Capítulo XC – A força de Touro -
Abriu os olhos devagar, sentindo-se desconfortável, incômodo com seus entornos, enquanto notava seu corpo inteiro restrito, como se estivesse vestindo a roupa de outra pessoa, e esta ficasse justa e limitasse seus movimentos.
“-Onde estou agora?” - Perguntava a si mesmo, estava cansado de vagar em meio ao vazio, preso a um sonho negro onde nada acontecia.
“...-Eu tinha te colocado naquele mundo para que Athena não te levasse ao Santuário, como se tu estivesses enfermo demais para sair do Castelo. Porém agora tu estás sobre tua própria conta aqui.”
“-...O QUÊ?! QUEM É VOCÊ?! POR QUE ESTÁ NA MINHA CABEÇA?!”
“...- Argh! Não berre, seu idiota, estamos no mesmo lugar, mesmo se tu simplesmente pensar, eu ainda escutaria, não há a necessidade de gritar, já tive minha suficiente cota com o Diocuro pelos próximos séculos. ”
“-Diocuro?! Isso não explica quem é vocêAIIII!!” – Uma avassaladora dor de cabeça o tomou, embora sequer soubesse onde estava sua cabeça, ou se ainda tinha uma, por mais absurdo que essa ideia soasse.
“...-Eu já disse para não gritar! Agora estamos dividindo o mesmo corpo, não há porque ficar berrando tal qual um idiota, Aquiles.”
Ia retrucar novamente, mas o nome pelo qual foi chamado o fez hesitar, engolindo em seco.
“-...Você sabe quem eu sou...Digo, quem eu era.” – Declarou, com claro desgosto.
“...-Claro, eu que tive que levar o pai de Heitor à sua tenda para que ele apelasse para que tu deixasse de arrastar o cadáver de seu filho atrás de sua carruagem ao redor de Tróia, e o devolvesse para ter um enterro digno. Tu eras um sujeitinho bem desagradável naquela época, Pégaso.”
À menção dessas palavras, Seiya não pôde deixar de ver em sua mente a imagem de um homem implorando por piedade numa cabana de guerra, um senhor de expressão abatida, que apelava a si dizendo que seu pai, Peleu, também se sentiria devastado por não poder enterrar seu filho, Aquiles. Conseguia lembrar como essa apelação conseguiu chegar ao seu coração, o fazendo chorar junto ao progenitor de seu, até então, maior inimigo, por saber que não tornaria a ver Peleu em vida, uma vez que Athena o havia avisado que se matasse o herói de Troia, encontraria a morte prematuramente enquanto ainda era jovem.
“-...Desagradável...”- Repetiu com claro desgosto. “– Você está sendo simpático, eu diria algo muito pior do que isso.”
“...- Se tu dizes, quem sou eu para dizer algo em contra” – Declarou em tom irônico.
“-...Porém, mesmo que diga isso, eu ainda não sei quem você é” – Seguiu desgostoso “– Eu não tenho todas as memórias de minha primeira vida, e sinceramente espero que continue assim.”
Porém, a conversa foi interrompida quando uma terceira voz começou a soar levemente, muito embora essa, a diferença da sua própria e da contrária, não parecia vir diretamente de sua mente.
-... Acorde, acorde, por favor, caso contrário não conseguirá mais seguir os outros como eu.
“-...Quem é esse agora?” – Questionou sentindo uma forte melancolia ao escutá-la.
“...- Como é que eu vou saber?” – A Voz respondeu com desagrado – “...Esse é o SEU sonho, não o meu”
“- Sonho?” - Repetiu desconsertado.
“...- Sim, sonho, acaso és surdo? Talvez o grito de Hera tenha feito um belo estrago contigo...”
Porém, não precisou se dar ao trabalho de responder, porque repentinamente a pessoa que tentava acordá-lo falou novamente.
- ...Por favor, acorde...
Lentamente, o mundo ao seu redor começou a clarear, estava embaixo da copa de uma árvore, acomodado sobre a terra, à sua frente, estava um jovem de não mais que doze anos. Possuía cabelos negros lisos um pouco espetados em cima, e vibrantes olhos verdes idênticos aos de Shun, não apenas em sua cor, como também na forma preocupada que o encaravam, mesmo que sua pele fosse mais pálida e suas roupas denotassem uma época mais antiga, sendo formada de uma toga grega reemendada e uma estola que caía por sua cintura, não pôde deixar de se impressionar com a semelhança que o garoto possuía com seu meio irmão perdido, semelhanças que iam além de suas orbes, pois a aura que emitia também lhe trazia a mesma calma característica do virginiano.
“-...Shun?” –Por isso, o nome acabou escapando de seus lábios, mas parecia ser que o outro não o havia escutado.
“...- É inútil, ele não pode te ouvir” – Disse a Voz. “- Talvez isso seja mais do que um sonho, talvez seja uma lembrança...”
“-Uma lembrança?!”
“...- Tens mesmo que repetir tudo que eu digo?!” – Exasperou-se.
“-É que eu já estou cansado dessas malditas lembranças!! Por quanto tempo mais minha mente tem que me castigar recordando-me que fui um desgraçado em outras encarnações?!” – Extravasou, sem saber se deveria confessar-se assim ao ainda desconhecido.
“...- Quanto a isso eu não tenho a resposta” – A Voz se limitou a contestar “- Mas eu preciso que tu acordes para que possamos sair daqui.”
“- E como eu faço isso? Eu nem sei onde está meu corpo para eu conseguir beliscá-lo!”
- ...Por que está me acordando? – Era sua voz dizendo, porém, não tinha controle sobre o que ela dizia enquanto se ajeitava melhor, encarando quem o havia despertado.
Estavam em uma área íngreme, com pouca vegetação e muito sol, por isso tinha acabado dormido quando enfim conseguiu uma área mais confortável para descansar.
Sentando-se, pôde ver que o moreno de roupas humildes e olhos verdejantes possuía atrás de si uma grande ânfora de prata de pelo menos um metro e meio, cuja boca, apesar de íngreme, possuía um raio grande o bastante para permitir a entrada de uma criança. Além disso, o vaso possuía cordas amarradas em suas alças, e estava em cima de uma placa de madeira, que numa análise melhor, era possível notar que se tratava de uma espécie de trenó com duas rodas gastas de madeira.
-...Tu és o esquisito da ânfora – Colocou com desagrado, olhando ao redor – Onde estão os outros?
“...- Que educação” – Ironizou a Voz.
“-Cale a boca...Merda, que vida é essa? Eu não lembro de nada disso....” – Impacientou-se Seiya.
-...Eles já se foram – Explicou o jovem cujo rosto fino e pele flácida demostravam que não andava se alimentando muito bem. – Eu não consegui acompanhá-los, ao levar a ânfora comigo – Indicou o grande objeto atrás de sim.
- Isso é óbvio, essa coisa é gigantesca – Colocou com sarcasmo, para então levantar de um pulo ao compreender toda a frase – ESPERE UM POUCO! Isso significa que estamos sozinho?!
“...-E ainda por cima é idiota.”
“-Eu já disse para ficar quieto! Droga, você parece o Jabu.”
“...-Quem é Jabu?”
“-Um idiota.”
O menino baixou a cabeça com tristeza.
- Infelizmente sim...
- EU NÃO ACREDITO! AQUELES IMBECIS! Nômades idiotas que não param quietos em um lugar!! – Exclamava olhando de um lado para o outro, tentando encontrar vestígios sobre onde o grande grupo que até então acompanhava havia ido.
“...- Meio que...Não é isso que os Nômades fazem?” – Ironizou novamente a Voz, fazendo Seiya decididamente se irritar.
“- Qual seu problema comigo heim, ‘’Jabu’’? ” – Contestou contrariado – “Eu nem sei quem é você, muito menos por qual razão está aqui, provavelmente na minha cabeça, implicando comigo.”
“...- Eu tive um dia muito difícil” – Disse simplesmente – “...- Em questão de minutos perdi praticamente tudo que ainda me restava” – Sua voz era entre o desgosto e a tristeza – “...-Desse modo, eu não tive escolhas se não alojar-me em teu subconsciente. Confesso que irritar-te está ajudando a acalmar-me um pouco, mas creio que tens razão, manter-nos nisso não nos tirará de aqui, então, pelo bem de ambos, tentarei ser um pouco mais colaborativo contigo Aquiles ... Além disso, apresentar-me a ti não contribuiria em nada com meus planos, provavelmente, o contrário, então chame-me como bem entendes, a mim não me importa.”
“- Eu SIM me incomodo sobre como me chamam! Eu sou Seiya SE-I-YA, não Aquiles, mesmo que eu tenha sido ele em outra vida, eu não sou mais...” –Desconversou incomodado- “-E como assim você está me provocando só para se acalmar?! Eu não sou um brinquedo, sabia!!” – Exasperou-se –“ Além do mais, que planos são esses que você tem?!”
Porém, dessa vez não obteve resposta para sua enorme frustração.
- Onde tu vais, Rodorio? – Tornou sua atenção à visão, o jovem de cabelos negros o chamava aflito enquanto o assistia se afastar.
“- Rodorio?-“ – Seus olhos se iluminaram com esse detalhe, era o nome que levava o vilarejo que cercava o santuário, e não apenas isso, era um dos nomes que ouviu ser chamado em suas visões anteriores. “-...Então, isso realmente também é uma lembrança” – Concluiu com desgosto, não estava aguentando mais essas visões intermináveis que pareciam ter como única função acusá-lo de erros do passado.
- Como sabe meu nome? – Mas a memória seguiu indiferente a seus comentários ou opiniões, nem mesmo “Jabu” havia retornado para fazer outro de seus comentos sarcásticos.
-...Bem... – O menino que tanto se parecia a Shun sorriu sem graça – Digamos que teu nome te precede.
