Hospital, Long Island
13:30 A.M.
Point of View Sophie Prescott
Um clarão. Era apenas isso que eu enxergava. Talvez um pouco de fumaça ou um tipo de Névoa, mas pode ser apenas um problema com minhas vistas. Aos poucos, minha visão borrada estava se estabilizando, fazendo eu piscar repetidas vezes. Merda, o que eu estou fazendo aqui?
O quarto branco e os estabilizadores apitando meu ritmo cardíaco ao meu lado não enganavam ninguém, eu estava num hospital, a questão é: Por que diabos eu estou aqui?
Olhei a decoração do quarto. O pequeno bidê ao meu lado me chamou atenção. Em cima dele, havia um vaso de vidro onde grandes ramos de N1Camélias descansavam. Pendurado em uma das folhas havia um cartão branco. Com um pouco de dificuldade por causa dos fios grudados em meu peito, estiquei um de meus braços e o peguei.
“Desculpe pelo acontecido no ônibus. Você está bem?
Caso aja algum problema, me ligue:
0800 XXXX XXXX
–Leo Gostosão Valdez
P.S. : Você ronrona quando está dormindo.
Que fofinho, parece um gatinho hahah :P ”
Que? Quem era esse mesmo? Leo, acho que esse era o nome daquele cara que me salvou daquela coisa. E aquela coisa.... Mas que diabos era aquilo?! Eu fiquei doida ou eu realmente vi um monstro muito parecido com uma cobra gigante?!
Desesperada por explicações, eu relia o pequeno bilhete, tentando decorar aquele número de telefone, a porta branca do quarto em que eu estava se abre, fazendo um barulho bem parecido que qualquer porta velha fazia, e assim vejo o rosto preocupado de minha tia na qual não via a anos.
– Sophie! –disse ela correndo até mim e me envolvendo em um abraço apertado –Que bom que você está bem! Eu fiquei tão preocupada! Você mal chegou nos Estados Unidos e já foi atacada!
– Tia, você está me sufocando…. –falei com dificuldade, e logo o aperto de minha tia se desfez.
– Ah, desculpe –respondeu ela sem graça –Mas é por que tanto tempo que eu não te vejo, está tão grande, tão bonita, chegou aos Estados Unidos a tão pouco tempo e você já foi vítima de ataque terrorista!
– Ataque terrorista, mas aquilo não foi nem um pouquinho parecido com um ataque terrorista, aquilo era.... Um monstro!
– Os médicos disseram que há indícios que você tenha batido a cabeça durante o conflito, então é provável que você esteja com as memórias um pouco turvas, quase que irreconhecíveis, mas não se preocupe, você ficará bem. –disse ela com um sorriso tranquilo no rosto, fazendo meu coração palpitar dolorosamente de saudade de minha mãe.
Eu sei que provavelmente mais sensações como essa virão quanto mais tempo eu ficar longe de minha família, meus amigos e namorado, mas quando eu olho para a tia Martha, eu não consigo evitar de identificar praticamente o mesmo olhar que minha mãe fazia para me passar segurança e conforto. As íris castanhas com um brilho de ternura, salpicados com uma dose de carinho, o mesmo olhar que minha mãe sempre fazia quando olhava para mim, olhar para os olhos da tia Martha era o mesmo que viajar para o outro lado do oceano, era como se eu estivesse na presença de minha mãe.
– E mamãe e papai? Eles já sabem do ocorrido? –perguntei um pouco preocupada.
– Já, e estou surpreendida pelo fato de sua mãe não tenha vindo a braçadas pra cá, por que realmente, pensei que ela ia ter um ataque cardíaco ou algo do tipo quando estava no telefone... –respondeu minha tia rindo, imaginando a cena que sua própria irmã havia feito.
– Ai.... É capaz dela vir em questão de segundos para os Estados Unidos só pra me obrigar a voltar....
–Hahah eu realmente não duvido nada que venha da dona Safira. –falou ela rindo em seguida e logo pondo os olhos nas flores que haviam ao meu lado e abrindo rapidamente um sorriso malicioso –Ah, você é tão rápida, mal chegou em solo americano e foi pegando os boys por ai.
–Hahah não se engane tia, mas falando nele, você o viu aqui no hospital? O cara que deixou essas flores? –perguntei curiosa com a resposta, quero saber exatamente quem esse sujeito é.
