História Heavy In Your Arms - Intervention

I can taste the fear              
It's gonna lift me up and take me out of here
Don't wanna fight, don't wanna die  

O cigarro passava de seus dedos para os de Isaac e por fim, de um relutante Stiles que se engasgava cada vez que tragava o filtro, embora permanecessem em silêncio do lado de fora da casa de Scott, sentados na calçada enquanto observavam o céu passar de azul para alaranjado, depois roxo e azul escuro, misturando-se de maneira suave.

Não fora a Meredith da Casa Eichen quem lhes dera a pista que precisavam, mas uma ligação anônima que Scott recebera enquanto conversavam com a garota, um sussurro em francês que fez o alfa matar a charada de onde o Nogitsune mantinha Lydia presa. Ironicamente, o mesmo local onde Sophie e seu pai tinham ficado presos.

McCall atravessou a porta de maneira pesada, acompanhado de perto por Sophie. — Vocês conseguiram encontrar o Derek e os gêmeos? — Ela perguntou.

Claire sacudiu o celular levemente e negou com a cabeça. — O celular dele tá fora de área.

— Dos gêmeos também. — Falou Isaac entediado, soltando a fumaça pela boca. — Vamos ter que fazer isso sozinhos. Já liguei pra Allison, ela está só esperando a localização.

Scott mexera de maneira apressada em seu celular, enviando o endereço para a Argent. — Pronto. Sei que estão assustados, mas... Nós fizemos isso antes, lembram? Quando ajudamos a Malia, uma completa estranha.

— E agora estamos ajudando a Lydia. — Comentou Sophie. — Que nós conhecemos e é nossa amiga.

Claire e os dois garotos concordaram. A ruiva se levantou e respirou fundo, colocando Stiles de pé com a ajuda de Isaac. — Então vamos. E a Kira?

— Estou ligando pra ela. — Falou Scott ao encostar o telefone na orelha. — Vão na frente, eu alcanço vocês.

Sophie assentiu. — Venham. Stiles, dá a chave do jipe. — Ela sorrira de leve antes que o Stilinski lhe atirasse as chaves. — Vou cuidar bem dele.

— Sai com carinho. — Stiles riu pelo nariz e Claire também, acompanhando os dois rapazes até o veículo azul claro. Entrou na parte de trás com Isaac, enquanto Sophie fora ao volante com Stiles ao seu lado.

— Eu... Soube da Alek. — Murmurou Isaac.

Claire o olhara de maneira triste. — Isaac, eu....

— Sei que você tentou, não te culpo por isso. — Lahey esboçara um sorriso. — É só.... Queria que o Dallas estivesse aqui, também. Passei na frente da casa hoje, tinha uma placa de venda no jardim e estava tudo tampado com tábuas.

Claire repuxou de leve os lábios. — Eu queria que as coisas fossem diferentes...

— Você tem lugar para ficar?

— Derek. — Ela riu de lado. — Sophie também. — Dissera um pouco mais alto e a amiga riu no banco da frente.

— Ai dela se me recusasse. Ia esfregar essa cara redonda no asfalto. — Sophie mordera o lábio e depois mostrou a língua, fazendo Stiles mesmo cansado, rir de leve.

Apesar das tentativas amenas de conversa, o silêncio sempre tomava conta, deixando-os naquela apreensão do que poderia acontecer. Sophie tinha esperança de que os Oni dariam cabo daquela raposa, porém, algo lhe dizia que talvez não fosse tão fácil.

Pararam o jipe diante dos portões enferrujados de Oak Creek, juntamente com uma SUV preta e a moto verde de Scott, com Kira na garupa e, vindo de maneira tranquila, a mãe da kitsune, acompanhada pelos Oni de maneira decidida.

Kira olhou assustada. — Mãe...

— Você pode ser a kitsune, Kira, mas o Nogitsune é o meu demônio a ser enterrado. — Falou ela, fazendo um pequeno sinal para que as criaturas se dissipassem no breu.

Allison saiu do carro com a aljava nas costas e o arco nas mãos, parecendo decidida ao se juntar ao grupo. — Tudo certo? — Perguntou.

— Além do nervosismo? — Sophie riu nervosa.

A Argent riu baixo. — Além disso. Estou aqui para salvar minha melhor amiga.

— E eu o meu namorado. — Sophie olhou de maneira significativa para Stiles, que crispou os lábios.

— Eu não tinha dever de casa. — Isaac fez uma careta.

Stiles se afastou levemente do grupo, enfiando-se num corredor estreito que Claire reconhecera como aquele em que ela e Connor haviam conversado. — Stiles?