- Está dizendo sobre quando eu fui expulso de Atenas?! – Elevou a voz, voltando-se ameaçadoramente para o menor, que apenas se encolheu quanto a isso, fazendo Seiya apenas se lamentar que nessa vida aparentemente também foi um valentão como Aquiles.
-...Eu só... – Tentou argumentar o moreno, dando alguns passos para trás assustado.
- Se eu roubei é porque EU precisava de comida! Que culpa tenho eu que nenhum ateniense idiota queria me contratar?! Diziam que eu era muito fraco para o trabalho manual! Há! – Dito isso, quis provar sua força, socando uma árvore e fazendo-a chacoalhar com a impacto de seu soco – Está vendo?! São uns imbecis, isso sim, por isso mereciam ser roubados! Tenho certeza que só não me contrataram porque sou um órfão.
-... Nós...Digo – O menino tossiu – Eu também sou órfão, eu me juntei aos nômades justamente para encontrar um lugar seguro para viver... Minha família inteira com exceção de...Mim – Disse isso meio hesitante, como se escondesse algo – Morreu por uma espécie de praga estranha, então...Eu....Não tenho mais para onde voltar.
O menino estava mentindo e isso era muito óbvio devido a expressão franzida e contrariada que fazia, se chutava internamente ao perceber que estava comparando-o novamente com Shun. O ex cavaleiro de Andrômeda também era um mentiroso horrível, sempre suava ou hesitava muito quando tentava dizer alguma inverdade, e todas as mentiras que tentou contar sempre eram para proteger alguém, em sua maioria, para não dizer todas as vezes, proteger a si mesmo de algum castigo severo de Tatsumi por algo que havia feito.
“...- Eu posso garantir que o Shun atual é muito capaz de mentir...”- A voz do pseudo Jabu tornou à sua mente, mostrando-se claramente desconfortável.
“- Você o conheceu, Jabu?” – Não gostava nem um pouco do fato de que estava conversando com alguma criatura na sua cabeça, mas dada a situação que estava preso, não tinha muita escolha que não lidar com o ‘visitante’.
“...- Infelizmente” – Respondeu simplesmente “...- Já como imperador dos mortos.”
“-Ah...-“- Foi tudo que conseguiu dizer, essa informação ainda se remoendo em seu estômago.
“...- Posso garantir-te que ele mudou bastante da figura que revela-se nesta memória” – Findou ainda receoso.
“-...Está me dizendo que esse menino é uma das reencarnações do Shun?” – Colocou espantado vendo o garoto que baixava a cabeça completamente assustado enquanto Rodorio aproximava-se mais dele, analisando-o, tendo notado, a igual que sua contra parte moderna Seiya, que o jovem estava tentando miseravelmente mentir.
“...-Sem dúvida, e se fosse para chutar, eu diria que foi sua primeira vida ” – Concluiu a Voz. “...- Além disso, mesmo com essa carinha, eu consigo sentir...” – Hesitou – “...Existe uma presença ctônica vindo dele, ctônico significa ‘pertencente ao submundo’ caso não saiba...” – Terminou com arrogância.
“- É claro que eu sei!” – Mentiu, embora tivesse certeza que Shiryu, ou alguém mais, já havia lhe explicado isso. “-...Mas então...Isso significa que Shun, desde o começo...”
“...- Sempre pertenceu a Hades, sim, exatamente” – Concordou o outro – “...-Desde o começo de sua vida ‘individual’, na segunda Guerra Santa, que foi quando o imperador dos mortos usou o corpo de um humano pela primeira vez”
“- Segunda guerra?” – Repetiu novamente Seiya, ignorando uma nova reclamação contrária sobre essas repetições. – “- Isso significa que ‘Rodorio’ foi minha segunda vida, logo após Aquiles?”
“...- Aparentemente sim.” – Foi a simples resposta que obteve.
“- E o que você quer dizer com ‘começo da vida individual de Shun’?” -Porém dessa vez ‘Jabu’ não respondeu, quando a antiga reencarnação de Shun tornou a falar, ao tempo que a antiga encarnação de Pégaso se detinha analisando a enorme ânfora.
- Nós podíamos seguir juntos, a partir daqui, já que ambos estamos sozinhos – Sugeriu ainda nervoso com toda a observação contrária.
- Eu não confio em ti. – Confessou dando alguns soquinhos na ânfora, testando seu material. – Isso é valioso por acaso?
- Por favor, não faça isso! – Disse exasperado empurrando-o e colocando-se na frente do objeto com os braços erguidos - ...Isso é...Muito importante para mim!
- Mais importante do que a sua vida, ao que parece! – Exclamou batendo no menino com o braço sem dificuldade alguma, fazendo-o cair no chão – Deve estar cheio de coisas valiosas, se tu dar-me a metade, eu permito que venhas comigo. – Com isso dito, subiu sobre o trenó para ver o que havia dentro.
- NÃO! POR FAVOR!
Porém, sem obedecê-lo, tanto Rodorio quanto Seiya espantaram-se ao notar o que havia na bendita ânfora.
Era uma pessoa, mais exatamente, uma menina, pequena e claramente desnutrida, estava encolhida, coberta com toga velha e puída. Possuía longos cabelos negros desgrenhados e mal cuidados, e um rosto fino e pálido muito parecido com o menino da ânfora.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Berrou o jovem, caindo para trás – TU ESTÁS LEVANDO UM CADÁVER NESSA COISA!!!
- Não é um cadáver! – Defendeu o menor, levantando-se e voltando a figurar protetor frente ao jarro – É a minha irmã, e ela está bem viva!
- Aquilo não parece nem um pouco estar vivo! – Exclamou, seguindo a se afastar, ainda sentado.
- É que ela está doente! – Insistiu o moreno, subindo no trenó verificando se estava tudo bem – Ela só...Está um pouco doente. Eu sei que é estranho levá-la assim, mas como é uma menina, eu tinha medo que tentassem roubá-la de mim para vender como escrava, por isso a escondi em uma das cerâmicas de meu pai e...
- Tu tens andado junto com TODOS nós com uma menina que pegou uma PRAGA?! – Exclamou, ainda se afastando, clara repugnância em sua voz.
- Ela não tem nenhuma praga!
- TU mesmo disseste que teus pais morreram por uma praga!
- Isso faz muitos anos! Eu fui criado por uma serva nossa desde então, mas nos separamos quando Peisistratos retornou ao poder de Atenas. – Seguiu defendendo-se. – E minha irmã Ática não tem praga alguma! Ela só está fraca porque estamos viajando há dias!
- “Serva” ? – Repetiu com desgosto Rodorio levantando-se – Então tu eras de uma dessas famílias aristocráticas detestáveis?! – Levantou-se de chofre – Pessoas como TU só sabiam usar pessoas como EU e meus pais que MORRERAM de tanto TRABALHAR no campo! – Virou de costas – Eu jamais viajaria com um nobre nem que minha vida dependesse disso! – Bramou começando a se afastar – Boa sorte sozinho, tu e essa enferma da tua irmã.
- Espera! Por favor! – Exclamou, mas ainda assim o antigo Pégaso não voltou atrás, seguindo a caminhar agilmente para garantir que não seria seguido.
“-...Essa menina...”– Começou a dizer Seiya, ouvindo com tristeza como a primeira vida de Shun seguia insistindo para que fossem juntos, enquanto escutava o som da enorme ânfora sendo arrastada. “-...Seria Pandora? Ou...”
“...- Athena, sem dúvida.” – Respondeu a Voz com um tom de graça “...- E pelo jeito Moros não foi nem um pouco gentil com seu destino em sua primeira encarnação humana, fazendo-a nascer na fortuna, vê-la perecer a breve idade e ainda ser cruuuelmente abandonada por seu lendário Pégaso ainda na sua infância...Pelo jeito não melhoraste muito em tua segunda vida, não é mesmo, Cavalo de Athena?”
‘Jabu’ claramente o estava provocando, mas não tinha nada com o que contra argumentar frente aos fatos que seguia sendo obrigado a presenciar.
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Orphée estava do lado de fora do salão do trono, ainda perdido em seus pensamentos, suas costas apoiada contra os grandes portões.
Apesar do poder e da ajuda que demostrou Kairos para com o cavaleiro de gêmeos contra o traidor do Hermes, ainda não se sentia totalmente seguro com a decisão de Daidalos de colocar o demônio no comando, ainda que fosse assim, era notável que o primeiro entre os espectros sabia o que estava fazendo, por isso resolveu confiar e voltar ao seu posto o quanto antes, seu sexto sentido explodia dizendo que tinha que retornar à frente do submundo o quanto antes.
Contudo, seus planos foram frustrados quando sentiu uma presença se aproximando, assumiu postura de ataque, mas logo a desfez ao localizar, vindo do céu negro, uma figura de armadura laranja, e cabelos róseos espetados, porém, o que mais chamava sua atenção eram as enormes asas de borboleta, amarelas e verdes em um tom quase fosforescente, além de seus olhos sem íris, pinks.
Myu de Papillon pousou suavemente à sua frente, e estava a ponto de se ajoelhar em uma reverência quando Orphée o deteve.
- Não faça isso, eu não tenho qualquer posição importante que mereça tal gesto – Negou fazendo o aquariano erguer seu corpo antes de curvá-lo completamente.
- Eu tenho minhas dúvidas, senhor – Disse o pintor em tom suave – Uma vez que se manteve ao lado do imperador e do submundo lealmente depois de tudo, enquanto nós desfrutávamos de uma vida mundana. Mesmo que não seja detentor de um título, ainda lhe devemos enorme respeito e gratidão.
- Eu fico lisonjeado por sua consideração Myu, mas creio que não é sobre isso que veio falar-me. - Disse polidamente, vendo que havia preocupação na face inumana.
