História Há Muito o Que Virar - One Shot

Por ter mentido para todos que eu amei, viro uma dose.

Por ter enganado todas aquelas que optaram por amar um crápula que nem eu, viro uma dose.

Por ter me destruído a um ponto onde eu sabia que não havia volta, viro uma dose.

Por ter optado em destruir a felicidade alheia, viro uma dose.

Meu corpo entra em combustão interna. Uma queimação me sobe a laringe e infesta minhas narinas. Não sei se é minha alma iracunda e guerreando com minha carne. Não sei se é efeito dessa bebida desconhecida e hipnotizante. Não sei se é, também, meu fígado imprestável se degradando – mais ainda.

Caio no chão do bar. Cuspo vermelho sem pestanejar. Sangue velho, pecaminoso e contaminado. Ninguém me presta socorro porque ninguém percebe quem se senta nos fundos, nos escombros empoeirados de um bar secular. Só os miseráveis, grupo do qual eu me encaixo, e ainda recebo olhares desdenhosos de soslaio.

Não emito barulho. Mas não por falta de tentar. Foi porque a vi.

– Fostes um menino mau, criança. Bem mau. – A morte soprou. – O que tens a dizer em tua defesa?

– Eu espero que haja cerveja no inferno, porque ainda há muito o que virar.