História Heartbroken - Capítulo 30 - Carta

Engoli em seco ao ver a terra tampando o caixão no chão aos poucos. Não dava para realmente acreditar que era Trisha que estava ali dentro. Apertei com força a mão de Zayn e o mesmo retribuiu o aperto, mas ele estava distante. Seu olhar estava vazio ao observar o caixão da mãe sendo enterrado. Não dava para saber o que ele estava sentindo. Ele tinha perdido toda sua família e eu não sabia como consolá-lo. A única coisa que eu poderia fazer era ficar ao seu lado para qualquer coisa que ele precisasse, e esse papel eu iria cumprir.

 Só havia nós dois no cemitério. Ele não quis chamar mais ninguém e não opinei sobre isso, e nem ousaria.

 - Ela disse que queria ser enterrada, e não cremada. – Disse ele vagamente. – Queria que seu corpo continuasse intacto á terra, que sua forma se fosse vagarosamente. Assim como ela conseguiu tudo que conquistou, vagarosamente. Ela sempre disse isso para mim. – Ele suspirou. – Acho que realizei um de seus poucos desejos.

 - Ela também queria que você fosse forte e você deve cumprir isso. Está cumprindo. – Ele riu com desgosto.

 - Será que estou? – Perguntou para si mesmo e eu o observei.

 - Claro que está. – Virei-me para ele. – Você vai dar conta de tudo.

 - Queria que isso fosse verdade.

 - Mas é. – Fui até sua frente e o forcei á me olhar. – É a mais pura verdade. – Ele comprimiu seus lábios e abaixou a cabeça.

 - Eu perdi minha família Cindy. – Sua voz tremeu levemente. – Minha família... – Ele desviou o olhar.

 - Você ainda tem á mim. – Disse com toda a certeza. – Você não vai perder á mim. – O abracei e ele retribuiu hesitante.

 Por fim ele pôs rosas brancas no túmulo recente de sua mãe e resolvemos ir embora.

 Ao chegar perto do carro no estacionamento quando já tínhamos saído do cemitério ouvi alguém chamar pelo nome de Zayn e o mesmo virou. Era a secretária de Trisha.

 - Sr. Malik. – Ela se aproximou. – Sua mãe antes de ir... – Ela parou e se recompôs. – Ela pediu para te entregar isso. – Ela se aproximou dele e lhe entregou um envelope branco. – Sinto muito que não tenha dado tempo dela mesmo lhe entregar isso.

 - Ela não o teria feito mesmo que tivesse dado tempo. Ela ainda escondia muitas coisas. – Ele pegou o envelope. – Obrigado. – A secretária assentiu e se despediu.

 - Deve ser importante. – Disse enquanto via ele observar o envelope.

 - Temos que ir. – Disse olhando ao redor. Assenti e fomos entrar em seu carro, até que ele parou e começou a olhar atentamente para uma direção.

 Seu maxilar enrijeceu e ele começou a se aproximar da direção.

 - Ei! – Gritou e começou a correr na mesma direção que um carro dava partida, saindo em disparada.

 - Zayn! O que está fazendo?! – Gritei por seu nome. Ele parou perto da rua e ficou observando o carro ir embora.

 - Zac... – Murmurou vagamente.

 - O que? – Me aproximei rapidamente dele. – O que foi?

 - Eu vi... – Ele parou e se recompôs. – Nada. – Se virou e voltou para o carro.

 - Zayn, você está bem? – Segurei em seu braço e ele me encarou por segundos.

 - Não. – Respondeu abruptamente. – Alguém estava nos vigiando e eu juro que eu vou descobrir quem é. Eu estou cansado disso tudo. Eu vou matar quem matou meus pais e meu irmão, eu juro por Deus. – Ele parecia delirante. – Eu juro... Eu vou matar. – Suas palavras não pareciam ter convicção.

 - Se acalme, por favor... – Fui pegar em sua mão mas ele a afastou abruptamente.

 - Eu não preciso me acalmar! Eu não vou me acalmar! – Ele aumentou seu tom e me distanciei. – Eu estou farto de pessoas me observando a todo momento, de pessoas mentindo para mim, de pessoas me deixando... Eu estou farto. – Parou por um momento. - Cindy, eu preciso que vá embora. – Encarei ele surpresa.

 - O quê?

 - Eu vou te levar para casa e depois... Eu vou ficar sozinho.

 - Você não pode ficar sozinho nesse estado. Zayn, você precisa de ajuda.