-...Sim, na verdade eu queria saber sobre duas coisas – Além disso parecia ligeiramente constrangido e contrariado – O senhor acaba de retornar do castelo, e sabe como está a situação lá.
- Sim, de fato. Porém ainda não localizamos Hécate, principalmente devido a um novo inconveniente. – Quanto a expressão de dúvida contrária, continuou – Hermes quebrou o hospitium, e com isso, conseguiu a ira de Hera. Seu grito percorreu toda a mansão e derrubou alguns dos nossos. Mais precisamente, Sylphid, Byaku, Earheart e Chris.
- Então Laime está bem? – Questionou logo em sequência franzindo a expressão – Eu estava com um mau pressentimento de que algo tivesse acontecido.
Quanto a isso Orphée não pôde deixar de sorrir.
- Sentido de gêmeos? Porque Laime também perguntou se você estava bem. – Isso deixou o outro ainda mais sem jeito. – Não se preocupe, ele não foi atingido, está com Valentine e Violate.
- Entendo... – Confirmou parecendo de fato mais aliviado. – É desconfortável agora que eu sei quem ele é, mas isso não muda o fato de que agora somos irmãos, eu não sou como senhor Radamanthys, não consigo ignorar um laço desses assim.
- Suponho que isso era a primeira coisa que queria me perguntar – O espectro confirmou com a cabeça – E quanto a segunda?
- Senhor Minos deu ordens para que Sylphid e Iwan recuperassem a chave da caixa de Pandora – Quanto a essa informação o músico franziu a expressão – Porém eu acabei vindo no lugar de Sylphid, porque minhas habilidades de voo poderiam ser mais úteis a causa que as dele. Além disso, eu não precisava estar no castelo para espalhar por ele minhas borboletas.
- Então vocês acharam que seria uma boa ideia desobedecer a ordens e tomar decisões por si mesmos? – Tal questionamento feito enquanto Orphée cruzava seus braços e o encarava expectante da resposta fez o aquariano recordar-se inevitavelmente de seu senhor Radamanthys.
-...Eu...Bem... – Hesitou erguendo a face e encarando com honra o escorpiano – Minos não é nosso senhor, não é completamente ciente de nossas habilidades, uma vez que pertencíamos ao exército do Senhor Radamanthys, além disso, tenho entendido que o objetivo de fazer-nos reencarnar e viver plenamente foi tornar-nos algo mais do que máquinas de guerra incapazes de pensar por si mesmas.
O músico sorriu ainda mais frente ao atrevimento do austríaco. Uma impecável lógica aquariana, a nova vida tinha-lhe feito muito bem.
- Por essa perspectiva, imagino que tenha razão – Concordou simplesmente vendo como o outro se mostrava aliviado de ser absolvido – Porém me é estranho que Senhor Minos queira a chave – Comentou mais para si mesmo que para o outro. Estava ciente dos planos de Shun de usar a caixa de Pandora para selar Athena caso um acordo de paz e cooperação não fosse firmado com fim de enfrentar Chronos, o que de fato aconteceu, contudo, não fazia sentido pegar a chave enquanto a caixa em si ainda estava no santuário sem qualquer perspectiva de retomá-la.
- Quanto aos motivos eu não sei, senhor. Minos não disse nada a Iwan tampouco. A questão é que ele deu máxima importância a essa missão, e principalmente eu não quero desobedecer ordens mais uma vez, por isso, eu, Iwan, e até mesmo Mist e Rock fizermos o máximo uso de nossas habilidades para tentar recuperá-la, porém...
- Porém vocês não conseguiram – Concluiu a frase o grego, levando agora uma de suas mãos ao queixo – Isso é esperado, sendo um dos três tesouros do submundo, ela está muito bem guardada no fundo do Cócitos. Só nosso imperador e nosso único espectro marinho seriam capazes de recuperá-la.
-... Ao menos, Iwan jogando pedras para mudar em parte e curso do rio e os ventos de Mist conseguiram localizar onde a chave está – Então virou-se, apontando para a imensidão do rio cuja margem estava à poucos passos da entrada do palácio. - Está mais adiante, à esquerda, onde as águas gélidas do rio dos traidores começa a se juntar com o rio Lete. Conseguimos isolar o local, mas somos incapazes de mergulhar para recuperá-la. Nem mesmo meus fios de seda conseguiram trazê-la a superfície.
Orphée suspirou longamente, ponderando, mesmo Myu parecia desapontado.
- Infelizmente eu também não possuo qualquer habilidade que me permita um mergulho, seria como vocês, arrastado e morto pela forte correnteza, já é uma grande realização que Iwan e Mist tenham conseguido parar a correnteza. É um grande alívio ver que estão conseguindo trabalhar juntos. – Analisou calmamente olhando para a direção mencionada, embora a extensão do rio fosse tanta que não era capaz de ver onde os demais espectros estavam.
- E quanto a Ceto? O senhor disse que Chris foi nocauteada no castelo, porém, não a vimos até agora, nem mesmo quando juramos lealdade ao senhor Shun. As habilidades marinhas dela, como o senhor disse, é o que precisamos para cumprir essa missão.
- Chris Walden não será mais a espectro de Ceto – Declarou, surpreendendo o outro - Creio que está ciente que estamos a espera de mais um cavaleiro como eu, que passará a servir o imperador.
-... Brevemente, Verônica me informou da situação – Disse simplesmente.- Também ouvi Flégias resmungando sobre isso quando retornei ao submundo, além disso, vi com meus próprios olhos o que houve com a alma de escorpião, e como ela se mantém estática nas margem do Aqueronte.
Quanto à menção do fim daquela alma, Orphée franziu a expressão. Sentia certa ligação com o grego caído, por serem do mesmo signo e de épocas opostas, se as coisas tivessem acontecido de forma diferente, poderia até mesmo ter sido mestre dele, ou mesmo seu antecessor pela casa de Escorpião, isso se não tivesse recusado a vestimenta dourada e se Eurídice não tivesse falecido.
Além disso, ainda estava sua devoção sem igual a Aquário, com a qual não podia deixar de simpatizar, de certo modo, mesmo que por razões e circunstâncias diferentes. Astéria, a primeira de seu signo, havia irrompido ao submundo para trazer de volta seu ente mais querido, a mesma coisa que milênios depois havia feito por Eurídice.
Por isso, sentia uma enorme lástima pelo destino que tinha tido.
- Pois bem – Prosseguiu, deixando seus pensamentos de lado – Camus, a alma de Aquário, será quem herdará essa sobrepeliz.
Myu ampliou seus olhos sem pupilas.
- Um antigo tritão, e guerreiro de gelo, se tornar nosso espectro marinho... – Idealizou – Sem dúvidas conseguiria mergulhar nas águas do Cócitos em segundos, além de um poder que casa muito bem com sua nova função.
- Sim, porém, ainda é cedo. Verônica inda está manipulando o cadáver dele para realizar uma última missão no santuário, então ainda precisaremos esperar que Nasu traga a alma para nós, só então o novo Ceto assumirá o receptáculo que preparamos e poderá ajudá-los.
- Então não temos outra solução que não esperar – Concluiu frustrado o espectro de Papillon.
- Mas que apenas você, Myu, e Iwan se mantenham próximo ao rio, eu não me atreverei a atravessar as ordens do senhor Minos, porém, peça que os outros retornem à suas posições defensivas imediatamente caso sintam que alguma eventualidade aconteça. Temos que estar em completa atenção, sinto que algo grande ocorrerá em breve.
- Sim senhor – Confirmou fazendo uma ligeira reverencia com o corpo, para então içar voo na direção que antes havia indicado.
-...Mas eu realmente espero estar errado quanto as minhas impressões... – Disse para si mesmo, para então se desmaterializar-se, retornando assim à sua posição, junto a Cérbero e Sália na entrada dos Campos Asfódelos, depois da travessia do Aqueronte.
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Neroda chorava abertamente, sendo consolado por um neutro Krishna que passava uma das mãos em suas costas com fim de acalmar seu pequeno senhor.
-...Eu...Jamais imaginaria que meu mestre Camus...Ou melhor, a alma dele havia passado por...- Hesitou – Tanta coisa...
Estavam frente a enorme tábua de cristal translúcida na qual estavam gravados os nomes dos marinas do passado, Asclépio de Serpentário estava na frente deles e de costas para o mural, sentado no chão, a igual que todos, inclusive Poseidon. Havia acabado de contar sua história, a de Erisictão e de Astéria, além da maldição que a mesma aceitou sobre si mesma com fim de que a alma de Aquário pudesse retornar do mundo dos mortos.
- Eu sabia que aqueles dois tinham algo de especial! – Grunhiu o imperador dos mares limpando seu nariz na barra da roupa de seu servo que apesar de tudo não parecia se importar. – Não qualquer um consegue congelar Atlântida daquela forma! E mesmo adormecido eu conseguia sentir o calor que o cosmo daquele escorpiano emanava!
- Eu... - Recomeçou a dizer o deus da medicina, retomando a atenção de todos, mesmo que Isaak ainda encarasse o chão aparentemente perplexo. - Como disse, achei melhor contar-lhe isso para que saibam quem eu realmente sou, e porque me afastei de tudo, como também entender as ações de Eri, digo...De Camus...Porque elas tomaram tamanhas proporções que de certo modo - Disse lançando um olhar lateral ao perturbado Kraken - As consequências atingiram os três exércitos de algum modo, afinal, o próprio Soleil está aqui agora sob a custódia de vocês.