— Eu vou atrás dele. Esperem aqui — Scott falou apressado antes de segui-lo.

Noshiko olhou séria para os presentes quando desequilibrara-se, caindo no chão perto de Kira. — Mãe! Mãe, o que foi?

Antes que a mulher pudesse abrir a boca, uma voz familiar falou por ela de maneira quase apática.

— Houve uma pequena mudança de planos. — O Nogitsune, ainda na forma de Stiles, sorriu de leve, sentado numa lixeira antes de descer com tranquilidade da mesma, com os quatro Oni ao seu redor, protegendo-o. — Agora eles me pertencem. — Sorriu presunçoso.

Isaac rosnara quando o primeiro partira para cima dele, entrando em luta corpórea com a criatura até a mesma tirar uma espada do peito e começar a golpeá-lo. Sophie parou ao lado de Kira, puxando seus dois kunais do cano da bota enquanto a Kitsune parecia decidida ao seu lado, bloqueando um golpe de espada do Oni.

Claire puxou a arma da parte de trás da calça e colou as costas às de Allison, para que protegessem uma a retaguarda da outra. A Argent atirava flechas num dos Oni, embora ele facilmente as bloqueasse, partindo-as ao meio. A Winchester tentava com as balas, descarregando um pente num dos Oni, embora não conseguisse nem ao menos perfurar sua armadura.

Quando a munição acabara, Claire até tentou recarrega-la a tempo, mas fora atirada para o lado, batendo as costas numa caçamba de lixo. Allison recuou, disparando mais duas flechas antes de se afastar para colocar a ruiva de pé, segurando-a pelo braço para que voltassem a ficar naquela posição defensiva.

— Não tenho mais munição! — Berrou a ruiva.

O caos tomava conta, assim como o desespero. Sophie tinha pego a katana de Kira, mas fora golpeada algumas vezes antes da mesma escapar de suas mãos e ela ser jogada para o outro lado com a kitsune. Os Oni eram, como o livro os definira, uma força da natureza que era impossível de ser contida.

Allison olhara assustada ao ver Isaac sendo cortado no peito pela lâmina de um Oni, caindo de joelhos com um grito de dor, num estado de semitransformação. A Argent colocara a mão na aljava e notou que havia apenas uma flecha, aquela que havia levado para, como seu pai dissera, dar sorte. Armou-a no arco e respirou fundo, puxando a corda até ter o ângulo correto, soltando-a.

Para sua completa surpresa, esta flecha em especial atravessou o peito do Oni e ficou ali fincada por alguns momentos. A criatura pareceu desesperada, mas o brilho amarelado que saiu de seu peito a dissolveu, fazendo com que virasse aquela fumaça escura e desaparecesse em seguida, restando apenas um pequeno vaga-lume no chão que não possuía mais brilho.

A Argent sorriu com um pequeno e breve alívio, só tendo tempo para puxar Claire pelo braço quando fora pega de surpresa por uma lâmina negra que lhe perfurou a barriga.

Claire só teve tempo de segurá-la, ainda que torta antes que a Argent caísse. O Oni recuou após o golpe mortal e desaparecera, assim como o Nogitsune e os outros samurais, deixando apenas o grupo.

A ruiva se ajoelhara com a Argent nos braços. Claire viu o sangue dela nas mãos e tentou fazer pressão sobre seu ferimento. — Allison, você vai ficar bem... Allison. — Claire a segurou tremendo, embora a morena apenas piscasse algumas vezes, como se ainda não tivesse absorvido o que ocorrera. A Winchester sentiu um arrepio ao ouvir o grito de Lydia mais ao fundo ecoar pelo que lhe pareceu, por toda a cidade.

Scott atravessara o portão de maneira apressada, os olhos arregalados e com um frio na espinha antes de se jogar no chão perto das garotas, colocando suas mãos por cima das de Claire para que fizesse pressão sobre o ferimento da morena.

— Allison...

— A-a Lydia... E-ela... Ela está bem? — A Argent perguntou baixo e Scott só conseguiu concordar com a cabeça. —... E-está tudo bem...

— E-eu... — McCall segurou a mão dela com alguma força, enrugando a testa. — Não consigo tirar sua dor...

Allison o encarou e sorriu de maneira tranquila. — É porque não dói.

Scott soluçara. — A-Allison...

A Argent sorriu de leve e olhara para Claire. — C-Claire... D-diz pra Lydia e pra S-Sophie que estou orgulhosa delas... D-de nós... D-de t-tudo o que fizemos.

— Você vai dizer isso você mesma, Allison. — Claire tentou sorrir.