 - Eu preciso ficar sozinho. – Estava com seu maxilar travado e suas mãos tremiam em seus punhos fechados. Assenti, eu não iria contrariá-lo.

 O caminho até ele me deixar na casa de Grace foi silencioso. Eu não iria perguntar o que estava havendo com ele, pois eu já sabia. Ele tinha passado por muitas coisas e eu tinha que deixa-lo sozinho para pensar sobre tudo. Mas a ideia ainda assim me assustava. Deixá-lo sozinho no estado que estava era perigoso, mas eu não queria ousar contrariá-lo. Era a vida dele, ele que deveria saber fazer suas escolhas e eu não iria opinar sobre isso.

 Ao chegar vi que Grace parecia preocupada. Perguntei o motivo e ela dissera que sua mãe tinha saído e não tinha voltado. Claro que ela já estava acostumada com a ausência da mãe, mas não nesse momento. Ela tinha motivos para ficar como estava.

 - Mesmo ao fazer turnos extras, ela nunca deixou de atender minhas ligações... Nunca. Mesmo sendo que raramente eu ligava para saber como ela estava, ela nunca deixou de atender minhas ligações.

 - Ela não está em turno de trabalho? – Indaguei.

 - Não. Hoje é folga dela, até me surpreendi. Ela disse que iria fazer compras para fazer um jantar para a gente, mas ela saiu de manhã e já é de tarde. Cindy eu estou com medo. Com tudo isso acontecendo eu não sei o que pensar. Mesmo tendo feito pouco tempo que ela saiu eu não... – Ela suspirou. – Eu a procurei por todos os mercados e não á achei.

 - Não precisa tirar conclusões precipitadas. Talvez aconteceu algum imprevisto, vai ficar tudo bem. – Ela comprimiu seus lábios e assentiu levemente.

 - Eu tinha pedido para ir mas ela me impediu. Parecia ter urgência no modo que ela falava. Eu realmente... – Ela foi interrompida pelo toque do celular. A mesma atendeu imediatamente.

 ‘’Mãe?!’’ – Ela ficou em silêncio por um momento e seus lábios tremeram. - ‘’O que vocês vão fazer com ela? Alô? Mãe? Está tudo bem com ela? Por favor! Não! Mãe!’’

 Seus olhos estavam arregalados e ela deixou seu celular cair no chão.

 - Eles á levaram.

XXX

Zayn Malik P.O.V

 Ao chegar em casa estacionei o carro e abri lentamente a porta e a fechei. Subi as escadas ainda no escuro. Eu não queria iluminar os cômodos para ver o que aquelas pessoas tinham arruinado quando mataram minha mãe. Subi até o sótão, o lugar que eu costumara ficar sozinho.

 Encarei o piano á minha frente e logo depois a carta em minhas mãos. Eu poderia rasga-la e nunca saber o que minha mãe houvera escrito nela. Ou poderia lê-la e sentir-me vazio por dentro, por saber que minha mãe não teve coragem de chegar até mim e dizer tudo. Ela tinha dito, mas ainda escondia muitas coisas. Coisas das quais eu não queria enfrentar sozinho para descobrir. Mas no fundo eu sabia que não estava sozinho, mas tinha pessoas á minha volta que eu não queria colocar nisso e machuca-las. Mas parecia não ter mais nenhum caminho que eu poderia escolher agora.

 Sentei-me no banco á frente do piano e rasguei o envelope, pegando a carta com folha meio amarelada e encarando as letras de minha mãe que pareciam indecifráveis. De alguma forma eu me sentia assim também, indecifrável.

 Respirei fundo e comecei a leitura que poderia me mudar de alguma forma.