- Ele é o espectro que você diz que meu mestre adotou com fim de usar seu cosmo para salvar Escorpião? - Quanto a isso, Épios confirmou com a cabeça. - ...Meu mestre...- Hesitou - Ele sempre foi severo, e impetuoso no meu treinamento e de Hyoga, mas...Eu sempre acreditei que esse era seu...Jeito de se preocupar conosco, seu jeito de nos fazer forte, porém se ele foi capaz de tomar para si uma criança com o único propósito de usar sua energia... Mesmo que me digam que foi um espectro, ainda assim, é um ser humano tratado como uma mera moeda de troca. Sendo assim como é que eu posso ter certeza que ele tinha qualquer consideração real por nós? Aquele lemuriano mesmo nos disse que Hyoga está sendo usado por Chronos. Como isso aconteceu? Como é possível que o homem que considerávamos nosso pai não notou essa mudança?
As lágrimas começaram a escorrer de sua face, mas se apressou a secá-las rapidamente com a barra de sua camisa.
-...Sinceramente, eu sei que sou suspeito para defender Eri, levando-se em conta nossa relação, mas eu estive vigiando ele e Milo durante praticamente dezenove anos diretos, muito mais próximo do que fiz em anteriores vidas, uma vez que, como disse também, eles me procuraram pouco mais de um ano depois de voltarem a vida, me refiro a Eri e Kiki, e desde então eu me mantive razoavelmente próximo, principalmente de Áries, a quem ajudei a dominar minhas artes. E por esses anos e pelo que testemunhei, posso garantir sem dúvida que Eri ama Soleil como seu filho. – Confirmou aquele que agora atendia por Esculápio encarando o olhar do marina – Ele foi severo com o menino, sim, porque via no espectro a mesma inocência e devoção pelos outros e pelo seu dever que ele mesmo tinha milênios atrás quando foi Erisictão, qualidades essas que acabaram atuando contra si, sendo responsáveis diretos pelo sacrifício de Astéria. Sua alma está tão carregada de dor e de culpa, por ter que lidar uma e outra vez com as prematuras mortes de Escorpião, que tentou ao máximo ocultar seus sentimentos, que outrora causaram sua ruína – Uma pequena risada seca saiu dos lábios do deus, fazendo Kraken erguer a cabeça curioso – Infelizmente Camus não é tão bom ocultando suas emoções quanto pensa ser. Esses últimos anos, ele se focou tanto em encontrar uma cura que acabou deteriorando a própria visão rapidamente, lendo livros e mais livros mesmo entrada a noite, acabou desenvolvendo mais sintomas de estresse do que eu posso contar com os dedos de duas mãos, estava tão ensimesmado em acabar com essa maldição de uma vez, que foi incapaz de notar o que acontecia ao seu lado com Hyoga, porque quando não cuidava de Milo, estava sendo obrigado por Kiki a cuidar de sua própria saúde, e quando não, olhava por Soleil. É verdade que no começo, pude notar que Eri lidava com seu filho adotivo como se fosse uma carga, um peso, principalmente motivado por se tratar da reencarnação de um inimigo que enfrentou por milênios, mas antes mesmo que ele pudesse perceber, esses sentimentos de desconfiança, essa crença de que estava criando aquele que um dia poderia matar a todos, foi sendo subjugada pelo carinho, mesmo que oculto em atitudes severas e rígidas, que apenas tinham como função não permitir que Soleil cometesse os mesmos erros que Eri cometeu em outrora. Então eu tenho certeza que ele também amava vocês dois, Isaak, do jeito dele. E como sempre, ele se sentirá culpado pelo que aconteceu com Hyoga.
- Isso é o que você diz – Colocou levantando-se – Com licença senhor – Disse voltando-se ao seu deus que ainda soava o nariz – Eu posso me retirar junto a Havok?
-...Tudo bem – Confirmou simplesmente e assim o marina partiu na direção que indicou.- Creio que agora entendo porque Shun queria aqueles dois cadáveres que se mantiveram congelados em meus domínios – Seguiu o imperador vendo o aquariano se afastar – O corpo daquele que foi capaz de congelar Atlântida, e daquele cujo coração fervia tal qual o próprio Estige. Quando meu reino foi livrado do gelo eterno, Shun pediu esses dois que ali se encontravam em sono eterno em troca de seus serviços. Eu não me importei de fazer a troca, afinal, Shun é o deus dos mortos, teria um fim melhor para ambos.
Isso fez os olhos de Esculápio se abrirem de par em par.
- Isso quer dizer que Shun tem em sua posse os corpos caídos de Dégel de Aquário e Kárdia de Escorpião? – Colocou surpreso.
- Sim, há uns dezessete anos eu acho, talvez dezoito, eu não sei com exatidão, foi antes de eu reencarnar – Dito isso levantou-se, mesmo sem a ajuda de Krishna – Se o mestre de Isaak destruiu um deus como você diz, seu corpo irá se deteriorar em breve, sem remédio.
- Mas o imperador dos mortos terá outro corpo pronto esperando por ele em seu reino – Concluiu com pesar a divindade da medicina, erguendo-se também – Aparentemente Shun tem mesmo tudo planejado. E o único caminho que resta ao meu querido Eri é tornar-se espectro.
- Não se preocupe – Disse Poseidon com seu sorriso radiante e infantil – Se existe alguém nesse mundo que tem o que é preciso para enfim dar paz a essa alma perturbada de Aquário, com certeza é meu irmão. – Dito isso, correu na direção que seus servos haviam deixado separadas ânforas com água purificada das fontes de Atlântida – Agora eu irei para o hospital buscar os demais, certifiquem-se de ajudar Kiki para ele fazer um último favorzinho para nós antes de que enfim possamos inundar o santuário.
- Você não pode simplesmente inundar o santuário – Exasperou-se Épios tentando alcançar o imperador, cujos olhos começaram a brilhar em dourado, ao tempo que seu corpo e os objetos a sua volta começavam a perder a forma, tornando-se água. – Muito menos usar Kiki para alguma coisa pesada! Ele está muito ferido.
-Eu já disse, não se preocupe, vai dar tudo certo! – E antes que o serpentariano pudesse alegar mais alguma coisa, o mesmo desapareceu.
-.-.-.-
Havok se mantinha em silêncio, enquanto observava o rosto ainda adormecido de Kiki, que resmungava alguma coisa que soava como “maçã”. Talvez esteja com fome, pensou consigo mesmo, estudando o rosto do jovem que não tinha certeza se era humano, detendo-se principalmente em suas sobrancelhas em formato de ponto.
-...Eu não sei porque, mas isso me soa familiar... – Acabou por dizer em voz alta, deixando-se guiar por sua curiosidade, esticando a mão e cutucando o ponto sobressalente do lado direito.
-...É...As crianças costumam gostar muito das minhas sobrancelhas. – O comentário fez Havok dar um pulo em seu lugar, afastando a mão rapidamente como se tivesse levado um choque, enquanto o cavaleiro abria os olhos devagar.
– O...O senhor estava acordado?
-...Não... – Disse ainda sonolento olhando de um lado para o outro - ...Pelo menos até você falar e tocar em mim...
-...Eu...Sinto muito – Disse pesaroso.
- Não se preocupe, eu tenho sono leve, não tinha como você saber. É a sina de ser cavaleiro de Áries, imagino. – Dito isso começou a se sentar devagar.
- Eu realmente sinto muito!
- Não é nada – Disse suavemente para a criança que ironicamente o fazia se lembrar de Soleil, provavelmente devido a sua atitude tímida e educada. – Eu nem deveria estar dormindo na situação em que estamos, não sei como pude cair no sono.
- Aaah, quanto a isso, creio ser obra do meu senhor Poseidon – Declarou o menino com um claro orgulho no rosto. – Ele queria que você pudesse descansar, já que estava se exaltando muito.
- Entendo... – Disse conseguindo sentar-se completamente, e suspirando com alívio que conseguia mexer suas pernas, ou o que restava delas. – Mas é estranho que Poseidon tenha um poder desses e não tenha utilizado contra nós nas guerras santas, ao menos, eu não me lembro de ter lido sobre nenhum poder de adormecer.
- Ah, é que nosso senhor está desenvolvendo seus poderes agora que tem um corpo seu novamente, ele é muito inteligente e criativo, tenho certeza que irá criar muitos movimentos fantásticos a partir de agora! – Exclamou contente.
Sem conseguir evitar, Kiki sorriu, mesmo frente à possibilidade de que um deus conhecido como problemático e instável como o imperador dos mares estivesse ficando mais poderoso.
- Vocês são bons amigos, ao que parece, pela forma que fala de seu “senhor” – Disse virando suas pernas para fora do leito, conseguindo então ver Soleil, que ainda dormia pacificamente. – Quer dizer que dessa vez Poseidon não está possuindo ninguém, de certa forma, isso é um alívio – Findou, pensando em Shun e o quanto deve ter sofrido pela possessão de Hades, e também havia Hyoga, que fazia seu coração apertar, se perguntava se o russo era capaz de saber ou mesmo ver o que Chronos fez em seu nome durante vinte anos. Esperava sinceramente que não, mesmo que não fossem tão íntimos, era um destino muito cruel estar condenado a apenas observar.
Tal comentário, porém, fez o marina envergonhar-se ainda mais, baixando a cabeça como se censurando a si mesmo.
- Eu... – Hesitou – Sei que não deveria tratar meu senhor com tanta leviandade, mas descobrimos há pouco que Neroda na verdade é o senhor Poseidon, em seu próprio mérito, então eu ainda estou me acostumando.
-...Espera...- Seguiu Kiki abrindo os olhos de par em par – Neroda, está falando de Neroda Solo? – O menor apenas confirmou – O irmão caçula de Astrapí Solo? – Uma nova confirmação – Então...Aquele menino que estava aqui antes era Poseidon – Havok confirmou novamente, começando a sorrir com graça da expressão do lemuriano que começava a exasperar-se - Isso significa...Que eu tratei sem qualquer educação e ainda por cima ABRACEI nosso inimigo de milênios?!
