* Sim, é possível saber que horas são através da observação da Ursa Maior em relação à Polaris. Também existe uma técnica envolvendo as fases da lua. Porém, ambas são técnicas bem complexas, mas nada que Saga não se aventurasse a tentar.

* Essa é a frase que o Mestre Ancião diz quando Shiryu se sacrifica na batalha das doze casas.

* Acontecimentos referentes a Lost Canvas, a última missão de Dégel e Kárdia, que culminou na morte dos dois.

* Shunrei, no clássico, tem 13 anos. Shion foi morto há 13 anos. Temos margem para imaginar que a conversa sobre a adoção foi a última entre os dois amigos.

* Proficiente é o nível máximo de domínio num idioma que não seja o materno. Acredita-se que se ganha após em torno de dez anos de convívio com o segundo idioma.

* CanGrande era o pseudônimo de um cavaleiro medieval que realmente existiu. Ele perdeu seu pai muito jovem, e tornou-se exímio guerreiro aos prematuros 14 anos. Grande amigo de Dante, que impediu que ele fosse queimado vivo caso tentasse voltar para sua terra natal, da qual foi exilado, oferecendo-lhe abrigo junto aos seus irmãos. Dante era um sujeitinho implicante e bastante petulante, que morreu sem obter o perdão de seu exílio, mas em agradecimento ao gesto dos irmãos I della Scala, CanGrande e o mais velho dos irmãos, Bartolomeo, aparecem no livro sendo admitidos no céu, direta e indiretamente. Morreu sob circunstancias contraditórias, mas uma exumação em 2004 apontou que ele foi envenenado.

O que farão Shaka e Máscara da Morte agora? O que acontece com Kiki? Como serão os reencontros que ainda não aconteceram? Dohko se tornará avô ainda esse ano? XD O que vocês acham?

CAÇADORES DE PISTAS.
Eu quero iniciar também uma brincadeira com vocês. São capazes de identificar as pistas deixadas na estória?
Nesse capítulo, por exemplo, os livros que Shaka encontrou podem dar muitas pistas sobre acontecimentos passados e futuros. Se aventuram a encontrar?
A cada novo capítulo também, eu apontarei uma pista que vocês podem ter deixado passar em capítulos mais antigos, assim, cada vez mais vocês se tornarão melhores em identificar esses detalhes.

I - No capítulo XVI - "Tristes irmãos" - Mileta diz a seguinte frase a Lucius: "Eu vou quebrar a resistência do chuveiro e te forçar a tomar só banhos quentes que você detesta" para ameaçá-lo, tentar convencer seu marido à ir para a Alemanha. Parece uma citação bem à toa? Talvez estranha?
Acontece que essa era uma pista da identidade de Lucius. Minos, quando rei de Creta, iniciou uma viagem à Sicília para executar o inventor Dédalo. Cócalo, rei da região e protetor do inventor, convidou Minos para se hospedar em seu palácio em resposta à exigência de entregar seu protegido. Porém... Nessa ocasião, Cócalo o assassinou durante seu banho, fervendo-o com água quente. Podemos dizer que depois dessa experiência, Minos, através das reencarnações, ainda tem problemas com banhar-se em água quente.

O quê? Acharam que eram pistas fáceis? Ora! Assim não teria graça =D

Nos lemos!


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