‘’Desculpe,

Desculpe por fazer você ler essa carta agora, com as palavras que eu poderia ter dito antes para você. Poderia ter arrumado coragem suficiente para dizer tudo que você precisasse saber. Mas eu fui fraca. Se agora você esta tendo que ler essas palavras inúteis, é porque eu já fui. Fui levada de você. Não sinto orgulho de ter te deixado e muito menos de ter mentindo e omitido tantas coisas á você. Eu não sou a pessoa que acha ser ou a pessoa que queria que eu fosse. Eu sou apenas um personagem no meio disso tudo. Eu perdi tudo que eu tinha antes e consegui reconstruir tudo, só que de uma forma errônea. Assim como seu pai fez. Assim como seus pais fizeram. Me perdoe por ter que admitir tudo agora que te deixamos sozinho. Seu pai te amava muito, assim como eu. Seu irmão também Zayn, mas Zac foi vencido pela ganância, que outrora também tinha vencido seu pai. Mas eu consegui tirar seu pai disso, mas a ganância não saiu dele. Continuou com ele até a sua morte e foi passada á você. Só que de forma que você pudesse consertar todos os erros dele. Me perdoe mais uma vez e perdoe á ele também, por ter te passado essa herança cheia de dor e responsabilidades. Responsabilidades das quais você terá que lidar por si mesmo e dor que você terá que sofrer. Sei disso pois passei pelas mesmas coisas com o seu pai. E tenho a certeza que você irá passar por isso com alguém do seu lado. Mas me perdoe por ter sido tão cedo e tão de repente. Seu irmão não se foi Zayn, você deve saber disso. Apenas o irmão que você pensou conhecer que se foi, agora ele é outra pessoa. Pessoa que você irá conhecer em breve e inconvenientemente. Ele traiu á todos e irá te trair também. Tome o máximo de cuidado que você pode conseguir ao lidar com essas pessoas. Eles apenas querem te derrubar e te destruir. Querem uma coisa que seu pai roubou á anos. Eles anseiam por isso á muito tempo e se fortaleceram o bastante para conseguir isso á custas de tudo.

Hilary, minha secretaria, irá te guiar no que precisar. Tome cuidado em quem confiar. Você tem algo muito importante que precisa ser protegido com todas as suas forças. E isso está em um lugar que apenas você conhece. Pegue-o, guarde-o e fuja. Fuja para longe e quando eles te encontrarem, tenha a certeza de ser forte para conseguir detê-los.

Eu amo você Zayn Malik e espero que consiga fazer um bom trabalho.’’

 Tirei a carta de minha visão e á amacei com toda a força em meu punho. Uma lágrima desceu sem permissão e limpei-a. Observei o cômodo ao meu redor e finalmente me dei conta de que tudo tinha acontecido. Eu estava tendo um bloqueio dentro de mim, eu deveria pelo menos ter algum. Ou pelo menos algum controle de tudo, mas eu não o tinha. Eu não tinha nem ao menos algum resquício de noção de quem eu era. Mas agora eu poderia consegui-lo.

 Eu não tive a escolha de decidir quem eu queria ser, o que queria seguir. O meu caminho já tinha sido trilhado e programado por pessoas que eu achava conhecer. Eu achava que conhecia minha mãe, minha família. Mas tudo fora uma ilusão. Apenas uma encenação de uma família enterrada em farsas e mentiras.

 Eu só queria que nada disso estivesse acontecendo. Mas eu não tinha essa escolha, eu tinha apenas que seguir com tudo e tentar ou fingir ser forte. Eu precisava. Agora eu sabia o que tinha acontecido. Meu irmão não tinha morrido. Ele ainda estava vivo e contra mim. Eu não tinha feito absolutamente nada e tantas pessoas estavam contra mim, querendo me destruir e eu não fazia a mínima ideia de quem eram, só que eu deveria lutar contra eles.

 Respirei com dificuldade e joguei aquele papel no chão. As responsabilidades finalmente e infelizmente havia caído com tudo em minhas costas e senti uma raiva incontrolável. Eu queria destruir tudo á minha volta.

 Bati com força contra as teclas do piano fazendo um barulho enorme. Levantei-me e chutei o banco que antes eu estava sentado. Olhei para as paredes grafitadas por mim e senti que eu havia perdido que eu era antes. A pessoa que tinha feito os grafites não existia mais, não poderia existir. Olhei para as cordas do piano e vi que havia alguma coisa incomum lá. Toquei todas as teclas do piano e vi que havia uma que não saia som. Nessa corda tinha algo que estava preso á ela. Aproximei e vi que era algum objeto pequeno.

 O tirei de lá e vi que era um pendrive. Agora eu sabia o que minha mãe queria dizer com tudo aquilo sobre eu ter a coisa que meu pai tinha roubado. Era isso. Isso era o que aquelas pessoas estavam procurando. E agora era o que eu tinha que proteger arduamente. A informação que havia neste pendrive era a causa de tudo que estava acontecendo á mim.

 Escutei meu celular tocar, me tirando de meus pensamentos. Vi que era Cindy e atendi rapidamente.

 ‘’Cindy, precisamos conversar. Temos que ir embora’’ – Fui direto e ouvi sua respiração ofegante do outro lado da linha.

 ‘’O quê? Não Zayn, não podemos. Eles levaram a mãe da Grace’’

 ‘’O quê?’’