- Olha...Ai eu já não sei, eu não estava aqui – Respondeu se esforçando para não rir – Mas se é verdade, deve ter sido uma cena bem inusitada.
Frente a isso, Kiki levou ambas as mãos a cabeça em sutil desespero.
- ...Ele não levou nada disso como ofensa...Levou? – Questionou aflito, recordando-se do deus que há mais de vinte anos havia possuído Julian Solo e quase submergido a terra com suas águas por ser contrariado.
- Nãaao – Negou com veemência – Meu senhor aprendeu a ser mais controlado nessa vida ao que parece – Comentou a criança com um novo orgulho – Pelo menos, em comparação aos mitos e lendas que conheço, ele parece ser bem mais razoável agora. Para ser sincero, acho que ele gostou muito de ti.
Áries não pôde deixar de soltar um longo suspiro de alívio, que fez com que Havok finalmente risse.
-... Suponho que isso é bem melhor do que despertar sua fúria.
- Aaah, sem dúvida! – Confirmou feliz o menino, balançando seus pés ainda sentado em um banco de três pernas que parecia feito de cristal como grande parte das coisas daquele reino.
Kiki então encarou a criança com um novo interesse, parecia demasiado conhecedor de seu senhor e seus entornos, isso fez uma pequena lembrança cruzar sua mente.
“- Meu filho tem quase a idade que você tinha, durante aquela Guerra Santa – Lembrava-se como Thetis tinha um olhar melancólico enquanto subiam a escadaria das doze casas, encarando o piso de mármore. - Ouso dizer que ele puxou mais a mim do que seu pai.
- Ele também é metade peixe? – Tentou amenizar o clima na ocasião.
- Na verdade ele é sim - Impôs a antropomórfica, com orgulho – Um lindo e raro peixe, um dragão marinho, em todos os sentidos.”
- Você por um acaso é filho da Thetis de Sereia? - Questionou quando esse diálogo voltou à sua mente.
Isso surpreendeu o menor, que abriu seus olhos admirado.
- Sim! - Ele confessou com sua voz agudamente feliz - Eu sou sim, me chamo Havok Seirén Von Amadeus, você conhece minha mãe?
- Você pode dizer que sim - Respondeu misteriosamente o lemuriano. - E eu sou o Kiki, só Kiki, ou Kiki de Áries para soar maior. Na verdade, vocês se parecem bastante fisicamente, embora, tenho que discordar dela, pela personalidade bem mais ponderada do que a sua mãe tem, creio que você puxou mais seu pai.
- Sim! - Confirmou com veemência - Todos me dizem isso.
- Então eu estou certo em dizer que você é um metamorfo, e além disso, é o novo Dragão Marinho?
- Sim!! - Exclamou radiante sem qualquer ressalva.- Eu sou sim.
- Entendo – Findou com um sorriso.
“Daqui vinte anos e provavelmente dois meses, escute o apelo de uma mãe, e decida de que lado tu ficarás.”
Disse-lhe Moros há mais de vinte anos, e agora aqui estava, em Atlântida, na presença do filho de Thetis, aquela que temia pelo destino de seu menino tão jovem, aquela que apelava para que os três exércitos se unissem a fim de que a guerra dessa vez fosse menos desoladora.
“...E decidas de que lado tu ficarás.”
Ao mesmo tempo, o filho não era outro que não o próprio Dragão Marinho, o líder do exército de Poseidon, a mesma escama do marina que milênios atrás foi o melhor amigo de ninguém menos que Sólon de Atenas, o primeiro cavaleiro de Áries.
Aparentemente, o destino sabia o que estava fazendo. Moros sabia o que estava fazendo.
- ... Aliás – Algo parecia ter ocorrido ao menino, levantando e buscando algo aos pés do leito, Kiki não se curvou para ver o que era, com medo de mais repuxões de dor. – Meu senhor conseguiu recuperar alguns de seus pertences que foram lançados ao mar contigo, embora um deles aparentemente não está...Exatamente...Inteiro – Disse hesitante esticando em suas mãos um códex inchado e que ainda pingava água, em cima dele, a máscara de amazona que havia pertencido à sua avó.
Com um suspiro de tristeza, abriu o livro e confirmou que as páginas escritas à tinta, e que haviam sido preservadas por milênios no altar de Sólon, agora não passavam de míseras manchas espargidas pelas intumescidas folhas. Porém, contra qualquer lógica, a máscara de prata estava perfeita e impecável, não possuía qualquer arranhão, nem mesmo a pedra preciosa de cor verde azulada que havia na testa da superfície fria parecia ter sofrido qualquer injuria.
- É uma bela máscara – Colocou Havok observando o objeto – Principalmente essa pedra, ela é muito bonita, sinto que já vi algo parecido em algum lugar.
Com o comentário, Kiki voltou a encarar o objeto.
- É uma turquesa – Disse simplesmente – No Tibete, onde nasci, é uma pedra considerada sagrada, acredita-se que ela fortalece a mente e ajuda na paz de espírito, além de emitir um misterioso poder de cura que ajuda na reconstrução das armaduras danificadas, e por consequência acelera a recuperação do usuário que a veste. Além disso, é um símbolo que representa tanto o mar quanto o céu, sendo que o mar simboliza a alma, e o céu fala da capacidade ilimitada que podemos ter.
- Nooossa!! – Exclamou com sua fascinação infantil, seus olhos refletindo o brilho da pequena pedra mais translucida que o normal – Isso é incrível!
- Por vezes, quando a armadura é muito danificada, nós lemurianos as reforçamos com alguma dessas pedras, na esperança que a vestimenta se recupere mais rápido assim, e retorne à sua força de outrora. Com o passar dos séculos, elas são absorvidas pelas armaduras, se fundindo com seu material de base, tal quais as joias no nosso mundo, que existem incrustadas na terra. – Provavelmente não era muito prudente de sua parte revelar essas informações ao general marina, mas era praticamente impossível não confiar em uma criança tão educada e simpática quanto se mostrava Havok.
- O senhor é muito inteligente! – Colocava impressionado.
- É apenas o meu trabalho e o da minha raça cuidar da manutenção das armaduras – Minimizou importância.
Porém surpreendeu-se ao ver a expressão do menor se melancolizar.
-...Seria bom que tivéssemos algo assim, meu senhor quer ir ao santuário ajudar seus companheiros, porque somos aliados agora, certo? – Foi a vez de Kiki confirmar com a cabeça – Mas...Depois que fomos atacados por Chronos algumas de nossas vestimentas foram muito danificadas, não sei como iremos fazer.
Nesse instante, Isaak, com rosto franzido e olhos levemente inchados adentrou ao recinto, surpreendendo-se ao ver o lemuriano tentando ficar de pé.
- Senhor Kiki! Por favor, não faça isso, o senhor ainda tem fraturas e uma de suas pernas foi amputada!
-Então o lemuriano acordou– Colocou com arrogância Kraken, se aproximando. - O que houve?
- Eu não posso mais ficar aqui parado, quando tudo está pegando fogo na superfície – Disse com uma nova determinação, mesmo que a presença de Isaak, que reconheceu imediatamente, o incomodasse, por mais que agora fossem aliados e não havia qualquer sinal de hostilidade vindo do mesmo, ainda mantinha sua altivez característica – Mesmo que todos os meus companheiros acreditem que eu tenha morrido, com exceção do cavaleiro de touro, é claro – Um sorriso de carinho surgiu em sua face – Geki só acreditaria em minha morte se visse meu corpo dilacerado no chão, e mesmo assim, provavelmente ele ainda tentaria reanimar meu cadáver, como bom irritantemente e perigosamente otimista taurino que é. – Então voltou-se a Havok – Eu tenho que fazer algo enquanto todos os outros estão lutando. Você precisa me levar aonde as escamas estão.
-...Você vai consertá-las? – Questionou o recém-chegado com descrença, enquanto os olhos do Dragão Marinho brilhavam de antecipação.
- Eu farei o possível, e tudo que está ao meu alcance, afinal, agora somos aliados, certo? – E sorriu ainda mais para a criança – Quem sabe, após essa guerra, possamos até mesmo ser amigos.
Sem explicação aparente os olhos do Dragão Marinho se encheram de lágrimas, aquelas palavras pareciam detonar algo em seu interior, que era incapaz de controlar.
-...Eu disse algo errado? – Exasperou-se Kiki, vendo como o menino fungava.
- Eu duvido, esse anãozinho é só um bebê chorão – Recriminou o aquariano, tomando o banco que o menor antes usava e aproximando-o do leito congelado de Soleil.
Isso fez Áries franzir a expressão em puro desgosto, lembrava com riqueza de detalhes como esse mesmíssimo Isaak o havia torturado enquanto estava em sua missão de entregar a armadura de Libra aos lendários de bronze, enquanto o chamava de “anãozinho” também.
- Desculpa...-Tentou falar fanho o pequeno pisciano – Eu não sei o que deu em mim, às vezes eu não consigo controlar minhas emoções muito bem.
- Tudo bem Havok, você ainda é uma criança, um dia você vai crescer e se tornar um grande homem, ao contrário de outros imbecis que mesmo após duas décadas continuam sendo os mesmos retardados – Com isso lançou um olhar acusador a Isaak, que imediatamente pegou a indireta nem um pouco indireta, devolvendo um olhar de claro desgosto.
- Hãaa....- Disse simplesmente o pequeno marina, olhando de um para o outro -...Obrigado...?
Já mais calmo, fechou seus olhos, e começou a concentrar seu cosmo. Kiki deixou de encarrar seu carrasco quando sentiu um formigamento em sua perna semiperdida, imediatamente olhando para baixo e soltando uma exclamação surpresa.
Haviam ramos, mais precisamente, corais róseos que se agarravam aonde deveria estar seu membro perdido, e que formavam uma bizarra espécie de prótese.
