Eu aproveitei todo o tempo livre que tive para treinar com Logan. Ele me ensinou mais sobre luta corporal e me ajudou a melhorar minha pontaria com a arma. E mesmo quando eu não estou com ele, eu treino. Quanto mais eu treino mais eu me sinto preparada para resgatar Justin.
– O que faz acordada? – ouço a voz de Logan atrás de mim.
– Treinando – respondo e logo em seguida atiro no alvo que Logan colocou no quintal da casa. Acerto bem no centro.
– Sua mira está perfeita, Scar. Você não tem mais nada para treinar.
– Não é suficiente – guardo a arma no coldre preso em minha perna. – Eu não estou indo atrás de uma pessoa qualquer, Logan. Eu estou indo resgatar o amor da minha vida. Se eu falhar... – não termino a frase pois Logan me abraça com força.
– Você não vai falhar, Scar – ele se afasta um pouco, mas mantém uma mão em meu ombro. – É melhor ir descansar. Amanhã o dia será longo.
Solto um suspiro pesado, pego na mão de Logan e vou junto com ele para dentro de casa.
. . .
Estou tão ansiosa para que amanhã chegue logo que não consigo acalmar meus nervos, por isso preciso tomar um remédio para conseguir dormir. Acordo na manhã seguinte sentindo-me pronta para o que tiver que enfrentar ao decorrer do dia. Me levanto e vou para o banheiro fazer minha higiene matinal, em seguida desço para a cozinha e encontro Logan preparando o café da manhã.
– Bem na hora – ele diz quando me vê.
O café da manhã é servido, quando termino de comer subo de volta para o meu quarto e checo se tudo está certo para hoje à noite.
Faço minha lista mental e vou checando: uma Glock 25, uma pistola Taurus, um coldre de perna, munição, minha roupa toda preta... é, está tudo certo.
Para tentar amenizar meu nervoso, vou para o quintal com a Taurus e treino minha pontaria de novo. Depois chamo Logan para treinarmos luta corporal mais uma vez. Quando é quase hora do almoço paro o que estou fazendo e entro para a casa.
O resto do dia eu decido tirar para me preparar mentalmente, já que meu corpo está pronto. Penso no plano de novo, de novo e de novo. Penso na possibilidade de algo, ou tudo, dar errado e como eu devo reagir a cada situação para não perder o controle. A única situação que eu não consigo pensar em como reagir é caso eu encontre Justin e ele estiver morto. Só de imaginar tal cena já sinto vontade de engolir outro vidro de aspirina com vodka, e dessa vez bem longe de Logan.
De repente sinto alguém cutucar meu ombro e quando olho para o lado vejo que é Logan.
– Melhor ir se arrumar. Saímos daqui trinta minutos – ele diz e dá uma piscadinha para mim.
Me levanto apressada e vou para meu quarto. Coloco a roupa toda preta, amarro o cabelo em um rabo de cavalo alto, prendo o coldre em minha perna e nele coloco a Glock 25. A Taurus vou levar na mão. Dou uma olhada no espelho e respiro fundo diversas vezes, até chego a fechar os olhos e rezar.
– Scar, está pronta? – ouço a voz de Logan.
Abro os olhos e encaro meu reflexo. Meus olhos estão mais azuis do que nunca, e mais selvagens também.
– Sim, estou pronta – respondo a meu melhor amigo e saio do quarto junto com ele.
Caminho lado a lado de Logan em silêncio. Quando saímos na rua vejo quatro carros pretos na frente da casa. Abro um sorriso para Logan e ele retribui. Entramos em um dos carros, Victor é quem está dirigindo.
– Olá, Srta. Lawson – o brutamonte diz quando eu entro no banco de trás.
– Olá, Victor.
Logan me entrega uma coisa que parece um colar tipo coleira.
– Coloca isso no pescoço – faço o que ele diz. – E coloque esse fone no ouvido – pego o fone que está conectado por um fio ao colar e coloco no ouvido. Logan aperta alguma coisa em seu pescoço e pergunta: – Está me ouvindo?
Ouço sua voz ecoar no meu ouvido pelo pequeno fone.
– Sim.
– Para falar é só apertar aqui – ele se estica um pouco para trás, pega minha mão e coloca meus dedos sobre um botãozinho no colar.
– Ok.
– Todos estão usando um desses, então tudo o que você disser, todos vamos ouvir.
Assinto com a cabeça, Logan me dá um sorriso como quem diz “não se preocupe, vai ficar tudo bem” e volta a se sentar direito no banco do passageiro. O resto da viagem segue em silêncio, exceto pelo som das minhas unhas tamborilando na arma sobre meu colo.
Poucos minutos depois ouço a voz grossa de Victor avisando que chegamos. Respiro fundo e quando estou prestes a abrir a porta do carro, Logan a abre para mim e me estende a mão. Pego em sua mão e desço do carro.