— E-eu amo vocês... A-ah... — Havia sangue em sua boca e ela se engasgara levemente.

Claire estremeceu e olhou para o alfa. — Scott, faça.

— O-o quê?!

— Morda-a, Scott. Ela vai morrer. — Sua voz saiu falha, mas o alfa compreendera o que ela dissera. — Scott.

McCall arregalou os olhos quando segurou o pulso de Allison. — Eu não...

— Scott, só faça!

Allison piscou de maneira demorada e sorriu para Claire. — C-claire... V-você... Você tem que dizer ao meu pai... D-diz pra ele...

— Scott!

Os olhos de Scott mudaram de castanhos para vermelhos e, apesar do receio de tomar aquela decisão, ele fincara os dentes no pulso claro da Argent, arrancando-lhe um gemido de dor a ponto que seus olhos ficaram arregalados e ela puxasse o ar de maneira profunda antes de desmaiar.

Ele soltou a mão dela, percebendo que a mesma ficou imóvel. Sentiu gosto de sangue na boca e viu o mesmo líquido rubro nas mãos de Claire, que apesar de tremer, conseguira encará-lo.

— P-precisamos leva-la pro Deaton. Agora. — Conseguiu dizer apesar dos tremores.

Scott assentiu trêmulo. — Pegue a Lydia e o Stiles.... E-eu...

Claire concordou com a cabeça, observando Scott aninhar o corpo imóvel de Allison por alguns momentos. Viu Isaac de joelhos, encarando a Argent de maneira catatônica com Sophie logo atrás dele, tentando colocá-lo de pé.

A ruiva se afastou do grupo e entrou no corredor, guiando-se pelo som dos soluços que pareciam ecoar de todos os lados quando viu, mais ao fundo, a figura meio torta de Lydia apoiada perto de Stiles.

— LYDIA!

A banshee a olhou entre lágrimas. — A-Allison...

Claire engoliu a seco. — Ela...

— Ela...

— Scott a mordeu. Mas... E-ela desmaiou, nós... Não sabemos se... Se funcionou e... E... — A ruiva se engasgou na própria frase e ouvira Lydia soluçar. Aproximou-se dela e a abraçou com alguma força, sem saber muito bem qual das duas tremia mais. Claire fechara os olhos com alguma força, apertando os braços ao redor da banshee porque não conseguia mais se conter.

Claire se afastou de leve, esfregando o próprio rosto por alguns momentos e tocou as bochechas de Lydia. — V-você está bem?

A Martin assentiu de leve. — E-ele... Me usou para saber quando os Oni estavam próximos... E-eu...

— Não é sua culpa. — Claire dissera baixo, mantendo o contato visual por alguns momentos. — Precisamos leva-lo, me ajude. — Comentou, ajudando a banshee a ficar de pé e logo, as duas levantaram o garoto desmaiado, levando-o pelo corredor estreito.

Quando saíram do local, Claire só teve tempo de ajudar Lydia a leva-lo até o jipe, sentindo alguém puxá-la com violência pela gola da camiseta e prensá-la na parede mais próxima, encostando o cano de uma pistola em seu queixo. A ruiva não precisou de muito para saber quem era e crispou os lábios, sem conseguir encarar os olhos claros e gelados de Chris Argent.

— Me dê uma razão, Winchester! Uma, só isso. Uma razão pra eu não explodir a sua cabeça por ter deixado que Scott mordesse a minha filha! — O caçador rosnara, destravando a arma apontada.

Claire sentiu o estômago se desprender e tudo o que conseguiu fazer foi olhá-lo com duas lágrimas rolando uma de cada lado do rosto. — Ela estava morrendo... E-eu não queria... N-não queria m-mais ninguém morrendo... E-eu só....

O Argent esmurrou a parede ao lado de sua orelha, tirando a arma de perto do maxilar da ruiva antes de se afastar com pesar, como se tivesse se dado conta do que acabara de acontecer. Suas mãos tremiam e a pistola escapara de sua mão, com uma bala sendo disparada, perfurando uma caçamba de lixo.

Isaac dera um empurrão no mais velho que, se fosse em outra situação, não o pegaria desprevenido, mas o fizera, e ele cambaleou.

— Vamos embora, vamos. — Falou ao dar uma das mãos para a garota, tirando-a de perto do caçador.

A ruiva tentou caminhar, porém, sua cabeça ficara pesada o suficiente para que tudo fosse envolto por escuridão e um grito distante do beta fosse ouvido por ela momentos antes de perder a consciência.

Eu posso provar o medo           
Vou levantar e tirar-me daqui
Não quero lutar, não quero morrer

(Intervention – Arcade Fire)