- Deve ser desconfortável, mas pode te ajudar a caminhar sem ajuda – Dito isso foi aos poucos afastando-se do lemuriano, ainda mantendo os braços erguidos, com fim de segurá-lo caso desequilibra-se. – Afinal, usando-os junto ao meu cosmo, eu consigo acessar o sistema nervoso de quem está preso a eles.
Uma expressão de dor confirmou a Kiki o que o menor dizia, era uma sensação similar ao golpe de Erictônio que invadia sua mente, porém, dessa vez a sensação não partia de sua espinha dorsal, e sim de sua perna direita, subindo por suas veias, como se fosse uma injeção dada no lugar errado, que fazia contrair todos os músculos ao redor junto a uma sensação de intensa ardência.
Ainda assim, o cavaleiro não vacilou.
-...Isso é nojento – Opinou Isaak.
- Não...- Colocou Kiki, arfante pela intensa dor, ligeiramente mareado – É perfeito. – Fez menção de dar um passo, e conseguia sentir o emaranhado marinho responder, através de Havok, num movimento torpe e manco, ainda assim, era um passo. - Simplesmente perfeito. – Então voltou-se ao autor que o encarava verdadeiramente feliz com seu cometido – Agora, por favor, leve-me até onde estão as escamas.
- Siiim! – Exclamou contente, segurando a mão do cavaleiro como se fossem grandes chegados, com o fim de ajudá-lo a caminhar melhor – Isaak, você fica de olho no nosso outro convidado.
- Claro...- Disse simplesmente, vendo como ambos começavam a se afastar devagar - ...Até que esse Kiki se tornou alguém razoavelmente útil, para quem era um anãozinho– Confessou em um sussurro, talvez por ter escutado, ou por puro despeito, o cavaleiro de Áries virou o rosto, e como se fosse uma criança, mostrou a língua para o finlandês, a recolhendo antes que o Dragão Marinho pudesse ver, e assim saíram da improvisada ala hospitalar -...Mas definitivamente continua sendo um cretino!! – Bramou irritado, sem notar que ao seu lado, Soleil começava a abrir os olhos devagar.
-.-.-.-
- GRANDE CHIFREEEEE!!!
Uma enorme massa de energia, em uma absurda rapidez, acertou em cheio o guerreiro troiano, Heitor, que se defendeu simplesmente movimentando sua lança, desviando o golpe em direção a uma colina, destruindo-a, e ainda assim sofrendo em parte pelo impacto.
- Quantas vezes mais irás lançar-me esse golpe? – Questionou o guerreiro cuja armadura dourada também começava a se refazer aos poucos, junto aos ossos de seu braço, que haviam se partindo ao desviar o movimento. – Eu já estou me cansando dele.
- Ei, ei, ei! Respeita minha casa! – Alegou Geki com expressão fingidamente ofendida, seus cabelos curtos e arroxeados já estavam salpicados de sangue, trazia um corte em seu olho direito que recém deixava de sangrar, enquanto seu nariz se mostrava completamente torto, o que dava a sua voz um tom engraçado – AGORA EGAS!
Heitor sequer teve tempo de piscar, quando sentiu uma palma quente e aberta encostar em suas costas.
- Chamas Prateadas! – Declamou o jovem guerreiro, que apesar de seus quinze anos, já era líder dos cavaleiros de de sua patente.
O troiano fechou os olhos com força, enquanto sentia como sua energia começava a ser drenada, como seu cosmo era simplesmente sugado pelo outro, que preocupado em desviar outro “Grande Chifre” não notou para onde havia ido seu segundo adversário, sequer conseguia se mexer, ao tempo que sentia cada fibra de seu corpo em ebulição.
- ISSO AÍII EGAS!! – Berrou o taurino puxando o braço para baixo com o punho fechado, em sinal de comemoração.
-...Eu não vou me render, mesmo que tenha que lutar sem cosmo! – Exclamou o troiano, tentando concentrar toda a força que lhe restava em uma única explosão – TROAR DE ZEUS*!!
Partindo de seu corpo, como se fossem um grande condutor, raios dourados começaram a ser disparados de todas as direções, forçando o canceriano a se afastar antes de ser atingido por qualquer um deles, dando um ágil salto para trás, completando com um mortal, até parar quase de joelhos ao lado de Geki.
-...Eu sinto muito não fui rápido o bastante. – Lamentou baixando sua cabeça o prateada.
Ambos os guerreiros estavam lutando próximos ao que restava da velha oliveira, todo o campo ao seu redor estava destruído, pedaços inteiros de terra erguidos, como se tivesse acontecido um grande terremoto que deslocou a terra no chão, não muito afastado da dupla, haviam ainda onze cavaleiros de prata, sangrentos e arfantes, que se dedicavam a parar um exército de quase cem homens, enquanto também se mantinham afastados dos outros três, para não serem pegos em seus golpes.
- Esse cara é uma grande dor de cabeça, como um carapanã que ‘tu’ não consegue matar de jeito nenhum. – Resmungou em um grego estranho, misturado com outro idioma.
-...Um o quê? – Questionou o cavaleiro de prata levantando-se, encarando estranhado o outro. – O que você falou?
- Nada, deixa – Retou importância com um movimento de mão.
- Eu admiro a força de vós, não qualquer um seria capaz de destruir com um soco e pura força bruta a entrada para a dimensão em que Chronos nos ocultou – Decretou Heitor, embora arfante, ainda rodeado de raios e faíscas, impedindo que seus adversários se aproximassem enquanto ainda se recuperava.
-...Hãaa...Aquilo foi um acidente, eu estava tentando te acertar na verdade – Defendeu-se Geki – Mas obrigado pelo elogio.
- Além disso, a persistência de vós é igualmente mítica, porém, quantas vezes eu precisarei dizer-vos que é tudo inútil? Meu corpo é indestrutível e-
- ‘Tá’, a gente entendeu da quinta vez que você falou isso – Colocou com firmeza, interrompendo-o. – Você não quer nos matar, porém nós não vamos deixar você passar, temos um impasse aqui meu amigo, praticamente uma disputa de vontades. Eu já lancei praticamente todos os meus golpes em ti, estou ficando sem opções!
- Não diga a ele algo assim Geki! – Exasperou-se Egas – Confessar ao inimigo que não tem mais opções é como se declarar encurralado.
- É difícil mentir quando já faz pelo menos uma hora que estamos nesse ‘lenga lenga’. – Contrariou o taurino.
- Nesse o quê?
- Se afasta que eu vou tentar a Destruição Titânica de novo – Colocou, separando as pernas que começaram a afundar na terra devido a pressão de seu cosmo.
- Outra vez?! Não funcionou da última, além de só destruir ainda mais os entornos. – Contrariou o prateado.
- Eu sei, mas eu tenho um plano, e preciso que o chão esteja bastante danificado para funcionar. – Então voltou-se ao menor – Retirar o cosmo dele não funcionou, então voltaremos ao plano B e vamos tentar retirar a alma dele.
- Já estamos no plano H justamente porque eu não pude retirar a alma dele – Seguiu em contra – Chronos deve ter selado ela dentro do corpo, para garantir que não fizéssemos justamente isso.
- Então só precisamos quebrar esse selo. – Concluiu com simpleza.
- E como faremos isso?
- Não faço a menor ideia.
O canceriano respirou fundo.
- Um plano de cada vez, primeiro imobilizamos ele, depois a gente vê a segunda parte. – Sorriu – Eu aceito sugestões, não é porque você é um cavaleiro de prata que não pode me chamar de idiota ou limitado.
- Eu jamais faria isso – Disse com polidez começando a dar espaço ao outro – Exasperante é uma palavra melhor. Se destruição é o que você quer, te ajudarei com a minha Hecatombe dos Espíritos.
- Obrigado! - E com uma intensa explosão de cosmo, as partes já rachadas do chão praticamente começaram a elevar-se ao seu comando, ficando no caminho dos raios de Heitor, que agora parecendo novamente recuperado, recomeçou a dispará-los para várias direções. - Destruição Titânica!!
- Hecatombe dos Espíritos!!
Um terremoto assolou todo o terreno, numa intensidade que fez a luta dos cavaleiros de prata parar para defender-se, enquanto seus adversários eram novamente mortos e desmembrados por placas inteiras que se moviam do chão.
Ao mesmo tempo que Egas levava a mão para trás, invocando do próprio Yomotsu almas malignas incapazes de sequer chegar ao mundo dos mortos, que imediatamente se juntaram em uma voz profundo de lamento, eclodindo sobre Heitor em uma grande explosão.
- PRECISAMOS DE MAIS DESTRUIÇÃO – Berrou para Egas que pulava de um lado a outro para não ser atingido - Supernova Titânica!!
Ainda com a mão direita, porém agora mais reta e com a palma virada para baixo, Geki invocou ainda mais poder, a terra em pedaços ao seu redor começando a se tornar pó, o campo de impacto se estendendo mais e mais, forçando Altar a correr até o corpo dos quatro cavaleiros de prata mortos, recuperando seus cadáveres antes que fossem dizimados e levando-os para uma área minimamente mais segura.
- SAIAM DO CAMPO DE IMPACTO! – Ordenou aos cavaleiros de prata que ainda não haviam conseguido retomar sua luta devido a imprevisibilidade do campo de batalha.
- Sim senhor! – Respondeu prontamente o guerreiro de centauro, seus longos cabelos ruivos voando de um lado a outro devido a ventania da locomoção das rochas – BATER EM RETIRADA!
- COMO SE FOSSEMOS PERMITIR! – Bramava o homem moreno e careca que liderava o exercito de troianos e gregos caídos.