– Obrigada – eu digo. Ele apenas assente com a cabeça e me leva para os fundos da casa.
– Esperem – a voz de Victor ecoa no fone. – A troca de turnos vai começar... – ele faz uma pausa por alguns segundos. – Agora. Vocês têm três minutos para entrar, entenderam? Três minutos valendo a partir de agora. Vão!
Eu, Logan e mais doze de seus homens corremos colados ao muro da mansão, quando chegamos em um determinado ponto paramos de correr.
– Desliguei as cercas elétricas – Victor diz.
Logan me oferece uma faca, depois que eu pego a faca, ele me oferece um apoio feito por suas duas mãos entrelaçadas.
– Corte os fios da cerca para facilitar – ele diz, eu apenas assinto com a cabeça e me apoio em suas mãos para pegar impulso.
– Câmeras de segurança desligadas – Victor anuncia. – Faltam dois minutos e trinta segundos.
Corto o primeiro fio da cerca e em baixo de mim Logan diz que é o suficiente. Jogo a faca na grama para evitar um acidente e pulo para dentro da propriedade de Brian. Sinto meus pés latejarem quando pouso no chão. Olho para os lados e não vejo nenhum guarda por perto.
– Tudo limpo – eu digo apertando o botãozinho em meu pescoço. Pego a faca com a mão esquerda e a Taurus com a mão direita, me afasto do muro bem a tempo de Logan cair de pé ao meu lado.
– Scar e eu vamos cobrir o primeiro andar. O resto de vocês se espalhem em duplas pela casa – ele diz.
Ele começa a correr e eu vou atrás dele.
– Dois minutos e dez segundos – dessa vez é a voz de Victor.
Logan arromba a porta dos fundos e nós entramos na cozinha da casa. Seguimos em frente com nossas armas em punho, e eu de brinde tenho uma faca também. Paramos colados na parede e espiamos ao mesmo tempo a sala. No mesmo instante Brian passa pelo cômodo, meu coração acelera pela raiva instantânea que sinto. Fico de pé e quando estou prestes a sair da cozinha com a arma pronta para atirar nele, Logan me puxa de volta pelo meu rabo de cavalo.
– Ai, isso doeu – eu digo quando ele solta meu cabelo.
– Desculpa, mas você está louca? Não pode matar ele, pelo menos não ainda. Tenha paciência, Scar.
– Um minuto e quarenta e cinco segundos – Victor avisa.
Logan espia mais uma vez a sala e faz um sinal para que eu o siga. Andamos em um silêncio mortal, olhando para todos os lados e apurando nossos ouvidos o máximo. De repente ouvimos passos ecoarem ao longe, Logan e eu nos entreolhamos com medo, então ouvimos tiros e tudo volta ao silêncio mortal.
– O que foi isso? – Logan pergunta.
– Acho que os guardas chegaram mais cedo – uma voz masculina que eu não reconheço responde.
– Como assim? Victor, me responda!
– Eu não os vi chegando, chefe. Desculpe – a voz carregada de culpa de Victor diz.
Logan fica tão furioso que sai andando e me deixa para trás. Tenho que dar uma corridinha para alcançá-lo.
– Não fique tão bravo, Victor não fez de propósito – eu digo em sussurro.
– Isso poderia ter custado nossas vidas, Scarlett – ele me olha sério e eu fico quieta. Ele nunca me chama de Scarlett, a menos que tenha algo errado.
Continuamos a andar pelo primeiro andar, por sorte não encontramos nenhum guarda. Entramos em um corredor sem olhar antes e damos de cara com um guarda virado de costas para nós... parece que nossa sorte durou pouco. Mostro a faca em minha mão para Logan e faço sinal dizendo que vou me aproximar. Ele assente com a cabeça. Me movo lentamente e em silêncio, como um gato andando. O guarda nem me nota e continua andando devagar sem virar para trás nem sequer uma vez. Quando estou perto o suficiente, guardo a arma nas costas e seguro a faca com mais firmeza na mão direita. Me aproximo mais um pouco, passo o braço esquerdo ao redor do pescoço dele e tampo sua boca ao mesmo tempo em que o inclino para trás, uma boa parte de seu pescoço fica a mostra e eu o corto com a faca. O sangue começa a escorrer no mesmo instante, eu solto o homem e ele caí sem vida no chão. Limpo o sangue da faca no terno dele, pego a arma de novo e olho para trás.
– Legal – Logan diz com um sorriso no rosto. Retribuo o sorriso, desvio do corpo e continuo a andar com Logan ao meu lado.
Quando estamos quase no final do corredor, eu ouço um farfalhar atrás de nós. Me viro e vejo dois guardas com armas em punho. A única coisa que tenho tempo de fazer é gritar “se esconde” e entrar em outro corredor a direta daquele que estávamos. Os tiros começam assim que Logan cai ao meu lado.