– Vi sim, apenas as costas, mas o vi, acho que o conheço de algum lugar, você sabe o nome dele?
Antes de responde-la dei uma rápida conferida no bilhete para ter certeza se era aquele mesmo.
– Leo Valdez, é o que diz no cartão. –respondi minha tia ainda com os olhos presos no cartão, olhando fixamente para aquele nome e número de telefone.
– Ah sim! Bem que conhecia aquele corpinho magrelo de algum lugar, ele é o mecânico mais bom, confiável e popular de New York, é bem comum pessoas de Long Island e New Jersey procurarem apenas ele para arrumar seus carros ao invés dos mecânicos de sua região.
– Então ele é um mecânico?! Então é por isso que ele estava sujo de graxa quando nos conhecemos. –falei recordando-me plenamente de como eu conheci aquele homem latino.
– Agora entendo, ele provavelmente não está mesmo interessado em você, pois a namorada dele é linda! Parece uma deusa grega de tão bonita. –minha tia disse entusiasmada coma conversa –Mas faz um tempo que eu não a vejo na mecânica, provavelmente deve estar cuidando dos filhos.
–Filhos?! –falei aumentando um quarto da minha voz por tamanha surpresa.
–Sim, filhos! Ela me disse que há uns 2 ou 3 anos que ela e Leo estavam noivos, agora provavelmente os dois devem estar casados e com uma família formada ou esperando um filho, nunca vi casal mais perfeito que aquele.
–Você se lembra do nome dela? –perguntei um pouco aflita.
–Pelo o que me recordo, creio que é Calipso.
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Raios solares alaranjados invadiam o quarto de paredes brancas do hospital, anunciando que um próspero pôr-do-sol que acontecia nesse exato momento. Com curiosidade para ver meu primeiro pôr do sol em solo americano, andei até a janela um pouco gasta do quarto para observar melhor a paisagem. A vista que o hospital não era a das melhores e proporcionava mais a visão de prédios do que do céu, mas mesmo assim, eu conseguia ver plenamente o crepúsculo formando-se na frente de meus olhos. Encostei minha testa do vidro da janela, sentindo um lampejo gélido em minha pele. Suspirei cansada. Admito que minhas expectativas para o primeiro dia em New York não saíram nada a ver com o planejado, ao invés de compras e diversão eu passei a tarde inteira deitada numa cama de hospital olhando seriados de TV totalmente sem graça de tão entediada que eu estava e por fim, vi o pôr-do-sol no lugar menos atrativo que eu queria estar. Eu não queria estar com essa aura deprimida ao meu redor, mas eu não podia evitar, meus planos foram totalmente arruinados, tudo graças eu ter pegado aquele ônibus maldito, sério, eu não podia ter esperado um ônibus melhorzinho passar por ali ou ao menos deixar de ser pão dura e ter gritado para um taxi parar e me levar até Long Island?
Ainda tem o acontecido com Leo Valdez e aquele estranho monstro que perturbará meus pesadelos á noite. Eu sinceramente não acredito que aquele ser humano latino que deu em cima de mim descaradamente e me deixou totalmente constrangida por ter agido feito idiota, tinha uma namorada –ou melhor, esposa ou noiva –comparada a uma deusa grega, que provavelmente estaria esperando um filho dos dois, ou já estaria um nos braços tendo provavelmente 1 ou 2 anos. Não que eu esteja gostando dele, é claro, isso é tecnicamente impossível, pois sinceramente não acredito em amor à primeira vista, além disso, tenho um namorado que eu amo na Inglaterra, eu apenas quero respostas do que realmente tenha acontecido naquele ônibus.