Porém suas palavras foram cortadas quando dezenas e dezenas de rochas começaram a cair sobre todos, as quais haviam sido levadas para o alto devido ao cosmo do cavaleiro de touro que seguia rachando uma área cada vez maior de terra, pulverizando o que restava da oliveira e se alastrando para as partes rurais e a caminho do santuário.
Os abalos sísmicos já começavam a serem sentidos por dois cavaleiros de ouro que tentavam se aproximar do local.
Por sua vez, Heitor, cujos raios não eram capazes de destruir todas os detritos, tomou sua lança e a envolveu com seu cosmo.
- Mítica Durendal - A cumprida arma então começou a se afinar, engordando ligeiramente, até se tornar uma espada clássica, com a qual o troiano começou a cortar as pedras que o tinham como alvo com cortes secos e límpidos, como se a própria excalibur fosse.
- MAIS DESTRUIÇÃO! – Bramava Geki, no centro de toda aquele caos - Plêiades Nova!!
Erguendo novamente a mão direita, várias esferas de energia começaram a se formar, a partir do cosmo que irradiava do chão, da energia que se espargia até quase chegar à estrada que levava ao cemitério dos caídos, e da força que erguia a terra, até que Heitor simplesmente foi preso entre elas, como se correntes douradas tomassem seu corpo.
- ISSO É INSANO! – Berrava o cavaleiro de Baleia, tentando saltar como os demais das rochas que se deslocavam e da potência dos golpes. – Não vamos conseguir nos afastar!!
- FIQUEM ATRÁS DE MIM! – Exclamou Egas parando, esticando ambos os braços, como se pretendesse protegê-los com seu próprio corpo. - Marcha dos Espíritos!!
Erguendo ao céu sua mão esquerda, chamas azuis começaram a surgir ao seu redor, uma parecendo si mesmo, outra seu irmão, também havia uma fantasmagórica versão de Kiki, Muh e mesmo Shion, porém este último com seus olhos brancos.
- AJUDEM-ME, POR FAVOR, EMPRESTEM-ME SEU PODER! – Com isso concentrou seu cosmo, segundos antes de uma rocha de pelo menos cem metros cair sobre a cabeça de todos – MURALHA DE CRISTAL!
Dezenas, talvez centenas de muralhas se formaram ao redor do grupo prateado, quando cada uma das almas convocadas estendeu sua própria mão, invocando num sincronismo fantasmagórico o mesmo movimento, criando juntos assim uma cúpula de proteção.
Em seguida, Egas caiu de joelhos pelo esforço, mas nem a proteção, nem os fragmentos de alma se desfizeram.
-...É...Minha muralha continua sendo uma porcaria, eu seria um péssimo cavaleiro de Áries - Disse com um meio sorriso, enquanto o cavaleiro de Auriga vinha à seu socorro, seus cabelos tão ruivos quanto seu irmão de Centauro, porém mais curtos.
- Não diga isso, se não fosse pelo senhor, estaríamos esmagados agora - Confessou o guerreiro, que embora fosse mais velho, tratava seu superior com o sumo respeito que merecia.
Preso entre as esferas, foi a vez de Heitor erguer, com soberana dificuldade, sua mão direita.
- CLAMOR DE APOLO*!!
Nesse momento, porém, ao comando de Geki, as esferas começaram a explodir uma a uma, gerando um efeito em cadeia junto a um cegante clarão que simplesmente transformou a noite em dia por alguns segundos, forçando todos que estavam próximos a fechar os olhos.
E como raios ao atingir copas de árvores, chamas começaram a se alastrar por tudo, transformando o cenário numa verdadeira chuva de meteoros.
- ‘Tá de sacanagem’, fogo também?! – Surpreendeu-se o cavaleiro de touro, sendo cercado por essas mesmas chamas, com um brilho dourado superior ao rubro. – Qual vai ser a próxima, água?!
- Não...- Disse Heitor, surgindo por entre as chamas, seus braços quebrados e torcidos, enquanto arrastava uma das pernas que aos poucos retornava ao normal – Poseidon estava do lado Grego, mas eu ainda tenho golpes de Arthemis e Ares.
- Francamente – Bufou o taurino – Então essa é a famigerada Guerra de mil dias?! Eu não vou aguentar uma coisa dessas, estamos nessa há uma hora e eu já estou com fome! – Então sua face tornou a ser séria – Porém saiba que eu ainda não acabei também!
Colocou-se em postura de corrida, com os braços dobrados e pernas inclinadas, tal qual um touro prestes a atacar.
- Arena de Espinhos! – E correu na direção contrária, com os chifres do seu elmo, consertados por Kiki, apontados para seu adversário, sem se importar de cruzar o fogo que o cercava e se queimar no mesmo.
- Então venha! Vamos acabar com isso de uma vez por todas, cavaleiro! – Então reuniu cosmo, recriando sua arma, que havia sido destruída pelas esferas, porém dessa vez, ela se tornou duas facas curtas, ligadas a dois suportes para serem seguradas, forjando assim duas adagas de punho, também conhecidas como Katars, em seguida, os imbuiu em cosmo denso e perigoso. – GRAÇA DE ARES*!
Geki chocou-se com Heitor com uma força avassaladora, empurrando o troiano para trás e levando destroços de terra consigo. Em contra partida, ele socou ambos os ombros do sucessor de Aldebaran, deslocando-os imediatamente pela força do choque, ao tempo que os perfurava com a lâmina que perpassava a armadura, ainda assim, isso não deteve o taurino, que seguiu empurrando seu adversário em direção à colina onde havia uma velha casa.
- GEKI! – Erguia-se Egas exasperado.
- Senhor, essa é nossa chance de arrancar a alma dos servos de Chronos – Intrometeu-se o cavaleiro de Cérbero, seus cabelos loiros curtos e espetados até o ombro também empapados em sangue e suor. – Depois dessa demonstração, tenho certeza que Senhor Geki saberá se virar.
-...Tem razão – Concordou, mesmo a contra gosto, enquanto algumas rochas recomeçavam a se mexer, indicando que o exército estava a ponto de se reerguer.
Heitor então se chocava com o casebre, destruindo a entrada e a mesa de madeira, para só então Geki soltá-lo, fazendo-o cair no chão, arfante, enquanto o taurino, apesar do próprio cansaço e dor, se afastava olhando ao redor, seus braços agora pendidos e quebrados, sangue escorrendo por eles até o chão.
-...Esse lugar apareceu quando eu quebrei por acidente a barreira de vocês – Comentou sem deixar de analisar onde estava.
- Sim, era aqui que Chronos se refugiava quando estava cansado de atuar ser um de vós.
-...Atuar ser um de nós? – Repetiu descrente caminhando em direção a janela, além da mesa e da cadeira, o único outro “móvel” que havia era um vaso rachado, que possuía uma energia estranha emanando de si – O que quer dizer? Se refere ao traidor?
- É algo muito mais profundo que....O que vós estais fazendo? – Questionou estranhado vendo como em meio a seriedade do momento em que estavam, Geki começou a cavoucar a terra do pequeno objeto com o nariz.
- Você quebrou meus braços! – Exclamou como se fosse óbvio – O que esperava que eu fizesse?!
Heitor teria rido da absurda situação, isso se no momento seguinte não tivesse sentido a mesma energia que Geki.
- CUIDADO! – Berrou o troiano, levantando-se apressado, tomando o corpo do outro, afastando-o do vaso e jogando-se com ele ao chão.
No segundo seguinte, o vaso remexido começou a tremular sozinho, para então ramos espinhosos começarem a surgir dele, os quais teriam perfurado os olhos do taurino se o mesmo não tivesse sido afastado.
-....Mas...Que...RAIOS é ISSO?! – Exclamou o japonês em choque. – E....Hã...Obrigado por ter me salvado.
- Eu jamais permitiria que um guerreiro como tu morresse de forma tão covarde – Declarou com convicção, ajudando o mais novo a levantar-se, enquanto os ramos cresciam mais e mais, tomando aos poucos toda a casa. – Tampouco sei o que é isso, mas precisamos sair daqui.
- Éeeee...Estou contigo.
Ambos se adiantaram a saída, voltando para trás para ver como a casa de madeira era lentamente consumida pelos espinhos.
- ...Chronos sabe manipular...Coisas assim?! – Questionou confuso o taurino vendo como a coisa que pareciam ramos de rosa, sem suas flores.
- Não que eu saiba... – Seguiu desconfiado o troiano - ...Mas Chronos é um deus de muitas faces.
- Como pode simplesmente seguir um cara desses?! – Exaltou-se Geki, que fez Heitor apenas desviar o olhar – Ele não se dá o trabalho de explicar nada a vocês! Mesmo eu, que não me considero muito inteligente frente a todos os cérebros que existem nesse santuário, posso dizer que um cara ‘legal’ como você está sendo total e completamente manipulado!
- ‘Legal’? – Repetiu confuso, mas sem encarar o outro.
- É uma palavra que usamos em português para dizer “não deixe os outros te fazerem de idiota porque você é uma boa pessoa”.
-...Uma palavra tão pequena pode significar uma frase inteira nos idiomas modernos? – Questionou estranhado finalmente voltando-se ao outro – Tens certeza?
- É claro que eu tenho! – Colocou com firmeza. – Quer dizer...Eu acho!
Isso definitivamente fez Heitor rir.
- Está vendo? Só pessoas legais riem das coisas que eu digo e faço. Você não é nem de longe o estereótipo do cara mal, como aquele outro que te acompanhava.
Quanto a menção de Erictônio, Heitor tornou a franzir a expressão.
- Eu em muito estava em desacordo com Erictônio, mas não posso negar que ele também era um injustiçado pelos deuses, como eu – Dito isso, seus katars se desfizeram, dando lugar novamente a um arco e flecha, o mesmo que havia utilizado antes para queimar a oliveira. – Geki de Touro, eu realmente lamento que tenha que ser assim, porém, nada nesse mundo me impedirá de ter minha vingança contra Aquiles, e ter novamente tudo que eu perdi.