– Tudo bem? – pergunto mais alto que o barulho.
– Sim – ele responde no mesmo tom.
Os tiros param, olho cara Logan e ele assente com a cabeça. Ficamos de pé ao mesmo tempo, colocamos apenas o braço para fora e atiramos. Poucos segundos depois paramos de atirar e nos atrevemos a dar uma espiada. No instante que nossas cabeças aparecem na esquina, os tiros recomeçam.
– Merda – eu sussurro. – Corre.
E assim fazemos: corremos. Os disparos param, nós aceleramos nossa corrida, um segundo depois os disparos continuam só que dessa vez eles estão bem atrás de nós. Corremos mais rápido e tentamos proteger nossas cabeças. Entramos em outro corredor que dá para um tipo de pátio, não tem nada naquele lugar e começo a me desesperar. Os guardas vão nos alcançar a qualquer instante.
– Ali – Logan aponta para uma porta. Reiniciamos nossa corrida, entramos pela porta e a fechamos bem no momento em que um tiro a atravessa, não me acertando por muito pouco na cabeça. Logan tranca a porta e olhamos ao redor, estamos no quintal.
– Temos que entrar de novo – eu digo.
– Calma, tem que haver uma porta aqui em algum lugar – examinamos o lugar com os olhos e eu vejo uma porta não muito longe de nós. Logan e eu corremos até ela, a abrimos com cuidado e entramos em uma outra cozinha, totalmente diferente daquela primeira.
– Por que alguém tem duas cozinhas na casa? – eu pergunto sussurrando.
– Porque tem tanto dinheiro que não sabe como gastar – Logan responde em outro sussurro e eu rio baixinho de sua resposta.
Continuamos a andar em silêncio por um corredor estreito, o corredor continua em frente, mas tem uma entrada a direita com outra porta. Logan e eu paramos e examinamos a porta.
– Vamos entrar? – ele pergunta.
– Claro que vamos – respondo.
P.O.V Justin
Eu sonho que consigo me soltar daquelas correntes que me prendem a parede, que pego Mortalli de surpresa e o mato com as minhas próprias mãos enquanto o olho nos olhos. Mesmo sendo apenas um sonho, tal imagem me causa prazer. Logo o cenário muda, eu vejo Scarlett, mas ela está tão longe que eu mal consigo vê-la. E ela continua a se afastar, ficando cada vez mais distante de mim. Desperto de repente e respiro fundo.
– Que bom que acordou – olho para cima e vejo Mortalli parado com um balde nas mãos. – É hora do seu banho.
Ele despeja toda a água do balde em cima de mim. A água está congelando, por isso começo a tremer no mesmo instante. Mortalli larga o balde no chão, se aproxima de mim e me puxa pelos cabelos, forçando-me a sentar.
– Sente falta da Scar? – ele pergunta virando a cabeça de lado e com um sorriso maldoso nos lábios. – Você disse o nome dela enquanto dormia.
Fico em silêncio, apenas encarando aqueles olhos azuis e frios, que apesar de eu odia-los, eles fazem eu me lembrar de Scar. Mortalli puxa meu cabelo para trás, fazendo em inclinar a cabeça até batê-la contra a parede.
– Me responda: sente falta da Scar? – ele pergunta de novo. Sua voz transborda de malicia, ele está feliz por me ver sofrer.
– Não a chame de Scar – digo e cuspo na cara dele. Mortalli se levanta e limpa o rosto com as costas da mão.
– Você não deveria ter feito isso – ele me olha com raiva e desfere um chute contra meu rosto, bato a cabeça na parede e caio deitado. Ele me chuta no estômago e eu grito de dor. – Grite o quanto quiser, esse quarto é a prova de som.
Ele chuta meu rosto mais uma vez e eu ouço seus passos de afastarem. Cuspo o sangue que se acumulou em minha boca no chão e gemo de dor. Estou quebrado, e acho que estou quebrado no sentido literal da palavra. Mortalli vem me visitar todos os dias e quase todos eu apanho dele. Mesmo quando eu não faço nada, ele me bate apenas pelo prazer de me fazer seu saco de pancadas humano e para me ver sofrer.
De repente ouço um som que eu conheço muito bem: o som de uma arma sendo destravada. Abro os olhos e olho para cima, lá está Mortalli com seu revólver apontado para a minha cabeça.
– Eu disse que você não deveria ter feito aquilo – ele diz.
Então o barulho da porta rangendo atrai a atenção de nós dois. A porta se escancara, por ela entra Scarlett seguida de Logan. Ao nos ver ela sorri, aponta sua arma para Mortalli e diz com sua voz de anjo:
– Oi, papai. Eu vim buscar meu namorado.
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