Zzzzzz. O barulho do meu celular vibrando –na qual minha tia havia entregado para mim clandestinamente, já que pacientes em observação não podiam usar aparelhos eletrônicos dentro do hospital para não incomodar os demais presentes –fazendo com que eu desencostasse minha testa do vidro e ir em direção ao meu travesseiro, já que o aparelho estava escondido embaixo dele. Desbloqueei a tela, notando as notificações do WhatsApp
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Mamãe 05 mensagens não visualizadas
Thomas 10 mensagens não visualizadas
Katrine 5 mensagens não visualizadas
Lukas 9 mensagens não visualizadas
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Mamãe
“ –Sophie! Você tá bem meu amor? -13:40
–Me responda assim que possível, tô muito preocupada :’( -13:40
–Eu sabia que não era boa ideia você ir pra outro continente sozinha! -13:42
–Se esse curso de fotografia não der certo, você volta pra casa imediatamente!!! -13:45
–To avisando, me responde logo!!! -14:50
20:15 – Desculpa mãe, é que aqui nesse hospital é proibido usar telefone.
20:15 – Mas a tia Martha me deu escondido ^^
20:17 –Eu to bem, não se preocupe!!!
20:17-Não vou sair dos Estados Unidos até completar meus 500 dias aqui, mesmo que toda vez que eu pegar um ônibus seja vitima de um ataque terrorista!!
20:19 –Brinks :D
20:19 –Mas sério, vocês sabem que cursar fotografia aqui é meu sonho dês dos 12 anos, não vou desistir dele tão rapidamente.”
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Thomas
“– Eai, como você tá? -08:30
–Deu tudo certo na viagem -08:30
–Mamãe e papai estão em um chororo desgraçado -08:33
–Sério, muito obrigado por me fazer acordar nesse inferno particular. -08:34
–Admito que também estou com saudades -08:36
–A sua falta é notável aqui pirralha ;P -08:37
–O QUE DIABOS ACONTECEU AI????? -15:18
–Acabei de chegar do trabalho e dei de cara com a mamãe arrumando as malas pra ir te buscar!! -15:18
–Sério, você foi vitima de um ataque terrorista?! Você ta bem????? -15:24
20:22 –To bem, mané, não fica se preocupando atoa ;)
20:22 –Foi só falta de sorte, agora tive que passar meu primeiro dia nos EUA em uma cama de hospital :P
20:23 –Cuida da mamãe e do papai ai, não deixa eles se preocuparem tanto comigo assim.
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Katrine
“ –Oieh!! -09:44
–Como foi a viagem?? -09:44
–Tem muitos boys bonitos ai? -09:45
–Ouvi dizer que você foi vitima de um ataque terrorista. -18:11
–Vc ta legal? -18:11
20:26 –to legal
20:26 –tem umontão de homens bonitos aki
20:27 –Mas eu só tenho olhos pro Luke <3”
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Lukas
“ –Oi amor -06:04
–Chegou bem ai? Espero que sim <3 -06:05
–Acordei agora, to indo me arrumar pra faculdade -06:05
–Primeiro dia sem você e já to com muuuita saudade -06:07
–Nos falamos mais tarde, te amo <3 -06:08
–Sophie!! Pelo amor de Deus me diz que vc ta bem!! -13:48
–Me disseram que vc foi vitima de um ataque terrorista -13:48
–To muito preocupado :´( -13:49
–Responde assim que puder -13:50
20:32 –Calma Luke eu to bem!!!
20:32- Não precisa se preocupar tanto
20:33 –To com saudades tb <3
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Sorri enquanto olhava para a tela, gosto de pensar que as pessoas que deixei na Inglaterra se preocupam comigo e com meu bem-estar, pessoas que eu se eu errar, cair, ir pro fundo do poço, eu sei que posso contar com eles para me puxarem de volta para a luz. Ficar 500 dias longe desse pessoal será realmente um grande desafio, pois a saudade dessas pessoas que eu amo tanto me atinge de uma forma quase inexplicável.
Com preguiça, notando que já havia anoitecido completamente lá fora, sentei em cima da cama, colocando os cobertores de malha grossa sobre minhas pernas. Um leve cutuco irritou minha pele me chamando a atenção, notando que era o cartão na qual Leo havia escrito. Tinha me esquecido que não – havia o guardado.
Peguei o pequeno papel encarando a caligrafia na qual aquele homem havia escrito. Não havia notado antes, mas as letras estavam um pouco tremidas, pois provavelmente o latino havia escrito naquele cartão com pressa, o motivo eu não sei, mas a curiosidade em saber era imensa.
Encarei o número de telefone na qual ele havia anotado que eu estivera a decora-lo quase a tarde inteira enquanto olhava as séries.
Eu ligo ou não ligo? Eis a questão.
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