- Aquiles éh, você acha que o Seiya é a reencarnação dele, pelo que me lembro. - Seguiu o taurino – Olha, eu até te ajudo a bater nele depois se você quiser, mesmo que eu ache que isso é uma besteira, mas se isso te fizer deixar de querer destruir tudo, eu dou um jeito. – Insistiu – Eu até te daria um tapa nas costas agora, se você não tivesse quebrado meus braços...- Findou com expressão dolorosa - ...Kiki definitivamente vai me matar quando souber.
-...Tu...falas...Como se tudo fosse muito fácil – Disse por fim, apertando os punhos com força - Como se eu simplesmente pudesse esquecer que venderam a minha mulher como escrava! – Quanto a isso, lágrimas feitas de sangue começaram a se formar em seus olhos claros, enquanto tremia ligeiramente, ambos estando então completamente alheios ao fato de que um ramo se aproximava sorrateiramente pela terra destruída, em sua direção. – Esquecer que...ESQUECER QUE LANÇARAM O MEU PEQUENO FILHO POR CIMA DO MURO DE TROIA!
Estava a ponto de virar-se para o cavaleiro quando sentiu um fincar em suas costas, que logo se alastrou por sua espinha, enquanto Geki berrava seu nome.
- HEITOR!! – Exclamou, vendo com horror como os ramos se espargiam pelo corpo contrário, como criando uma prisão, enquanto seus olhos perdiam o foco.
- GEKIII!! Seus braços! - Egas aproximava-se a passos apressados, olhando com horror como o guerreiro que antes enfrentavam parecia se tornar um espantalho. -...Você...Você fez isso?
- É claro que não! – Defendeu-se com repulsa. – Isso é obra daquele repugnante do Chronos!
-...Fu...Jam... – Disse em um fio de voz o troiano, chamando a atenção dos dois.
- Sequer isso é capaz de pará-lo? – Exasperou-se Egas.
-...Não...Não é isso – Negou com a cabeça – Agora...Agora é diferente.
- Como assim?
Não houve resposta, porque no momento seguinte os ramos forçaram os braços do guerreiro a erguer-se enquanto preparava sua flecha.
- ...Ge...Ki...
- Certo, eu entendi – Disse, desviando o olhar. – Eu sinto muito, mas eu prometo que vamos te buscar quando tudo acabar. – Voltou-se ao menor - Egas, consegue fazer um Cubo Cósmico como Kiki...? As coisas ficarão ainda mais violentas agora.
- Olha... Terei que, pelo visto. – Disse, vendo como a flecha do troiano começava a arder em fogo, que absurdamente não parecia capaz de destruir os ramos que o seguravam, fechou seus olhos, concentrando-se ao máximo. – Muralha de cristal!
Para então uma, duas, três, até que seis muralhas envolveram ambos, formando um cubo perfeito.
-... É para isso que eu precisava do solo revirado – Declarou com tristeza – Espartos de Cadmo.*
Das rachaduras do solo, começaram a erguer-se mãos e mais mãos feitas de cosmo, como se seres buscassem a superfície, tentando alcançá-la.
-...M-mas...O que é isso?! São almas?! – Surpreendeu-se o canceriano vendo com assombro as fantasmagóricas mãos.
- Não. – Disse simplesmente o taurino, começando a se aproximar do seu adversário. – É o cosmo que eu dispersei pela terra durante todos os meus movimentos anteriores, tal qual Cadmo, pai de Polidoro de Touro, fez lançando os dentes do dragão que matou na terra, criando assim os Espartos, os primeiros habitantes de Tebas, e que ajudaram-no a erguer a cidade. - Dito isso parou frente a frente com a flecha em chamas, enquanto as mãos de energia se dissipavam, formando pequenas esferas, tal qual eram as da Plêiades Nova, porém menores e sem poder de explosão, que voavam em sua direção, mais precisamente, para seu braço direito. – Sabe Heitor, existe uma razão pela qual Cavaleiros de Touro lutam sem usar os punhos.
E assim, apesar do membro perfurado e ossos partidos, ergueu seu punho direito revestido de cosmo.
- ...Até mais tarde, amigo...
E então antes que a flecha que parecia muito hesitar fosse disparada, Geki acertou um soco em cheio coberto de cosmo no peito contrário.
- SENTENÇA DE ATHENA!*
Um absurdo impacto dizimou o corpo preso aos ramos, que sorriu suavemente ao ver-se livre, antes de ser convertido em nada além de pó
- Pegue a alma dele agora!! – Exclamou.
- Eu estou tentando! – Disse usando todo o seu poder para que o cubo não fosse levado pelo impacto do golpe, que além do corpo do troiano, destruiu boa parte dos ramos da estranha planta.
Não obstante, a onda de choque também desfigurou parte do monte na qual o casebre ficava, extinguiu plantações próximas, chegando até mesmo ao santuário, mais precisamente ao cemitério dos caídos, quebrando várias lápides, forçando os dois cavaleiros que estavam ali, a usarem seu cosmo para não serem arrastados também, e por fim, destruiu as escadarias que levavam ao Partenon. Porém, mesmo chegando apenas aos pés das terras de Athena, todos aqueles nas redondezas de Rodorio puderam sentir os impactos da explosão, como um tremor de terra.
E quando tudo se dissipou, Egas tinha em suas mãos, um fogo fátuo quase que completamente negro, embora as partes que ainda eram brancas se mostravam muito reluzentes.
-...É, vencemos... – Disse sem um pingo de felicidade.
-.-.-.-
Mesmo de onde estava Aldebaran pôde sentir o tremor de terra, sorrindo com satisfação.
-...É... O treinamento do garoto foi bem – Disse com satisfação.
- ISSO foi o Geki? – Disse assombrada Marin – Você tem certeza?
- Nada que um treinamento leve e três refeições diárias não façam por um homem* – Disse com orgulho, mas então voltou-se sério para Shina que novamente gemia de dor.
Estavam escondidos em meio a um pequeno bosque que se içava atrás do segundo Partenon, as costas do penhasco na qual se via as doze casas. Em seu grupo estava Marin, coberta de sangue e hematomas, e Shina que estava deitada em seu colo, que segurava contra o estomago a camiseta do taurino, tingindo-a cada vez mais com seu sangue.
Atrás do grupo, amontoados estavam várias crianças. Entre os filhos de Aiolos estavam Jack, Luke, Steven e Shun, faltando apenas Rômulo e Remo, também havia os filhos do próprio antigo guardião da segunda casa, Pedro, Isabel, Iara, Machado, Vicente, Tupi, Franscisco, Luís, João, Cadmo e Tebas, faltando apenas o mais velho, Teseo.
Essas eram as crianças que conseguiu resgatar, quando percebeu que seu enfrentamento com Aiolos não estava levando a lugar nenhum, junto ao atual cavaleiro de Urso, o mesmíssimo Teseo, planejaram então separar-se, quando Rômulo abriu as portas do Partenon permitindo que as flechas de seu pai entrassem a esmo no grande salão.
Por Zeus não possuíam nenhum morto, apesar da situação critica de Shina, porém sabia que não podia se alegrar com isso, pois ainda não sabiam que fim havia tido os gêmeos, além do destino de seu próprio filho. Sem mencionar que ainda haviam Suisho, Ailá, Ikki, Kassius, Lucca, Ícaro, Regulus, Berenice¹, Seishuu, Rangyoku, Giotto, Faye, Maez, Olivie, Mia e o pequeno Yong, de crianças no santuário cujos paradeiros eram completamente desconhecidos para eles.
- E você Aldebaran, está bem? – Questionou preocupada a amazona.
- Por que eu não estaria? – Disse sorrindo, apesar de possuir duas flechas fincadas nas costas, enquanto uma estava presa próxima ao seu ombro, não obstante, um de seus ouvidos também estava pela metade. – Eu treinei muito minha resistência a veneno depois que voltamos da morte, quanto a isso não tem que se preocupar. E você parece muito bem também para quem foi altamente envenenada.
- Quando se sobrevive ao jardim de rosas de Afrodite, acredito que se ganha certa resistência a venenos – Comentou fazendo referência a batalha das doze casas, conseguido fazer o taurino rir, para depois tossir por isso. – Porém, eu confesso que não sinto mais minhas pernas.
- Chame Shina de gorda e ela vai levantar só para te matar – Brincou indicando que a razão da dormência era porque a ariana estava deitada em seu colo, porém, não obteve qualquer resposta da mesma – Não se preocupem – Disse elevando a voz, principalmente para as crianças que se abraçavam assustadas - Tenho certeza que em breve a ajuda virá, sejam forte até lá! Como seu pai!
-.-.-.-
Por outro lado, Teseo respirava arfante, sozinho, no meio do coliseu, suas pernas tremiam enquanto engolia em seco, tinha conseguida afastar Aiolos dos demais. Como recompensa, sabia que iria morrer, como um herói, sim, mas ainda assim morrer.
À sua frente, a figura era irreconhecível, seus cabelos estavam desgrenhados, completamente empapados de sangue, à igual que a armadura de sagitário, que por alguma razão não havia abandonado seu mestre, talvez também fosse atingida pelo Miasma, ou simplesmente não queria abandonar seu dono em meio a essa caótica situação.
Seja como fosse, era a única coisa, junto a sempre presente faixa vermelha amarrada na testa, que realmente apontavam que aquele homem de expressão vazia era o Aiolos que todos amavam.
Engoliu em seco, armando pose de batalha enquanto o mencionado tornava a erguer seu arco.
Se fosse para morrer, morreria lutando.
E de uma semente presa nas roupas do arqueiro, alguém assistia todo o espetáculo.
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